Velejando contra o vento:
a Física do velejar
Philippe Gouffon
pgouffon@gmail.com
Programa
●
Transporte (esporte) com vento: um pouco de história
●O veleiro tradicional
●Física do velejar
➔Empopada
➔Través
➔Orça
➔Estabilidade (lateral)
●
Sempre contra o vento: os veleiros rápidos
●Física, computação e realidade
História em imagens
Fenícios ...
... e Egipcios velejavam
em 4000AC
●
Até 900 DC, as velas eram quadradas
✔
Veleiros seguiam os ventos e correntezas
✔
Podiam velejar um pouco além de 90° do vento
✔Fenícios teriam chegado(?) até a América
●
Em 900 DC foi inventada a vela latina
✔
Ela permite subir
contra o vento
e manobras
A vela latina evoluiu para o velame com
carangueja
carangueja
Gaff rigged schooner.
Her sails, from left to right:
●Jib,
●
staysail,
●
gaff foresail,
●gaff mainsail
A vela latina evoluiu também para o velame tipo
Bermuda (ou Marconi)
Em terra
Recorde: 204 km/h Rio Grande: vagonetas
A vela em números
Velocidade é dada em nós (kn), 1 NM/h = 1852m/h
Uma evolução vertiginosa estes últimos anos:
●
Travessia do Atlantico – leste-oeste – 2900NM (5370km):
➔
1905: Charles Barr: 12d 4h, 10,02 kn (monocasco)
➔
1980: Eric Tabarly: 10d 5h, 11,93 kn (trimaran)
➔
2009: Pascal Bidegorry:
3d 15h
, 32,94 kn (61km/h) (trimaran)
●
Volta ao mundo – 21760NM (40300km):
–
Banque Populaire V (
tri
): 45d 13h (19.75kn) – L.Peyron 2012
–
IDEC (
solitário, tri
): 57d 13h (15,84 kn) – F. Joyon 2008
Velocidade à vela
●
Distância em 24h:
➔ Banque Populaire V (P.Bidegorry), 908,2 NM (37.84kn)
– Ericsson 4 (Torben Grael-2008), 596,6NM (24.85kn)
(Comanche ,J.Clark/K.Read,2015, 618.01nm, 25.75kn)
Velocidade à vela
1 milha náutica:
➔ Hydroptère, 50,17 kn ➔ Vestas Sailrocket 2, 55,32 kn500m:
➔ Hydroptère, 51,36 kn ➔ Kite Board, 55,65 kn ➔ Vestas Sailrocket 2, 65,45 knEvolução recente
●
Ao que se deve esta evolução?
–
A Física não mudou
–
Os materiais mudaram muito
●
Rigidez maior
●
Densidade menor
●
Monitoramento durante o uso
–
Simulação numérica
A física da vela
●
O que os exemplos de veículo a vela tem
em comum (excetuando o IKAROS)?
–
Vela com vento propulsor
–
Meio distinto do ar que define a direção do
movimento (água, gelo, terra,...). O
veículo se “apoia” neste meio.
–
Veículo se desloca na interface dos meios
●
É a existência desta interface que permite
o velejar,
da mesma forma que se precisa do chão
para poder caminhar
A Física é
básica
:
são as
3 leis de Newton
●
1
aLEI: um corpo mantem uma velocidade
constante na ausência de força (inércia)
●
2
aLEI: uma força F aplicada a um corpo de
massa m gera uma aceleração a (F=ma)
Vento (em relação à água) + água
+ veleiro = velejar
Forças que atuam num veleiro
●
Forças (a soma deve ser nula):
–
Vento na vela – depende da direção relativa do vento em
relação ao movimento do barco. Há o vento real e o vento
aparente (vento relativo)
–
Força de empuxo da água cancela o peso
–
Atrito do casco na água e atrito das superestruturas no ar
●
Torques (a soma deve ser nula):
–
Força do vento na vela – torque do mastro
–
Força lateral da água na quilha ou bolina
–
Força vertical do empuxo no casco e peso da quilha/tripulação
Força do ar na vela
O vento é defletido pela vela .
A variação de velocidade v
corresponde a uma aceleração
aa ou seja, uma força.
Esta força arrastaria o barco de lado. Para evitar este movimento o veleiro tem uma quilha ou uma bolina.
Vamos detalhar estas forças adiante
A quilha (e leme)
Dupla função:
● Gera uma força hidrodinâmica que se opõe ao deslocamento
lateral (muitas vezes uma bolina faz este papel)
● Baixa o centro de gravidade e gera torque de restauração
Perfil de asa:
O barco se desloca com ângulo em relação à água
Água desviada, fluxo laminar geram uma força decomposta em arrasto e resistência da quilha
● Com o deslocamento lateral, a água quer
passar por baixo e em volta da quilha,
gerando vortices, com custo alto em energia.
● A solução é uma quilha longa e fina, como a
Forças que atuam no velame
– ângulo de deriva
VB – velocidade do veleiro FA – força aerodinâmica total Fp – força propulsora
FT – força geradora do torque
VA – vento aparente NA HORIZONTAL:
Forças que atuam na quilha
– ângulo de deriva
VB – velocidade do veleiro FH – força hidrodinâmica total FL – força lateral (torque)
R – arrasto do casco e quilha NA HORIZONTAL:
Equilibrio de forças e torques
FA + FH = 0 - equilibrio das forças Fp + R = 0 – barco em velocidade Constante
FT e FL geram torques que se cancelam
F = ½ S C V2
ar = 1.23 kg/m3
H2O = 1000 kg/m3
Torques
●
O torque da vela tende a
adernar o barco
●
O torque do peso do barco
(quilha, etc) em relação ao
centro de rotação tende a
endireitar o barco
●
O torque do empuxo tende
a endireitar.
Torque na horizontal:
Algumas soluções:
quilha basculante + bolina
Veleiro classe IMOCA
Algumas soluções:
Multicasco:
Empopada
Vento real Vr=10 nós Vr Vb=6 Va=4Na empopada (popa rasa),
●
O vento real Vr vem pela popa.
●O vento empurra a vela (e o barco)
●A velocidade do barco Vb é
sempre inferior
à do vento
●
O vento aparente Va vem pela popa,
fraco
●
O escoamento do ar é turbulento
Vr = Vb + Va
Exemplo:
Través
●
Vento real de 60° a 120° em relação ao barco,
variando de través orçado a través folgado
●
É o mais rápido e eficiente pois a força é
praticamente na direção do movimento (em
barcos “normais”), portanto a quilha trabalha
pouco (barco horizontal)
●
Barcos conseguem ir mais rápido que o vento
●Há grande escolha de velas
Orça
Ao lado, 2 veleiros da America's Cup
(2000). Ambos estão orçando
O vento deve vir de cima da imagem,
verticalmente
Vr
Vb
Va
●
Poucos barcos conseguem
orçar desta forma
●
Ângulo típico: 40° em
relação ao vento real, 30°
em relação ao vento
aparente mas chega a 20°.
●
O vento aparente na orça é
quase a soma do vento real
e da velocidade do barco
Mais rápido que o vento
Pode ou não pode? Fatos respondem à pergunta..
●
As curvas polares acima mostram V
b
> V
R●
1 milha náutica:
– Hydroptère, 50,17 kn com vento de 29 kn (1.7xVR)
●
500m:
– Vestas Sailrocket 2, 65,45 kn com vento de 26 kn (2.5xVR)
● America's cup 2013:
– Orça esperada a 1.2xVR e empopada 1.6xVR – Conseguiram 1.8xVR com picos de 2xVR
Desprezando tudo
(atrito, torque, resistência de materiais...)
VR Vb Va V b=V Rsin (β−α ) sin (α)
Vamos supor que VR e sejam fixos
Vb Va Orça Alheta 1 2 3 4 5 6 7 8 β=30° β=45° β=60° β=90° β=135° β=170° V b / V r VR
Eliminando restrições
●
Arrasto:
–
Um
casco deslocante
tem um “limite” de velocidade
proporcional à raiz quadrada do comprimento
–
Se
planar
, vai muito mais rápido mas ainda tem arrasto
–Solução:
hidrofólios
, usados em barcos pequenos
(Moth) e grandes (Hydroptère, AC)
●
Vela:
–
Tecido se deforma com vento e movimento
–
Melhor forma é vela com base curta e mastro alto
–Solução:
asa rígida
com controle de forma
Exemplo: catamaran Class C
Física, simulação e realidade
●
A física básica do velejar é conceitualmente
simples mas as contas são muito complicadas
●
Ela permite definir limites e identificar o que
impede aumento de desempenho e chegar a
estes limites
●
A tecnologia fornece materiais melhores
●
A simulação numérica permite testar idéias,
que depois irão para um modelo em tanque e
virar uma realidade
Conclusão
●
..., as inovações vem das pessoas, tanto
com idéias quanto com o manuseio do
barco.
INASMUCH as three quarters of the earth's
surface is water and only one fourth is land
the good Lord's intentions are very clear:
A man's time should be divided:
three fourths for sailing
and one fourth for work.
Alguns termos
●
Há um termo exato para
cada objeto e ato num veleiro
●
A cada faixa de ângulo em
relação ao vento há um nome
associado
●
Numa faixa em torno da
direção de onde vem o vento
é impossível velejar. O
tamanho desta faixa depende
do veleiro, do velame e da
força do vento
●
Cada faixa corresponde a um
tipo escoamento de fluxo de
vento e água na quilha,
Uso da lei dos senos
V
Asin(π−β)
=
V
Rsin (α)
=
V
bsin (γ)
VR Vb Va Vb Va Orça VRα +(π−β)+ γ=π ⇒ γ=β−α
V
b=
V
Rsin (β−α )
sin (α)
V
A=
V
Rsin (π−β)
sin (α)
Vela mal regulada:
● Fluxo turbulento
● o vento decola a sotavento ● A força resultante diminui ● O barco não anda
● LEME: perda de controle
Vela bem regulada
● Fluxo laminar
● O vento é acelerado entre a buja e
a mestre
● A força é maior e melhor
direcionada
● O vento sai para trás paralelo à
Alguns perfis
Quilha asa
e quilha
basculante
Curvas polares
● Para cada veleiro são traçadas
curvas de velocidade em função do ângulo para diversos valores de velocidade do vento
Modernos clássicos
Há um grande esforço de recuperar veleiros antigos e, na sua falta, construir réplicas, algumas com técnicas originais, outras modernas.
Anualmente são realizados grandes eventos, encontros e regatas destes barcos (J-boats, tall ship, saveiros...)
Barcos mencionados
Veleiro LOA
(m) Boca(m) Vela (m2) Calado(m) Mastro(m) Peso(kg) Atlantic (Charles Barr) 69.7 8.85 1720 4.9 (3) 303000
Banque Populaire V 40 23 720 5.8 23000 Hydroptère 18.28 24 560 1.5-4.0 28 7500 Ericsson IV 21.5 4.7 675 4.5 31.5 14000 Macif 18.28 5.7 570 4.5 29 770 IDEC 29.7 16.5 520 5.7 32 11000 Vestas Sailrocket 2 12.2 12.2 22/18 275
PAUSA
Demonstração
Com
Trilho de ar
E um pequeno detalhe...
●
Um velejador vai navegar sobre um rio cuja
correnteza é de 6 nós. Ele sai no fim da manhã
num dia sem vento velejando no sentido da
corrente e depois de uma hora, para para
almoçar.
●