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Cecília Bizerra Sousa 1

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Academic year: 2021

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Comunicação, direitos humanos e igualdade racial: experiências de

mídia voltadas para a denúncia de violações de direitos humanos e

enfrentamento ao racismo

Cecília Bizerra Sousa1

Trabalho apresentado ao 43º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), ST 22 – Mídia e Política

Caxambu/MG, Brasil, 21 a 25 de outubro de 2019

1 Jornalista pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), mestra em Políticas de Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB) e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGCOM/UFMG), na linha de pesquisa Processos Comunicativos e Práticas Sociais. E-mail: <ceciliabsousa.pi@gmail.com>.

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Resumo

Este trabalho tem como objetivo reportar e analisar a experiência de dois veículos de comunicação independente – Ponte Jornalismo e Alma Preta – buscando compreender os motivos e desafios de sua existência, bem como o contexto em que se insere o surgimento dessas iniciativas, que trazem em sua proposta não apenas o objetivo de explorar conteúdos estigmatizados e/ou pouco reverberados na mídia tradicional, mas também de experimentar novos processos e formatos de organizar a produção jornalística. Ainda que num caráter incipiente, e com muito a ser explorado, foi possível identificar que existe, de fato, uma demanda pelo exercício efetivo do direito à comunicação por parte dos segmentos aos quais se dedica a cobertura dos dois veículos, e que o jornalismo independente desponta como alternativa para minimizar os efeitos sociais de uma comunicação pouco democrática e plural.

Palavras-chave: Direito à comunicação; Jornalismo independente; Mídias negras; Ponte

Jornalismo; Alma Preta.

1. Introdução

Na imprensa brasileira, há pouquíssimas vozes especializadas em direitos humanos. Os grandes veículos geralmente não destacam profissionais para cobrir acontecimentos à luz ou que remetam diretamente aos direitos humanos e, quando isso acontece, é comum que seja de forma enviesada e/ou pouco profunda. Conforme afirma Ijuim (2017), alguns sujeitos como indígenas, migrantes, população negra, prostitutas e população em situação de rua são “estranhos” aos olhos de setores da imprensa brasileira, que cria estereótipos e discrimina estes e outros grupos sociais. “Estranhar, não reconhecer o Outro é uma maneira de reforçar estigmas. E a imprensa tem reproduzido esta postura discriminatória que desqualifica o ser humano.” (IJUIM, 2017, p. 240)

Apesar das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Jornalismo (MEC, 2009) trazerem a necessidade dos cursos promoverem a compreensão e valorização dos direitos humanos como conquista histórica e indicadora de um estágio avançado de civilização2, e do tema ser abordado nos mais diferentes instrumentos e documentos internacionais relacionados ao assunto, é no bios midiático, esfera impulsionada pelo capital (SODRÉ, 2002), que a articulação entre mídia e mercado opera de acordo com os interesses deste último.

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Assim, o papel do jornalismo, que deveria ser de apurar, investigar e difundir com independência editorial informações orientadas pelo interesse público (FENAJ, 2007), não é desempenhado a contento, predominando, em coberturas de temas como os de direitos humanos, um viés alinhado a setores conservadores da sociedade que desejam a manutenção de privilégios e diferenças. Ora, se é nesse ambiente de articulação entre mídia e mercado que a seleção e produção das informações se dá, é quase natural que o ponto de partida para as narrativas não seja o ser humano e os seus direitos de cidadania, mas os interesses das empresas de comunicação e dos demais setores aos quais elas se alinham.

Posturas que contribuem para a marginalização de grupos sociais já excluídos e que são adotadas corriqueiramente pelos meios de comunicação levaram Ijuim (2002, 2011) a defender a necessidade de um jornalismo humanizado. Dentre essas posturas destacam-se a estigmatização e a caricaturização do ser humano; o não reconhecimento do Outro e a desconsideração da complexidade dos fenômenos sociais.

A abordagem da questão indígena, de pessoas em situação de rua e de questões étnico-raciais por setores conservadores da imprensa foram alguns dos casos analisados pelo pesquisador em diferentes estudos. Em relação à questão indígena, quando não tratada como fenômeno sociocultural, de direitos históricos, “o índio é entendido invasor, agressivo, transgressor do direito à propriedade, representa um atraso ao progresso”. Da mesma forma, pessoas em situação de rua, quando não têm a sua existência vista como problema decorrente da falta de políticas públicas, por exemplo, de moradia, são interpretadas como “moradores de rua que incomodam trabalhadores, pessoas de bem, turistas”. Na mesma linha, as questões étnico-raciais e de migração: “Sejam africanos, haitianos e, agora, venezuelanos, sua presença é inoportuna e vista como problema, não como fenômeno social, situação emergente, de pessoas que também merecem ser tratadas com dignidade” (IJUIM, 2019, p.7-8)

Especificamente sobre a questão racial, Sodré (1999) afirma que “a mídia funciona, no nível macro, como um gênero discursivo capaz de catalisar expressões políticas e

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institucionais sobre as relações inter-raciais, (...) que, de uma maneira ou de outra, legitima a desigualdade social pela cor da pele” (SODRÉ, 1999, p.243). O pesquisador sistematiza que o racismo midiático se concretiza por meio de quatro procedimentos: a negação da existência do racismo pela mídia; o recalcamento de aspectos identitários positivos das manifestações simbólicas de origem negra; a estigmatização, por meio da desqualificação da diferença e da fabricação de estereótipos racistas e a indeferença profissional, caracterizada pela “reduzida presença de negros nas fileiras profissionais da mídia brasileira” (SODRÉ, 1999, p. 245-246).

Diante das lacunas e até mesmo das distorções mencionadas, surgiram, ao longo do tempo, diversas alternativas jornalísticas de caráter independente como contraponto, inclusive veículos que compõem a imprensa negra, que, desde o século XIX, num período pré-abolição da escravatura, tem vocalizado demandas da população negra do país. Diante da percepção que o espaço midiático é um dos grandes reprodutores das lógicas de exclusão, mas com grande potencial para a promoção da igualdade, também foram abertos caminhos para a luta pela democratização dos meios de comunicação, que tem a pluralidade como uma das suas bandeiras.

Mais recentemente vêm surgindo iniciativas de caráter independente dedicadas exclusivamente à produção de conteúdo jornalístico em direitos humanos, e continuam surgindo novas iniciativas, que adotam as mais diferentes linguagens, especializadas na temática racial. A “Ponte Jornalismo”3, organização formada por jornalistas independentes que tem como temas prioritários violência de Estado, segurança pública, racismo e preconceito de gênero, com explícita presença do recorte racial, e o “Alma Preta”4, agência de jornalismo também de caráter independente especializada na temática racial do Brasil, são dois exemplos dos tipos de iniciativas às quais nos referimos e às quais este trabalho irá se deter.

Assim, este artigo tem como objetivo reportar e analisar a experiência destes dois veículos, compreendendo os motivos e desafios de sua existência, bem como o contexto

3 Disponível em: https://ponte.org/ 4 Disponível em: https://almapreta.com/

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em que se insere o surgimento dessas iniciativas, que trazem em sua proposta não apenas o objetivo de explorar conteúdos estigmatizados e/ou pouco reverberados na mídia tradicional, mas também de experimentar novos processos e formatos de organizar a produção jornalística.

Além desta introdução, o presente texto conta com mais três sessões: a primeira traz reflexões sobre direitos humanos, direito à comunicação, questão racial e imprensa negra no Brasil, que orientam e ancoram este trabalho; a segunda apresenta os dois veículos analisados e empreende a análise propriamente dita, e, por fim, as considerações finais.

2. Direitos humanos, direito à comunicação, questão racial e imprensa negra no Brasil

2.1. Sobre os direitos humanos

Para efeitos de contextualização, convém apontar o conceito de direitos humanos a ser aqui considerado, uma vez que ele é um dos pontos de partida da análise. Conforme consta na própria Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 10 de dezembro de 1948 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, a noção de direitos humanos considera “que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo” (ONU,1948). Assim, direitos humanos podem ser compreendidos, de maneira sintética, como direitos inerentes ao ser humano e que têm como principal fundamento a dignidade humana.

Dentre as suas características mais importantes estão a inalienabilidade – os direitos humanos são inalienáveis, e ninguém pode ser privado de seus direitos humanos; a inviolabilidade – os direitos humanos não podem ser desrespeitados por outras legislações ou autoridades; são indivisíveis, inter-relacionados e interdependentes, ou seja, é insuficiente respeitar alguns direitos humanos e outros não, devendo todos eles serem vistos com igual importância, e são universais, pois se aplicam a todos os seres

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humanos. “O conceito de Direitos Humanos reconhece que cada ser humano pode desfrutar de seus direitos humanos sem distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outro tipo, origem social ou nacional ou condição de nascimento ou riqueza” (ONU, 2019).

Passados 70 anos da aprovação da Declaração de 1948, que é ratificada atualmente por 193 países, dentre eles o Brasil, é possível afirmar que seu texto, apesar de não possuir obrigatoriedade legal, serviu de referência para muitas legislações ao longo de todo esse tempo, inclusive para a Constituição Federal brasileira de 1988. Ela também é bastante utilizada como elemento de luta política, sendo citada de forma recorrente em discursos pela liberdade e pela igualdade de direitos.

Embora nasça como uma resposta do mundo aos horrores do totalitarismo experimentado pela Europa nos anos anteriores à sua aprovação, é um equívoco dizer que a Declaração foi concebida inteiramente como reação ao holocausto (JOAS, 2012), uma vez que o mundo não tinha consciência de toda a dimensão do holocasto durante a guerra; nenhuma das três superpotências tinha a intenção de renunciar, depois da guerra, a aspectos de sua soberania nacional por causa dos direitos humanos e “essa corrente já tinha sido formada muito antes da guerra” (JOAS, 2012, p. 263).

(...) sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, pode-se dizer que esta tem uma pré-história extensa e profunda. Sem as mútiplas possibilidades de conexão maturadas por essas pré-história, é difícil imaginar o seu êxito após 1948. Essa pré-história já mostra que deve ser dificil encarar uma única cultura, religião ou filosofia como fundamento exclusivo da Declaração. (p. 266)

Assim, a Declaração é resultado de um esforço intelectual e organizacional empreendido por mentes de diversos países em busca de um consenso, o que Joas chama de generalização de valores. Tal consenso fez com que fosse aprovada uma Declaração possível, uma síntese que, conforme alerta Bobbio (2004), “é algo mais do que um sistema doutrinário, porém algo menos do que um sistema de normas jurídicas” (p. 19). O teórico ainda menciona que a Declaração contém em germe a síntese de um

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movimento dialético – uma vez que é apenas o início de um processo. “De resto, como já várias vezes foi observado, a própria Declaração proclama os princípios de que se faz pregoeira não como normas jurídicas, mas como 'ideal comum a ser alcançado por todos os povos e por todas as nações'” (BOBBIO, 2004, p.19).

Há que se considerar, ainda, a crítica à matriz liberal e ocidental dos direitos humanos, uma vez que a Declaração foi elaborada dentro de uma estrutura marcada ainda pelo colonialismo e em proximidade e atenção a interesses políticos e econômicos dos Estados capitalistas. Essa crítica é feita, sobretudo, por Santos (1997; 2013), não no sentido de descartar os direitos humanos, mas de propor a construção, “a partir deles, mas também, para além deles”, de uma concepção contra-hegemônica, por meio de novas ideias e práticas de resistência, e do reconhecimento das limitações e “ilusões” da doutrina convencional. Santos (1997) alerta que a marca ocidental-liberal do discurso dominante dos direitos humanos é facilmente identificada em diversos exemplos:

(…) na Declaração universal de 1948, elaborada sem a participação da maioria dos povos do mundo; no reconhecimento exclusivo de direitos individuais, com a única excepção do direito colectivo à auto-determinação, o qual, no entanto, foi restringido aos povos subjugados pelo colonialismo europeu; na prioridade concedida aos direitos cívicos e políticos sobre os direitos econômicos, sociais e culturais e no reconhecimento do direito de propriedade como o primeiro e, durante muitos anos, o único direito econômico. (p. 20)

Para Santos, o discurso dos direitos humanos recorre a um “falso universalismo” e explicita a tensão entre direitos individuais e coletivos, já que a Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas reconhece apenas dois sujeitos jurídicos: o indivíduo e o Estado. “Os povos são reconhecidos apenas na medida em que se tornam Estado” (2013, p.23). Prevalece uma concepção de natureza humana como algo apenas indivdual, típica do Norte global, e de uma humanidade universal, sem espaço para grupos que não adotam essa compreensão.

No entanto, práticas contra-hegemônicas foram e vêm sendo desenvolvidas por sujeitos e grupos imbuídos de uma concepção multicultural dos direitos humanos (SANTOS,

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1997), onde, “Neste domínio, a tarefa central da política emancipatória do nosso tempo consiste em transformar a conceptualização e prática dos direitos humanos de um localismo globalizado num projeto cosmopolita”. (p. 21)

O reconhecimento das questões racial, de gênero, e indígena, ainda que com atraso, são um exemplo dos efeitos deste movimento contra-hegemônico no âmbito das discussões mundiais no campo dos direitos humanos. A partir de pressões dos movimentos sociais, essas questões de compreensão mais coletiva que individual são incorporadas ao debate mundial e resultam na aprovação, pelas Nações Unidas, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres, em 1979; da Declaração sobre a Eliminação da Violência contra as Mulheres, em 1993; da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, em 1963; da Declaração da Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas – Declaração de Durban, em 2001; da Convenção Relativa aos Povos Indígenas e Tribais em Países Independentes (OIT), em 1989, e da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, em 2007.

No Brasil, as discussões políticas e os ativismos no campo dos direitos humanos, segundo a compreensão situada neste trabalho, tornam-se mais evidentes após a década de 1960. Em 16 de março de 1964, dias antes do golpe que iniciaria no Brasil um ciclo de 20 anos sob governos autoritários, havia sido instituído o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), que resistiu ao período e foi transformado, pela Lei n° 12.986, de 2 de junho de 2014, no Conselho Nacional dos Direitos Humanos, órgão colegiado de composição paritária que tem como uma de suas atribuições a fiscalização e o monitoramento das políticas públicas de direitos humanos. Em 1997, pela primeira vez, foi criada uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos, com status de ministério, vinculada ao Ministério da Justiça. Em 2003, a Secretaria passa a ser vinculada à Presidência da República e realiza, entre os anos de 2003 e 2016, cinco conferências nacionais de direitos humanos, que reúnem os mais diversos segmentos da sociedade civil e do poder público com atuação em direitos humanos para formular proposições de políticas públicas.

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Cabe ressaltar aqui o emblemático caso do Terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), instituído pelo Governo Federal por meio do Decreto nº 7.037, de 21 de dezembro de 2009. Resultante de um extenso processo de diálogo entre poder público e sociedade civil, o documento incorpora as resoluções da 11ª Conferência Nacional de Direitos Humanos – realizada em dezembro de 2008, após 137 conferências municipais e estaduais em um processo que envolveu cerca de 14 mil pessoas –, além de resoluções aprovadas em mais de 50 conferências temáticas promovidas entre 2003 e 2008, tais como educação, saúde, habitação, igualdade racial, direitos da mulher, juventude, crianças e adolescentes, pessoas com deficiência, idosos, meio ambiente, dentre outras.

A primeira versão do PNDH é de 1996. Em 2002, o Programa foi revisado e atualizado, com a incorporação dos direitos econômicos, sociais e culturais, e em 2009 uma nova versão, a terceira, assinada de forma inédita por 31 ministros, apresenta diretrizes orientadoras da atuação do poder público no âmbito dos direitos humanos.

À luz da história dos movimentos sociais e programas de governo, o PNDH-3 se orienta pela transversalidade, para que a implementação dos direitos civis e políticos transitem pelas diversas dimensões dos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais. Caso contrário, grupos sociais afetados pela pobreza, pelo racismo estrutural e pela discriminação dificilmente terão acesso a tais direitos. (BRASIL, 2010)

Ocorre que, após ser divulgado na mídia, o documento foi duramente criticado, sobretudo por setores como a Igreja Católica, o agronegócio, o Exército e grandes veículos de comunicação. Um debate acirrado se instalou na sociedade e os setores acima mencionados pressionaram o governo por alterações no texto, sobretudo nas proposições relacionadas à democratização da comunicação, à redução dos conflitos no campo, Estado laico, direitos sexuais e reprodutivos e direito à memória e à verdade. Diante das pressões, o governo acabou cedendo e o texto original, apresentado em dezembro de 2209, foi atualizado pelo Decreto nº 7.177, de 12 de maio de 2010. Nos anos seguintes, movimentos e organizações seguiram reinvidicando a implementação integral do PNDH-3, porém, atualmente, diante de iniciativas recentes do governo federal, como a Emenda Constitucional 95 (que estabeleceu o um teto de gastos, que, na prática, representam um

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congelamento dos investimentos públicos nos próximos 20 anos), a Reforma Trabalhista e a Reforma da Previdência, em discussão, a prioridade tem sido a luta para conter a perda de direitos já conquistados.

No bojo dos direitos humanos, a noção de direito à comunicação foi sendo construída na segunda metade do século XX, mais precisamente após os anos 1970, quando, diante dos protestos do países subdesenvolvidos em relação ao intenso fluxo de informações procedente de países desenvolvidos, de ataques à livre circulação de informação, dentre outros “problemas da comunicação nas sociedades modernas”, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) mobilizou uma discussão para analisar todos os aspectos da comunicação, considerados no seu contexto socioconômico, cultural e político, dada a importância decisiva da comunicação para atividades econômicas, sociais e políticas da humanidade em todos os planos (UNESCO, 1983). Assim, em 1977 foi criada a Comissão Internacional para o Estudo da Comunicação, cujos trabalhos geraram o Relatório MacBride, publicado em 1980 com o título “Um mundo e muitas vozes – comunicação e informação na nossa época”. Na prática, o direito humano à comunicação, segundo o Relatório MacBride, significa não apenas o direito de receber informações, mas também de comunicar livremente, de modo que o indivíduo passa a ser um elemento ativo, e não um simples objeto da comunicação.

Embora seja até hoje o mais completo relato já produzido sobre a importância da comunicação na contemporaneidade (RAMOS, 2005, p. 246), o Relatório desagradou grandes grupos de comunicação e gerou tensões internacionais.

Lamentavelmente, ele sucumbiria, como sucumbiu a própria Unesco no tocante às questões de comunicação, ao cerco imposto pelos Estados Unidos e pela Inglaterra, cujos governantes, Ronald Reagan e Margareth Thatcher, no início da década de 80, comandaram a retirada de seus países daquele órgão das Nações Unidas (p.246)

Ainda assim, as ideias contidas no Relatório ainda são referência no mundo para os grupos que defendem a democratização da comunicação. No Brasil, essa concepção é defendida por organizações que integram o Fórum Nacional pela Democratização da

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Comunicação (FNDC), como o Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, que cobram do Estado a adoção de medidas que garantam o exercício pleno deste direito, tais como, o combate aos oligopólios midiáticos, o fortalecimento da comunicação comunitária e da comunicação pública e uma regulação democrática dos meios que contemple a pluralidade de ideias.

2.2. Sobre a questão racial no Brasil5

Nas décadas de 80 e 90, o movimento negro brasileiro intensificou sua incidência política nos espaços institucionais e se fortaleceu no que tange à organização, à formulação de propostas de políticas públicas e de legislação para o combate ao racismo. Como resultado da luta por direitos da população negra nesta época, pode-se citar a criminalização do racismo pela Constituição de 1988, que torna o racismo crime inafiançável e imprescritível, e a conquista, em 1995, de um espaço de interlocução com o governo brasileiro, que resultou na criação de um Grupo de Trabalho Interministerial para assessorar e acompanhar a implementação de políticas para igualdade racial (Grupo de Trabalho Interministerial para a Valorização da População Negra) e, na sequência, de uma instância nacional na estrutura do Estado para pensar políticas voltadas à promoção da igualdade racial. Esta última resulta da Marcha contra o Racismo, pela Igualdade e pela Vida, uma das mais importantes manifestações do movimento negro, realizada em 20 de novembro de 1995, reunindo em Brasília milhares de militantes de todo o país. Após a Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, organizada pelas Nações Unidas em Durban, África do Sul, em setembro de 2001, as ações afirmativas começaram a ser pensadas seriamente como instrumento para a redução da desigualdade racial no Brasil. Como analisa a pesquisadora Luciana Jaccoud (2009), a necessidade de ações afirmativas assentou-se

5 Parte das reflexões deste item decorrem de um esforço teórico e analítico empreendido durante a elaboração da Dissertação de Mestrado “COMUNICAÇÃO E IGUALDADE RACIAL: Atuação de movimentos negros na 1ª Conferência Nacional de Comunicação”, defendida por esta autora em abril de 2014 junto ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília (UnB) para obtenção do grau de mestra em Comunicação. Disponível em: http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/16032/1/2014_CeciliaBizerraSousa.pdf

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sobre a constatação de que, em que pese o progresso observado na legislação antirracista que havia se desenvolvido durante a década de 1980 e 1990, e a melhoria das condições sociais da população negra a partir da ampliação do acesso das políticas sociais, os altos índices de desigualdade racial continuaram praticamente inalterados, exigindo ações específicas.

O Brasil tornou-se signatário da Declaração de Durban, que em seu Art. 108 dispõe:

Reconhecemos a necessidade de se adotarem medidas especiais ou medidas positivas em favor das vítimas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata com o intuito de promover sua plena integração na sociedade. As medidas para uma ação efetiva, inclusive as medidas sociais, devem visar corrigir as condições que impedem o gozo dos direitos e a introdução de medidas especiais para incentivar a participação igualitária de todos os grupos raciais, culturais, linguísticos e religiosos em todos os setores da sociedade, colocando todos em igualdade de condições.

A luta por políticas afirmativas ganhou mais força dentro dos espaços governamentais com a criação da SEPPIR (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), em 21 de março de 2003, também como resultado da pressão dos movimentos negros. Ligada diretamente à Presidência da República, a Seppir existiu até 2015, com status ministério, e tinha a missão de acompanhar e coordenar políticas de diferentes ministérios e outros órgãos do governo brasileiro para a promoção da igualdade racial. Como reflexo do percurso acima citado, os movimentos negros hoje atuam principalmente para responder às opressões raciais e suprimir o racismo; na luta pela afirmação da identidade negra; e em prol da equiparação da diferença sociocultural e econômica existente entre brancos e negros no Brasil. Assim, o movimento negro intensificou nos últimos anos a sua participação no âmbito institucional, buscando intensificar a adoção de políticas afirmativas, ou seja, de ações, públicas ou privadas, que partem do princípio de que determinados grupos sociais são legatários de uma situação histórico-social que os tornam merecedores de um tratamento diferenciado como fator compensatório e de justiça social.

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As reflexões sobre o tema foram se aprofundando e levaram a constatações relacionadas à questão racial em várias áreas, inclusive nas comunicações. Constatou-se a ocorrência de um racismo midiático, comprovado pela invisibilidade dos negros na mídia brasileira, pela afirmação de estereótipos a partir do ponto de vista hegemônico, que colaboram para reforçar uma atitude e um sentimento de auto-desvalorização nos negros e o desinteresse dos veículos de comunicação por suas causas e ações (SODRÉ, 1999).

A identificação dessa dimensão do racismo fez surgir iniciativas direcionadas ao estudo das relações entre mídia e etnia, e multiplicaram-se entre as organizações do movimento negro os grupos preocupados com o debate sobre o tema e com a formulação e reivindicação de políticas públicas de comunicação voltadas para o combate ao racismo e promoção da igualdade racial. Entre as propostas que foram sendo geradas a partir do aprofundamento desses debates estão: uma regulação que coíba o racismo e garanta o direito à diversidade étnica na mídia e uma formação educativa que incorpore o debate sobre a questão racial nos cursos de Comunicação Social.

Vale ressaltar que o racismo midiático é suscitado pelos fatores: negação, recalcamento, estigmatização e indiferença profissional (SODRÉ, 1999), como já mencionado no texto. No que se refere à indiferença profissional, o teórico lembra que a mídia organiza-se empresarialmente, com motivações de lucro e poder semelhantes às de outras iniciativas industriais. “(...) a mídia contemporânea pauta-se pelos ditames do comércio e da publicidade, pouco interessados em questões como a discriminação do negro ou de minorias” (SODRÉ, 1999, p. 244). Assim, conforme cita o professor, os profissionais midiáticos acabam dessensibilizando-se com problemas dessa ordem.

Quando indivíduos de pele escura conseguem empregar-se em redações de jornais ou em estações de televisão, mesmo que possam eventualmente ocupar uma função importante, são destinados majoritariamente a tarefas ditas ―de cozinha‖, isto é, aquelas que se desempenham nos bastidores do serviço, longe da visibilidade pública. (SODRÉ, 1999, p. 244)

A afirmação de Sodré foi publicada em 1999 e, de lá para cá, algumas mudanças ocorreram, mas não se configuraram em transformação estrutural. Seguindo uma linha

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meritocrática e de tentativa de afirmação de um ambiente livre de racismo, alguns veículos já contratam negros e negras para ocupar espaços de visibilidade. Por um lado, é possível que esse movimento resulte de anos de reinvindicações e debate público sobre o tema. Por outro, pode representar meramente a utilização de uma questão mais complexa que encontrou reverberação na sociedade para adotar uma roupagem de democracia racial e/ou para atingir a população negra consumidora. Enquanto isso, o racismo continua sendo negado; manifestações da população negra seguem sendo recalcadas; a estimatização continua presente e produtos midiáticos seguem produzindo e reproduzindo discursos racistas. E questões graves que demonstram concretamente a existência do racismo estrutural na nossa sociedade, como a desigualdade salarial, o assassinato de jovens negros, o feminicídio de mulheres negras e as reivindicações dos movimentos negros organizados, continuam invisíveis e silenciadas.

A incidência dos profissionais do jornalismo e dos sindicatos dos jornalistas, institucionalmente, nesta pauta, se dá com o surgimento das Comissões de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojiras). Conforme aponta Carrança (2012), elas nasceram sob a pergunta: sendo o racismo um problema estrutural da sociedade brasileira, que afeta todas as suas instâncias, de que maneira ele se manifesta no mercado de trabalho e na produção cotidiana dos jornalistas?

Com o aprofundamento das reflexões, os movimentos negros entenderam também que a luta por um modelo de comunicação mais democrática, que inclua a população negra enquanto sujeito político e que combata o racismo, é fundamental para a afirmação política e social de um contingente que, na maior parte da história brasileira, foi mantido à margem da política institucional e da maioria dos espaços social e economicamente importantes da sociedade, tais como empregos formais, escolas, universidades, meios de comunicação.

Assim, preocupadas com a invisibilidade dos negros na mídia igualdade racial, combate ao racismo e promoção da diversidade étnico-racial na mídia, as organizações negras se apropriaram também da luta pelo direito à comunicação e, um marco desse processo, foi

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o envolvimento de movimentos negros na reivindicação e construção da 1ª Conferência Nacional de Comunicação que, por sua vez, trouxe à tona o debate das políticas de comunicações com o viés racial para a sociedade em geral, para o Poder Público e para o movimento nacional pela democratização das comunicações, fortalecendo-o e ampliando-o dentro dos movimentos negros.

Muito antes disso ocorrer e, atuando paralelamente, a imprensa negra vocaliza demandas por direitos da população negra. Conforme Pinto (2006) identificou, há registros de veículos da imprensa negra ainda no século de XIX, que, como apresenta a autora, trazem “conflitos gerados pelas múltiplas associações entre o preconceito racial e o desrespeito à cidadania dos indivíduos negros, seguidos pela insatisfação dos atingidos por tais abritrariedades” em todas as suas folhas (2006, p. 182-183).

Mesmo no período ditatorial brasileiro, a imprensa negra se manteve ativa, ainda que com menor proporção, trazendo reflexões e protestos da condição da negritude no Brasil. Na década de 80 essa imprensa novamente se intensifica, dando lugar a denúncias e análises mais aprofundadas sobre o racismo e seus efeitos decorrentes do histórico colonial da escravidão, bem como a movimentos de afirmação da identidade negra. Nas décadas seguintes, com o advento da Internet e das novas tecnologias de comunicação, surgem iniciativas como o Geledés, Mundo Negro, Portal Áfricas, Correio Nagô e, mais recentemente, os sites Blogueiras Negras, que produz conteúdo para internet focado em temáticas de gênero e raça, e o Alma Preta, veículo especializado na cobertura da temática racial que é um dos objeto de análise deste trabalho.

Feito este necessário percurso, uma vez que o contexto e os conceitos apresentados até agora serão utilizados como operadores da análise doravante realizada, cabe ressaltar que, para responder às inquietações aqui postas, empreendeu-se análise qualitativa das informações, coletadas por meio de pesquisa documental – realizada, sobretudo, nos websites dos dois veículos –, e da realização de entrevistas semi-estruturadas com pessoas que atuam nos dois portais, tendo sido entrevistados dois comunicadores da Ponte e dois do Alma Preta. Após um breve histórico de cada veículo, procederemos à

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análise propriamente dita, que se utiliza de ferramentas como descrição, comparação e segmentação dos dados, subdivididos em unidades relevantes e significativas sem perder a conexão com o todo (GIL, 2012, p. 176) São elas: Foco da cobertura; Atuação e impacto do trabalho; Sustentabilidade.

3. Ponte Jornalismo e Alma Preta: comunicação social independente e engajada 3.1. Sobre a Ponte Jornalismo

“A gente faz jornalismo pensando na mudança social”

A Ponte Jornalismo surgiu no ano de 2014, a partir de um grupo de trabalho incubado na Agência Pública6. Pouco tempo depois da sua criação, o grupo passa a trabalhar de forma independente da Pública, que também cobre direitos humanos, mas prioriza a elaboração de reportagens especiais, mais analíticas, com um leque de cobertura mais amplo, abrangendo outros temas. A Ponte se autodeclara “uma das principais referências no campo do novo jornalismo praticado por veículos nativos digitais do País, e o único focado em segurança pública e direitos humanos” (PONTE, 2019).

A opção por trabalhar de maneira independente da Pública veio acompanhada de uma decisão: os temas de cobertura seriam especificamente justiça, direitos humanos e segurança pública, com dedicação maior à denúncia das violências cometidas pelo Estado. A experiência do grupo também leva à abordagem de questões mais ligadas às violências policiais relacionadas às questões de moradia, raça, gênero e à denúncia de violências e problemas estruturais do Brasil, como o racismo. O grupo afirma ter como missão a defesa dos direitos humanos por meio de um jornalismo independente, que promove a aproximação entre “diferentes atores das áreas de segurança pública e justiça”. O veículo conta com 10 autores – apenas dois remunerados – e um integrante do conselho editorial.

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3.1.1. Foco da cobertura

Para os dois autores entrevistados, o que distancia a Ponte dos veículos tradicionais é o fato de o veículo “contar a história toda”, ouvindo, além da versão do Estado, a versão das vítimas das violências, pessoas que “não estão centro da cidade”.

Não é do interesse desses veículos [tradicionais] falar sobre pretos e pobres que moram na periferia. Falam quando é interessante, mas não é uma preocupação. A Ponte surge também por isso, a gente percebeu que existem outras histórias que precisam ser contadas e que essas empresas tradicionais não estão afim de contar (informação verbal7)

É também uma diretriz da cobertura o aprofundamento nos problemas estruturais do Brasil que levam determinada violação a acontecer.

Se vamos fazer uma matéria sobre rebelião em um presídio, por exemplo, vamos falar sobre o fato, mas também que existe o problema do encarceramento em massa; que existe o racismo que leva sempre os pretos e pobres a serem os mais presentes nas cadeias. E vamos falar sobre guerra às drogas, que é uma política que a gente importou dos Estados Unidos e eleva o tráfico a crime hediondo, que é o responsável por encarcerar a grande maioria dos presos. (informação verbal8)

3.1.2. Atuação e impacto do trabalho

Há uma visão dos autores de que, paralelamente a mudanças conjunturais, a criação de veículos como a Ponte e a Pública influenciou o surgimento e/ou o fortalecimento de iniciativas semelhantes, e também levou os veículos tradicionais a ampliarem o olhar sobre temas de direitos humanos, por meio de colunas, repórteres especializados, reportagens especiais.

De fato, quando a Ponte surgiu, havia uma lacuna. Não que eu ache que não exista mais, mas os tempos e o próprio desenvolvimento da cobertura jornalistica de segurança pública e direitos humanos mudou bastante, especialmente nos últimos quatro anos, que coincide com o período pós-surgimento da Ponte. A gente vê, tanto outras iniciativas, que são correlatas e até parceiras da Ponte, como o próprio desenvolvimento, e um olhar de alteridade maior na própria mídia

7 Informação verbal concedida por comunicador da Ponte por meio de entrevista realizada em março de 2019.

8 Informação verbal concedida por comunicador da Ponte por meio de entrevista realizada em março de 2019.

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hegemônica. É claro que existem ainda vários obstáculos e um longo caminho a ser percorrido na quebra dessas estruturas da mídia hegemônica, mas você já vê boas iniciativas de cobertura nesse sentido, inclusive na Globo (informação verbal9).

Isso porque, na ausência de um veículo especializado, existia, para um dos autores entrevistados, um certo “acordo de camaradas” sobre o que se poderia cobrir. A existência de veículos com menor poder financeiro dispostos a cobrir temas de direitos humanos com aprofundamento e qualidade, para o comunicador, também contribui na qualidade da cobertura de outros veiculos.

Os dois autores entrevistados ressaltam que novos veículos independentes, com temáticas semelhantes às da Ponte, estão surgindo por necessidade das pessoas contarem suas histórias10, e pontuam que o veículo procura manter constante interlocução e parceria com estes novos meios.

Para além disso, a Ponte mantém contato direto com fontes nos territórios, estabelecido por meio de articulações com organizações da sociedade civil de confiança dessas fontes, que facilitaram e que conduzem e orientam o trabalho, sugerindo pautas e enfoques. Isso também se dá por meio dos colaboradores, seja os já profissionais, seja os jovens da periferia que participam dos cursos de formação e se agregam ao processo produtivo com sugestão de pautas e elaboração de matérias.

A Ponte também atua com a formação de jovens, seja para fortalecer o trabalho realizado, buscando mais engajamento para garantir sua continuidade, seja para fomentar novas inciativas semelhantes ou mesmo contribuir para “jogar no mercado” profissionais envolvidos na defesa dos direitos humanos via jornalismo, “profissionas com um olhar de comunicação para a transformação social”.

9 Informação verbal concedida por comunicador da Ponte por meio de entrevista realizada em março de 2019.

10 Alguns veículos citados durante as entrevistas: Revista AzMinas, Agência Mural, Alma Preta, Agência Pública, Desenrola e Não me Enrola, Blogueiras Negras, Periferia em Movimento, Revista É Noiz (que também trabalha com formação e com a qual a Ponte tem estabelecido parcerias nesse sentido).

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3.1.3. Sustentabilidade

A sustentabilidade financeira é hoje o maior desafio, que a Ponte busca sanar com projetos específicos financiados por organizações internacionais e locais ou doações/assinaturas em plataforma de financimento colaborativo. As parcerias para produção de conteúdo também são uma alternativa, como por exemplo, a que o veículo estabelece com os jovens em formação.

O maior inimigo dessas novas organizações de mídia é a falta de financiamento. Até por conta do histórico de empreende do Brasil. Quem tem dinheiro são aqueles 5% da população que só trabalham entre eles. A Ponte surgiu em 2014 e é uma organização que não se paga ainda. Mas estamos agora começando a conseguir nos organizar financeiramente. Temos uma sede e estamos em busca de novos produtos, novos patrocínios, novas fontes para financiar nosso trabalho, e uma delas é o Catarse assinatura, modalidade do Catarse de financiamento recorrente. (informação verbal)11

Apesar dos cinco anos de existência, a Ponte Jornalismo tem, de fato, produzido conteúdo com o enfoque a que se propõe de forma contínua. A “ponte” com a periferia e com outros segmentos corriqueiramente invisibilizados, ou ouvidos de forma desumanizada, por meio de uma exposição às vezes desnecessária, às vezes escarnecedora e estigmatizante – como no caso de programas policiais – realmente pôde ser percebida no acompanhar diário das matérias com o olhar observador que passou a ser direcionado ao veículo desde quando surgiu a primeira intenção de analisá-lo, e, sobretudo, após a realização das duas entrevistas, em março de 2019.

Se em grande parte dos veículos de comunicação tradicional, a população da periferia, sobretudo a negra, aparece geralmente no papel de vítima ou de agressora, foi possível perceber na produção da Ponte essas pessoas como protagonistas de suas histórias, ocupando um lugar de cidadãs e sujeitas de direitos. É também à população mencionada que se direciona com maior intensidade a truculência policial e as demais violações de direitos humanos promovidas pelo próprio Estado. Este dado pôde ser identificado tanto

11 Informação verbal concedida por comunicador da Ponte por meio de entrevista realizada em março de 2019.

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nos relatos dos entrevistados quanto na leitura prévia de relatórios de instituições internacionais e nacionais de promoção e defesa direitos humanos, inclusive aquelas existentes na estrutura do próprio Estado para fiscalização e monitoramento de suas políticas12.

Esta análise não deu conta de aferir sobre as possíveis mudança de enfoque e ampliação na cobertura dos veículos tradicionais de comunicação acerca dos temas de direitos humanos mencionadas nos discursos dos entrevistados; seria necessário um procedimento mais longo e específico para identificar. Mas há, de fato, uma tendência nesse sentido observada empiricamente, que pode ser aferida e analisada em trabalhos futuros.

3.2. Sobre o Alma Preta

“Porque se não fossem as batalhas deles [mais velhos do movimento negro], a própria existência do Alma seria impossível”

Com foco exclusivo na temática racial, o Alma Preta é uma agência de jornalismo independente que surgiu em 2015, através de um grupo de quatro jovens comunicadores da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Bauru, São Paulo. “Inspirados na luta da imprensa negra brasileira, nosso objetivo é contribuir, apoiar e promover reflexão social e política acerca dos efeitos do racismo no Brasil e no mundo” (ALMA PRETA, 2019). A ideia é fruto de um exercício de reflexão destes jovens sobre a falta de representatividade da população negra na mídia e sobre a maneira como essa população é representada, discussão já realizada nos itens anteriores deste trabalho. Diante da lacuna identificada, resolveram se dedicar a um veículo para a produção de conteúdo com cobertura positiva e constante sobre a população negra. “Que você traga não só aspectos negativos sobre o ser negro no Brasil, que você tenha uma representação

12 Dentre as instituições neste perfil cujos materiais foram consultados estão a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (CIDH/OEA), o Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) e a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal (PFDC/MPF).

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diferente sobre a negritude, mas também um entendimento de que raça é um elemento que estrutura a sociedade brasileira” (informação verbal)13. Assim, a produção de conteúdo é composta não apenas por reportagens e análises, mas também por produções audiovisuais, ilustrações e divulgação de eventos da comunidade negra brasileira.

3.2.1. Foco da cobertura

O racismo é o elemento central da cobertura do Alma Preta, que é abordado, sobretudo, pelos vieses da denúncia e do enfrentamento.

Então caberia a nós fazer também uma cobertura que demonstrasse como o racismo é um elemento que está presente em vários aspectos da sociedade e ele é apagado. O máximo que se traz o determinante racial é no campo da segurança pública, na questão da letalidade, na questão do encarceramento. Mas raça é o pano de fundo de todos os problemas e desigualdades do país, então, isso deve estar presente também na cobertura dos grandes debates, e foi o que a gente fez. (informação verbal)14

As notícias produzidas promovem discussões sobre o racismo em diversas áreas, como educação, saúde, política, cultura e esporte, e há espaço para opinião e/ou colaboração de parceiros. A agência também traz seções dedicadas à cobertura da periferia e a notícias do continente africano.

3.2.2. Atuação e impacto do trabalho

Com uma equipe de 11 comunicadores – todos negros e remunerados –, o portal produz conteúdo próprio e trabalha com parcerias de vários tipos. Dentre os parceiros, há os de relação mais “horizontal”, que seriam coletivos de comunicação15 com os quais a agência realiza eventos e troca conteúdo, e os de relação mais “comercial”. Neste último perfil, destacam-se as parcerias estabelecidas com o Yahoo – em vigor e com produção diária –, The Intercept, e Uol Tab. Além de São Paulo, onde fica a sede, existem comunicadores

13 Informação verbal concedida por comunicador do Alma Preta por meio de entrevista realizada em agosto de 2019.

14 Informação verbal concedida por comunicador do Alma Preta por meio de entrevista realizada em agosto de 2019.

15 Veículos mencionados durante as entrevistas: Nós, mulheres da periferia; Periferia em movimento; Desenrola e não me enrola; Agência Mural; Ponte Jornalismo.

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em outras cidades e estados que escrevem para o veículo, sendo Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco os lugares onde há maior número de pessoas colaborando.

Hoje o Alma é uma mídia negra ativa. Com a nossa pauta e a das demais mídias negras, a gente acaba fazendo uma rede de fortalecimento da população negra. A existência de uma mídia como o Alma é hoje, com a sua relevância social, sua força, seu impacto, acaba, consequentemente, criando uma rede que incentiva outras mídias negras a ter a mesma postura - nós temos uma postura muito combativa em relação ao governo e às questões raciais - e isso faz com que as outras mídias negras se identifiquem e se inspirem a falar abertamente sobre essas questões. (informação verbal)16

Recentemente, quando do lançamento da campanha de assinaturas e financiamento, o veículo divulgou texto convocando a comunidade negra e parceiros da luta antirracista para contribuir com o fortalecimento da imprensa negra no Brasil por meio do apoio a iniciativas de financiamento17. Na argumentação, o texto traz como exemplo situação recente na qual o Alma Preta contribuiu com estratégias de comunicação para incidir no debate público acerca do pacote de segurança apresentado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, sob o comando do ex-juiz da Operação Lava Jato e agora ministro de Estado Sérgio Moro, ao Congresso Nacional.

O referido pacote, denominado pelo órgão de Anteprojeto de Lei Anticrime18, foi apresentado em fevereiro de 2019 e propõe mudanças em diversas leis brasileiras, dentre elas a Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/1984); o Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848/1940); o Código de Processo Penal (Decreto-Lei nº 3.689/1941) e a Lei sobre os Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/1990). Em tramitação desde fevereiro, o projeto teve alguns pontos revogados na Câmara, em virtude da atuação de parlamentares de oposição e da pressão dos movimentos sociais, sobretudo do movimento negro, que considera a proposta inefetiva para o combate à violência e com a proposição de medidas que criminalizam a população negra e periférica do país19.

16 Informação verbal concedida por comunicador do Alma Preta por meio de entrevista realizada em agosto de 2019.

17 Disponível em: https://almapreta.com/editorias/o-quilombo/fortalecer-a-midia-negra-e-combater-o-racismo

18 Disponível em: https://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-content-1549284631.06/projeto-de-lei-anticrime.pdf

19 Disponível em: https://www.almapreta.com/editorias/realidade/confira-a-integra-da-carta-do-movimento-negro-enviada-a-comissao-interamericana-de-dh

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Foram notícias, coberturas, entrevistas e inúmeros materiais publicados que evidenciaram a perversidade do projeto de segurança pública criado pelo atual Ministro da Justiça. Entre os materiais produzidos, o Alma Preta chegou a acompanhar o movimento negro em Kingston, Jamaica, e cobrir sessão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) sobre a proposta de Moro.

Voltou-se de lá com entrevistas e falas importantes das relatoras da CIDH, que denunciavam o caráter violento da proposta de Moro e foram utilizadas para agitação política e pressão social. Vitória para nós. (ALMA PRETA, 2019)

Como os da Ponte, os entrevistados do Alma Preta avaliam que a cobertura dos grandes meios de comunicação em relação à questão racial tem alterado, e que o Alma Preta contribui com este processo. Entretanto, pontuam que a cobertura ainda é insuficiente, e que o movimento é pequeno pra se falar em mudança real.

Já entre as mídias negras, a avaliação é de que existe um impacto grande do veículo, que, na análise dos entrevistados, se constitui hoje como um dos principais do país em produção de conteúdo informativo sobre a questão racial.

Talvez a gente seja realmente uma grande referência hoje. Já vimos algumas mídias surgirem após o Alma Preta, e dá pra perceber que tem uma referência. O Notícia Preta no Rio de Janeiro, o Mídia 4P em Salvador... Existe uma influência grande da gente no campo e uma relação de muita parceria com essas mídias (informação verbal)20.

Quanto à formação de novos comunicadores, o veículo não tem um trabalho concreto, mas ambos os entrevistados afirmaram ser este um desejo para o futuro da organização.

3.3.3. Sustentabilidade

Sobre a manutenção financeira, ficou nítido que, hoje, o veículo tem uma sustentabilidade garantida por meio de parcerias e projetos – mas não foi sempre assim, houve tempos de “recurso zero”, de acordo com um dos entrevistados. Os métodos de financiamento são diversos – como parcerias comerciais, projetos e financiamento coletivo –, e o apoio da comunidade negra e de aliados da luta antirracista é também

20 Informação verbal concedida por comunicador do Alma Preta por meio de entrevista realizada em agosto de 2019.

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acionado, conforme apresentado anteriormente.

A informação que circula no Alma Preta dá a ver uma rotina de produção que mantém constante diálogo com o movimento negro e forte sintonia com as suas prioridades e anseios. Há um reconhecimento do caminho trilhado pelos atores da militância mais antiga, que, para os autores, foi o que garantiu que fosse possível a existência do Alma Preta e de outras iniciativas similares. A produção também é contínua e apresenta um teor combativo e engajado, que pode ser compreendido como uma espécie de banco de argumentos e subsídios para a luta antirracista. Grande parte do conteúdo é noticioso, mas, também, reflexivo. As análises mais aprofundadas estão na seção “Quilombo”, onde escrevem, sobretudo, parceiros, mas também os próprios autores do Alma Preta. Existe uma consciência muito presente da contribuição do trabalho desenvolvido pelo veículo para o ativismo negro no Brasil. A atuação é ativista; jornalismo e ativismo neste caso estão muito imbricados – e isso é explícitado – de modo que o veículo pode ser entendido como uma mídia negra independente e militante.

4. Considerações finais

A análise destes dois veículos de comunicação aqui realizada – ou, talvez, apenas iniciada – foi proporcionada pela observação contínua do conteúdo produzido, pelo diálogo com aqueles e aquelas que fazem acontecer essa produção todos os dias e pelos conceitos e históricos aqui acionados para contextualizar e ancorar a reflexão. Ainda que num caráter incipiente, e com muito a ser explorado, esse conjunto de aspectos mobilizados permitiu ver que existe, de fato, uma demanda por dar vazão a histórias por diferentes perspectivas, vieses e ângulos; que há uma demanda pelo exercício efetivo do direito à comunicação por parte dos segmentos aos quais se dedica a cobertura dos dois veículos.

Assim, numa sociedade onde a mídia é concentrada e a utilização da mesma a partir do lugar de sujeito, e não só de objeto da comunicação, é restrita a poucos setores, normalmente aqueles que detém maior poder econômico; onde segmentos são estigmatizados e invisibilizados ou não reconhecidos pelos meios de comunicação com

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maior alcance, é natural que o jornalismo independente desponte como alternativa para minimizar os efeitos sociais de uma comunicação pouco democrática e plural.

Além da necessidade de explorar conteúdos pouco aprofundados, ou mesmo distorcidos, os dois veículos analisados denotam buscar desenvolver novos processos de produção, gestão e financiamento da comunicação, sendo a sustentabilidade um desafio permanente. O exercício de um jornalismo engajado, que promove a reflexão sobre aspectos que estruturam as desigualdades da sociedade e, portanto, com a transformação social, permanece no horizonte e na prática dos dois portais. Se é isso que está contribuindo de fato para uma mudança de postura do jornalismo brasileiro, e vai contribuir de forma determinante para o melhoramento da sociedade e de sua compreensão sobre si mesma, não sabemos, nem é possível concluir nestas poucas páginas. Há várias limitações neste tipo de mídia, dentre elas, o alcance e a abrangência do consumo de notícias na Internet, que exige, além da infraestrutura tecnológica21, um nível de letramento. Mesmo assim, novas possibilidades são abertas, de maneira que a sociedade passa a ter acesso a um conteúdo mais plural e os veículos e profissionais de comunicação a outras referências de jornalismo.

5. Referências

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BRASIL. Ministério da Educação. Portaria Nº 203/2009. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Jornalismo. Brasília, de 12 de fevereiro de 2009. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/documento_final_cursos_jornalismo.pdf>. BRASIL. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). Brasília, 2010. Disponível em:

<https://pndh3.sdh.gov.br/public/downloads/PNDH-3.pdf>.

FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS. Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. Vitória, de 4 de agosto de 2007. Disponível em: < https://fenaj.org.br/wp-content/uploads/2014/06/04-codigo_de_etica_dos_jornalistas_brasileiros.pdf>.

21 De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) Contínua TIC 2017, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de domicílios brasileiros que utilizavam a Internet em 2017 era de 74,9%, enquanto 96,7% têm aparelho de televisão. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-detalhe-de-midia.html?

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<http://revistas.unisinos.br/index.php/versoereverso/article/viewFile/ver.2017.31.78.07/6 252>.

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