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PEDAGOGIA NA FRONTEIRA: LINGUAGEM E AFETIVIDADE NAS REPRESENTAÇÕES DA ESCOLA POR ALUNOS HAITIANOS E BOLIVIANOS

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Academic year: 2021

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PEDAGOGIA NA FRONTEIRA:

LINGUAGEM E AFETIVIDADE NAS REPRESENTAÇÕES DA ESCOLA POR ALUNOS HAITIANOS E BOLIVIANOS

Autores: Patrícia Pereira da SILVA, Rosa Martins Costa PEREIRA, Zuíla Guimarães Cova dos SANTOS, Pricila Suarez

CAVALLO, Luanna Freitas JOHNSON,Geiza Botelho MENDONÇA, Solimária Pereira LIMA, Neusa Teresinha Rocha dos SANTOS, Márcia de Fátima Barbosa CORRÊA, Sandra Monteiro GOMES

Identificação dos autores: Bolsista PIBIC/PIP/IFRO/Câmpus Porto Velho Zona Norte, Orientadora e Coordenadora do

projeto Reitoria/IFRO, Colaboradora UNIR, Colaboradora/UNIR, Colaboradora IFRO/Câmpus Porto Velho Zona Norte, Colaboradora/Reitoria, Colaboradora IFRO/Câmpus Porto Velho Calama, Colaboradora IFRO/Câmpus Porto Velho Calama, Colaboradora IFRO/Câmpus Porto Velho Calama, Colaboradora IFRO/Câmpus Porto Velho Calama.

Introdução

Esse texto apresenta um recorte dos resultados do Projeto “Geopedagogia: a escola em mapas mentais de alunos brasileiros, haitianos e bolivianos”, vinculado ao Programa Institucional de Pesquisa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO). O objetivo da pesquisa foi conhecer representações sobre a escola de alunos brasileiros, bolivianos e haitianos por meio de mapas mentais. O projeto envolveu duas formas de inserção de campo: o suporte teórico-metodológico da aplicação de mapas mentais, proposto pela pesquisadora Dra. Salete Kozel (UFPR) e a pesquisa etnográfica com observação participante em uma escola estadual de ensino fundamental, localizada na cidade de Porto Velho que acolhe alunos imigrantes, em 7 (sete) salas de aula, durante 3 meses. Foram aplicados um total de 59 mapas mentais nos países Brasil, Bolívia e Haïti, sendo: 40 mapas em escolas brasileiras, nos municípios de Porto Velho e Guajará-Mirim; 9 mapas em uma escola boliviana, na cidade de Guayaramerín e 10 mapas em uma escola haitiana, nos arredores de Porto Príncipe. São apresentados, nesse recorte, informações e reflexões da pesquisa realizada com alunos haitianos e bolivianos.

Material e métodos

O suporte teórico-metodológico tem como base os campos da Geografia Cultural, especialmente, os trabalhos desenvolvidos pela pesquisadora Dra. Salete Kozel sobre a metodologia de mapas mentais e o campo da Psicologia Social por meio da Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici. A utilização dos mapas mentais com imigrantes constitui-se uma proposta metodológica interessante, pois “as representações sociais se apresentam como uma ‘rede’ de ideias, metáforas e imagens, mais ou menos interligadas

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livremente e, por isso, mais móveis e fluidas que teorias” (MOSCOVICI, 2003, p. 2010). A escolha por esta metodologia de análise está ancorada no estudo de aspectos subjetivos de discursos e práticas socioespaciais. A questão norteadora foi: o que é a escola para você? Para realizar os mapas, os alunos receberam materiais para desenho e pintura. Para interpretar os mapas mentais, conforme já dito, optamos pelos procedimentos descritos por Kozel (2009). De acordo com essa metodologia os conteúdos são analisados pelos seguintes pontos: 1 - interpretação quanto à forma dos elementos na imagem; 2 - Interpretação quanto à distribuição dos elementos na imagem; 3 - Interpretação quanto a especificidade dos ícones a serem observados; 4 - Apresentação de outros aspectos particulares.

Resultados e discussão

A seguir será apresentada a análise de uma amostra de 3 mapas, sendo: 1 de aluno haitiano que estuda em Porto Velho-RO; 1 de aluno haitiano que estuda em escola no Haiti e 1 de aluna boliviana.

1º mapa 2º mapa 3º mapa

1. Aluno haitiano de escola brasileira 2. Aluno haitiano de escola haitiana

3. Aluna boliviana (de escola em Guayaramerin)

Os dois primeiros mapas mentais são de alunos haitianos, o primeiro de escola brasileira e o segundo de escola haitiana, já terceiro é de aluna boliviana. Observa-se que os mapas mentais, analisados nesse recorte, retrataram formas positivas de percepção sobre a escola. Verifica-se que a aluna boliviana (mapa 3) representou sua escola como uma segunda família, seu segundo lar, lugar no qual construiu vínculos de amizade com colegas, professores e funcionários da escola, e também é onde permanece maior parte do tempo.

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Percebe-se uma relação de afetividade entre aluna e a escola de Guayaramerín (Bolívia). A presença simbólica de um coração e mãos dadas remetem ao sentimento de ser acolhido na escola. Há uma ênfase na estrutura física da escola, sem a presença de elementos humanos.). Constata-se a ausência de elementos que indiquem processos interativos entre a escola na qual a aluna estuda e as escolas brasileiras. A presença tanto quanto a ausência desses elementos é algo significativo, considerando a aluna estuda em uma escola localizada na fronteira entre dois países (Brasil e Bolívia).

Com relação aos mapas dos alunos haitianos, observa-se singularidades e similaridades. É importante lembrar que esses alunos estudam em escolas diferentes, uma localizada no Brasil na qual está em processo de inserção e outra localizada no Haïti, na qual encontra-se integrado. O mapa do aluno haitiano de escola brasileira apresenta a sala de aula com uma menina e um menino estudando. O aluno informou que a cor laranja no quadrado localizado abaixo da escola é o pátio onde acontece o “bom dia”1, recreio e educação física e uma porta que se trata de um portão o qual está sempre trancado. Por outro lado, o aluno haitiano de Porto Príncipe retratou sua escola de maneira bem mais colorida. Cada cor representa séries diferentes, pois a escola, assim como tantas outras escolas no Haïti, é multisseriada. A porta está fechada também e a bandeira do Haiti na parte externa da escola. No mapa do aluno haitiano da escola brasileira, pode-se observar a escrita de “A escola é nosa” que expressa mais que o desejo de ser acolhido, mas também de sentir parte daquela escola tão diferente da escola que estudava no Haïti.

Discussão

O mundo cultural para Kozel (2007) não é uma soma de objetos, mas uma forma de linguagem referenciada nos sistemas de relações sociais. E os mapas mentais são imagens que apresentam valores, atitudes e vivências que permeiam essas relações. Assim sendo, os mapas mentais são aqui compreendidos como enunciados que apresentam construções sígnicas, as quais estão inseridas em contextos sociais, espaciais e históricos coletivos, apresentando particularidades e singularidades. Consideramos a imagem como um elemento de estudo, que comporta informações de um contexto espacial e também, pode ser a expressão visual de experiências subjetivas.

1 Momento de interação entre a equipe pedagógica, professores da escola e alunos, semelhante a uma recepção inicial antes de cada turma se deslocar para a sala de aula.

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A escola foi representada de forma mais afetiva pela aluna boliviana que mora em Guayaramerín. A figura de um coração e o relato verbal da aluna demonstraram essa visão. Entretanto, é necessário destacar a questão de gênero, pois os outros dois mapas foram produzidos por meninos. Outra observação diz respeito à faixa etária. Os alunos haitianos possuem 8 e 10 anos e a aluna boliviana, 16 anos. Essas informações desconstroem o senso comum entre os educadores de que quanto menor a faixa etária da criança, maior é sua relação afetiva com a escola. O dualismo que distingue a relação da criança com o âmbito escolar em cognitiva e afetiva, defendido por algumas concepções educacionais, é um mito (VASCONCELOS, 2004). É importante destacar a ação do sujeito no mundo em que vive, assim como já propuseram estudos no campo da Psicologia da Educação, sobretudo em Piaget, Wallon e Vygotsky que convergem na visão de que o conhecimento se dá a partir do sujeito em sua ação no mundo e conferem a esse processo sujeito-mundo uma dialeticidade ímpar nas teorizações sobre como conhecê-lo (PEREIRA, 2012).

É nesse aspecto que enfatizamos as contribuições de Vygotsky (1989; 2001). Os estudos vygotskyanos nos ajudaram a perceber as noções de representação e simbolismo a partir da experiência da criança. A fala, por exemplo, possui um endereçamento ao outro. “A fala para si mesmo origina-se da fala para os outros” (1989, p. 114). Desse modo não apenas a fala é componente estruturante do pensamento, mas o outro a quem ela se destina também. “A linguagem não serve como expressão de um pensamento pronto. Assim, “ao transformar-se em linguagem, o pensamento se reestrutura e se modifica. O pensamento não se expressa, mas se realiza na palavra” (2001, p. 412). Nesse contexto, cartografar o que é a escola para o aluno expressa um modo de falar ao outro como se o desenho fosse para si mesmo, entretanto, no contexto da experiência em que tanto a fala quanto o outro são componentes estruturantes do pensamento.

Conclusão

Educar é um ato que acontece no convívio social. Nesse sentido, Ferreira (2011) afirma que a educação coincide com os conceitos de socialização e endoculturação, mas não se resume a estes. A pesquisa surgiu a partir de uma demanda real de pesquisadores do Grupo de Pesquisa em Educação, Filosofia e Tecnolofias – GET/IFRO/CNPq que já estudam os campos da educação e processos migratórios e que agora pretendem delimitar seu campo de atuação no intercâmbio de experiências pedagógicas com outros pesquisadores, alunos, professores de

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outras instituições e de outros IF’s em atividades de pesquisa, ensino e extensão, especialmente fomentar o debate entre educadores e pesquisadores em educação na faixa de fronteira do Estado de Rondônia. Consideramos que esse trabalho nos possibilitou uma experiência ímpar de pesquisa, de produção de conhecimento e de vida tanto pelo trabalho em equipe com diferentes pesquisadores, incluindo viagens de campo quanto pelas relações estabelecidos entre teóricos que estudam a dimensão cultural no âmbito escolar.

Referências

FERREIRA, W. de O. Educação, saúde e trabalho como alavancas na construção da

cidadania. Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra. Trabalho de Conclusão

de Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE). Rio de Janeiro: ESG, 2011. MOSCOVICI, Serge. Representações Sociais: investigações em psicologia social. Trad.:, Pedrinho Guareschi. A. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010

PEREIRA, Caciana Linhares. Piaget, Vygotsky e Wallon: contribuições para os estudos da linguagem. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 17, n. 2, p. 277-286, abr./jun. 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pe/v17n2/v17n2a10.pdf. Acesso em: 10 de jul.2015. KOZEL, Salete; SILVA, Josué da Costa; GIL FILHO, Sylvio Fausto. (Org). Da percepção e

cognição à representação: reconstruções teóricas da Geografia Cultural e Humanista. São

Paulo: Terceira Margem: Curitiba: NEER, 2007.

______. As linguagens do cotidiano como representações do espaço: uma proposta

metodológica possível. In: 2º encuentro de geógrafos da América Latina: caminando en una américa latina en transformación, 2009, Montevideo, Anais. Montevideo: Universidad de la República, 2009, CD-ROM. ISBN: 978-9974-8002-8-1.

VASCONCELOS, Mário Sérgio. Afetividade na escola: alternativas teóricas e práticas. Educ.

Soc, Campinas, vol. 25, n. 87, p. 616-620, maio/ago. 2004. Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/es/v25n87/21472.pdf. Acesso em: 06 de jul. de 2015.

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989. ______. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

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