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XXIV Encontro Anual de Iniciação Científica - UEPG 11 e 13 de Novembro de 2015

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XXIV Encontro Anual de Iniciação Científica - UEPG

11 e 13 de Novembro de 2015

DESCONSTRUÇÃO DE ESTEREÓTIPOS DE GÊNERO NA OBRA SENHORA, DE JOSÉ DE ALENCAR

Área: Lingüística, Letras e Artes - Letras Forma de Apresentação: Apresentação Oral Bolsa: PIBIC/Fundação Araucária

Instituição: UEPG - Universidade Estadual de Ponta Grossa

Autor Tipo E-mail

Vitoria Alessandra Azevedo APRESENTADOR vitoria_alessandra@hotmail.com Marly Catarina Soares ORIENTADOR

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Desconstrução de estereótipos de gênero na obra “Senhora”, de José de Alencar

Vitoria Alessandra Azevedo (PIBIC/Fundação Araucária/UEPG), Marly Catarina Soares (Orientadora), e-mail: marlycs@yahoo.com.br.

Universidade Estadual de Ponta Grossa/Departamento de Letras Vernáculas

Área e sub-área: Linguística, Letras e Artes/ Letras Palavras-chave: estereótipo, gênero, Aurélia Camargo. Resumo:

Esta pesquisa tem por objetivo analisar a personagem Aurélia Camargo, da obra “Senhora” (1875) de José de Alencar, com o intuito de romper com os estereótipos de gênero em relação à mulher em uma sociedade ainda em perspectiva que tem o patriarcalismo como modelo definido. De acordo com Thomas Bonnici no livro “Teoria e Crítica Literária Feminista: Conceitos e Tendências”, os estereótipos são pontos de vista convencionais “que supostamente tipificam e se conformam a um modelo invariável e carente de qualquer individualidade.” (Bonnici, 2007). A estereotipagem da mulher nas representações culturais é resultado da nossa sociedade patriarcal, uma vez que os papéis que as mulheres desempenham na maioria das vezes são donas de casa, submissas, dependentes do marido, quando não são apresentadas como objeto sexual. Quanto aos homens, são representados como o provedor da casa, autoritário e suficiente por si mesmo. A presente pesquisa sobre a desconstrução de estereótipos se utiliza do livro “Senhora” (1875) de José de Alencar e tem como base os livros “Teoria e Crítica Literária Feminista: Conceitos e Tendências” (2007) de Thomas Bonnici e “Gênero, sexualidade e educação” (1997) de Guacira Louro, bem como leituras e discussões sobre o tema, buscando relacionar com a obra para que nossos objetivos sejam alcançados.

Introdução

De acordo com Thomas Bonnici no livro “Teoria e Crítica Literária Feminista: Conceitos e Tendências”, os estereótipos são pontos de vista convencionais “que supostamente tipificam e se conformam a um modelo invariável e carente de qualquer individualidade. ” (Bonnici, 2007). A estereotipagem da mulher nas representações culturais é resultado da nossa sociedade patriarcal, uma vez que os papéis que as mulheres desempenham na maioria das vezes são donas de casa, submissas, dependentes do marido, quando não são apresentadas como objeto sexual. Quanto aos homens, são representados como o provedor da casa, autoritário e suficiente por si mesmo.

A proposta deste trabalho é desmistificar esses pré-conceitos, a obra “Senhora” (1875) de José de Alencar, em que a personalidade de sua protagonista, Aurélia Camargo, é completamente incompatível com as características das mulheres do século XIX, visto que seu comportamento era libertário e independente.

Para tratar disso, discutiremos as questões da identidade de gênero. Os estudos sociológicos consideram que a identidade resulta das relações sociais que são construídas e exercidas nas variadas instituições sociais: família, escola, trabalho, mídia, etc. É dessas relações que se constroem as identidades do sujeito, as quais se definem na interação umas

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com as outras. É por isso que a identidade de gênero diz respeito não ao sexo biológico, mas à nossa constituição social como homens e mulheres.

Para ressaltar esse conceito, temos uma citação de Seffner:

(...) as mulheres e os homens não são apenas mulheres ou apenas homens, mas são muitas outras coisas ao mesmo tempo. Isso significa dizer que não existe uma essência de mulher ou de homem nem a possibilidade de uma solidariedade dada a priori, a partir de uma única posição, neste caso, a partir da posição de gênero. (SEFFNER, 2008, p. 26).

É importante salientar também que grande parte dos discursos sobre gênero de algum modo inclui ou engloba as questões de sexualidade (MAC AN GHAILL, 1996). As identidades sexuais dos indivíduos se constituem através das formas como eles vivem sua sexualidade. Em contrapartida, os sujeitos também se identificam como masculinos ou femininos e assim constroem suas identidades de gênero. Essas identidades (sexuais e de gênero) estão inter-relacionadas, no entanto não são a mesma coisa. Segundo Louro (1997, p.31), “as identidades são sempre construídas, elas não são dadas ou acabadas num determinado momento. (...) Estão sempre se constituindo, elas são instáveis e, portanto, passíveis de transformação”.

De acordo com as autoras Conceição Nogueira e Luísa Saavedra no artigo “Estereótipos de Gênero: Conhecer para os transformar” (2007), os estereótipos sociais “são generalizações acerca dos membros de certos grupos e que derivam predominantemente, ou são uma instância do processo cognitivo da categorização”. Elas afirmam que os estereótipos desempenham a função de fazer deduções a respeito de grupos baseado na idade, nacionalidade, etnicidade, raça, gênero, classe social, profissão, estatura física, orientação sexual, entre outras, porém com isso, causam discriminação e geram preconceitos.

Já os estereótipos de gênero implicam que certas características são mais propensas a um sexo do que outro e também envolvem papéis diferenciados para cada um. Em resumo, os estereótipos de gênero são um conjunto de crenças largamente partilhadas e organizadas acerca das características dos homens e das mulheres (Golombok & Fivush, 1994, citado por Matlin, 2000; Williams & Best, 1990), pensamentos que podem não corresponder à realidade. As autoras também discorrem sobre os papéis de gênero que “são definidos como aquelas expectativas partilhadas acerca das qualidades e comportamentos apropriados dos indivíduos, em função do seu gênero socialmente definido”. Estes papéis de gênero induzem direta e indiretamente as diferenças sexuais estereotipadas. Diretamente, porque as observações dos comportamentos das mulheres e homens afetam as crenças acerca dos comportamentos apropriados de cada gênero e indiretamente, porque essa diferente distribuição de função dos gêneros é uma parte importante das expectativas das pessoas acerca das características femininas e masculinas.

Portanto, homens e mulheres estão sujeitos a diferentes expectativas e se conformam com elas (na maioria das vezes), por isso desenvolvem diferentes competências, assim como atitudes e crenças, sendo que a causa para o comportamento socialmente tipificado parece ser a divisão do trabalho entre os sexos.

Por fim, Nogueira e Saavedra afirmam que um dos grandes problemas da pesquisa das diferenças sexuais trata as mulheres como uma categoria global, ou seja, os pesquisadores não consideram a diversidade das mulheres (Crawford, 1995), pois é um engano pressupor que todas as mulheres têm mais em comum umas com as outras do que com os homens,

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simplesmente porque são mulheres. Elas declaram que “encarar o sexo biológico como a única e mais importante diferença subvaloriza as outras dimensões e contribui para uma simplificação das diferenças observadas”.

Como conclusão as autoras reconhecem que enquanto o comportamento do homem for considerado o padrão na cultura, as diferenças das mulheres em relação ao homem serão sempre encaradas como “deficiências”, já que a cultura ocidental sempre avaliou a masculinidade como inerentemente superior à feminilidade (Nogueira, Neves & Barbosa, 2005).

Materiais e Métodos

A presente pesquisa sobre a desconstrução de estereótipos se utilizará do livro “Senhora” (1875) de José de Alencar e terá como base os livros “Teoria e Crítica Literária Feminista: Conceitos e Tendências” (2007) de Thomas Bonnici e “Gênero, sexualidade e educação” (1997) de Guacira Louro, bem como leituras de artigos como "Estereótipos de Gênero: conhecer para os transformar" (2007) das autoras portuguesas Conceição Nogueira e Luísa Saavedra, buscando relacionar com a obra para que nossos objetivos sejam alcançados.

Resultados e Discussão

Para comprovar essas questões levantadas pelos autores citados na Introdução sobre estereótipos de gênero, analisamos a personagem Aurélia Camargo, protagonista da obra Senhora de José de Alencar, um romance publicado no século XIX, a qual era uma personagem à frente de sua época. Sempre soube seu valor, mesmo quando era pobre e morava com sua mãe e irmão. Diferente das outras moças de seu tempo, era ela quem fazia as contas da casa, uma vez que era tarefa de seu irmão, mas ele possuía dificuldade em tal incumbência, pois

“A natureza dotara Aurélia com inteligência viva e brilhante da mulher de talento, que se não atinge ao vigoroso raciocínio do homem, tem a preciosa ductilidade de prestar-se a todos os assuntos, por mais diversos que sejam. O que o irmão não conseguira em meses de prática, foi para ela estudo de uma semana”. (Cap. II, p. 68).

Como eram muito pobres, a mãe de Aurélia queria ver a filha casada, já que só assim os problemas com o dinheiro cessariam, mas a menina repudiava essa ideia e apenas quando seu irmão faleceu, ela se rendeu às insistências da mãe e finalmente vai para a janela, mas para Aurélia isso foi uma situação humilhante.

A moça apaixona-se por Fernando, porém ela “amava mais seu amor do que seu amante; era mais poeta do que mulher"; "preferia o ideal ao homem” (cap. IV, p. 81), ou seja, apesar de amá-lo, amava mais a si mesma, seus princípios, seus ideais, sua dignidade. Ele pede a mão da jovem à mãe, mas “a promessa feita ao pai de Adelaide era explícita e formal”, porque foi feita ao pai e não à mãe como a de Aurélia.

Quando fica rica, graças a herança de seu avô, a menina ganha uma mãe de encomenda, D. Firmina Mascarenhas, e um tutor, Sr. Lemos, pois a sociedade brasileira naquele tempo não tinha admitido a emancipação feminina.

Certa vez, em uma conversa com D. Firmina, a mulher mais velha diz que Aurélia conversa na sala com os deputados e os diplomatas e “sabe mais de muitos homens que

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aprenderam nas academias” (Cap. I, p. 14).

Dava aos seus pretendentes um “valor monetário”, [...] cotava os seus adoradores pelo preço que razoavelmente poderiam obter no mercado matrimonial”. (Cap. I, p. 10). As mulheres mais velhas achavam esses modos impróprios para “as meninas bem-educadas”. Aurélia sabia também o “dividendo das apólices, a taxa do juro, as cotações da praça” e fazia “uma conta de prêmios compostos com a justeza e exatidão de uma tábua de câmbio” (Cap. IV, p.21), ou seja, era mais do que apenas um “rostinho bonito”.

Ela “não declinava um instante do firme propósito de governar sua casa e dirigir suas ações como entendesse”, um exemplo disso era seu tutor, que era somente no papel, pois quem dava as ordens era Aurélia. Quando ela queria fazer algo informava ao tio e caso ele se recusasse a fazer suas vontades ela ameaçava tirar sua tutela.

Em contrapartida, no final da narrativa, Aurélia cai ajoelhada aos pés de Fernando, implorando-lhe perdão, arrependida de seus atos.

Conclusões

Concluímos que, apesar da época em que vivia e das restrições que possuía graças a sua condição de mulher, Aurélia se mostra corajosa, forte, decidida e destemida no que diz respeito à direção de seu próprio caminho. É uma mulher inteligente num tempo em que a inteligência era vista como uma característica masculina.Possui um comportamento visto como um dos "efeito da emancipação das mulheres", uma que ela rompia com os modelos femininos tradicionais e lutava pelo que queria, em vez de aceitar as coisas do modo que eram, como as outras mulheres.

Aurélia se mostra forte, autoritária e independente em relação ao contexto da época. Assim sendo, Aurélia quebra com os estereótipos femininos que se esperavam das mulheres naquela época e que infelizmente continuam nos dia de hoje. Por outro lado, no momento em que Aurélia se joga aos pés de Fernando, no desfecho da obra, podemos constatar que, independentemente dos esforços dela em se vingar da rejeição de Fernando, humilhando-o e fazendo ficar à mercê de suas vontades, ela ainda o amava e se deixa ficar submissa a ele, dessa forma se desfaz todo o controle que ela mantinha até aquele momento. Portanto, podemos afirmar que Aurélia rompe parcialmente com os estereótipos de gênero.

Referências

ALENCAR, José de. 1829-1877. Senhora - José de Alencar. - 2. ed. -São Paulo: Ciranda Cultural, 2008. -(Literatura Brasileira)

BONNICI, Thomas, Teoria e crítica literária feminista: conceitos e tendências/ Thomas Bonnici. - Maringá: Eduem, 2007.

Louro, G. L. Gênero, sexualidade e educação - Uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis/ RJ. Vozes, 1997.

Nogueira, C.; Saavedra, L.. 2007. Estereótipos de género: conhecer para os

transformar. In A Dimensão de Género nos Produtos Educativos Multimédia, 11 - 30. .

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SEFFNER, F. Gênero, sexualidade, violência e poder. In: Educação para igualdade de gênero. Salto para o futuro, ano XVIII, Boletim 26, p. 15-19, nov. 2008. Disponível em:

http://tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/163222Edu_igualdade_gen.pdf. Acesso em: 02 abr. 2012.

ISSN: 1676-0093

Anais do Encontro de Pesquisa da Universidade Estadual de Ponta Grossa - Ponta Grossa/PR - 11 e 13 de Novembro de 2015 - http://eaic.uepg.br/

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