• Nenhum resultado encontrado

Violência contra mulheres: reflexões teóricas.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Violência contra mulheres: reflexões teóricas."

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

VI OLÊNCI A CONTRA MULHERES: REFLEXÕES TEÓRI CAS

Let icia Casique Casique1

Ant onia Regina Fer r eir a Fur egat o2

A v iolên cia m an if est a- se de dif er en t es f or m as, em dist in t as cir cu n st ân cias e com div er sos t ipos de

at os v iolen t os d ir igid os a cr ian ças, m u lh er es, id osos e ou t r os in d ef esos. Violên cia d om ést ica, v iolên cia d e

gêner o e violência cont r a m ulher es são t er m os ut ilizados par a denom inar est e gr ave pr oblem a que degr ada a

int egridade da m ulher. A violência de gênero pode m anifest ar- se at ravés de violência física, violência psicológica,

violência sexual, violência econôm ica e violência no t r abalho. A violência sofr ida pela m ulher por par t e de seu

com pan h eir o in t im o pode ser an alisada at r av és do Modelo Ecológico, qu e ex plica a est r eit a r elação en t r e o

indiv íduo e seu ent or no. Concluiu- se que é im por t ant e analisar os fat or es que influem no com por t am ent o das

pessoas fr ent e à v iolência par a se est abelecer pr ogr am as de aj uda.

DESCRI TORES: v iolência; saúde m ent al; enfer m agem ; ident idade de gêner o; m ulher es

VI OLENCE AGAI NST W OMEN: THEORETI CAL REFLECTI ONS

Violence appears in different form s and circum st ances and involves dist inct kinds of violent act s against

children, wom en, elderly and ot her defenseless persons. This serious problem , which degrades wom en’s int egrit y,

is denot ed by t er m s like dom est ic violence, gender violence and violence against w om en. Gender violence can

appear as ph y sical, psy ch ological, sex u al, econ om ic v iolen ce, as w ell as v iolen ce at w or k . Violen ce again st

wom en com m it t ed by t heir int im at e part ners can be analyzed t hrough t he Ecological Model, which explains t he

close r elat ion bet w een indiv iduals and t heir env ir onm ent . Fact or s influencing people’s behav ior t ow ar ds t his

v iolence should be analy zed w it h a v iew t o est ablishing help pr ogr am s.

DESCRI PTORS: v iolence; m ent al healt h; nur sing; gender ident it y ; w om en

VI OLENCI A CONTRA MUJERES: REFLEXI ONES TEÓRI CAS

La v iolen cia se m an ifiest a de difer en t es for m as, en dist in t as cir cu n st an cias y con div er sos t ipos de

act os d ir ig id os a n iñ os, m u j er es, an cian os y ot r as p er son as in d ef en sas. Violen cia d om est ica, v iolen cia d e

gener o y v iolencia cont r a m uj er es son t ér m inos ut ilizados par a denom inar est e gr av e pr oblem a que degr ada

la in t egr idad de la m u j er . La v iolen cia de gén er o pu ede m an ifest ar se a t r av és de v iolen cia física, v iolen cia

psicológica, v iolencia sex ual, v iolencia económ ica y v iolencia en el t r abaj o. La v iolencia sufr ida por la m uj er

por par t e de su com pañer o ínt im o puede ser analizada a t r av és del Modelo Ecológico que ex plica la est r echa

relación ent re el individuo y su ent orno. Se concluyo que es im port ant e analizar los fact ores que influyen en el

com por t am ient o de las per sonas fr ent e a la v iolencia par a est ablecer pr ogr am as de ay uda.

DESCRI PTORES: v iolencia; salud m ent al; enfer m er ía; ident idad de géner o; m uj er es

1 Doutora em Enferm agem , Docente da Faculdade de Enferm agem e Obstetrícia de Celaya/ Universidade de Guanaj uato- México; 2 Professor Titular, e- m ail

(2)

REFLEXÕES TEÓRI CAS

O

vocábulo violência vem da palavra lat ina

v is, que quer dizer for ça e se r efer e às noções de constrangim ento e de uso da superioridade física sobre o outro. A violência é m utante pois sofre a influência de épocas, locais, circunst âncias e realidades m uit o diferent es. Exist em violências t oleradas e violências condenadas, pois desde que o hom em vive sobre a Te r r a a v i o l ê n ci a e x i st e , a p r e se n t a n d o - se so b difer en t es for m as, cada v ez m ais com plex as e ao m esm o t em po m ais fragm ent adas e art iculadas( 1).

A v iolência é um fenôm eno ex t r em am ent e d i f u so e co m p l e x o cu j a d e f i n i çã o n ã o p o d e t e r e x a t i d ã o ci e n t íf i ca , j á q u e é u m a q u e st ã o d e apreciação, é influenciada pela cultura e subm etida a um a cont ínua revisão na m edida em que os valores e as norm as sociais evoluem( 2).

O m o v i m en t o f em i n i st a , d o i n i ci o d a 2 ª m etade do século passado, destacou- se por denunciar casos de violência cont ra a m ulher, dando luz a essa r ealid ad e q u e, at é en t ão, só er a m en cion ad a em âm bit o privado. A violência exercida dent ro dos lares perm anecia sem que ninguém fizesse nem dissesse nada. At é ent ão, não er a m anifest ada aber t am ent e t endo o apoio das condições sociais da época( I ).

O su m á r i o d a s d i v e r sa s co n f e r ê n ci a s in t er n acion ais r ealizadas n o sécu lo XX con t ém os en u n ciad os e as d ef in ições d os d ir eit os h u m an os m ínim os para todos os habitantes do planeta os quais, se m d ú v i d a , t i v e r a m i m p a ct o n a d e t e cçã o e invest igação da violência de gênero cont ra a m ulher. Est as conv enções for am : Car t a das Nações Unidas ( 1945) ; Convenção cont ra o genocídio ( 1948) ; Pact o internacional dos direitos civis e políticos (1966); Pacto internacional dos direitos econôm icos, sociais e culturais ( 1966) ; Convenção sobre a elim inação de t odas as for m as de discr im inação r acial ( 1965) ; Conv enção para a elim inação de todas as form as de discrim inação contra a m ulher ( 1979) ; Convenção contra a tortura e outros tratam entos ou penas cruéis, desum anas ou degradant es ( 1984) ; Convenção sobre os direit os da cr iança ( 1989) ; e, Conv enção int er am er icana par a prevenir, punir e erradicar a violência contra a m ulher - Convenção de Belém do Pará ( 1994)( 3).

At r av és dest as conv enções est abelecer am -se m a r co s l e g a i s p a r a a p r o t e çã o d o s d i r e i t o s hum anos. Além disso, houve repercussões posit ivas n o av an ço p ar a a com p r een são e er r ad icação d a violência cont ra a m ulher.

Na v iolência de gêner o influír am os gr upos fem in ist as dos países ociden t ais qu e den u n ciar am aq u eles q u e d eg r ad am a d ig n id ad e d as m u lh er es a t r a v é s d a v i o l ê n ci a( 4 ). Co m o r e su l t a d o d a

iden t ificação da v iolên cia con t r a as m u lh er es, aos gr upos fem inist as t em se agr egado out r os at or es, com o as associações de defesa dos direit os hum anos e as or g an izações in t er n acion ais q u e an alisam e procuram aj udar a dim inuir o problem a.

Para se entender a denom inação de violência de gênero é preciso ter em conta o caráter social dos traços atribuídos a hom ens e m ulheres. Dessa form a, obser va- se que a m aior ia dos t r aços do fem inino e do m asculino são const ruções cult urais, são produt os da sociedade e não der iv ados necessar iam ent e da nat ureza( 4).

A violência de gênero é aquela exercida pelos h om en s con t r a as m u lh er es, em qu e o gên er o do agressor e o da vít im a est ão int im am ent e unidos à ex plicação dest a v iolên cia. Dessa f or m a, af et a as m ulheres pelo sim ples fat o de serem dest e sexo, ou sej a, é a violência perpetrada pelos hom ens m antendo o cont role e o dom ínio sobre as m ulheres.

Os papéis e com portam entos dos hom ens são considerados socialm ente m ais valiosos. Por exem plo, o choro é desprezado, as respostas violentas são bem v i st a s, e o t r a b a l h o d o m é st i co ( a p e sa r d e se r im prescindível) passa quase inadvert ido aos hom ens m as se j ustifica que sej a realizado pelas m ulheres( 5).

A categoria gênero pressupõe a com preensão das relações que se est abelecem ent re os sexos na sociedade, diferenciando o sexo biológico do sexo social. Enquanto o biológico refere-se às diferenças anátom o-fisiológicas, entre os homens e as mulheres, o social diz respeito à maneira como estas diferenças se comportam nas diferentes sociedades, ao longo da historia(6).

Em todas as culturas do m undo, as m ulheres v i v em em co n d i çõ es d e d esi g u a l d a d e so ci a l em r elação aos hom ens. Est as desigualdades adquir em diferent es m anifest ações e m agnit udes.

A definição de gênero im plica em dois níveis, quais sej am , o gêner o com o elem ent o const it ut iv o d a s r e l a çõ e s so ci a i s, b a se a d o n a s d i f e r e n ça s per cept ív eis ent r e os dois sex os e o gêner o com o for m a básica de r epr esent ar r elações de poder em qu e as ações dom in an t es são apr esen t adas com o nat urais e inquest ionáveis( 6).

(3)

vez que t al violência det eriora a saúde individual e fam iliar da m ulher. As m ulheres que resistem a um a relação abusiva, indefinidam ent e, acabam perdendo a sa ú d e i n d i v i d u a l ( f ísi ca e m en t a l ) o q u e, p o r conseqüência, afet a a saúde da fam ília.

A d eclar ação d as Nações Un id as sob r e a Erradicação da Violência contra as m ulheres, adotada pela Assem bléia Ger al da ONU, em 1993, definiu a violência com o qualquer at o de violência apoiado no g ên er o q u e p r od u za ou p ossa p r od u zir d an os ou sofr im ent os físicos, sex uais ou m ent ais na m ulher i n cl u i n d o a s a m e a ça s, a co e r çã o o u a p r i v a çã o arbitrária da liberdade tanto na vida pública com o na pr iv ada( 7).

FORMAS DE VI OLÊNCI A CONTRA A MULHER

Dent re as diferent es form as de violência de gênero cit am - se a violência int rafam iliar ou violência dom éstica e a violência no trabalho, que se m anifestam at ravés de agressões físicas, psicológicas e sociais.

A v iolên cia in t r af am iliar é u m a f or m a d e violência a que m uit as m ulher es est ão subm et idas, t e n d o o r i g e m e n t r e o s m e m b r o s d a f a m íl i a , in d ep en d en t em en t e se o ag r essor est ej a ou n ão com p ar t ilh an d o o m esm o d om icílio. As ag r essões i n cl u e m v i o l a çã o , m a l t r a t o f ísi co , p si co l ó g i co , econôm ico e, algum as v ezes, pode culm inar com a m o r t e d a m u l h e r m a l t r a t a d a . Ta m b é m o a b u so psicológico, sex ual ou físico, habit ual, ocor r e ent r e pessoas r elacionadas afet iv am ent e com o m ar ido e m ulher ou adult os cont ra m enores ou idosos de um a fam ília.

O ab u so car act er iza- se p elo con j u n t o d e condut as que se efet ivam causando dano físico, dor ou ferindo a out ra pessoa de m aneira int encional( 8).

I n clu em - se os at os qu e v ão desde bof et adas, at é lesões graves e que podem causar a m ort e.

A violência m anifesta- se no físico assim com o e m t o d a s a q u e l a s f o r m a s n a s q u a i s se o p r i m e , im possibilita ou se violam as garantias individuais das pessoas. Por t al m ot iv o, obser v a- se qu e t odas as definições, concordam que a violência é qualquer at o exercido cont ra a dignidade da m ulher, independent e de suas origens.

A violência dom ést ica, a violência de gênero e a violência contra as m ulheres são term os utilizados para denom inar um grave problem a( 9). Na violência

dom ést ica, a agressão advém do com panheiro ou de out ro m em bro da fam ília indo além das paredes do

lar sendo vítim as os idosos, as crianças, os deficientes. Na v iolência de gêner o, os agr essor es são pessoas p r ó x i m a s à s a g r e d i d a s o co r r e n d o e m e sp a ço s privados ou públicos.

Um a das for m as m ais com uns de v iolência contra as m ulheres é a prat icada pelo m arido ou um parceiro íntim o( 10). O fato é que as m ulheres, em geral,

est ã o em o ci o n a l m en t e en v o l v i d a s co m q u em a s v it im iza e depen dem econ om icam en t e deles. Est a v iolência per pet r ada por par ceir o ínt im o ocor r e em t odos os países, independent em ent e de grupo social, econôm ico, religioso ou cult ural.

A v i o l ê n ci a , p o r p a r t e d o m a r i d o o u com pan h eir o ín t im o, se dá con t ra o “ sex o f r ágil”. Nesses casos incluem - se as m ulher es m alt r at adas. D a m e sm a f o r m a , e st e t i p o d e a b u so t e m si d o f r eq ü en t e n a s r el a çõ es h o m o ssex u a i s. Assi m , a g r an d e m aior ia d os casos d e ab u so p or p ar t e d o p a r ce i r o t e m si d o d o h o m e m co n t r a a “ com panheira”( 11).

A violência de gênero não é m ais do que o result ado das relações de dom inação m asculina e de subor dinação fem inina, em que o hom em pr et ende ev it ar q u e a m u lh er lh e escap e p ois n ão d esej a sep ar ar - se d a m u lh er, m an t en d o- a su j eit a a u m a subm issão sem escapat ória( 4).

Com base nas afirm ações dos est udiosos do assunto, podem os sintetizar que a violência de gênero co n ce n t r a - se e m a g r e ssõ e s i n d i v i d u a i s q u e t ranscendem o nível social reflet indo, sem dúvida, a dom inação de um grupo e a subordinação do out ro. Os est udos t êm enfat izado a prevalência do fenôm eno da violência int r afam iliar e os fat or es de r isco associados. Dest a for m a, t êm sido apont ados condicionant es que pert encem a diferent es níveis de análise desde aspect os sociais e cult ur ais ( v alor es autoritários e patriarcais, aceitação da violência com o f or m a d e r esolv er d if er en ças, et n ias) , d e g ên er o ( valorização da violência no desenvolvim ento do papel m asculino, aceit ação da violência e o cast igo com o f o r m a d e r e so l v e r co n f l i t o s e n t r e o s ca sa i s) , psicológicos ( m aior im pulsividade, consum o de álcool e dr ogas) at é as ex per iências infant is de v iolência ( dos pais, da vít im a ou do casal m alt rat ado)( 12).

(4)

Duas das form as m ais com uns de violência co n t r a a m u l h e r sã o o a b u so p o r p a r t e d o s com panheiros ínt im os e a at ividade sexual forçada, ocor r endo t ant o na infância, com o na adolescência ou na vida adulta. O abuso pelo com panheiro íntim o, t a m b é m co n h e ci d o co m o v i o l ê n ci a d o m é st i ca , m alt r at o da esposa ou agr essão, qu ase sem pr e é acom panhado por abuso psicológico e, em gr ande part e dos casos, por relações sexuais forçadas. Em su a m a i o r i a , a s m u l h er es m a l t r a t a d a s p o r seu s com pan h eir os sof r em agr essões. Na r ealidade, as r elações abusiv as se desenv olv em usualm ent e em at m osfera de m edo e at é de t error.

Em p aíses in d u st r ializad os, as f or m as d e violência de gênero não são as m esm as para t odos os casais que vivenciam conflitos violentos( 10). Existem

pelo m enos dois padrões:

1 . Um a f o r m a g r a v e e cr e sce n t e d e v i o l ê n ci a , caract erizada por diversas form as de abuso, t error e am eaças, acom panhada de com portam entos cada vez m ais possessivos e controladores por parte de quem prat ica o abuso.

2 . Um a f o r m a m a i s m o d e r a d a d e v i o l ê n ci a n o relacionam ento, onde a frustração constante e a raiva ocasionalm ent e ir r om pem em agr essão física.

Segundo o est udo realizado por Casique( 13),

a violência de gênero perpet rada por com panheiros ínt im os em m ulheres, pode m anifest ar- se at ravés de at os físicos, v iolência psicológicos assim com o at os sociais que envolvem est a sit uação de violência em que vive a m ulher.

Agr essão física

Est e t ipo de v iolência cont r a a m ulher é a m ais evidente e difícil de esconder dado que se reflete no seu aspecto físico. As m ulheres que sofrem algum a agressão física, na m aioria das vezes, experim ent am num erosos at os de violência ao longo do t em po.

A violência física é entendida com o toda ação q u e i m p l i ca o u so d a f o r ça co n t r a a m u l h er em qualquer idade e circunst ância, podendo m anifest ar-se p o r p a n ca d a s, ch u t e s, b e l i scõ e s, m o r d i d a s, lançam ento de obj etos, em purrões, bofetadas, surras, lesões com arm a branca, arranhões, socos na cabeça, su r r a s, f e r i d a s, q u e i m a d u r a s, f r a t u r a s, l e sõ e s abdom inais e qualquer outro ato que atente contra a in t eg r id ad e f ísica, p r od u zin d o m ar cas ou n ão n o corpo( 13,14,15).

Agr essão psicológica

Este tipo de violência é detectado com m aior d if icu ld ad e, u m a v ez q u e as v ít im as ap r esen t am cicat r izes de t ipo psicológicas, m ais difíceis de se observar e com provar( 16).

A violência psicológica ou violência em ocional ocor r e at r av és da r ej eição de car inho, am eaças de espancam ent o à m ulher e seus filhos, im pedim ent os à m ulher de trabalhar, ter am izades ou sair; por sua v ez, o par ceir o lhe cont a suas av ent ur as am or osas e, ao m esm o tem po, a acusa de ter am antes.

Um a pesquisa realizada no Chile ident ificou q u e ex ist em d iv er sas m an if est ações d a v iolên cia psicológica e o aut or( 16) assim as classificou:

- Ab u so v e r b a l : r e b a i x a r, i n su l t a r, r i d i cu l a r i za r, h u m i l h a r, u t i l i za r j o g o s m e n t a i s e i r o n i a s p a r a confundir

- I ntim idação: assustar com olhares, gestos ou gritos, j ogar obj et os ou dest roçar a propriedade

- Am eaças: de ferir, m at ar, suicidar- se, levar consigo as cr ianças

- I solam ent o: cont role abusivo da vida do out ro por m eio da vigilância de seus atos e m ovim entos, escuta d e su a s co n v er sa çõ es, i m p ed i m en t o d e cu l t i v a r am izad es

- Despr ezo: t rat ar o out r o com o infer ior, t om ar as decisões im port ant es sem consult ar o out ro

- Abuso econôm ico: cont r ole abusiv o das finanças, im por recom pensas ou cast igos m onet ários, im pedir a m ulher de t rabalhar em bora sej a necessário para a m anut enção da fam ília

É im p or t an t e d est acar q u e as v ít im as d e v iolência psicológica, m uit as v ezes, pensam que o que lhes acont ece não é suficient em ent e gr av e e im port ant e para decidir- se por at it udes que possam im pedir esses atos, incluindo denunciá- los aos órgãos com pet en t es. Algu m as v ít im as acr edit am qu e n ão t eriam crédit o, caso denunciassem seu agressor. Em out ros casos, alguém que a m ulher respeit a lhe diz que deve perm anecer nessa relação abusiva pelo bem de seus filhos ou para garant ir os direit os adquiridos at ravés do casam ent o( 16).

Muit as m ulheres não se at revem a falar ou denunciar que são vít im as de m alt r at os, por t em or d a s a m e a ça s d o a g r e sso r co n t r a e l a s e se u s fam iliar es.

(5)

pelo hom em em um r elacionam ent o conflit ant e as quais im possibilit am a livre circulação da m ulher.

Agr essão social

Não se encont rou um a definição consensual entre os principais autores que se dedicam ao estudo da violência. Porém , no present e est udo considerou-se a v iolência social com o t oda ação pr ej udicial à m ulher, ditada pelas condutas ou atitudes de aceitação o u r e j e i çã o q u e a so ci e d a d e e st a b e l e ce co m o adequadas frente a violência que sofre a m ulher, assim com o as condições sociais que envolvem a sit uação em que vive a vít im a da violência.

A v i o l ê n ci a q u e so f r e a m u l h e r t e m p er m an eci d o em si l ên ci o , d ev i d o ao f at o d e ser considerada com o algo nat ural e privado. A violência é reforçada pelas religiões e pelos governos, at ravés de norm as e códigos. Dessa form a, geram - se m it os e cr enças que nem sem pr e est ão em confor m idade com a realidade at ual, em bora a sociedade as t enha legit im ado, em algum m om ent o, e por m ot ivos nem sem pre conhecidos com clareza( 17). Dent re os m it os

e crenças populares sobre violência cit am - se: - A violência é nat ural, sem pre exist iu e cont inuará ex ist indo

- O lar é um espaço privado, ninguém deve int ervir n ele

- A violência se dá em ext rat os sociais baixos, onde prevalece a pobreza e a baixa escolaridade

- O álcool e as dr ogas pr ov ocam os episódios de v iolência

- O agr essor é v iolent o em t odas as suas ações e r elações int er pessoais

- Se o hom em violent o se arrepende ou se desculpa isso perm it irá que m ude sua condut a abusiva - Bat er é pr ova de am or “ Te espan co, por qu e t e qu er o”

- O hom em não pode cont r olar seus im pulsos nem m anej ar suas paix ões

- O agressor é um doent e m ent al

- As m ulher es m alt r at adas podem abandonar seus lares no m om ent o que o desej am

- As m ulher es dev em ficar com seus par ceir os sob qualquer circunst ância, para que as filhas e os filhos possam crescer j unt o de seu pai

- A sit u ação v ai m u d ar p ar a a m u lh er, ap en as é q u e st ã o d e e sp e r a r, e sm e r a r - se e se r m a i s com p r een siv a

- As m ulheres gost am de sofrer

- Se não t em ciúm e ent re o casal, não exist e am or - A m ulher não t em com o escapar da violência

Na at u alid ad e, t em ocor r id o au m en t o d a par t icipação das m ulher es na at iv idade econôm ica. Esta inserção da m ulher no m ercado de trabalho tem provocado m udanças sociais dent ro das inst it uições produt ivas e nos lares. Apesar dest a inserção, ainda ocorre discrim inação nos em pregos que desvalorizam a m ulher, evit ando sua ascensão. Com ist o, o papel de provedor est á sendo alt erado pela independência econôm ica da m ulher o que, sem dúvida, repercut e nas funções dent ro do lar, fat o que t radicionalm ent e o hom em não est á dispost o a aceit ar.

A classe social é u m f at or im p or t an t e n o fenôm eno da agressão física. I st o quer dizer que a classe sub- em pregada deve receber at enção especial nas est r at égias de int er v enção par a o pr oblem a e, em conseqüência, dim inuir as estatísticas de violência que at ingem diret am ent e a m ulher( 18).

CONSEQUÊNCI AS DA VI OLÊNCI A

Tanto a violência física, com a psicológica e a social provocam conseqüências com im pactos na saúde física e em ocional da m ulher. Assim é preciso m encionar algum as conseqüências sobre a saúde, resultantes da violência prat icada por parceiros ínt im os( 10,15).

(6)

A v iolência cont ra a m ulher, especialm ent e p o r p ar t e d e seu p ar cei r o , é u m a car g a q u e se apresent a para os serviços de saúde em função dos cust os que gera. Est a violência não só causa danos f ísicos e p sicológ icos às m u lh er es, m as t am b ém , i m p l i ca r i sco s p a r a se u s f i l h o s. Pr e se n ci a n d o a v i o l ê n ci a d e n t r o d a f a m íl i a , i n cr e m e n t a - se n a s cr i an ças as p r o b ab i l i d ad es d e so f r er d ep r essão , ansiedade, t ranst ornos de condut a e at rasos no seu desenvolvim ent o cognit ivo. Além do m ais, aum ent a o risco de se convert erem , por sua vez, em vít im as de m alt rat o ou fut uros agressores.

O MODELO ECOLÓGI CO

Um a base t eór ica, par a se com pr eender a v i o l ê n ci a co n t r a a m u l h e r t e m si d o o Mo d e l o Ecológico( 19). Est a propost a apóia- se no t rabalho de

d i v er so s au t o r es e p r o p õ e “ u m m ar co eco l ó g i co in t egr ado” v isan do o est u do e o con h ecim en t o da violência cont ra a m ulher.

O m odelo ecológico est uda os fat or es que atuam em quatro âm bitos distintos: individual, fam iliar, com unit ário e sociocult ural, conform e se observa na Figura 1. Este m odelo focaliza a violência na interação que se produz ent re seus dist int os níveis. São níveis de causalidade im br icados onde não ex ist e um só d et er m in an t e, m as u m a in t er ação d e f at or es q u e oper am , f av or ecen do a v iolên cia ou pr ot egen do o in div idu o con t r a ela. Est es f at or es cau sais e su as interações precisam ser conhecidos em seus distintos cont ext os e am bient es cult urais. Est e conhecim ent o aj u d a a id en t if icar os p on t os d e f r ag ilid ad e e os cam inhos por onde avançar na prevenção da violência e nas int ervenções específicas( 8).

diferent es elem ent os. No prim eiro Relat ório Mundial sobre a Violência e a Saúde t ent a- se com preender a n at u r eza p olif acet ár ia da v iolên cia, at r av és d est e m odelo( 2).

O m odelo ecológico, classificado em 4 níveis, p e r m i t e a n a l i sa r o s f a t o r e s q u e i n f l u e m n o co m p o r t a m e n t o d a s p e sso a s e o s f a t o r e s q u e a u m e n t a m a s p r o b a b i l i d a d e s d a s p e sso a s convert erem - se em vít im as ou perpet radores de at os v iolent os.

- No prim eiro nível identificam - se os fatores biológicos e da hist ória pessoal. Ent re os dados que se podem r ast r ear dest acam - se as car act er íst icas pessoais e d em og r áf icas ( id ad e, sex o, ed u cação, r en d a) , os ant ecedent es de com por t am ent os agr essiv os ou de aut o- desvalorização, os t ranst ornos psíquicos ou da personalidade e as t oxicom anías.

- No seg u n d o n ív el in clu em - se as r e l a çõ e s m ais pr óx im as com o as m an t idas en t r e os casais e os co m p a n h ei r o s, o u t r o s m em b r o s d a f a m íl i a e o s am igos. Tem - se obser vado que est es aum ent am o risco de sofrer ou perpetrar atos violentos. Ter am igos que com et am ou incit em at os violent os pode elevar o risco de que um j ovem os sofra ou os execut e. - No t e r ce i r o n ív e l e x p l o r a m - se o s c o n t e x t o s

com u n it ár ios em qu e se desen v olv em as r elações sociais tais com o as escolas, os locais de trabalho e a v izin h an ça. Ten t a- se id en t if icar as car act er íst icas dest es am bient es pois podem aum ent ar o r isco de at os v iolent os. O r isco pode est ar influenciado por fat ores com o a m obilidade de local de residência, a d e n si d a d e p o p u l a ci o n a l , o s a l t o s n ív e i s d e desem pr ego, a ex ist ên cia de t r áfico de dr ogas n a r egião.

- O quarto nível está voltado para os fatores de caráter geral, relativos à estrutura da sociedade. Estes fatores cont ribuem para criar um clim a que incit a ou inibe a v iolência, com o a possibilidade de conseguir ar m as dev ido as n or m as sociais e cu lt u r ais. En t r e est as incluem - se as que concedem prioridade aos direit os dos pais sobre o bem - est ar dos filhos, consideram o su icíd io u m a op ção p essoal m ais q u e u m at o d e v i o l ê n ci a p r e v e n ív e l , r e a f i r m a m a d o m i n a çã o m a scu l i n a so b r e a s m u l h e r e s e o s m e n i n o s, respaldam o uso excessivo da força policial contra os cidadãos ou apóiam os conflitos políticos. Nesse nível, t a m b é m e n co n t r a m - se o u t r o s f a t o r e s co m o a s polít icas sanit árias, econôm icas, educat ivas e sociais q u e co n t r i b u e m p a r a m a n t e r a s d e si g u a l d a d e s econôm icas ou sociais ent re os grupos.

5QEKGFCFG %QOWPKFCFG 4GNCÁÐGU +PFKXKFWQ

Fig u r a 1 - Mod elo Ecológ ico p ar a com p r een d er a violência - Font e: OPS/ OMS, 2002

(7)

Na Figur a 1 obser va- se a sobr eposição dos a n é i s i l u st r a n d o co m o o s f a t o r e s d e ca d a n ív e l r ef o r çam o u m o d i f i cam o s d e o u t r o . Assi m , p o r ex em plo, um indiv íduo de per sonalidade agr essiv a t em m ais probabilidades de at uar violent am ent e no seio d e u m a f am ília ou d e u m a com u n id ad e q u e cost um a r esolv er os conflit os m ediant e a v iolência do que se ele est iver em um ent orno m ais pacífico.

A violência contra a m ulher é cada vez m ais encar ada com o um im por t ant e pr oblem a de saúde pública. Dessa form a, há urgência em se est abelecer program as para detecção precoce e para intervenções efet iv as.

Há am pliação de serviços de apoio e proteção das vítim as prestando orientação, assistência j urídica, capacitação educativa e para o trabalho. Alguns deles d esen v olv em ser v iços alt er n at iv os or ien t ad os aos a g r e sso r e s u m a v e z q u e a v i o l ê n ci a f ísi ca t e m r e p e r cu ssõ e s e co n ô m i ca s, d e m o r b i d a d e e m ort alidade nos diferent es grupos de idade.

CONCLUSÕES

A violência pode est ar present e em t odos os âm bit os da vida da m ulher e pode se m anifest ar de d i f e r e n t e s f o r m a s e e m d i v e r sa s ci r cu n st â n ci a s at r av és do seu ciclo ev olut iv o ( a v iolência física, a v i o l ên ci a p si co l ó g i ca e a v i o l ên ci a so ci al ) sen d o

r efor çada pelas r eligiões e pelos gov er nos at r av és de norm as e códigos.

Muitos estudiosos analisam a violência e todos co n co r d a m q u e t r a t a - se d e u m f e n ô m e n o q u e d et er i o r a a i n t eg r i d a d e d a m u l h er, d a n d o co m o con seq ü ên cias u m a saú d e d ef icien t e, t r an st or n os fam iliares e do grupo social. Dentre as conseqüências p a r a a sa ú d e d a m u l h er p o d em - se d est a ca r, a s com plicações físicas e as psicológicas que produzem incapacidade im port ant e na m ulher sem esquecer as conseqüências sociais que em ocasiões im possibilitam -na de deixar esse lar violent o aonde se violam suas garant ias individuais e denigrem sua individualidade. Por ser um fenôm eno que afet a a saúde da pessoa e que tem repercussões na saúde pública em t odos os níveis ( r egional, nacional e int er nacional) , r ealizam - se confer ências int er nacionais par a buscar det er m inant es e fat or es que lev em a com pr eender m elhor o fenôm eno da violência que aflige a m uit as m ulheres dest e planet a.

O m od elo r ecom en d ad o p ela Or g an ização Mundial da Saúde para com preender a violência é o Mo d e l o Eco l ó g i co . Co m e st e m o d e l o e sp e r a - se esclarecer a relação das condut as aprendidas, com o co m p o r t a m e n t o v i o l e n t o d o h o m e m e o com port am ent o passivo da m ulher.

Concluiu-se que é importante analisar os fatores que influem no com port am ent o das pessoas frent e à violência para se estabelecer program as de ajuda.

REFERÊNCI AS BI BLI OGRÁFI CAS

1. Minay o SMC, Souza RE, or ganizador as. Violência sob o olhar da saúde. Rio de Janeiro ( RJ) : Fiocruz; 2003.

2. Organización Panam ericana de la Salud, Oficina Regional para las Am éricas. I nform e m undial sobre la violencia y la salud. Washingt on: OMS; 2002.

3 . Schr aiber LB, D´ Oliv eir a AFPL. O que dev em saber os profissionais de saúde para prom over os direit os e a saúde das m ulher es em sit uação de v iolência dom ést ica. Pr oj et o Gênero, violência e Direit os Hum anos - Novas Quest ões para o Cam p o d a Saú d e. 2 ª ed . São Pau l o : Fu n d ação Fo r d , CREMESP; 2 0 0 3 .

4. Alberdi I . Mat as N. La violencia dom ést ica: inform e sobre los m alos t r at os a m u j er es en Esp añ a. Bar celon a ( ES) : Fundación “ La Caixa” ; 2002.

5. I nm uj eres 2003: Ley del inst it ut o nacional de las m uj eres: p od er ej ecu t iv o: secr et ar ia d e g ob er n ación . [ p ág in a d a int ernet ] . Mexico: I nst it ut o nacional de las m uj eres; [ acesso e m : 2 6 m a i o . 2 0 0 4 ] . D i sp o n i v e l e m : h t t p : / / cedoc.inm uj eres.gob.m x/ docum ent os_dow nload/ 100199.pdf.

6 . Fon seca RMGS. Esp aço e g ên er o n a com p r een são d o processo saúde- doença da m ulher brasileira. Rev Lat ino- am Enfer m agem 1997; 5( 1) : 5- 13.

7 . Gar cía- Mor en o C. Violen cia con t r a la m u j er : Gén er o y e q u i d a d e n l a sa l u d . W a sh i n g t o n ( D C) : Or g a n i za ci ó n Panam ericana de la Salud - Harvard Cent er for Populat ions and Dev elopm ent St udies; 2000. Publicación Especial. 8. Ram írez DE. Fact ores psicosociales de la violencia fam iliar. Rev Enfer m er as, Méx ico 2001; 37( 1- 2) : 8- 15.

9 . Roh lf s I , Valls- Llobet C. Act u ar con t r a la v iolen cia de g én er o: u n r et o p ar a la salu d p ú b lica. Gac San it 2 0 0 3 ; 1 7 ( 4 ) : 2 6 3 - 5 .

(8)

1 3 . Casiq u e, LC. Violên cia p er p et r ad a p or com p an h eir os ínt im os às m ulheres em Celaya. Tese [ Dout orado] . Ribeirão Pret o ( SP) : Escola de Enferm agem de Ribeirão Pret o ( SP) : USP; 2 0 0 4 .

14. Pér ez RR, Casique LC. Tipos de v iolencia que sufr e la m uj er. Guanaj uat o ( MX) : Universidad de Guanaj uat o, Facult ad de Enferm ería y Obst et ricia de Celaya; 2001.

15. Aliaga PP, Ahum ada GS; Mar full JM. Violencia hacia la m uj er : un pr oblem a de t odos. Rev. Chil. Obst et . Ginecol. 2 0 0 3 ; 6 8 ( 1 ) : 7 5 - 8 .

16. Wynt er AE. La violencia desde una perspect iva de Género. Rev Enfer m er as 2001; 37( 1- 2) : 23- 6.

17. Alt am irano RI . La violencia int rafam iliar: Los m it os. Rev Méd de Guanaj uat o 2000; 10( 1- 2) : 206- 9.

18. Gianini RJ, Lit voc J, Eluf- Net o J. Agressão física por classe social. Rev Saúde Pública 1999; 33( 2) : 180- 6.

1 9 . H e i se L. Vi o l e n ce a g a i n st w o m e n : a n i n t e g r a t e d , ecological fr am ew or k . Pop Repor t s 1998; 4( 3) : 262- 90.

Referências

Documentos relacionados

DESCRI TORES: cust os e análise de cust o; cuidados int ensiv os; enfer m agem.. STAFF COST I N DI RECT NURSI NG CARE AT AN I NTENSI VE CARE

Os passos m etodológicos foram : Construção e validação do texto; Film agem do texto com atores e validação; Apresentação do v ídeo aos enfer m eir os e aos docent es

Cir ur giã- Dent ist a, Dout oranda em Enfer m agem e Saúde Pública; 2 Dout or em Enfer m agem , Pr of. Escola de Enferm agem de Ribeirão Pret o, da Universidade de São

2 Enferm eira, Dout oranda do Program a de Pós- Graduação em Enferm agem Fundam ent al da Escola de Enferm agem de Ribeirão Pret o, da Universidade de São Paulo, e- m ail: m

Mudando o foco: um est udo explorat ório sobre uso de drogas e violência no t rabalho ent r e m ulher es das classes popular es da cidade do Rio de Janeir o, Br asil.. Se ut ilizó

Se ent revist aron a 10 docent es responsables de la m at er ia de enfer m er ía básica, m at er ia donde se le pr opor cion a al alu m n o los aspect os t eór icos (

DESCRI PTORES: v iolencia; salud m ent al; enfer m er ía; ident idad de géner o; m uj er es.. VI OLENCE AGAI NST W OMEN: THEORETI CAL

DESCRI TORES: pobr eza; polít icas públicas de saúde; r edes com unit ár ias; condições sociais; enfer m agem em saúde com unit ár ia; aut ocuidado; gr upos focais... The