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Perímetro cefálico em crianças até três anos de idade: influência de fatores socioeconômicos.

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Academic year: 2017

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PERÍMETRO CEFÁLICO EM CRIANÇAS ATÉ TRÊS ANOS DE IDADE.

I N F L U Ê N C I A D E F A T O R E S S O C I O E C O N Ô M I C O S

EDUARDO MARCONDES*;

JOÃO Y U N E S * *

E m trabalho anterior5

relatamos um estudo antropométrico completo de 9.258 crianças brasileiras de zero a doze anos de idade e, entre as variáveis antropométricas, a investigação incluiu o perímetro cefálico.

Os resultados foram apresentados de modo global, sem distinção quanto à situação sócio-econômica das crianças estudadas, embora tais condições tenham sido utilizadas para definir, no seu conjunto, a população investi-gada.

O perímetro cefálico é dado de grande importância em Pediatria e em Neurologia. Fácil de obter, constitui um elemento de valor no diagnóstico de determinadas patologias do sistema nervoso que podem evoluir com microcefalia ou macrocefalia. E m sua apreciação, é indispensável o cotejo com tabelas de valores normais, de preferência baseadas em crianças nor-mais de uma população que não difira, em suas características sócio-econô-micas, culturais e étnicas, dos casos em estudo. Trabalho relativamente re-cente feito em São P a u l o1

estudou crianças de zero a 12 meses de idade sem analisar em suas casuística as diferentes condições sócio-econômicas. Entretanto, o crescimento cefálico faz parte do fenômeno geral do cresci-mento físico e, portanto, passível de ser influenciado por condições ambien-tais, entre as quais situam-se, com posição de destaque, os fatores sócio-eco-nômicos. Assim, parece útil a apresentação da evolução do perímetro cefá-lico em crianças brasileiras normais, analisado segundo as condições sócio-econômicas da casuística.

C A S U Í S T I C A E M É T O D O S

Informações completas sobre a casuística, metodologia estatística e biométrica, foram apresentadas em trabalho anteriors

. Para a variável perímetro cefálico só foram consideradas crianças de zero a três anos de idade, pois é nesse grupo

T r a b a l h o d a D i s c i p l i n a de P e d i a t r i a do D e p a r t a m e n t o de C l í n i c a d a F a c u l d a d e de M e d i c i n a d a U n i v e r s i d a d e de S ã o P a u l o , r e a l i z a d o c o m a u x í l i o d a F u n d a ç ã o de A m p a r o à P e s q u i s a do E s t a d o de S ã o P a u l o : * Professor T i t u l a r de P e d i a t r i a ; ** Assistente-doutor, C h e f e do G r u p o de P e d i a t r i a S o c i a l .

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etário que a medida do perímetro cefálico tem sua maior importância clinica. Foram estudadas 2.647 crianças, sendo 1.367 do sexo feminino e 1.280 do sexo masculino (Tabela 1).

Técnica de medição — Os responsáveis pela medição foram treinados para seguirem os seguintes critérios: a) a criança deverá estar deitada de costas se-gundo o eixo sagital do antropômetro; b) a fita métrica passará sobre a região frontal, logo acima dos rebordos orbitarios, contornando a cabeça no mesmo nivel à direita e à esquerda, passando posteriormente ao nível do occiput, onde será colocada de modo a circunscrever o perímetro máximo; c) a fita métrica deverá estar suficientemente tensa para comprimir os cabelos de encontro à cabeça; d) a medida do perímetro cefálico será assinalada em centímetros, computando-se também os milímetros anotados; e) os pontos de reparo deverão ser previamente assinalados com lápis dermográfico. N a medição foi usada fita métrica metálica. A classificação sócio-econômica da população estudada foi feita segundo o gasto mensal "per capita". Este dado foi obtido a partir da informação dada pela entrevistada de quanto a família g a s t a v a por mês (inclusive salários de empregados e exclusive o aluguel e/ou prestações de imóveis ou veículos de trabalho) e de quantas pessoas viviam com esse dinheiro (inclusive empregadas domésticas). A partir do quociente dessas duas respostas, foram obtidas as 3 categorias de gasto mensal por dependente, c u j a freqüência é apresentada na tabela 2.

A s classes de gasto mensal por dependente foram construidas tomando por base o quociente expresso pelo salário mínimo na época (Cr$ 129,00) dividido pelo número médio de pessoas por residência na região, conforme dado fornecido pelo censo (no presente caso, 5 pessoas). A 1.a

categoria de gasto "per capita" corres-ponde a menos de 2/5 do salário mínimo por pessoa vigente na época: a 2.» cate-goria corresponde de 2/3 do salário mínimo por pessoa a 3/5 exclusive; a 3 .a

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Com as medias aritméticas obtidas foram construidos os gráficos 1 e 2 nos quais a curva correspondente ao gasto mensal "per capita" de Cr$ 100,00 ou mais (categoria 3) destaca-se das curvas correspondentes às outras categorias (1 e 2), mas não de modo uniforme.

Gráfico l — Perímetro cefálico em cm segundo o gasto mensal "per capita". Sexo feminino.

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Com o objetivo de verificar se os diferentes valores para cada categoria socio-económica realmente apresentavam diferenças estatisticamente significantes, foram estudados os contrastes entre uns e outros, pela estatística de Scheffe. Para esse estudo, além das comparações entre as médias das categorias 1, 2 e 3, foi compa-rada também a média da categoria 3 com a média das outras duas. Preliminar-mente, procurou-se verificar se a influência das condições sócio-econômicas sobre a evolução do perímetro cefálico das crianças estudadas era independente do sexo ou se, pelo contrário, o fato de uma criança ser de sexo feminino ou masculino era condição protetora ou agravante da eventual influência que o gasto mensal "per capita" pudesse ter sobre a variável em estudo. Com essa finalidade, procurou-se estabelecer se navia ou não interação entre a variável perímetro cefálico, o gasto mensal "per capita" e o sexo das crianças. Os valores de F necessários para o reconhecimento da existência de interação não alcançaram em nenhuma idade o valor crítico de 2,68, para 5% de significancia (Tabela 6). Disso resulta que o estudo dos contrastes pode ser feito para os dois sexos em conjunto.

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A s tabelas 8 e 9 (respectivamente para sexo feminino e masculino), mostram as médias aritméticas da casuística aqui estudada (global e segundo gasto mensal "per capita") e de três outros autores, para efeito de comparação: u m deles», diz respeito a crianças norte-americanas brancas; o u t r o2

, a crianças suecas e, o terceiro8

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C O M E N T A R I O S

O perímetro cefálico é um dado antropométrico importante em Pediatria tendo em vista o paralelismo entre seus valores e o crescimento do cérebro. Medindo-o rotineiramente em seu consultorio, o pediatra está em condições de detectar precocemente diferentes patologias intracranianas. Nos paises subdesenvolvidos destaca-se as relações entre prejuízo do estado nutricional, crescimento do cérebro e desenvolvimento mental. Nesse triângulo, a me-dida do perímetro cefálico é a avaliação clínica do crescimento cerebral. Estudo de crianças desnutridas em São Paulo 3

> 4

mostrou que os pacientes com má nutrição proteica apresentavam diminuição do perímetro cefálico: com o tratamento, foi possível comprovar crescimento do crânio em veloci-dade acima do normal para as respectivas faixas etárias, sem entretanto atingir os valores normais (com exceção de um caso em 12 pacientes estuda-dos) previstos, embora os pacientes estivessem em excelentes condições gerais e nutricionais. E m lactentes com sub-nutrição grave, constatou-se perímetro cefálico muito pequeno em 60% dos pacientes estudados.

Se a nutrição da criança é um dos fatores do crescimento físico (do qual é parte o crescimento do cérebro) e se, por outro lado, a nutrição de-pende do nível sócio-econômico da família à qual pertence a criança, con-clui-se que nenhuma aferição do crescimento pode ser feita sem o conheci-mento dos fatores sócio-econômicos. O presente trabalho pretende exata-mente isso, ao apresentar diferentes tabelas de valores para o perímetro ce-fálico em função de um determinante das condições sócio-econômicas das crianças estudadas, o gasto mensal "per capita".

Em trabalho anterior5

os dados referentes ao perímetro cefálico já foram apresentados, porém de modo global, sem estratificação segundo classe sócio-econômica. Esses dados lançados num gráfico baseado em dados da literatura6

, mostraram que os valores do perímetro cefálico das crianças de Santo André, em seu conjunto, localizam-se abaixo da curva apresentada no referido gráfico, denominado pelo seu autor de internacional e inter-racial, embora não inclua casuística latino-americana.

A inspeção das figuras 1 e 2 mostra que a curva correspondente à classe sócio-econômica mais alta (categoria 3) destaca-se das demais, princi-palmente a partir de 18 meses e sobretudo no sexo masculino. As diferen-ças entre as curvas correspondentes às outras categorias (1 e 2) são menos nítidas. O comportamento das curvas está de acordo com o estudo dos contrastes (Tabela 7) que mostra só haver diferenças estatísticas signifi-cantes entre as categorias 1 e 3, a partir de 9 meses.

A grande similitude entre os valores do perímetro cefálico ao nascimento, não só entre as diferentes categorias da presente casuística, mas também entre diferentes autores 7

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As tabelas 8 e 9 (respectivamente para sexo feminino e masculino) apresentam conjuntamente os dados do presente trabalho e dados da litera-tura 2

»8 -9

. Comparações rigorosas entre os dados deste trabalho e os da literatura são impossíveis tendo em vista que cada trabalho obedece a uma metodologia diferente. Assim, cabe apenas uma comparação, sem uma aná-lise estatística entre os números apresentados, considerados em seus valores absolutos (médias aritméticas). Verifica-se que os valores mais altos cor-respondem à casuística norte-americana constituida por crianças brancas9

. Outro aspecto interessante é que os dados correspondentes às crianças norte-americanas negras8

(consideradas pelos autores de baixo nível sócio-econô-mico, com renda anual "per capita" inferior a 1.000 dólares em 1969) 8

são, a grosso modo, inferiores aos da casuística brasileira da categoria socio-económica mais baixa, isto é, de gasto mensal "per capita" inferior a Cr$ 50,00 (Santo André, 1971).

R E S U M O

Os autores apresentam o resultado de uma análise da influência dos fatores sócio-econômicos sobre a evolução do perímetro cefálico. Foram estu-dadas 2.647 crianças, sendo 1.367 do sexo feminino e 1.280 do sexo masculino. O estudo foi transversal e as idades consideradas foram as seguintes: até 3 dias de idade, 3, 6, 9, 12, 18, 24 e 36 meses. Como indicador das condições sócio-econômicas das crianças estudadas, foi utilizado o gasto mensal "per capita", o que permitiu a divisão da casuística em 3 categorias: 1 = até Cr$ 49,99, 2 = de Cr$ 50,00 a Cr$ 99,99 e 3 = de Cr$ 100,00 ou mais, sendo na época o salário mínimo igual a Cr$ 129,00. A análise mostrou diferenças significativas entre as médias aritméticas obtidas para as categorias 1 e 3, dos 9 meses em diante. Os resultados são cotejados com dados da literatura.

S U M M A R Y

Head circumference in children from birth to three years. Influence of socio-economic factors.

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R E F E R Ê N C I A S

1. D I A M E N T , A . J . — C o n t r i b u i ç ã o p a r a a s i s t e m a t i z a c ã o do e x a m e neurológico de c r i a n ç a s n o r m a i s no primeiro a n o de v i d a . Tese — F a c . M e d . S ã o P a u l o , 1967.

2. K A R L B E R G , P . ; E N G S T R O M , I . ; L I E C H T E N S T E I N , H . & S V E N N B E R G , I . — T h e development of children in a Swedish u r b a n c o m m u n i t y . A perspective l o n g i t u -d i n a l stu-dy. III — P h y s i c a l g r o w t h -d u r i n g the first three y e a r s of life. A c t a P a e d i a t . S u p l . 187, p. 48, 1968.

3. M A R C O N D E S , E . ; L E F È V R E , A . B . ; M A C H A D O , D . V . M . ; G A Z A L , S ; C A V A L L O , A . ; S P I N A - F R A N Ç A , A . ; F E R R E I R A , B . H . W . ; L A M E G O , C ; B A R B I E R I , D . ; Q U A R E N T E I , G . ; V A L L A D A , L . P . ; B R I Q U E T , M . C . M . ; V A L E N T E , M . I . ; B A R R O S , N . G . ; S E T I A N , N . & S T H A N G H E R L I N , T . — D e s e n v o l v i m e n t o neuro¬-psicomotor d a c r i a n ç a desnutrida. I — M á n u t r i ç ã o protêica. R e v . B r a s i l . P s i q u i a t . 3:173, 1969.

4. M A R C O N D E S , E . ; L E F È V R E , A . B . ; M A C H A D O , D . V . M . ; S P I N A - F R A N C A , A . ; Q U A R E N T E I , G . ; S E T I N A , N . ; V A L L A D A , L . P . ; V A L E N T E , M . I . ; G A Z A L , S.; B A R R O S , N . G . & B R I Q U E T , M . C . M . — D e s e n v o l v i m e n t o neuropsicomotor d a c r i a n ç a desnutrida. I I — S u b - n u t r i ç ã o . A r q . N e u r o - P s i q u i a t . ( S ã o P a u l o ) 28:221, 1970

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P e d i a t r i c s 46:817, 1970.

8. V E R G H E S E , K . P . ; S C O T T , R . B . ; T E I X E I R A , G . & F E R G U S O N , A . D . — Studies in g r o w t h a n d d e v e l o p m e n t : X I I — P h y s i c a l g r o w t h of n o r t h a m e r i c a n negro children. P e d i a t r i c s 44:243, 1969.

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Referências

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