ESTUDO C O M P A R A T I V O DOS T E S T E S I M U N O E N Z I M Â T I C O S
E L I S A - G E E L I S A - M , I M U N O F L U O K E S C Ê N C I A I N D I R E T A
E F I X A Ç Ã O DO C O M P L E M E N T O N O D I A G N Ó S T I C O
D A C I S T I C E R C O S E H U M A N A
LUCY G. VIANNA * — JÚLIA M. COSTA-CRUZ ** — VANIZE MACEDO ***
DALAIR DE SOUZA **** — DOROTI G. MOREIRA *****
RESUMO — Foi feito estudo comparativo entre quatro testes imunológicos — imunoenzimáüco
IgG (ELISA-G) e I g M ( E L I S A - M ) , imunofluorescência indireta ( R I F I ) e fixação do
comple-mento ( R F C ) — utilizados na detecção de anticorpos axiti-Cysticercus, em soro e líquido
ce-falomaquidiano ( L C R ) de pacientes com suspeita clínica de cisticercose e seus familiares.
Fo-ram examinados 539 pacientes que apresentavam sintomas e/ou sinais sugestivos de cisticercose,
450 familiares destes doentes e 133 pessoas que constituíram o grupo controle. Foram colhidas
1122 amostras de soro e 120 de L C R que foram analisadas por ELISA-G e R I F I ; em 83 soros
e 60 L C R também foi processada a R F C e em 28 LCR também a ELISA-M. A ELISA-G e a
R I F I mostraram-se reagentes em 5,2% dos soros, havendo discordância entre seus resultados em
3,5%. Em todos os soros do grupo controle ambos os testes foram não-reagentes. Estas mesmas
reações, no LCR, foram reagentes em 16,7% e mostraram resultados discordantes em 7,5%.
Hou-ve concordância dos resultados da ELISA-G e aa R I F I , eietuao&s concomitantemente no soro
e no LCR, em 8»,6% dos doentes, senão 17,7% reagentes. Nos soros em que foram executadas
ELISA-G, R I F I e RFC, 54,2% mostraram concordancia de resultados
1nos três testes, sendo
reagentes em 16,9%. Estas mesmas reações no LCR tiveram resultados concordantes em 81,7%,
sendo 11,7% reagentes. Nas amostras que apresentaram ELISA-G e R I F I nao-reagentes, a
RFC foi reagente no soro e LCR, respectivamente, em 41,0% e 11,7%. Nos L C R em que se
realizaram ELISA-G e ELISA-M, houve concordancia de resultados em 78,6%; nas amostras
com resultados discordantes, 10,7% tiveram ELISA-G reagente e ELISA-M não-reagente,
ocor-rendo o inverso nas outras 10,7%. É dada ênfase à necessidade da realização
concomitante-mente de vános testes imunológicos para detecção de anticorpos axiti-Cysticercus, no soro e no
LCR, garantindo maior segurança no diagnóstico e acompannamento evolutivo da doença.
P A L A V R A S - C H A V E : cisticercose, imunodiagnóstico, imunofluorescência indireta, ELISA
(IgG e I g M ) , fixação do complemento, líquido cefalorraquidiano, soro.
Comparative study of the immunological tests EJLISA-IgG, E L l S A - I g M , indirect
immuno-fluorescence and complement fixation in the diagnosis of human cysticercosis
SUMMARY — A comparative study of four immunological tests used for anti-Cysticercus
antibodies detection — EnzymeLinked immunosorbent Assay IgG (ELiSAG) and lgi«i ( E L i S A
-M ) , indirect immunofluorescence ( R I F I ) and complement fixation ( R F C ) — was made in serum
and cerebrospinal fluid (CSF). 539) patients with symptoms suggesting cysticercosis, 450 relatives
of these patients and 133 normal people (control group) were examined. 1122 serum samples
and 120 CSF samples were analysed by ELISA-G and R I F I , 83 sera and 60 CSF also by RFC,
and 28 CSF by ELISA-M. 5.2% serum samples were reagent in ELISA-G and R I F I , and 3.5%
of them had discordant results. All control group sera were negative. Tne same tests in CSF
were positive in 16.7% and had discordant results in 7.5%. ELISA-G and R I F I in serum and
CSF had concordant results in 89.6% (17.7% were positive). ELISA-G, R I F I and RFC had
concordant results in 54.2% sera (16.9% positives) and in 81.7% CSF (11.7% positives). When
Comparative study of the immunological tests EJLISA-IgG, ELISA-IgM, indirect
immuno-fluoreseence and complement fixation in the diagnosis of human cysticercosis
SUMMARY — A comparative study of four immunological tests used for anti-Cysticercus
antibodies detection — EnzymeLinked immunosorbent Assay IgG (EL»±SAG) and igi.x ( E L i S A
-M ) , indirect immunofluorescence ( R I F T ) and complement fixation ( R F C ) — was made in serum
and cerebrospinal fluid (CSF). 539) patients with symptoms suggesting cysticercosis, 450 relatives
of these patients and 133 normal people (control group) were examined. 1122 serum samples
and 120 CSF samples were analysed by ELISA-G and RIFT, 83 sera and 60 CSF also by RFC,
and 28 CSF by ELJSA-M. 5.2% serum samples were reagent in ELISA-G and R I F I , and 3.5%
of them had discordant results. All control group sera were negative. Tne same tests in CSF
were positive in 16.7% and had discordant results in 7.5%. ELISA-G and R I F I in serum and
CSF had concordant results in 89.6% (17.7% were positive). ELISA-G, R I F I and RFC had
concordant results in 54.2% sera (16.9% positives) and in 81.7% CSF (11.7% positives). When
Trabalho realizado no Núcleo de Medicina Tropical e Nutrição, Universidade de Brasília
(UnB): PhD, Professora Adjunta do Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Ciências
da Saúde (FCS), UnB; **Professora Titullar da Disciplina de Parasitologia, Universidade
Federal de Uberlândia; ***Professora Titular do Departamento de Clínica Médica, FCS, UnB;
****Ex-Farm*acêutiea do Hospital Sarah Kubitschek; * * * * * Farmacêutica do Hospital
Universi-tário de Brasília.
E L I S A - G and R I F I w e r e n e g a t i v e , R F C w a s p o s i t i v e in 41.0% sera and 11.7% C S F . E L I S A - G and E L I S A - M had concordant results in 78.6% C S F . W h e n these r e s u l t s w e r e discordant E L I S A - G w a s p o s i t i v e in 10.7% and E L I S A - M in a n o t h e r 10.7%. I t is necessary t c use conco-m i t a n t l y s e v e r a l i conco-m conco-m u n o l o g i c a l tests f o r &aconco-mp;nti-€ysticercus a n t i b o d i e s d e t e c t i o n in seruconco-m and in C S F , in a t t e m p t i n g t o reach c o r r e c t d i a g n o s i s .
K E Y W O R D S : c y s t i c e r c o s i s , i m m u n o d i a g n o s i s , i n d i r e c t i m m u n o f l o r e s c e n c e , E L I S A ( I g G a n d I g M ) , c o m p l e m e n t f i x a t i o n , c e r e b r o s p i n a l fluid, serum.
A cisticercose é doença que envolve complexa relação hospedeiro-parasita 4.
Os cistieercos podem permanecer no organismo humano por longo período de
tempo sem determinar reações apreciáveis, ocorrendo pequena ou mesmo
nenhu-ma resposta inflanenhu-matória durante a fase em que o parasita está vivo. Esta reação
inflamatória surge quando se iniciam as alterções degenerativas da larva de Taenia
solium, que culminam com sua destruição e reabsorção completa, hialinização,
ou calcificação
9,25,30.A
heterogeneidade da relação humana-cisticerco é causada
por significante variância entre os parasitas e, também, por heterogênea
distri-buição dos componentes humorais presentes na superfície do cisticerco*. Como
consequência desta relação, há baixa reprodutibilidade dos métodos diagnósticos.
A reação de fixação do complemento (RFC) foi o primeiro teste imunológico
utilizado na pesquisa de anticorpos anti-Çysticercus cellulosae na espécie
hu-mana. Entretanto, este teste apresentou limitada especificidade, seja aplicado em
soro ou líquido cefalorraquidiano (LCR), devido às reações cruzadas observadas
principalmente com outras infecções parasitárias
12,14,22,26,20.A
introdução da
rea-ção de imunofiuoreseência indireta (REFI) permitiu novos avanços
diagnósti-cos
2,3,15,20.Em LCR de pacientes com neurocisticercose, a RIFI mostrou maior
sensibilidade e especificidade que a R F C
1 8. Recentemente, inovações na área de
neuroimagem e uso de testes imunológicos com alta sensibilidade e
especificida-de, além de boa reprodutibilidaespecificida-de, como a reação imunoenzimática ELISA
(Enzyme-Linked ImmunoSorbent Assay) IgG (ELISA-G) e IgM (ELISA-M) para cisticercose,
estão auxiliando no diagnóstico e controle desta infecção
1-3,5,7,8,11,15,18,20,21,32,33,35.A presente investigação teve como objetivo o estudo comparativo entre
qua-tro testes imunológicos (ELISA-G, ELISA-M, RIFI e RFC) utilizados na detecção
de anticorpos anti-Çysticercus, em soro e LCR de pacientes com suspeita clínica de
cisticercose e seus familiares.
M A T E R I A L El M É T O D O S
F o r a m e x a m i n a d a s 1122 pessoas residentes e m B r a s í l i a , c u j o s d a d o s c l í n i c o s f o r a m deta-l h a d o s a n t e r i o r m e n t e ^ . E s s a s pessoas f o r a m divididas! e m d o i s g r u p o s : n o primeiro! f i c a r a m 539 p a c i e n t e s q u e a p r e s e n t a v a m s i n t o m a s e / o u sinais s u g e s t i v o s d e c i s t i c e r c o s e e 450 f a m i l i a r e s destes d o e n t e s ; n o s e g u n d o , 133 pessoas que n e g a v a m convulsões, cefaléia, e l e t r e n e e f a l o g r a m a anormaíl, uso d e a n t i c o n v u l s i v a n t e s e e l i m i n a ç ã o de tênia, s e j a na h i s t ó r i a a t u a l ou p r e g r e s s a , q u e c o m p u s e r a m o g r u p o c o n t r o l e .
F o r a m c o l h i d o s 10 m l d e sangue d e t o d a s essas pessoas, s e p a r a n d o - s e o » r e s p e c t i v o s soros. T a m b é m f o r a m c o l h i d o s 5 m l d e L C R de 120 doentes q u e a p r e s e n t a v a m s i n t o m a s e / o u sinais s u g e s t i v o s d e neurocisticercose. E s t a s 1122 a m o s t r a s d e s o r o e 120 d e L C R f o r a m estocadas à t e m p e r a t u r a d e m e n o s 20»C e analisadas p o r E L I S A - G e R I F I . N a s 143 p r i m e i r a s amostras estocadas, 83 d e s o r o e 60 d e L C R , t a m b é m f o i processada a R F C . E m 28 a m o s t r a s d e L C R escolhidas p o r r a n d o m i z a ç ã o realizou-se, a l é m d a E L I S A - G , a E L I S A - M . S e i s d e n t r e o s pa-cientes q u e a p r e s e n t a r a m n o s o r o resultados d i s c o r d a n t e s e n t r e E L I S A - G e R I F T , r e p e t i r a m estes testes c o m o i n t e r v a l o m í n i m o d e d o i s m e s e s e m á x i m o d e u m ano. E m t o d a s a s 120 a m o s t r a s d e L C R f o i e x e c u t a d o o teste d e m i e r o f l o e u l a ç ã o p a r a s í f i l i s d o V D R L ( V e n e r e a l D i s e a s e R e s e a r c h L a b o r a t o r i e s ) .
utilizada a técnica d e K o l m e r e col.n, usandose o a n t í g e n o m e t í l i c o de C. cellulome ( L i o -Serum, R i b e i r ã o P r e t o , B r a s i l ) .
N a análise estatística, f o i a p l i c a d o o teste d o q u i q u a d r a d o p a r a d u a s a m o s t r a s i n d e p e n -d e n t e s ou a p r o v a e x a t a -d e F i s h e r , na -depen-dência -d o t a m a n h o -da a m o s t r a e -das1
frequências r e l a t i v a s esperadas p a r a c a d a u m a das v a r i á v e i s .
R E B U L T A D O S
A E L I S A G e a R I F I para cisticercose, r e a l i z a d a s no s o r o d e 1122 pessoas, m o s t r a r a m -se r e a g e n t e s e m 59 ( 5 , 2 % ) e não-rcugentes e m 1024 ( S I , 3 % ) . H o u v e discordância entre o s resul-tados das duas r e a ç õ e s e m 39 ( 3 , 5 % ) pacientes. A s 133 pessoas cio g r u p o c o n t r o l e a p r e s e n t a r a m a m b o s os testes n ã o - r e a g e n t e s . E s t a s m e s m a s reações, efetuadas n o L C R d e 120 doentes, f o r a m r e a g e n t e s e m 20 ( 1 6 , 7 % ) , n ã o - r e a g e n t e s e m 91 (75,8%) e m o s t r a r a m r e s u l t a d o s d i s c o r d a n t e s em 9 ( 7 , 5 % ) . T o d o s estes p a c i e n t e s t i v e r a m o teste do V D R L no L C R n ã o - r e a g e n t e .
N a T a b e l a 1 s ã o a p r e s e n t a d a s as frequências d e ocorrência d o s t í t u l o s da E L I S A - G e da R I F I nas a m o s t r a s d e s o r o e L C R q u e f o r a m r e a g e n t e s e m a m b o s o s testes. H o u v e m a i o r f r e -quência d e t í t u l o s iguaisi ou m e n o r e s q u e 160 n o s o r o ( p < 0 , 0 5 ) e d e t í t u l o s i g u a i s ou m e n o r e s q u e 16 n o L C R ( p < 0 , 0 5 ) . O s t í t u l o s mais e l e v a d o s da E L I S A G e da R I F I f o r a m , r e s p e c t i v a -mente, 1280' e 320 no soro e, 512 e 64 n o L C R .
T a b e l a 1. F r e q ü ê n c i a d e ocorrência dos títulos da E L I S A - G e R I F I , e m 59 amostras d e soro e 20 de L C R , de p a c i e n t e s com suspeita c l í n i c a d e c i s t i c e r c o s e e seus f a m i l i a r e s .
N a s a m o s t r a s d e s o r o q u e apresentaram, r e s u l t a d o s d i s c o r d a n t e s e n t r e a E L I S A - G e R I F I , 25 (64,1%) f o r a m r e a g e n t e s na E L I S A - G et n ã o - r e a g e n t e s na R I F I , e 14 (35,9%) r e a g e n t e s na R I F I e. n ã o - r e a g e n t e s na E L I S A - G ; nas a m o s t r a s d e L C R , 7 (77,8%) f o r a m r e a g e n t e s na B L I S A G e n ã o r e a g e n t e s na R I F I e 2 (22,2%) r e a g e n t e s na R I F I e n ã o r e a g e n t e s na E L I S A -G. Q u a n d o a R I F I m o s t r o u - s e n ã o r e a g e n t e e a E L I S A - G r e a g e n t e , o t í t u l o m á x i m o desta ú l t i m a f o i 80 no s o r o e 32 n o L C R . : quando o c o r r e u o i n v e r s o , o t í t u l o m á x i m o d a R I F I f o i 80 n o s o r o e 1 n o L C R . Seis pessoas, que a p r e s e n t a r a m estas r e a ç õ e s c o m resultados d i s c o r -d a n t e s n o s o r o f o r a m n ã o - r e a g e n t e s e m a m b o s o s testes, r e p e t i -d o s após p e r í o -d o -d e t e m p o v a r i á v e l ( d e d o i s meses a um a n o ) .
N a F i g u r a 1 e s t ã o o s r e s u l t a d o s d a E L I S A - G e d a R I F I r e a l i z a d a s c o n c o m i t a n t e m e n t e no s o r o e L C R d e 96 pacientes. H o u v e c o n c o r d â n c i a d o s resultados, n o s o r o e no L C R , e m 86 (89,6%) doentes, sendo 17 (17,7%) reagente© e 67 (69,8%) n ã o - r e a g e n t e s ( p < 0 , 0 1 ) . O s pacientes q u e a p r e s e n t a r a m n o s o r o o s t í t u l o s m a i s e l e v a d o s d a E L I S A - G t a m b é m o b t i v e r a m o s t í t u l o s m a i s a l t o s d e s t a r e a ç ã o n o L C R . E s t a associação não o c o r r e u na R I F I .
Nías 83 a m o s t r a s d e s o r o e m q u e f o r a m efetuadas E L I S A - G , R I F I e R F C , 45 (54,2%) m o s t r a r a m concordância d e r e s u l t a d o n o s t r ê s testes, s e n d o r e a g e n t e s e m 14 (16,9%) e n ã o -r e a g e n t e s e m 31 ( 3 7 , 3 % ) . E s t a s mesmas -reações, -r e a l i z a d a s e m 60 a m o s t -r a s d e L C R , t i v e -r a m resultados c o n c o r d a n t e s e m 49 ( 8 1 , 7 % ) , s e n d o 7 (11,7%) r e a g e n t e s e 42 ( 7 0 % ) n ã o - r e a g e n t e s . N a s a m o s t r a s q u e a p r e s e n t a r a m E L I S A G e R I F I n ã o r e a g e n t e s , a R F C f o i r e a g e n t e , r e s p e c t i -vamente, n o s o r o e L C R , e m 34 (41,0%) e 7 (11,7%) ( T a b e l a 2 ) .
C O M E N T A R I O S
Todos os pacientes do grupo-controle apresentaram, no soro, ELISA-G e
RIFI não-reagentes. Este resultado não permite descartar completamente a
cisti-cercose 23. Sabe-se também que hidatidose, esquistossomose, sífilis e sarampo estão
entre as infecções que possuem antígenos que podem produzir reações cruzadas
com o do cisticerco*. A hidatidose é rara na região geográfica onde foi feita a
presente investigação, mas a esquistossomose é encontrada com frequência entre
pessoas residentes nesta região. Entre os pacientes do nosso grupo, não ioram
obtidos testes falso-positivos para cisticercose.
No presente estudo, quando a ELISA-G e a RIFI estavam reagentes no soro,
também mostraram-se reagentes no LCR de 48,6% dos doentes estudados. Pode-se
inferir, assim, que 48,6% das pessoas infectadas apresentaram neurocisticercose.
Quando a ELISA-G e a RIFI estavam não-reagentes no soro, no LCR também
foram não-reagentes em todos os pacientes. Este achado pode sugerir que estes
testes não necessitam ser realizados no LCR quando a sorologia for não-reagente.
Estes dados discordam daqueles publicados por Flisser e col.^, que relataram
teste imunológico não-reagente no soro e reagente no LCR em cerca de 40% dos
pacientes com neurocisticercose.
ELISA-G, RIFI e RFC mostraram-se nitidamente mais sensíveis quando
rea-lizadas no LCR do que no soro. Simonetti e Teixeira 27 relataram positividade
da RIFI no LCR de pacientes com outras patologias que não a cisticercose, com
títulos variando entre 1 e 4. A RIFI é menos específica quando o LCR é
xanto-crômico ou contém hemácias
3>
2?, assim como quando apresenta
hiperproteinorra-quia ou hipercitose linfomonocitária 3, levando a resultados falso-positivos. No
presente estudo não foram incluídos pacientes com hemorragia subaraenóidea, o
que poderia ter levado ao surgimento de resultados falso-positivos na RIFI para
cisticercose. Também obtivemos, na maioria dos casos, RIFI com títulos
superio-res a 4. A segurança diagnostica da RFC para cisticercose no LCR superio-resulta da
fre-quência pequena em que o sistema nervoso central, em nosso meio, é parasitado
por outros cestóideos, já que os anticorpos evidenciados mediante esta reação
têm especificidade apenas de grupo
1 8.
Como a ELISA-G e a RIFI para cisticercose possuem maior especificidade
que a RFC
3,5,18,24^consideramos falso-positivos resultados reagentes na RFC e
não-reagentes na ELISA-G e na RIFI. Estes resultados falso-positivos surgiram
em 41% das amostras de soro e em 11,7%» das de LCR. Este achado está de acordo
cqm o descrito por Livramento que encontrou resultados discordantes entre
a RIFI e a RFC para cisticercose em 19,4% dos LCR examinados, em 9,1% deles
favoráveis à RFC. Assim, demonstrou-se que a RFC para cisticercose é teste de
baixa especificidade, principalmente quando aplicado em soros, havendo
necessi-dade de sua padronização rigorosa para que se evitem resultados falso-positivos.
No presente estudo encontrou-se concordância entre os resultados da
ELISA-G e da ELISA-M em 78,6% das amostras de LCR examinadas,
sen-do ambos testes reagentes em 21,4%. Entre as amostras com resultasen-dos
discor-dantes, a ELISA-G foi reagente na metade (10,7%) e a ELISA-M na
outra metade (10,7%). Quando a ELISA-M foi reagente, seus títulos
va-riaram de 1 a 8. Costa e col.
8, estudando LCR de pacientes com neurocisticercose
confirmada, encontraram em 46,2% deles anticorpos IgM anti-C. cellulosae, com
títulos que variaram de 4 a 32. Estes autores relataram, na maioria dos casos,
títulos mais elevados na ELISA-G que na ELISA-M, demonstrando maior
sensi-bilidade da ELISA-G, tanto no soro quanto no LCR. Eles também mostraram que
os pacientes com anticorpos IgM se apresentavam na fase aguda da doença ou
apresentavam exacerbação dos sintomas. As diversas classes de anticorpos
anti-Cysticercus cellulosae envolvidas nas várias reações imunológicas são diferentes,
porém sobressaem as participações da IgG e da IgM em todas elas is. Entretanto,
é descrito que não há correlação entre a presença de imunoglobulina na
super-fície do cisticerco ou sinais de dano do cisticerco, com as classes de
imunoglo-bulinas encontradas como anticorpos anti-Çy stieercus
4.
Quando surgiu discordância entre os resultados da ELISA-G e da RIFI 64,1%
e 77,8% das amostras de soro e LCR, respectivamente, mostraram a ELISA-G
reagente e a RIFI não-reagente. Estes achados confirmam, como já relatado por
outros autores 5,24,
q u ea ELISA-G é método de maior sensibilidade que a RIFI.
Um teste utilizado para o diagnóstico de qualquer desordem clínica, além
de boa sensibilidade e especificidade, deve também ser prático em termos de
es-pecificações técnicas e econômicas. Para ser tecnicamente prático, ele deve ser
fácil de realizar e todos os reagentes envolvidos devem ser estáveis por período
de tempo razoável. A ELISA-G, utilizando o extrato salino total, tem a vantagem
da simplicidade e estabilidade dos reagentes, sendo técnica prática que pode ser
usada em inquéritos epidemiológicos ou em rotina laboratorial, sem o uso de
reagentes biológicos como necessita a RFC. No campo, suas leituras podem ser
realizadas visualmente, se tivermos padrões positivos e negativos de soro e LCR
6.
Na atualidade ela é, por sua facilidade, o melhor instrumento para o
imunodiag-nóstico da cisticercose humana na realidade dos países latinoamericanos, onde as
provas imunológicas para cisticercose ainda são sub-utilizadas, em comparação
à magnitude e problemática da doença humana. Embora haja testes mais recentes,
como "enzyme-linked immunoelectrotransfer blot" 31 "FAST-ELISA" is e
imuno-eletroforese
10, estas reações têm estandardização difícil ou são muito laboriosas,
sobretudo em estudo epidemiológico, sendo, por considerações econômicas,
so-mente razoáveis para países desenvolvidos.
O uso concomitante de testes que revelem a existência de anticorpos
anti-Çystieerais IgG e IgM possibilita a detecção de maior número de pacientes com
cisticercose. Há necessidade de, cada vez mais e na medida do possível, serem
realizadas simultaneamente as várias reações disponíveis, para garantir maior
se-gurança no diagnóstico e acompanhamento evolutivo da doença. Os dados
reti-rados das diferentes reações imunológicas para cisticercose mostram informações
semelhantes mas não superponíveis. No presente estudo, a concordância entre os
resultados reagentes das três reações utilizadas no LCR (RIFI, G e
ELISA-M) contribuiu para maior segurança diagnóstica do que a simples positividade
isolada de uma ou outra. A introdução, no exame básico do LCR, destas três
reações aumenta a possibilidade imunobiológica diagnóstica, sobretudo quando
outras afecções parasitárias do sistema nervoso central são consideradas. A
alter-nância de concordância reagente ou discordância entre estas reações, no LCR,
contribui para a evidência dos fenômenos imunobiológicos próprios à
neurocisti-cercose.
R E F E R Ê N C I A S
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