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Uma contribuição ao estudo da compulsão a repetição

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Academic year: 2017

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FUNDAÇÃO GETOLIO VARGAS

INSTITUTO SUPERIOR DE ESTUDOS E PESQUISAS PSICOSSOCIAIS CENTRO DE POS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

UMA CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA COMPULSÃO Â REPETIÇÃO

por

MARIA ABIGAIL DE SOUZA

Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de

MESTRE EM PSICOLOGIA

(2)

INSTITUTO SUPERIOR DE ESTUDOS E PESQUISAS PSICOSSOCIAIS CENTRO DE POS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

~MA CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA COMPULSÃO Â REPETIÇÃO

MARIA ABIGAIL DE SOUZA

FGV/ISOP/CPGP

(3)

A meus filhos

Renato e Ricardo

(4)

 Dra. EVA NICK, pela sua paciente orientação, na qual excedeu o seu papel de intelectual, mostrando-se uma grande amiga, cuja colaboração, compreensão e carinho me es timularam e confortaram diante das dificuldades para perco~

rer o caminho que levaria

à

efetivação deste estudo.

 Dra IVA WAISBERG BONOW, pelo apoio carinhoso e idealismo que sempre me transmitiu.

A

Dra. MONIQUE ROSE AIM~E AUGRAS, pelo incentivo constante

à

minha realização profissional.

Ao Dr. JORGE ALBERTO COSTA E SILVA, pela colabora-çao estimulante e oportunidades proporcionadas ao meu exer-cicio profissional.

A

IVANA AGUIAR e MARIA DE CÂSSIA L.COUTINHO pelos textos datilografados com dedicação e paciência.

(5)

RESUMO

O presente estudo pretende oferecer urna contribuição ao estudo do conceito de compulsão

à

repetição, considerado, a nivel explicativo, um dos pontos mais obscuros e controvertidos da obra de SIGMUND FREUD.

Partindo de duas indagações básicas: a serviço de que opera a tendência à repetição? A compulsão

à

repetição realmen-te constitui um fracasso na primazia do princípio do prazer? , fizemos uma investigação teórica ao longo dos artigos freudia-nos pertinentes, sem a pretensão de rastrear todas as suas re-ferências ao longo da sua obra, e de diversas interpretações do terna, realizadas por outros estudiosos, sem, evidentemente, es-gotar um assunto tão complexo, o qual envolve aspectos extrema-mente variados, como o do sado-masoquismo, a noção de instinto de morte, de princípio do prazer, de principio do Nirvana, de princípio da constância, de~princípio da inércia neurônica, de princípio da realidade e toda a problemática da agressividade. Algumas conclusões, de natureza provisória, referem-se, primordialmente,

à

não resolução da controvérsia quanto

à

aceitação e quanto

à

natureza do instinto de morte, e

à

neces-sidade de estudos mais sistemáticos e mais aprofundados, incor-porando, inclusive, as contribuições de teóricos de orientação não psicanalítica, para uma tentativa de, ao examinar e compa-rar modelos parciais (os únicos atualmente eXistentes), chegar a um ponto de partida para a elaboração de um modelo mais abran gente, apesar de não exaustivo.

(6)

tição pode também ser vista sob um aspecto positivo, sem cons-tituir, necessariamente, um entrave definitivo ao tratamento e ao término satisfatório da análise.

Apoiamo-nos em CANEGHEM para relembrar que a confusão estabelecida entre o instinto de morte, o instinto agressivo e os conceitos de EROS, TANATOS e ANANK~, contribuem ~ara uma com preensao de que Freud trabalhou em três níveis distintos: o des-critivo, o explicativo e o mítico, e, não valorizando suficien-temente o tempo do mito, nem apoiando-se em uma distinção pré-via adequada dos conceitos de agressividade, combatividade e iE ritabilidade psicossomática, não conseguiu chegar a uma eluci-dação completa do problema da compulsão

ã

repetição, inclusive

(e isto só podemos afirmar em termos de verossimilhança e não de certeza)em face de sua própria ambivalência não solucionada em torno do fenômeno da morte, em sua dimensão trágica.

(7)

SUMMARY

The purpose of our dissertation is to study one of SIGMUND FREUD's most complex, ambiguous and subject to not yet adequately solved controversies concepts, e.g., Repetition Compulsion.

Starting with two main questions: What is the pur-pose of this phenomenon? Does i t really represents a failure of the predominant role of the pleasure principIe? We examined the writings of Freud, reviewing his most relevant articles with respect to our main objective, and the contributions of other psychoanalytical scholars, without, obviously, working at a leveI which would enable us to encompass completely a th~

me which is associated with several important freudian concepts: sadomasoquism, the death instinct, the pleasure principIe, as well as the closely associated Nirvana, constance, neuronic ig ertia, and reality principIes; and the complex issue of man' s agressive impulses.

Our main conclusions, which we would like to present as provisional, refer to the fact that the discussion which has raged about the repetition compulsion has not yet reached any kind of agreement, and that Freud's conception of a death ins-tinct has neither been unequivocally accepted nor unequivocal-ly rejected.

More systematic and criticaI studies are indeed, so we think, necessary, including contributions from nonpsycho

(8)

wealth of partial models actually available, the possibility of finding a starting point, which would enable us to elaborate a better model, neither complete nor exhaustive, but a richer one, capable of doing at least justice to one of Freud's more important insights.

In the realm of therapeutic practice, the repetition compulsion can also be envisaged from a more positive vantage point, since these phenomena may not represent a definitive hindrance to our treatment efforts and to a prospective satis-factory end of a psychoanalytical processo

CANEGHEM points out that the actual reigning confusion with respect to the death instinct, the agressive tendency and

concepts like EROS, THANATOS and ANANKE has helped us to discern that Freud, in his writings, simultaneously deals with three different leveIs: descriptive, explanaltory and mythical. Since he did not dedicate its proper value to the "time of the myth"-neither gave sufficient attention to an adequa te and previous-ly required distinction between agression, belligerence and somatopsychic irritability, Freud partially failed in his end-eavour to explain the problem of the repetition compulsion, and we have to keep in mind the likelihood that his not-solved am-bivalence with regard to his own death, in its tragic dimension, contributed to further ambiguities.

Therefore, we have to acknowledge that both questions -- Is there really a death instinct which eternally counteracts a life instinct? What is the true nature of the repetition

(9)

pulsion? -- have not yet received an adequate answer,and are

still the but of perplexities deriving from his insufficient

explanations and unbridled speculations.

(10)

Agradecimentos iv

Resumo v

Summary vii

INTRODUÇÃO

CAP!TULO I -- A NOÇÃO DE COMPULSÃO Â REPETIÇÃO NA OBRA DE SIGMUND FREUD

1. A repetição como fenômeno na terapia psicanalítica

2. A repetição e sua vinculação com o problema do masoquismo

3. A repetição e o instinto de morte

CAP!TULO 11 -- CONTROV~RSIAS ATUAIS A RESPEITO DA NOÇÃO DE COMPULSÃO Â REPETIÇÃO

1

4

39

51

1. Função restitutiva e reprodutiva 89 2. Agressividade e destrutividade 120 3. O ponto de vista da psicologia do ego 122 4. O modelo da neurose traumática 129 5. Inadeqüação do conceito de instinto de morte 153

6. A noção de escoramento 105

7. O Princípio do Prazer e o Princípio do Nirvana 203

8. Repetição e ligação ~21

(11)

CAPITULO 111 - APRECIAÇÃO CRITICA DOS ESTUDOS REFERENTES

À NOÇÃO DE COMPULSÃO À REPETIÇÃO

CONCLUSÕES

BIBLIOGRAFIA

xi

262

(12)

INTRODUÇÃO

Nosso propósito, neste estudo, é oferecer uma contr! buição ao estudo do conceito de compulsão à repetição por con-siderarmos que se trata de um dos pontos mais obscuros e con-trovertidos da obra freudiana.

Como apontam LAPLANCHE E PONTALIS, a compulsão

à

re-petição pode ser considerada em dois níveis distintos: o da psi-copatologia, no qual designa um processo incoercível e de ori-gem inconsciente, e o da elaboração teórica metapsicológica.

No primeiro destes níveis, que talvez poderíamos de-signar "descritivo", constitui um fenômeno observado tanto den tro como fora do contexto terapêutico e não apresenta motivos para controvérsias, já que

" ... A repetição compulsiva do desagradável, e mesmo do doloroso, é reconhecida como um dado irrecusável da experiência analítica ...

(LAPLANCHE E PONTALIS, 1970, pg. 127)

Em contrapartida, a nível teórico, a noção de compu! sao à repetição gerou inúmeras e acaloradas discussões. Segun-do os autores acima citaSegun-dos, duas seriam as questões básicas com que nos defrontamos:

1. A serviço de que opera a tendência à repetição? 2. A compulsão à repetição realmente constitui um

(13)

2

Freud: princípio do prazer, instinto, instinto de morte, liga-ção,etc. O nosso objetivo, contudo, é bem mais modesto, consi-derando que tal empreendimento de muito ultrapassaria os limi-tes--necessariamente impostos--de uma dissertação a nível de mestrado.

Em função disso, no capítulo I, nos limitamos a estu-dar a compulsão à repetição na obra de Freud sob três aspectos: primeiro, considerando-a como um fenômeno que ocorre na terapia psicanalítica; segundo, identificando suas vinculações com o problema do masoquismo e, por último, relacionando-a com o "ins tinto de morte", que introduz a hipótese de que a compulsão

à

repetição se situa além do princIpio do prazer.

Desde que o posicionamento teórico assumido por Freud em relação a este conceito gerou tantas controvérsias, interes-samo-nos, a partir do capítulo 11, por rever as diferentes in-terpretações dadas ao tema por diversos autores. Referimo-nos a interpretações que se utilizam não só de conceitos já esta -belecidos no campo da pSicanálise, mas que procuram introduzir novos conceitos que poderiam facilitar a compreensao do tema original; ao lado de outras que tentam explicar o conceito da repetição compulsiva partindo de uma abordagem diversa da que já se tornou clássica em psicanálise.

(14)

Por outro lado, devemos assinalar certas importantes

limitações do nosso estudo, no que se refere, entre outras, à

não inclusão das contribuições de MELANIE KLEIN e JACQUES

LA-CAN, autores que aceitam a existência do "instinto de morte".

Outro aspecto sério obstáculo ao trabalho que nos

propusemos elaborar-- é o fato de não termos podido ler a obra

de FREUD no original, já que, tendo-nos guiado pela tradução da

Imago Editora, nos sentimos, por vezes, inseguros por

suspeitar-mos que poderíasuspeitar-mos, ocasionalmente, não estar apreendendo a

no-çao mais exata dos conceitos freudianos, ~ sobejamente conheci-do de que se encontra amplamente difundida a idéia de que, até

o presente momento, todas as traduções das Obras Completas de

Sigmund Freud apresentam certas imprecisões que prejudicam, em

- i parte, sua

compreensao.-Felizmente, pudemos contar com a orientação da

Profes-sora Eva Nick, a quem o idioma alemão é bastante familiar.

(l) Evident:.eIrente, nao tendo sido ainda publicada na íntegra a nova

tradu-ção,

para o idioma. espanhol, pela &li tora Arrorrortu, não nos cabe tecer as nesma.s considerações a respeito da mesma.

A iniciativa a que nos referiIros pretende sanar determinadas falhas da tradução já oonhecida de IOPEZ-BALLES'I"EIDS Y DE 'IDRRES, para os

.,. I . . .

leitores do daninio lingw.stioo castelhano.

Quiçá possamos ser acusados de sermos excessivamente críticos

cx:m referência aos tradutores. BENEDICID SILVA ( 1984) indagando: "Seria efetivamente a tradução a arte de falhar?", replica: "Enquanto não houver uma língua universal, a tradução será o meio exclusivo de comunicação

(15)

4

CAPITULO I

A NoçKo DE COMPULSKO Â REPETIÇKo NA OBRA~.DE SIGMUND FREUD

Neste capítulo, faremos uma revisão dos principais textos nos quais Freud se refere

à

noção de compulsão

à

repe -tição, a saber: "Recordar, Repetir e Elaborar" (1914); "Anãli se Terminivel e Interminivel " (1937); "Alim do Princípio do Prazer" (1920) e "O Problema Econômico do Masoquismo" (1924).

Nosso propósito é o de partir de um referencial teó-rico, elaborado pelo fundador da psicanálise, que por sua vez nos permitiri examinar as controvérsias atuais a respeito da noção de compulsão

à

repetição.

1. A REPETIÇKo COMO FENOMENO NA TERAPIA PSICANALITICA Conforme assinala Strachey (1924) ,o artigo "Recor-dar, Repetir e Elaborar" merece destaque, nao apenas pela sua contribuição

à

ticnica psicanalítica, mas, ainda, por ser ne-le que Freud, pela primeira vez faz menção explícita a dois conceitos bãsicos, o da "compulsão

à

repetição" e da "elabora-ção".

Freud, inicialmente, refere~se às alterações de gran-des conseqfiências que a técnica psicanalítica sofreu gran-desde os primórdios. Em ligeiro histórico assinala que em sua primeira fase - a da catarse de Breuer - ela consistia em focalizar di-retamente o momento em que o sintoma se formava, e em esforça~

(16)

na-quela época era auxiliar a recordar e ab-reagir. Depois que a hipnose foi abandonada, a tarefa transformou~se em descobrir, a partir das associações livres do paciente, o que ele não con seguia recordar. A resistência deveria ser contornada pelo tra balho da interpretação e por dar a conhecer os resultados des ta ao paciente. As situações que haviam ocasionado a formação do sintoma e as outras anteriores ao momento em que a doença irrompeu conservaram seu lugar como foco de interesse; mas o elemento da ab-reação retrocedeu para segundo plano e pareceu ser substituído pelo dispêndio de trabalho que o paciente ti-nha de fazer por ser obrigado a superar sua censura das asso-ciações livres, de acordo com a regra fundamental da psicaná-lise. Finalmente, desenvolveu-se a técnica coerente hoje uti-lizada, na qual o analista abandona a tentativa de colocar em foco um momento ou problema específicos. Contenta-se em estu-dar tudo o que se ache presente, de momento, na superfície da mente do paciente, e emprega a arte da interpretação, essenc! almente, para identificar as resistências que lá aparecem, e torná-las conscientes ao paciente. Disto resulta um novo tipo de divisão de trabalho: o analista revela as resistências que o paciente desconhece~ quando estas tiverem sido vencidas, o paciente geralmente relaciona as situações e vinculações esqu~

cidas sem qualquer dificuldade. O objetivo destas técnicas di ferentes, naturalmente, permcneceu sendo o mesmo. Descritiva-mente falando, trata-se de preencher lacunas na memória; dina micamente, é superar resistências devidas

ã

repressão.

(17)

-6

quico singular de análise sob forma isolada e esquemática, e~ corajando-o para criar situações mais complicadas no tratame~

to analltico. Não obstante, nesses tratamentos hipnóticos, o processo de recordar assumia forma muito simples. O paciente colocava-se de volta numa situação anterior, que parecia nun-ca confundir com a atual, e fornecia um relato dos processos pslqu~cos a ela pertencentes, na medida em que tinhampermane-cido normais; acrescentava então a isso tudo o que podia sur-

,,----_._--.gir como resultado da transformação dos processos, que na ép2 ca haviam sido inconscientes, em conscientes.

Podemos constatar, pela leitura deste artigo, que m~

danças foram introduzidas com a utilização da técnica psican~ lítica descrita em 1914. Freud assinala que mediante a aplic~

ção desta nova técnica, muito pouco, e com freq~ência nada, restou desse calmo curso de acontecimentos. Há certos casos que se comportam como aqueles sob a técnica hipnótica até ce~ to ponto e só mais tarde deixam de fazê-lo, mas outros condu-zem-se diferentemente desde o inIcio. Se nos limitarmos a es-te segundo tipo, a fim de salientar a diferença assinalada,p~

demos dizer que o paciente não recorda coisa alguma do que e~ queceu e reprimiu, mas expressa-o pela atuação (I). Ele o re-produz não como lembrança, mas como açaoi repete-o, sem, natu ralmente, saberque o estã repetindo.

Por exemplo, o paciente não diz que recorda que cos-tumava ser desafiador e crítico em relação

à

autoridade dos

(18)

pais; em vez disso, comporta-se dessa maneira para com o

ana-lista. Não se recorda de corno chegou a um impotente e desesp~

rado impasse em suas pesquisas sexuais infantis; mas produz ~

ma massa de sonhos e associações confusas, queixa-se de que

não consegue ter sucesso em nada e assevera estar fadado a nun

ca levar a cabo o que empreende. Não se recorda de ter-se

en-vergonhado intensamente de certas atividades sexuaise de ter

medo de elas serem descobertas; mas demonstra achar-se

enver-gonhado do tratamento que agora empreendeu e tenta escondê-lo

de todos, etc.

A discussão do fenômeno da repetição na terapia

psi-canalItica é então encetada aqui pela terapia, ao lembrar que

antes de mais nada, o paciente começa seu tratamento com urna

repetição deste tipo. Quando comunicamos.a. regra fundamental da

psicanálise a um paciente com uma vida cheia de acontecimentos

variados e uma longa história de doença, e então lhe pedimos

para dizer-nos o que lhe ocorre, e então esperamos que ele

despeje um dilúvio de informações e nos decepcionamos, pois

com frequência, observamos, que inicialmente nao consegue

di-zer nada. Fica silencioso e declara que nada lhe ocorre. Isto,

naturalmente, nada mais

é

do que a repetição de uma atitudeho mos sexual que passa

à

frente corno resistência contra qualquer recordação. Enquanto o paciente se acha em tratamento, nao

P2

" de fugir a esta compulsão

à

repetição (1) i e,no final,

compr~

(1) Este parece ser o pr.i.neiro aparec.i.nento da idéia, que, sob fonna mui-to mais generalizada, deveria deserrpenhar papel tão :iJTportante na ~

(19)

8

endemos que esta

é

sua maneira de recordar.

Segundo Freud, o que interessa, acima de tudo,

é,

na turalmente, a relação desta compulsão à repetição com a trans ferência e com a resistência. Não se demora a perceber que a transferência

é,

ela própria, apenas um fragmento da repeti -çao e que a repetição

é

uma transferência do passado esquecido, nao apenas para o analista, mas também para todos os as -pectos da situação atual. O analista deve estar preparado pa-ra descobrir, portanto, que o paciente se submete

ã

compulsão

à

repetição, que agora substitui o impulso a recordar, não ape nas em sua atitude pessoal para com o analista, mas também em cada diferente atividade e relacionamento que podem ocupar sua vida na ocasião--se, por exemplo, se enamora, incumbe-se de uma tarefa ou inicia um empreendimento durante o tratamento. Em relação ao papel desempenhado pela resistência , Freud acentua que ele é facilmente identificável. Quanto maior a resistência, mais extensivamente a atuação (repetição) subs tituirá o recordar, pois o recordar ideal do que foi esqueci-do, que ocorre na hipnose, corresponde a~m estado no qual a resistência foi posta completamente de lado. Se o paciente co meça o tratamento sob os auspícios de uma transferência posi-tiva branda e nao expressa, ela lhe torna possIvel, de inIcio, desenterrar suas lembranças tal como o faria sob hipnose, e, durante este tempo, seus próprios sintomas patológicos acham-se inativos. Mas acham-se,

à

medida que a análise progride, a tran~

ferincia se torna hostil ou excessivamente intensa e, porta~

(20)

seq~ência do material que deve ser repetido. O paciente retira do arsenal do passado as armas com que se defende contra o p r

2

gresso do tratamento --armas que terão de ser arrancadas urna por urna.

Depreende-se do exposto que o paciente r~pete ao invés de recordar e repete sob as condições da resistência. Pode-ria-se agora perguntar o que é que ele de fato repete ou atua. A resposta é que repete tudo o que já avançou a partir das fo~

tes do reprimido para sua personalidade manifesta--suas inibi ções, suas atitudes inúteis e seus traços patológicos de cará-ter. Repete também todos os seus sintomas, no decurso do trata mento. Chamando a atenção para a compulsão

à

repetição, Freud concluiu não ter obtido um fato novo, mas apenas urna visão mais coerente, a qual acentua o esclarecimento de que o estado de enfermidade do paciente não pode cessar com o início de sua a-nálise, e que sua doença não deve ser tratada corno um aconteci mento do passado, mas corno urna força atual.

Este estado de enfermidade,é colocado, fra~mento por fragmento, dentro do campo e alcance do tratamento e, enquanto o paciente o experimenta corno algo real e contemporâneo, o tr~ balho terapêutico se consubstancia,em grande parte, em

remon-tá-lo ao passado.

(21)

inevi-10 tável: a "deterioração durante o tratamento".

Primeiro e antes de tudo, o inIcio do tratamento em si ocasiona uma mudança na atitude consciente do paciente para com a sua doença. Ele habitualmente se contentava em lamentá-la, desprezá-la como absurda e subestimar sua importância;qua~

to ao resto, estendeu às manifestações dela a política de aves truz de repressão que adotara em relação às suas origens. As-sim, pode acontecer que não saiba corretamente em que condi-çoes sua fobia se manifesta, não escute o fraseado preciso de suas idéias obsessivas ou não apreenda o intuito real de seu impulso obsessivo (1). O tratamento, naturalmente, não é auxi-liado por isto. O paciente tem de criar coragem para dirigir a atenção para os fenômenos de sua doença. Sua enfermidade em si não mais deve lhe parecer desprezível, mas sim tornar-se um inimigo digno de sua têmpera, um fragmento de sua personalida-de, que possui sólido fundamento para existir e da qual coisas de valor para sua vida futura têm de ser retiradas e utiliza-das. Acha-se assim preparado o caminho, desde o início, para uma reconciliação com o material reprimido que se está expres-sando em seus sintomas, enquanto, ao mesmo tempo, acha-se lu-gar para urna certa tolerância quanto ao estado de enfermidade. Se esta nova atitude em relação à doença intensifica os confli tos e põe em evidência sintomas que até então haviam permane-cido vagos, o paciente facilmente se consolara se lhe for mos-trado que se trata apenas de agravamentos necessários e tempo-rários e que não se pode vencer um inimigo ausente ou fora de

(22)

alcance. A resistência, contudo, pode explorar a situação para seus próprios fins e abusar da licença de estar doente. Ela p~ rece dizer:"Veja o que acontece se eu realmente transijo com tais coisas. Não tinha razao em confiá-las à repressão?" Pes-soas jovens e pueris, em particular, inclinam~se a transformar a necessidade de prestar atenção

à

sua doença, imposta pelo tratamento, numa desculpa para regalar-se com seus sintomas.

Outros perigos surgem do fato de que, no curso do tra-tamento, novos e mais profundos impulsos instintuais, que até então não se haviam feito sentir, podem vir a ser "repetidos". Finalmente, é posslvel que as ações do paciente, fora da trans ferência, possam causar-lhe dano temporário em sua vida, ou a-té mesmo terem sido escolhidas para invalidar permanentemente suas perspectivas de restabelecimento.

A tática a. ser adotada pelo analista, nesta situação , pode ser facilmente justificada. Para ele, recordar

à

maneira antiga - reprodução no campo pslquico - é o objetivo a que ade re, ainda que saiba que tal objetivo não pode ser atingido na nova técnica. Ele está preparado para uma luta contínua com o paciente, para manter na esfera pslquica todos os impulsos que este último gostaria de dirigir para a esfera motora; e comem2 ra como um triunfo para o tratamento o fato de poder ocasionar

-que algo -que o paciente deseja descarregar em açao seja resol-vido através do traba~ho de recordar. Se a ligação através da transferência transformou-se em algo utilizável, o tratamento

(23)

te-12 rapêutico. protege-se melhor o paciente de prejuízos ocasiona-dos pela execução de um de seus impulsos, fazendo-o prometer nao tomar quaisquer decisões importantes que afetem sua vida durante o tempo do tratamento - por exemplo, não escolher qua! quer profissão ou objeto amoroso definitivo - mas adiar todos os planos desse tipo para depois de seu restabelecimento.

Ao mesmo tempo, deixa-se voluntariamente intocado aqu~ la parcela da liberdade pessoal do paciente compatível com es-tas restrições, e não se o impede de levar a cabo intenções sem importância, mesmo que sejam tolas; não nos esquecemos de que, na realidade, é apenas através de sua própria experiência e in fortúnios que uma pessoa se torna sagaz.

também pessoas a quem não se pode impedir de mergulharem em algum projeto tota! mente inadequado durante o tratamento e que somente depois, já tendo sofrido o suficiente ficam acessíveis ao trabalho analí-tico. Ocasionalmente, também está sujeito a acontecer que os instintos indomados afirmem-se antes que haja tempo de colocar-lhes as rédeas da transferência, ou que os laços que ligam o paciente ao tratamento sejam por ele rompidos numa ação repet~

(24)

T d

o aV1a, o instrumento principal para domar a compul -

. 1\ ,\

-sao do paciente

à repetição e

transformá~la

num motivo para

r~

cordar reside no manejo da transferência. Torna-se a compulsão

inócua, e na verdade útil, concedendo-lhe o direito de

afir-mar-se num campo definido.

Admitindo-se a repetição na transferência como

um

"play-ground" no qual lhe

i

permitido expandir-se em liberdade

quase completa e no qual se espera que se apresente tudo

no

tocante a instintos patogênicos, que se acham ocultos no psi

-quismo do paciente, contanto que o paciente colabore o

sufici-ente para respeitar as condições necessárias da análise,

alca~

ça-se, regularmente, sucesso em fornecer a todos os sintomas da

moléstia um novo significado transferencial e em substituir sua

neurose comum por uma "neurose de transferência",da qual pode

ser curado pelo trabalho terapêutico. A transferência cria, as

sim, uma região intermediária entre a doença e a vida real,

a-través da qual a transição de uma para a outra é efetuada.A no

va condição assumiu todas as características da doença,mas

representa uma doença artificial, que é, em todos os pontos, a

-cesslvel

à

intervenção terapêutica. Trata-se de um

fragmento

de experiência real, que

foi tornado possível por condições e!

pecialmente favoráveis e que é de natureza provisória. A par

~

tir das reações repetitivas exibidas na transferência,

envere-da-se ao longo dos caminhos familiares até o despertar das lem

branças, que aparecem sem dificuldade, por

assim

dizer, após as

resistências terem sido superadas.

(25)

14 antes reconhecida pelo paciente, e familiarizá-lo com ela. Os principiantes na clínica analítica tendem a considerar este passo introdutório como a totalidade do seu trabalho. Há casos em que determinado analista se queixa de ter apontado a resis-tência ao paciente e não ter visto mudança alguma; pelo contrá rio, a resistência tornou-se mais forte e a situação mais obs-cura do que nunca. Segundo ele,o tratamento parece nao progre-dir. Esta concepção, não obstante, revela-se sempre errônea.Na realidade o tratamento estava progredindo satisfatoriamente. O analista apenas se esquecia de que dar um nome à resistência não pode resultar em sua cessação imediata.Deve-se dar tempo ao paciente para se aprofundar na resistência, a qual acabou de conhecer, para elaborála, superála, continuando o traba -lho analítico segundo a regra fundamental da análise, apesar desta encarniçada resistência. Só quando a resistência está em seu auge

é

que o analista pode, trabalhando em comum com o paciente, descobrir os impulsos instintuais reprimidos que es-tão alimentando a resistência; e é este tipo de experiência que

convence o paciente da existência e do poder de tais impulsos. O analista nada

maisre~

fazer senão esperar e deixar as coisas seguirem seu curso, que não pode ser evitado e nem

sempreapre!

- "

..

sado. Se se apegar a esta convicção, nao tera a impressao de ter fracassado, quando, de fato, conduziu o tratamento segundo as linhas corretas.

(26)

o tratamento analitico de qualquer tipo de tratamento por suge~

tão. De um ponto de vista teórico, pode-se correlacioná-la com

a "ab-reação" das cotas de afeto estranguladas pela repressao

- uma ab-reação sem a qual o tratamento hipnótico permanecia

ineficaz. (1)

Freud considera que a sua experiência revelou-lhe que

a terapia psicanalitica - a libertação de alguém de seus

sinto-mas, inibições e anormalidades de caráter neurótico - demanda

muito tempo.

Uma tentativa enérgica de abreviar a duração da tera

pia psicanalitica foi efetuada por Otto Rank, posteriormente ao

lançamento de seu livro "O Trauma do Nascimento" (1924). Supôs

ele que a verdadeira fonte de neurose era o ato do nascimento,

já que este envolvia a possibilidade de que a"fixação primeva" ...

de uma criança

à

sua mãe, naQ fosse superada mas persistisse

como "repressão primeva". Rank esperava que lidando com esse

trauma, a análise subsequente poderia se dar em poucos meses.

Todavia, este argumento não suportou o exame critico. Ademais,

ele parece ter sido concebido para se adaptar a pressa da vida

americana. Na prática, pouco tem se sabido o que este plano

fêz pelos casos de doença. A teoria e a prática do experimento

de Rank são hoje coisas do passado.

O próprio Freud adotou outro modo de acelerar um

tra-tamento analitico, antes da guerra. Foi o caso de um jovem (1) O conceito de elaboraçao, introduzido no presente artigo está

evidente-mente relacionado

à

"inércia psiquica", uma caracteristica da vida

(27)

16

russo, estragado pela opulência, que chegara a Viena em estado de completo desamparo. Em poucos anos, diz ele,foi possivel devolver-lhe grande parte da sua independência, despertar seu interesse pela vida e ajustar suas relações com as pessoas que lhe eram mais importantes. Mas ai o progresso se interrompeu. Não progrediu mais no esclarecimento da neurose de sua infân-cia, em que se baseava a doença posterior, e era óbvio que o

~

paciente achava sua situação confortável e nao desejava dar qualquer passo à frente para mais perto do fim do tratamento. Era um caso de tratamento a inibir-se a si próprio; corria ri~ co de fracassar em resultado de seu parcial sucesso. Nesse di lema, Freud recorreu à medida heróica de fixar um limite de tempo para a análise. Ao inicio de um ano de trabalho, infor-mou ao paciente de que o ano vindouro seria o último de seu tratamento, não importando o que ele conseguisse no tempo que ainda lhe restava. A principio, não acreditou no analista, mas, assim que se convenceu de que ele falava a sério, a mudag ça desejada se estabeleceu. Suas resistências definharam e , nos últimos meses, foi capaz de reproduzir todas as lembranças e descobrir todas as conexões que pareciam necessárias para compreender sua neurose primitiva e dominar a atual. Quando o deixou, em meados do verão de 1914, suspeitando tão pouco quag to Freud o que estava por vir, este acreditava que sua cura fo ra radical e permanente. Mais tarde, quando ele retornou à

(28)

de então, o paciente passou a sentir-se normal e comportar-se de modo não excepcional, apesar de todas as suas perdas afeti-vaso Quinze anos se passaram sem que a verdade desse

veredic

-to fosse refutada, mas postula Freud que certas reservas sao necessárias. O paciente permaneceu em Viena e manteve um lugar na sociedade, ainda que humilde. Diversas vezes, porém seu bom estado de saúde foi interrompido por crises de doença que só podiam ser interpretadas como ramificações de sua doença permanente.

Subsequentemente, ele empregou a fixação de um limite de tempo também em outros casos, levando em consideração a ex-periência de outros analistas. Este artifício, no seu enten-der, só é eficaz desde que se acerte com o tempo correto para ele. Mas não se pode garantir a realização completa da tarefa. Pelo contrário, podemos nos assegurar que parte do material se torna acessível sob a pressão da ameaça, outra parte ficará re tida, imune a nossos esforços terapêuticos, pois uma vez tendo se fixado o limite de tempo não se pode voltar atrás, sob pena de perder a confiança do paciente. A saída seria o paciente continuar com outro analista , o que implica perda de tempo e o abandono dos frutos já colhidos.

Nao

v ha regra geral ~ quanto

à

ocasião correta de se utilizar este artifício compulsório, a

decisão depende do tato do analista. Um erro de cálculo

nao

~

pode ser retificado. Cabe aqui o ditado de que o leão só sal-ta uma vez.

(29)

18 alguma possibilidade de levar uma análise a tal término?" A

julgar pelos comentários de certos analistas quando se referem a imperfeiç6es de colegas seus nos termos "Sua análise n~o foi terminada" ou "Ele nunca se analisou ati o fim", assim

parece-ria ser.

Primeiro, tem-se que decidir o que significa a expre~

s~o amblgua "o tirmino de uma análise". Em termos práticos, ~ ma análise termina quando paciente e analista deixam de encon-trar-se para a sess~o analltica. Isso ocorre quando duas con-dições foram aproximadamente preenchidas: em primeiro lugar, que o paciente n~o esteja mais sofrendo de seus sintomas e te-nha superado suas ansiedades e inibiç6esi em segundo, que o analista julgue que foi tornado consciente tanto material re-primido, que foi explicada tanta coisa ininteliglvel, que fo-ram vencidas tantas resistências internas, que

neõ

há necessi-dade de temer uma repetiç~o do processo patológico em apreço. Se se i impedido por dificuldades externas de alcançar esse o~ jetivo, é preferlvel falar em análise incompleta do que inaca-bada.

(30)

acontecem e voltando-se para a teoria, procura descobrir se há qualquer possibilidade de elas acontecerem. Ele supõe que to-do analista já terá tratato-do de alguns casos nos quais obteve êxito em aclarar o distúrbio neurótico do paciente, e esse dis túrbio não retornou, nem foi substituido por alguma outra peE turbação do mesmo tipo. E ele acredita ter compreensão

inter

-na dos determi-nantes desses sucessos: o ego do paciente nao foi notâvelmente alterado e a etiologia de seu distúrbio foi esse~ialmente traumática. A etiologia de todos os distúrbios neuróticos

é

mista, via de regra, há combinação de fatores cons titucionais e acidentais. Não há dúvida de que a análise pod~

rá alcançar sucesso quando o caso for predominantemente traum~

tico, fortalecendo o ego do paciente, substituindo por uma so-lução correta a decisão inadequada tomada em sua vida primiti-va. Só em tais casos, pode-se falar de uma análise que foi de finitivamente terminada. ~ verdade que, se o paciente assim restaurado não produz outro distúrbio que exija análise, nao

-se sabe -se esta imunidade pode -ser devido a um destino bondoso

-que o poupou de provaçoes excessivamente fortes.

(31)

20

Isso conduz a dois problemas que surgem diretamente da clinica analitica, que ele espera demonstrar com os exemplos que se seguem: Certo homem praticava a auto-análise com sucesso até sentir limitações; que não o livravam de impedimentos neur§ ticos em suas relações interpessoais. Entã~ submeteu-se a uma análise por parte de outrem, a qual contribuiu para que restab~

lecesse as boas relações com seus próximos. Todavia, algum te~ po depois quando teve problemas, queixou-se a este analista, di zendo que ele deveria ter falhado em lhe proporcionar uma análi se completa. O analista, no entender do paciente, deveria ter percebido a possibilidade de uma transferência negativa, ao que o analista se defendeu dizendo que naquela época este fato nao

-pudera ser percebido e ele não poderia apontar algo que não se mostrava ativo na ocasião, sob pena de ter de assumir um compoE tamento inamistoso. Ademais, acrescentou, nem toda boa relação entre um analista e seu paciente durante e apos a análise, de-via ser encarada como transferência; hade-via também relações amis tosas que se baseavam na realidade e que provavam ser viáveis.

O segundo exemplo levanta o mesmo problema: uma mulher solteira, não mais jovem, fora cerceada da vida desde a puberd~

de por uma incapacidade de caminhar, devido a severas dores na

(32)

21 de no amor e no casamento. Mas a ex-inválida resistiu a tudo isso valentemente e constituiu um apoio para a familia nos tem pos dificeis. Passados entre doze a quatorze anos do término de sua análise, teve que submeter-se a uma histerectomia com-pleta, após a qual mais uma vez caiu doente. Enamorou-se de seu cirurgião, afundou-se em fantasias masoquistas sobre as te miveis alterações dentro de si - fantasias com que ocultava seu romance - e mostrou-se inacessivel a urna nova tentativa de aná lise. Permaneceu anormal até o fim da vida. Indubitavelmente, a segunda moléstia pode ter-se originado da mesma fonte que a primeira, que fora superada com êxito; pode ter sido urna mani-festação diferente dos mesmos impulsos reprimidos, que só in-completamente solucionara. Todavia)Freud supõe que se não fos se pelo novo trauma, não teria havido nova irrupçao da neurose.

Esses dois exemplos, entre muitos outros semelhantes parecem suficientes para o exame dos tópicos que ele pretende considerar. E continua dizendo que os céticos, os ambiciosos e os otimistas assumirao, quanto a eles, pontos de vista

diferen-tes. Os primeiros dirão que está provado que mesmo um tratamen to analitico bem ,sucedido não protege o paciente de cair doente mais tarde de outra neurose ou de urna recorrência de seu antigo problema. Os outros considerarão que isso não está provado, pois estes exemplos datam dos primórdios da prática analitica e que só atualmente, com o aumento dos conhecimentos é que pOde-mos exigir ou esperar que urna cura analitica se pOde-mostre permane~

te, ou pelo menos, que se houver nova doença, ela não seja urna revivificação da antiga.

(33)

em-22

pios foi precisamente o fato de estarem tão distantes no pass~

do, pois ele crê que quanto mais recente o desfecho bem sucedi do de urna análise, menos utilizável será para o debate, já que não se dispõe de meios para predizer qual será a história pos-terior do restabelecimento. As expectativas dos otimistas pre~ supoem urna série de coisas que não são auto-evidentes. Presu-mem que há realmente urna possibilidade de livrar-se definitiva mente de um conflito entre o ego e um instinto; segundo, que enquanto estamos tratando alguém por causa de determinado con-flito, podemos vaciná-lo contra outros conflitos desse tipo; terceiro, supõem que temos o poder, para fins de profilaxia,de despertar um conflito patogênico que não está se revelando na ocasiao e que é aconselhável fazê-lo. Neste momento, Freud nao

julga ser possível dar quaisquer respostas certas a estas ques-tões. Provavelmente, poderá lançar alguma luz mediante consi-derações teóricas. Mas outro ponto para ele já se tornou cla-ro: "Se quisermos atender 'às exigências ma:i,s rigorosas feitas à terapia analítica, fatalmente não poderá ser através da redu ção do tempo de sua duração".

Uma experiência analítica que se estendeu por diver-sas décadas e uma modificação na natureza e no modo de sua ati vidade, incentivaram Freud a tentar responder às questões que se apresentam~

(34)
(35)

24

frente. Temos apenas uma única pista de grande valor para co-meçar: a antitese entre o processo primário e o secundário".

Retomando a questão de saber se é possivel livrar-se de modo permanente e definitivo de um conflito instintual, peE cebe-se que a força do instinto é algo que deve ser considera-do como influinconsidera-do decisivamente no resultaconsidera-do. Partindo-se da presunção de que aquilo que a análise realiza para os neuróti-cos nada mais faz do que aquilo que a pessoa sadia consegue sem essa ajuda.

A experiência cotidiana, contudo, nos ensina que, nu-ma pessoa nornu-mal, qualquer solução de um conflito instintual so

é

válida para uma relação especifica entre a força do ins-tinto e a força do ego, dentro de certos limites. Se a força do ego diminui pela doença ou por exaustão, todos os instintos que até então haviam sido domados com êxito, podem renovar su-as exigêncisu-as e esforçar-se por obter satisfações substituti-vas de maneira anormal. Prova irrefutável dessa afirmação e fornecida pelos sonhos noturnos, que reagem à atitude de sono assumida pelo ego com um despertar das exigências instintuais. Há fases na vida de todas as pessoas, como a puberda-de e a menopausa nas mulheres, em que os instintos são consipuberda-de ravelmente reforçados. Estes reforços também poderão ocorrer em qualquer outro periodo da vida, em decorrência de traumas e frustrações forçadas. O resultado e sempre o mesmo, salientan do o poder do fator quantitativo na causação da doença.

Aqui Freud afirma que tudo isso já é conhecido e auto evidente há muito tempo, todavia ele pretende ressaltar o fato de ,que a maioria de seus conceitos teóricos negligenciaram em

(36)

dar

à

abordagem econômica a mesma importância que foi dada as abordagens dinâmica e tópica.

Assim, antes de se decidir sobre a resposta

à

questão em exame, procura tecer considerações levando em conta a teo-ria e a pr~tica da análise: "~ reivindicaç~o de nossa teoria o fato de que a análise produz um estado que nunca surge espont~

neamente no ego e que esse estado recentemente criado constitui a diferença essencial entre uma pessoa que foi analisada e ou tra que nao foi. A base dessa reivindicaç~o reside nas segui~

tes ponderações: todas as repressões se efetuam na primeira i~

fânciai são medidas primitivas de defesa, tomadas pelo ego ima ....,

-turo, débil. Nos anos posteriores, nao sao estabelecidas no-vas repressoes, mas as antigas persistem e s~o utilizadas pelo ego para o dominio dos instintos. Novos conflitos são evita-dos através.da "repress~o ulterior". Quanto às repressões in-fantis, vale a afirmação geral de que as repressões dependem absolutamente do poder relativo das forças envolvidas, e que elas não se podem manter contra um aumento na força dos instin tos. A análise, contudo, capacita o ego, que atingiu maior m~ turidade e força, a empreender urna revisão dessas antigas re-pressoes, umas são desmontadas, outras reconhecidas mas recon~

truidas a partir de material mais sólido. Elas serão mais re-sistentes à pressão da força instintual. Dessa maneira, a fa-çanha da terapia analitica seria a correção do processo origi-nal de repressão, que põe fim

à

dominância do fator quantitat! voU .

(37)

26

talvez não seja suficientemente ampla para que chegue a uma conclusão firme. Tem-se a impressão de que não se deve ficar surpreso se ela mostrar ao final que a diferença entre o com-portamento de uma pessoa não analisada e outra que o foi não

é

tão radical. Isso significará que a análise às vezes tem êxi-to em eliminar a influência de um aumenêxi-to no instinêxi-to, mas não sempre, ou que o efeito da análise se limita a aumentar o po-der de resistência das inibições, tornando-as aptas a suportar exigências muito maiores do que antes da análise.

Existe outro ângulo, a partir do qual ele propõe abor dar o problema da variabilidade no efeito da análise: "Ao estu dar desenvolvimentos e mudanças, dirigimos nossa atenção unic~

(38)

rior ao lado da posterior na configuração final'. Ele ainda procura exemplos em outros campos como o de crenças supersti-ciosas da humanidade que foram supostamente superadas, mas perduram até hoje resíduos delas nos estratos inferiores dos povos civilizados ou mesmo nos mais elevados estratos na socie dade cultural. O que um dia veio

à

vida, aferra-se tenazmente à existência.

Ao aplicar essas observações ao problema de corno ex-plicar os resultados variáveis da terapia analítica, Freud con clui que a resposta bem poderia ser a de que nós também, esfor

-

-çando-nos por substituir repressoes, que sao inseguras, por controles egossintônicos dignos de confiança, nem sempre alcan çamos nosso objetivo de modo bastante completo.

Se essa for a resposta correta à questão, ele crê que podemos dizer que a análise, ao reivindicar a cura das neuro-ses assegurando o controle sobre o instinto, está sempre corr~ ta na teoria, mas nem sempre na prática. O poder dos instru-mentos com que a análise opera não é ilimitado mas restrito e o resultado final depende sempre da força relativa dos agentes psíquicos que estão lutando entre si.

(39)

28

a influência é então aplicada".

Analisando estas questões, Freud assinala que sua am-bição terapêutica pode ficar tentada a empreender tal tarefa, mas sua experiência rejeita categoricamente a noção.

Pois que, diz ele, se um conflito instintual nao está se manifestando, não podemos influenciá-lo, mesmo pela análise. Considerando quais os meios que temos

à

nossa disposição para transformar um conflito latente em outro presentemento ativo, ficamos com duas opções: ocasionar situações em que o conflito se torna ativo ou podemos contentar-nos em debatê-lo na análi-se e apontar a possibilidade de ele despertar. A primeira al-ternativa pode ser levada a cabo de duas maneiras: na realida-de ou na transferência, expondo o paciente a certa quantidarealida-de de sofrimento real, mediante a frustração e o represamento da libido. Ora, o procedimento analitico comum já faz uso dessa técnica, muito embora seja para tratar um conflito que se mos-tra ativo. Ademais a experiência tem revelado que o melhor ~

e

sempre inimigo do bom, pois em todas as fases do restabeleci-mento do paciente, temos de lutar contra sua inércia, que ten-de a se contentar com uma solução incompleta.

Contudo, se o que visamos é o tratamento profilático de conflitos instintuais que não estão presentemente ativos, mas são meramente potenciais, não será suficiente regular

(40)

melhor se as experiências patogênicas do paciente pertencem ao passado. Em estados de crise a análise é inutilizável. Assim, criar um novo conflito só tornaria o trabalho de análise mais prolongado e mais difícil.

Na profilaxia analítica contra conflitos instintuais, portanto, os únicos métodos que entram em consideração são: a produção artificial de novos conflitos na transferência, aos quais falta caráter de realidade e o despertar de tais confli tos na imaginação do paciente, falando-lhe sobre eles e tornan do-o familiarizado. com sua possibilidade. Ambos os métodos a-presentam dificuldades e estão fadados ao insucesso. No caso

-do primeiro, sabemos que os pacientes nao podem trazer to-dos os seus conflitos para a transferência e nem o analista ~

e capaz de invocar todos os possíveis conflitos instintuais deles, a partir da situação transferencial. Além disso, não devemos desprezar o fato de que medidas deste tipo obrigariam o anali~ ta a se comportar de maneira inamistosa para com o paciente, prejudicando a transferência positiva, que é o motivo mais for te para o paciente participar do trabalho conjunto da análise.

(41)

30 substituir as teorias sexuais que construiram em harmonia com sua organização libidinal imperfeita --teorias sobre o papel da cegonha, sobre a natureza da relação sexual e sobre o modo como os bebês são feitos-por esse novo conhecimento. Por lon-go tempo,após receberem esclarecimentos sexuais, elas se com-portam como as raças primitivas ,que tiveram o cristianismo im-pingido nelas, mas que continuam a adorar em segredo seus anti gos idolos~

Investigando os fatores decisivos para o sucesso dos esforços terapêuticos - a influência da etiologia traumática,a força relativa dos instintos que têm de ser controlados e algo que denominamos de alteração do ego- o último causou a Freud a impressão de que há muito a perguntar e muito a responder. ~ bem sabido que a situação analitica consiste na aliança entre o analista e o ego da pessoa em tratamento, a fim de submeter partes de seu id que não estão bem controladas, o que equivale dizer, inclui-las na sintese de seu ego. O fato de uma cooperação desse tipo habitualmente fracassar no caso dos psicóti cos, forneceu para Freud uma primeira base sólida para julga -mento. Para efetuar um pacto desse tipo, diz ele, o ego deve

ser normal, algo como uma ficção ideal,

já~go

anormal, inú-t i l para esinú-tes fins, infelizmeninú-te não é ficção. Na verdade to da pessoa normal é normal apenas na média. Seu ego aproxima-se do ego do psicótico num lugar ou noutro e o grau de aproxima-seu afas tamento de determinada extremidade da série e de sua proximid~

de da outra, nos dará uma medida provisória daquilo que tão in

definid~enominamos

de "alteração do ego".

(42)

tipos e graus de alteração do ego, a primeira alternativa ób-via seria a constatação de que tais alterações são congênitas

~--­

ou adquiridas. Dessas, acredita Freud que o segundo tipo se-ria o mais fácil de tratar. Se forem alterações adquiridas , isso certamente terá acontecido no decurso do desenvolvimento, a partir dos primeiros anos de vida, pois o ego tem de tentar, desde o inIcio, desempenhar sua tarefa de mediar entre O id e o mundo externo, a serviço do princIpio do prazer, e de pro-teger o id cont~a os perigos do mundo externo. Se, durante e~ ses esforços, o ego aprende a adotar uma atitude defensiva ta~

bém para com seu próprio id, e a tratar as exigências instint~

ais deste último como perigos externos, isso acontece, pelo m~ nos em parte, porque ele compreende que uma satisfação do ins-tinto conduziria a conflitos com o mundo externo. Sob a influ ência da educação, o ego se acostuma a remover a cena da luta de fora para dentro e a dominar o perigo interno antes que se tenha tornado externo. Durante essa luta em duas frentes--posteriormente haverá também uma terceira frente (o superego~

o ego faz uso de diversos procedimentos para evitar o perigo , a ansiedade e o desprazer. Chamamos esses procedimentos de "mecanismos de defesa".

-Foi a partir de um desses mecanismos, a repressao,que o estudo dos processos neuróticos se iniciou. ~ um mecanismo bastante peculiar, sendo mais nItidamente diferenciado dos ou-tros mecanismos do que estes o são entre si. E que se mostra influenciado pela força compelativa do princípio do prazer.

1

(43)

32

-ta desprazer, essa percepçao - isto e, a verdade - deve ser sacrificada. No que se refere a perigos externos, o individuo pode fugir por algum tempo e eVitá-los; até que fique mais for te e possa realmente alterar a realidade. Mas a fuga nao cons

-titui auxilio contra perigos internos, por essa razao, os meca

-nismos defensivos do ego estão condenados a falsificar nossa percepção interna e a nos dar somente uma representação imper-feita e deformada de nosso próprio ido Neste caso em suas re-lações com o id, o ego pode ser paralisado por suas restrições ou ofuscado por seus erros.

Os mecanismos de defesa servem para manter afastados os perigos, mas também podem se transformar em perigos. As ve

A

zes, se ve que o ego pagou caro demais pelos serviços que eles lhe prestam. O dispêndio dinâmico necessário para mantê-los e as restrições do ego que quase sempre acarretam, mostram ser um pesado ônus sobre a economia psiquica. Ademais, esses mec~

nismos não são abandonados depois que o perigo tenha diminuido,

-eles se fixam no ego, passam a fazer parte de suas reaçoes e

-sao repetidos durante toda a vida, sempre que ocorre uma situa ção semelhante

à

original. Além disso, para mantê-los, o ego continua a se defender de perigos que não existem na realidade, mas são forjados, o que causa uma grande alienação quanto ao mundo externo e um permanente enfraquecimento do ego, terreno fértil para o desencadeamento de uma neurose.

Neste ponto, Freud questiona:

"Qual seria a influência que a alteração do ego corre~

(44)

re-pete essas modalidades de reação também durante o trabalho de análise, onde nós chegamos a conhecê-las. Elas não tornam im-posslvela análise, pelo contrário, constituem a metade da ta-refa analltica. A outra metade, seria a revelação do que está escondido no ido Durante o tratamento, o trabalho oscila para trás e para a frente, entre um fragmento de análise do id e um fragmento de análise do ego.

Ora desejamos tornar consciente algo do id, ora quer~

mos corrigir algo no ego. A dificuldade da questão é que os mecanismos defensivos dirigidos contra um perigo anterior rea-parecem no tratamento como resistência contra o restabeleci-mento. Disso decorre que o ego trata o próprio restabelecime~

to como um novo perigo. E essas resistências, embora perten-çam ao ego, sao inconscientes e não seria de se esperar que surgisse uma resistência contra a revelação dessas resistênci-as. Entretanto, é bem sabido que essas resistências lutam con tra a conscientização dos conteúdos do id, contra a análise co mo um todo e contra o restabelecimento.

O efeito ocasionado no ego pelas defesas pode ser des crito como "uma alteração do ego", se por isso entendermos um desvio quanto à ficção de um ego normal, que garantiria leald~

de inabalável ao trabalho de análise. ~ fácil, portanto, ace! tar o fato de que o resultado de um tratamento analltico depe~

(45)

34

forças hostis. E a vitória costuma ficar sempre do lado do mais forte.

Ao concluir isto, Freud passa a quest~o seguinte que trata de saber se toda alteraç~o do ego-- no sentido por ele a dotado-é adquirida durante as lutas defensivas dos primeiros a nos. Ele considera que n~o pode haver dúvida sobre a respos -ta, pois é certo que cada pessoa faz urna seleç~o dos mecanis -mos possíveis de defesa, que ela sempre utiliza apenas alguns deles, sempre os mesmos. Isso indicaria que cada ego está do-tado, desde o início, com disposições e tendências individuais,

-embora nao se possa especificar sua natureza e o que as deter-mina. Além disso, sabe-se que n~o devemos exagerar a diferen-ça existente entre caraçteres herdados e adquiridos, transfor-mando-a numa antítese, o que foi adquirido pelos nossos ante-passados é parte importante do que herdamos. Quando falamos em "herança arcaica" geralmente pensamos apenas no id e parec~

~ '\I

mos presumir que no começo da vida do indivlduo, ainda n80exls te ego algum. Mas deve-se lembrar o fato de que ego e id sao

-originalmente um só; tampouco implica urna supervalorizaç~o mis tica da herança acharmos acreditável que antes de o ego surgir, as linhas de desenvolvimento, tendências e reações que poster! ormente apresentará, já estão estabelecidas para ele. A expe-riência analítica impôs a Freud a convicçãode que simbolismos

---

---inclusive, tem sua fonte na transmissão hereditária; e pesqui-sas antropológicas tornam plausível supor que outros precipit~

dos especializados deixados pelo primitivo desenvolvimento hu-mano estão presentes na herança arcaica.

(46)

tanto podem ser determinadas pela hereditariedade quanto adqu! ridas em lutas defensivas, a distinção tópica entre o que ~

e ego e o que ~ id perde muito de seu valor para nossa investig~

-çao.

Na sua experiência analItica, Freud defrontou-se com resistências de outro tipo que não mais podia localizar e que pareciam depender de condições fundamentais do aparelho psIqu! co. Esse campo de investigação ainda era estranho e insufic! entemente explorado, portanto, ele assevera que só pode forne-cer alguns exemplos deste tipo de resistência: Existem pessoas que apresentam uma especial "adesividade da libido", isto é, elas não deslocam com facilidades suas catexias libidinais de um para outro objeto, embora não se identifique razão especial para essa lealdade catexial. Encontra-se também o tipo oposto, em quem a libido parece particularmente móvel, pois as novas catexias sugeridas pela análise substituem prontamente as anti gas. A diferença entre os dois tipos ~ que os resultados da análise no segundo tipo, frequentemente, se mostram pouco dura douros.

Em outro grupo de casos, diz ter encontrado uma atitu de que só pode ser atribuIda a um esgotamento da plasticidade, da capacidade de modificação e desenvolvimento ulterior. Essa atitude excede o nIvel comum de in~rcia psIquica encontrado frequentemente na experiência analItica. Chamamos esse compo~

tamento, talvez não muito corretamente de "resistência oriunda do id". Poderia se creditar esse fenômeno a uma'esp~cie~entr9.

(47)

36

nos parece adequado para fornecer uma explicação correta de tais tipos.

Existe ainda um outro grupo de casos, em que as fon-tes de resistência ao tratamento analítico e obstáculos ao êxi to terapêutico, podem originar-se de raizes diferentes e mais profundas. Seria o comportamento de dois instintos primevos , sua distribuição, mistura e defusão que não podemos imaginar como confinadas a uma única província do aparelho psíquico, ao id, ao ego ou ao superego. No trabalho de análise tem-se a im pressão de surgir das resistências uma força que se defende por todos os meios possíveis contra o restabelecimento e que está absolutamente decidida a se apegar

à

doença e ao sofrimen to. Uma parte dessa força foi identificada como sentimento de culpa e necessidade de punição, que pode surgir na relação do ego com o superego. Outras cotas da mesma força, quer presas, quer livres, podem estar em outros lugares não especificados. Levandose em consideração os fenômenos de masoquismo imanen -tes em tantas pessoas, a reação terapêutica negativa e o senti mento de culpa encontrados em tantos neurôticos, não se pode mais acreditar que os eventos psíquicos são governados exclusi vamente pelo desejo do prazer. Esses fenômenos constituem in-dicações inequIvocas da presença de um poder na vida psíquica que chamamos de instinto de agressividade ou de destruição, s~ gundo seus objetivos e que remontamos ao instinto de morte ori ginal da matéria viva. Não se trata de uma antítese entre uma teoria pessimista e outra otimista. Somente pela ação

concor-~

(48)

37 explicar a rica multiplicidade dos fenômenos da vida.

Ao estudan, ; os fenômenos que d~o testemunho da ati-vidade do instinto destrutivo, Freud n~o se limita a observa -ções sobre material patológico. Ele acha que numerosos fatos da vida psiquica normal exigem uma explicação desse tipo, toda via, contentou-se com alguns casos exemplificativos:

"Sabemos que existem pessoas bissexuais, que distribu em sua libido, de maneira manifesta ou latente, por objetos de ambos os sexos, sem que essas duas tendências se choquem. Ao passo que em outra classe, mais numerosa, de pessoas, elas se encontram em estado de conflito irreconciliável. A heterosse-xualidade de um indiv.iduo não se conformará com nenhuma homos-sexualidade e vice-versa. poderiamos tentar explicar isto di-zendo que cada individuo só possui à sua disposição uma certa cota de libido, pela qual as duas inclinações rivais têm de lu tar. Mas não está claro porque as rivais nem sempre dividem a cota disponivel de libido entre si, de acordo com sua força re lativa, já que assim podem fazer em certo número de casos. 80 mos forçados à conclusão de que a tendência a um conflito

é

aI go especial a emergir independentemente e que dificilmente po-de ser atribuida a algo que não seja a intervenção po-de um ele-mento de agressividade livre".

(49)

seme-38

lhante a

:sua)

de autoria de urna das maiores e mais notáveis figuras da história da civilização grega: Empédocles de Acra-gas (Girgenti), nascido por volta de 495 a.c .• Este filósofo ensinou que dois principios dirigem os eventos na vida do uni-verso e na vida da mente, e que esses princIpios estão perene-mente em guerra um com o outro. Chamou-os de amor e discórdia.

Um destes principios se esforça por aglomerar 'as par-ticulas primevas dos quatro elementos (o ar, a terra, o fogo e a água) numa só unidade, enquanto que o outro procura desfazer todas essas fusões e separar urnas das outras as particulas prl mevas dos elementos.

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