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Professora em tempo integral

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Academic year: 2017

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28 G E T U L I Omaio 2007 maio 2007G E T U L I O 29

Maíra Rocha Machado leciona Direito Penal e investiga,

academicamente, a lavagem de dinheiro e os direitos humanos

MAÍRA ROCHA MACHADO

PROFESSORA EM

TEMPO INTEGRAL

Por Camila Mamede Foto Tiana Chinelli

E M F O C O

A

sala de trabalho que ela ocupa no prédio da Escola de Direito de São Paulo, da FGV, apa-renta ser muito menor do que é. Há livros, re-latórios e cópias de teses acadêmicas espalha-dos por todo o espaço, nas prateleiras de uma estante, empilhados na mesa ao lado do computador, guardados no armário. Cadernos, pastas e agendas têm seu lugar. Maíra Rocha Machado desenvolve um traba-lho acadêmico bem maior do que o espaço que tantos volumes e anotações ocupam.

Ela se decidiu pelo Direito ainda adolescente. Ape-sar da certeza pela área de humanas, tinha o receio de escolher cursos como História, Geografia ou Filosofia e ter de se dedicar exclusivamente à carreira docen-te. Ao observar a mãe historiadora, tinha consciência das dificuldades que enfrentaria. “Minha decisão foi curiosa. Não venho de uma família de juristas, mas de professores”, conta. O pai se graduou em Direito, mas nunca exerceu a profissão. Foi professor durante anos. Apesar da relutância inicial pela sala de aula, Maíra hoje tem como principal ocupação lecionar no curso de Direito Penal da Fundação Getulio Vargas. “É um curso heterodoxo. Nós unimos o crime e as diferentes formas de tratá-lo. Colocamos o Direito Penal e o Di-reito Processual Penal em uma disciplina só. Sempre foram matérias diferentes.”

Ainda aluna, no segundo ano da faculdade estagiou em um escritório de advocacia criminal. Trabalhou ali por seis anos. Mas revela que a opção pelo Direito Pe-nal ocorreu antes do estágio. Participando do Centro Acadêmico Onze de Agosto da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Maíra cuidava de questões relacionadas aos Direitos Humanos. “Foi logo depois do massacre do Carandiru. Como o Centro Acadêmico era órgão representativo, tinha cadeira na OAB e nos fóruns de discussão.” Em meio aos debates sobre a punição dos autores, a estudante se definiu: “Era muito jovem, mas aquele momento foi um divisor de águas na escolha da área do Direito em que gostaria de trabalhar”.

A trajetória até o doutorado

Foi também no segundo ano da graduação que Maíra começou a carreira de pesquisadora. Durante três anos foi bolsista do Programa Especial de Treinamento (PET) da Capes. O projeto financiava atividades de pesquisa durante a graduação para que os alunos se preparassem para a pós. O núcleo do PET no Largo de São Francisco era coordenado por José Eduardo Faria, posteriormente orientador de sua tese de doutorado.

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de São Paulo e publicada como Internacionalização do Direito Penal (Editora 34, 2004). “O pano de fundo é como o Direito e a globalização apareciam na história criminal”, explica. Focando o ano 2000, a pesquisa ana-lisou problemas internacionais de diversas ordens que estavam sendo tratados por intermédio do crime e da pena. Foram estudados também casos de alguma for-ma vinculados à questão dos direitos hufor-manos, como a criação do Tribunal Penal Internacional, o genocídio em Ruanda, a dissolução da Iugoslávia e a discriminação racial na África do Sul.

O livro concorreu ao Prêmio Jabuti 2005 na categoria “Ciências Exatas, Tecnologia, Informática, Economia, Administração, Negócios e Direito”, chegando à segun-da fase. Maíra só descobriu a indicação quando uma amiga viu seu nome, por acaso, na lista dos concorren-tes. “Foi uma surpresa adorável. Eu nem sabia que estava no páreo porque são as editoras que encaminham os livros para a premiação.”

Retornou ao Brasil em 2003 para prestar o concurso de pesquisadores da Fundação Getulio Vargas. Alguns

meses depois tornou-se professora. Além de preparar o curso de Direito Penal, realiza diversas pesquisas com professores estrangeiros. Participa de um projeto coorde-nado por Damian Chalmers e Gregory Shafer, apoiado ainda pela London School of Economics e pela Loyola University Chicago, sobre as transformações transnacio-nais do Estado. A professora Mireille Delmas-Marty, do Collège de France, estudiosa do tema da internaciona-lização do Direito, convidou Maíra para estudar a lava-gem de dinheiro na América Latina.

Dez anos após terminar a graduação, Maíra enten-de que foi trabalhando na advocacia que conheceu na prática a realidade do Direito. “Não consigo imaginar minha atuação como professora sem a experiência dos seis anos em um escritório.” Apesar de o estágio limitar seu tempo para reflexões e pesquisas mais extensas, foi a partir de um caso prático que nasceu seu tema de doutorado. “Surgiu um processo vinculado à lavagem de dinheiro e fui atrás da lei para compreendê-lo.” O final da década de 90 representou uma virada no com-bate a esse crime. “Tentou-se controlar a circulação de capital de origem ilícita no sistema financeiro interna-cional.” Maíra constatou que a liberalização das

déca-das de setenta e oitenta permitia que circulasse tanto o capital de empresas legalmente registradas quanto o proveniente do mercado informal – drogas, armas ou produtos contrabandeados: “Estudei como se daria essa nova tentativa de controle do capital por meio do crime e da pena”.

Fora do país, Maíra tem participado constantemente de seminários e congressos sobre temas relacionados à internacionalização do Direito. “Essas viagens são im-portantes para colocar a pesquisa brasileira em circuitos internacionais”, explica. No ano passado foi a Cuba, Estados Unidos, Canadá, Venezuela e França. “É um desfrute especial. Estou conciliando coisas de que gosto muito na vida privada com minha atividade profissio-nal.” O resto de seu tempo livre é aproveitado com o filho Felipe, de 1 ano de idade: “Vamos muito ao teatro. Desde que ele nasceu, meu final de semana é dedicado a programas infantis”.

Maíra é ainda pesquisadora do Núcleo de Direito e Democracia do Centro Brasileiro de Análise e Plane-jamento (Cebrap) no projeto “Moral, Política e

Direi-to: Modelos de Teoria Crítica”. Julga essa experiência fundamental em sua formação por ser um núcleo com-posto não apenas por juristas. “Trabalhamos proble-mas comuns e somos de áreas do Direito totalmente diferentes.” Como o grupo é de orientação interdisci-plinar, as investigações são aplicadas nos campos do direito, da política e da moral. Maíra destaca o contato com profissionais de carreiras alheias ao Direito, como Filosofia e Economia. “Para a pesquisa dialogar com o resto da sociedade civil, deve passar pelo crivo de outras áreas”.

De novembro de 2004 até o final do ano passado, Maíra coordenou a reedição do livro Instituições do Direito Penal, de Basileu Garcia. “Recebi um convite muito especial da neta do autor, detentora dos direitos autorais.” Escrito no início da década de 50, esse clássico foi atualizado por Garcia até sua morte, em 1982. Du-rante esse tempo foi professor da Faculdade de Direito da USP, formando gerações que utilizaram seu livro. Produzido em um momento no qual tanto o pensa-mento jurídico quanto a realidade social eram outros, o desafio foi tornar o texto palatável para os alunos que cursam Direito hoje.

Não consigo imaginar minha atuação como professora sem a

experiência de ter passado seis anos em um escritório

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