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Humanizando o cuidado pela valorização do ser humano: re-significação de valores e princípios pelos profissionais da saúde.

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Academic year: 2017

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HUMANI ZANDO O CUI DADO PELA VALORI ZAÇÃO DO SER HUMANO: RE-SI GNI FI CAÇÃO

DE VALORES E PRI NCÍ PI OS PELOS PROFI SSI ONAI S DA SAÚDE

Dirce St ein Backes1 Magda Sant os Koerich2 Alacoque Lorenzini Erdm ann3

Estudo de abordagem qualitativa com o obj etivo de buscar os significados dos valores e princípios que nor t eiam a pr át ica dos pr ofissionais da saúde, a fim de alcançar os v alor es que balizam a hum anização. Participaram do estudo, realizado entre outubro e novem bro de 2005, 17 profissionais da equipe m ultiprofissional de um a instituição hospitalar da Região Sul, entrevistados em três grupos am ostrais. Para a análise com parativa e int erpret ação dos dados, foi ut ilizada a m et odologia preconizada pela Teoria Fundam ent ada nos Dados, que r esult ou na const r ução de um m odelo t eór ico, que t ev e com o fio condut or “ hum anizando o cuidado pela valorização do ser hum ano” . Os dados dem onst raram que é possível desenvolver novas com pet ências, capazes de provocar um a re- significação dos valores e princípios que balizam a hum anização, visando o t rabalho com o realização pessoal/ profissional, aliando com petência técnica e hum ana na prática dos profissionais e vivenciando o cuidado hum anizado.

DESCRI TORES: equipe de assist ência ao pacient e; relações profissional- pacient e; enferm agem

HUMANI ZI NG CARE THROUGH THE VALUATI ON OF THE HUMAN BEI NG:

RESI GNI FI CATI ON OF VALUES AND PRI NCI PLES BY HEALTH PROFESSI ONALS

This qualitative study aim ed to find the values and principles steering health professionals’ practice, in order t o reach t he values guiding hum anizat ion. The st udy t ook place bet ween Oct ober and Novem ber 2005, when 17 professionals from a m ult iprofessional t eam at a hospit al in t he Sout h of Brazil were int erviewed in t hree different sam ples. The m et hodology used for com parat ive dat a analysis and int erpret at ion was based on Grounded Theory, result ing in t he creat ion of a t heoret ical m odel, guided by “ hum anizing care t hrough t he valuation of the hum an being” . Data dem onstrated that new com petencies can be developed, which are capable of provoking a resignificat ion of values and principles guiding hum anizat ion, wit h a view t o reaching personal/ pr ofessional accom plishm ent s t hr ough w or k, ally ing t echnical and hum an skills in pr ofessional pr act ice and ex per iencing hum anized car e.

DESCRI PTORS: pat ient care t eam ; professional- pat ient relat ions; nursing

HUMANI ZANDO EL CUI DADO A TRAVÉS DE LA VALORI ZACI ÓN DEL SER HUMANO:

RESI GNI FI CACI ÓN DE LOS VALORES Y PRI NCI PI OS POR LOS PROFESI ONALES DE SALUD

Est udio de aproxim ación cualit at iva con obj et o de buscar los significados de los valores y principios que dir igen la pr áct ica de los pr ofesionales en salud, con el fin de alcanzar los valor es que conducen a la h u m an ización . El est u dio f u e r ealizado en t r e oct u br e y n ov iem br e de 2 0 0 5 , con la par t icipación de 1 7 profesionales, ent revist ados en t res m uest ras, del equipo m ult iprofesional de un hospit al de la región sur de Brasil. Para el análisis com parat ivo e int erpret ación de los dat os, fue ut ilizada la m et odología preconizada por la Teoría Fundam entada en los Datos, resultando en la construcción de un m odelo teórico, que tuvo com o hilo conductor “ hum anizando el cuidado a través de la valorización del ser hum ano” . Los datos dem ostraron que es posible desarrollar nuevas com pet encias, capaces de provocar una resignificación de los valores y principios qu e con du cen a la h u m an ización , v isan do el t r abaj o con r ealización per son al/ pr of esion al, agr egan do la com pet encia t écnica y hum ana en la pract ica de los profesionales y vivenciando el cuidado hum anizado.

DESCRI PTORES: grupo de at ención al pacient e; relaciones profesional- pacient e; enferm ería

1 Doutoranda em Enferm agem , Gerente do Serviço de Enferm agem da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas - RS, e- m ail: backesdirce@ig.com .br; 2

Doutoranda em Enferm agem , Professor Assistente da Universidade Federal de Santa Catarina, e- m ail: m agm au@m atrix.com .br; 3 Enferm eira, Doutor em

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O S ER H U M A N O Q U E CU I D A - Q U E

HUMANI ZAÇÃO PRATI CA?

A

s r e f l e x õ e s f i l o só f i ca s n o ca m p o d a h u m an ização v êm adqu ir in do gr an de im por t ân cia, p r i n ci p a l m e n t e , d i a n t e d o p r i n cíp i o d a r espon sabilidade cien t íf ica e social e da apar en t e im potência da ética frente ao ser hum ano tecnológico, ca p a z d e o r g a n i za r, d e so r g a n i za r e m u d a r, r adicalm ent e, os fundam ent os da v ida, ou sej a, de criar e/ ou dest ruir a si m esm o.

O crescent e desenvolvim ent o das ciências e sua aplicabilidade à v ida hum ana, conduzem o ser h u m a n o a u m a i n f i n i d a d e d e q u e st i o n a m e n t o s, per plex idades e incer t ezas e que, fr eqüent em ent e, pr ov ocam pr ofunda cr ise de v alor es no sent ido de d e sa f i a r a p o st u r a é t i ca d o s p r o f i ssi o n a i s e a ca p a ci d a d e d e co n ci l i a r n o v a d e m a n d a e com pet ências. Mesm o com os indiscut íveis benefícios a d v i n d o s d o p r o g r e sso t e cn o l ó g i co , m a i s e sp e ci f i ca m e n t e a sso ci a d o à r e so l u t i v i d a d e d a s d e sco b e r t a s t e r a p ê u t i ca s e à q u a l i f i ca çã o d o s p r of ission ais d a saú d e, u r g e d iscu t ir e r ed ef in ir / r eor ient ar os lim it es que est abelecer ão at é onde o ser hum ano poderá ou deverá chegar( 1- 2).

N e s s e s e n t i d o , u m a r e f l e x ã o f i l o s ó f i c a conscient e e coer ent e acer ca dos v alor es hum anos q u e n o r t e i a m o p r o ce sso d e h u m a n i za çã o e d o pr incípio da r esponsabilidade social poder á aux iliar na pr oblem at ização das r eais necessidades, ist o é, das v ant agens e/ ou desv ant agens que o pr ogr esso im põe na prát ica dos profissionais da saúde. Convém l e m b r a r, p o r t a n t o , q u e t o d o o d e se n v o l v i m e n t o t écnico- cient ífico relacionado à vida, além de conduzir o ser h u m a n o p a r a a s n o v i d a d es a sso ci a d a s à s esper anças t er apêut icas, poder á, t am bém , or iginar t em or es e enor m es dilem as ét icos que desafiam a p r át i ca d o s p r o f i ssi o n ai s d a saú d e. É p r em en t e, n esse con t ex t o, desen v olv er n ov as com pet ên cias, capazes de pr ov ocar r e- sign ificação dos v alor es e princípios que balizam a hum anização no cenário da saú d e.

O d esen v olv im en t o d o p r og r esso t écn ico-cient ífico pode percorrer cam inhos diversos e ut ilizar difer ent es m ét odos. É pr eciso, no ent ant o, lem br ar que o conhecim ent o é, por si só, um valor e que a decisão sobr e quais conhecim ent os a sociedade, o cientista ou o profissional de saúde devem concentrar seu s esf or ços im p lica n a con solid ação d e v alor es m orais, éticos, hum anos e na análise crítica e reflexiva

da realidade. Logo, o debate entre valores e interesses so b r e ca d a u m a d a s o p çõ e s d e p e n d e d a r esponsabilidade ét ica e social dos pesquisador es e pr ofissionais( 3).

I m por t an t e in iciat iv a n o cam po da saú de, além das r eflex ões acadêm icas, foi a im plant ação, pelo Minist ér io da Saúde, do Pr ogr am a Nacional de Hum anização da At enção e Gest ão no Sist em a Único de Saúde - Hum aniza SUS. Um a proposta que convoca t o d o s, g est o r es, t r ab al h ad o r es e u su ár i o s, a se com pr om et er em com o pr ocesso de h u m an ização, v ist o q u e o p r óp r io Min ist ér io id en t if icou n ú m er o cr e sce n t e d e q u e i x a s, p o r p a r t e d o s u su á r i o s, relacionadas à falt a de acolhim ent o, de acesso e de condições de t rabalho, ent re out ras( 4).

Um a política, porém , não será im plem entada apenas pela vont ade dos órgãos governam ent ais e/ ou inst it ucionais. Requer- se o com prom et im ent o de t o d o s, p r i n ci p a l m e n t e d a q u e l e s q u e e st ã o , d i a r i a m e n t e , j u n t o a o s u su á r i o s e d e m a i s profissionais, que m ost ram , at ravés de seu t rabalho e at it udes, quais são as caract eríst icas do serviço de saúde que est á sendo oferecido à população.

Par a alcan çar um a nov a com pr eensão dos pr incípios e v alor es que balizam a hum anização, o p r o f i ssi o n a l d a sa ú d e n e ce ssi t a a r t i cu l a r o co n h e ci m e n t o t e ó r i co e t é cn i co d a ci ê n ci a a o s asp ect os af et iv os, sociais, cu lt u r ais e ét icos d as relações que est abelece at ravés de sua prát ica, para que a hum anização não fique rest rit a às at ribuições m e r a m e n t e t é cn i ca s, m a s, p r i n ci p a l m e n t e , à capacidade de com preender e respeitar o ser hum ano nas suas diferent es form as de ser e exist ir( 5).

Em sum a, um a infinidade de int errogações, dúv idas e incer t ezas se or iginar am e/ ou per sist em co m a v i g ên ci a d o p ar ad i g m a t écn i co - ci en t íf i co , p a u t a d o e m v a l o r e s d e e f i ci ê n ci a t é cn i ca e d o conhecim ent o cient ífico. Nessa visão, a at enção dos profissionais focaliza a doença e a cura, ao invés de pr ev alecer o ser hum ano, sob a ópt ica de um ser fragilizado e vulnerável. Assim , em ergem pergunt as, tais com o: para onde avança a história e/ ou até aonde a v a n ça r se m f e r i r a d i g n i d a d e h u m a n a ? Co m o con st r u ir o v iv er m ais dign o? Com o h u m an izar as relações de cuidado?

(3)

As incertezas e a desestabilização dos valores são a face apar ent e de um a hum anidade que est á envolta em profunda crise, à busca de novos debates e possibilidades capazes de r econst r uir / r eor denar o co n h eci m en t o a p a r t i r d e p r i n cíp i o s h u m a n o s e ét icos( 1,7- 8).

A crise, sob esse enfoque, caracteriza- se por u m a e x p l o sã o d e co m p l e x i d a d e , d i r e çõ e s contraditórias de evolução e altas doses de incerteza. Ao m esm o tem po em que o conhecim ento tecnológico disponível m ult iplicou as capacidades de dom inar a n at u r eza t am b ém p r ov ocou a d esor g an ização d o conhecim ent o, ger ando pr át icas que com pr om et em a própria espécie hum ana.

É necessário, pois, novo paradigm a, ist o é, de nov a v isão da r ealidade, um a m udança r adical do pensam ent o capaz de enfr ent ar a com plex idade do real, confront ando- se com os paradoxos da ordem e desor dem , do singular e do ger al, da par t e e do todo(7-8).

Face a esse universo de novas racionalidades, o par adigm a da com plex idade t em a pr et ensão de redefinir a form a do desenvolvim ento atual, balizando o co n h eci m en t o em v al o r es h u m an o s e ét i co s e conquist ando um a nova percepção sist êm ica, a part ir d e u m su j ei t o p en san t e e cap az d e ar t i cu l ar o s div er sos saber es. O pensam ent o com plex o aj udar á o se r h u m a n o / p r o f i ssi o n a l a r e co n h e ce r a com plex idade das r ealidades, ou sej a, r ev elar á as i n ce r t e za s i n e r e n t e s à s p r ó p r i a s e st r u t u r a s d o co n h eci m en t o e t am b ém o s “ b u r aco s n eg r o s d e incert eza nas realidades present es”( 8).

O gr ande desafio da hum anização est á em r e j u n t a r / r e l i g a r a s i n d a g a çõ e s, o s sa b e r e s e , pr incipalm ent e, os v alor es ét icos, m or ais e sociais. Redesenhar um novo horizont e, afast ado do debat e reducionista voltado para os direitos individuais e m ais p r e o cu p a d o co m o r e sg a t e d e co n ce i t o s m a i s abr angent es r elacionados à dignidade hum ana e à desconst rução dos part icularism os para a const rução da ecologia do conhecim ent o hum anizant e( 9).

As so l u çõ e s t e cn o l ó g i ca s n ã o p a ssa m necessariam ente pela academ ia e sim pelos m entores dessas t ecnologias com t reinam ent os ou orient ações prát icas( 6). O im port ant e, nesse espaço, não é saber o n d e se o r i g i n o u o p e n sa r t e cn o l ó g i co d o s profissionais, m as, sim , na capacidade de est im ular a re- inserção crít ica do ser hum ano na realidade, a part ir do pensam ent o com plexo.

Assim , a hum anização, à luz do par adigm a da com plexidade, poder á ser alcançada m ediant e a revolução das “ relações ent re os hum anos, desde as r elações con sig o m esm o, com o ou t r o e com os p r óx i m os, r el ações en t r e n ações e est ad os e as relações entre os hom ens e a tecno- burocracia, entre os h om en s e a socied ad e, en t r e os h om en s e o conhecim ent o, ent re os hom ens e a nat ureza”( 7).

A h u m an ização p r essu p õe u m sist em a d e v a l o r e s, o u se j a , u m si st e m a co m p l e x o d e organização e de civilização que respeita a autonom ia dos indivíduos, a diversidade de idéias, a liberdade de expressão e o resgate da subj etividade. O desafio dos profissionais da saúde frente ao progresso técnico-científico é, portanto, construir o processo de inclusão de todas as pessoas e povos com o beneficiários desse pr ogr esso( 1).

A hum anização é, em sum a, um processo de transform ação da cultura organizacional que necessita r e co n h e ce r e v a l o r i za r o s a sp e ct o s su b j e t i v o s, históricos e socioculturais dos clientes e profissionais, para m elhorar as condições de trabalho e a qualidade da assist ência, por m eio da prom oção de ações que int egrem valores hum anos aos valores cient íficos.

No i n t u i t o d e co n t r i b u i r co m o d e se n v o l v i m e n t o d e n o v a s co m p e t ê n ci a s q u e in cor p or em t an t o os v alor es h u m an os q u an t o os valores t écnico- cient íficos, ou sej a, a inclusão do ser hum ano nos pr ocessos cient íficos e a possibilidade de conv iv ência e de enfr ent am ent o de um a lógica disciplinar fragm entada, esse estudo obj etivou buscar os significados dos valores e princípios que nort eiam a prática dos profissionais da saúde, a fim de alcançar os valores que balizam o processo de hum anização.

PERCURSO METODOLÓGI CO

Trata- se de estudo de abordagem qualitativa, que é, por nat ureza, capaz de responder a quest ões m uit o singular es e subj et iv as, ou sej a, é capaz de “ trabalhar com o universo de significados, m otivações, a sp i r a çõ e s, cr e n ça s, v a l o r e s e a t i t u d e s, o q u e corresponde a um espaço m ais profundo das relações, dos processos e dos fenôm enos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”( 10).

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a o p çã o p e l a Te o r i a Fu n d a m e n t a d a n o s D a d o s (Gr o u n d ed Th eo r y) se co n st i t u i u em i m p o r t an t e est r at ég i a m et o d o l ó g i ca. O m ét o d o p o ssi b i l i t o u , at ravés da indução e dedução, a const rução de um m odelo t eór ico ex plicat iv o do fenôm eno do est udo, n o in t u it o d e ex p lor ar a r iq u eza e a d iv er sid ad e pr esent es nas exper iências hum anas.

A Teoria Fundam entada nos Dados ( TFD) , com base no I nt eracionism o Sim bólico, est á volt ada para o conhecim ento da percepção e/ ou do significado com o obj et ivo de capt ar os aspect os int ersubj et ivos das experiências sociais do ser hum ano e, dessa form a, a cr e sce n t a r n o v a s p e r sp e ct i v a s à r e f l e x ã o d o fenôm eno. Assim , t odos os pr ocedim ent os da TFD têm por finalidade identificar, desenvolver e relacionar conceit os a part ir de vários grupos am ost rais, ist o é, a geração de teorias a partir dos dados investigados, analisados e com par ados de m aneir a sist em át ica e concom it ant e( 11).

A co m p a r a çã o co n st a n t e d o s d a d o s d o s ent revist ados é ut ilizada para elaborar e aperfeiçoar, teoricam ente, as categorias elucidadas a partir desses m esm os dados. Na análise com parat iva, no ent ant o, devem ser observados aspect os com o: conhecim ent o do am bient e, codificação dos dados, form ulação das ca t e g o r i a s, r e d u çã o d o n ú m e r o d a s ca t e g o r i a s, ident ificação da cat egoria cent ral e a m odificação e int egração das cat egorias( 12).

O estudo, realizado entre outubro e novem bro de 2005, contou com a participação de dezessete ( 17) profissionais da equipe m ult iprofissional da saúde de um a inst it uição hospit alar da Região Sul, for m ando t rês Grupos Am ost rais. A inst it uição escolhida e um a d a s a u t o r a s e st ã o i n se r i d a s n a Po l ít i ca d e Hum anização desde j unho de 2003, o que facilit ou o desenvolvim ento do estudo. O núm ero de participantes ( 17) e de grupos am ost rais ( 3) foi det erm inado pelo pr ocesso de am ost r agem t eór ica r ecom endado pela TFD.

Os par t icipant es for am esclar ecidos quant o aos ob j et iv os e m et od olog ia p r op ost os e lh es f oi assegurado o direito de acesso aos dados, bem com o a g a r a n t i a d o a n o n i m a t o . Ne sse m o m e n t o , f o i solicit ada a assinat ur a do t er m o de consent im ent o l i v r e e escl ar eci d o , co n f o r m e r eco m en d açõ es d a Resolução CNS/ MS196/ 96, que prescreve a ét ica na pesquisa com seres hum anos. Além desses cuidados ét i cos, o p r oj et o f oi su b m et i d o e ap r ov ad o p el o Com itê de Ética em Pesquisa com Seres Hum anos da referida inst it uição.

A f i m d e a sse g u r a r o a n o n i m a t o d o s par t icipant es, foi ut ilizada a Let r a “ e” e o núm er o cor r espondent e à fala, ident ificados no t ex t o com o ( e1) , ( e2) , ( e3) e assim por diant e.

O Prim eiro Grupo Am ost ral foi com post o por 6 enferm eiros, integrantes do grupo de Sistem atização da Assist ência de Enferm agem da referida inst it uição hospit alar. São enferm eiros engaj ados, efet ivam ent e, na hum anização e sist em at ização da assist ência de en f er m agem .

O Segundo Grupo Am ostral foi constituído por m é d i co s d o Co r p o Cl ín i co d a Sa n t a Ca sa . Os p a r t i ci p a n t e s f o r a m e sco l h i d o s a l e a t o r i a m e n t e , buscando represent ação das diversas especialidades m éd i ca s. Oco r r eu , n o en t a n t o , q u e n o p r i m ei r o e n co n t r o , co m p a r e ce r a m a p e n a s 2 m é d i co s, 1 pediat ra e 1 int ensivist a, fazendo- se necessário um seg u n d o ag en d am en t o, n o q u al com p ar ecer am 6 m é d i co s, se n d o : 1 p e d i a t r a , 1 g i n e co l o g i st a , 1 o n co l o g i st a , 1 cl ín i co g er a l , 1 ca r d i o l o g i st a e 1 urologist a, est e últ im o, diret or t écnico do hospit al.

O Terceiro Grupo Am ostral foi form ado por 5 pr ofissionais int egr ant es do Gr upo de Hum anização d o r e sp e ct i v o h o sp i t a l , t a m b é m e sco l h i d o s aleatoriam ente, dentre eles: 1 adm inistrador, 1 técnico adm inist rat ivo ( responsável pela creche do hospit al) , 1 contador, 1 nutricionista e 1 técnico de enferm agem . Os d a d o s f o r a m co l e t a d o s a t r a v é s d e entrevistas coletivas, gravadas em fita K7, no período de, aproxim adam ent e, um a hora, com dia e horário agendados previam ente, para os integrantes dos três grupos am ost rais. A t écnica de ent revist a é ut ilizada quando se desej a inform ações em profundidade, ist o é , i n f o r m a çõ e s co m a s p r ó p r i a s p a l a v r a s d o s respondent es e descrição det alhada das sit uações. A escut a at ent a int egra a ação desse inst rum ent o( 12).

Par a dar início às ent r ev ist as, ut ilizou- se a seguint e quest ão nor t eador a: quais os significados dos valores e princípios que orient am a sua prát ica com o profissional na área da saúde?

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ANÁLI SE E I NTERPRETAÇÃO SI STEMÁTI CA

COMPARATI VA DAS CATEGORI AS

O t rabalho com o realização pessoal e profissional

O processo de hum anização ao com preender, t am b ém , a lóg ica d o t r ab alh ad or, sin aliza p ar a o t r abalh o en qu an t o in st r u m en t o h u m an izador e/ ou desum anizador. As inst it uições, nessa per spect iva, ocupam lugar im port ant e, principalm ent e no sent ido de conhecer o grau de satisfação e/ ou de insatisfação p esso al e p r o f i ssi o n al d o s t r ab al h ad o r es e cr i ar espaços concret os para a expressão da subj et ividade e o desenvolvim ent o do pot encial hum ano.

O Pr ogr am a Nacional de Hum anização dos Serviços de Saúde - PNHSS - ao obj et ivar reduzir as dificuldades encont r adas dur ant e o t r at am ent o dos u su ár ios, p r ocu r a f ocar a at en ção, t am b ém , n os profissionais para o desem penho de seu trabalho com sat isfação/ r ealização e r esponsabilidade social( 4).

É preciso gostar do que se faz. Mas, precisam os levar

em conta a vida particular dos profissionais, problem as de ordem

pessoal, financeira [ ...] . Quando algum a coisa os incom oda, logo

acaba interferindo na satisfação do trabalho ( e1) .

Falar em hum anização, na per spect iva dos trabalhadores, a partir da proposta do governo federal requer dos gestores e profissionais um a reflexão sobre o co n t e x t o r e l a ci o n a l i n t e r n o e e x t e r n o d a or ganização. A sat isfação e r ealização no t r abalho com preendem , então, um conj unto de elem entos que r em et em à p essoa h u m an a - p r of ission al - com o suj eit o do processo( 13).

Com o em pr esa com plex a, o h ospit al dev e p r im ar p or u m a or g an ização est r u t u r ad a, eq u ip e diretiva dinâm ica, dem ocrática e com capacidade para com pr eender as pr ofundas m udanças no cam po do desenv olv im ent o. A dir eção hospit alar dev e pr im ar, t a m b é m , p e l o cl i m a d e b o m r e l a ci o n a m e n t o e co n d i çõ e s f a v o r á v e i s p a r a o d e se m p e n h o d a s at iv idades.

É com plicado, porque nem sem pre a gente pode fazer

com o gostaria. Você precisa ter condições para dar um a boa

assistência ao paciente. Penso que o médico não é muito valorizado.

Ele perdeu m uito da sua autonom ia. Acho que deveria ser um a

troca, porque qualificado e satisfeito em todos os sentidos, o

m édico terá condições de atender bem o seu paciente ( e3) .

O pr ocesso de cuidar pr ecisa ocor r er num a relação interativa, num a efetiva troca de inform ações, saberes e int eresses, t endo por base o com prom isso ético estabelecido entre am bos. Nenhum a organização

poderá ser considerada hum anizada se não conhecer t ot alm ent e as necessidades de seus client es, sej am eles internos ou externos, ou, conhecendo- as, ignorá-las. É pr eciso r econhecer que as ex pect at iv as dos client es sem pre geram m elhorias, um a vez que um a m b i e n t e v o l t a d o p a r a a s su a s n e ce ssi d a d e s é din âm ico e est á em con st an t e adequ ação às su as aspir ações. I sso por que suas necessidades m udam da m esm a m aneira que suas expect at ivas de com o essas necessidades serão sat isfeit as( 5).

Mo st r a - se r e l e v a n t e , n e sse p r o ce sso , a criação de am bient e dem ocrát ico e part icipat ivo para o a l ca n ce d o s o b j e t i v o s e m e t a s p e sso a i s e organizacionais. A gest ão part icipat iva, com vist as à r e a l i za çã o e h u m a n i za çã o , co n t e m p l a f o r t e característica social, pelo desenvolvim ento de práticas solidárias nas relações entre os profissionais e clientes. As prát icas em saúde sinalizam para a exist ência de fort e correlação ent re funcionários felizes/ realizados e client es sat isfeit os. Funcionários sat isfeit os com o seu t r ab alh o, p or t an t o, r ef let em n a q u alid ad e d o t r abalho e num feedback posit iv o de seus client es. Em últ im a análise, a hum anização em erge do prazer profissional ao trabalho e, ao m esm o tem po, do clim a organizacional favorável e das adequadas condições de t rabalho. Vale salient ar, t am bém , que, quando as p e sso a s g o st a m d o q u e f a ze m a s p r á t i ca s h u m a n i za d a s e h u m a n i za d o r a s f l u e m n a t u r a l e e sp o n t a n e a m e n t e . Um d i t a d o b u d i st a co n cl u i : “ descubra algo que você gosta de fazer e nunca m ais t erá t rabalho”.

Aliando a com pet ência t écnica e hum ana na prát ica pr ofissional

O desenvolvim ent o const ant e e cont ínuo de co m p et ên ci a p r o f i ssi o n al en v o l v e, n ão ap en as o a p e r f e i ço a m e n t o t é cn i co e a q u i si çã o d e n o v a s t ecnologias, m as, pr incipalm ent e, a capacidade de m o b i l i za r, a r t i cu l a r e co l o ca r e m a çã o v a l o r e s, co n h eci m en t o s e h ab i l i d ad es n ecessár i o s p ar a o d e se m p e n h o e f i ci e n t e e e f i ca z d e a t i v i d a d e s requeridas pela nat ureza do t rabalho( 14).

O respeito com o paciente é fundam ental e ali está a

necessidade de atualização perm anente ( e4) .

(6)

“ r ep r esen t ações d a r ealid ad e q u e con st r u ím os e ar m azenam os ao sabor de nossa ex per iência e de nossa for m ação”. As ações hum anas, “ quant o m ais com plex as, abst r at as, m ediat izadas por t ecnologias e apoiadas em m odelos sistêm icos da realidade, m ais co n h e ci m e n t o s a p r o f u n d a d o s, a v a n ça d o s, or ganizados e confiáveis ex igem ”. Mas não bast a o co n h e ci m e n t o p a r a q u e a s co m p e t ê n ci a s se m a n i f e st e m e m a çõ e s, é p r e ci so q u e e sse s conhecim entos sej am utilizados para “ pôr em relação”, ou sej a, par a “ j ulgar sua per t inência em r elação à situação e m obilizá- los com discernim ento”, é a “ arte da execução”( 15).

Os valores não vêm com o diplom a. A faculdade traz a

técnica, j á os valores são um a construção da vida ( e5) .

Pode- se dizer, en t ão, qu e ser com pet en t e im plica saber o que fazer em cada sit uação concret a e p r e ssu p õ e u m j u ízo so b r e a si t u a çã o e u m a in t en cion alidade de ação. Requ er u m con j u n t o de sa b e r e s, m a s n ã o se r e d u z a e sse co n j u n t o . O profissional que at ua de form a com pet ent e é aquele q u e f u n d a m e n t a su a p r á t i ca e m co m p e t ê n ci a s cognit iv as, t écnicas e com unicacionais. I st o é, um conj unt o de car act er íst icas que env olv em aquisição de conhecim ent os t écnicos sólidos e at ualizados, o desenvolvim ento de valores hum anistas, um a postura é t i ca r e sp o n sá v e l , a t i t u d e d e a p r e n d i za g e m cont inuada, além de capacidade de agir per ant e o i n e sp e r a d o e d e t r a b a l h a r e m e q u i p e m ult iprofissional( 16).

O r e sp e i t o p e l a v i d a , o co m p r o m e t i m e n t o e ,

principalm ente, o trabalho em equipe são hoje, para m im , grandes

valores. [ ...] na equipe cada um tem o seu j eito, a sua postura, o

seu m odo de trabalhar. A gente precisa aprender a olhar com os

olhos do outro ( e8) .

Entendo que é preciso aliar o humano à técnica. A técnica

sem pre foi e será fundam ental no processo de cura dos pacientes,

m as, precisam os com preender que ela não é tudo ( e4 e e12) .

É p o ssív e l a l i a r co m p e t ê n ci a t é cn i ca e hum anização, à m edida que o desenvolvim ent o das ci ên ci a s e su a a p l i ca b i l i d a d e n o cu i d a d o à v i d a hum ana carregam consigo a responsabilidade social por um a com pr eensão m ais am pla do que sej a um at endim ent o profissional qualificado e hum anizado.

É preciso t rat ar o pacient e com o se fosse o nosso

fam iliar. Percebo que os internos, m uitas vezes, tratam o paciente

com o obj eto [ ...] . Deveríam os estabelecer um a relação fam iliar

m édico- paciente. Na hora da visita, costum o perder tem po com

os fam iliares. Penso que a orientação é fundam ental para que

sintam m ais segurança. Às vezes, os fam iliares até perguntam :

‘doutora com o é o seu nom e?’. O fam iliar percebe o sorriso e a

sensibilidade do profissional. Não é só o rem édio e o m édico que

curam o paciente (e6).

Am bien t e h ospit alar h u m an izado é aqu ele que, em sua est rut ura física, t ecnológica, hum ana e adm inist rat iva, valoriza e respeit a a pessoa hum ana, co l o ca n d o - se a ser v i ço d el a , g a r a n t i n d o - l h e u m at endim ent o de elevada qualidade( 17- 18).

O r esgat e dos v alor es hum anos, ist o é, da h u m an id ad e com o essên cia d o ser h u m an o, n ão decor r e do t r abalho m ecanizado e r ot inizado, m as a t r a v é s d o t r a b a l h o co m o r e a l i za çã o p e sso a l / profissional, da com pet ência t écnica e hum ana e da v iv ên cia d o cu id ad o h u m an izad o en q u an t o p r áx is inovadora e t ransform adora das relações e condições dos sist em as de produção.

Para m im , o respeito com o paciente é um a atitude

f u n d a m e n t a l e a l i e st á a n e ce ssi d a d e d a a t u a l i za çã o

perm anente[ ...] . Pensando bem , a ética, a responsabilidade e o

respeito são os valores m ais fortes ( e10) .

Para m im o valor tem tudo a ver com a educação que

trazem os de berço. O valor não vem com o diplom a. A faculdade

t raz a t écnica. Os valores hum anos são um a const rução da vida.

Os valores vêm do bom caráter. Quem pensa só na técnica visa

apenas interesses econôm icos ( e8) .

Com petência técnica e hum ana na prática dos pr ofissionais não se lim it a, ent ão, ao at endim ent o com o um a prática que se dá, apenas, do profissional para o paciente, de form a verticalizada e paternalista. Com preende, ao cont rário, que t odos são suj eit os e dest inat ários de cuidado nas m ais diferent es form as e expressões. Assim com o o pacient e, o profissional é u m se r h u m a n o ú n i co e , co m o t a l , d e m a n d a valorização e reconhecim ent o de suas necessidades e atenção para ter condições de desenvolver o cuidado h u m an izad o n as p r át icas d e saú d e. Nas p r át icas gerenciais e assist enciais hum anit árias, o profissional se per m it e ser hum ano, sent ir - se em r elação com u m OUTRO, t a m b ém h u m a n o , m a n i f est a r a su a sen sib ilid ad e, cr iar em p at ia, est ab elecer r elação suj eit o/ suj eit o e, dessa form a, t ornar o cuidado um a prát ica hum anizant e e hum anizadora( 13).

Vivenciando o cuidado hum anizado

(7)

hum anizado com eça quando o profissional ent ra no cam po fenom enal do pacient e e é capaz de det ect ar, sen t i r e i n t er a g i r co m el e, o u sej a , é ca p a z d e est a b el ecer u m a r el a çã o em p á t i ca , cen t r a n d o a at enção no client e e no am bient e par a per ceber a experiência do out ro e com o ele a vivencia( 18).

Esse cuidado com preende, além do paciente, t am bém os profissionais envolvidos no processo.

Eu penso que o valor da pessoa hum ana, j á é um valor

por si só [ ...] , o valor do paciente e tam bém dos profissionais. A

h u m an ização d esp er t ou u m a n ov a at it u d e n as p essoas,

especialm ente, no m odo de chegar m ais próxim o ao outro, de ser

sensível ao outro ( e6) .

Logo, o cuidado hum anizado é um processo vivencial que perm eia o ser e fazer dos profissionais nas diferent es expressões, dim ensões e int erações.

Eu a p r e n d i m u i t o . O r e sp e i t o p e l a v i d a , o

com prom etim ento e o trabalho em equipe são, hoj e, para m im

grandes valores. Aprendi que na equipe cada um tem o seu j eito,

a sua postura e o seu m odo de cuidar. A gente precisa aprender a

olhar com os olhos do outro. Quando com preendo este processo,

parece que tudo na volta fica m elhor. Entendo que a equipe deve

ser um todo, m as o todo em todas as áreas ( e11, e15, e16) .

Co m p r e e n d e r e v i v e n ci a r o cu i d a d o hum anizado, nessa per spect iva, inclui não som ent e at r ibuições t écnicas e/ ou um a r elação v er t icalizada profissional- pacient e, m as a capacidade de perceber e a co l h e r o se r h u m a n o e m su a s d i f e r e n t e s dim ensões, int erações e com preender a form a com o desenvolve a sua ident idade e const rói a sua própria hist ória de vida. Ao cuidar, o profissional deve est ar p r esen t e p or in t eir o, d ar t u d o d e si, p r est ig iar a ex per iên cia e os con h ecim en t os do ou t r o, qu an do est iv er p r est an d o o cu id ad o. Se su a at u ação f or en car ada apen as com o obr igação e n ão com o u m com prom isso social, não sentirá incentivo, nem paixão pelo que est á fazendo( 5).

Qu an do a gen t e m odifica o m odo de ser , acaba

m odificando tam bém os outros. Com o trabalho de hum anização,

conseguim os passar para os outros a im portância das pequenas

expressões de cuidado. A hum anização fez a gente pensar m ais.

É que est as quest ões nunca for am t r abalhadas, v ocê agia

isoladam ente, m ecanicam ente, sem pensar. A hum anização j á

existia no hospital, só que cada um fazia do seu j eito e trabalhava

de forma muito isolada. A humanização veio como um ‘chamamento’

para um a integração m aior (e12, e13, e14).

Par t indo de v iv ências r eais e concr et as, os p a r t i ci p a n t e s d a p e sq u i sa si n a l i za r a m p a r a a im port ância do processo de hum anização hospit alar enquant o pr opost a inov ador a e t r ansfor m ador a das

relações e condições de trabalho. Dem onstraram , nas f alas, o poder da in f lu ên cia de at it u des pessoais/ pr ofissionais posit iv as na dinam ização, m obilização e pot encialização das prát icas de cuidado. A vivência d o cu i d a d o h u m a n i za d o r e f o r ça a co m p r o m i sso p essoal e col et i v o n a con cr et i zação d e p r át i cas, ca p a ze s d e r e sg a t a r a d i m e n sã o h u m a n a n o s difer ent es espaços e ex pr essões.

O p r of ission al se m ov im en t a n os esp aços o r g a n i za ci o n a i s, co n st r u i n d o o p o r t u n i d a d e s d e r elações e v iv enciando o cuidado na or dem do seu p o t en ci a l p a r a a d em a r ca çã o e u t i l i za çã o d esse espaço, ist o é, de dependência e int er dependência, de pert encim ent o e privacidade( 6).

Assi m , o cu i d ad o h u m an i zad o , en q u an t o essência da vida, perpassa, nessa perspect iva, desde os pequenos atos do pensar, do ser, do fazer e até a configuração de um processo de cuidar que envolve t ant o o ser cuidado quant o o profissional que cuida. Nã o i m p o r t a m , n esse m o m en t o , o s si g n i f i ca d o s a t r i b u íd o s a o cu i d a d o . I m p o r t a q u e o cu i d a d o h u m an izad o p r im a p ela essên cia d o ser h u m an o enquant o um ser único, indivisível, aut ônom o e com liberdade de escolha, ist o é, na com preensão do ser hum ano enquant o um ser int egral.

CONSTRUÇÃO DO MODELO TEÓRI CO

A const r ução do m odelo t eór ico ex plicat iv o do fenôm eno do est udo procura est abelecer relação ent re as cat egorias, a part ir das condições causais, as condições intervenientes, o contexto, as estratégias d e ação e in t er ação e as con seq ü ên cias con t id as nessas cat egorias, t endo em vist a a ident ificação da idéia cent ral( 11).

Ao t en t ar r ep r esen t ar u m m od elo t eór ico explicativo acerca dos valores e princípios que balizam a h u m a n i za çã o n o ce n á r i o d a sa ú d e , b u sca - se identificar a dinam icidade e com plexidade do processo de hum anização, expressos nas categorias: o trabalho co m o r e a l i za çã o p e sso a l / p r o f i ssi o n a l , a l i a n d o co m p e t ê n ci a t é cn i ca e h u m a n a n a p r á t i ca d o s profissionais e vivenciando o cuidado hum anizado.

(8)

dinâm ico e sist em at izado, det er m inado pela busca incessante de valores e princípios éticos e socialm ente r esponsáv eis com a dignidade da pessoa hum ana. Ao buscarem a int egração profissional e o crescent e a p r o f u n d a m e n t o d a s co m p e t ê n ci a s h u m a n a s e relacionais, os profissionais da saúde contribuem para o d e se n v o l v i m e n t o d e n o v a s co m p e t ê n ci a s q u e in cor p or em t an t o os v alor es h u m an os q u an t o os valores t écnico- cient íficos, ou sej a, a inclusão do ser hum ano nos pr ocessos cient íficos e a possibilidade de conv iv ência e de enfr ent am ent o de um a lógica disciplinar fr agm ent ada.

Assim , os profissionais est ão: hum anizando o cuidado pela valorização do ser hum ano, enquant o expressão da hum anização hospitalar. Ao redor desse t em a cen t r al est ão as cat eg o r i as q u e f o r m am o m odelo t eórico represent ado na Figura 1.

Em sín t ese, os p r of ission ais d a saú d e d a instituição estudada vivenciam o cuidado hum anizado, aliando a com petência técnica e hum ana e se realizando pessoal e profissionalm ente num processo dinâm ico e cont ínuo de cuidar valorizando o ser hum ano. Seus v alor es e pr incípios ex per ienciados nas r elações de cuidado lhes possibilitam estar hum anizando o cuidado pela valorização do ser hum ano.

CONSI DERAÇÕES FI NAI S

Os p a r t i ci p a n t es d o est u d o , n a m a i o r i a , associar am os v alor es que nor t eiam a sua pr át ica profissional, priorit ariam ent e, à hum anização. Valores e p r i n cíp i o s v o l t a d o s a o r e sp e i t o , d i g n i d a d e , v a l o r i za çã o p r o p r i a m e n t e d i t a d o se r h u m a n o . Ent endem que os valores podem ser re- significados, ou sej a, trabalhados e internalizados à m edida que a p e sso a se d i sp õ e o u se p r o p õ e a o p r o ce sso d e t r ansfor m ação e socialização pessoal/ pr ofissional.

Logo, os v alor es hum anizados r epr esent am u m p r ocesso p essoal in t er n o, est im u lad o p or u m espaço de reflexão, confront o e m obilização colet iva, capaz de com pr eender as par t es no t odo e o t odo nas part es, ou sej a, est im ulado por um processo de hum anização par t icipat iv o.

Os int egrant es sinalizaram , t am bém , para a im port ância do processo de hum anização hospit alar enquant o pr opost a inov ador a e t r ansfor m ador a das r elações e con dições de t r abalh o. Dem on st r ar am , ainda, o poder da influência de atitudes pessoais e/ ou profissionais posit ivas, na dinam ização e m obilização de práticas transform adoras da realidade. Os valores, n esse sen t ido, r efor çam o com pr om isso pessoal e colet iv o n a con cr et ização de pr át icas, capazes de resgatar a dim ensão hum ana nas diferentes situações. Em su m a , a h u m a n i za çã o r e q u e r u m processo reflexivo acerca dos valores e princípios que nor t eiam a pr át ica pr ofissional, pr essupondo, além d e t r a t a m e n t o e cu i d a d o d i g n o s, so l i d á r i o s e acolhedores por part e dos profissionais da saúde ao seu principal obj eto/ suj eito de trabalho - o ser hum ano doent e/ ser fragilizado - , um a nova post ura ét ica que perm eie t odas as at ividades profissionais e processos de t rabalho inst it ucionais.

Est e e st u d o m o st r o u q u e é p o ssív e l d e se n v o l v e r n o v a s co m p e t ê n ci a s, ca p a ze s d e provocar um a re- significação dos valores e princípios que balizam a hum anização, visando o trabalho com o r ealização pessoal/ pr ofissional, aliando com pet ência t écn ica e h u m an a n a p r át ica d os p r of ission ais e vivenciando o cuidado hum anizado.

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Figu r a 1 - Modelo t eór ico con st r u ído a par t ir das cat egorias que em ergiram das falas dos part icipant es

REFERÊNCI AS BI BLI OGRÁFI CAS

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Referências

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