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A efetividade da atuação do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro na sustação de ato e/ou contrato: a perspectiva dos stakeholders

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CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A EFETIVIDADE DA ATUAÇÃO DO TRIBUNAL DE

CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO NA

SUSTAÇÃO DE ATO E/OU CONTRATOrA

PERSPECTIVA DOS STAKEHOLDERS.

Dissertação apresentada à Escola Brasileira de Administração

Pública e de Empresas para obtenção do grau de Mestre

CLÁUDIO BENEDITO DA FONSECA ALVES

(2)

CENTRO

DE

FORMAÇÃO

ACADÊMICA

E PESQUISA

CURSO

DE

MESTRADO

EM

ADMINISTRAÇÃO

PÚBLICA

TÍTULO

A EFETIVIDADE DA ATUAÇÃO DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO NO ATO DA SUSTAÇAO DE ATO E/OU CONTRATO: A PERSPECTIVA DOS

STAKEHOLDERS

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR:

CLÁUDIO

BENEDITO

DA

FONSECA

ALVES

E

APROVADO EM / /

PELA

COMISSÃO

EXAMINADORA

VICENTE RICCiq

Doutor em Sociovog:

LUÍS CÉSAR G. ARAÚJO

Doutor em Administração

JANÁJRVA DE MENDONÇA FERNANDES

(3)

CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A EFETIVIDADE

DA

ATUAÇÃO

DO

TRIBUNAL

DE

CONTAS

DO

ESTADO

DO

RIO

DE

JANEIRO

NA

SUSTAÇAO

DE

ATO

E/OU

CONTRATO:

A PERSPECTIVA

DOS

STAKEHOLDERS

DISSERTAÇÃO

APRESENTADA

À

ESCOLA

BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

E DE EMPRESAS PARA OBTENÇÃO DO

GRAU DE MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO

PÚBLICA

CLÁUDIO

BENEDITO

DA

FONSECA

ALVES

Rio de Janeiro

(4)
(5)

elaboração deste trabalho.

Aos amigos e colegas pelo apoio ofertado durante todo o curso.

Ao orientador, Professor Doutor Vicente Riccio e à Professora Doutora Deborah

Moraes Zouain, pela compreensão diante das minhas dificuldades na realização

(6)
(7)

O objeto desta dissertação é identificar a percepção dos stakeholders acerca da

ação organizacional empreendida pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio de

Janeiro - TCERJ, no exercício de uma de suas competências institucionais, sustação

da execução de ato e/ou de contrato, complementadas por um estudo de caso.

Identificando, a partir das contribuições dos stakeholders, eventuais deficiências e

potenciais correções na atuação do órgão estatal no exercício da competência em

destaque.

Palavras-chave: Tribunal de Contas, sustação, execução, ato, contrato, percepção,

(8)

The object of this dissertation is to identify the perception of stakeholders related to

the organizational action taken by the Account Court of Rio de Janeiro State - TCERJ

- in the use of one of his institutional responsibilities, interruption of the

implementation of act and/or contract, plus a case study. Identifying, from the

contribution of stakeholders, possible deficiencies and potential fixes in the

performance of the state agency in exercising jurisdiction in focus.

Keywords: Account Court, interruption, performing, act, contract, perception,

(9)

Quadro

1 - Respostas

estratégicas

aos processos

institucionais

48

(10)

Companhia das Docas do Estado da Bahia - CODEBA

Conselho Federal Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia - CONFEA

Conselho Federal de Contabilidade - CFC

Constituição da República Federativa Brasileira de 1998 - CRFB

Constituição do Estado do Rio de Janeiro - CERJ

Coordenadoria de Auditoria de Obras e Serviços de Engenharia Municipal - CAM

Coordenadoria de Controle e Desenvolvimento - CAD

Coordenadoria de Estudos e Análises Técnicas - CEA

International Organization of Supreme Audit Institutions - INTOSAI

Lei Orgânica do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro - LOTCERJ

Regimento Interno do Tribunal de Contas - RITCERJ

Ministério Público Especial - MPE

Ordem dos Advogados do Brasil - OAB

Organização Internacional de Entidades Fiscalizadoras Superiores - OIEFS

Sistema de Controle e Acompanhamento de Processos - SCAP

Subsecretária de Controle Municipal - SUM

Subsecretária Geral de Controle Externo - SGE

Supremo Tribunal Federal - STF

Tribunal de Contas da União - TCU

Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro - TCERJ

(11)

INTRODUÇÃO

11

1.COMPETÊNCIAS

E ATRIBUIÇÕES

DO

TCERJ

!.".17

1.1.Apresentação 17

1.2. Metodologia 22

1.2.1. Objetivo Final 22

1.2.2. Objetivos Intermediários 22

1.2.3. Delimitação e relevância do estudo 23

1.2.4. Tipo de pesquisa 25

1.2.5. Universo e amostra 26

1.2.6. Seleção dos sujeitos e coleta de dados 26

1.2.7. Tratamento de dados 27

1.2.8. Limitações do método 27

2.

ASPECTOS

RELACIONADOS

À

AÇÃO

DO

TRIBUNAL

DE

CONTAS

DO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO 29

2.1. Breve histórico acerca da criação das Cortes de Contas 29

2.2. Competências Constitucionais - arts. 70 e 71 da CRFB e art. 123 da

Constituição Estadual do Estado do Rio de Janeiro 33

2.3. Tribunal de contas e accountability. 35

2.3.1. Preliminares 35

2.3.2. Accountability Vertical 37

2.3.3. Accountability horizontal 39

2.3.4. Accountability social 40

2.4. Tribunal de contas e o conceito de efetividade 43

2.5. Tribunal de Contas e processos de institucionalização 48

2.5.1. Conceito de Institucionalização 48

2.5.2. Isoformismo coercitivo, mimético e normativo 50

2.5.3. Reações estratégicas à conformidade organizacional 53

3. ESTUDO

DE

CASO

E ANÁLISE

DAS

ENTREVISTAS

55

3.1. Estudo do caso 55

3.1.1. Fundamentos isomórficos das ações plenárias 59

3.1.2. Reações estratégicas dos jurisdicionados 63

3.2. Análise de entrevistas 65

3.2.1. Características dos entrevistados 66

3.2.2. Conceito de efetividade 67

3.2.3. Efetividade da atuação do TCERJ 68

3.2.4. Aspectos relevantes da atuação do TCERJ 69

3.2.5. Sugestões apresentadas 73

3.2.5.1. Obstáculos à implementação das sugestões 75

3.2.5.2. Facilitadores da implementação das sugestões 77

(12)

INTRODUÇÃO

A introdução contextualiza o Tribunal de Contas do Estado do Rio de

Janeiro - TCERJ -, e suas competências institucionais, com destaque para objeto de

estudo desta dissertação, a saber: como é percebida pelos stakeholders (atores

relevantes) a efetividade da atuação do TCERJ, no exercício da competência

institucional, constitucionalmente fixada, que lhe permite determinar a sustação da

execução de ato ou de contrato.

Assim, examinamos a maneira pela qual a ação organizacional é

percebida pelos atores relevantes, analisando os fatores destacados por estes como

determinantes desta atuação. Destacamos ainda algumas influências, sempre na

visão dos atores relevantes (internos e externos), que motivariam alterações das

estruturas, dos padrões e dos procedimentos organizacionais do Tribunal de Contas,

neste caso específico.

Em síntese, sob as lentes do tema, a Carta Maior orienta o controle

exercido pelo TCERJ, outorgando-lhe o poder de, dentre outras competências,

apreciar e julgar contas das entidades públicas; verificar a conformidade legal dos

atos de admissão de pessoal pela administração pública, bem como da concessão

de aposentadorias e pensões; realizar inspeções e auditorias de natureza: contábil,

financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, para apuração de eventuais

ilegalidades na administração pública. Também cabe aos Tribunais de Contas

aplicar sanções administrativas aos agentes públicos, tais como: multas em

decorrência de atos irregulares e multas proporcionais ao dano causado ao erário;

determinar ao órgão público a correção de ilegalidade cometida, indicando o prazo

correspondente para implementação da determinação.

A pesquisa de campo, realizada por intermédio das entrevistas com

servidores do TCERJ e com funcionários de órgãos municipais jurisdicionados à

organização, permitiu que fossem conhecidas, e analisadas, as impressões dos

entrevistados acerca do tema sob exame, bem como suas propostas de

aprimoramento, e suas perspectivas sobre obstáculos e facilitadores para a

(13)

No caso sob exame neste trabalho, somente trabalharemos com grupos e

pessoas que possuam interesses primários na atuação do Tribunal de Contas do

Estado do Rio de Janeiro - TCERJ, atuando diretamente no processo decisório da

ação organizacional em destaque, como por exemplo: servidores do TCERJ

envolvidos diretamente no exercício do controle externo (técnicos dos órgãos

internos do TCERJ, assessoria de Conselheiros), membros do TCERJ

(Conselheiros), membros do Ministério Público Especial (Procuradores), servidores

municipais encarregados da assessoria do Executivo (Controle Interno,

Procuradoria, Comissão Permanente de Licitação), Chefes de Poderes Executivos

de municípios, dirigentes de órgãos da administração indireta (estados e

municípios).

À visão

expressa

pelos

entrevistados

foi

acrescentada

uma

perspectiva

macro, institucional, a partir de um estudo de caso, utilizando caso específico

selecionado mediante consulta ao Sistema de Controle e Acompanhamento de

Processos

- SCAP1,

abrangendo

o período

compreendido

entre

01

de

janeiro

de

2003 a 31 de agosto de 2008,.

O estudo de caso, que complementa este trabalho tem como base a

análise do processo TCERJ n° 108.425-9/03, inspeção especial destinada ao

acompanhamento da execução do Contrato n° 14/01, relativo à realização de obras

de saneamento básico e urbanização integrada do bairro de Coelho da Rocha, no

município de São João de Meriti, pertencente a 2a Fase do Programa Nova Baixada.

O processo supracitado foi selecionado em vista de ser um dos primeiros

em que o TCERJ determinou concretamente a sustação da execução de um

contrato, aplicando efetivamente o dispositivo legal em destaque Havia outros

processos, relacionados à execução de contratos relativos a parcelas diversas ao

mesmo objeto, merecendo solução idêntica ao que será apresentado adiante. Dessa

maneira, optamos por estudar um único processo, no qual são reproduzidas diversas

manifestações de organizações que compõem o campo organizacional do TCERJ,

relevantes ao nosso estudo.

Ferramenta de informática interna que permite consultar os votos dos processos arquivados

(14)

A relevância do estudo empreendido nesta dissertação repousa na

crescente repercussão que temas como: combate à corrupção, eficácia da gestão e

da aplicação dos recursos púbicos têm conseguido despertar na sociedade

ultimamente. Vários casos recentes, a seguir lembrados, têm afirmado a importância

de maior controle das receitas e despesas públicas.

A pesquisa é relevante socialmente, pois a sociedade seria diretamente

favorecida por eventuais benefícios, decorrentes do estudo aqui levado adiante, vez

que se intenta contribuir para o aprimoramento do combate à corrupção e para a

redução do desperdício na aplicação e gestão dos recursos públicos.

Em relação ao Tribunal de Contas, o estudo também pode repercutir de

maneira favorável, garantindo a manutenção de sua legitimidade ante a sociedade e

permitindo a continuidade de sua existência, objetivo de qualquer organização, o

que poderia garantir, talvez, o aporte de uma maior quantidade de recursos públicos

(que são disputados, e não somente por organizações públicas) para exercício de

suas atividades.

A importância do combate à corrupção é tema relevante em todos os

pontos do globo, face à luz que recentemente tem sido lançada sobre as relações

espúrias existentes entre diversos governos e as organizações privadas, pois a

corrupção é fenômeno não restrito a determinado país, ou nacionalidade. Exemplos

comprobatórios de tal assertiva são facilmente identificáveis em escândalos recentes

veiculados na imprensa nacional e internacional.

Assim, o favorecimento de empresas norte-americanas na reconstrução

do Iraque, direcionou as melhores parcelas para empresas norte-americanas,

contemplando empresas ligadas aos altos escalões do governo Bush. À época, o

jornal The New York Times noticiou que auditores do Pentágono descobriram

pagamentos indevidos superiores a 250 milhões de dólares pagos à firma

HALLIBURTON, ligada ao vice-presidente Cheney, por serviços prestados no Iraque.

Na Itália, são notórias as relações entre governo, construtoras e empresas

(15)

apontado no livro Gomorra do jornalista Roberto Saviano, bem como as estreitas

ligações evidenciadas com vários governos, e empresas, da Europa, da Ásia e das

Américas, que possibilitaram a perpetração de lesões ao meio-ambiente, ao erário, à

dignidade da pessoa humana, com beneplácito dos governos dos Estados

envolvidos.

O escândalo da falência da ENRON, gigante do setor de energia, que, no

Brasil, chegou a dispor de ativos que atingiam US$ 4 bilhões, atuando em vários

países

da América

Latina,

evidenciou

graves

manipulações

financeiras

e contábeis,

sob

o olhar

complacente

dos

órgãos

de

controle

do

governo

norte-americano.

A

falência

precedeu

à quebra

das

grandes

financeiras,

desencadeadoras

da

atual

crise

sistêmica mundial, que mais uma vez evidenciou a ductilidade da atuação dos

órgãos estatais que deveriam fiscalizar tais organizações .

No Brasil, a notícia ainda hoje atual é relacionada à suposta influência

desfrutada pelo empresário Daniel Dantas nas três esferas da República, o que lhe

teria garantido facilidades indevidas em seus empreendimentos, e julgamentos.

Dos exemplos apresentados, nota-se que existe um perdedor evidente

nesses conluios: a sociedade, pois existe uma plêiade de resultados que atingem o

erário

público

e ao

bem-comum,

relacionados

não

aos

casos

citados:

sonegação

de

impostos,

atividades

ilegais,

contratações

superfaturadas,

obras

(serviços)

inacabadas

e/ou

de

baixa

qualidade,

obras

(serviços)

não

realizados,

corrupção

ativa e passiva, entre tantos eventos lesivos resultantes da leniente ação estatal.

O sistema de Corte de Contas no Brasil foi estruturado de forma a reduzir

(amenizar) a corrupção e o desperdício de dinheiros públicos, sendo que a doutrina

recentemente admitiu que a gestão pública adequada dos recursos públicos está

contida nos direitos do cidadão, especificamente no direito à boa administração, o

que demanda uma atuação regida pelos princípios da administração pública, tal

como plasmado no caput do artigo 37 da CRFB: legalidade, impessoalidade,

(16)

Dessa maneira, de certa forma, a presente dissertação é um esforço de

aprimoramento do órgão estatal, permitindo que sua atuação seja mais condizente

com os anseios sociais contemporâneos.

A pesquisa aqui exposta teve início com a revisão da literatura sobre o

tema. Assim, a partir da pesquisa bibliográfica inicial, utilizamos o material disponível

em livros, em dissertações de mestrados, em artigos científicos, em publicações de

periódicos, em jornais especializados e em páginas da internei que tratam deste

tema.

A seguir foi empreendida pesquisa documental no TCERJ, que consistiu

em analisar decisões do TCERJ que houvessem sido prolatadas com determinação

de

sustação

da

execução

de

ato

e/ou

de

contrato,

durante

o período

compreendido

entre 2003 e 2008, com utilização do SCAP, o permitiu a seleção do processo

utilizado no estudo de caso.

Finalmente, realizamos a pesquisa de campo com atores relevantes

internos,

e externos,

ao

TCERJ,

com

experiência

na

elaboração

e fiscalização

de

atos e de contratos que ensejam à atuação do TCERJ, nos termos da competência

objeto desse estudo. A coleta de dados teve como instrumento a realização de

entrevistas semi-estruturadas e, concomitantemente, o estudo de caso, utilizando-se

processo relacionado à inspeção especial.

Em relação à estrutura interna desta dissertação, na introdução do

trabalho é feita a contextualização do tema, apresentando o objeto sob exame, os

objetivos intentados pela pesquisa, bem como destacando a relevância do tema e a

metodologia utilizada. O trabalho segue estruturado em mais dois capítulos,

sintetizados adiante.

O segundo capítulo apresenta relato da criação das Corte de Contas no

Brasil, em especial o TCERJ; expõe a disciplina fixada no texto constitucional acerca

das

competências

objeto

desta

dissertação;

relaciona

a

atuação

institucional

exercida pelo TCERJ com o conceito de accountability, em seus vários matizes

(17)

trabalho, identifica possíveis relações de processos organizacionais do TCERJ com

processos de institucionalização, bem com possíveis reações a tais processos.

O terceiro, e último capitulo, é destinado ao estudo de caso e a análise

das entrevistas resultantes da pesquisa de campo realizada com stakeholders

internos e externos.

A conclusão apresenta os resultados da pesquisa, nossa avaliação das

entrevistas realizadas e do estudo de caso apresentado, explicitando que a atuação

(18)

1.

COMPETÊNCIAS

E ATRIBUIÇÕES

DO

TCERJ

1.1. Apresentação

Entre

tantas

e variegadas

competências2,

a Constituição

da

República

Federativa Brasileira de 1998 - CRFB -, denominada Constituição Cidadã por Ulisses

Guimarães, atribuiu ao Tribunal de Contas da União - TCU, e por simetria

constitucional às demais Cortes de Contas, a competência objeto deste trabalho:

determinar a sustação do ato administrativo impugnado, caso não esteja em

conformidade com os preceitos legais e/ou com os princípios balizadores da atuação

da administração pública, por intermédio do devido processo legal, de competência

do Tribunal de Contas, com a necessária comunicação do ato de sustação à Câmara

dos Deputados e ao Senado Federal. No caso de impugnação de contrato, se o

Poder Legislativo, ou o Poder Executivo, não adotar as medidas cabíveis caberá ao

Tribunal

de

Contas

decidira

questão3.

Finalmente,

compete

aos

Tribunais

de

Contas

representar ao Poder competente acerca das irregularidades ou abusos apurados.

As

competências4

concedidas

constitucionalmente

ao

TCU

estão

expressas no art. 71 da CRFB, do qual destacamos especialmente aquelas que são

objeto deste estudo e as diretamente relacionadas essas competências:

Art. 71

IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências

necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;

X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a

decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;

XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos

apurados.

2 Britto (2005, p. 67-8), Ministro do STF, distingue atribuições e competências As primeiras seriam

prerrogativas. As segundas são "[...] poderes instrumentais àquela função [controle interno]"

Existem divergências doutrinárias, em relação ao alcance e à extensão dessa competência. Em

especial, acerca dos procedimentos que os Tribunais podem adotar e qual o nível de exigência que

suas decisões podem alcançar. Tais controvérsias, apesar de influenciarem a ação organizacional,

pois constituem o marco legal que baliza a atuação das Cortes de Contas, não fazem parte do

escopo deste trabalho.

4 Por simetria constitucional, as mesmas competências integram o rol daquelas outorgadas às Cortes

de Contas Estaduais e às Municipais. No âmbito do TCERJ, a previsão está posta na Constituição do

(19)

§ 1o - No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pelo

Congresso Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as

medidas cabíveis.

§ 2o - Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de noventa

dias, não efetivar as medidas previstas no parágrafo anterior, o Tribunal

decidirá a respeito.

Sem prejuízo da análise de economicidade, de moralidade, de

legitimidade, entre outras possibilidades de avaliação, o inciso IX, do art. 71 da

CRFB5

estabelece

a possibilidade

de

o TCU

determinar,

aos

órgãos

jurisdicionados,

a adoção de procedimentos necessários à adequação do ato, ou do contrato, aos

dispositivos legais. Caso não seja atendido, pode determinar a sustação do ato e/ou

do contrato (inciso X), solicitando providências ao Poder Legislativo, no caso de

contrato oriundo do Poder Executivo (§1°), se ainda assim não for atendido, decide a

situação6.

Quando

o ato

e/ou

contrato

decorre

diretamente

ao

Poder

Legislativo,

logicamente tal fase do procedimento é suprimida (inciso XI do artigo supracitado).

A atuação dos Tribunais de Contas tem adquirido crescente relevância

desde o advento da Constituição Federal de 1988, o que os têm motivado a

empreender alterações estruturais, ainda tímidas, implicando em modificações em

seus procedimentos e em suas ações organizacionais, o que pode ser considerado

como reflexo da reestruturação capitalista ocorrida durante as últimas décadas, que

tem motivado a passagem de um modelo similar ao de produção em série,

consagrado por Henry Ford, de forma hierarquizada, com sistema de poder

distribuído ao longo da cadeia hierárquica do poder decisório, ainda predominante

nas

organizações

públicas7.

Mais uma vez, trata-se de campo controverso no âmbito jurídico, relativo à natureza dessas

competências. Alguns atribuem ao poder geral de cautela, em símile ao previsto no Código de

Processo Civil, como fundamento de tal competência. Outros consideram que é similar ao Termo de

Ajuste de Conduta de competência do Ministério Público

Não existe consenso acerca da possibilidade de o Poder Legislativo desconsiderar as

determinações das Cortes de Contas e decidir manifestar-se pela regularidade do ato impugnado.

No TCERJ, as decisões são centralizadas no Plenário, sob o comando do Presidente da Casa. No

âmbito municipal existem vários níveis de "gerência" e supervisão até o final do processo decisório.

Assim, grosso modo, autuado o processo, este é encaminhado às inspetorias municipais, passando

por uma primeira revisão na Subsecretária de Controle Municipal - SUM -, seguindo para uma

segunda revisão na Subsecretária Geral de Controle Externo - SGE -, passando por coordenadorias

especializadas (por exemplo: Coordenadoria de Estudos e Análises Técnicas - CEA -, Coordenadoria

de Auditoria de Obras e Serviços de Engenharia Municipal - CAM -, Coordenadoria de Controle e

Desenvolvimento - CAD), se necessário. Após o que é direcionado ao Ministério Público Especial

-MPE, que se pronuncia acerca da instrução, sendo então sorteado um dos Conselheiros para

(20)

Segundo Vieira e Vieira (2004), no momento histórico atual, nossa

sociedade é a sociedade da informação e do conhecimento, em que a organização

encontra seu fundamento de legitimação na tecnologia, produto do conhecimento e

instrumento da prática do conhecimento. Tal mudança de paradigma representaria

uma alteração dos padrões até então vigentes e determinaria uma ruptura com o

modelo

burocrático

de

gestão8.

Assim,

estaríamos

vivenciando

uma

transição

de

um

período tempo burocrático para um pós-burocrático. No entanto, principalmente em

decorrência de padrões culturais arraigados, as organizações públicas têm

respondido muito lentamente as transformações sociais ocorridas, retardando as

mudanças de estruturas e a transição das práticas burocráticas para as

pós-burocráticas, pois, segundo tal diagnóstico:

"No setor público, a variável "estrutura organizacional" apresenta um nível

de potencialidade fraco [...] modelos organizacionais pouco flexíveis,

extremamente fragmentados do ponto de vista burocrático e com excesso

de normas na movimentação dos fluxos. A variável "tecnologia" [...]

apresenta nível de evolução mais forte, embora [...] preste suporte técnico

às redes hierárquicas dos sistemas dominados pelo formato piramidal dos

fluxos decisórios. A variável cultural é a mais problemática nas organizações

públicas" (VIEIRA; VIEIRA, 2004, p. 98).

Em relação ao TCERJ, a análise realizada pelos autores acima

mencionados nos parece, em grande parte, se ajustar às dificuldades de uma

atuação pró-ativa da organização no exercício de suas competências, em especial

àquelas motivadoras dessa dissertação, pois o controle dos atos e da execução

contratual é quase que totalmente efetuado a posteriori, quando muito pouco pode

ser feito para corrigir eventuais ilegalidades ou falhas de gestão, circunscrevendo-se

a atuação da organização a eventual responsabilização dos responsáveis e a

reconstituição do erário lesado.

O receio de interferir na gestão de outras organizações públicas,

provocando uma invasão na autonomia dos entes públicos e/ou ocasionando dano à

designado, quando então, é finalmente levado ao Plenário, para que seja exarada a decisão, ou seja,

quase se reproduz uma linha de montagem com vários níveis gerenciais altamente hierarquizados e

com funções específicas fracionadas entre os diversos departamentos.

Bresser Pereira (2001) aponta a necessidade de modificar o paradigma burocrático da

administração pública brasileira como uma das justificativas para a reforma administrativa

(21)

execução de programas e de políticas públicas, ainda restringe a atuação dos

Tribunais de Contas no exercício de seu mister.

Assim, nas organizações públicas em geral, em que a tradicional

classificação de Fayol ainda tem plena significação no exame das estruturas

organizacionais, ainda não ocorreu efetivamente ruptura com os modelos

hierárquicos, não houve, de maneira geral, a flexibilização na estrutura, tecnologia e

cultura, o que condensaria o modelo público em uma "intemporalidade burocrática".

(VIEIRA; VIEIRA, 2004, p. 98)

O serviço público no Estado pós-moderno é essencial à organização e ao

poder

do

estado,

pois

não

Estado

forte9

sem

um

bem

estruturado

serviço

público.

O Estado

é um

instrumento

da

sociedade

no

Estado

Democrático

de

Direito,

visando

à construção de uma sociedade socialmente equânime, em que exista igualdade de

oportunidades, sendo que as diferenças naturais seriam corrigidas (amenizadas)

pela ação estatal, como na visão liberal de Rawls, respeitando-se as identidades

nacionais e históricas, como na ponderação de Walzer.

Assim, o modelo pós-moderno de estado deve se afastar das estruturas e

formas

organizacionais

rígidas

das

normas

burocráticas,

a famosa

"gaiola

de

ferro"

da burocracia de Weber, e funcionar como indutor e fomentador da criação da

infra-estrutura necessária para incrementar o desenvolvimento econômico e social,

funcionando

ainda

como

mediador

das

disputas

sociais.

Dentro

dessa

visão

transformadora, o desempenho do setor público deve ser pautado pelos valores da

eficiência, eficácia, efetividade, racionalidade, atendimento célere às demandas

sociais. Contudo, como exposto, tal metamorfose é limitada pelo ambiente

organizacional existente.

Dellangelo e Silva (2000), afirmam que a racionalidade dominante na

organização, a estrutura e o desenho organizacional, determinam o ritmo das

9 A atual crise financeira global veio salientar, uma vez mais, a importância da intervenção estatal na

sociedade Eis que os efeitos danosos da crise decorrem, em grande parte segundo analistas

econômicos e sociais, da falta de regulação estatal do setor financeiro, bem como do

enfraquecimento do Estado frente aos interesses econômicos que impuseram a desregulamentação

(22)

transformações nas organizações. Assim, mesmo entre órgãos estatais de um

mesmo ente estatal podem ser constatadas variações nos ritmos de transformação,

em decorrência dos arranjos organizacionais.

Nos Tribunais de Contas, ainda parece imperar uma racionalidade

instrumental, ainda predominante nas organizações públicas segundo os autores

anteriormente citados, em detrimento da racionalidade substantiva. Contudo, as

vagas avassaladoras das mudanças decorrentes da liberalização da economia, do

aprofundamento da globalização nas décadas anteriores e da revolução tecnológica

atual, expressa em realizações, como: computadores pessoais, internei,

nanotecnologia, biotecnologia, manipulação genética e outros desenvolvimentos

técnicos, andam de braços dados com o renascer da cidadania ocorrido com o

advento da atual Constituição, esta última circunstância acarretou um acréscimo da

atenção da sociedade acerca da atuação dos órgãos públicos encarregados do

controle da administração pública.

Dessa maneira, as organizações públicas têm sido desafiadas a aprimorar

o desempenho de sua ação. Por exemplo, o Poder Judiciário tem sido questionado

em sua atuação, acarretando uma postura mais ativa, dos juizes singulares e dos

ministros dos tribunais superiores no exame de assuntos com repercussão social.

Como exemplo, podemos mencionar decisões recentes do Supremo Tribunal

Federal - STF -, acerca da interrupção da gestação de fetos anencefálicos, da

necessidade da utilização de algemas por presos e outras questões.

Da mesma forma, os Ministérios Públicos têm se pautado por uma

atuação mais condizente como os anseios sociais de eficiência e moralidade na

gestão da coisa pública. Essas organizações têm implementado um grande esforço

para alterar suas estruturas e formas organizacionais, com forte investimento em

equipamentos e em reestruturações internas de procedimentos

Os Tribunais de Contas não estão isentos dessa cobrança pois,

paulatinamente, apesar de suas atribuições serem ainda desconhecidas do grande

público, têm tido sua atuação destacada na mídia, positiva ou negativamente. O

(23)

descrito como isomorfismo organizacional: mimetismo e normativo, tal como descrito

por DiMaggio e Poweell (1983), pois centrado no esforço de conformidade às

estruturas e às formas organizacionais que vêm sendo assumidas em sua ambiência

organizacional em vista das incertezas decorrentes do advento da sociedade da

informação e do conhecimento, bem como do renascimento da cidadania. São as

modificações estruturais das formas organizacionais, bem como sua eficácia e

motivação, que esperamos ver destacadas pelos atores relevantes na atuação do

TCERJ, quer sejam internos, ou externos, neste trabalho.

1.2. METODOLOGIA

Neste ponto, descrevemos a metodologia utilizada, quanto à sua

definição, sua motivação e suas limitações e abordaremos a estratégia de pesquisa,

bem como os métodos empregados para a coleta, tratamento e análise dos dados.

1.2.1. Objetivo Final

Após o que foi até aqui exposto acerca do assunto desenvolvido,

adentramos no cerne da pesquisa: determinar se a atuação do Tribunal de Contas

do Estado do Rio de Janeiro no exercício da competência constitucionalmente

estatuída, que lhe permite determinar a sustação de atos e/ou de contratos, é efetiva

na visão dos atores relevantes?

1.2.2. Objetivos Intermediários

Objetivos intermediários auxiliaram a responder as questões principais,

podendo ser sintetizadas da seguinte maneira:

a) definir o conceito de efetividade aplicado no estudo e avaliar se é

similar àquele adotado pelos atores relevantes;

b) identificar sob que perspectiva os atores relevantes avaliam a

(24)

c) identificar fatores considerados relevantes nesta ação organizacional;

d) identificar as propostas de mudanças apresentadas;

e) identificar os obstáculos e os facilitadores da implantação das

propostas apresentadas;

1.2.3. Delimitação e relevância do estudo

O estudo tem como objeto a análise da atuação do TCERJ no exercício

da competência institucional, que lhe é atribuída constitucionalmente, dentro dos

limites de sua jurisdição legal, municípios e estado do Rio de Janeiro. Assim, em

princípio, está circunscrito à documentação e às pessoas que atuam neste processo

organizacional, interna e externamente. Esta delimitação se faz necessária de forma

a tornar o estudo viável, dentro dos limites dos prazos e recursos disponíveis para

sua conclusão.

Os gastos públicos sempre representaram, no Brasil ao menos, um

escoadouro de recursos para atores com poder de barganha suficiente para

apropriar-se deles, usufruindo privadamente de recursos que, pela sua própria

natureza, deveriam retornar, em forma de benefícios decorrente da implantação de

políticas públicas, à maior parcela possível da sociedade.

A gestão pública adequada dos recursos públicos está contida nos

direitos do cidadão, especificamente no direito à boa administração, que alguns

autores

consideram

um

direito

fundamental

do

cidadão10,

cuja

característica

principal, a nosso juízo, é a ação administrativa eficaz que deve ser: ética,

republicana e eficiente.

Alguns autores consideram que existe o direito fundamental à boa administração pública. Freitas

(2007) o define nos seguintes termos: "o direito à administração pública eficiente e eficaz,

proporcional cumpridora de seus deveres, com transparência, motivação, imparcialidade e respeito à

moralidade, à participação social e à plena responsabilidade por suas condutas omissivas e

(25)

A ação republicana implicaria no estabelecimento de uma agenda de

políticas públicas que atingissem a toda população, não limitada a estratégias

focalistas, que evidenciam seu caráter liberal (neoliberal para ser mais exato),

assunto que é mais afeito ao exercício da accountability vertical1 11

A atuação ética e eficiência da administração são dois dos principais eixos

garantidores dos direitos do cidadão, estando estreitamente ligados a duas mazelas

resultantes de sua não aplicação: desperdício de recursos e corrupção.

O TCERJ, por sua vez, é um dos instrumentos institucionais criados para

deter (minorar) o desperdício e a corrupção na administração pública, e cujo bom

desempenho

constitui

uma

condição

para

melhoria12

da

administração

pública

nacional.

O agir ético da administração pode ser traduzido na observância dos

princípios reitores da administração pública: legalidade, impessoalidade moralidade,

publicidade, eficácia, que garantem, ou deveriam garantir, um tratamento igualitário

e justo a todos.

O desperdício de recursos e os efeitos da corrupção são evidentes, e

rotineiramente mencionados na mídia: a carência de recursos para obras públicas

(especialmente de infra-estrutura) e para a manutenção dos serviços públicos

(saúde, educação e assistência social, por exemplo), e a sonegação de tributos (não

há corruptos somente na administração). Essa drenagem de recursos públicos tende

a inibir os investimentos produtivos, provocar redução na qualidade de vida da

população e deteriorar e esgarçar o tecido social.

11O

exemplo

de ação

republicana

é relacionado,

de maneira mais

direta,

à representação

exercida

em

decorrência do voto popular (eleições), ou seja, escolhas (opções) políticas à disposição do

administrador em face dos diversos problemas socialmente relevantes, e não está diretamente ligada

ao controle de efetividade exercido pelo TCERJ, que é objeto desta dissertação. Embora, a nosso

juízo, pudesse ser avaliada pelo Tribunal em relação à sua legitimidade, caso implique em realização

de receitas e despesas públicas.

12 Carvalho

(2008)

aponta

melhoria

na

qualidade

da

gestão

pública

e incremento

da

atração

de

investimentos privados pelos municípios em decorrência da fiscalização exercida pelos Tribunais de

(26)

Antes do advento da Constituição Cidadã, o campo de atuação dos

órgãos superiores de controle, vinha sendo paulatinamente elastecido13, culminado

com a CRFB, a qual ampliou sobremaneira as competências e as prerrogativas

necessárias ao exercício desse mister, como apontado por Spenk (2000).

Concomitantemente, temos o começo da efetiva integração do conceito

de

accountability

à

gestão

da

administração

pública

nacional14,

implicando

na

responsabilização dos responsáveis pela gestão e aplicação dos recursos públicos,

os quais são obrigados a prestar contas de seus atos de forma transparente.

Trata-se de um das dimensões da accountability, que se traduz no controle exercido de um

órgão estatal sobre outro, accountability horizontal, exercitado por agências e

instituições detentoras do dever-poder legal e de fato para realizar ações que vão

desde a supervisão de rotina até sanções legais contra atos delituosos de seus

congêneres do Estado, como exposto por O'Donnell (1998).

O controle exercido sobre as despesas, e receitas públicas, pelos

Tribunais de Contas propiciam uma melhoria na qualidade da gestão da

administração pública nacional', o que torna evidente a relevância do estudo, em

especial a possibilidade de interromper o dano, ou propiciar a restauração do erário

a situação anterior a ocorrência.

1.2.4 - Tipo de pesquisa

Utilizando-se a classificação proposta por Vergara (2006), quanto aos fins,

o estudo mesclou, principalmente, propósitos exploratórios e descritivos. O caráter

exploratório está presente, na medida em que existe escassa literatura que aborda o

tipo de fenômeno analisado. A pesquisa também é descritiva porque relata como

ocorrem interações entre a organização e seu ambiente externo, bem como as

percepções dos atores relevantes acerca do assunto.

13

Logicamente, não foi uma escalada linear, houve avanços e retrocessos, estes essencialmente

decorrentes dos intervalos autoritários ocorridos até a promulgação da Carta de 1988, como

apontado por Montebello (1999).

14 Podemos considerar a Reforma Administrativa de 1995 e a Lei Complementar Federal n° 101, de

04 de maio de 2000 (Lei Responsabilidade Fiscal), como marcos empreendidos neste esforço, em

(27)

Quanto aos meios, conforme se verá no item que descreve a coleta de

dados, utilizou-se do estudo de caso, mesclando elementos de pesquisa de campo

(entrevistas semi-estruturadas), combinadas com pesquisa documental e

bibliográfica.

1.2.5. Universo e amostra

No caso estudado, de modo geral, o universo compreende os processos

relativos aos órgãos dos municípios integrantes do estado do Rio de Janeiro e à

administração,

direta

e indireta,

do

próprio

estado,

que

estão

sujeitos

à jurisdição

do

TCERJ,

bem

como

empresas

prestadoras

de

serviços

contratadas

por

algum

dos

componentes do universo determinado.

A amostra limitou-se aos processos constituídos pelo TCERJ, no âmbito

sua jurisdição, que tiveram decisão que propiciou a sustação total ou parcial do ato

e/ou do contrato, no período compreendido entre 2003 e 2008, cujas informações

estivessem disponibilizados no Sistema de Acompanhamento de Processos- SCAP.

1.2.6. Seleção dos sujeitos e coleta de dados

Com base no que foi exposto por Yin (1986), o estudo de caso é

aplicável, pois se estuda fenômeno que só poderia ser investigado no seu contexto

real, o que se justifica múltiplas fontes de informação. Assim, os dados foram

coletados

por

meio

de

várias

fontes

e métodos:

em

especial

o levantamento

de

percepções de alguns especialistas do setor, o que permitiu não somente corroborar

os dados obtidos da investigação documental e das percepções do autor, mas

também reforçar as conclusões acerca das principais influências sobre a efetividade

da atuação do TCERJ no caso em tela.

A descrição da coleta de dados enumera os meios pelos quais os

objetivos do trabalho foram perseguidos. No presente estudo, a coleta de dados

ocorreu por meio de pesquisa documental, entrevistas com atores relevantes e

(28)

A pesquisa documental constituiu-se no exame de materiais diversos e

utilizou como fonte principal o produzido pelo TCERJ, embora também tenha

utilizado outras fontes como o TCU, TJRJ, STJ, STF, entre outros.

1.2.7. Tratamento de dados

As entrevistas semi-estruturadas foram conduzidas com atores relevantes

na atuação do TCERJ, internos e externos, cujos comentários foram classificados de

acordo com o objetivo das questões que estavam inicialmente sendo investigadas.

A classificação dos relatos dos entrevistados foi feita na tentativa de

estruturar os resultados das entrevistas para que gerassem subsídios e

conduzissem à conclusão da pergunta que esta dissertação se propõe a responder,

ocorrendo também um tratamento estatístico simples.

Para a análise das entrevistas e do processo selecionado para estudo de

caso, utilizamos a análise de conteúdo, que pode ser utilizada tanto para análise de

documentos quanto para análise de entrevistas.

1.2.8. Limitações do método

O método de estudo de caso utilizado tem algumas limitações, que não

chegam a invalidar os resultados obtidos, embora possam impedir a generalização

das conclusões, pois este, conforme Yin (1984), não permite que sejam construídas

generalizações estatísticas sobre as conclusões da pesquisa, mas reconhece a

possibilidade de algumas generalizações de natureza conceituai.

Outra limitação diz respeito às entrevistas que contaram com tempo

reduzido, não permitindo um maior aprofundamento de alguns temas que poderiam

ajudar a enriquecer as análises, forçando o pesquisador a se concentrar

exclusivamente nos conteúdos previamente estabelecidos no roteiro de entrevistas.

Esta limitação deveu-se, sobretudo à falta de tempo dos entrevistados Além disso, a

maioria dos entrevistados pertence aos quadros técnicos do TCERJ, o que pode ter

(29)

Os entrevistados foram selecionados principalmente pelo critério de

acessibilidade pessoal, e se deu de acordo com o grau de experiência e pertinência

da função desempenhada com o objeto do estudo aqui apresentado. É possível,

pois, que outros representantes tivessem visão diferenciada dos selecionados para

esta pesquisa.

Por fim, há que se observar que, em razão de sua natureza não são

facilmente quantificáveis, os dados da pesquisa qualitativa [...] são de natureza tal

que têm menos possibilidade do que suas colegas quantitativas de serem explícitas

sobre seus métodos.", conforme afirma Becker (apud GOULART; CARVALHO,

(30)

2. ASPECTOS

RELACIONADOS

À AÇÃO

DO

TRIBUNAL

DE

CONTAS

DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

2.1. Breve histórico acerca da criação das Cortes de Contas

No Brasil, somente com as reformas político-administrativas introduzidas

após a proclamação da República, em 1889, implantou-se órgão específico para

controle das contas públicas no Brasil. O Decreto n° 966A, de 7 de novembro de

1890, criou o Tribunal de Contas da União.

Rui Barbosa foi o principal divulgador do formato adotado para a

instituição das Cortes de Contas, com base na experiência americana, pois entendia

ser necessária a instituição de obstáculos e controles ao exercício das atividades

dos poderes, em especial o Executivo. Tal concepção tem como fulcro as clássicas

lições do Barão de Montesquieu, que pregava a necessidade da limitação e divisão

dos poderes, de modo que fossem harmônicos e independentes, procurando evitar,

dessa forma, que a vocação abusiva dos detentores do poder temporal acarretasse

prejuízos à liberdade da sociedade. Apesar de o grande filósofo ter como

preocupação principal a proteção das liberdades individuais, suas reflexões serviram

de alicerce para o desenvolvimento de um modelo operacional de Estado, no qual as

Cortes de Contas têm fundamental importância.

Em que pese o diagnóstico feito, acerca da necessidade de

aprimoramento da máquina pública e da necessidade da instituição de órgão de

controle específico, sua efetiva instalação foi concretizada apenas em 17 de janeiro

de 1893, após algumas tentativas malogradas no período imperial. O Tribunal de

Contas do Estado do Piauí, foi o primeiro Tribunal de Contas estadual brasileiro a

ser instituído, em 1899, segundo noticia Mileski (2003).

A previsão constitucional pioneira acerca das competências das Cortes de

Contas ocorreu na Constituição Republicana de 1891. Devemos destacar que tais

competências têm se ampliado ao longo do tempo, em decorrência das

(31)

resultado direto da promulgação na nova Constituição, em 03 de outubro de 1988,

decorrente do processo de redemocratização do Brasil.

Trançando um panorama sintético das principais transformações dos

testos constitucionais, desde a proclamação da República, podemos vislumbrar uma

ampliação gradual de suas competências ai longo do tempo.

Montebello (1999) indica que a Constituição de 1891 conferiu-lhe

tratamento de órgão fiscal, de acordo com a dicção do art. 89: "É instituído um

Tribunal de Contas para liquidar as contas da receita e despesa e verificar sua

legalidade, antes de serem prestadas ao Congresso."

È de

se

destacara

que

o art.

30

do

Regulamento

n.°

1.166/1892,

regulamento da Lei n. 23/1891 (que determinava a constituição do Tribunal de

Contas e a extinção do Tribunal do Tesouro), implantou o veto impeditivo absoluto.

No entanto, o governo de Floriano Peixoto, posteriormente, retirou a competência do

Tribunal para impugnar atos considerados ilegais, transformando a fiscalização

prévia em repressiva, a posteriorí. Apesar disso dessas restrições, o Tribunal de

Contas foi se consolidando como órgão independente, mas com a Revolução de

1930, quando alguns decretos reduziram novamente suas competências

(MONTEBELLO,1999)

Segundo Montebello (1999), a Constituição de 1934, de perfil

democrático, revitalizou as funções típicas do Tribunal de Contas, considerando-o

como órgão de cooperação das atividades governamentais, com as seguintes

atribuições:

"Art.

99.

É

mantido

o

Tribunal

de

Contas

que

diretamente,

por

delegações organizadas de acordo com a lei acompanhará a execução

orçamentária e julgará as contas dos responsáveis por dinheiros e bens públicos.".

Além dessas competências, ao Tribunal competia registrar previamente as despesas

e contratos da administração pública e apresentar parecer sobre as contas do

Presidente da República antes de seu encaminhamento à Câmara dos Deputados.

No período Getúlio Vargas, a Constituição de 1937, de feição autoritária,

(32)

remetendo-a (artigo 114 da Constituição) à lei ordinária, Decreto-Lei 426 de 1938,

limitando o registro prévio a poucas categorias de despesas, fazendo com que o

controle exercido pela Corte de Contas fosse preponderantemente repressivo, como

aponta Montebello (1999). Apesar disso, como lembra Mileski (2003), manteve suas

finalidades e ampliou, em parte, suas competências, atribuindo-lhes o controle de

contratos.

Constituição de 1946 resulta do processo de redemocratização do país, o

que proporcionou ao órgão uma posição de destaque, face à ampliação de suas

atribuições, passando a julgar não só as contas dos responsáveis por dinheiros e

outros bens públicos, como também as dos administradores das entidades

autárquicas federais (MONTEBELLO, 1999). Também Mileski (2003) reconhece a

ampliação das competências do órgão, com o controle prévio e posterior (a priorí e a

posteríori) dos atos administrativos, e destaca que os tribunais ganharam

independência.

A Constituição de 1967, resultado de novo regime de exceção, marca

novo retrocesso na estrutura de fiscalização da administração pública. Aboliu-se o

registro prévio dos atos e contratos geradores de despesas, passando-se a exercer

exclusivamente o controle a posteríori., conquanto lhe fosse permitido sustar a

execução do ato impugnado, raramente era viável o controle concomitante

(MONTEBELLO,1999).

Após o fim do período autoritário da história recente, finalizado

oficialmente com a eleição de Tancredo Neves em 1985, novamente sopros

democráticos impulsionam o Tribunal de Contas para uma atuação mais ampla,

como fiscal efetivo da administração pública.

A CRFB, em sua redação original, indicava a legalidade, a

impessoalidade, a moralidade e a publicidade como princípios reitores da

Administração Pública. A Emenda Constitucional n° 19, 4 de junho de 1998,

introduziu parâmetros de natureza gerencial ao texto constitucional, incluindo o

princípio da eficiência no rol dos princípios reitores da Administração Pública, todos

(33)

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes

da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos

princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência e, também, ao seguinte: (grifo nosso)

O princípio da eficiência está diretamente relacionado às noções de

eficácia e efetividade. Este trabalho foca sua atenção primordialmente no conceito

de efetividade, segundo a visão dos atores selecionados.

Em relação à criação de tribunais de contas estaduais, a Carta Política de

1891 dispunha de permissivo constitucional inserto no art. 5o, que autorizava "cada

Estado prover, a expensas próprias, as necessidades de seu governo e

administração", o que possibilitou a instalação de Corte de Contas estaduais, sendo

que a primazia coube ao estado do Piauí, em 1899, seguido pelo da Bahia, criado

em 1915, na verdade, já existia desde 1891, sob a denominação de Tribunal de

Conflitos e Administrativo, conforme regramento da Constituição Baiana de1891. Em

seguida, 1923, surge o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Contudo, em

1939, com a implantação do Estado Novo, o País entra em regime de exceção, com

a conseqüente extinção temporária de todos os seus Tribunais de Contas, a

situação que somente será alterada com promulgação da Constituição Federal de

1946, conforme sumariado por Mileski (2003).

Em relação aos tribunais de contas municipais, Mileski (2003).lembra que

somente dois municípios possuíam tais instituições: São Paulo e Rio de Janeiro,

criados antes do advento da Carta Política de 1988, em circunstâncias muito

especiais.

A atual Constituição, a fim de evitar a criação indiscriminada de Corte de

Contas municipais, que poderiam emular os municípios de Rio de Janeiro e São

Paulo, fixou a impossibilidade da criação de novas Corte de Contas

municipais,conforme o disposto no § 4o, do artigo 31, que tem a seguinte dicção: "É

vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de Contas Municipais." A

(34)

Contas dos municípios de São Paulo, criado pela Lei n° 7.213, de 20.11.1968, e Rio

de Janeiro.

O atual Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro foi moldado por

circunstâncias

históricas

especiais.

À transferência

da

Capital

Federal

para

Brasília,

cuja inauguração ocorreu em 21/04/60, segui-se a instalação dos poderes da

República, em decorrência da iniciativa do governo de Juscelino Kubitschek, o então

Tribunal de Contas do Distrito Federal, nascido em 1936, se transforma no Tribunal

de Contas do Estado da Guanabara. Paralelamente, no estado do Rio de Janeiro,

em decorrência da Constituição Estadual de 1947 existia o Tribunal de Contas do

antigo Estado do Rio de Janeiro.

Posteriormente, com a fusão dos Estados da Guanabara e do Rio de

Janeiro, em 1975, o Decreto-Lei n° 4, de 14 de março de 1975, extinguiu seus

respectivos tribunais de contas e criando o atual TCERJ, com sede na cidade do Rio

de Janeiro e jurisdição em todo o território do novo Estado do Rio de Janeiro.

2.2. Competências Constitucionais - arts. 70 e 71 da CRFB e art. 123

da Constituição Estadual do Estado do Rio de Janeiro

No âmbito federal, de acordo com o disposto na Constituição, o controle

externo da Administração Pública é competência do Poder Legislativo, auxiliado

neste mister pelo TCU. Note-se que algumas competências referentes ao controle

externo são privativas dos Tribunais de Contas, o que implica disser que não existe

subordinação

destes

ao

Poder

Legislativo15.

As competências previstas para o TCU estão contidas nos dispositivos

inseridos nos artigos 70 e 71 da CRFB, dos quais destacamos os pertinentes ao

estudo, que são reproduzidas abaixo:

Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e

patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta,

quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das

15 Para uma abordagem mais detalhada acerca da não existência de subordinação dos Tribunais ao

(35)

subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional,

mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada

Poder.

Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública

ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros,

bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome

desta, assuma obrigações de natureza pecuniária. (Redação dada pela

Emenda Constitucional n° 19, de 1998)

Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido

com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:

VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou

irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá,

entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário;

IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências

necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;

X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a

decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;

§ 1o - No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pelo

Congresso Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as

medidas cabíveis.

§ 2o - Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de noventa

dias, não efetivar as medidas previstas no parágrafo anterior, o Tribunal

decidirá a respeito.

Tais competências são compartilhadas pelos Tribunais de Contas de

estados e municípios, segundo o princípio da simetria expresso no art. 75 da CRFB,

reproduzido a seguir:

Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à

organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos

Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de

Contas dos Municípios.

Na Constituição do Estado do Rio de Janeiro, as competências já

mencionadas estão previstas no art. 122 e (incisos VII, VIII, IX e X; §§ 1o e 2o) art.

123, cujo teor é reproduzido a seguir:

Art. 122 - A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e

patrimonial do Estado e das entidades da Administração Direta e Indireta,

quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das

subvenções e renúncia de receitas, será exercida pela Assembléia

Legislativa, mediante controle externo e pelo sistema de controle interno de

(36)

Parágrafo único - Prestará contas qualquer pessoa física ou entidade

pública que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens

e valores públicos, ou pelos quais o Estado responda ou que, em nome

deste, assuma obrigações de natureza pecuniária.

Art. 123-0 controle externo, a cargo da Assembléia Legislativa, será

exercido com o auxílio do Tribunal de Contas do Estado, ao qual

compete-VII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou

irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá,

dentre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário;

VIII - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências

necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;

IX - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a

decisão à Assembléia Legislativa;

X - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos

apurados.

§ 1o - No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pela

Assembléia Legislativa, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as

medidas cabíveis.

§ 2° - Se a Assembléia Legislativa ou o Poder Executivo, no prazo de

noventa dias, não efetivar as medidas previstas no parágrafo anterior, o

Tribunal decidirá a respeito.

2.3 - Tribunal de contas e accountability

2.3.1 - Preliminares

Já vai longe o tempo em que accountability representava um conceito

intraduzível para português, como exposto por Campos (1990), eis que carecíamos

de uma cultura organizacional que reconhecesse a responsabilidade da

Administração Pública em relação aos seus administrados.

O conceito envolve a obrigação de se responder pelos resultados de

decisões ou ações, prevenindo o uso indevido do poder, bem como outras formas de

desvio no trato da coisa pública, ou seja, tem íntima relação com o exercício da boa

(37)

Segundo Mosher (apud Campos, 1990, p. 33), accountability é sinônimo

de responsabilidade objetiva, conceito oposto à responsabilidade subjetiva16, que

representaria responsabilidade exterior à pessoa, ou à organização, em relação à

outra, que acarretaria sanção em caso de descumprimento. Dessa maneira, o poder

de obrigar o administrador/administração público/pública a adotar determinado

procedimento envolveria questões de representação, de legitimidade do poder, de

dignidade da pessoa humana, de igualdade, de participação, e de representatividade

como apontado por Campos (1990).

A partir da constatação da inexistência de dissociação entre

administração e política, Campos (1990) aponta os riscos inerentes a estruturas

burocráticas, predominantes na Administração Pública Brasileira, as quais

demandariam mecanismos de controle diversos, e mais efetivos, que os controles

burocráticos internos, insuficientes para prevenir, ou corrigir, a corrupção, a conduta

não ética e o abuso de poder. Assim, uma vez que necessariamente a política

influencia (direciona) a gestão da administração pública, bem como limita suas

possibilidades, deve ser controlada de modo mais apurado.

A noção de accountability política, de acordo com Schedler (apud

Carneiro; Souza, 2001), pressupõe o exercício do poder e a necessidade de que

este seja controlado, podendo ser entendida como a capacidade para assegurar que

os agentes públicos sejam questionados por seu comportamento, garantindo que: a)

sejam obrigados a responder pelo uso do poder, atuando de forma transparente,

informando e justificando suas decisões; e b) eventualmente, permitir que os

responsáveis sejam sancionados por ações irregulares.

O conceito de Mosher não guarda relação com o conceito jurídico de responsabilidade civil, objetiva

ou subjetiva, ligada ao ilícito civil e à obrigação de reparação dos danos causados a terceiros. A

primeira traduz, grosso modo, responsabilidade inerente à própria pessoa independentemente de

esta atuar de forma culposa (negligência, imperícia ou imprudência), sendo suficiente ocorrência de

resultado danoso e existência de nexo causai entre o dano e a conduta determinante do evento. No

caso sob exame, considera-se que a responsabilidade não é sentida (determinada) internamente pela

própria pessoa, ou organização, mas por persona diversa do administrador/administração

publico/pública que detém o poder de avaliar a possível responsabilidade dele/dela e de

(38)

Schedler, então, relaciona os dois focos nucleares da primeira faceta da

accountability política (informar e justificar) à capacidade de resposta dos governos,

ou seja, a obrigação que possuem de manter a sociedade informada, em relação

aos seus atos de gestão, denominando-as como answerability, já ao poder de impor

sanções aos agentes públicos, ou outros órgãos públicos, que se desviam do correto

exercício de suas obrigações, denomina, enforcement, sendo exercido por órgãos

especialmente designados.

O autor, em decorrência desses fatores, entende que a accountability, em

seu sentido estritamente político, vai além da simples apresentação de informações,

estas devem ser transparentes e verdadeiras, e é necessário que haja instrumentos

que viabilizem a punição de eventual comportamento inadequado, sendo necessário

que a própria sociedade avalie se existem condições para exercício da

accountability.

2.3.2 - Accountability Vertical

A análise de O'Donnell (1998) acerca das accountabilíties nas

poliarquias17

é o

fundamento

teórico

utilizado

por

diversos

autores

para

esclarecer

os desdobramentos, as possibilidades, as restrições e as complementaridades entre

as várias facetas da accountability. Assim, Carneiro e Souza (2001) afirmam que o

conceito elaborado por O'Donnell é fundado nas três correntes clássicas do

pensamento político: democracia, liberalismo e republicanismo. O aspecto liberal é

resultado da existência de direitos de cidadania de primeira geração, direitos em

face do Estado. O republicano destaca a busca do bem comum, no exercício da

atividade política, marcando a separação clara entre interesse público e o privado. O

Liberalismo destaca o mercado como o local para alocação ótima dos recursos

sociais.

0'Donnell (1998) evidencia o fato de o aspecto democrático da

accountability decorrer do processo eleitoral de escolha dos representantes políticos

pelo voto, eleições, com a participação indireta dos cidadãos nas questões políticas,

(39)

denominando esse processo de controle de accountability vertical. Eleições e

representação política, mediante a expressão de vontade pelo voto, no entanto, não

exercem um controle efetivo sobre o governo. Assim, afirma as eleições não

constituem o instrumento ideal para efetivar a representatividade, sendo necessário

a soma de outros aspectos da accountability .

Arato (2002) ressalta que o efetivo funcionamento da accountability

política é questionado por muitos autores, embora seja considerado necessária para

garantir a soberania popular em uma democracia representativa, mas destaca que a

condição essencial para seu funcionamento é a participação efetiva da sociedade.

Miguel (2005), analisando as imperfeições da accountability política, e as

alternativas da representação política propostas por diversos autores, também

ressalta as deficiências da sua efetivação na prática política. O autor entende que o

vínculo essencial entre representantes e representados é frágil, devido à reduzida

capacidade de os últimos avaliarem a atuação dos primeiros em decorrência de

vários fatores, dentre eles: as questões públicas envolvem aspectos de difícil

compreensão, e apreensão, decorrentes da própria complexidade tecnológica e

social atual; o fraco incentivo à qualificação política, pois não se trata de uma

profissão que requeira qualificação específica, e a ausência de controle social sobre

a agenda política posta pelos políticos. Miguel (2005, p. 25), esclarece que tal

situação propicia o surgimento de "[...] propostas de transformação radical dos

mecanismos representativos, que resgatam a idéia de "representação descritiva" e

enfraquecem ou mesmo abolem a accountability."

Manin, Przeworski e Stokes (2006) compartilham do mesmo

entendimento, pois entendem que a ligação existente entre democracia e

representação política é a idéia de que o governo deve agir em favor dos interesses

da sociedade, desde que as vagas de representação disponibilizadas nas eleições

sejam abertas a todos, que a sociedade tenha participação ampla e que as

liberdades políticas sejam patrimônio real dos cidadãos.

Contudo, Manin, Przeworski e Stokes (2006) destacam que a efetiva

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