1 OsautoresagradecemoapoiodoCNPq.
2 Endereço:UniversidadeFederaldoRioGrandedoSul,RuaRamiro Barcelos, 1853/112, PortoAlegre, RS, Brasil 90035-003. E-mail: piccinini@portoweb.com.br
3 Emboraopresenteestudotratedoperíododagestaçãoedofeto,otermo bebêfoiusadoemgrandepartedotexto,porparecermaisadequado aosereferiraosignificadoqueamãeatribuiaofilhoaindanoútero. O termo feto é mais utilizado na literatura médica, mas parece não expressar adequadamente os sentimentos e as representações sobre ofilho.Contudo,emalgumassituaçõesespecíficasfez-senecessário recorreraotermofetoparanãoconfundiroleitor.
ExpectativaseSentimentosdaGestanteemRelaçãoaoseuBebê
1CesarAugustoPiccinini2 AlineGrillGomes LisandraEspíndulaMoreira
RitaSobreiraLopes
UniversidadeFederaldoRioGrandedoSul
RESUMO–Arelaçãodamãecomseubebêvaiseconstituindodesdeoperíodopré-natal,eéinfluenciadapelasexpectativas queelatemsobreobebêepelainteraçãoqueestabelececomele.Estaprimeirarelaçãoservedeprelúdioparaarelaçãomãe-bebê queseestabelecedepoisdonascimento.Oobjetivodesteestudofoiinvestigarasexpectativaseossentimentosdasgestantes emrelaçãoaobebê.Participaram39gestantesprimíparas,noúltimotrimestredegestação,comidadesentre19e37anos. Asgestantesforamentrevistadasindividualmenteeassuasrespostasforamexaminadasatravésdeanálisedeconteúdo.Os resultadosindicaramqueasmãesprocuram,jádesdeagestação,oferecer maisidentidadeaobebê,atribuindo-lheexpectativas esentimentosquantoaoseusexo,nome,característicaspsicológicas,saúde,alémdeinteragiremcomele.Istoparecereverter emuminvestimentoimportanteàconstituiçãopsíquicadobebê,alémdepossibilitaroexercíciodamaternidade.
Palavras-chave:gestação;expectativas;bebê.
PregnantWoman’sExpectationsandFeelingsRegardingherBaby
ABSTRACT–Themother’srelationshipwithherbabyisconstructedsincetheprenatalperiodandisinfluencedbyher expectationsregardingthebabyandtheinteractionsheestablisheswithhim/her.Thisfirstrelationshipservesasapreludeofthe mother-infantrelationshipestablishedafterbirth.Theaimofthisstudywastoinvestigatethepregnantwomen’sexpectations andfeelingsregardingthebaby.Thirty-nineprimiparouspregnantwomen,inthelasttrimesterofgestation,aged19to37, tookpartinthisstudy.Thepregnantwomenwereindividuallyinterviewedandtheiranswerswereexaminedthroughcontent analysis.Theresultsindicatedthat,sincepregnancy,motherstrytogivethebabymoreidentity,holdingexpectationsand feelingsregardinghis/hersex,name,psychologicalcharacteristics,health,besidesinteractingwithhim/her.Thisseemsto constituteanimportantinvestmentforthebaby’spsychicconstitution,besidesenablingmothering.Keywords:pregnancy;expectations;baby.
porisso,asexpectativasformamabasedarelação(Raphael-Leff, 1991).As expectativas da mãe em relação ao bebê originam-sedeseuprópriomundointerno,desuasrelações passadas e suas necessidades conscientes e inconscientes relacionadasàquelebebê(Maldonado,1997;Raphael-Leff, 1997;Soulé,1987;Szejer&Stewart,1997).Estassãomais freqüenteseintensasnosegundotrimestredagestação,queé omomentoemqueofeto,atravésdosmovimentos,anuncia realmentesuaexistência.Depoisdosétimomês,ovolume eaintensidadedessasexpectativastendemadiminuir,pre-parando,destaforma,olugardobebêreal(Caron,Fonseca &Kompinsky,2000;Stern,1997).
Aliteraturaapontarepercussõestantopositivasquanto negativasdapresençadasexpectativasdamãeparaamaterni-dade,paraopsiquismodobebêeparaarelaçãoentreadupla. Osaspectospositivosenvolvem,principalmente,anecessi-dadedequeobebêsejainvestidodedesejosefantasiaspor partedamãeparacomeçaraexistirenquantoserhumano.Os “ditos”e“nãoditos”queprecedemnãosóonascimento,mas tambémaconcepçãodobebêsãoelementosquepermitema suaestruturaçãopsíquica(Brazelton&Cramer,1992;Caron, 2000;Stern,1997;Szejer,1999;Szejer&Stewart,1997).A gestantepareceterumnívelderelaçãopróximocomobebê quandoelaconsegueimaginá-lo,investirnestaimagem,ainda queestaprovenhadeideaisdesejados(Raphael-Leff,1991). Asexpectativassãoconsideradasnegativasquandonãohá A gestação é um evento complexo, com mudanças de
diversasordens;éumaexperiênciarepletadesentimentos intensosquepodemdarvazãoaconteúdosinconscientesda mãe (Brazelton & Cramer, 1992; Klaus & Kennel, 1992; Raphael-Leff,1997;Raphael-Leff,2000;Soifer,1980).A relaçãodamãecomseufilhojácomeçadesdeoperíodopré-natal,esedá,basicamente,atravésdasexpectativasqueamãe temsobreobebê3edainteraçãoqueestabelececomele.Esta primeirarelaçãoservedeprelúdioparaarelaçãomãe-bebê queseestabelecedepoisdonascimentoe,portanto,merece sermelhorcompreendida(Brazelton,1987;Brazelton,1988; Caron,2000;Condom&Corkindale,1997;Müller,1996; Stainton,1985).
espaçoparaobebêassumirsuaprópriaidentidade,istoé, quandoamãenãoconsegueaceitarasingularidadedeseu filhoeabandonarsuacargamaciçadeprojeções(Brazelton &Cramer,1992;Caron&cols.,2000;Szejer&Stewart, 1997). Há ainda casos de gestantes que não conseguem investirnobebênemesperarnadadele,pormedoquearea-lidadenãosatisfaçaseusdesejos.Algumasoutrasatribuem aobebêsomenteexpectativasdeinsucessoedemorte,oque geralmenteserevelanãoatravésdeverbalizaçõesesimde sensações,pensamentoseintensaspreocupações.Nestassi-tuações,amãenãoconseguedesvencilhar-sedesuaspróprias vivênciasnegativasearelaçãomãe-bebêficacomprometida (Raphael-Leff,1991).
Asexpectativasseconstituem,então,sobreobebêimagi-nárioquecadamãeconstrói,eenvolvem,principalmente,o sexodobebê,onome,amaneiracomoelesemovimentano útero,eascaracterísticaspsicológicasquesãoaeleatribuídas (Szejer&Stewart,1997).Oconfrontodestebebêimaginário comobebêrealocorre,comdefinição,apósonascimento; porém,atualmente,comoadventodaultra-sonografiaobs- tétrica,algunsaspectosconcretosdobebêpodemserconhe-cidosaindaduranteagestação(Caron,2000;Gomes,2003). Estesdadospodemtantoincrementarasfantasiasmaternas, comotambém,desdejá,anteciparalgumasfrustrações.
Osexoéumdosprincipaisaspectosparaseconhecero bebêantesdeseunascimento(Grace,1984),eporissocar-regamuitossimbolismos(Szejer&Stewart,1997).Muitas gestantes desejam conhecer o sexo do seu bebê ainda na gestação (Fonseca, Magalhães, Papich, Dias & Schimidt, 2000),principalmenteaquelasquejátêmfilhosouqueestão diantedeumagravideznãoplanejada(Villeneuve,Laroche, Lippman&Marrache,1988).Sabe-se,ainda,quearazão paraalgumasgestantesnãodesejaremobterestainforma-ção precocemente, é por não se sentirem preparadas para conheceraverdade,eestesaberantecipadopassaaservisto comoumaviolência(Szejer&Stewart,1997).Porém,sabe-sequemesmonãotendoconhecimentodosexodobebê,os paistendematerumaidéiainteriormenteformulada,uma identificaçãoimagináriaparaofilho,mesmoqueestanão coincidaentreelesenemtampoucosejaverdadeira.Conhecer osexodobebêantesdonascimentopossibilitareconhecê-lo deoutraforma,podendonomeá-loetorná-lomenosdesco-nhecido(Klaus&Kennel,1992;Raphael-Leff,1991;Szejer &Stewart,1997),eassimfacilitaroencontrocomobebê real(Brazelton&Cramer,1992).Ademais,casoosexodo bebênãocorrespondaaodesejadopelospais,estelutopode começaraserelaborado(Szejer&Stewart,1997).
Onometambémécompreendidocomoumparâmetrode antecipaçãodobebêeéapartirtambémdestaescolhaqueo bebêtorna-semaisrealeassumemaisoseulugarenquanto umserautônomo(Brazelton,1992;Szejer&Stewart,1997). Onomeescolhidopoderefletirmuitodasexpectativasde-positadasnobebêe,inclusive,remeteraosignificadodeste paraospais(Szejer,1999).Onomeinfluencianaqualidade dainteraçãodamãecomobebê,ouseja,aescolhadeum nomecontribuiparaqueas“conversas”damãecomobebê fiquemmaispersonificadas(Raphael-Leff,1997).
Apercepçãomaternadosmovimentosfetaiséconsiderada umgrandemarconagravidez,poisfazcomqueamãesintao fetocomomaisrealepersonificado,eincrementa,porisso,as
expectativasreferentesaele.Éapartirdamaneiracomosão percebidosestesmovimentosqueasgestantesvãoatribuindo característicasdetemperamentoaobebê,alémdeexpressa-remqueainteraçãopassouaserrecíproca,eelaspodematé compreendercertasmensagensdosfilhos(Maldonado,1997; Raphael-Leff,1997;Szejer&Stewart,1997).
Obebêanuncia,então,suaexistêncianointeriordospais muitoantesdonascimentoeosprojetoseexpectativasque envolvemasuachegadapreparamolugarparaacolhê-lo. Osaspectosconcernentesaestasexpectativassãodiversos eimportantesdesercompreendidos,poissãopalavrasque preparamoespaçodobebê,e,portanto,participamdarela-çãoapósonascimento.Diantedoexpostoacima,oobjetivo desteestudofoiverificarasexpectativaseossentimentos dasgestantesemrelaçãoaoseubebê.
Método
Participantes
Participaram deste estudo 39 gestantes primíparas, no últimotrimestredegestação,semproblemasdesaúde,com idadesentre19e37anos(M=26anos;DP=5,6anos). Todasviviamcomopaidobebê.Asparticipanteseramde níveissócio-econômicosvariadoseresidiamnaregiãome-tropolitanadePortoAlegre.Emtermosdeescolaridade,as gestantesvariaramentreprimeirograuincompleto(2,6%) e completo (7,7%), segundo grau incompleto (2,6%) e completo(35,9%),superiorincompleto(17,9%)ecompleto (33,3%).Houveumavariaçãosimilaremtermosdostatus ocupacionaldaprofissãodasgestantes,variandodeprofissões de“baixostatus”(43,5%dasmãesestavamemprofissões classificadasde1a4naescaladeHollingshead,1975),“sta-tusmédio”(23%emprofissõesclassificadasde5a6),ede “altostatus”(33,3%emprofissõesclassificadasde7a9).A amostrafoiselecionadadentreosparticipantesdeumprojeto maiorintitulado“EstudoLongitudinaldePortoAlegre:Da GestaçãoàEscola”(Piccinini,Tudge,Lopes&Sperb,1998). Estapesquisaacompanha,aproximadamente,umacentena defamílias,comváriasconfiguraçõesfamiliares(casados, recasados,solteiras),dediferentesidades(jovenseadultos), comescolaridadeseníveissócio-econômicosvariados4.O contato inicial para participar do projeto longitudinal foi feitocomagestantenoterceirotrimestredegestação,em hospitaisdaredepúblicadePortoAlegre,postosdesaúde, anúnciosemjornaiseindicação.
Procedimentos
Noprimeirocontatocomasgestantesforamexplicados os objetivos do estudo e, com aquelas que concordaram em participar, foi assinado oConsentimento Informado e realizada aEntrevista de contato inicial (GIDEP, 1998a) eaEntrevistadedadosdemográEntrevistadedadosdemogrEntrevistadedadosdemogr ficosáá (GIDEP,1998b).A primeiraentrevista,usadaparafinsderecrutamento,buscava investigaralgumascaracterísticasdemográficas,bemcomo
seagestanteeraprimípara,suaidadegestacional,seuesta-dodesaúde.Umavezatendidasascaracterísticasexigidas paraparticipardoestudo,realizava-seasegundaentrevista, usada para se obter informações demográficas adicionais, taiscomo:escolaridade,estadocivil,ocupação,religiãoe grupoétnico.
Emseguida,eracombinadoumencontronaresidência do casal, quando a gestante era solicitada a responder à Entrevistasobreagestaçãoeasexpectativasdagestante (GIDEP, 1998c). Esta entrevista, semi-estruturada, era compostadeoitoconjuntosdequestõesrelacionadastanto ao bebê como à maternidade e examinava, por exemplo, aspercepçõesdagestanteemrelaçãoaoplanejamentoda gravidez,suaaceitação,seuestadodehumorpredominante duranteagestaçãoeagravideznocontextodarelaçãocom opaidobebêedemaismembrosdesuafamília.Alémdisso, investigavam-seaspercepçõesefantasiasdagestantesobre obebêeamaternidade.Parafinsdopresenteestudoforam consideradasapenasasquestõesrelacionadasaobebê.Cada tópicoinvestigadoeraapresentadoinicialmenteàgestante emformadeumaquestãoampla(ex.:Eugostariaquetume falassessobreoteubebê).Casoarespostadagestantenão fossemuitoexplícita,eramentãousadasoutrasquestõesque ajudavamaesclarecerostópicosinvestigados(ex.:Oquetu jásabessobreobebê?;Tujásabesosexodobebê?;Vocês jápensaramnumnomeparaobebê?Quemescolheu?Algum motivoparaaescolhadonome?).
Resultados
Análisedeconteúdo(Bardin,1977;Laville&Dionne, 1999)foiutilizadaparaseexaminarasexpectativasesen-timentos das gestantes sobre o bebê. Para fins de análise foramcriadascincocategoriastemáticasqueexaminavam asexpectativasesentimentosquanto:1)aosexodobebê; 2)aonomedobebê;3)àscaracterísticaspsicolíí ógicasdo bebê;4)àinteraçãomãe-bebê;5)àsaúdedobebê.Estas forambaseadasnaliteratura(Raphael-Leff,1997;Stainton, 1985;Szejer&Stewart,1997) enasprópriasrespostasdas gestantesàentrevista.Doisdosautoresdopresenteestudo classificaramseparadamenteosrelatosdasmãesemcada categoriaesubcategoriae,emcasosdediscordância,usou-se umterceirojuiz.Aseguir,serãoapresentadasediscutidas ascategoriastemáticas,exemplificandocomverbalizações ilustrativas das próprias mães. No final de cada categoria apresenta-seumatabelacomadistribuiçãodasrespostasdas gestantesemcadasubcategoria.
Expectativasesentimentosquantoaosexodobebê
Estaprimeiracategoriatemáticaserefereàsexpectativas eaossentimentoscomrelaçãoaterumfilhoouumafilhaeo quantoistoteriaimplicaçõesparaorelacionamentodadíade. Osrelatosdasmãesforamclassificadosemtrêssubcatego-rias:crençasquantoaosexodobebê,desejoquantoaosexo dobebêe,implicaçõesquantoaosexoparaossentimentos dagestanteerelacionamentocomobebê.
Com relação às crenças sobre o sexo do bebê, foram tomadas separadamente as entrevistas das gestantes que játinhamaconfirmaçãodosexodobebê(n=36)easdas
gestantes que ainda não tinham esta informação (n =3). Nas verbalizações das gestantes que já sabiam o sexo do bebê,foireferidaumacrençadefinidadequeobebêfosse dedeterminadosexo:“sabequeeuachoqueamãedeve terumsextosentido,porqueeusempre,pravernome,pra vertudo,eusemprediziaqueeraummenino”.5 Asgestan-tesdemonstraram,também,quesuascrençasvariaramao longodagestação,porvezesesperandoummeninoeoutras umameninaevice-versa:“vinhamuitoqueeramenina,eu sempreimaginavaqueeramenina,depoisimagineiqueera tantoumfilhohomemquenãoconseguiameimaginarsem ele”.Houve,ainda,relatosdegestantesquenãorevelaram qualquercrençaquantoaosexodobebê:“não,agentenão tinha tendência para nenhum lado (...) mas eu realmente nuncamanifestei,nempensei”.
Emrelaçãoaosdesejosdasgestantesquantoaosexodo bebê,asmãesmanifestaramumaclarapreferênciaporum determinadosexo:“eusemprequeria,sabiaqueeramenina. Aíquandoagentefezaeco,assimqueomédicodisse,né queeramenina,ah,eufiqueiloucadefaceira,né?”Odesejo delasfoiexpressotambémdeformaassociadaaodesejodo paidobebêparadeterminadosexo,demonstrandoquesua satisfaçãoeraqueodesejodopaifosseconfirmado:“eufiquei feliz,masderepentemaisporele[marido],porqueeleestava querendoummeninoeparamimnãofaziadiferençasefosse meninooumenina”.Percebeu-se,ainda,umanecessidadedas mãesdesemanteremimparciais,ouseja,denãorevelarem seudesejoquantoaumdeterminadosexoparaobebê:“acho quenofundo,nofundo,euqueriaumguri,sabe.Maseunão davaobraçoatorcerporaquelacoisa,não,nãovoudizer queéumguriouqueéumaguria,porquesenãovãodizer: ‘ah,vairejeitar’”.Alémdisto,asgestantesdemonstraramse sentiremculpadasquandochegaramainvestiremumbebê dedeterminadosexoquenãoseconfirmou:
Eusempreachavaqueeramenino(...)compreimaisazul.Mas aí quando a gente fez a ultra-sonografia com cinco meses, pareciaqueeraumamenina,foiumacoisaassim,milperdões. Epedidesculpasaela,eelaeuachoqueaceitou.
Comrelaçãoàsimplicaçõesdosexodobebê nossenti-mentosdasgestantesenafuturarelaçãocomobebê,osexo foiapontadocomotrazendoimplicaçõesparaopapel/lugar queelejáocupanafamília:“ésómulherláemcasa,acho queésóporissoaminhavontadedeterumfilhohomem”. As gestantes referiram que a correspondência do sexo do bebêcomogenitordomesmosexopodiaacarretarnobebê semelhanças físicas ou de temperamento: “não sei se é porqueeleéhomem,né,vaiserhomem.Masimaginoqueéé tenhabastantecoisasparecidascomele”.Sentimentosde exclusãotambémforammanifestadospelasgestantes,quan-doentendiamqueosexodobebêpodiaserdeterminantede umarelaçãopai-bebêmaisintensa:
A gente sempre quer que seja mais amigo, assim, da gente,sejamaiscompanheiro,aindamaisquevaiserguri,
né,aíjátemmaismedo,assim,dequeelesejamaisamigo dopai,nãodêtantaimportânciaparaamãe.
Oconhecimentodosexo(feminino)foicitadocomouma possibilidadededesenvolvermaisafeminilidadedasgestan-tes“quandoeusoubequeerameninaeutambémgostei(...)éé acheiqueeuvoupensarmaisnafeminilidade,eusemprefui umamenininha-guriquandoerapequena”.Asgestantesre-feriram,ainda,que,conformeosexodobebê,diferenciariam aspráticaseducativasdobebê:“seformenino,éporqueele [omarido]quersairprajogarbola,sedeixarvaipassaro diainteironarua,nãovaificarnempreocupado,massefor guria,nãovaipoderpassarnemdoportãovaipoderpassarnemdoportovaipoderpassarnemdoport o”.
Nasverbalizaçõesdasgestantesquenãotinhamaconfir- maçãodosexodobebê,algumasparticularidadesaparece-ram.Porexemplo,deumladofoisalientadaumaexpectativa definida:“eunãoseiporque,euprefiro,maseunemsei(...) eu acho que vai ser uma menina”;assim como o desejo desaberosexodobebê,“eugostariamuito,eusoubem curiosa,essasemanaeuvoufazeroutra,aípodeserqueeu consiga”.Odesejodesaberosexodobebêfoirelacionado ànecessidadedenomeá-lo,torná-lomaisconcreto:
Àsvezeseuchamodeminhafilha,àsvezesdemeufilho, aíeudigonãoémeufilho,meubebê,aêê íeuchamoelede bebê,porqueeunêê ãoseioqueéainda,eunãoseiosexo, nãopossochamar.
ATabela1apresentaasporcentagensdeocorrênciaspara acategoriaExpectativasesentimentosquantoaosexodo bebê.Comopodeserobservado,emrelaçãoàcrençaquanto aosexodobebê,amaioriadasgestantestinhaumacrença definidadequeobebêseriadedeterminadosexo(53%)antes mesmodesaberemseusexo,seguidodealgumasquema-nifestaramumacrençavariada(14%)aolongodagestação. Poucasforamasgestantesquenãoverbalizaramnenhuma crençasobreosexodeseubebê(11%).Quantoaodesejo deobebêserdedeterminadosexo,umnúmeroexpressivo
degestantes(44%)referiusuasprópriaspreferênciasporum dossexos,enquanto22%mantiveram-seimparciaisquanto aestedesejo.Odesejodealgumasgestantes(17%)apare-ceurelacionadoaodesejodopaidobebê.Asimplicações dosexodobebênossentimentosdasgestantesenafutura relaçãocomeleaparecerammaisligadasàidentificaçãopor correspondênciadesexo(25%),seguidadopapel/lugarque obebêocuparánafamília(22%)epeladiferenciaçãodas práticaseducativas(17%).Outrasimplicaçõesapresentaram uma ocorrência mais baixa: 11% das gestantes referiram sentimentodeexclusãoporcontadeosexodobebêtornar maispróximaarelaçãodelecomopaie,3%manifestaram queapartirdosexodobebêpoderiamdesenvolvermaissua feminilidade.
Expectativasesentimentosquantoaonomedobebê
Esta segunda categoria diz respeito aos diversos as-pectosqueenvolveramaescolhaeosignificadodonome dobebêparaarelaçãomãe-bebê.Osrelatosdasgestantes foramclassificadosemtrêssub-categoriasrelacionadasàs razões para a escolha:características do príísticas do prsticas do pr prio nomeóóó ouoquelembra/remete,gostopelonome,característicasíí queesperamdobebêe,implicaçõesparaarelaçãocom o bebê.As gestantes referiram que a escolha do nome ocorreuemfunçãodascaracterísticasdopróprionomeou peloqueestelembravaouremetia,incluindopessoasque eramadmiradaspelocasal:“euqueroumnomequenão sejaumnomecomum,vamosdizerassim,querochamar pelaminhafilhaeelasaberqueéela,mesmoquetenha mileuma”.Onometambémfoiescolhidopelofatodeas gestantesgostaremdaquelenomeespecífico:“nãotinha motivoespecial,achoqueeraumnomeassim,queagente gostava”.Alguns sentimentos expressos em relação ao nomedobebêforamrelacionadoscomcaracterísticasque ospaisesperavamdeseusfilhosnofuturo:“euachoum nomemuitoforte,éumnomepomposo,éumnomederei, pramimvaiserumgrandehomem,vaiserumapessoa muitoimportante,éoqueeuquero”.Aescolhadonome dobebêfoimencionadatambémcomoinstaurandouma relação mais próxima com o feto:“depois que a gente escolheu este nome, a gente começou a se relacionar muitocomabarriga”.
ATabela2apresentaasporcentagensdeocorrênciaspara acategoriaExpectativasesentimentosquantoaonomedo bebê.Percebe-se que as expectativas e os sentimentos da maioriadasgestantesemrelaçãoaonomedobebêaparece-ramligadosàscaracterísticasdopróprionomeeaoqueeste
Tabela 1.Porcentagem de ocorrências para a categoriaExpectativas e sentimentos quanto ao sexo do bebêenvolvendo as gestantes que já conheciamosexodobebê(n=36)
Quantoaosexodobebê Númerodegestantes*
Crenças Definidaantesdaultra-sonografia
53%(19)
Variouaolongodagestação 14%(5) Semcrençadefinida 11%(4)
Desejos Desejodaprópriagestante 44%(16) Necessidadedeimparcialidade 22%(8) Desejorelacionadoaopaido
bebê
17%(6)
Implicações Identificaçãopor correspondênciadesexo
25%(9)
Papel/lugarnafamília 22%(8) Diferenciaçãonaspráticas
educativas
17%(6)
Sentimentodeexclusão 11%(4) Desenvolvimentoda
feminilidade
3%(1)
Nota*Cadagestantepodeterapresentadorespostasclassificadasemmais deumacategoria.
Tabela 2.Porcentagem de ocorrências para a categoriaExpectativas e sentimentosquantoaonomedobebê(n=39)
Quantoaonomedobebê Númeroderespostas*
Característicasdopróprionomeoupeloque lembra/remete
51%(20)
lheslembravaouremetia(51%).Outrasmãesescolheram onomedobebêjustificandoquegostavamdaquelenome (38%).Algumasgestantes(10%)expressaramqueonome para elas relacionava-se às características que esperavam dobebêe,duasgestantes(5%)revelaramumarelaçãomais próximacomobebêapartirdaescolhadonome.
Expectativasesentimentosquantoàscaracterísticas psicológicasdobebê
Estaterceiracategoria dizrespeitoàsimpressõesedese-josquantoàscaracterísticaspsicológicasimaginadasparao bebê.Asfalasdasgestantesforamclassificadasemquatro subcategorias:semelhanteaosgenitores,impressõesatuais eofuturobebê,desejose,impactodoestadoemocionaldaêê gestante.
Comrelaçãoàssemelhançasaosgenitores,asgestantes relacionaramascaracterísticaspsicológicasdeseubebêcom ascaracterísticaspsicológicasdelaoudopai:“seforpare-cidacomigo,elavaisermaiscalma,jáeleémaisagitado”, oucomacombinaçãodascaracterísticaspsicológicasdos dois:“euachoquederepenteelevaiserbrabo,porquenós doissomosbrabos”.Odesejodasgestantesdequeobebê tivesse determinadas características psicológicas também contribuiuparaqueelasconstruíssemumarepresentaçãodo bebê:“entã“ent“ent oeuachoqueelevaisermaisquietinho,porque euqueroqueelesejamaisquietinho”.
Asimpressõesatuaisqueagestantejátemsobreoseu bebêforamtambémcitadascomoindicadorasdesuasfuturas característicaspsicológicas.Asimpressõesforambaseadas nosmovimentosfetais:“seascaracterísticaspsicolíí ógicas for o que ele está aparentando na barriga vai ser super ativo”enaobservaçãodobebênaultra-sonografia“acho queelavaiserbemgeniosa,quenemeu,[pois]naecoela estavacomobracinhoassim,comamãofechada.Entãofechada.Entofechada.Ent oa vóvivedizendoqueelajáébemmandona,jáestáestest láassim, demãofechada”.
Ascaracterísticaspsicológicasdobebêtambémforam relacionadas ao desejo das gestantes por um determinado tipodetemperamento:“entãentent oeuachoqueelevaisermais quietinho,porqueeuqueroqueelesejamaisquietinho”.Por fim,foimencionadooeventualimpactodoestadoemocional maternonascaracterísticaspsicológicasdobebê.Paraal-gumasgestantesoseuestadoemocionalseriadeterminante paraascaracterísticaspsicológicasdeseubebê:“euimagino queelesejatranqüilo,euachopelomeuestilodevida,eu procuronãomeenvolvercomessesproblemasemocionais nesseperíodoíí ”.
ATabela3apresentaasporcentagensdeocorrênciaspara acategoriaExpectativasesentimentosquantoàscaracte-rísticaspsicolíí ógicasdobebê.Asub-categoriacommaior destaque relaciona-se à crença de que as características psicológicas do bebê serão semelhantes às dos genitores (59%).Emsegundolugar,apareceramosrelatosdequeas impressõesatuaissobreobebê(31%)baseadasespecialmente notipodemovimentosfetaisestariamrelacionadasadeter-minadascaracterísticaspsicológicasdobebê.Umnúmero menordegestantes(18%)referiuseusdesejoscomosendo umfatordegrandeinfluêncianadeterminaçãodascarac-terísticaspsicológicasdobebê.Porfim,15%dasgestantes
expressaramsuacrençadequeascaracterísticaspsicológicas dobebêseriamafetadaspeloseupróprioestadoemocional maternoduranteagestação.
Tabela 3.Porcentagem de ocorrências para a categoriaExpectativas e sentimentosquantoàscaracterísticaspsicolíí ógicasdobebê(n=39).
Característicaspsicológicasdobebê Númerodegestantes*
Semelhanteaosgenitores 59%(23)
Impressõesatuaiseofuturobebê 31%(12)
Desejos 18%(7)
Impactodoestadoemocionaldagestante 15%(6) Nota*Cadagestantepodeterapresentadorespostasclassificadasemmais deumacategoria.
Expectativasesentimentosquantoàinteraçãomãe-bebê
Estaquartacategoriatemáticarefere-seaomodocomo ocorreainteraçãomãe-bebêeasdificuldadesdasgestantes emestabeleceressainteração.Asfalasdasgestantescom relação a esta categoria foram classificadas em quatro subcategorias:atravésdelasmesmas,pelosmovimentos fetaise, através de recursos externos e dificuldade de interagir.
Paraalgumasgestantesasuainteraçãocomobebêocorria através delas mesmas, com base nas ‘conversas’ que elas tinham com o bebê. Durante estas conversas as gestantes disseramnarraracontecimentos,dividirsentimentoseexpli-carsituações,comoporexemplo:“desdeagorajáconverso comele‘Daquiapouco,tuvainascer,vaiserassim’(...) entã
ent
ent oeuconversocomele,nãoseiseadianta,euacredito quesim”.Asgestantestambémrelataramqueotoquena barrigaerapercebidocomooutrojeitodecontatarobebê: “essacoisadepassaramão,atéporqueeuachoqueéo únicocontatoquetutem,parecequeéacoisamaispráacoisamaispracoisamaispr tica (...)dá
(...)d
(...)d aimpressãodeacalentar,medáodeacalentar,medodeacalentar,med aimpressãodeter”. Ossonhostambémforamcitadoscomoformadeinteração, atravésdaqualasgestantesexpressavamapossibilidadede vivenciararelaçãocomoseubebê:“eusonheiváriasvezes, comosetivessepassadoanoiteinteiracomele(...)deua impressãoqueeleficouanoiteinteiracomigo,comaquele contatoassim”.
Ainteraçãoatravésdosmovimentosfetaistambémfoire-latadacomoumaformadecomunicaçãoeacompanhamento dobebê,atravésdasquaisasgestantescontatavamobebêe sentiamsuasreações,sabendosuaposiçãonabarriga,conhe-cendoseushábitosehorários:“épreguiçosapraacordar,eu achoqueelaacordameiotarde,euvejoissoemfunçãodos movimentos,claro”.Alémdisso,asgestantesmanifestaram queosmovimentoseramumaformadeperceberasuainflu-ênciasobreobebê(elesentiriaoqueelasentia):“quandoeu ficomuitoansiosaeuvejoqueelecomeçaareclamaraqui dentro,semexemuito”.
maistempo,porqueéomomentoquetutemdeficarquietaéé eversemexer,nãosemexer”.Asgestantesrelataramque amúsicatambémserviucomoumaformadeinteraçãocom obebê:“entã“ent“ent otudoqueagenteconversacomela,elaestáotudoqueagenteconversacomela,elaestotudoqueagenteconversacomela,elaest ouvindoeasmusiquinhasqueagentecoloca,elatem12 CD´salidela,ent´´salidela,entsalidela,ent oagentepõeasmusiquinhasdela”.Oã contatocomosobjetosqueobebêjápossuifoioutramaneira reconhecidapelasgestantesparainteragircomobebê:“a gentedeitanacama,obercinhotá
gentedeitanacama,obercinhot
gentedeitanacama,obercinhot dolado,játátt oquarto todoarrumadinho,sóesperandoele.Agentedeitanacama eficaimaginando”.
Porfim,houverelatosnosquaisasgestantesmanifesta-ramdificuldades parainteragircomoseubebê.
Pramim,aminhafilhaéaminhabarriga,nãoéonenê,sabe, eunãotenhoidéiadonenê,assim.Minhaidéiaqueeutenho defilha,porenquanto,éabarriga,nãotemnadaassimmuito concretodecriança.
A Tabela 4 apresenta as porcentagens de ocorrências para a categoriaExpectativas e sentimentos quanto à in-teraçãomãe-bebê.Comopodeserverificadonestatabela, amaiorpartedasgestantesreferiuqueainteraçãocomo bebê acontecia através de si mesmas, especialmente por meiodeconversas(59%),epelotoquenabarriga(28%). Um menor número de gestantes (8%) expressou que este contatoaconteciaatravésdesonhoscomobebê.Ainteração mãe-bebêatravésdosmovimentosfetaiscomoumaformade comunicaçãodaduplatambémfoipercebidaporumgrande númerodegestantes(46%).Umnúmeromenosexpressivo degestantes(10%)reconheceuainteraçãoquandoseuscom-portamentosesentimentoscausavamalgumainfluêncianas respostasdobebê.Dentreasformasdeinteraçãoapartirde recursos externos,aultra-sonografiafoiaformamaiscitada (23%),seguidademúsicas(13%)e,porúltimo,docontato comobjetosdobebê(10%).Adificuldadedeinteraçãocom obebêfoiverbalizadasomentepor2%dasgestantes.
Expectativasesentimentosquantoàsaúdedobebê
Nestaquintaeúltimacategoriatemáticaforamincluídas aspreocupaçõescomrelaçãoaobebêeaformapelaqualas gestantessetranqüilizavamquantoassuasansiedades.Os relatosdasmãesforamclassificadosemcincosubcategorias denominadas:preocupaçõespróesprespr priasdagravidez,preocu-óó paçõesespecíficas,culpaemedo,tranqíí üilizaçãoatravésdo pré
pr
pr -natale,referiunãoterpreocupações.
Asgestantesevidenciarampreocupaçõesprópriasdagra-videz,como,porexemplo,emrelaçãoàsaúdefetal,referindo queestasfaziamnaturalmentepartedoperíodogestacional: “agentesemprepensa,nãodáodod pradizerquenão,né,coisaséé comonenê,desersaudêê,desersaud,desersaud velounãoser,qualquermãepensa”.á Foramcitadas,também,preocupaçõesmaisespecíficasquan-toàsaúdedobebê,comoapossibilidadedemalformação fetal:“noinícioeraaformaíí çãodosórgãos,comotavaindo, daítuficameiopreocupada,seobebêtemalgumaanomalia” oudeprematuridade,nessecasopelapossibilidadedecausar complicaçõesparaasaúdedobebê:“temquenascernadata certapratunãoficarnaincubadora,ficarlátrancada,entãtrancada,enttrancada,ent o tuteacalmaaí,níí ãovainascerantes”.
Asgestantesrelataramtambémsentimentodeculpa,por medodequealgumcomportamentoseu,duranteagestação, pudessetercausadoalgummalaobebê:“eutenhoreceio, denãosaber,umerromeu,umlapsomeueucausaralgum problemacomomeu”.
Osrecursosdopré-natal,taiscomoexamesouaopinião domédico,foramcitadospelasgestantescomoumaformade tranqüilizá-lasquantoàsaúdedobebê:“tucomeçaapensar nosváriostiposdedoenças,podeisso,podeaquilo,aítu começaafazerexamesetuvêqueestáqueestqueest tudonormal”.Por fim,foramtambémencontradosrelatosquedemonstravam ausênciadepreocupaçõescomasaúdedobebê:“nãotem nadaquemepreocupeenãotenhoassim,seráotenhoassim,serotenhoassim,ser queomeu filhoéperfeito,nãoficoimaginandocoisas,euachoqueele éumacriançanormal”.
A Tabela 5 apresenta as porcentagens de ocorrências paraacategoriaExpectativasesentimentosquantoàsaúde dobebê.Pode-seobservarnestatabelaqueaspreocupações dasmãesemrelaçãoàmalformaçãodobebêforamasmais
Tabela 4.Porcentagem de ocorrências para a categoriaExpectativas e sentimentosquantoàinteraçãomãe-bebê(n=39)
Quantoàinteraçãomãe-bebê Númerodegestantes*
Atravésdelas mesmas
Conversas 59%(23)
Toquenabarriga 28%(11)
Sonhos 8%(3)
Pelosmovimentos fetais
Comunicação 46%(18)
Comorespostaàmãe 10%(4)
Atravésde recursosexternos
Ultra-sonografia 23%(9)
Música 13%(5)
Pertencesdobebê 10%(4) Dificuldadesde
interagir
2%(1)
Nota:*Cadagestantepodeterapresentadorespostasclassificadasemmais deumacategoria.
Tabela 5.Porcentagem de ocorrências para a categoriaExpectativas e sentimentosquantoàsaúdedobebê(n=39)
Quantoàsaúdedobebê Númerode
gestantes*
Preocupações específicas
Malformação 38%(15)
Prematuridade 5%(2)
Tranquilizaçãoatravés dopré-natal
28%(11)
Preocupaçõesprópriasà gravidez
13%(5)
Culpa/Medo 5%(2)
Referiunãoter preocupações
8%(3)
freqüentes(38%).Somam-seaistotambémaspreocupações comaprematuridade(5%).Jáosrecursosdopré-natalforam citadosporumnúmerorazoáveldegestantes(28%)como passíveisdetranqüilizá-lasquantoàssuaspreocupações.Um númeromenordegestantes(13%)expressousuacrençade queaspreocupaçõessãoinerentesaoprocessogestacional. Outrasexpectativasesentimentosconcernentesàsaúdedo bebêapareceramnumafreqüênciabastantebaixa,comonão terpreocupações(8%)eaculpa/medodecausaralgumdano aobebê(5%).
Discussão
Ascincoprincipaiscategoriasutilizadasnaanálisedas verbalizações das gestantes (sexo, nome, temperamento, interaçãoesaúde)parecemestaraserviço,narepresentação materna,“dedarmaisidentidade”aobebêduranteagestação. Pode-sepensarqueimaginar,interagir,acreditar,preocupar-sesãoatitudesquerevelamaexistênciadeumvínculocom obebê,oquepermitenomeá-loetorná-lomaisreal.Desde oiníciodagravidezéestabelecidaumarelaçãoimaginária damãecomobebê,aqualficarepresentadaporumcorpo imaginadopossuidordetodasascaracterizaçõesnecessárias para a completude de um corpo (Aulagnier, 1990; 1994). Asverbalizaçõesquerevelaramausênciadeexpectativase sentimentosquantoadeterminadoaspectodobebêtiveram umaocorrênciamuitobaixa,oqueexpressaumatendênciada mãedenecessitarconstruirjánagestaçãoumarepresentação mentalsobreobebê.Écomose“encontrar”comobebêantes deseunascimento,eporisso,osdadosdopresenteestudo corroboramaliteraturanosentidoquearelaçãomãe-bebê começanoperíodopré-natal(Brazelton,1987;Brazelton, 1988;Caron,2000;Condom&Corkindale,1997;Müller, 1996;Stainton,1985).
As participantes deste estudo foram entrevistadas no terceiro trimestre de gestação, quando a literatura aponta quehaveriaumdesinvestimentodasexpectativasmaciças dobebêimaginário,paracederlugaraobebêreal(Caron &cols.,2000;Stern,1997).Contudo,oqueapareceneste estudoéquepelomenosparaalgumasgestantes,osdados reais sobre o bebê parecem estar servindo de base para maisexpectativasesentimentos,aoinvésdereduzi-las.Por exemplo,asimpressõessobreocomportamentodobebêna barriga,baseadasnosmovimentosfetais,foramusadaspara imaginarseutemperamento;ouasimagensultra-sonográficas foramusadasparainteragirmaiscomobebê;ouresultados dopré-natalforamusadosparaevitarmaiorespreocupações. Jáparaoutrasgestantes,osdesejoseasfantasiasinconscien-tespesammaisparaconstruirarepresentaçãodaimagem mentaldobebê,como,porexemplo,quandoimaginamas característicaspsicológicasdeacordocomoseudesejode queobebêsejadedeterminadamaneira.Assim,contrarian-dooqueseesperariacombasenaliteratura,pode-sedizer queoinvestimentodobebêimaginárionãopareceaindater sidoreduzidoparatodasasparticipantesdopresenteestudo e,aomesmotempo,paraoutrassepercebequeosdadosde realidade foram absorvidos nas suas representações sobre o bebê. Sobre a perda do bebê imaginado, Caron (2000) referequeestarepresentaçãodamãeduranteagestaçãovai perdurarnotipoderelacionamentoqueseestabelecerácom
o seu bebê da realidade. Essa personificação do bebê, ou construçãomentaldocorpoimaginado(Aulagnier,1990), éumprocessotãointensoquemuitasvezescontinuasesu-perpondoaobebêdarealidade.Partindodosresultadosdo estudo,pode-sedizerque,noterceirotrimestredegestação destasmulheres,asexpectativasligadasàfantasiaeaquelas baseadasemdadosreaiscoexistiramnaformaçãodarepre-sentaçãomentalsobreobebê.Pode-sesupor,então,queeste períododociclogravídicoseconstituiuemummomento particulardetransiçãoentreobebêimaginárioeorealna representaçãomentalmaterna,àmedidaquealgumasges-tantesestavammaisligadasaoprimeiroqueaosegundoe vice-versa.Porém,nãoépossívelafirmarqueestatransição findaráapósonascimentodobebê.
Quantoaosexo,especificamente,asgestantes,emgeral, expressaramumacrençadequeobebêfossededeterminado sexo,oquevaiaoencontrodoquesugeremKlauseKennel (1992)aoafirmaremquemesmonãoconhecendoosexodo bebê,ospaissempretêmumaidéiainteriormenteformulada sobreeste.Amaiorpartedasgestantesreconheceuteruma preferênciaquantoaumdossexos,emborasendotodaselas primíparas,contrariandoalgunsachadosqueentendemque entreprimíparashaveriaumatendênciaaumaaceitaçãoin-condicionaldosexodobebêe,porisso,nãosepreocupariam comessedado(Villeneuve&cols.,1988;Wu&Eichmann, 1988).Seguindoestatendência,algumasgestantesdopre-senteestudodemonstrarampreocupaçãodenãomanifestar preferênciapordeterminadosexo,oquepodeserexplicado porBrazelton(1992)comoumtemordamãedeprejudicaro bebê.Pode-setambémdizerqueessanecessidadedemanter-seimparcialquantoaestedesejovisavapreservaraqualidade dovínculomãe-bebê,preparandoagestanteparaoencontro comobebêreal.Apreferênciadopaidobebêporumdos sexosfoireconhecidaporalgumasparticipantescomosendo tambémsua.Stern(1999)apontaqueemvirtudedoamor da mãe pelo companheiro, e pela escolha dele para ser o paidoseufilho,háumdesejodeoferecer-lheoseuproduto maisprecioso.Alémdisso,oapoioemocionalàgestantese constituiemumaimportantefunçãoatribuídaaopai(Klaus &Kennell,1992).Assim,aaceitaçãodobebêpelopaiéum fatorfundamentalparaoestabelecimentoeparaaqualidade doapegodamãeaobebê.Pode-sepensar,então,quedesejar arealizaçãododesejodopaiquantoaosexodobebêpode servircomoumagarantiadacontinuidadedoseuamoredo cumprimentodapaternidade.
aparelho psíquico, passando por diferentes identificações. Estassãovivênciasbastanteprecocesquedeixammarcas essenciais no psiquismo (Freud, 1926/1969).Assim, as repercussõessobreosexodobebê,verbalizadaspelasges-tantesdesteestudo,parecemterrelaçãotambémcomsuas vivênciasanterioresecomseusprópriospais.Estaúltima consideraçãoteóricaseadequaàcompreensãodosentimento deexclusãodealgumasgestantesque,aosaberemosexodo bebê,enfatizaramqueistolevariaaumamaiorproximidade dobebêcomopai.Osexodobebêtambémfoicitadocomo facilitadordodesenvolvimentodafeminilidadedaprópria gestante,endossandoasidéiasdeMaldonado(1997)deque osexodobebêpodelevaragestanteasentirsuafeminilidade ameaçadaouintensificada.
Onomedobebê,alémdeterpossibilitadoumarelação mais próxima com ele, uma vez que fala nitidamente da identidadedestenovoser,revelouexpectativasconscientes einconscientesdospais.Estesachadoscorroboramalitera-tura,queapontaqueonomerevelamuitasdasexpectativas depositadasnobebê(Szejer,1999),alémdeinfluenciarna interaçãomãe-bebê,namedidaemqueesteévistocomomais personalizado(Raphael-Leff,1997).Paraváriasgestantes, aescolhadonomeestavaassociadaaoqueelelembravaou remetia,comdestaqueparaaspectostransgeracionais,que acabaramaparecendocomescolhasdenomesdepessoasque foramsignificativasnopassado.Pode-sepensarqueobebê recebendo um nome que remeta a algo conhecido, sejam pessoas,situações,lugares,desejosouexpectativas,passa asermenosestranho,eportantomenosameaçador.Assim, épossívelcompreender,pelomenosemparte,porqueas gestantesdesteestudoreferiramquedepoisdestaescolha donomedobebê,arelaçãomãe-bebêficouaindamaispró-xima;parecemaisfácilaproximar-sedealguém,alémde maisreal,mais“familiar”.Sobreessamaiorproximidade, SzejereStewart(1997)apontamqueonomeviabilizaum primeiroesboçodediálogocomobebê.Asverbalizações analisadasrevelam,então,queonomeescolhidoparaobebê parecerevelarconcretamentepartedasexpectativas,desejos erepresentaçõesdospaisemrelaçãoàquelefilho.
As expectativas quanto às características psicológicas dobebêaparecerammuitoligadasàtransgeracionalidade, fazendocomquemuitasmãesexpressassemsuascrençasde queobebêseguiria“ojeito”deumoudosdoisgenitores. Oatodedesejarumfilhopodeterorigensnumamesclade razõesconscienteseinconscientesedentreasquaisestáo desejodegarantiraprópriacontinuidadeedeseauto-duplicar (Brazelton&Cramer,1992;Maldonado,1997).Nestaca-tegoria, é notável também que um número expressivo de gestantesatribuiuaexpectativadeumdeterminadotipode comportamentoaobebê,apartirdedadospercebidosporelas duranteagestação,especialmentedosmovimentosfetais. Assim,pensa-sequeobebêrealnãoéconhecidosomente apósonascimentoetampoucounicamenteatravésdaultra-sonografia. Dados reais do bebê vão sendo percebidos já duranteoperíodogestacionalefazemparte,juntamentecom osdadosdafantasia,darepresentaçãomentaldamãesobreo bebê.Umnúmeromenordeparticipantesexpressouseusde-sejoscomoumfatordepossívelinfluêncianascaracterísticas psicológicasdobebê.Percebe-se,emgeral,quenestasmães odesejotranscendeoimaginado,ouseja,édesdejáesperado
dofilhoqueeleatendanãosomenteaumaexpectativaou umacrençaesimaumdesejodamãequeelesejadedeter-minadaforma.Estedesejopodeser,emalgunscasos,ligado aexpectativasmaisbrandase,apósonascimentodobebê, podehaverumaaceitaçãodeseutemperamentogenuíno;por outrolado,nãoseexcluiapossibilidadedesetrataremde desejosepressões“alienantes”(Cramer&Palácio-Espasa, 1993).Comoéassinaladonaliteratura,opapelnegativodas expectativasocupaoespaçodarealidentidadedobebê,que passaaassumiracargamaciçadasprojeçõesdeseuspais. Algumasgestantesdopresenteestudoreconheceramqueseu estadoemocionalduranteagravidezpoderiasertransmitido paraofeto,epoderiainfluenciarnoseutemperamento.Este dadorevelaumsentimentodevínculointensoentreamãe eobebêjáduranteagestação.Paraalgunsautores,amãe estáenvolvidaemumdiálogocomofeto,atrelandoaele seusníveisdeatividadeseseuestadoemocional(Klaus& Klaus,1989).
logoseligamàrepresentaçãomentaldelasobreobebê.A maioriadosestudosrevelaumainfluênciapositivadaultra-sonografianarelaçãomãe-feto(Caccia,Johnson,Robinson &Barna,1991;Fletcher&Evans,1983;Kohn,Nelson& Weiner,1980).Estesautoressugeremqueaultra-sonografia possibilitaqueagestanteseapoderemaisdoseupapelde mãe, incremente seus sentimentos maternos, e perceba o fetocomomaisrealepróximo.Oexametendeafacilitar, então,atransiçãoparaaparentalidade,eintensificaraunião pré-natalentremãeefeto(Gomes,2003).Porfim,algumas gestantesmanifestaramautilizaçãodemúsicas,ocontato comosobjetosdobebêeossonhosnoturnoscomobebê comoformasimportantesdeinteraçãocomele.Aspreocu-paçõesdasgestantesdopresenteestudoemrelaçãoàsaúde dobebêforammaisenfocadasnapossibilidadedeocorrência deumamalformaçãofetal,quandooconfrontoentreobebê realeobebêimaginárioassumeumadimensãoimpactante (Klaus&Kennell,1992).Aprofundaperdaqueseinstalana mãedevidoaodiagnósticodeumfilhomalformadoacarreta oquesechamade“feridanarcísica”,afetandodiretamente suaauto-estima,namedidaqueseubebêéconsideradocomo sendosuaextensão(Ramona-Thieme,1995).Pode-se,por estasrazões,compreenderqueomedodeumamalformação atinjadeformasignificativaasgestantes,quesedeparariam com sua própria incapacidade de gerar um filho perfeito. O fato de, no presente estudo, as participantes referirem tranqüilidadediantedosresultadosfavoráveisdosseuspré-natais,sugerequeelassesentiram“aprovadasnotestede qualidade”.Porvezes,ofatodevisualizarofetoeseusmo-vimentosnoexamedeultra-sonografiaé,paraalgumasmães, suficienteparalivrá-lasdoestadoperturbador;porém,para outras,asfantasiasdemalformaçõesfetaispersistem(Milne &Rich,1981).Assim,algumasmãesmanifestaramqueas preocupaçõesemrelaçãoàsaúdedobebêeraminerentesà gestação,nãocessandocompletamenteemnenhummomento desteperíodo.Maldonado(1997)referequeaspreocupações maternascomasaúdedobebêsófindamnomomentodo parto, quando é comum que a gestante questione se está tudobemcomobebêeseeleénormal.Porfim,algumas gestantesreferiramausênciadepreocupaçãoemrelaçãoà saúdedobebê.Épertinentelembrarqueamaneiracomocada mãevivenciaoperíodogestacionaldependedeseupróprio mundointerno,desuasrelaçõespassadasesuasnecessida-des conscientes e inconscientes relacionadas àquele bebê (Maldonado,1997;Raphael-Leff,1997;Soulé,1987;Szejer &Stewart,1997).Tambémforampoucasasmanifestações deculpaemedodetercausadoalgumdanoaobebê,oque podeserjustificadopelomomentofinaldegestaçãoemque asmesmasseencontravam.Nesteperíodo,normalmente,a ameaçamaiordestesfatoresjáfoiultrapassada.
Osresultadosdopresenteestudoapóiamaidéiadequeno períodopré-natalospaisjáconstroemanoçãodeindividuali-dadedobebê,reconhecendoalgunsdeseuscomportamentos ecaracterísticastemperamentais(Stainton,1985).Ademais, desdemuitocedoospaisestabelecemummodocostumeiro deinteraçãocomofeto.Estaintimidade,segundooautor,se constituiatravésdeinformações,taiscomo,sexo,maneirade movimentar-se,edeterminamaestruturaçãodeumpadrão deinteraçãoprecoceentrepaisefeto,quetendeacontinuar apósoparto.Esteestudoapontouaexistênciadeumarelação
materno-fetalbastanteintensa,aqualéembasadaespecial-mentenossentimentosouexpectativasdasgestantessobre osexo,onome,ascaracterísticaspsicológicas,ainteração mãe-fetoeaspreocupaçõescomasaúdedobebê.Osresulta-dossugeremqueconhecerobebêantesdonascimento,estar comele,pensarsobreele,imaginarsuascaracterísticas,traz implicaçõesparaaconstruçãodarepresentaçãodobebê,da maternidadeeparaaatualrelaçãomãe-bebê.
Contudo,éimportanteatentarmosqueestaposturade imaginar,pensareestarcomobebêantesdonascimentoé apenasumadasformasdeseavaliaraproximidadedocon-tatodagestantecomobebê.Assim,nãosepodeafirmarque aquelasgestantesquenãoexpressemexpectativasclarasou umarepresentaçãomentalexplícitasobreobebênãoestejam, defato,serelacionandocomseubebêdeformapróxima. Paraterestavisãomaisdefinida,outrosaspectosdevemser avaliadoseconsiderados,respeitandoqueamaternidadeé vivenciadadeformacomplexaesingularporcadamulher.
Referências
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