Jefferson A. R. Staduto2, Weimar F.Rocha Jr3, Mayra B. Bitencourt4
Resumo: O objetivo central deste estudo é analisar os sistemas de contratação do trabalhador temporário na agricultura brasileira, e, principalmente, por meio das cooperativas de trabalhadores rurais, e considerandoaóticadasinstituiçõesjurídicas.Oestudofoiabordado apartirdaabordagemdaNovaEconomiaInstitucional.Asinstituições jurídicas são importantes componentes na formatação do sistema de contratação; a atuação dessas instituições tende a restringir algumas formasdecontrataçãoeincentivaroutras.Verificou-sequeasinstituições jurídicasapresentavamgrandesrestriçõesquantoaofuncionamentoe contrataçãodascooperativasdetrabalhadoresrurais,poismuitasdelas apresentavamumcaráterfraudulento,acarretandoperdadediretostra-balhistasàmão-de-obraqueprestavaserviçonaspropriedadesruraispor
1Agradecemososcomentárioseassugestõesdospareceristasanônimosbemcomoa
colaboraçãodabacharelemdireitoLizeteDeimling.
2 Doutor em Economia Aplicada e professor do Curso de Ciências Econômicas e do
MestradoemDesenvolvimentoRegionaleAgronegóciodaUNIOESTE/Toledoemem-bro do Grupo de Pesquisa em Agronegócio e Desenvolvimento Regional (GEPEC) -staduto@unioeste
3 Doutor em Engenharia da Produção e professor do Curso de Ciências Econômica
edoMestradoemDesenvolvimentoRegionaleAgronegóciodaUNIOESTE/Toledoe membrodoGrupodePesquisaemAgronegócioeDesenvolvimentoRegional(GEPEC) -wrocha@unioeste.br
4
meiodascooperativas.Alémdisso,asempresasquecontratavamessas cooperativasestariamgerandoelevadosriscospotenciaisdecustosde transaçãoadotandoestesistemadecontraçãodetrabalhadoresrurais. Palavras-chave: contrato de trabalho, cooperativa de trabalhadores rurais,instituiçõesjurídicas.
ClassificaçãoJEL:K31
Abstract:Thepurposeofthisstudyistoanalyzetheagriculturalseasonal
laborcontractsystemandmainlytherurallaborcooperatives,fromthe legalsystem’spointofview.Legalinstitutionsareimportantcomponents thataffecttheagriculturalseasonallaborcontract.Therefore,theseinstitu-tionstrendtorestrictsomecontractframeworksandtoprovideincentive toothercontracts.Theworkverifiedthatrurallaborcooperativeshave highrestrictionsfromlegalinstitutions.Thereasonisthehighincidence ofcorruptioninthiscontractsystem.Thus,thereisapotentialincrease inthetransactionscostofthelaborcontractsystem.
Keywords:laborcontract,rurallaborcooperative,institutionsjudicial.
JELClassification:K31
1. Introdução
Oobjetivocentraldestetrabalhoéanalisarosistemadecontratação damão-de-obratemporáriaagrícola,maisespecificamenteosserviços prestadospelascooperativasdetrabalhadoresrurais,sobretudosobaóti-cadasinstituiçõesjurídicas.Essasinstituiçõessãoumdoscomponentes importantesquemoldamosistemadecontrataçãodamão-de-obra,tendo umgrandepotencialderestringiralgumasformataçõescontratuaisede incentivaroutras.Comafinalidadedeanalisaroscontratos,foirealizada umabrevediscussãoacercadaabordagemteóricanaóticacontratual domercadodetrabalho.
comafinalidadedeautomatizarasváriasetapasdasatividadesagrícolas. Amão-de-obravolantepodeservistacomoumasituaçãotransitóriana formadeproduçãocapitalista.Atransiçãorequertempoetecnologia disponíveisparasubstituirotrabalhoobreiro.Asubstituiçãodotrabalho temporáriotambémrequerinvestimentoemcapital,ouseja,hácustosna aquisiçãodastecnologiaspoupadorasdemão-de-obradisponívelparao setoragropecuário.Atransiçãodotrabalhoobreiroparaoautomatizado éumprocessolentonasetapasmaisadiantadaseprovavelmenteserá permanentementeincompleta.Comefeito,esseprocessodesubstituição defatoresdeproduçãoenfrentalimitestemporaisefinanceiros.
As profundas transformações que transcorreram no setor agrope-cuário,principalmentenasúltimastrêsdécadas,modificaramaforma deproduzireaorganizaçãodaprodução,propiciandocondiçõespara o surgimento do fenômeno do trabalhador temporário (bóia-fria ou volante).Entreosfatoresquecontribuíramparaosurgimentodostra-balhadorestemporáriosdestacam-sedoismovimentosqueocorreram simultaneamente:oprocessodemodernizaçãodosetoragropecuário eaimplementaçãodelegislaçõesqueampliavamosdireitosdostraba-lharesrurais–EstatutosdaTerra(algunspreceitosdesseEstatutoforam contempladosnaConstituiçãode1988)edoTrabalhadorRural.
A força de trabalho agrícola temporária é, basicamente, formada pormão-de-obranão-qualificada,oqueimplicaumreduzidopoderde barganhananegociaçãosalariale,alémdisso,incentivaonão-cumpri-mentodosdireitostrabalhistas.Emboraasfirmascontratantestenham àdisposiçãoumasituaçãofavorávelnorecrutamentodessesindivíduos, nasregiõesmaisdesenvolvidasencontramrestriçõesimputadaspelas instituições jurídicas – Delegacia do Trabalho, Justiça do Trabalho e MinistérioPúblicodoTrabalho.Apresençadesseaparatoinstitucional está,emcertamedida,restringindoalgumaspráticasdecontratações, comoéocasodascooperativasdetrabalhadoresrurais,einduzindo outrasformasdecontratação.
da assistência social da cooperativa, os associados podem assegurar direitostrabalhistasalcançadosàssuasnecessidadesprioritárias.Dessa forma,ascooperativasdetrabalhadoresrurais,porsuascaracterísticas, tendemaamenizarosconflitosentreaspartes.Osempregadorestêm apossibilidadedereduziroscustosdetransação,alémdefacilitaro recrutamentodamão-de-obra;eosempregadospodemcommaiorfa-cilidadeassegurarseusdireitoseremunerações.Entretanto,paraquea organizaçãocooperativafuncioneemcondiçõesdeatenderaoquese propõe,énecessárioodesenvolvimentodeumprocessodecomunica-çãoedeeducaçãocooperativistaemconsonânciacomosprincípiose valoresdocooperativismo,paraumaefetivaparticipaçãodosassociados nagerênciadoempreendimento.
A abordagem contratual do mercado de trabalho apresenta uma vertentedesenvolvidapelateoriadoscontratospelosautoresdaNova EconomiaInstitucional,eoutrasvertentespelasteoriascomfundamen-toskeynesianos.Asduasabordagenscomportamaóticainstitucional, entretantoestetrabalhoexploroucommaisdetalhesasformulaçõesda NovaEconomiaInstitucional.
Paraalcançarosobjetivospropostos,organizou-seestetrabalhoem seisseções,incluindoestaintrodução.Nasegundaseçãosãoapresen-tadasasabordagensrelativasaosurgimentodotrabalhadortemporário naagropecuáriabrasileira.Naterceiraseçãoéconduzidaumadiscussão teóricasobreoscontratoseoambienteinstitucionaldomercadodetra-balhoagrícola.Naquartaseçãosãoapresentadososprincipaiscontratos detrabalhoagrícolapraticadosnosetoragropecuário.Naquintaparte sãoanalisadasascooperativasdetrabalhadoresrurais.E,finalmente, naúltimaseçãoconstamasconsideraçõesfinais.
2. O Fenômeno do bóia-fria
empregototalnaagricultura,oquemostraoaltograudeinformalidade nessesetor(AMADEU,1999).
DeacordocomCacciamali(2001),essainformalidadeinduziumu-dançasinstitucionaisnasrelaçõesdetrabalho.Reformaslaboraisforam promulgadasintroduzindocontratosalternativosaocontratodetrabalho permanente,diminuindocustosedireitossociais.
Na agropecuária brasileira cristalizaram-se vários esquemas de relaçõesdetrabalho.SegundoGoodmanetal.(1985),osmeeiros,os arrendatáriosouostrabalhadoresresidentessãotrabalhadoresassala-riadosdisfarçados.Aproletarizaçãodessesindivíduosocorreuapartir dosanos60comoprocessodecapitalizaçãodosetoragropecuário,ou seja,comamodernizaçãodaagricultura.
Cacciamali(1986)sintetizouemdoisgruposasdiscussõesnomeio acadêmicosobreasrazõesqueprovocaramocrescimentoemalgumas regiões ou, até mesmo, o surgimento da utilização da mão-de-obra temporárianasatividadesagropecuárias.Atéadécadade60,esteseg-mentodetrabalhadoreserapraticamenteinexistente.Oprimeirogrupo éformadopelosautoresqueassociamocrescimentodautilizaçãoda mão-de-obratemporáriacomosurgimentodosEstatutosdaTerraedo TrabalhadorRuraleseusdesdobramentos(ETR,Lei4.214de1963).Esses autoresargumentamqueosempregadoresrurais,paraseeximiremdo pagamentodosdireitosreguladospeloETR,expulsaramoureduziram aomáximoostrabalhadoresagrícolasresidentesemsuasfazendas.Os fazendeirosacreditavamqueoscustoseasobrigaçõesimputadaspela legislação eram muito elevados, considerando a baixa qualidade da forçadetrabalhoempregadaeadescontinuidadeinerenteaoprocesso produtivonasatividadesagropecuárias.
Portanto,sobestaótica,após1963,anecessidadedetrabalhotem-porárionasatividadesagropecuáriaseareorganizaçãodasrelaçõesde trabalhosetraduziriamemônusparaosempregadores.Aformadeburlar alegislaçãovigentefoiadescaracterizaçãodosvínculosempregatícios edoassalariamento,pormeiodautilizaçãodotrabalhointermitente (trabalhoilegalouclandestino).
fasedodesenvolvimentocapitalistadopaísedoprópriosetoragrope-cuário.Essespesquisadoresnãoacreditamqueaaplicaçãodalegislação –osEstatutosdaTerraedoTrabalhadorRural–sejaofatorcausador dofenômeno“trabalhadortemporário”.Apersistênciaeocrescimento dessamodalidadederelaçãodetrabalhoestariamligadosàespecializa-çãonumamesmaatividadeagrícola,oqueimplicariaaintensificação dousodotrabalhotemporário.Essefatoocorreuindependentemente daincidência,ounão,deencargostrabalhistassobreossaláriospagos aostrabalhadoresagrícolas.Cacciamali(1986)reforçaessesargumentos, poisnasuaopiniãonãoécorretaaafirmaçãodequeosurgimentode legislaçãoespecífica,regulamentandoasrelaçõesdetrabalhonocampo, sejaresponsávelpeloaparecimentodoassalariamentotemporário.
Cacciamali (1986) e Brant (1977) têm a mesma opinião de Mello (1975,p.147):obóia-friaéaafirmação“históricadosistema”.Confor-meMello(1975),obóia-fria,componentedasfileirasdosofertantesde forçadetrabalhoemembrodasuperpopulaçãorelativa,é,comefeito,a afirmaçãodosistemacapitalista.“Aformaqueesseindivíduorealizao seutrabalhonocampoéumadecorrênciadaexistênciadesteexcedente daofertadeforçadetrabalho,emrelaçãoàdemanda.Apossibilidade decontarcomumtipodetrabalhoque,recebendoportarefaoupordia, trabalhandonumritmoirregularfavoreceosinteressesdoempregador, existe, em última análise, como decorrência da superabundância de mão-de-obra”(MELLO,1975,p.87).
AguirreeBianchi(1989)formularamumainterpretaçãodiferenciada daquestãodosurgimentodotrabalhadortemporário.Asautorasanalisa-ramessefenômenoapartirdaconstataçãodanecessidadedeacumulação paraaatividadecapitalista.Nocasobrasileiropoderiahaver,àprimeira vista, três possíveis opções para acumulação de capital: extensão da jornada de trabalho, aumento da intensidade do trabalho e aumento de sua produtividade. A primeira opção não parecia uma alternativa factível,poisajornadadetrabalhojáerasuficientementeexaustiva.No casodoaumentodaintensidadedotrabalho,sóseriaviávelsehouvesse umforteincentivoparaotrabalhador.Noentanto,quandosetratade trabalhomanual,hádificuldadesdecontrolerigorososobreoesforço despendido.Aterceiraopção,oaumentodaprodutividadedotrabalho, viabiliza-sepormeiodeinvestimentoemcapitalfixo.
setorsofriarestrições,portanto,emcondiçõesdeampladisponibilidade demão-de-obra,aalternativaparacapitalizaçãodaagropecuáriapoderia serautilizaçãodotrabalhotemporário.Dessaforma,essetipodetrabalho seriaútilnoprocessodetransiçãodeumaagriculturatradicionalpara umaagriculturatecnicamentemaisadiantada.Comonosúltimosdez anosoprocessodetecnificaçãodosetoragropecuáriointensificou-se, houveumareduçãonarelaçãoentretrabalhoecapital.
O fenômeno do surgimento do trabalhador temporário apresenta váriasversões,noentantoaargumentaçãodeAguirreeBianchi(1989) demonstraquesetratadeumasituaçãotransitória.Segundoainter-pretação desses autores, a relação entre trabalhadores temporários e volantestenderiaaaumentarinicialmentee,comodesenvolvimento docapitalismo(aumentodocapital),daagricultura,reduziria,confi-gurando,dessaforma,opapeldetransiçãodessetipodetrabalhador. Essatransiçãoélentae,provavelmente,devaterumazonadefronteira paraextinçãodessetipodeocupaçãodedifíciltransposição,noquala tecnologiapoupadorademão-de-obratenhaqueterarelaçãoentrecusto ebenefíciofavorável,detalformaqueumadeterminadafirma(empresa rural)adotetecnologiaspoupadorasdemão-de-obra.
Nota-se,comotrabalhodeVandemanetal.(1991),quemesmonas economiascomaagriculturamaisdesenvolvida,comoécasodoestado americanodaCalifórnia,oscontratosdetrabalhosãoumaantigainsti-tuiçãodosetoragrícola.Essesautorescitamqueosagentesquefazem aintermediaçãodotrabalhoagrícolaestãopresentesnaagriculturada Califórniahámaisde100anos.Atarefaobreiraestápresentemesmona agriculturamaistecnificada,poisasubstituiçãodastarefasrealizadas pelamão-de-obranão-qualificadapormáquinaseequipamentosnãoé disseminadaefactíveldeformageneralizada.
3. Abordagem teórica das relações contratuais do mercado
de trabalho
contratossãofirmados,bemcomooambienteinstitucionalqueregeas relaçõesdosagentesimersosnessescontratos.
NasabordagensteóricaskeynesianasedaNovaEconomiaInstitucio-nal,oscontratosdetrabalhoemergemcomoinstrumentosfundamentais nosestudosdotrabalho,osquaisgeramimplicaçõesfundamentaisnesse mercado.Paraatarefadeexplicitarascontribuiçõesdateoriakeynesina e,naturalmente,daNovaEconomiaInstitucional,estaseçãoestádividida emduaspartes.Naprimeiraérealizadaumareflexãosobreacontribui-çãodeKeyneseosdesdobramentosdesuateoria,e,principalmente, dosmodelosmaisrecentes–osnovoskeynesianos.Nasegundaparte, analisa-seacontribuiçãodosautoresdaNovaEconomiaInstitucional.
3.1. A Teoria dos Contratos
KeynesintroduzocontratodetrabalhoemsuaTeoriaGeral,tendoa proposiçãofuncionalderestringirarápidaflutuaçãodossaláriosedos indivíduosempregados.Dessaforma,asfirmasnãopodemdispensar ostrabalhadoresparaajustarofertaedemanda.
Estegrupodeautores,osnovoskeynesianos,aprincípio,tinhaopa-pelteóricodealicerçarmicroanaliticamentearigidezsalarial5,tantoque
elesformularammodelosquetrazemàtonaváriosaspectoseconceitos importantesnasrelaçõesdotrabalho.Essesmodelossuscitamvários tiposdeajustamentoparajustificararigidezsalarial,taiscomocustode rotatividadedamão-de-obraedaseleçãoadversadenovostrabalhadores. Froyen(1999)denominaessaabordagemcomosendocontratual.
Nasrelaçõescontratuaisestãoexplícitasascláusulasjurídicas,sociaise econômicas.Hárazõesquemotivariamostrabalhadoresacumprirosseus contratosdetrabalhomesmoqueosjulgasseminjustos;porexemplo,a jornadadetrabalhoearemuneraçãodasatividadesqueexercem.Segundo Amadeo(1992),ostrabalhadoresnãoabandonamocontratopelasseguintes razões:a)quandoháperdassalariais,émaisprovávelqueostrabalhadores demandemrevisãosalarial;b)otrabalhocumpreumpapelsocialecultural
5RigidezsalarialéumaspectofundamentaldateoriadeKeynes,segundoaqualos
importanteparaotrabalhador;ec)casonãohajabenefíciosadequadospara odesempregado,essasituaçãopodeterconseqüênciasdesastrosaspara afamíliadotrabalhador.Nosegmentodomercadodetrabalhoondenão hácontratoexplícitoquefixaosaláriomonetário,costumahaveracordos implícitosquefixamossaláriosduranteumperíodo,bemcomomuitas dasregrasdasrelaçõesdotrabalho,taiscomojornadadetrabalho,finais desemanaremunerados,horárioparaasrefeiçõeseoutros.
Dentrodoscustosderotatividadedamão-de-obraquesãoimputados àfirma,váriossãoconsideradosfatoresinstitucionais,osquaisdelimitam olivreajustamentodosmercadosdetrabalho.Osnovoskeynesianos incorporam nos modelos microeconômicos os custos de rotação da mão-de-obra,quepressupõemcustosdetreinamento,derecrutamento, dedispensa,deperdadeprodutividade,eoutrosrelacionadosaofator humano.Ocontratante(firma)assumepapelpredominantenomercado detrabalho,entretantotemgrandesrestriçõesparanãodispensarostra-balhadoresempregadoseparaadmitirostrabalhadoresdesempregados comsaláriosmenores.
Oprocessodecontrataçãoedispensadamão-de-obrageracustosde transaçãoecustosdeproduçãoparaafirma.Oscustosdetransaçãopodem serdefinidosemquatroníveis:oprimeironívelrelaciona-secomoscustos deconstruçãoenegociaçãodoscontratos;osegundoenvolveoscustos emmediremonitorarosdireitosdepropriedadeexistentesnocontrato. Nessenívelincorporam-seoscustosdeobservaçãodoscontratosaolongo dotempoparamonitorarseudesempenhoeatende-seàsexpectativasdas partesquefizeramatransação.Oterceironívelenglobaoscustosdemanter efazerexecutaroscontratosinternoseexternosdafirma.Oquartoeúlti-monívelrelaciona-secomoscustosdeadaptaçãoqueosagentessofrem comasmudançasambientais(FARINA,1999).Nessesentido,ocustode transaçãoécompostodeváriosníveis,desdeosagenteseconômicosdo recrutamentoatéoscustosinstitucionaisdeordemtrabalhista.
trabalhosejatratadocomofatordeproduçãovariável.Dessaforma,Oi (1962)classifica-ocomouminsumoquasefixo.
Williamson (1985) reforça essa idéia de investimento em capital humanopormeiodaabordagemdaespecificidadedotrabalho,tendo oseguintemecanismodeajustamento:quantomaioraespecificidade dotrabalho,maiorseráoinvestimentoemtreinamentoemaiorseráo interessedafirmademanterumquadroestáveldeempregados.
Emtermosdeabordagensteóricasqueconsideramcustosdessana-tureza,háosmodelos“novoskeynesianos”.Aaplicaçãoempíricadesses modelosérealizadaporváriosautores,principalmentenosestudossobre omercadodetrabalhourbano;noentanto,constatam-sepoucaspubli-caçõesparaomercadodetrabalhoagrícola.Nota-seque,tratando-sede mão-de-obrapoucoqualificada,tem-sebaixaespecificidadedotrabalho pornãohaver,praticamente,nenhumcustoemtreinamento.Porém,mes-monãotendonecessidadedeinvestimentoemcapitalhumano,oscustos detransaçãonãoestãoeliminados.Afirmaincorreemcustosaomanter transaçõescomomercadodetrabalho;alémdisso,oscustosdetransação imputadospelasinstituiçõesjurídicaspodemseraltíssimosquandoosis-temadecontrataçãoéirregular.Nestecontexto,oambienteinstitucional poucoaparecenessesmodeloseassumeumadimensãosignificativapara ostrabalhadorespoucoqualificadosecompequenopoderdebarganha.
3.2. O ambiente institucional e a contribuição da NEI
OtrabalhodeCoase(1937)“TheNatureoftheFirm”apresentaa gênesedateoriadoscontratos.Naformulaçãoteóricadoautor,oscon-tratosemergemcomoinstrumentosqueexpressamaestruturalegalque regeasinstituiçõesdosistemaeconômico.Portanto,asinstituiçõesdo sistemaeconômicotêmqueseacomodardentrodosistemajudiciário vigente.Emtrabalhomaisrecente,Coase(1988)apontaqueosgovernos influenciamasaçõesdosagenteseconômicospormeiodamudançadas leise/ousuasadministrações6.
Incorporaràanáliseeconômicaoambienteinstitucionalérelevante,
namentodosistemaeconômicorecebemuitainfluênciadasinstituições (RUTHERFORD,1996).
DopontodevistadaNEI,existeoreconhecimentodequeaoperação eaeficiênciadeumsistemaeconômicotêmsuaslimitaçõesegargalos influenciados pelo conjunto de instituições que regulam o ambiente econômico(FARINAetal .,1997).Osmercadoseficientessãoconseqü-ênciadeumconjuntodeinstituiçõesquefornecem,combaixocusto, asmedidaseosmeiosparaqueoscontratossejamcumpridos,sendoo contráriotambémverdadeiro(OLIVEIRA,1998).Comoasinstituições secomportam,comoserelacionamedequemaneiraselasestãoarran-jadasnasociedadeéoquecaracterizaaeficiência,ounão,dosistema econômico.Asinstituiçõessão,então,responsáveispelodesempenho econômicodassociedadesedesuaevolução(NORTH,1994).
Oambienteinstitucionalconstituioquealgunsautoresdefinemcomo as“regrasdojogo”.Estaspromovemodesenvolvimentodasatividades econômicasbemcomoasaçõespolíticas,legaisesociaisquegovernam abasedaprodução,trocaedistribuição(WILLIAMSON,1996).Oscon-juntosdenormaseregrasdelimitamasaçõesestabelecidaspelohomem, disciplinandosuasaçõescomseussemelhantesecomomundo,podendo tambémregulamentaroutrasinstituições,definindooscritériosqueserão estabelecidospormeiodasduasformasderegras–formaiseinformais.
O ambiente institucional ganha importância quando os custos de transaçãonãopodemsernegligenciados.Nãoexistindonenhumsistema comessecustonulo,asinstituiçõesdevemseranalisadaseconsidera-das(NORTH,1994).Asinstituiçõescriamedelimitamoambienteonde ocorreráatransaçãoeondeasorganizaçõesirãoatuar.
TrabalhoeJustiçadoTrabalho),osistemadecontraçãoadotadopelos empregadorestendeaserdemenorcustoeinvariavelmenteirregular.
Portanto,emrazãodabaixaqualificaçãoedoreduzidopoderdebar-ganhadotrabalhadortemporário,asinstituiçõesjurídicasassumemum papeldegrandefuncionabilidade.Analisando-seotratamentoqueédado aosistemadecontrataçãodotrabalhoeopontodevistadosagentesdas instituiçõesjurídicas,épossívelconstatarasmodalidadesmaissujeitasa riscosdeordeminstitucional,gerandopotenciaiscustosdetransaçãopara asempresascontratantes,quandorealizacontrataçãodetrabalhadores incompatívelcomoquedelegamasinstituiçõesjurídicas.
Noentanto,omercadodetrabalhonoBrasiltendeasetornarmais flexívelacompanhandoatendênciainternacional.Nessesentido,oCon-gressoNacionalaprovou,em5dedezembrode2001,aLein.5.483/01, quemodificaa618daCLT.NanovaLei,ascondiçõesdetrabalho,ajus-tadasmedianteconvençõese/ounegociaçõescoletivas,devemprevalecer sobreodispostoemlei,desdequeserespeitemaConstituiçãoFederale asnormasdesaúdeesegurançadotrabalho.Emoutraspalavras,busca-sedarprevalênciado“negociadosobreolegislado”.
Dessaforma,opoderdasinstituiçõesjurídicasésuprimidopelas decisõesentreaspartescontratantes,oque,decertaforma,beneficiao surgimentodascooperativasrurais,quefuncionariacomoumsindicato eque,portanto,teriamaispoderdebarganha.
Caberessaltar,conformeVandeman(1992),queafunçãodeumsis-temadecontrataçãodetrabalhodeveserconsideradaemdoisníveis:no mercadodetrabalhoenoprocessodeprodução.Afunçãodomercadode trabalhoincluiorecrutamentoeoassalariamentodostrabalhadores.No processodetrabalho,oobjetivoéinduziramão-de-obraaoprocessopro-dutivocomafinalidadedealcançarníveisótimosdeesforçoequalidade. Nocasodesteestudo,analisa-seapenasomercadodetrabalhoagrícola, e,particularmente,osistemadecontrataçãodostrabalhadoresagrícolas temporários,detalhandoocasodascooperativasdetrabalhadoresrurais.
4. Sistema de Contratação
osdeparceriaedearrendamento,esãodisciplinadospelalegislação agrária.Essescontratosagrícolaspropiciamesteioparaformarproprie-dadesagropecuáriasdecarátertemporárioerudimentar(IBGE,1998). Comojáindicadoemseçãoanterior,osparceiroseosarrendatáriossão trabalhadoresassalariadosdisfarçados,oriundosdaherançadoperíodo colonial, visto que houve impedimentos ao acesso à propriedade da terradevidoàconhecidaLeideTerra7.Portanto,paramuitosindivíduos
essescontratosagrícolaspermitiamotrabalhonaterra.SegundoFonseca (2000),aparceriaruralélargamenteusadanoBrasilaindacomouma herançasocialqueencontravabaseslegaisnoCódigoCivilde1916.Para esteautor,oparceirotrabalhadoremnadasediferenciadoempregado, arcando,contudo,comosriscosdaatividadeeconômicaeamargandoa faltadeproteçãosocial.Noentanto,essasformascontratuaisagrícolas, quepormuitasvezesdelineiamrelaçõesentreempregadoeempregador, sãoamplamenteutilizadaspelasfirmasrurais,encontrandopoucasbar-reirasdasinstituiçõesjurídicas.ConformeconstataFonseca(2000),as reclamaçõestrabalhistastendemaoinsucessoemrazãoprincipalmente dasdificuldadesconcernentesdeobterprovas.Oscontratosdetrabalho agrícolasãoatualmenteregidospelaLeipromulgadaem1973e,subsi-diariamente,pelaCLT,substituindooantigoEstatutodaTerra.
Acontrataçãodamão-de-obrapodeserfeitapormeioderecrutamento diretoporpartedosprodutoresruraisoupormeiodeintermediários,os quaissãodenominadosde“gatos”.Estessãoagenciadoresdemão-de-obraagrícola,aosquaistambémcompeteotransportedostrabalhadores, coordenaramão-de-obradogrupodetrabalhadoreseprestarcontadas atividadesexercidasporessegrupoperanteostomadoresdesseserviço.
Segundo Fonseca (2000), são constantes as autuações desses in-termediáriospelopoderpúblicodevidoàsprecariedadesdosmeiosde transporte nos quais são conduzidos os trabalhadores, por acidentes rodoviários, por falta de concessão de equipamentos de proteção in-dividual, por falta de condições sanitárias mínimas, e, além disso, é
7LeideTerrapromulgadaem1850proibiaoacessoàpropriedadedaterraanãoserpor
muitofreqüenteotrabalhadornãoserpago.Asfirmasqueseutilizam dosserviçosdosintermediáriosacabamsendoresponsabilizadascomo conseqüêncianaturaldasautuaçõeseconstata-se,também,grandepro-liferaçãodasReclamaçõesTrabalhistas,destaforma,colocandoambas aspartesemextremainsegurança.
Nessamodalidadedecontração,ostrabalhadoresficamexpostosa todaordemdeinsegurança,oquefatalmenteacarretaproblemasnaex-traçãodotrabalhodamão-de-obranoprocessoprodutivo,destaforma, reduzindoaeficiêncialaboraleaumentandooscustosdeprodução.A firmatambémficaexpostaaoscustosdetransaçãoquandoocorreau-tuaçãodestesintermediáriospelopoderpúblico.
Orecrutamentodiretodamão-de-obrapeloprodutorcomafinalidade deatenderasnecessidadessazonaisdasatividadesagropecuáriaspode serefetuadopormeiodeváriostiposdecontratos,comoéocasodos contratosdesafras.SegundoFonseca(2000),odesvirtuamentodessetipo decontratoébastantefreqüenteporcausadeváriasrazões:excessode formalismoinerenteacontratosdessanatureza,alternânciassucessivas decontratosoutentando-seburlaropagamentodasverbasrescisórias. Conformeoautor,háumgrandenúmerodeprocessosquetramitamna JustiçadoTrabalhosobreestetema.
Oscustoscomamão-de-obrasãoelevadosesobreestesincidem,além doprópriosalário,osoutrosencargossociaisetributários,bemcomoos outroscustosdafirmatransacionarcomomercadodetrabalho,mesmo emsetratandodemão-de-obranão-qualificada.Estasituaçãoépropul-soradearranjoscontratuaisirregulares,comafinalidadedereduzirtoda ordemdecustos.Osistemaderecrutamentodetrabalhadorestemporários éformadoporváriosarranjoscontratuais,muitosdosquaispodemser questionadosemâmbitoinstitucional,oquepodeacarretarproblemas aocontratante.Santos(2001)relataasconseqüênciaseconômicasnare-laçãoentreotrabalhadoragrícolaeoempregador.Oautorcitaocasode umareclamaçãotrabalhistajátramitadaejulgadanoestadodoParaná, naqualafaltadecapacidadedequitaçãodadívidatrabalhistaporparte doempregadorlevouaquesuapropriedadefossealeilão.Talexemplo mostraumasoluçãodrásticaparaoproprietáriodafirma,noentanto servecomoumpontodereferênciaparaosagenteseconômicos.
Comafinalidadedereduziraproblemáticadescritanestaseção,surgi-ramoutrasformasderecrutamentodemão-de-obra,comoascooperativas detrabalhadoresrurais,temaqueédiscutidonapróximaseção.
5. As Cooperativas de Trabalhadores Rurais
ALein.5.764/71instituiuoregimejurídicodassociedadescooperati-vas,proporcionandototalliberdadedeescolhadoobjetodascooperativas atravésdoartigo5o:“Associedadescooperativaspoderãoadotarporobjeto
qualquergênerodeserviço,operaçãoouatividade,assegurando-se-lhes aobrigaçãodousodaexpressão“cooperativa”emsuadenominação”.O artigo4odefineascaracterísticasdassociedadescooperativaseno§1o
doartigo10prevêem-semodalidadesdiferentesdasjáconsagradasecitas naLei,asquaisdeverãoserapreciadaspeloórgãocontrolador.
Segundo Viana (1997), entende-se como cooperativas de serviço aquelasquesededicamàprestaçãodeserviçosaterceiros,enquadrando-seperfeitamentenoconceitoformuladoporDivaBenevidesPinho:“as cooperativasdeproduçãopodemserentendidas,emsentidoamplo,como associaçõesquesedestinamaeliminaropatrão,suprimiroassalariado edaraotrabalhador,agrícolaouindustrial,apossedosinstrumentosde produçãoeodireitodedisposiçãointegraldoprodutodeseutrabalho”.Por exemplo,pode-secitarascooperativasdemédicos,queeliminamafigura dopatrão,despendendoesforçosparaadquiriroimóvel,asinstalações, osequipamentosetodoomaterialnecessárioàprestaçãodosserviçosde saúde.Comefeito,ocorreasubstituiçãodoregimeassalariadoporuma participaçãonosganhosdasociedade.Oautorfrisaquenascooperativas deserviçoinexisteotrabalhosubordinado,umavezqueogrupodeas-sociadosdirigeoempreendimento.Portanto,naliteratura,naóticadas instituiçõesjurídicas,ascooperativasdessanaturezarezam,geralmente, pelanormalidadejurídica,nãosendoobjetodeintensodebateoupolêmica sobrearelaçãoentrecooperadosecontratantesdeseusserviços.
aparticipaçãoinocenteetalvezinadvertidadeumapartedoCongresso Nacionalquesedeixoumotivarpelaalegadaconveniênciadeproteger osassentadosdoMovimentodosSem-Terra,MST”.Osassentadosru-raisdosuldopaísatuamnosentidodeaprovaraintroduçãodoartigo 422naCLTparaobterproteçãodosriscosinerenteàscooperativasde assentados.Otrabalhodosassentadoséorganizadoemcooperativas, recebendocadacooperadodeacordocomsuaparticipaçãonotrabalho coletivo;alémdisso,prestamserviçosparaosoutrosprodutoresrurais vizinhos.Oreferidoartigovisaainibirastentativasdeassentadosque tenhamsaídodascooperativas,depretenderoreconhecimentodevínculo trabalhistaentreeleseacooperativa(VIANA,1997).
Os indivíduos que participam das cooperativas de trabalho estão sujeitosaumalegislaçãoprópria,saindodaégidedaCLT.Dopontode vistadotrabalhador,tem-seumapolêmicaabertasobreoquantoessa modalidadedetrabalhoretiraaquiloquefoiconquistadoemtermosde direitotrabalhistas.Dopontodevistadocontratante,hágrandesvanta- gensaoaderiraessamodalidadedecontrataçãopormeiodaterceiriza-çãodasetapasprodutivas,poisreduzoscustosreferentesaosdireitos trabalhistas.SegundoPastore(1998),osencargossociaisimpostospela CLT são da ordem de 102%, e de aproximadamente 40% quando se contratamosserviçosdeumacooperativadetrabalho.
Figura1-EvoluçãodonúmerodeCooperativas,dosprincipaisramos, registradasnaOCB,1990a2002.
Fonte:OCB(2
NaFigura1ficaexpressoovertiginosocrescimentodascooperativas detrabalhonoBrasiltantodetrabalhadoresqueexercematividadesrurais comourbanas,noperíodode1990a2001,apartirdasegundametadeda décadade1990.O.SegundoGimenez,KreineBiavaschi(2003),apesar daprecariedadedosdadossobreaexpansãoeproliferaçãodascoope-rativasdetrabalhonoBrasil,estemovimentoébastantesignificativo. Evidênciasempíricasindicamessascooperativasnãoestaremsomente em setores menos dinâmicos da economia ou mesmo no setores em queconcentramão-de-obramenosespecializada–setoragropecuárioe vestuário–,massealastramemsetoresqueoferecempostosdetrabalho maisqualificado,comocentrodeprocessamentodedados,serviçosde engenharia,eoutros.Osautoresressaltamaimportânciadessascoopera-tivaseoseumérito,masdeve-seconsideraroseupapelnoprocessoem cursodedesestruturaçãodasrelaçõesdeempregoformaisenoacesso aosdireitosdecorrentesdocontratodetrabalho.
Cremonesi e Melo (2001) destacam a proliferação desenfreada da contrataçãodetrabalhadorescooperadosnomeioruralecitamacolhei-tadalaranjacomooexemplomaisnotórioAproduçãodelaranjado estadodoSãoPaulodestinadaàindustrializaçãoéoriundadepomares daprópriaindústriaedeprodutoresagrícolasdelaranja–citricultores. Nadécadade1980,períododegrandeexpansãodacadeiacitrícola,foi implantadoocontrato-padrão,oqualatrelavaopreçodacaixadelaranja àscotaçõesdosuconomercadointernacional.SegundoVieira(1988)
apudAlveseAlmeida(2000),asnegociaçõesparaoestabelecimentode preçospassaramaserrealizadasentreasassociaçõesdeprodutorese dasindústrias,reduzindoosconflitosexistentes.Em1995,foirompido ocontrato-padrãodevidoaumanovaconjunturanomercadointerna-cionaldosucodelaranja,situaçãoestaquedepreciouospreçosdeste produtonomercadoexterno,edesencadeouumasériedeajustamentos nacadeiacitrícolaparaevitaraperdaderentabilidade.
pós-rompimento do contrato padrão. A criação das cooperativas de trabalhadoresfoiaadequadaparaareduçãodoscustosdeprodução, pelofatodedesonerarosprodutoresdepartedoscustostrabalhistas.A práticadeutilizarascooperativasdetrabalhadoresruraisfoitambém utilizadapelasindústriasemseuspomarespróprios,esegundoAlvese Almeida(1999),essepomaresseexpandiramcomumaestratégiapara aumentaropoderdebarganhafrenteaoscitricultores.
Aaçãodainstituiçãojurídicasemanifestandocontráriaàatuação dascooperativasdetrabalhadoresruraisocorreuemváriosmomentos, deste modo, o que inicia um processo de interpelação judicial entre os reclamados e dos reclamantes. Exemplo da atuação da instituição jurídicaocorreem07denovembrode1996,quandoMinistérioPúblico doTrabalhoeMinistérioPúblicoFederaldaProcuradoriaRegionaldo Trabalhoda15oregiãoedaProcuradoriadaRepúblicaemRibeirãoPreto
entramcomaçãopúblicaeliminarcontraaindústriadesucodelaran-jaCitrosucoPaulistaS/A;CooperativadeTrabalhodosTrabalhadores RuraisdeSãoJosédoRioPretoeRegião–Cooper-Rio;eCooperativa deMão-de-ObraRural–Coopmor.Osmesmosforamdenunciadospor meiodoMinistérioPúblicodoTrabalho(MTP).Nodecorrerdosautos doacordão8da15oProcuradoriaRegionaldoTrabalho(PRT)de1996.
“Dois,portanto,sãooselementosdafraude”(MINISTÉRIOPÚBLICO DOTRABALHO...,1996):
a)totalinexistênciadeautonomianotrabalhoprestadopelosobreiros; b)terceirizaçãoilícitadeatividade-fimdasindústriasdesuco.
Nesteacordãoéexpressováriasvezesedeformaveementeailega- lidadedacontrataçãoefuncionamentodestascooperativasdetrabalha-doresrurais(MINISTÉRIOPÚBLICODOTRABALAHO...,1996):
Noteordadenúnciasãorequeridospeloórgãopropositor(MINIS-TÉRIOPÚBLICODOTRABALHO...,1996):
1.Declaraçãodailegalidadedapráticadeterceirizaçãonasatividades-finsda primeirareclamada,relacionadasàcolheitadalaranja;
2.Condenaçãodaprimeirareclamadanosentidodeseabster,definitivamente, dapráticaaludida,provendoessetipodemão-de-obra,quelheéessencial,nos moldesprevistosnaCLTenaLeinº5.889/73,comvinculaçãodiretaaseus quadrosfuncionais,emquaisquerdeseusestabelecimentosoufiliais,assegu-radatodaagamadedireitostrabalhistas,sociaiseosespecíficosdacategoria profissionaldostrabalhadoresruraisdosetordacitricultura;
3.Declaraçãodeinidoneidadedascooperativasreclamadasparaofornecimento demão-de-obra;
4.Naformadoart.11daLeinº7.347/85(“astreintes”)c.c.art.287doC.P.C., nãohavendocumprimentodopreceitodasentença,ouseuretardamento,seja aprimeirareclamadacondenadaaopagamentodemultadiáriacorrespondente a5.000(cincomil)UFIRs(ressalvadaaalteraçãoporoutroindexadorquea substitua), revertida em favor do FUNDO DE AMPARO AO TRABALHADOR (FAT),criadopelaLeinº7.998/90;
5.Emcarátersucessivo,apenasnaremotahipótesedenãosereconhecercomo empregadoraaindústria,quesejamdeclaradascomotaisascooperativas,por forçadoquedispõeoart.41daLeinº5.889/73,declarando-se,outrossim,a responsabilidadesolidáriadaprestadoraedatomadora;
Gimenez,KreineBiavaschi(2003)analisaramumaamplacoletade acordãosdosTribunaisRegionaisdoTrabalhoda4a,6a,9ae15aRegiões
para os períodos 1997 a 2001, e verificaram que a tendência dessas decisõeseradecoibirafraudeadireitosdostrabalhadoresedeevitar ouinibiroprocessoatualdeproliferaçãodascooperativasdetrabalho “fraudulentas”.
autorizaaterceirizaçãodeserviços”.Aindaomesmoautorconclui:“Sea empresaprestadoranãotematividadeprópria;seseuobjetivoselimita aofornecimentodemão-de-obraparaatomadora,nãoháterceirização, esim,autênticamarchandage[...].Omesmoocorrecomascooperativas [...].Asmesmasregrasqueseaplicamaumasociedadecomercial,para terceirização,valemparaascooperativas”(VIANA,1997,p.1476).
Nasaçõesinvestigativassobreaautenticidadedascooperativasde trabalhoruralrealizadasporinstituiçõesjurídicas,verificou-sequees-sasassociações,emgrandenúmero,foramcriadaspelosintermediários ("gatos")e,também,criadaspelasfirmascontratantes,demitindoos seusempregadoseincentivandoaformaçãodecooperativasdetrabalho paraevitarosencargostrabalhistas.
Diantedaposiçãodosistemajudiciárioedaatuaçãodesuasinsti-tuições,asfirmascontratantesdosserviçosdessascooperativas,mesmo imbuídasdelegítimasintençõesdeterceirizaretapasdaproduçãono períododesafra,estãosujeitasaincorreremaltíssimoscustosdetran-sação.Essescustosincorrememrazãodaproibiçãodecontinuarusando osserviçosdoscooperados,interrompendoabruptamenteaatividadeou, atémesmo,emrazãodeoMinistériodoTrabalhocaracterizarovínculo comaempresatomadora,aplicando-seaspenalidadesadministrativas (VIANA,1997;CREMONESI;MELO,2001).SegundoCremonesieMelo (2001),nãosepodeadmitirqueodispositivolegalquecriaascoope-rativasdetrabalhoresguardeatodasortedefraudesquesãoefetuadas pelasfalsascooperativasdessanaturezaetomadoresdetrabalhadores cooperados.Oreferidodispositivolegalperdeefeitoquandoestiverem presentesosquatrosrequisitosdarelaçãodeemprego:habitualidade, pessoalidade,onerosidadeesubordinação.
SegundoAlveseAlmeida(2000),apesaraatuaçãodasinstituições jurídicas,pormeiodaProcuradoriaRegionaldoTrabalho,noperíodode 1997/98e1998/99ocorreuocrescimentodautilizaçãodecooperativas detrabalhadoresruraisentreospequenosemédiosprodutoresdelaranja natarefadacolheita.Noentanto,em2004,nocadastrodascooperativas detrabalhosdaOrganizaçãodasCooperativasdoEstadodeSãoPaulo (OCESP), há registro de apenas duas cooperativas de trabalhadores ligadosàproduçãoagropecuária,sendoqueascooperativascitadasna açãojurídicareferidaanteriormenteoumesmonapesquisadeAlvese Almeida(2000)nãoestãoregistradasnaOCESP.Istorefleteemgrande medidaqueaatuaçãodainstituiçãojurídicaestámoldandoaorganização produtivaearelaçãodotrabalhonaagropecuária.
6. Considerações Finais
Osistemajudiciárioéumdosfatoresquecontribuíramparaosurgi-mentodotrabalhotemporário,bemcomoastransformaçõesocorridas noprocessodeproduçãoagropecuária,impulsionadopela“moderniza-çãodaagricultura”nosanos60.Oconjuntodessesnovostrabalhadores quesurgiramnobojodestastransformaçõesformaumsegmentodentro do mercado de trabalho agrícola. As atividades sazonais inerentes à agropecuáriarequeremumsistemadecontrataçãoquerespeiteessas características.
Asregrasjurídicasestabelecemordenamentoesobrevidadasrelações trabalhistasemlongoprazo,aceitandoqueelassãoprodutodavivência dosagenteseconômicosenvolvidosedasinstituições.Ostrabalhadores não-qualificados,osquaisapresentamreduzidopoderdebarganhae baixíssimaespecificidadedecapitalhumano,sãofortementedependen-tesdaefetividadedasinstituiçõesjurídicasparamoldarosistemade contrataçãodotrabalhotemporárioagrícola.
7. Referência bibliográficas
ALVES,F.J.C.;ALMEIDA,L.M.C.Novasformasdecontrataçãodemão-de- obraruralnanovaconfiguraçãodocomplexoagroindustrialcitrícolapau-lista.InformaçõesEconômicas,SP,v.32,n.12,dez.,p.7-19.2000. ALVES,F.J.C.;ALMEIDA,L.M.C.Ascensãoequedadas“gatoperativas” demão-de-obraruralnocomplexoagroindustrialpaulista.In:ENCON-TRONACIONALDEENGENHARIADE´PRODUÇÃO–ENEGEP,nov. 1999,RiodeJaneiro.Anais.RiodeJaneiro:ADREPO,1999.Cd-rom. AMADEO,E.J.DesempregoeevidênciassobreaexperiênciarecentenaOE-CED(I).RevistaBrasileiradeEconomia,v.46,n.2,p.261-286,1992. AMADEO, E. J.Emprego no Brasil: diagnóstico e políticas. Brasília: MTb,1999.84p.
AGUIRRE,B.M.B.;BIANCHI,A.M.Reflexõessobreaorganizaçãodo mercadodetrabalhoagrícola.RevistadeEconomiaePolítica,v.9,n. 1,p.31-46,1989.
BRANT,C.V.Populaçãoeforçadetrabalhonodesenvolvimentoda agriculturabrasileira.SãoPaulo:CEBRAP,1977.33p.
CACCIAMALI,M.C.Alegislaçãotrabalhistanocampoesuaaplica-çãoentreos“bóias-frias”noestadodeSãoPaulo:umacontribuição para o debate. In: DUARTE, D. (Org.).Emprego rural e migrações naAméricaLatina.Recife:Massangana/FundaçãoJoaquimNabuco, 1986.p.51-64.
contribuiçãoàseguridadesocialnoBrasil.SãoPaulo:FEA/PROLAM-USP. TextoparaDiscussão,out.2001.34p.
CARRION,V.Cooperativasdetrabalho:autenticidadeefalsidade.Revista LTr,v.63,n.2,p.167-169,fev.1999.
COASE,R.H.Thenatureothefirm.Econômica,n.4,Nov.1937. COASE,R.H.Thefirm,themarketandlaw.TheUniversityofChicago Press,1988.
CREMONESI,A.;MELO,O.Contrataçãofraudulentadetrabalhadores porintermédiodecooperativasdetrabalho.RevistaLTr,v.65,n.2,p. 176-179,fev.2001.
FARINA,E.M.M.Q.Competitividadeecoordenaçãodesistemasagroin-dustriais:umensaioconceitual.Gestão&Produção,SãoCarlos,v.6, n.3,p.147-161,dez.1999.
_______;AZEVEDO,P.F.;SAES,M.S.M.Competitividade:mercado, Estadoeorganizações.SãoPaulo:Singular,1997.286p.
FONSECA,R.T.M.Consórciodeempregadores:umaalternativaimediata paraaempregabilidade.RevistadoMinistérioPúblicodoTrabalho,n. 20,XX,p.79-89,set.2000.
FREITAS,P.S.Ofertaedemandademão-de-obranadeterminaçãode diferencialdesalários:umaanáliseparacincogênerosmanufatureiros nagrandeSãoPaulo.1992.139p.Dissertação(Mestrado)–FEA,USP, SãoPaulo,1992.
FROYEN,R.Macroeconomia.SãoPaulo:Saraiva,1999.635p.
GIMENEZ, D.M.; KREIN, J.D.; BIAVASCHI, M.B. As cooperativas de mão-de-obraeostribunaisregionaisdotrabalho.RevistadaABET,n. 3,n.1,2003.(www.race.nuca.ie.ufrj.br/abet/revista/)
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA – IBGE. Pesquisanacionalporamostradedomicílio(PNAD)de1997.Riode Janeiro:FIBGE,1999.
KEYNES,M.J.Ateoriageraldoemprego,dojuroedamoeda.São Paulo:NovaCultural,1985,352p.(OsEconomistas)
LIMA,R.Mercadodetrabalho:ocapitalhumanoeateoriadasegmentação. PesquisaePlanejamentoEconômico,v.10,n.1,p.217-272,1980. MINISTÉRIOPÚBLICODOTRABALHO....,1996.Disponívelnostiewww. Prt15.gov.br_publicacao_coop.html.Acessoem12deagostode2004. MELLO,D.M.C.“Bóia-fria”:acumulaçãoemiséria.Petrópolis:Vozes, 1975.154p.
NAHAS,T.C.InovaçõesnaLeidoTrabalhadorRural.SuplementoTra-balhistaLTr,v.37,007/01,p.35-38,2001.
NORTH,D.Custosdetransação,instituiçõesedesempenhoeconômico. RiodeJaneiro:InstitutoLiberal,1994.38p.
OLIVEIRA, C. A. C. N. V.O surgimento das estruturas híbridas de governançanaindústriadeenergiaelétricanoBrasil:aabordagem institucionaldaeconomiadoscustosdetransação.1998.207f.Disser-tação(Mestrado)-DepartamentodeCiênciasEconômicas,Universidade FederaldeSantaCatarina,Florianópolis.
PASTORE,J.E.G.Cooperativismocoerente.RevistaLTr,v.62,n.5,p. 639-641,maio1998.
PASTORE,J.E.G.Cooperativasdetrabalho:ofenômenodaterceirização. RevistaLTr,v.63,n.10,p.1.334-1.337,out.1999.
PINHEIRO,A.C.Judicialsystemperformanceandeconomicdevelop-ment.EnsaiosBNDES2,Oct.1996.51p.
REICH,M.;GORDON,D.M.;EDWARDS,R.C.Atheoryoflabormarket segmentation.TheAmericanEconomicReview,v.LXIII,n.2,p.359-365,1973.
SANTOS,F.O.Efeitosdaprescriçãodosdireitostrabalhistasnomeio ruralparanaense.In:CONGRESSOBRASILEIRODEECONOMIAESO-CIOLOGIARURAL,39.,SOBER,Recife,2001.Anais...Recife,SOBER, 2001.p.190.
SIDON,J.M.O.Dicionáriojurídico:academiabrasileiradeletrasjurídi-cas.RiodeJaneiro:ForenseUniversitária,4ªedição,1996.
STIGLER,G.J.Laworeconomic?TheJournalofLawandEconomics, v.35,n.2,p.455-468,Oct.1992.
VANDERMAN,A.;SADOULET,E.;JANVRY,A.Laborcontractinganda theoryofcontractchoiceinCaliforniaagriculture.AmericanJournalof AgriculturalEconomics,v.73,n.3,p.681-692,Aug.1991.
VIANA,M.J.M.Cooperativasdetrabalho:terceirizaçãodeempregados outerceirizaçãodeserviços?RevistaLTr,v.61,n.11,p.1.473-1.478, nov.1997.
VIEIRA,A.C.Ocomplexoagroindustrialcitrícolanosanos90:novos fatoresnarelaçãoagricultura/indústriaedesafiosparaosegmentode produçãoagrícola.SãoCarlos:UFSCar,1988.(dissertaçãodemestrado) WILLIAMSON, O. E.The economic insitutions of capitalism. New York:FreePress,1985.