CÂMPUS DE BOTUCATU
DOSES DE COMPOSTO ORGÂNICO NA FERTILIDADE DO
SOLO, DESENVOLVIMENTO, PRODUÇÃO E QUALIDADE
DOS FRUTOS DE TANGERINEIRA 'PONCÃ'
DAYANA PORTES RAMOS BUENO
Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP - Câmpus de Botucatu, para obtenção do título de Doutor em Agronomia (Horticultura)
CÂMPUS DE BOTUCATU
DOSES DE COMPOSTO ORGÂNICO NA FERTILIDADE DO
SOLO, DESENVOLVIMENTO, PRODUÇÃO E QUALIDADE
DOS FRUTOS DE TANGERINEIRA 'PONCÃ'
DAYANA PORTES RAMOS BUENO
Orientadora: Profª. Drª. Sarita Leonel
Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP - Câmpus de Botucatu, para obtenção do título de Doutor em Agronomia (Horticultura)
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO TÉCNICA DE AQUISIÇÃO E TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO – SERVIÇO TÉCNICO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - UNESP - FCA - LAGEADO - BOTUCATU (SP)
Bueno, Dayana Portes Ramos, 1982-
B928d Doses de composto orgânico na fertilidade do solo, desenvolvimento, produção e qualidade dos frutos de tangerineira 'poncã' / Dayana Portes Ramos Bueno. – Botucatu : [s.n.], 2012
xvii, 108 f. : gráfs. color., tabs., fots. color. Tese (Doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agronômicas, Botucatu, 2012 Orientador: Sarita Leonel
Inclui bibliografia
Homenagem Especial
OFEREÇO
Á minha querida família:
- Meus pais, JOSÉ ANTONIO e MARIA CLEUZA, por serem exemplos de força, coragem e
honestidade;
- Meu marido JAIME, por sempre me acolher nos seus braços nos momentos mais difíceis;
- Meus irmãos ANAISA e JÚNIOR, minha cunhada NÁDIA pelo apoio e carinho!
DEDICO
Aos pesquisadores, extensionistas e estudantes.
Espero que esse trabalho possa contribuir para a
abertura de novos estudos na área de manejo
AGRADECIMENTOS
Primeiramente gostaria de agradecer a Deus, por ter me dado forças e
ter iluminado minhas idéias. Nunca vou esquecer dessa frase: “Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos!!!
À minha orientadora, Profª. Drª. Sarita Leonel, pela oportunidade, pela
amizade e pelos ensinamentos transmitidos.
À banca examinadora, pelas correções e sugestões para a melhoria do
trabalho.
À Faculdade de Ciências Agronômicas – UNESP, Câmpus de Botucatu, pelo suporte oferecido.
Ao CNpq, pela confiança depositada e por apoiar financeiramente o
projeto.
Aos amigos Manoel, Idiana, Fabiana, Andréa e Daniela pela ajuda e
amizade.
À minha grande amiga Miriani, pelas orações e carinho.
Aos funcionários do pomar, em especial Sr. Lourenço, pela
colaboração.
Aos funcionários do Departamento de Horticultura, em especial ao
Édson.
Aos funcionários da biblioteca e da Seção de Pós-Graduação por
sempre serem prestativos e atenciosos.
Enfim, agradeço a todos que de alguma forma especial contribuíram
SUMÁRIO
Página
LISTA DE TABELAS... LISTA DE FIGURAS... RESUMO...
VII XII XIV SUMMARY... XVI
1. INTRODUÇÃO... 1
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA... 3
2.1. Origem e importância econômica da tangerineira Poncã... 3
2.2. Botânica, Morfologia e Fisiologia... 4
2.2.1. Botânica e Morfologia... 4
2.2.1.1. Descrição da variedade ‘Poncã’... 5
2.2.2. Fenologia... 6
2.3. Nutrição e Adubação... 10
2.4. Adubação Orgânica... 3. MATERIAL E MÉTODOS... 19 26 3.1. Localização geográfica e clima... 26
3.2. Atividades preliminares... 27
3.2.1. Descrição do composto... 29
3.3. Definição dos Tratamentos... 29
3.4. Descrição da área experimental... 30
3.5. Condução do experimento... 32
3.6. Características avaliadas... 32
3.6.1. Análise química do solo... 32
3.6.2. Estado nutricional da planta... 33
3.6.2.1. Análise foliar e índice de cor verde (ICV)... 33
3.6.3. Desenvolvimento vegetativo... 34
3.6.4. Produção... 35
3.6.5. Qualidade dos frutos... 36
3.6.6. Acompanhamento da decomposição do composto... 37
3.6.7. Análise econômica... 37
3.7. Delineamento experimental... 38
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO... 39
4.1. Variáveis climáticas... 39
4.2. Análise química do solo... 39
4.2.1. Profundidade 0-20 cm... 39
4.3. Estado nutricional da planta... 54
4.3.1. Análise foliar... 54
4.3.2. Índice de cor verde... 66
4.3.3. Correlação entre nitrogênio e índice de cor verde... 67
4.4. Desenvolvimento vegetativo... 69
4.5. Produção... 73
4.6. Qualidade dos frutos... 79
4.7. Acompanhamento da decomposição do composto orgânico... 86
4.8. Dados econômicos sobre custos e rentabilidade... 88
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS... 92
6. CONCLUSÕES... 93
LISTA DE TABELAS
Página
TABELA01.
TABELA02.
TABELA03.
TABELA04.
TABELA05.
TABELA06.
TABELA07.
TABELA08.
TABELA09.
TABELA10.
Médias mensais das temperaturas máxima, média e mínima (ºC) e
precipitação pluviométrica (mm) durante a condução do experimento em São
Manuel-SP (agosto/09 a agosto/11)...
Análise química inicial do solo da área experimental para fins de fertilidade,
nas profundidades de 0-20 cm e 20-40 cm. São Manuel-SP (janeiro, 2009)....
Teores médios de macro e micronutrientes encontrados em folhas de
tangerineira ‘Poncã’. São Manuel-SP (janeiro, 2009)...
Resultados de análise química do composto orgânico, 2009...
Resultados de análise química do composto orgânico, 2010...
Teores médios de matéria orgânica (M.O) no solo cultivado com tangerineira
‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e
2011. São Manuel-SP...
Valores médios de pH no solo cultivado com tangerineira ‘Poncã’ adubada
com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011. São
Manuel-SP...
Valores médios de H+Al no solo cultivado com tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011.
São Manuel-SP...
Teores médios de fósforo no solo cultivado com tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011.
São Manuel-SP...
Teores médios de potássio no solo cultivado com tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011.
São Manuel-SP... 27
28
28
28
29
40
41
42
43
TABELA11. TABELA12. TABELA13. TABELA14. TABELA15. TABELA16. TABELA17. TABELA18. TABELA19. TABELA20.
Teores médios de cálcio no solo cultivado com tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011. São
Manuel-SP...
Teores médios de magnésio no solo cultivado com tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011.
São Manuel-SP...
Teores médios de enxofre no solo cultivado com tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011.
São Manuel-SP...
Valores médios de soma de bases no solo cultivado com tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011.
São Manuel-SP...
Valores médios de CTC no solo cultivado com tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011. São
Manuel-SP...
Valores médios de saturação por bases no solo cultivado com tangerineira
‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e
2011. São Manuel-SP...
Teores médios de boro no solo cultivado com tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011. São
Manuel-SP...
Teores médios de cobre no solo cultivado com tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011. São
Manuel-SP...
Teores médios de ferro no solo cultivado com tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011. São
Manuel-SP...
Teores médios de manganês no solo cultivado com tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011.
TABELA21. TABELA22. TABELA23. TABELA24. TABELA25. TABELA26. TABELA27. TABELA28. TABELA29. TABELA30. TABELA31. TABELA32. TABELA33. TABELA34.
Teores médios de zinco no solo cultivado com tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011. São
Manuel-SP...
Efeito de doses de composto orgânico na fertilidade do solo (20-40 cm),
após a 2ª adubação. São Manuel-SP (fevereiro, 2010)...
Efeito de doses de composto orgânico na fertilidade do solo (20-40 cm),
após a 3ª adubação. São Manuel-SP (fevereiro, 2011)...
Teores médios de nitrogênio na folha de tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011. São Manuel-SP..
Teores médios de potássio na folha de tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011. São Manuel-SP..
Teores médios de fósforo na folha de tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011. São Manuel-SP..
Teores médios de cálcio na folha de tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011. São Manuel-SP...
Teores médios de magnésio na folha de tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011. São Manuel-SP..
Teores médios de enxofre na folha de tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011. São Manuel-SP..
Teores médios de boro na folha de tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011. São Manuel-SP...
Teores médios de cobre na folha de tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011. São Manuel-SP...
Teores médios de ferro na folha de tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011. São Manuel-SP...
Teores médios de manganês na folha de tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011. São Manuel-SP..
Teores médios de zinco na folha de tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico no anos de 2009, 2010 e 2011. São Manuel-SP...
TABELA35.
TABELA36.
TABELA37.
TABELA38.
TABELA39.
TABELA40.
TABELA41.
TABELA42.
Índice de cor verde (SPAD) medido em folhas de tangerineiras ‘Poncã’
adubadas com doses de composto orgânico, durante 570 dias (São Manuel,
30/10/2009 a 25/5/2011)...
Correlação entre nitrogênio e índice de cor verde em tangerineiras ‘Poncã’
adubadas com doses de composto orgânico, nos anos de 2009, 2010 e 2011.
São Manuel-SP...
Peso de frutos (kg/planta), número de frutos/planta, produtividade, número
de caixas/planta, número de frutos/caixa e peso médio (PM) de tangerineira
‘Poncã’, adubada com doses de composto orgânico, em São Manuel-SP
(2009)...
Peso de frutos (kg/planta), número de frutos/planta, produtividade (t/ha),
número de caixas/planta, número de frutos/caixa e peso médio (PM) de
frutos de tangerineira ‘Poncã’, adubada com doses de composto orgânico, em São Manuel-SP (2010)...
Peso de frutos (kg/planta), número de frutos/planta, produtividade, número
de caixas/planta, número de frutos/caixa e peso médio (PM) de tangerineira
‘Poncã’, adubada com doses de composto orgânico, em São Manuel-SP
(2011)...
Peso médio (PM), diâmetro médio (DM), rendimento do suco (RS), pH,
acidez titulável (AT), sólidos solúveis (SS), “ratio”, índice tecnológico (IT) e teor de ácido ascórbico (AA) de frutos de tangerineira ‘Poncã’, adubada com doses de composto orgânico, em São Manuel-SP (2010)...
Peso médio (PM), diâmetro médio (DM), rendimento do suco (RS), pH,
acidez titulável (AT), sólidos solúveis (SS), “ratio”, índice tecnológico (IT) e teor de ácido ascórbico (AA) de frutos de tangerineira ‘Poncã’, adubada com doses de composto orgânico, em São Manuel-SP (2011)...
Quantidade de nitrogênio (N), fósforo (P2O5), potássio (K2O), matéria
orgânica (M.O), pH e relação C/N determinados durante a decomposição do
composto orgânico confinado em saquinhos de poliéster em São Manuel-SP
(7/01/10 a 04/01/11)... 66
68
74
75
76
80
81
TABELA43.
TABELA44.
TABELA45.
Custos de produção gerais obtidos no manejo sustentável de pomar de
tangerineira ‘Poncã’ em São Manuel-SP, durante 3 safras (2009/2010/2011)..
Detalhamento dos custos de produção referente aos tratamentos constituídos
por doses de composto orgânico durante 3 safras da tangerineira ‘Poncã’. São Manuel-SP (2009/2010/2011)...
Comparativo da relação custo e rentabilidade entre a testemunha e as
tangerineiras ‘Poncã’ adubadas com doses de composto orgânico em São
Manuel-SP, nos anos de 2009, 2010 e 2011... 89
90
LISTA DE FIGURAS FIGURA 01. FIGURA 02. FIGURA 03. FIGURA 04. FIGURA 05. FIGURA 06. FIGURA 07. FIGURA 08. FIGURA 09. FIGURA 10.
Croqui do pomar de tangerineira ‘Poncã’com 2 parcelas
experimentais. São Manuel-SP...
Área do pomar experimental de tangerineira ‘Poncã’ na Fazenda da
Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP, São Manuel-SP.
2009...
Divisão da planta de tangerineira ‘Poncã’ em quadrantes e seleção do ramo para as medições foliares...
Medição da altura (A), largura (B) e circunferência (C) da tangerineira
‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico. São Manuel-SP,
2012...
Disposição dos saquinhos ao redor da planta de tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico. São Manuel-SP...
Altura e taxa de crescimento mensal (m) de tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico, em São Manuel-SP, ao
longo de 720 dias (maio/2009 a maio/2011)...
Circunferência do tronco e taxa de crescimento mensal (cm) de
tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico, em
São Manuel-SP, ao longo de 720 dias (maio/2009 a maio/2011)...
Diâmetro da copa e taxa de crescimento mensal (m) de tangerineira
‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico, em São
Manuel-SP, ao longo de 720 dias (maio/2009 a maio/2011)...
Perímetro da copa e taxa de crescimento (m2) de tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico, em São Manuel-SP, ao
longo de 720 dias (maio/2009 a maio/2011)...
Volume da copa e taxa de crescimento mensal (m3) de tangerineira
‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico, em São
Manuel-SP, ao longo de 720 dias (maio/2009 a maio/2011)...
FIGURA 11.
FIGURA 12.
FIGURA 13.
FIGURA 14.
FIGURA 15.
Efeito de doses de composto orgânico na produtividade e número de
frutos/planta de tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto
orgânico. São Manuel-SP, 2010...
Efeito de doses de composto orgânico no índice tecnológico de frutos
de tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico.
São Manuel-SP, 2010...
Efeito de doses de composto orgânico no teor de sólidos solúveis do
suco de tangerineira ‘Poncã’ adubada com doses de composto
orgânico. São Manuel-SP, 2011...
Porcentagem de frutos grandes, médios e pequenos de tangerineira
‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico. São Manuel-SP,
2010...
Porcentagem de frutos grandes, médios e pequenos de tangerineira
‘Poncã’ adubada com doses de composto orgânico. São Manuel-SP,
2011... 74
80
81
85
RESUMO
Sabendo da importância da citricultura paulista e da crescente busca pela produção de
alimentos que não causem danos ao solo e ao meio ambiente, o objetivo do trabalho foi avaliar
os efeitos de doses de composto orgânico nas características químicas do solo,
desenvolvimento, produção, nutrição e qualidade de frutos de tangerineira 'Poncã' (Citrus
reticulata). O trabalho foi conduzido no pomar de tangerineira 'Poncã' enxertada em
Citrumeleiro 'Swingle', implantado em dezembro de 2001, no espaçamento de 6 x 4 m, na
Fazenda Experimental São Manuel, da Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP,
Câmpus de Botucatu-SP. Os tratamentos foram constituídos de doses com 50, 100, 150 e
200% de nitrogênio presente no composto orgânico comercial, mais o tratamento testemunha,
equivalendo no ano de 2009 a, T1= 0 g de N/planta (dose zero do composto - Testemunha);
T2= 192 g N/planta (41,5 kg composto/planta); T3= 384 g N/planta (83 kg composto/planta);
T4= 576 g N/planta (124,5 kg composto/planta) e T5= 768 g N/planta (166 kg
composto/planta). No ano de 2010, as doses diminuíram devido a queda de produtividade,
equivalendo às seguintes doses: T1= 0 g N/planta (dose zero do composto - Testemunha); T2=
108 g N/planta (27,5 kg composto/planta); T3= 216 g N/planta (55 kg composto/planta); T4=
324 g N/planta (82,5 kg composto/planta); T5= 432 g N/planta (110 kg composto/planta). As
adubações foram feitas na projeção da copa, parceladamente, nos meses de janeiro (40%),
fevereiro (30%) e março (30%), em 2009 e setembro (40%), novembro (30%) e janeiro (30%)
no ano de 2010. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com 5
tratamentos, 4 repetições e 2 plantas por parcela. Foi utilizado o programa SAS (Statistical
Analysis System), realizando a análise de variância e a regressão em cada época de avaliação.
As características de desenvolvimento vegetativo avaliadas foram: circunferência do tronco
(cm), diâmetro médio da copa (m), altura da planta (m), volume (m3) e área de projeção da
copa (m2). Para acompanhar a fertilidade do solo, foram realizadas análises químicas,
determinando os teores de macro e micronutrietes disponíveis, além do pH, teor de matéria
orgânica (M.O.), soma de bases (SB), capacidade de troca catiônica (CTC) e saturação por
bases (V%). Em relação à diagnose nutricional da planta, foram realizadas análises de folha e
medido mensalmente o teor de clorofila com o clorofilômetro SPAD-502. Ambas as análises
foram realizadas antes e após as adubações, nos meses de agosto e fevereiro dos anos de 2010
caixas por planta, número de frutos por caixa (40,8 kg) e produtividade (t/ha). Em relação à
qualidade dos frutos, foram avaliadas características físicas e físico-químicas, tais como: peso
médio (g), diâmetro equatorial do fruto (cm), rendimento de suco (%), índice tecnológico
(kgSS/caixa), sólidos solúveis (SS - ºBrix), acidez titulável (AT - % ácido cítrico 100g-1 suco),
“ratio” (SS/AT) e teor de ácido ascórbico (mg/100 mL suco). Os resultados mostraram que o
tratamento com maior dose de composto orgânico apresentou menores taxas de crescimento de
altura, diâmetro da copa e perímetro da copa, no entanto, maior produtividade em 2010. Em
2011, observou-se queda na produtividade, não ocorrendo diferenças entre os tratamentos.
Também não houve diferença para o teor de clorofila. Em relação à qualidade dos frutos,
observou-se diferenças entre os tratamentos para índice tecnológico em 2010 e teor de sólidos
solúveis em 2011, sendo que ambos diminuíram conforme aumentou-se as doses de composto
orgânico. As análises químicas do solo mostraram que os valores de pH, cálcio, soma de
bases, saturação por bases (V%) e zinco aumentaram com as doses de composto orgânico,
ocorrendo o contrário para os teores de H+Al e boro na folha.
________________________
ORGANIC COMPOST ON SOIL FERTILITY, DEVELOPMENT, PRODUCTION
AND FRUIT QUALITY OF ‘PONCÃ’ TREE MANDARIN. Botucatu, 2012. 108p.
Tese (Doutorado em Agronomia/Horticultura) – Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista.
Author: DAYANA PORTES RAMOS BUENO
Adviser: SARITA LEONEL
SUMMARY
Knowing the importance of the citrus culture in the State of São Paulo
and the growing demand for food production that do not cause damage to soil and the
environment, the objective of the research was to evaluate the effects of rates organic compost
on soil chemical characteristics, development, production, nutrition and fruit quality of 'Poncã'
mandarin (Citrus reticulata). The research was conducted in the orchard of 'Poncã' grafted on
Citrumeleiro 'Swingle' deployed in December 2001, at a spacing of 6 x 4 m in Experimental
Farm of the Faculdade de Ciências Agronômicas/ UNESP, located in São Manuel city, São
Paulo State, Brazil. The treatments consisted of rates at 50, 100, 150 and 200% of nitrogen
present in organic compost, more on witness treatment, amounting in 2009 to T1= 0 g N/plant
(zero rate of the organic compost - witness); T2= 192 g N/plant (41.5 kg compost/plant), T3=
384 g N/plant (83 kg compost/plant), T4= 576 g N/plant (124.5 kg compost/plant) and T5=
768 g N/plant (166 kg compost/plant). In 2010, the rates decreased due to decreased
productivity: T1= 0 g N/plant (zero rate of the organic compost - witness), T2= 108 g N/plant
(27.5 kg compost/plant), T3= 216 g N/plant (55 kg compost/plant), T4= 324 g N/plant (82.5
kg compost/plant), T5= 432 g N/plant (110 kg compost/plant). The fertilization was realized in
the crown projection, installments in January (40%), February (30%) and March (30%) in
2009 and in September (40%), November (30%) and January ( 30%) in 2010. The
experimental design was completely randomized with five treatments, four replications and
two plants per plot. Were used the SAS (Statistical Analysis System) performing the analysis
of variance and regression in each evaluation period. The characteristics of vegetative
development were: trunk circumference (cm), scion diameter medium (m), height (m), volume
(m3) and canopy projection area (m2). To monitor the soil fertility were analyzed soil
of bases, CTC and base saturation. Regarding the nutritional status of the plant were analyzed
and measured monthly leaf chlorophyll content with a chlorophyll meter SPAD-502. Both
analyzes were performed before and after fertilization, during the months of August and
February of 2010 and 2011. The production traits were evaluated: fruit weight (kg / plant),
number of boxes per plant, number of fruits per box and yield (t / ha). Regarding the fruit
quality characteristics were evaluated physical, chemical and physico-chemical, such as:
weight (g), fruit equatorial diameter (cm), juice yield (%), technological index (kgSS/box),
solid soluble (ºBrix), titratable acidity (%), "ratio" and ascorbic acid (mg/100 ml juice). The
results showed that the treatment with high dose of organic compound had lower rates of
growth in height, diameter and circumference of the crown, however, higher productivity
2010. In 2011, we observed a decrease in productivity, there was no difference between
treatments. There was also no difference in chlorophyll content. Regarding the fruit quality
differences, were observed between treatments for technological index in 2010 and soluble
solids in 2011, where both decreased as was increased rates of organic compost. The chemical
analyzes showed that soil pH, calcium, magnesium, sum of bases, base saturation (V%) and
zinc increased with organic compost rates, the opposite was true for the H+Al. The boron
content of the sheet decreased is increased as the doses of the organic compound.
________________________
1. INTRODUÇÃO
O Brasil é o maior produtor mundial de citros, tendo destaque a
citricultura paulista. As tangerinas constituem o segundo grupo de frutos mais importantes da
citricultura, onde a ‘Poncã’ (Citrus reticulata Blanco) é a principal variedade comercializada
em São Paulo (AGRIANUAL, 2012).
Existem vários fatores e interações que interferem na produtividade
dos pomares, sendo que os mais limitantes são a baixa fertilidade dos solos e as adubações
insuficientes ou desequilibradas (KOLLER, 1994), advindas do uso irracional do solo e dos
insumos modernos.
Melarato (1998) cita que a maioria dos solos cultivados com plantas
cítricas no Sudeste do Brasil apresentam acidez elevada, alumínio em níveis tóxicos, baixa
capacidade de retenção de cátions e baixos teores de bases, devido ao alto grau de
intemperização.
Segundo Kiehl (1985), a fertilidade do solo pode ser melhorada pelo
emprego de fertilizantes minerais, corretivos e fertilizantes orgânicos. Os fertilizantes minerais
e os corretivos podem melhorar a fertilidade da terra, porém somente o fertilizante orgânico
proporciona melhorias nas propriedades físicas, químicas, físico-químicas e biológicas do
solo, efetuando correções de reações químicas desfavoráveis ou de excesso de toxidez e
fornecendo às raízes nutrientes suficientes para produzir colheitas compensadoras, com
Comprovando essas afirmações, Damatto Júnior et al. (2006)
verificaram que a adubação orgânica, em bananeira, proveniente da compostagem promoveu
incrementos no pH, matéria orgânica, fósforo, cálcio, soma de bases, CTC e saturação por
bases, sendo portanto boa fornecedora de nutrientes ao solo e consequentemente às plantas. Os
autores explicam que os benefícios gerados pela aplicação de adubos orgânicos ao solo vêm ao
encontro das reais necessidades dos nossos solos, uma vez que os solos tropicais apresentam
limitações de ordem química, com baixos teores de nutrientes e pouca matéria orgânica, o que
dificulta o bom desenvolvimento das plantas.
Segundo Almeida et al. (2005) a utilização da matéria orgânica em
pomares cítricos traz inúmeros benefícios ao crescimento e desenvolvimento das plantas, bem
como na produtividade. Os autores observaram que houve incremento na altura da planta,
diâmetro do caule, circunferência, projeção e volume da copa, com o aumento das doses de
esterco utilizadas, em pomar em formação, de tangerineira 'Poncã'.
A qualidade dos frutos cítricos também é influenciada pela adubação.
Trabalhos como os de Chapman (1968), Embleton e Jones (1973), Reese e Koo (1975), Koo e
Reese (1976), citados por Pozzan e Tribone (2005) concluíram que os maiores efeitos da
nutrição na qualidade do fruto estão relacionados ao suprimento de nitrogênio e potássio,
sendo que o primeiro tende a reduzir o tamanho dos frutos e aumentar a quantidade de suco, o
conteúdo de sólidos solúveis e a acidez. Por outro lado, altas doses de K proporcionaram a
diminuição da concentração de sólidos solúveis e aumento da acidez do suco, por aumentar de
maneira marcante o tamanho do fruto e a espessura da casca.
Sabendo da crescente busca por alimentos orgânicos, da preocupação
com o meio ambiente e da falta de dados científicos sobre as melhores dosagens que devem
ser utilizadas, o objetivo do trabalho foi avaliar os efeitos de doses de composto orgânico no
desenvolvimento das plantas, na fertilidade do solo, na produção e qualidade de frutos de
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. Origem e importância econômica da tangerineira Poncã
Acredita-se que a tangerineira ‘Poncã’ (C. reticulata Blanco) seja nativa da Indochina e do Sul da China, sendo sua principal região inicial de distribuição o
Leste da Índia. Apesar de cultivadas há milênios na China, só foram levadas para fora de sua
origem em 1805, quando chegaram à Inglaterra. O tipo conhecido atualmente como Poncã
surgiu, provavelmente, no período entre 265 e 419 d.C. com o nome de ju-kan (que significa
leitoso) (DONADIO et al., 2005).
Esse grupo de tangerineiras constitui um dos cítricos mais cultivados
no mundo, sendo produzidos na China, Espanha, Japão e também é o mais popular no Brasil,
destacando-se como 3º produtor mundial (KOLLER; SCHÄFER, 2009), produzindo
1.094.429 toneladas em uma área cultivada de 54.814 ha. A região sudeste detém 55% da
produção nacional, na qual o estado de São Paulo destaca-se com 38% (AGRIANUAL, 2012).
As tangerinas constituem o segundo grupo em importância dentro dos
cítricos, sendo que as laranjas-doces participam com 58,3% da produção mundial, as
tangerinas 20,5%, os limões e limas ácidas 11,2% e os pomelos 4,5% (FAOSTAT, 2011).
Segundo Pio et al. (2005) e Pompeu Júnior (2001), as principais
variedades de tangerinas e híbridos de interesse comercial no Estado de São Paulo são as
tangor ‘Murcote’ (C. sinensis x C. reticulata), onde a tangerina ‘Poncã’ (60%) e o tangor
‘Murcote’ (20%) mantém-se com expressividade nos plantios, enquanto as demais, ‘Mexerica
-do-rio’ (15%) e principalmente, tangerina ‘Cravo’ (5%), apresentam níveis baixos de representatividade.
Segundo dados da Ceagesp, em 2010, foram comercializadas 104.687
toneladas de tangerina, sendo 63.630 toneladas referentes à ‘Poncã’ e 41.057 toneladas de
‘Murcote’, comprovando a grande expressividade desta tangerina (AGRIANUAL, 2012).
O maior volume de tangerinas produzidas no Brasil é absorvido pelo
mercado interno de frutas frescas. O suco de tangerinas também é usado quando há escassez
de laranjas e na composição de refrigerantes (KOLLER; SCHÄFER, 2009).
As tangerinas também rendem divisas para o Brasil através de
exportações de frutas frescas e suco. Desde 1990, houve progressos, mas o volume e o valor
das exportações ainda podem ser considerados incipientes face ao grande potencial que o
Brasil possui, relacionado com o clima, solo, baixo custo de produção e um sólido mercado
interno, capaz de absorver boa parte da produção. Diante dos maiores exportadores, o Brasil
ocupa o tímido lugar de 22º colocado (KOLLER; SCHÄFER, 2009).
2.2. Botânica, Morfologia e Fisiologia
2.2.1. Botânica e Morfologia
As tangerineiras pertencem à família Rutaceae, subfamília
Aurantioideae, tribo Citrae, subtribo Citrinae e gênero Citrus (SWINGLE; REECE, 1967).
Essas plantas possuem tronco único e cilíndrico com ramificações a cerca de 60 cm do solo
(AGUSTÍ et al., 1996). Em condições de livre crescimento, o sistema radicular é do tipo
pivotante e em condições de cultivo, a raiz principal do porta-enxerto sofre danos que causam
sua ramificação. Apesar de poderem atingir mais de um metro de profundidade, de 65 a 90%
das raízes ativas tendem a se concentrar numa faixa de até 50 cm de profundidade,
dependendo da interação porta-enxerto e condições do solo (SPIEGEL-ROY;
GOLDSCHMIDT, 1996). Neves et al. (2008), estudando o sistema radicular da variedade
Poncã observaram que a profundidade efetiva do sistema radicular é de 0,36 a 0,75 m na linha
'Cleópatra' (C. reshni hort. ex Tanaka) e o limão 'Rugoso' (C. jambhiri Lush.) com maior
profundidade efetiva na entrelinha.
As copas geralmente são esferóides ou elipsóides. Os ramos são
inicialmente triangulares e tornam-se cilíndricos com o início do crescimento secundário. O
hábito de crescimento varia entre vertical, aberto ou pendente. As folhas são unifoliadas,
brevipecioladas e dispostas em forma de espiral, de tamanho variável, formato lanceolado,
com ápices acuminados, agudos ou obtusos, margem variando entre crenada, dentada ou lisa.
As folhas das plantas cítricas em geral têm glândulas de óleo abundante, que lhes conferem
aroma característico (RODRIGUEZ, 1987).
As tangerineiras emitem flores geralmente pequenas, isoladas ou em
inflorescências sem ramificações. As flores são pentâmeras, com vários estames, mais de
quinze (WEILER, 2006), soldados entre si na base.
O fruto é uma baga do tipo hesperídeo e de forma geralmente achatada
ou esferóide. É composto por um grande endocarpo, formado por 8 a 13 gomos. A casca do
fruto, composta por mesocarpo e epicarpo é caracterizada pela leve a moderada aderência ao
endocarpo. O epicarpo é a camada mais externa, geralmente de coloração amarela a laranja
quando o fruto está maduro. O epicarpo possui glândulas de óleo que, quando rompidas,
liberam grande quantidade de óleo. O mesocarpo é a camada mais interna da casca, também
chamado de albedo, podendo apresentar coloração branca, amarelada ou creme
(RODRIGUEZ, 1987).
As sementes são de formato claviforme e apresentam número variado
de embriões por semente, podendo ser mono ou poliembriônicas. O teor de suco nos frutos
pode variar de valores praticamente nulos a mais de 50% do peso, mas em variedades
comerciais é geralmente superior a 40% (SCHWARZ; BRUGNARA, 2009).
2.2.1.1. Descrição da variedade ‘Poncã’
As plantas são de porte médio, crescimento vertical, muito produtivas
(podendo atingir 250 kg por planta), mas de tendência a alternância de produção. As folhas
são verde-escuras, o pecíolo reticulado, borda do limbo crenada e ápice obtuso. Produz frutos
grandes (7,5 a 8,5 cm de diâmetro), de formato achatado, pesando em média 138 g, com polpa
de cor alaranjada e textura frouxa. O suco corresponde a 43% do peso do fruto, com teores
forte, pouco aderida aos gomos e com muitas glândulas de óleo essencial proeminentes.
Apresenta polén muito fértil, com produção de várias sementes por fruto, variando de cinco a
oito, poliembriônicas. A cultivar apresenta maturação dos frutos de meia estação, de maio a
julho, com destino para o mercado interno (FIGUEIREDO, 1980; PIO et al., 2005;
SCHWARZ, 2009).
Esses frutos têm ganhado destaque a cada dia, pois agradam ao paladar
do consumidor, são de fácil consumo, uma vez que possuem a casca pouco aderente aos
gomos, e são tolerantes a algumas doenças importantes, como o cancro cítrico, a clorose
variegada dos citros (CVC) e a leprose dos citros (LARANJEIRA et al., 1996), de extrema
importância para o ambiente, pois atenua a utilização de produtos agroquímicos, resíduos nos
frutos e, para o produtor, diminui os custos da produção.
2.2.2. Fenologia
As plantas cítricas, por serem perenes, apresentam ciclo de
desenvolvimento que varia de seis a dezesseis meses, dependendo da espécie, da variedade e
da variação sazonal das condições térmicas e hídricas do local. Nesse período, a planta passa
por diversas fases, sendo as mais enfatizadas pela literatura as que vão do florescimento à
maturação dos frutos (ORTOLANI et al., 1991).
A indução floral inicia-se por volta de abril, maio e junho, quando as
temperaturas começam a cair e as chuvas, a diminuir. Nesse período, as gemas vegetativas se
transformam em gemas reprodutivas. A partir daí, as plantas entram em fase de repouso
vegetativo, condicionadas, nesse caso, pelo déficit hídrico, resultando no acúmulo de reservas.
Após esse período de estresse hídrico, que dura de dois a quatro meses, as temperaturas
voltam a elevar e inicia-se o período das chuvas, entre o final do inverno e o início da
primavera, o que torna as condições propícias ao intenso florescimento, seguido do período de
desenvolvimento dos frutos, após os quais os frutos se encontrarão em ponto de colheita,
normalmente indicado pelo índice de maturidade (IM), o qual expressa a relação entre o total
de sólidos solúveis (°Brix) e ácidos (MEDINA et al., 2005).
Para as tangerineiras existe uma constante renovação das folhas, com
maior intensidade na época do florescimento. Uma folha pode permanecer nas plantas por até
dois anos, dependendo das condições ambientais (climáticas, nutricionais e biológicas) às
ocorre em fluxos de brotação, que se concentram em determinadas épocas do ano. O número
de fluxos de brotação é variável em função das condições de temperatura e pluviosidade,
podendo ser dois em climas frios e três a quatro fluxos em climas tropicais. Nas condições
tropicais do Brasil com inverno seco, o primeiro fluxo acontece no fim do inverno e início da
primavera (agosto a setembro) e é o mais intenso, com emissão de brotações compostas de
flores isoladas, flores e folhas ou apenas folhas, o que é condicionado por reguladores de
crescimento (SPIEGEL-ROY; GOLDSCHMIDT, 1996). Os outros fluxos são apenas
vegetativos e geram ramos mais longos, podendo variar de ano para ano devido às condições
climáticas (SCHWARZ; BRUGNARA, 2009).
A diferenciação de gemas vegetativas em reprodutivas ocorre nos
ramos do último fluxo de brotação (final do verão/outono) e está relacionada a fatores
climáticos que reduzem o metabolismo e o crescimento, como temperatura baixa e déficit
hídrico (DAVIES; ALBRIGO, 1994).
Ribeiro et al. (2006) observaram que a deficiência hídrica é o principal
indutor do florescimento em quase todas as localidades estudadas no estado de São Paulo, com
exceção de Botucatu, Itapetininga, Itapeva e Ourinhos, onde o florescimento é influenciado
também por baixas temperaturas.
Nas regiões de clima subtropical, onde ocorre uma estação fria, a
diferenciação das gemas ocorre durante este período desfavorável ao crescimento da planta.
Nas regiões tropicais, onde não há frio suficiente para paralisar o crescimento, com estação
seca, o repouso provocado pela falta de água é suficiente para que ocorra a diferenciação. Nas
regiões tropicais úmidas o florescimento ocorre em qualquer época do ano, em eventos menos
intensos (DAVIES; ALBRIGO, 1994), o que sugere que a indução floral não está apenas
relacionada com a temperatura e com o repouso vegetativo, mas, também, com fatores
internos cíclicos, tais como balanço hormonal e nutrição, entre outros, envolvendo o passado
fisiológico da planta (REUTHER, 1973, 1977).
Os fatores nutricionais envolvem a disponibilidade de carboidratos e
nitrogênio, sendo que o primeiro, em altos níveis, estimula o florescimento e o segundo, a
vegetação. O baixo nível de carboidratos nas raízes, que pode ser causado por produções
excessivas, está associado com a baixa emissão de flores e alternância de safra em
um dreno dos carboidratos produzidos nas folhas e armazenados nos outros órgãos de reserva,
mas também há efeito dos hormônios produzidos por esses frutos, que podem inibir novas
emissões de flores. O efeito de giberelinas inibindo a formação de flores é o efeito hormonal
melhor entendido até o momento (KOSHITA et al., 1999).
O período entre a indução floral e a antese está relacionado com o
acúmulo térmico, ou seja, com o total de graus-dia necessário para que os botões florais
estejam aptos para se abrir (LOVATT et al., 1984). Assim, a antese somente ocorrerá após a
necessidade de graus-dia ter sido atingida e quando houver água disponível no solo. Isso
resulta em considerável variação no período entre a indução floral e a antese, tanto entre os
diferentes anos de produção como entre as diferentes regiões produtoras (DAVIES;
ALBRIGO, 1994). Moss (1969), estudando a influência da temperatura no florescimento dos
citros, observou que o tempo entre a indução floral e a antese aumenta progressivamente com
a diminuição da temperatura do ar ao longo desse período; observou, também, que o
florescimento foi muito mais intenso nos tratamentos com temperaturas mais baixas. Isso
também foi obtido por Lovatt et al. (1988), que verificaram que, sem o período de estresse
térmico, houve a produção de apenas seis flores por árvore, ao passo que, no tratamento com
oito semanas com estresse térmico, as flores por planta atingiram 347.
O florescimento das tangerineiras é abundante, mas a grande maioria
das flores não forma frutos (AGUSTÍ et al., 1996). Segundo Davies e Albrigo (1994), a
produção de flores nos citros atinge valores que vão de 100 a 200 mil unidades. No entanto, a
porcentagem delas que permanece nas plantas é muito pequena, da ordem de 15 a 20%,
enquanto somente 0,1 a 6% do total de flores irão resultar em frutos maduros (ERICKSON,
1968). A queda das flores é condicionada por uma série de fatores que vão desde aspectos
morfológicos, fisiológicos e fitossanitários até ambientais, principalmente, altas temperaturas,
chuvas intensas, rajadas de vento e deficiência hídrica (DAVIES; ALBRIGO, 1994).
O período de fixação dos frutos é extenso, iniciando-se logo após a
polinização (DAVIES; ALBRIGO, 1994). Ao longo da fase de crescimento do fruto, é
relativamente difícil identificar as causas responsáveis por sua queda, haja vista que as plantas
de citros se adaptam a uma grande diversidade de condições climáticas (REUTHER, 1977).
Durante as seis a oito semanas após a antese, a abscisão de pequenos
altas temperaturas. Após esse período, os frutos remanescentes continuam sofrendo abscisão
durante cerca de dois a três meses, sendo o processo, nessa fase, influenciado principalmente
pela combinação de alta temperatura do ar (>35°C), baixa umidade relativa e intensa
velocidade do vento (REUTHER, 1977). Após esse período, no final da primavera e no início
do verão, entre novembro e dezembro no hemisfério sul e entre maio e junho no norte,
verifica-se grande queda de frutos, de diâmetro de 0,5 a 2 cm, provavelmente relacionada à
competição por carboidratos, água, hormônios e outros produtos metabólicos (DAVIES;
ALBRIGO, 1994), sendo ainda influenciada por temperaturas elevadas, entre 35 e 40°C, e
pela baixa umidade do solo (REUTHER, 1977).
O desenvolvimento dos frutos segue um padrão sigmoidal,
caracterizado por três períodos bem diferenciados. O primeiro, que é exponencial, vai desde a
antese até a queda fisiológica de frutos e se caracteriza pelo rápido aumento do número de
células dos tecidos, exceto do eixo central. Assim, a casca é a parte que mais cresce neste
período. O segundo período, de crescimento linear, inicia logo após a queda natural e se
prolonga até o início da mudança de cor da casca, podendo variar de dois (variedades
precoces) a seis meses (variedades tardias). No terceiro período, a taxa de crescimento é
reduzida e ocorrem os fenômenos relacionados à maturação. Para ‘Poncã’, a continuidade do
crescimento da casca e o aumento da largura do eixo central nesta fase pode ser importante
(AGUSTÍ, 2000).
A maturação das tangerinas é um processo gradual. A maturação
fisiológica, estádio em que o embrião e a semente já estão completamente desenvolvidos,
ocorre antes da maturação comercial, que se define como a fase em que o suco apresenta
acidez e teor de açúcares agradáveis ao paladar. Durante a maturação, a epiderme dos frutos
começa a adquirir coloração amarelada ou alaranjada, devido à degradação da clorofila e
síntese de carotenóides (AGUSTÍ et al., 1996). Esse processo é mais intenso em climas frios.
As modificações da epiderme ocorrem sem relação com as modificações do suco. Neste, o teor
de ácidos livres diminui progressivamente, como consequência de sua diluição e
metabolização, e o de sólidos solúveis aumenta (AGUSTÍ, 2000). O teor de suco dos frutos
também sofre alterações, sendo comum que aumente até o final do crescimento do fruto,
porém, após a maturação, é comum a queda do teor de suco dos frutos (SCHWARZ;
A maturação dos frutos se processa até que ocorra a abscisão destes ou
colheita, pois são do tipo não climatéricos, ou seja, a maturação precisa ocorrer enquanto o
fruto está na planta. Após a colheita, modificações pouco pronunciáveis ocorrem no sabor do
suco, porém a epiderme tende a perder a cor verde (SCHWARZ; BRUGNARA, 2009).
2.3. Nutrição e Adubação
Os nutrientes que as plantas cítricas necessitam para seu
desenvolvimento e produção são: carbono (C), hidrogênio (H), oxigênio (O), nitrogênio (N),
fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S), zinco (Zn), manganês
(Mn), boro (B), ferro (Fe), molibdênio (Mo), cobre (Cu), cloro (Cl) e sódio (Na) (CAETANO,
1985). Segundo Mattos Jr et al. (2005), esses nutrientes são absorvidos na formas iônica ou
molecular, conforme a seguir: NO3-, NH4+, NOx, NH3, H2PO4-, K+, Ca+2, Mg+2, SO4-2, SO2,
H2S, Fe+2, Cu+2, Mn+2, Zn+2, H3BO3, Cl-, MoO-4 e Ni+2.
A absorção desses nutrientes é contínua durante o ano, com picos nos
dois fluxos principais de desenvolvimento: o primeiro na primavera, com folhas e flores (julho
a setembro) e o segundo, no verão, praticamente só com folhas e quando os frutos já estão em
crescimento (dezembro a fevereiro) (RODRIGUEZ, 1980).
A limitação de nutrientes afeta, direta ou indiretamente, a capacidade
fotossintética da planta. A influência do estado nutricional sobre a fotossíntese ocorre de
muitas maneiras, sendo mais importante para solos tropicais, notadamente os ácidos e
arenosos, que, frequentemente apresentam limitações na disponibilidade de nutrientes
(MEDINA et al., 2005). Além dos nutrientes afetarem na formação e produção, estes têm
papel destacado sobre a qualidade interna e externa dos frutos (MATTOS JR et al., 2005).
Estudos pioneiros sobre nutrição dos citros, desenvolvidos nos Estados
Unidos, nas décadas dos 1920 e 1930, formaram uma base de informações científicas sobre as
necessidades nutricionais para a citricultura mundial. No Brasil, durante os anos de 1930 e
1940, desenvolveram-se os primeiros ajustes dessas informações sobre demandas de nutrientes
às condições dos solos tropicais brasileiros e deram-se início aos estudos das relações entre
disponibilidade dos nutrientes no solo e absorção pelas árvores e da necessidade do
estabelecimento das ferramentas para diagnóstico e recomendação de adubações com base nas
O suprimento adequado e o equilíbrio nutricional são fatores
determinantes para a produtividade das plantas. É possível evitar insucessos devido às
deficiências ou excessos de nutrientes pela correção dos solos, usando a análise de solos como
critério para recomendação de corretivos e fertilizantes e, também, a própria planta como
objeto de diagnóstico. Para plantas perenes, principalmente, há grande possibilidade de
modificar as recomendações de adubações através do monitoramento nutricional (MATTOS
JR et al., 2005).
O manejo ideal visa ao suprimento de nutrientes em quantidades
suficientes e com sincronismo com os períodos de maior demanda da planta para otimizar a
produção e qualidade de frutos e minimizar os possíveis impactos ambientais adversos em
vista do uso de fertilizantes. Sua base é a adoção de estratégias de monitoramento (diagnóstico
de campo e avaliação dos resultados das análises de solo e de folhas), tomada de decisão
(definição de doses, fontes, épocas de aplicação, frequência e localização dos fertilizantes),
modo de aplicação e análise de pontos críticos (determinação se a resposta desejada e seus
componentes foram obtidos) (MATTOS JR et al., 2005).
A eficiência da análise de solo como ferramenta de diagnóstico
depende muito da representatividade da amostra de terra em relação à área ou ao talhão
considerado. A amostragem deve ser feita na faixa de adubação, na qual existe maior volume
de raízes, com amostras coletadas cerca de 50 cm da projeção da copa das plantas para dentro
e outra cerca de 50 cm para fora da projeção, as quais serão, posteriormente, misturadas para
representar o ambiente radicular das plantas (QUAGGIO, 1996), nas profundidades de 0 a 20
cm, com o intuito de recomendar a adubação e calagem e, de 20 a 40 cm, com o objetivo de
diagnosticar barreiras químicas ao desenvolvimento das raízes, ou seja, deficiências de Ca
com ou sem excesso de alumínio (Al). A época mais apropriada para a coleta é de fevereiro a
abril, garantindo um intervalo mínimo de 60 dias após a última adubação (MATTOS JR et al.,
2001).
O uso da análise química de plantas para fins de diagnóstico baseia-se
na premissa de relações causais existentes entre a taxa de crescimento e o conteúdo de
nutrientes na matéria seca dessas plantas. As folhas, em geral, refletem melhor o estado
nutricional do que outros órgãos da planta. Alterações no suprimento de nutrientes são
maior crescimento ou produtividade, dentro de certos limites, de modo que, em níveis de
ocorrência muito altos, podem tornar-se prejudiciais ou mesmo tóxicos (MATTOS JR et al.,
2005).
Os teores totais obtidos com a análise foliar não dependem unicamente
da disponibilidade do nutriente no solo, pois estão sujeitos à influência de vários outros
fatores, como taxa de crescimento do tecido vegetal, idade da folha, combinações copa e
porta-enxerto, e interações com outros nutrientes. Os teores de N, P e K diminuem com a
idade da folha, enquanto que os teores de Ca, por exemplo, aumentam nas folhas mais
maduras (MATTOS JR et al., 2001).
Segundo Boaretto et al. (2007) as folhas foram o órgão da laranjeira
‘Pêra’ (Citrus sinensis Osbeck) que apresentaram as maiores concentrações de
macronutrientes na planta. Os nutrientes absorvidos pelas raízes foram transportados para as
folhas, onde ocorreram as principais reações bioquímicas, como a síntese de carboidratos e de
outros compostos orgânicos. Já os teores de micronutrientes foram mais elevados nas raízes
como reflexos do processo de absorção. A matéria seca total da planta estava dividida 78% na
parte aérea e 22% no sistema radicular. A matéria seca (MS) do fruto representou 33% da MS
da parte aérea e 25% de MS total da planta. Considerando a biomassa vegetal, as folhas
continham a maior proporção de macronutrientes e de boro.
Por essa variação de nutrientes nas folhas, devem ser coletadas para
análise com a mesma idade e provir de plantas cultivadas em condições semelhantes. A
amostragem é feita coletando-se a 3ª ou 4ª folha a partir do fruto, geradas na primavera, com
aproximadamente seis meses de idade, normalmente em fevereiro e março, em ramos com
frutos de 2 a 4 cm de diâmetro. Recomenda-se amostrar pelo menos 25 árvores em áreas de,
no máximo, 10 ha e coletar quatro folhas não danificadas por árvore, uma em cada quadrante e
na altura mediana, no mínimo 30 dias após a última pulverização (QUAGGIO et al., 2005).
As faixas de interpretação dos resultados da análise de folhas foram
inicialmente estabelecidas com base em estudos realizados, principalmente, nos Estados
Unidos e depois adaptadas para as condições brasileiras com base em experimentos de campo.
A interpretação do resultado da análise foliar é feita comparando-se os resultados do
laboratório com os padrões estabelecidos. O programa de adubação do pomar deve ser
O teor de nitrogênio (N) foliar tem-se mostrado bom indicador das
reservas deste nutriente na biomassa das plantas, o que serve para ajustar as doses de N a
serem aplicadas, uma vez que a análise do solo não fornece parâmetros para a adubação
nitrogenada dos citros (MATTOS JR et al., 1995).
O ajuste da adubação nitrogenada com base na análise de folhas é
importante, pois é praticamente inexistente a resposta ao N para teores foliares de laranjas e
‘Murcott’ acima de 28 g/Kg (MATTOS JR et al., 2004; QUAGGIO et al., 1998); contudo, no
caso de limões e lima ácida, o teor adequado de N nas folhas é menor, ao redor de 22 g/Kg
(MATTOS JR et al., 2003b; QUAGGIO et al., 2002).
Além da realização da análise foliar, outros métodos vêm sendo usados
para avaliar o estado nutricional das plantas, tais como o medidor de clorofila SPAD-502, que
fornece leituras (unidades “SPAD”) que correspondem ao teor do pigmento presente na folha.
O clorofilômetro, modelo SPAD-502, aparelho desenvolvido pela Minolta no Japão
(MINOLTA, 1989), determina indiretamente a concentração de clorofila pela intensidade de
coloração verde das folhas. Os valores são calculados com base na quantidade de luz
transmitida pela folha em duas regiões de comprimento de onda nas quais a absorção pela
clorofila é diferente (MALAVOLTA et al., 1997).
O instrumento tem sido usado para avaliar o teor de N da folha, visto
que a clorofila e o nitrogênio se correlacionam positivamente. Souza et al. (2011) observaram
que a leitura SPAD correlacionaram-se linearmente ao teor de N na folha em todos os meses
de determinação, para as variedades Valência e Hamlim, concluindo que é possível usar a
medida indireta da clorofila como ferramenta rápida e não destrutiva no monitoramento e na
avaliação da disponibilidade de nitrogênio em plantas cítricas.
Uma das vantagens do uso desse medidor é que a leitura que indica
teor de N adequado (ou nível crítico) não é afetada pelo consumo de luxo do elemento em
questão, pois a planta não produz clorofila além do que necessita, mesmo quando em presença
de excesso de nitrogênio (MALAVOLTA et al., 1997). A determinação indireta da clorofila
atinge um ponto máximo, a partir do qual as leituras são constantes ou com pequenas
variações (DWYER et al., 1995). Alguns autores têm sugerido este ponto de inflexão como
Para orientar os produtores quanto à necessidade da adubação
nitrogenada, foram estabelecidos valores de leitura SPAD, conforme os estádios de
desenvolvimento da cultura da laranja e a probabilidade de resposta à fertirrigação
nitrogenada, de acordo com Godoy et al. (2008) e Silveira et al. (2003). Leituras SPAD abaixo
de 70 e acima de 75 estiveram relacionadas, respectivamente, com plantas muito responsivas e
não responsivas a nitrogênio, enquanto plantas com leituras intermediárias devem ser
adubadas com doses de N próximas daquelas extraídas com a colheita. Utilizando os mesmos
critérios da análise foliar, de acordo com Quaggio et al. (2005), em plantas muito responsivas,
aplicar-se-ia de 20 a 25% a mais da dose recomendada de N e para plantas pouco responsivas
de 20 a 25% a menos.
O maior benefício desse equipamento é a conveniência e a facilidade
de uso, pois as áreas de produção podem ser amostradas e, em poucos minutos, obtém-se a
resposta, facilitando assim a tomada de decisão de quanto fertilizante aplicar. O aparelho tem
custos mínimos de manutenção, ao contrário de outros testes que exigem a compra sistemática
de produtos químicos (PIEKIELEK; FOX, 1992); não existe a necessidade de envio de
amostras para laboratório, com economia de tempo e dinheiro, e o agricultor pode realizar
quantas amostras desejar, sem destruição das folhas (MALAVOLTA et al., 1997).
Decarlos Neto et al. (2002b), estudando os teores foliares de clorofila
total dos porta-enxertos de citros, verificaram que estes apresentaram correlações positivas
com características de crescimento, devido ao fato da molécula de clorofila estar contida nos
cloroplastos, absorvendo a energia radiante e ativando o sistema fotossintético. As correlações
observadas indicam que os teores foliares de clorofila total têm potencial de utilização no
diagnóstico de N. Com o monitoramento do verde da folha dos porta-enxertos, utilizando-se
dos teores foliares de clorofila, pode-se detectar, com antecedência, uma possível deficiência
de N, permitindo a correção antecipada com adubações nitrogenadas.
A estimativa da exportação de nutrientes pelos frutos é outro critério
adotado para a recomendação da adubação dos citros, na qual a quantidade aplicada de adubo
não pode ser inferior às quantidades exportadas pelos frutos. Bataglia et al. (1977) avaliaram
nove cultivares de citros e observaram que as quantidades dos elementos nos frutos variaram
em Kg t-1: N (1,0-2,4), K (1,0-2,1), P (0,15-0,19), Ca (0,44-0,64), Mg (0,10-0,15) e S
Comprovando estes dados, Boaretto et al. (2007) observaram que o N e o K foram os
nutrientes exportados em maiores quantidades pelos frutos da laranjeira ‘Pêra’ (Citrus sinensis
Osbeck), seguidos pelo Ca > P > Mg > S.
Segundo Alva e Paramasivam (1998) a produção de frutos dos citros é
largamente influenciada pelo suprimento de N, pelo fato desse nutriente regular a taxa
fotossintética e a síntese de carboidratos (KATO, 1986), peso específico das folhas
(SYVERTSEN; SMITH, 1984), produção de biomassa total e alocação de carbono em
diferentes órgãos na planta (LEA-COX et al., 2001). Por essas razões, o N é considerado o
nutriente mais importante para os cítricos, com participação no crescimento, produção e
qualidade dos frutos (QUAGGIO et al., 2005).
Os citros armazenam, na biomassa, grande quantidade de N, que pode
ser redistribuída, principalmente, para órgãos em desenvolvimento, como folhas e frutos
(MATTOS JR et al., 2003a). Segundo Boaretto et al. (2007), os teores de N nas plantas de
laranjeira ‘Pêra’ (Citrus sinensis Osbeck) que receberam aplicações de adubo enriquecido com 15N variaram de 5 g/Kg (tronco) a 29 g/Kg (folha). A parte aérea da laranjeira acumulou, em
média, 86% do N proveniente do fertilizante, enquanto o sistema radicular acumulou 14%.
Durante o período de crescimento, o acúmulo de N proveniente do fertilizante nas laranjeiras
ocorreu na seguinte ordem: fruto > folha > raiz > ramo > tronco. Cerca de 76% do N foi
acumulado nos frutos, folhas e ramos novos, seguido pelas raízes (14%) e 10% nos órgãos
velhos (tronco e ramos velhos). Na colheita dos frutos, uma parcela significativa do N foi
exportada do pomar, em média, 90 g por planta de N; desta quantidade, cerca de 10% é
oriundo do N do fertilizante.
Devido a essa redistribuição do N, o decréscimo da adubação
nitrogenada pode não afetar a produção de frutos de imediato; contudo, quando as doses de N
forem inferiores à exportação com as colheitas, as árvores sofrem redução gradativa da
densidade de folhas e crescimento da copa, que, consequentemente, acarretará perdas na
produção de frutos em anos posteriores. No estágio inicial da carência de N, as plantas ficam
amarelecidas, há redução do número de frutos e, em casos mais severos de deficiência, pode
ocorrer a seca dos ponteiros dos ramos. Por outro lado, o excesso desse nutriente provoca
dificuldade na diferenciação floral e, consequentemente, na frutificação (QUAGGIO et al.,
2005).
Muitos fatores podem influenciar a eficiência da adubação nitrogenada
no crescimento, produção e qualidade dos frutos, podendo-se destacar o uso de diferentes
doses, fontes, época de adubação e parcelamento das doses. Segundo Bustan e Goldschmidt
(1998), a adubação na citricultura é feita no período das águas, pois a demanda por nutrientes
pelos cítricos é maior no início da primavera, quando ocorre o fluxo mais intenso de
vegetação, e se estende até o início do outono, quando deve haver boa reserva e equilíbrio na
biomassa das plantas para garantir os processos normais de floração e fixação dos frutos.
Fidalski e Auler (2007) observaram que as produções máximas de
frutos da laranjeira ‘Valência' (Citrus sinensis Osbeck) foram obtidas no período de maior
precipitação, registrando-se 211 e 237 kg de frutos por planta, que corresponderam a 124 e
148 kg/ha de N (nitrato de amônio). A maior absorção de N no período de maior precipitação
foi atribuída à dependência fisiológica das laranjeiras as melhores condições de umidade do
solo para que ocorresse a absorção de N (NH4+ e NO3-) por fluxo de massa. O teor crítico de N
foliar foi de 26 g/kg, obtido a partir da dose de 148 kg/ha de N para a produção máxima de
frutos. A ausência de resposta à adubação nitrogenada pela laranjeira 'Valência', no período de
menor precipitação, estaria provavelmente associada às perdas de N por volatilização de
amônia. Este estudo confirma que a absorção de N não depende do período de adubação
(MALAVOLTA; VIOLANTE NETTO, 1989), indicando que, nas doses de N aplicadas, não
houve teores foliares de N superiores ao nível considerado excessivo às laranjeiras com teores
de N foliar máximo de 28 g/kg, e que, a partir da dose de 148 kg/ha de N aplicado no solo e 26
g/kg de N nas folhas das laranjeiras, no período de maior precipitação, houve consumo de luxo
de N pelas laranjeiras. A constatação de que houve nutrição adequada das laranjeiras sem
reflexos na produção de frutos no período de menor precipitação permite inferir que as
limitações hídricas comprometeram a absorção de N em momentos que este nutriente seria
necessário para florescimento, pegamento e desenvolvimento de frutos (MATTOS JR et al.,
2005).
Segundo Quaggio et al. (2005), o parcelamento das doses de N em três
ou quatro aplicações durante o ano aumenta a eficiência da adubação, por evitar perdas de
e por adequar a demanda de nutrientes em diferentes períodos de desenvolvimento dos citros,
isto é, do florescimento à maturação dos frutos. De modo geral, recomenda-se a aplicação de
40% das doses na época do fluxo de vegetação da primavera (agosto-setembro) e o restante
das doses devem ser divididas em duas outras aplicações de 30%, distribuídas entre outubro e
março do ano seguinte.
Boaretto et al. (2007) verificaram que no período do primeiro
parcelamento, as plantas de laranjeira ‘Pêra’ (Citrus sinensis Osbeck) absorveram do fertilizante 45 g de N (56%), no segundo 14 g de N (18%) e no terceiro 21 g de N (26%) do
total de N proveniente do fertilizante. A recuperação do N do fertilizante no sistema
solo-planta foi 61% do total aplicado. O restante do N aplicado no sistema que não foi determinado
no solo e na planta, pode ter sido perdido por lixiviação, por desnitrificação e por volatilização
da amônia do solo e das folhas das laranjeiras.
Scivittaro et al. (2004) observaram influência das doses (0,15; 0,30;
0,45; e 0,60 g/L) de nitrogênio (nitrato de cálcio e uréia) utilizadas sobre a altura e o diâmetro
do caule das mudas de limoeiro ‘Cravo’ (C. limonia Osbeck), com valores máximos
proporcionados pelas doses de 0,37 e 0,36 g/L de N, respectivamente. O crescimento das
plantas foi afetado pela aplicação das doses mais altas de nitrogênio, devido a elevação da
pressão osmótica do meio de cultivo, causando danos às raízes e prejudicando a absorção de
nutrientes, com reflexos sobre o desenvolvimento da parte aérea. O aumento no fornecimento
de nitrogênio às plantas somente refletiu em maior acumulação do nutriente até a dose de 0,41
g/L de N, a partir da qual, diminuiu. A resposta referente à acumulação de nitrogênio foi
pouco maior que a obtida para a variável produção de matéria seca da parte aérea, indicando a
ocorrência de absorção de luxo do nutriente, uma vez que a maior incorporação do nutriente
aos tecidos não refletiu em maior produção de biomassa.
Decarlos Neto et al. (2002a) avaliando doses de N utilizando-se do
fertilizante uréia em cobertura (0, 400, 800, 1.600, 3.200 e 4.800 mg/dm3 de N no substrato)
sobre o crescimento de porta-enxertos de citros cultivados em tubetes observaram acréscimos
nos teores de N-total na matéria seca da parte aérea e aumento no crescimento destes
porta-enxertos. Entretanto, adubações excessivas com uréia (3.200 e 4.800 mg/dm3 de N no
ocorrido devido à diminuição do pH do substrato, através da liberação de H+ produzidos
durante o processo de nitrificação da uréia aplicada.
Mattos Jr et al. (2004) verificaram que a produção de frutos do tangor
‘Murcott’ (Citrus reticulata Blanco x C. sinensis Osb.) correlacionou positivamente com o
volume de copa. A dose de N para máxima produção de frutos foi de 155 kg/ha, o que
correspondeu à concentração de N foliar de aproximadamente 29 g/kg.
Boaretto et al. (2007) observaram que ocorreu incremento da produção
de frutos de laranjeira ‘Pêra’ (Citrus sinensis Osbeck) em função do aumento das doses (150, 300, 450 e 600 g de N por planta) do fertilizante nitrogenado (sulfato de amônio) aplicadas no
pomar, sendo que o máximo rendimento foi alcançado com a dose de 403 g por planta de N. O
aumento nas doses de N propiciou diminuição na massa dos frutos, de 237 g no tratamento
testemunha para 216 g no tratamento com 600 g por planta de N. A resposta à adubação
também refletiu no aumento do número de frutos por caixa (de 40,8 kg), em função do
suprimento de N, que está associado ao aumento do número de frutos fixados por planta, que,
por sua vez, afeta diretamente o tamanho dos frutos. A qualidade do suco, o teor de sólidos
solúveis e a acidez não foram influenciados pelas doses de N.
Alva e Paramasivam (1998) observaram que doses (56-280 kg N/ha) e
fontes de N (forma granular, fertirrigação e fertilizante de liberação lenta) não influenciaram
no peso, diâmetro e parâmetros de qualidade do suco (brix, acidez e “ratio”) de laranjeira
‘Hamlin’ (Citrus sinensis Osbeck). Ausência de respostas significativas ao peso e diâmetro do
fruto, apesar de aumento significativo na produção de frutos, indica que o aumento de frutas,
com aumento na taxa de N poderia ser devido a um maior número de frutos por árvore.
Gallo et al. (1966) relataram que o aumento do teor de nitrogênio
(nitrato de sódio) nas folhas aumentou a produção (peso e número) e diminuiu o tamanho dos
frutos (peso médio) de laranjeira ‘Baianinha’ (Citrus sinensis Osbeck). A diminuição do
tamanho de frutos poderia ser atribuída, além do aumento do número de frutos por árvore,
determinado pela adubação nitrogenada, ao efeito depressivo desse tratamento sobre o teor de
potássio, pois segundo o autor, o tamanho dos frutos cresce com o aumento do teor de potássio
das folhas.
Reese e Koo (1975) observaram que no início do experimento houve
diminuíram com altas doses de N (67-269 kg N/ha), devido ao aumento da produção de frutos
de laranjeiras doce (Citrus sinensis Osbeck). Concluíram ainda que aumentos nas doses de
nitrogênio aumentaram o rendimento de suco e a acidez.
Pode-se concluir pelos trabalhos citados que, doses elevadas de N
tendem a aumentar o número de frutos na planta em detrimento do seu tamanho, o que
segundo Quaggio et al. (2005) pode ser uma desvantagem para a comercialização de frutos in
natura.
2.4. Adubação orgânica
Antes mesmo da introdução dos fertilizantes minerais, há cerca de 130
anos, o esterco e o composto constituíam, praticamente, a única fonte de nutrientes do solo à
disposição das plantas. Com a modernização da agricultura, o uso de fertilizantes orgânicos
diminuiu muito em relação aos inorgânicos (MIYASAKA et al., 1984).
Segundo Miyasaka e Okamoto (1992), essa modernização promoveu
grande aumento da produção agropecuária, em consonância com a crescente demanda, em
função da explosão demográfica mundial, porém também trouxe efeitos deletérios, afetando o
bem estar da vida humana. Hoje, entretanto, prevalece em todos os países uma preocupação
inquietante com a vulnerabilidade do sistema de produção agrícola baseado no uso irracional
de insumos modernos. Outra marcante preocupação como sistema de agricultura moderna é a
tendência de diminuição da capacidade produtiva do solo, resultante da erosão e da perda de
matéria orgânica e da tendência de degradação do meio ambiente.
A restrição ao uso de fertilizantes nitrogenados sintéticos pela
agricultura orgânica deve-se principalmente à sua alta solubilidade. Em função disso, tem-se
atribuído à utilização de fertilizantes nitrogenados sintéticos nos sistemas agrícolas
convencionais a degradação da qualidade de águas super e subsuperficiais, sobretudo devido
ao NO-3, presente nos adubos ou convertido pela oxidação do NH+4. O íon NO-3 no sistema
solo-água apresenta grande mobilidade, o que o torna susceptível a perdas por lixiviação
(LISBOA et al., 2007). A crescente preocupação com a poluição das águas e atmosfera pelo
uso indiscriminado e ineficiente de fertilizantes nitrogenados químicos, somados ao seu alto
custo, tem estimulado a busca de alternativas que possibilitem a substituição integral ou