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A liderança e coesão grupal no futebol profissional: o pesquisador fora do jogo.

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Academic year: 2017

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In tro d u çã o

A lideran ça e coesão grupal n o futebol profi ssion al:

o pesquisador fora do jogo

CDD. 20.ed. 796.011

796.33 Rafael Moren o CASTELLANI

* *Universidade Estadual de Campinas.

Resum o

Este estudo buscou retratar os efeitos da liderança sobre o funcionamento do grupo; detectar a importância e necessidade de um grupo coeso no futebol profi ssional; descrever/analisar a relação entre o pesquisador e clube; e apontar as limitações e obstáculos enfrentados durante a pesquisa de campo. De cunho qualitativo e com referencial teórico da psicologia social, sobretudo Kurt Lewin e Pichon-Rivière, este estudo partiu da análise de um grupo de futebol profi ssional. Dentre as difi culdades encontradas destacam-se: impos-sibilidade de acesso às situações/locais sugeridos metodologicamente; negativas de entrevistas; rejeição da aplicabilidade do teste de livre escolha. Identifi cou-se a vontade/necessidade do clube em manter ao pesquisador estas limitações. O vínculo criado e papéis assumidos prejudicaram ainda mais as análises. A percepção da importância da liderança e da coesão do grupo está presente no futebol profi ssional tendo a liderança situacional e a democrática maior relevância neste contexto específi co.

UNITERMOS: Pesquisa; Futebol profi ssional; Grupo; Vinculo; Psicologia social.

Os estudos relacionados ao futebol realizados pelas ciências humanas e sociais, no âmbito da área aca-dêmica Educação Física, apesar de terem aumentado nos últimos anos, ainda são escassos, principalmente quando comparados aos estudos realizados na área pelas ciências biológicas. Quando o foco passa a ser o futebol profi ssional, uma série de fatores contribui para agravar ainda mais esse quadro, mas certamente um deles passa pela difi culdade e limitações impostas pelos clubes aos pesquisadores que se propõem a estu-dar o futebol sob o viés das ciências humanas e sociais. No campo da psicologia esportiva, alguns tra-balhos têm procurado compreender aspectos/fenô-menos psicológicos, tal qual a liderança e a coesão grupal, no contexto do futebol. No entanto, raros são aqueles que procuram fazê-lo sob a ótica da psicologia social, visto que a psicologia cognitivo-comportamental predomina no meio acadêmico.

O futebol profi ssional possui características es-pecífi cas que o distingue das demais modalidades esportivas e o fazem um campo de estudo com-plexo, de difícil acesso, com diversos aspectos que difi cultam a relação entre o pesquisador e o campo

(CASTELLANI, 2010). A mercadorização do futebol,

entendida por ESCHER e REIS (2008) como “um

processo de transformação em objeto essencialmente de comércio”, atrelada à sua globalização, foram res-ponsáveis pela ampliação das transmissões televisivas e “marketing” esportivo, assim como pela crescente privatização da sua prática, consumo e organização. Tais fatores, assim como alguns outros ainda a serem explicitados neste artigo, possuem papel determi-nante na confi guração desta realidade.

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O fu te bo l co n te m p o râ n e o e a co n tribu içã o d a p s ico lo gia s o cia l

Várias leituras, sob diferentes enfoques teóricos, têm sido realizadas na expectativa de buscar compreender o fenômeno do futebol brasileiro. REBELO e TORRES (2001)

retratam bem o que signifi ca atualmente essa prática esportiva que se tornou a mais consumida no planeta (REIS & ESCHER, 2006). Para tais autores, o futebol

passou a ser cada vez mais elemento de identidade nacional, atividade de massa capaz de envolver milhares de praticantes e torcedores, importante para o aprimoramento esportivo, físico e técnico, e para a formação moral da população. Além disso, tornou-se a maior fonte de lazer para as crianças, jovens e adultos de todo o país, o que retrata seu dinamismo econômico por se caracterizar como “atividade geradora de empregos e criadora de riquezas em volume considerável para o PIB (Produto Interno Bruto) nacional”.

Ao longo do seu processo histórico, dois aconteci-mentos foram cruciais para a confi guração do futebol contemporâneo: Sua globalização e sua mercadoriza-ção. Como uma das maiores, se não a maior, respon-sáveis pela característica que tomou conta do futebol atual, a globalização facilitou a ampliação do acesso da população mundial à prática e principalmente ao consumo desta modalidade esportiva. LOVISOLO

limitações e os obstáculos enfrentados no decorrer da pesquisa de campo. Para tal fi nalidade, apoiou-se no referencial teórico da psicologia social, mais especifi camente em Kurt Lewin e Pichon-Rivière, extraindo de tais autores também o suporte metodo-lógico necessário e pertinente ao estudo dos processos grupais de uma equipe profi ssional de futebol.

Neste aspecto foram de fundamental importância as considerações de Kurt Lewin e Pichon-Rivière. LEWIN (1965, 1973), sobretudo pelos seus estudos

referentes aos diversos grupos sociais e à sua teoria de campo social e PICHON-RIVIÈRE (1982, 2000)

principalmente pela sua teoria do vínculo e análise dos papéis. Apesar de reconhecer que Pichon-Rivière avança nas considerações de Lewin (relevando o momento histórico de seus estudos), ambos concordam quanto à constatação de que somente a pesquisa realizada no campo pode oferecer condições válidas de experimentação de fenômenos socias, ou seja, o seu objeto de estudo somente pode ser compreendido a partir da investigação da realidade da qual está imerso. Ainda assim, a opção de ter a psicologia social como norteadora deste estudo foi reforçada pela

compreensão de que, assim como afi rmam RIVIÈRE

e QUIROGA (1998), a psicologia social, como a mais

moderna das ciências do homem, nasceu num cam-po de futebol, o que retrata o signifi cado social que esta modalidade possui. “Se sua prática é realizada espontaneamente, para orientá-lo completamente, é indispensável fazer dele um estudo sociopsicológico” (RIVIÈRE & QUIROGA, 1998).

As diversas manifestações de liderança, assim como os demais processos grupais são de extrema valia para o futebol, principalmente por ter esta mo-dalidade como uma de suas relevantes características o “espírito de grupo” e a importância do trabalho coletivo. O futebol, por tratar-se de uma modalidade coletiva, exige uma preparação fundamentada em torno do grupo, estabelecendo uma relação coesa assim como uma liderança em seu benefício, com a consequente obtenção de metas. São justamente os aspectos e manifestações de liderança e de coesão grupal que receberam neste estudo maior atenção em busca do entendimento de como se estabelecem e se processam as relações de grupo em uma equipe profi ssional do futebol brasileiro.

(2001), ao tratar do futebol globalizado, preocupa-se em expor duas explicações para esse fenômeno: Uma universalista na qual o estilo, as práticas e as organiza-ções esportivas são homogeneizadas de modo a servir à mercadorização desta prática esportiva, ou seja, servir ao modelo de futebol empresarial, à universalização do modelo de futebol-empresa e à lógica irrestrita ao lucro; e outra regionalista que dá conta de reconhecer a diversidade de culturas e das práticas regionais.

Já a mercadorização do futebol, entendida por ESCHER e REIS (2008) como “um processo de

transformação em objeto essencialmente de comércio”, se refl ete na venda dos direitos de imagem das seleções, dos clubes e jogadores para as empresas, na venda dos direitos de transmissão dos jogos para os diversos meios de comunicação (tv, rádio, internet) assim como nas transferências de jogadores entre clubes (principalmente do exterior). SMIT (2007) ressalta que foi somente nos

anos 80 do século passado que a sua mercantilização passou a ganhar força, pois ganhava espaço nesse contexto o futebol-empresa e o “marketing” esportivo. REIS (2003) acrescentaria que esse momento histórico

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Este trabalho, seguindo as orientações de uma pesquisa qualitativa e analítica, partiu da avaliação sistemática de um grupo de futebol com um recorte temporal específi co. Foi efetuada a abordagem à equipe e aos atletas, possibilitando o desenvolvimen-to da pesquisa de campo1 com base em referenciais

teóricos da psicologia social possibilitadores de leitu-ras profundas e rigorosas da realidade, com as quais se tornaram possíveis a compreensão acerca dos proces-sos grupais (sobretudo a liderança e a coesão grupal) e a análise da relação obtida entre o pesquisador e o clube, assim como o esclarecimento das difi culdades e facilidades encontradas pelo pesquisador.

Com a pretensão de atingir os objetivos propostos, foi selecionada uma equipe de expressão de futebol profi ssional do Estado de São Paulo. Entendemos como equipe de expressão aquela cuja história é marcada por conquistas, que possua boa representatividade junto à sociedade e que apresente uma estrutura física e administrativa de qualidade. Ainda assim, na necessidade de buscar dados mais palpáveis acerca dos clubes brasileiros, foram analisadas informações quantitativas que servissem como critério para escolha da instituição/clube/grupo a ser investigada. Dessa Assim, o futebol contemporâneo é visto, por-tanto, não mais somente como uma prática social, modernizada, globalizada, produtora de identidade nacional, mas também e principalmente como um espaço político e econômico extremamente rentável.

Neste contexto, no qual a busca incessante pelas vitórias é marcada por um conjunto de interesses que ultrapassam os limites do campo de jogo, a pressão “des-pejada” sobre o clube e atletas tem sido cada vez maior. Diante disso, passa a ser cada vez mais frequente que as grandes equipes, apesar de possuidoras de uma boa estrutura física e organizacional (com comissões técnicas e plantel de jogadores de extrema qualidade), apresentem resultados muito aquém do que seria esperado. Dentre os inúmeros motivos que podem justifi car tal desem-penho, certamente aqueles afetos aos processos grupais estão demasiadamente presentes (CASTELLANI, 2010).

Perante esse quadro, a psicologia social pode trazer valiosas contribuições. Para Kurt Lewin, conforme destaca MAILHIOT (1970), os objetivos da

psicologia social são fornecer um diagnóstico sobre uma determinada situação social além de descobrir e formular a dinâmica própria da vida de um grupo

sem, contudo, tratar desses dois objetivos de forma separada, dissociada e não complementar. Outra vertente é aquela defendida por PICHON-RIVIÈRE e

QUIROGA (1998) que procura “abordar o sujeito na

interioridade dos seus vínculos, no seio das tramas de relação nas quais suas necessidades emergem, são decodifi cadas e signifi cadas, cumprindo seu destino vincular e social de gratifi cação e frustração”.

Apesar de reconhecer e compreender a demasiada importância dada ao rendimento e à necessidade de obtenção de bons resultados no futebol profi ssional, foram compartilhadas as proposições de RUBIO

(2003a, 2003b) por se entender que o fenômeno esportivo, neste caso específi co o futebol, deva ser analisado em toda sua complexidade, não focando somente o rendimento e desempenho dos atletas e equipes, mas também a dinâmica das relações entre os agentes inseridos neste âmbito (dentre eles os atletas, comissão técnica, dirigentes esportivos, mídia, torcida, pesquisadores etc.), buscando situar o clube/equipe/atleta à realidade sociocultural em que vivem, tratando então a psicologia do esporte como a psicologia social do esporte.

O ca m in h o p e rco rrid o

forma, foram buscadas em “rankings”2 divulgados em

pesquisas recentes informações que possibilitasse optar por uma instituição de expressão no cenário brasileiro. Dentre as informações selecionadas nesses “rankings” estão as receitas brutas dos clubes e os resultados (partidas e campeonatos) obtidos por eles. Outro critério de escolha adotado passava pela conveniência em seu estudo, ou seja, preferencialmente o clube deveria localizar-se num local favorável ao pesquisador (portanto, no estado de São Paulo); quanto mais informações e conhecimentos tivesse sobre ele, mais facilidade teria no seu estudo e, por fi m, a existência de contato com alguém de dentro do clube traria maiores condições para a realização da pesquisa.

Participaram da pesquisa atletas profi ssionais de futebol que estavam em atividade neste clube3,

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de futebol interagindo com eles o maior tempo pos-sível. Era necessário, então, vivenciar situações de jogo, treino, concentração, preleções e refeições dos atletas, permitindo uma melhor e mais aprofundada leitura da realidade da qual eles fazem parte. Ainda assim, verifi cou-se a necessidade de uma aproximação maior, obtida por entrevistas com os funcionários do departamento de futebol (um diretor de futebol e um superintendente), alguns membros da comissão técnica (treinador, auxiliar técnico e preparador físi-co), e dois jogadores (dos quais somente um trouxe contribuições relevantes para este estudo), com a fi nalidade de aprofundar e esclarecer os problemas e situações observadas. Entretanto, como esclarecido nas linhas que seguem, uma série de difi culdades prolongou a pesquisa de campo e limitou a presença em determinados ambientes e situações.

A observação participante, assim como propõe

FONSECA (1999), esteve presente em vários momentos

da pesquisa de campo a fi m de captar a dimensão social das emoções dos sujeitos pertencentes ao grupo. Segundo ANDRÉ (1995), “a observação é chamada

de participante porque parte do princípio de que o pesquisador tem sempre um grau de interação com a situação estudada, afetando-a e sendo por ela afetado”. PICHON-RIVIÈRE (2000) vai além ao afi rmar que “todo

observador é sempre participante e modifi cador do campo de observação”, criando uma situação de interação, uma unidade de relação dialética entre o sujeito e o objeto. Essa característica da observação participante foi notoriamente comprovada, visto que em diversos momentos a presença ou proximidade do pesquisador foi impedida e em outros, a convivência deu-se de modo mais próximo e informal.

A liderança no futebol profi ssional tem ganhado cada vez maior atenção, preocupação e reconhecimento. Os atletas, alguns mais especificamente que outros, têm sido cobrados para exercerem esse papel com sabedoria e maestria, sendo um dos fatores inclusive preponderantes no momento de contratação e dispensa de jogadores. A esse respeito, valorizando, sobretudo, sua manifestação em momentos difíceis, um dos jogadores entrevistados emitiu a seguinte opinião:

Lid e ra n ça e co e s ã o gru p a l

Em todo segmento esportivo é importante ter o líder. Você ter um cara que tem essa liderança dentro de campo vai passar tranquilidade necessá-ria pra que nós jogadores não tenhamos um aba-timento naquela partida difícil e é por isso que é importante ter uma liderança dentro de campo. E fora de campo, pra dar tranquilidade pra aqueles que chegam ou pra aqueles que já estão há muito tempo, aquela conversa boa, de saber lidar com eles em situações... Então o líder dentro de um segmento esportivo, principalmente dentro do futebol, é muito importante (jogador 1).

Reconheço neste estudo a grande importância e representatividade que possui a liderança para uma equipe de futebol. Neste ponto, em entrevista com o preparador físico da equipe estudada, pude observar o mesmo entendimento. Para ele:

É fundamental em qualquer instituição, uma em-presa, uma organização, uma família, as referências né, (ou as lideranças como você tá chamando), porque principalmente nos momentos difíceis essa

De acordo com SINGER (1977), a liderança é

entendida como uma relação de interação entre a personalidade do indivíduo e a situação, uma vez que toda situação requer talentos especiais para enfrentá-la e resolver os problemas que surgem dela. Por sua vez, Fiedler citado por SINGER (1977) afi rma que a

perso-nalidade é de pouca importância na determinação do reconhecimento de um indivíduo como líder. Sugere que uma pessoa pode tornar-se um líder “estando no lugar certo na hora certa, ou devido a vários outros fatores como idade, educação, experiência, anteceden-tes familiares e saúde”. No entanto, tal entendimento não é compartilhado por todos. Para LEITÃO (1999),

por exemplo, o conceito de liderança pode também ser associado ao de personalidade, visto que o líder é entendido como o indivíduo que possui o maior nú-mero de traços desejáveis de personalidade e de caráter.

Neste ponto, o treinador entrevistado neste es-tudo, apesar de afi rmar não existirem características predeterminadas de um líder, destinou à personalida-de do sujeito signifi cativa importância na sua postura e no seu comportamento de liderança. Vejamos:

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Eu não acredito que o líder tenha características predeterminadas. Acredito que nós não temos duas personalidades idênticas, então dessa forma não teremos nunca duas lideranças idênticas. Então as características eu não consigo entender... Eu acho que ele tem que agir normalmente de forma rápida e ter uma grande sensibilidade. Agora depende da personalidade desse líder. Aí cada líder vai ter a sua forma de agir, mas, individualizada... Totalmente relacionada à sua personalidade (treinador).

CARTWRIGHT e ZANDER (1967), por sua vez,

propõem que a liderança consiste em determinadas ações, como estabelecer objetivos para o grupo e di-recioná-lo a eles, melhorar a qualidade das interações entre os membros, desenvolver a coesão grupal, dis-ponibilizar recursos aos integrantes, entre outras. Em outras palavras, a liderança consiste em contribuir de alguma maneira para alguma função do grupo. Ressaltam ainda que, em princípio, a liderança pode ser exercida por um ou vários membros do grupo.

Essa ressalva, por sinal, também foi constatada neste estudo por compreender que em um grupo de futebol a liderança não é exercida somente pelo treinador e capitão, como propõe SINGER (1977).

Corroboro com CARTWRIGHT e ZANDER (1967) ao

afi rmarem que “qualquer membro pode assumir certo grau de liderança, seja ou não indicado formal-mente para uma posição ou um posto”, e que demais funcionários e outros jogadores também exerçam, em suas devidas proporções, as funções de líder.

Facilmente foi identifi cado ao longo do período de convivência com o clube analisado que vários dos seus funcionários possuem e devem possuir caracte-rísticas que os permitam assumir o papel/função de líder. Notoriamente, dentro do grupo de dirigentes existem aqueles profi ssionais que se destacam pela sua liderança. Da mesma forma, esse processo repete-se entre os funcionários da assessoria de imprensa, equipe médica, entre os membros da comissão técnica, e entre o grupo de jogadores. Entretanto, as diversas lideranças percebidas variam conforme o indivíduo que assume o papel de líder. Ou seja, dentro da comissão técnica há uma liderança nítida que é exercida pelo treinador. No entanto, quando analisados somente os preparadores físicos, outras lideranças emergem. O mesmo acontece na equipe de assessoria de imprensa e nos demais subgrupos. Mas vale ressaltar que, além de a presença de tais lideranças nos subgrupos não competirem com a liderança presente no grupo maior, nenhuma delas é igual a outra. Verifi quei, portanto, a existência de vários tipos de líderes.

A compreensão de que um grupo possa conter vários líderes nos remete à diferenciação apontada por CARTWRIGHT e ZANDER (1967) de variados tipos

de líderes. Alguns deles são os lideres de opinião, aqueles capazes de infl uenciar as crenças e atitudes dos outros, os líderes socioemocionais, aqueles que possuem habilidades e recursos necessários para fazer com que os outros se sintam bem e satisfeitos com a participação no grupo, e, por fi m, os líderes que estabelecem os objetivos pela sua facilidade em converter os interesses pessoais em objetivos de grupo. Dentro da comissão técnica, por exemplo, a liderança socioemocional, a de opinião e a da tarefa são desempenhadas por pessoas distintas, do mesmo modo como ocorre entre o grupo de atletas. Ou seja, enquanto um jogador se destaca por infl uenciar nas atitudes dos demais jogadores, outro toma a frente no estabelecimento dos objetivos do grupo e outro ainda proporciona um bom ambiente, fazendo com que todos se sintam bem e satisfeitos por fazer parte dele.

GIESENOW (2007), ao tratar da liderança em

equi-pes esportivas, propôs a identifi cação de dois tipos distintos: o líder da tarefa e o líder socioemocional. Tal autor sugere que, enquanto o primeiro se ca-racteriza por ser o líder de jogo - altamente voltado para tarefa, com habilidades estratégicas e grande capacidade para tomar decisões acertadas, dirigindo, iniciando e subordinando as atividades de grupo -, o segundo, o socioemocional, ou orientado para a pessoa, como propõe Fiedler citado por SAMULSKI

(1992), é o líder das relações sociais, com alta capa-cidade para empatia, e que, com uma personalidade amistosa, apoia e ressalta os aspectos positivos dos companheiros de equipe. Assim, diminui os atritos existentes e contribui para criar um clima positivo dentro do grupo. Fiedler citado por SAMULSKI (1992)

contribui ainda ao afi rmar que ninguém está apto a mostrar que tipo de líder é superior ou mais efetivo, pois demonstra que cada um deles é bem-sucedido em certas situações, mas não em outras.

Em seu discurso, o superintendente técnico de fute-bol do clube analisado retrata de certa forma a existência dos líderes apontados por GIESENOW (2007). Vejamos:

Às vezes ele é líder porque tem que tem uma bola fantástica... Ele joga tanto que passa a ser encarado como líder pela efetividade, pelo talento, pela beleza do jogo, pela importância dele dentro de campo e às vezes pessoalmente ele não é (superintendente técnico de futebol).

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[...] vou liderar de forma diferente, dependendo da minha leitura em relação ao grupo e ao que vive o grupo naquele determinado momento. Isso na mi-nha cabeça não tem também uma forma de liderar. Eu acho que tenho que ter várias ferramentas pra poder agir e de forma rápida (treinador). Existe aqueles que são os líderes naturais, que

tem um carisma, além de uma grande capacidade de entender o futebol, né, no aspecto tático, no aspecto grupal. Existem aqueles líderes calados, mas que pela sua atitude dentro do campo, pelo seu comportamento no dia a dia são admirados, são respeitados... Aquele que tem uma liderança porque o atleta é aglutinador, pelo seu bom humor, pela sua forma de descontrair o grupo, de aproximar todo mundo. Então, não há um único modelo. O legal é quando você consegue ter, de repente, no seu grupo, três, quatro atletas líderes de forma diferente. (preparador físico).

Semelhantemente, o superintendente técnico de futebol entrevistado aponta três tipos de liderança no futebol: uma que ele denomina liderança escon-dida ou silenciosa, ou seja, aquela em que o sujeito aborda tudo sem grande expressão de visibilidade, na qual ele tem grande participação nas atividades do grupo e sua ausência é super sentida, embora a sua visibilidade seja pequena; outra, a liderança técnica, que se caracteriza por ser a forma de representação do jogo se apropriando da linguagem verbal: ele lidera pelo que joga; e, por fi m, a liderança efetiva, de imposição, de comando dentro de campo.

Entendo, assim como explicitado por ambos entrevistados, que num grupo de futebol existem diversas formas de exercer a liderança. Entretanto, é preciso ressaltar que, apesar de coexistirem varia-das maneiras de a liderança se manifestar, elas se confi guram na pessoa de dois líderes específi cos, tratados por GIESENOW (2007) como o líder da tarefa

e o socioemocional.

Independente da fi gura de quem a liderança esteja representada, o líder é, de acordo com NOCE (1992),

aquele que coordena os processos de interações e comunicações existentes dentro do fenômeno da liderança. Este deve ser efi caz na transmissão de mensagens e apresentar boa capacidade de solucionar problemas e tomar decisões apropriadas. Duas formas de liderança poderão ser desempenhadas por este líder: a primeira, autoritária, defi nida como exclusiva competência na determinação dos objetivos a serem atingidos pelo grupo, promovendo total exclusão dos liderados quanto a qualquer tipo de participação na discussão e fi xação deles. A segunda, democrática, na qual há preocupação em incorporar os próprios lide-rados nas tarefas de direção, distribuindo responsabi-lidades, incentivando por outro lado a intensifi cação dos processos interativos entre todos os integrantes da coletividade. De acordo com Eberspaecher citado por NOCE (1992), o líder democrático estimula o

Entretanto, apesar de reconhecer neste estudo a liderança situacional como a mais pertinente ao contexto do futebol profi ssional, podemos observar no discurso do preparador físico da equipe analisada a preferência por características no modo de estabelecer vínculo, relacionar-se com o grupo e adotar um comportamento de liderança que estão mais contempladas no perfi l de um líder democrático. Em suas palavras:

grupo sob sua liderança com perguntas importantes e problemas permanentes em discussão. Ele descreve os passos possíveis para o alcance das metas, sugere alternativas e oferece ajuda. Por sua vez, conforme NOCE (1992), o líder autoritário reveste-se de poder

absoluto e absorve inteiramente a iniciativa do grupo, polarizando na sua pessoa a capacidade de planejar, decidir e controlar todas as ações dos liderados.

WHITE e LIPPITT (1967), além de acrescentarem

algumas características das formas de liderança au-tocrática e democrática, propõem ainda a existência de um terceiro estilo de liderança: o “laissez-faire”. A grande liberdade para que o grupo tome as decisões e a participação mínima do líder são características fundamentais desse estilo.

Mais recentemente, alguns autores têm se apro-priado do modelo de liderança situacional. NOCE

(2002), por exemplo, enfatiza que este modelo foi criado com a intenção de “ajustar o comportamento do líder em função das características do grupo e da situação”. Isso se justifi ca pelo entendimento de que o líder deve ter a capacidade de modifi car seu estilo de liderança conforme uma série de variáveis. Desse modo, trabalha com três componentes essen-ciais: um que se refere à quantidade de orientação e direção oferecida pelo líder, denominado compor-tamento da tarefa; outro que se refere à quantidade de apoio socioemocional proporcionado pelo líder, denominado comportamento de relacionamento; e por fi m aquele indicado pelo nível de prontidão dos subordinados, denominado pelo autor de ma-turidade do subordinado. É a este estilo de liderança que direciono minha maior afi nidade neste estudo.

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A forma que eu mais gosto é a de trabalho em equipe, do diálogo, do olho no olho... Se tem alguma coisa pra ser conversada tanto entre a comissão técnica quanto atleta, que seja de uma forma saudável e que as coisas sejam mais claras (preparador físico).

Ao explicitarmos a relação entre a liderança e a produção/rendimento do seu grupo/equipe, é preciso termos claro que esta não se dá de forma direta e me-cânica. Concordo com MACHADO (2008), visto que,

para ele, a liderança apresenta extrema importância para os profi ssionais que orientam grupos sociais na busca do máximo empenho e dedicação para conquis-ta de meconquis-tas. Entreconquis-tanto, salienconquis-ta que nem sempre a liderança, por si só, está condicionada a essa efi ciência.

A equipe analisada neste estudo apresentou nos últimos anos grandes resultados, culminando inclusi-ve com a conquista do tricampeonato nacional. Para um dos membros da comissão técnica entrevistado, além das excelentes condições de trabalho de que os funcionários do clube dispõem, a presença de uma liderança específi ca exercida por um determinado atleta é fundamental para os resultados atingidos.

[...] aqui já se tem um grande líder. Ele é o nosso grande diferencial!... É a pessoa que orienta dentro e fora de campo, que sabe tudo o que acontece com o clube e aquilo que se passa na outra equipe também (auxiliar técnico).

O papel do líder esportivo será então buscar estratégias para tornar a vida do grupo harmoniosa e atingir o estado de coesão, fundamental para mo-tivar seus liderados a conquistar melhores resultados

(BRANDÃO, 2000).

Semelhantemente, em entrevista com o treinador da equipe analisada, se observa a sua compreensão de que a liderança no futebol possui especifi cidades que quase sempre estão vinculadas ao rendimento esportivo. Ou seja, para ele:

A liderança tem que ter credibilidade. No nosso caso (o futebol profi ssional), ela está totalmente vol-tada ao rendimento técnico do líder sendo ele um jogador. Sendo ele da comissão técnica, também está diretamente relacionada aos seus resultados. A liderança vai ser positiva com os resultados... É evidente que numa fase difícil ela vai aparecer também, só que tem que estar credibilizada pelos resultados esportivos. É fundamental! (treinador).

Entretanto, o preparador físico demonstrou certa preferência pela liderança que é reconhecida (ou imposta, segundo ele) não pelos resultados obtidos, mas sim pela sua experiência, formação e conheci-mento. Vejamos:

Há várias maneiras de você se impor. Alguns téc-nicos se impõem com conhecimento, por terem jogado, alguns por terem formação desportiva ou uma educação física ou curso, por intuição, por uma série de aspectos. Eu acho que o profi s-sional tem que se impor exatamente dessa forma. Inconscientemente alguns, às vezes, se impõem pelo autoritarismo, pela arrogância, por uma forma de tratamento diretamente relacionada aos resultados, né... Eu não concordo muito com isso. Evidentemente que as pessoas que agem da primeira forma que eu coloquei têm uma longevidade maior, conseguem melhores resultados, mas aprendi também ao longo desses anos que há varias maneiras de se ganhar título, de se ganhar campeonatos (preparador físico).

Conforme LEWIN (1973), a organização de um grupo

autocrático está baseada nas ações do líder. É ele quem determina a orientação e estabelece os objetivos para os membros do grupo. O campo de força desse líder irá manter o indivíduo em ação e fará do grupo uma unidade organizada. Por sua vez, no grupo democrático, todos os membros participam na determinação da sua orientação e traçam os planos e objetivos em conjunto. Dessa forma, cada membro irá possuir uma maior “mentalidade grupal” e seu grupo prosseguirá com sua própria força independentemente da presença do líder. Ser um líder nesse tipo de atmosfera signifi ca “jogar limpo” e reconhecer as diferenças de opiniões e capacidades. Já o grupo de “laissez-faire”, no qual o líder se abstém no momento da intervenção, da ação, irá demonstrar poucos sinais de planejamento e trabalho grupal ou projetos individuais de longo alcance.

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Apesar de acreditar que não podemos estabelecer uma relação direta e pura entre a coesão de um grupo e seu rendimento, muitos autores propõem-se minima-mente, e com as devidas ressalvas, realizar essa tarefa. No discurso de um dos atletas entrevistados, fi cou clara sua valorização pela coesão social e sua inter-ferência no trabalho cotidiano e seu rendimento. Para o atleta:

Da mesma forma pra um grupo de futebol, pra uma empresa, é importante que as pessoas se entendam e fundamental que se respeitem, não sendo necessário que se gostem... Se gostar melhor ainda, mas um grupo que tem harmonia, que se respeita e que se gosta, caminha melhor porque as ideias acabam combinando, a forma de pensar nos bons e nos maus momentos também. No bom momento a forma de se comportar é mais fácil, mas é importante sim que o companheiro sinta, por exemplo, uma crítica ao outro com se fosse a ele. Isso sim é companheirismo. Que o companheiro, sabendo que o outro não tá muito bem, ainda procure atuar mais e melhor pra suprir essa queda momentânea do companheiro, então eu acho que é sempre positivo, né, que haja esse entendimento (preparador físico).

O bom ambiente faz com que você tenha prazer em trabalhar e você tendo um ambiente aonde você tem prazer de estar aqui de manhã ou tarde, tem prazer de vir pra encontrar os companheiros de trabalho, isso com certeza é passado dentro de campo e acaba até em certos momentos difíceis da partida também lembrando que o ambiente é bom. Mas o ambiente só fi ca melhor quando você ganha, então, com certeza é o prazer de você estar trabalhando num lugar onde você tem pessoas que são queridas e pessoas que com certeza, queira ou não queira, indiretamente fazem parte da sua família (jogador 1).

Vários dos fatores levantados neste estudo como relevantes no processo grupal e, sobretudo, para a sua coesão, assim como a relação de interdependên-cia entre os membros de um grupo de futebol, a presença de um líder, o estabelecimento de um bom totalmente da intervenção, caracterizando desse

modo a atmosfera “laissez-faire”. O estilo de lide-rança adotado e preferido pelo treinador da equipe contribui decisivamente para essa confi guração da atmosfera grupal (CASTELLANI, 2010).

Para LEWIN (1973), existem dados que comprovam

que o comportamento de um grupo em situações democráticas, autocráticas e de “laissez-faire” não provém de diferenças individuais e sim da atmosfera estabelecida. A criação de uma atmosfera democrática irá apresentar um maior “sentimento grupal” dos seus membros do que numa atmosfera autocrática. Tal sentimento irá favorecer a diminuição de confl itos e tensões, visto que a disposição do sujeito para enten-der as opiniões e os objetivos dos demais membros e discutir racionalmente os problemas pessoais irá levar a uma solução mais rápida dos confl itos. Segundo

ALLPORT (1973), Lewin considera a liderança

fun-damental para determinar-se a atmosfera de grupo. Em uma atmosfera confl ituosa, é exigida do líder uma postura democrática e de competência e preparo.

No tocante a manter um grupo unido e caracterizar então a coesão grupal, Carron, Widmeyer e Brawley citados por HERNANDEZ e GOMES (2002) a

conceituaram como um processo dinâmico que está refl etido na tendência de um grupo para a confi ança e unidade na busca de suas metas e objetivos. Seus estudos possibilitaram também a identificação de quatro conceitos que estão correlacionados:

integração grupal-tarefa, integração grupal-social, atração individual pelo grupo-tarefa e atração individual pelo grupo-social.

Semelhantemente, CARTWRIGHT e ZANDER (1967)

também indicam três aspectos que são importantes ao descrever intuitivamente e operacionalmente a coesão de grupo. São eles: atração do grupo (o que inclui a resistência dos membros do grupo a deixá-lo); motivação dos membros para participar das atividades; e coordenação dos esforços dos participantes. Tais autores acreditam ser muito improvável que alguém consiga construir um único conceito que possua adequadamente esses três aspectos. Dessa forma, propõem limitar o conceito de coesão ao de atração de grupo, contudo, estando cientes da necessidade de utilizar diversos conceitos para descrever seus vários aspectos.

Algumas determinadas características do grupo, assim como seus objetivos, extensão, tipo de orga-nização, entre outros e suas necessidades individuais que podem ser obtidas através do grupo, tais como a de afi liação, segurança e reconhecimento, são con-dições que interferirão diretamente na atração do grupo (CARTWRIGHT & ZANDER, 1967). A lealdade

ao grupo é um dos pontos que frequentemente está presente no discurso de autores que procuram conceituar e caracterizar um grupo coeso.

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Diariamente você precisa dos seus compa-nheiros, da concentração de cada um deles, do desempenho, de um estímulo quando você não está bem estimulado e lógico que todo segmento esportivo, todo segmento que tem uma parte coletiva que seja importante, é importante você ter um bom ambiente e um líder pra que nos momentos bons e ruins você tenha aquele ponto estratégico, aquela pessoa que vai saber como conduzir (jogador 1).

Por fi m, vale novamente enfatizar que a liderança e a coesão grupal no futebol profi ssional manifesta-vam-se em várias ocasiões (nos treinamentos, nos momentos de descontração, situações de jogo e vestiário), ratifi cando sua importância e necessidade de maiores cuidados e preocupações. Há diversos indivíduos no grupo que possuem características para

A re la çã o e n tre o p e s q u is a d o r e o clu be :

lim ita çõ e s e o bs tá cu lo s e n fre n ta d o s

A relação no papel de pesquisador com o clube se iniciou ainda num primeiro contato realizado por meio de correspondência eletrônica. No entanto, por mais que esse tenha sido o marco inicial da relação, ele ocorreu entre uma professora colabora-dora do estudo e um dos diretores do clube, estando o pesquisador ainda longe do diálogo. Teve como fi nalidade pedir permissão para que o aluno/pesqui-sador tivesse acesso ao clube, permitindo a realização do estudo. Após o envio de algumas informações a respeito dos objetivos e necessidades do aluno/ pesquisador, a resposta do dirigente foi positiva, fi cando pendente somente um acordo sobre a data a ser iniciada a pesquisa. No entanto, vale ressaltar que do primeiro contato à autorização da realização da pesquisa, vários meses se passaram. A partir deste momento, por indicação do gerente de futebol, os contatos passaram a ser realizados diretamente com o assessor de imprensa do clube.

O assessor de imprensa do clube passou a partir de então a exercer um papel fundamental no relacio-namento com o clube. No dia da primeira visita ao clube, após uma longa espera no portão do Centro de Treinamento (CT), fomos muito bem recebidos

pelo assessor de imprensa. Conversamos sobre os objetivos e necessidades da pesquisa, acertamos uma data para minha volta ao CT e nos foi atribuído o papel de membro de imprensa. Isso mesmo, mem-bro de imprensa. Ou seja, por alguns dias, teríamos o reconhecimento e acesso aos mesmos espaços e tempo permitidos às equipes de imprensa.

Aqui cabe a primeira refl exão. Por que será que a pessoa/funcionário responsável por nos receber foi o assessor de imprensa e não um dirigente ou algum membro da comissão técnica? Por que o papel abjudicado foi o de assessor de imprensa e não o de pesquisador? Qual seria o problema de ser apresentado como pesquisador e não como membro da imprensa? Por que esconder do grupo de atletas e comissão, por um tempo, o real motivo da nossa presença naquele ambiente (o CT)?

Uma hipótese para responder a tais perguntas passa pela preocupação do clube em saber os reais interesses da pesquisa, pelo desconhecimento do perfi l e caráter do pesquisador, e pelo desejo de preservar o grupo de jogadores e comissão técnica de uma nova situação, a qual o próprio dirigente e o assessor de imprensa não tinham ciência de como ambiente, o apoio dos demais integrantes, entre

outros, também foi ressaltado por um dos atletas entrevistados. O trabalho coletivo e a necessidade de uma sintonia quase que diária são fundamentais para a vida de um grupo de futebol.

o desempenho de seu papel/função de líder devendo, entretanto, ser mais bem aprimoradas. Tais lideranças se confi guram na pessoa de dois líderes específi cos, tais quais o líder da tarefa e o socioemocional. Não necessariamente uma equipe possui ou deve possuir um único líder da tarefa e um único líder socioe-mocional. Ambos são demasiadamente importantes para o rendimento da equipe e principalmente para a qualidade e intensidade das relações sociais existentes entre os membros do grupo, interferindo diretamente na coesão grupal desta equipe.

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se processaria. E dessa forma, pela necessidade de ter alguém que pudesse estar o mais próximo e num maior tempo possível nos acompanhando (ou vigiando), atento a todos os nossos movimentos, construíram essas condições para desenvolvimento da pesquisa e encontraram na fi gura do assessor de imprensa a pessoa mais qualifi cada para esta tarefa de nos receber, acompanhar e dar suporte aos in-teresses da pesquisa. Ainda assim, mais próximos a ele, na condição fi ctícia de membro da imprensa, poderíamos ter acesso somente a espaços limitados e devidamente supervisionados por ele.

A partir do momento em que aceitamos (por não ver naquele momento outra opção) o papel de membro da imprensa, estabelecemos com o clube o que PICHON-RIVIÈRE (2000) defi ne como vínculo e o

entende como a “maneira particular pela qual cada indivíduo se relaciona com outro ou outros, criando uma estrutura particular a cada caso e cada momento”.

Ao voltar no CT no dia combinado para dar início à pesquisa de campo, fomos novamente rece-bidos pelo assessor de imprensa. Estava claro que este foi o funcionário encarregado para ser o responsável por nos encaminhar aos espaços e ambientes neces-sários e dar apoio à realização da pesquisa, ou seja, a iniciativa de conversar com algum atleta, membro da comissão técnica ou de entrar em um determinado ambiente deveria ser por ele consentida.

Por alguns dias ainda encontramos difi culdades em entrar no CT, em nos aproximar do grupo de jogadores e comissão técnica e ainda nos identifi ca-vam como membro da imprensa. Fato que difi cul-tava bastante a observação e coleta de informações conforme proposto metodologicamente.

A entrada no CT e aproximação ao campo e grupo de jogadores e comissão técnica só eram permitidas juntamente com os profi ssionais da im-prensa. Apenas no quarto dia de visita pudemos, pela primeira vez, entrar no CT antes dos profi ssionais da imprensa. No entanto, momentos mais tarde, já com o treino iniciado, foi solicitado por um dos seguranças (provavelmente com a orientação da comissão técnica) que nos afastássemos do campo de visão do grupo. No dia seguinte fomos muito bem atendidos (embora após longa espera) pelo médico e superintendente técnico do clube, o qual nos concedeu entrevista para tratar de pontos específi cos da pesquisa. Começava nesse momento a esclarecer aos demais funcionários do grupo nosso verdadeiro interesse (visto que até esse momento somente o diretor de futebol e o assessor de imprensa sabiam do motivo da nossa presença).

Essa rotina se repetiu por vários dias e aos poucos a entrada no CT e aproximação junto ao grupo eram cada vez mais fáceis de serem realizadas. Os seguranças passaram a nos reconhecer e facilitar a circulação pelo CT e os atletas e membros da co-missão técnica a se acostumar com a nossa presença. Isso foi deveras importante, pois, além de suscitar uma possível mudança no papel nos designado, nos possibilitou presenciar os grupos e subgrupos que se formavam, as afi nidades existentes entre eles, o ambiente/clima em situação anterior ao treino e principalmente realizar uma aproximação (cum-primentando e sendo cumprimentado por todos) junto aos atletas e comissão técnica.

Após alguns dias de contato com o grupo no centro de treinamento, foi obtida a primeira oportunidade de estarmos com o grupo em situações de jogo. En-tretanto, tanto a entrada no Estádio, quanto a entrada no vestiário aconteciam de maneira muito difi cultosa. A pretensão inicial de termos acesso ao vestiário antes e depois do jogo foi negada na maioria das vezes. Poderíamos levantar hipoteticamente algumas causas para esta impossibilidade, indo da não autorização da comissão técnica, da negativa do grupo de jogadores ou até pela opção do assessor de imprensa de nem mesmo verifi car a possibilidade de tal observação se concretizar. A restrição quanto a entrada no vestiário com vistas a que pudéssemos vê-los chegar do campo de jogo analisando o comportamento do grupo, seus vínculos, a maneira de se relacionarem em situação de pós-jogo, enfi m, que fosse possível ter acesso a todas as informações que possibilitariam atingir plenamente os objetivos de pesquisa, foi outro sinal percebido por nós de que teríamos difi culdades em observar e nos aproximar do grupo. Mais do que isso, nossa presença dentro do vestiário suscitou certa estranheza por parte dos jogadores e comissão técnica. Acredito que se sentiram incomodados com uma presença não habitual naquele ambiente, como se tivessem tido sua privacidade invadida e, não por coincidência, não mais nos foi permitido o acesso a este espaço. Começou a tomar forma então a compreensão de que a fi gura do pesquisador é estranha a este ambiente e que tal comportamento verifi cado ratifi ca o quão fechado é o grupo e o quanto eles procuraram se proteger de agentes externos.

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não mais como membro da imprensa, mas também não ainda como pesquisador, e sim, provavelmente, como estagiário do clube.

No momento em que havíamos realizado apro-ximadamente metade das visitas ao clube, ainda era proibida a entrada em alguns ambientes do centro de treinamento (o interior da concentração e refeitório e também na piscina de hidroginástica) assim como a maior aproximação ao grupo de jogadores e comissão técnica. No entanto, no dia a dia, éramos muito bem tratados pelos funcionários, pelos membros da comissão técnica e pelo grupo de jogadores. Aos poucos o papel de membro da imprensa adjudica-do ia se modifi canadjudica-do para o de aluno/pesquisaadjudica-dor. Inicialmente conseguimos entrevistar todos que julgávamos haver necessidade e fomos muito bem recebidos (salvo o longo tempo de espera em quase todas elas) por todos entrevistados. Por sinal, o ele-vado tempo de espera para ter acesso a determinados ambientes e observar como o grupo se comportava prejudicou demasiadamente a coleta de informações e as futuras análises. O tempo de espera para entrar no refeitório foi tão grande que quando autorizados a entrar, a maioria dos atletas já tinha terminado a sua refeição. O tempo de espera para entrar no vestiário antes e depois dos jogos, na maioria das vezes, foi tão grande que os atletas já estavam quase entrando em campo ou indo para o ônibus.

Nesta fase da pesquisa foi realizada uma nova conversa com o assessor de imprensa para programar a continuidade do estudo. Conversamos sobre a ida ao próximo jogo e necessidade de estarmos mais presentes e mais próximos do grupo nos vestiários, e também sobre a viabilidade de aplicação do teste de livre escolha. Ambas as necessidades metodológicas não puderam se concretizar visto que tanto nossa presença nos vestiários no próximo jogo, quanto a aplicação do teste não foram autorizadas. Segundo o assessor de imprensa, lhe foi dito (não explici-tando por quem) que poderíamos ir ao jogo, mas sem a permissão de entrarmos no vestiário com a justifi cativa de que já teriam feito muito por nós e já tínhamos informações sufi cientes. Em relação à aplicação do teste, na opinião do assessor, esta ta-refa seria muito difícil de ser realizada, visto que os atletas não possuíam o hábito de se comprometerem com este tipo de atividade. De fato, após entrevista com o preparador físico da equipe, este não viu viabilidade para sua execução por diversos motivos dentre os quais estão a difi culdade dos atletas em lidar com esse tipo de instrumento, a não abertura de suas intimidades, o receio de se exporem e o

comprometimento ético (ao ter que citar colegas). Segundo ele, se fi zéssemos parte da equipe, fossemos contratados pelo clube e estivéssemos no grupo há um bom tempo, a viabilidade de aplicação desse teste seria maior.

Tanto a negativa de nossa presença nos vestiários, mas principalmente as justifi cativas utilizadas por eles, carecem ser analisadas. Notoriamente, como explicitado anteriormente, nossa presença no vestiá-rio foi percebida pelos jogadores e comissão técnica com certo incômodo e muito provavelmente tenha partido deles (mais provavelmente da comissão técnica) a opção por não mais nos permitir entrar naquele ambiente. Mais do que isso, pelo discurso adotado, fi ca clara a relação que detinham com o estudo e com o pesquisador, ou seja, uma relação muito mais de prestação de favor do que de interesse no estudo e nos resultados que ele poderia trazer.

Um dos fatores determinantes para a ampliação do período de pesquisa de campo foi a ausência de um dos atletas mais importantes no tocante aos processos grupais. Dessa forma, em concordância com o assessor de imprensa, esperamos a sua volta a fi m de realizar as observações que vínhamos fazendo, agora com a sua presença. No entanto, a tão esperada entrevista com esse atleta não pode ser realizada. Ele é um dos poucos que possui uma assessoria de imprensa própria e, conforme nos afi rmou o assessor do clube, é o jogador mais requisitado pela mídia, por patrocinadores, publicitários e pelos visitantes. Não fi cou claro se a negativa de entrevista com ele partiu, portanto, do próprio atleta, da sua assessoria de imprensa ou do assessor do clube, que, ciente da difi culdade/trabalho que teria para autorizar a en-trevista, principalmente pela limitada interferência que possuía na conduta dos atletas (e neste atleta especifi camente), não fez sequer um contato para verifi car essa possibilidade.

Deste modo, todas as informações e acessos aos ambientes e situações que tivemos pareceram estar sob total controle do clube e esta negativa eviden-ciou que era intenção deles que permanecesse desta forma. Entendemos que tal iniciativa tenha partido com a nítida fi nalidade de preservar o grupo de qualquer fator que pudesse perturbá-lo (e claro, prejudicar seu rendimento) assim como colocar em risco os interesses do clube. Apesar de caminhar na contramão da pesquisa, essa postura do clube é compreensível, principalmente se refl etirmos sobre as características do futebol contemporâneo.

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Apesar de estarmos com o grupo de atletas e co-missão técnica em vários dos ambientes e situações em que os processos grupais se manifestam, nossa presença e circulação pelos espaços do clube foi im-pedida e/ou difi cultada por diversas vezes. Pudemos sim observá-los nos treinamentos de campo, no REFFIS (Centro de Reabilitação Esportiva Fisiote-rápica e Fisiológica) e na piscina de hidroginástica. No entanto, em vários momentos fomos orientados a nos afastar do campo de visão do grupo, principal-mente quando o treinador realizava reuniões com os atletas. Da mesma forma também pudemos estar com o grupo em situações de jogo e vestiário. Porém, nunca no intervalo do jogo, quando chegavam ao estádio e se preparavam para o inicio da partida ou no momento em que retornavam do campo depois de fi nalizado o jogo. Dentro da concentração, a circulação era extremamente limitada. As situações de refeições somente puderam ser observadas na companhia do assessor de imprensa e sem a pre-sença de todos os jogadores. Essas resistências não aconteceram por acaso, nem por interesse de uma única pessoa. Nitidamente se trata, além de questões que perpassam o contexto de uma pesquisa que se propõe a conhecer os processos grupais, sobretudo o de coesão, de uma particularidade institucional. Ou seja, por atender aos interesses da instituição, momentos e situações foram propositalmente pre-servados fora do alcance do pesquisador justamente para delimitar a barreira entre o que pode e o que não pode ser observado, principalmente a fi m de preservar o grupo de qualquer agente externo que possa colocar em risco o rendimento da equipe e o consequente interesse do clube (vitórias, títulos e o retorno que isso trará à instituição). Neste aspecto admitimos termos, por um lado, superestimado a possibilidade de inserção no grupo pesquisado e, por outro, subestimado a capacidade da instituição de preservar-se diante de sujeito estranho a ela.

Uma equipe dotada de uma história repleta de conquistas, com grande representatividade no cená-rio nacional e internacional, capaz de movimentar uma elevada quantia de dinheiro e cerceada por interesses políticos, mercadológicos e fi nanceiros, difi cilmente iria se expor a ponto de colocar em risco qualquer um destes aspectos e comprometê-los

minimamente que seja. Entretanto, não queremos com isso dizer que as equipes de menor expressão apresentem maiores facilidades ao pesquisador, principalmente quando se tratar de conhecer, com-preender e esclarecer as intimidades de um grupo e os seus processos grupais. De fato, os processos grupais, sobretudo a coesão de grupo, independente do contexto social ao qual estão inseridos, estão diretamente relacionados às diversas informações sigilosas, que fazem parte única e exclusivamente de um determinado grupo, e portanto, cabe uma refl exão sobre até que ponto elas são passíveis de serem reveladas/divulgadas. Tal ponderação nos leva a supor que as restrições impostas pelo clube nesta pesquisa, seriam provavelmente também verifi cadas em outros grupos, sejam eles esportivos ou não.

Durante nossa convivência, os papéis adjudicados e assumidos foram sofrendo variações, mas não ao ponto de se confi gurar como vínculo ideal para o efetivo estudo dos processos grupais de uma equipe. Entendemos, em concordância com um dos mem-bros entrevistados da comissão técnica do clube, que somente o estabelecimento de outro vínculo - que não de pesquisador acadêmico, muito menos o de estudante ou membro da imprensa - possibilitaria a aproximação ao grupo de tal forma que atletas e comissão técnica tivessem a devida confi ança para se exporem e permitirem que todos os objetivos propostos fossem alcançados e toda metodologia contemplada. Ou seja, somente na condição de profi ssional do clube ou membro do grupo seria possível presenciar todas as situações de treino, jogo, preleção, concentração, enfi m, estar com os atletas e comissão técnica nos ambientes em que se mani-festam todos os processos grupais para analisá-los e compreendê-los de modo efi caz.

Uma possível saída encontrada para a sua realização seria então, na condição de pesquisador, assumir um vínculo distinto do assumido neste estudo associando os interesses da pesquisa aos do clube e não mais somente à ciência e ao contexto acadêmico4. Dessa forma, teríamos que ser

requisitados e contratados pelo clube, e após passar por todos os momentos de introdução e aceitação no grupo, tais quais os de fi liação, pertença, pertinência, comunicação, aprendizagem, tele e cooperação, sentirmos parte dele e ter, enfi m, melhores condições para atingir plenamente os objetivos traçados neste estudo e cumprir com as exigências metodológicas propostas. Por outro lado é indispensável refl etirmos e analisarmos sobre o que, de fato, propõe uma pesquisa acadêmica. Ou seja, dessa forma, os da pesquisa, assim como as observações realizadas,

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resultados obtidos seriam predominantemente, se não exclusivamente, de conhecimento do clube e não mais passível de serem publicizados, ao menos em relação aos interesses do clube, como se propõe uma pesquisa acadêmica?

Tal refl exão nos leva ainda a outra hipótese que deve ser considerada e relevada: A pesquisa seria de-senvolvida/realizada por um membro do grupo, que estaria, sob esta confi guração vincular, apto a buscar os objetivos pretendidos e decorrer sobre os resulta-dos alcançaresulta-dos garantindo a divulgação daquilo que é de interesse acadêmico, no entanto, preservando as informações e “segredos” afetos somente ao grupo, garantindo o anonimato, se necessário torná-las públicas. De fato, confi gura-se como uma hipótese mais próxima da real possibilidade de pesquisa no futebol profi ssional, visto que é a que mais aproxima e faz coincidir os interesses do pesquisador e clube. Reconhecemos, portanto, que, independente-mente do clube analisado, as difi culdades para o es-tudo dos processos grupais em equipes profi ssionais de futebol provavelmente irão surgir e as limitações para a sua análise estarão presentes, variando, no en-tanto, conforme a grandeza e representatividade do clube, mas principalmente de acordo com o vínculo

estabelecido entre o pesquisador e o clube/equipe. Mesmo assim é possível concluir que todos os momentos e situações que pretendemos vivenciar, tais quais os espaços e situações de treinamento, ambiente de jogo, concentração, refeições, entre outros, devem ser observados e analisados quando se perspectivar compreender os processos grupais em uma equipe profi ssional de futebol.

A liderança e a coesão grupal manifestavam-se em várias ocasiões (nos treinamentos, nos momen-tos de descontração, situações de jogo e vestiário), ratifi cando sua importância e necessidade de maiores cuidados e preocupações. Há diversos indivíduos no grupo que possuem características para o desempe-nho de seu papel/função de líder devendo, entre-tanto, ser mais bem aprimoradas. Tais lideranças se confi guram na pessoa de dois líderes específi cos, tal qual o líder da tarefa e o socioemocional. Não necessariamente uma equipe possui ou deve possuir um único líder da tarefa e um único líder socioe-mocional. Ambos são demasiadamente importantes para o rendimento da equipe e principalmente para a qualidade e intensidade das relações sociais existentes entre os membros do grupo, interferindo diretamente na coesão grupal desta equipe.

1. A pesquisa de campo foi realizada após o consentimento livre e esclarecido daqueles os quais nos propusemos observar/ entrevistar/analisar.

2.CASTELLANI, R.M. Em jogo a relação entre o pesquisador e clube: futebol e processos grupais. Dissertação (Mes-trado em Educação Física) - Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2010. 3. O nome do clube será preservado em sigilo neste artigo para manter no aninomato a identidade do clube em

publi-cações que não a dissertação, conforme acertado com o clube.

4. Não queremos com isso dizer que o clube não pode associar seus interesses aos da Ciência. Mas que, conforme já ex-plicitado neste artigo, há informações sigilosas afetas somente ao grupo e que, portanto, devem permanecer, respeitando os interesses do clube, somente sob seu domínio, indo, dessa forma de encontro ao processo de divulgação/circulação do conhecimento, conforme pretendido e defendido pelo meio acadêmico.

5. Vale ressaltar que, um pesquisador que estivesse sob a confi guração deste vínculo poderia atribuir à pesquisa de campo outro signifi cado, visto que seu foco principal não seria mais o de buscar informações e se “familiarizar” com o grupo, mas o de tornar estranho algo que já lhe é peculiar.

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Resum en

El liderazgo y cohesión del grupo en el fútbol profesional: el investigador fuera del juego

Parte de mi disertación de maestría, este artículo tiene como objetivo: retratar los efectos de liderazgo sobre el funcionamiento del grupo; detectar la importancia y la necesidad de un grupo cohesionado en el fútbol profesional; describir/analizar la relación entre el investigador y el club; y señalar las limita-ciones y los obstáculos enfrentados durante la investigación de campo. De carácter cualitativo y con referencial teórico de la psicología social, en especial de Kurt Lewin y Pichon-Rivière, este estudio se basó en el análisis de un equipo de fútbol profesional. Entre las difi cultades encontradas, se pueden destacar: imposibilidad de acceso a situaciones/locales sugeridos metodológicamente; negaciones a las entrevistas; el rechazo a la aplicabilidad del examen de libre elección. Se identifi có la voluntad/necesidad del club en mantener tales limitaciones para el investigador. El vínculo creado y las funciones asumidas han dañado aún más los análisis. La percepción de la importancia acerca del liderazgo y de la cohesión del grupo está presente en el fútbol profesional, teniendo el liderazgo situacional y el democrático más grande relevancia en este contexto particular.

PALABRASCLAVE: Investigación; Fútbol profesional; Grupo; Vínculo; Psicología social.

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Abstract

Leadership and group cohesion in professional football: the off-game researcher

The aim of this study was to investigate the effects of leadership on the functioning of the group; detect the importance and necessity of cohesion in a professional team of footballers; describe/analyze the relationship between the researcher and club; and point the limitations and obstacles found during fi eld research. Following the guidelines of qualitative research and having as a theoretical reference the fi eld of social psychology, with emphasis on studies of Kurt Lewin and Pichon-Rivière, this research came from analysis of a professional football club. The main diffi culties encountered were: impossibility of access to places or situations suggested as methodology; the denials for interviews; and rejection of the appli-cability of a free choice test. The bonds created and the roles taken harmed attempts of further analysis. Perception of the importance of leadership and group cohesion is present in professional football, with situational and democratic leadership being more relevant in that specifi c context.

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ENDEREÇO Rafael Moren o Castellan i R. An gela Buziolli Ton on , 47 13140 -0 0 0 - Paulín ia - SP - BRASIL e-m ail: rafael.m oren o@uol.com .br

Recebido para publicação: 0 8 / 0 6/ 20 11 Revisado: 0 7/ 0 5/ 20 12

Aceito: 25/ 0 5/ 20 12

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Referências

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