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Igreja Pentecostal “Deus é Amor”: Origens, Características e Expansão

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Academic year: 2017

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

IGREJA PENTECOSTAL “DEUS É AMOR”: ORIGENS, CARACTERÍSTICAS E EXPANSÃO

EMILIO ZAMBON DE MENDONÇA

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

IGREJA PENTECOSTAL “DEUS É AMOR”: ORIGENS, CARACTERÍSTICAS E EXPANSÃO

EMILIO ZAMBON DE MENDONÇA

Orientador:

Prof. Dr. Leonildo Silveira Campos

Dissertação apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, para obtenção do grau de mestre

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A Deus que me deu a saúde e a disposição para superar os desafios deste Mestrado.

Ao Prof. Dr. Leonildo Silveira Campos pela sua amizade e dedicação durante todo o processo de orientação que dele recebi para a preparação desta Dissertação de Mestrado.

Aos professores da UMESP pela transmissão do conhecimento durante todo o curso.

Às pessoas amigas que colaboraram comigo nas pesquisas realizadas no estado do Paraná, especialmente as famílias Coraiola e Leite e o pessoal das Indústrias Klabin de Papel e Celulose de Telêmaco Borba.

Ao amigo e pastor, Reverendo Abival Pires da Silveira e à Fundação Mary Harriet Speers pela Bolsa de Estudos que me foi concedida, sem a qual eu não teria condições de custear este Mestrado.

À Nilda Cruz de Mendonça, dedicada esposa que me apoiou em todos os momentos e me incentivou a perseverar para a conclusão deste Mestrado.

À Sílvia, minha filha que me ajudou na computação, especialmente no preparo de fotos, documentos escaneados e elaboração de Power Point para apresentação de trabalhos durante todo o curso.

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ARC Bíblia Almeida, edição revista e corrigida

BJ Bíblia de Jerusalém

BO Boletim de ocorrência policial

BPC Igreja Evangélica Pentecostal “O Brasil para Cristo”

CBDA Curso Bíblico Deus é Amor

CCB Congregação Cristã no Brasil

CPI Comissão Parlamentar de Inquérito

CPO Curso de Preparação de Obreiros

CTP Cantai Todos os Povos - Hinário da IPIB

DM David Martins de Miranda, Davi Miranda ou Missionário

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IEVEC Igreja Evangélica Vida em Cristo

IPDA Igreja Pentecostal Deus é Amor

IPB Igreja Presbiteriana do Brasil

IPIB Igreja Presbiteriana Independente do Brasil

IPISP Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo

OFSM Orquestra Filarmônica da Sede Mundial

PF Polícia Federal

REVIVER Fundação Reviver (controlada pela IPDA)

RI Regulamento Interno da IPDA

TEB Bíblia – Tradução Ecumênica - TEB

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Universidade Metodista de São Paulo.

RESUMO

Procuramos demonstrar que a Igreja Pentecostal “Deus é Amor” - IPDA é uma Igreja, em expansão nas últimas cinco décadas. Nossa Dissertação de Mestrado indica que a IPDA elegeu a mídia radiofônica, seu jornal e suas próprias revistas para divulgar suas atividades. O estudo demonstra que a IPDA é alheia à política, não dá entrevistas às demais rádios, proíbe o uso da televisão e não atende jornalistas nem pesquisadores. Com base em nossa experiência de 11 anos de atuação na Igreja Pentecostal “Deus é Amor”, incluindo cinco anos como diácono, resgatamos detalhes que fornecerão subsídios aos meios acadêmicos e aos pesquisadores dos fenômenos pentecostais da atualidade. Ao cobrir certo espaço ainda não pesquisado pela academia, complementamos, por outro lado, dados que não constam da autobiografia de David Martins de Miranda, fundador da IPDA. Por fim, procuramos identificar características doutrinárias da IPDA e dos seus processos administrativos, que denotam certa tendência de profissionalização de parte da equipe da diretoria no processo sucessório. Abordamos, ainda, a questão da reprodução da instituição, mantida até aqui debaixo do carisma de seu fundador que vem administrando sua Igreja com todas as características de uma empresa familiar, dentro de um gradiente seita/igreja. Nossas conclusões demonstram as estratégias que permitiram a expansão da IPDA alicerçada nas suas rádios, nas suas grandes concentrações, no seu apelo proselitista e na arrecadação de recursos, fatores que alimentam e suportam o crescimento da Igreja Pentecostal “Deus é Amor”.

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University of São Paulo.

ABSTRACT

We endeavored to demonstrate that the Pentecostal Church “God is Love” – PCGL – has been a church in expansion for the last five decades. Our work indicates that PCGL chose radio and its own newspaper and magazines to divulge its activities. The study demonstrates that PCGL alienates itself from politics, does not give interviews to other radios, forbids the use of TV sets in homes and neither answers reporters nor scholars. On the one hand, based on our 11 years of experience in the PCGL, including five years as deacon, we reveal details that will provide subsidies to academic studies in general of nowadays Pentecostal phenomenon. On the other hand, by covering some areas not yet analyzed by the academy, we complement information that does not appear in David Martins de Miranda’s autobiography, him being the founder of PCGL. Finally, we tried to identify the doctrines that characterize PCGL as well as its administrative processes. These denote a trend towards the professionalization of part of the Board of Directors in relation to the succession process. In terms of succession, we also analyzed the ‘institution’s reproduction’, a process that until now is under the charisma of its founder who administers his church with all the characteristics of a family business, within the gradient sect/church. Our conclusions demonstrate that the strategies which fostered the expansion of PCGL are based on its radios stations, its big rallies, its proselytism and its fund raising efforts that together feed and support the growth of thePentecostal Church “God is Love”.

(8)

INTRODUÇÃO

14

CAPÍTULO 1 – Origens e expansão da Igreja Pentecostal

“Deus

é

Amor”

(IPDA)

25

Introdução 26

1.1 – O fundador: aspectos biográficos 26

1.1.1 – Trajetória familiar do fundador: David Miranda (DM) 27 1.1.2 – Trajetória familiar da esposa do fundador: Ereni Oliveira 29

1.1.3 – O casamento de David Miranda 30

1.1.4. – A conversão de David Miranda ao pentecostalismo 30 1.1.5 – Conversão, trajetórias familiares e explicações sociológicas 34

1.2 – A Igreja fundada por David Martins de Miranda 36

1.2.1 – As dificuldades iniciais e a expansão da nova Igreja 38

1.2.2 – As marcas espaciais de expansão 39

1.3 – A estrutura da Igreja Pentecostal “Deus é Amor” 43

1.3.1 – Os Estatutos da IPDA 45

1.3.2 – Os regulamentos da IPDA 47

1.3.3 – Estrutura de igreja ou de seita? 49

1.3.4 – O sistema de governo da IPDA 53

Conclusão 55

CAPÍTULO 2 - Identidade, padrões de crenças, ritos e

processos de comunicação na Igreja Pentecostal

“Deus

é

Amor”

(IPDA)

57

Introdução 58

2.1 – Os padrões de crenças e doutrinas 58

(9)

2.1.4 – A busca da santidade na ética da Igreja

Pentecostal “Deus é Amor” 68

2.2 – Ritos e interpretação da Bíblia 69

2.2.1 – O batismo na IPDA 69

2.2.2 – O casamento na IPDA 72

2.2.3 – A unção com óleo e a barba 73

2.2.4 – A Santa Ceia na IPDA 74

2.3 – A maneira “mirandiana” de inculcação de regras 77

2.3.1 – A importância das regras em movimentos religiosos rigorosos 78

2.3.2 – A classificação das regras 79

2.3.3 – A seleção e formação de obreiros 82

2.3.4 – A música como auxiliar da doutrinação 86

2.3.4.1 – Banda e orquestra 89

2.3.4.2 – Discos da gravadora “A Voz da Libertação” 90

2.4 – O uso da mídia 95

2.4.1 – A IPDA e os programas de rádio 97

2.4.2 – A IPDA e suas publicações 102

2.4.3 – A IPDA e o uso da Internet 107

Conclusão 111

CAPÍTULO 3 – De galpão industrial ao

“Templo da Glória de Deus”

114

Introdução 115

3.1 – A busca por um espaço maior: A pressão da concorrência 115

3.2 – Organização de caravanas 115

3.3 – Estratégias para obtenção de recursos 117

3.4 – “Reviver”: o braço social da IPDA 133

3.5 – A política de abertura de filiais da IPDA 134

(10)

Introdução 139

4.1 – A liderança carismática e a instituição baseada no carisma 140

4.2 – Profetas, sacerdotes, magos e feiticeiros 145

4.3 – A sucessão de DM: conflitos atuais e previsíveis 152

4.4 – Questão de gênero, racial e política 158

4.4.1 – Questão de gênero 158

4.4.2 – Homossexualidade 163

4.4.3 – Questão racial 163

4.4.4 – Questão política 165

Conclusão 170

CONSIDERAÇÕES

FINAIS

172

BIBLIOGRAFIA

184

Livros

185

Artigos e revistas 191

Dissertações e Teses 197

Internet 199

ANEXOS

200

ILUSTRAÇÕES

206

(11)

Tabela 1 – Cronologia da vida de David Martins de Miranda 22 Tabela 2 – Datas e endereços conforme autobiografia de DM 40

Tabela 3 – LP’s mais representativos 92

Tabela 4 – Principais temas dos hinos por quantidade de menções 93 Tabela 5 – Concentração dos principais temas nos hinos pesquisados 94 Tabela 6 – Anotações feitas no culto do dia 30/3/2008 na Sede Mundial

da Igreja Pentecostal “Deus é Amor” em São Paulo 129

Tabela 7 – Participação de negros e brancos nas principais denominações

pentecostais de acordo com dados do Censo IBGE 2000 163 Tabela 8 – Participação da IPDA no total de pentecostais e participação de

etnias na IPDA de acordo com o censo IBGE 2000 164

(12)
(13)

INTRODUÇÃO

O título desta Dissertação de Mestrado “Igreja Pentecostal ‘Deus é Amor’, origens, características e expansão” já traz embutido seu próprio tema e os propósitos de sua escrita. No entanto, a Igreja Pentecostal “Deus é Amor” (IPDA) está intrinsecamente ligada à trajetória de seu fundador David Martins de Miranda (DM). Daí a necessidade de se analisar pari passu a sua biografia. Todavia, pouca coisa tem sido escrita na academia sobre a Igreja. O que se constitui um tipo de dívida dos estudiosos que têm se concentrado em outros movimentos pentecostais de maior ou menor expressão que a IPDA.A pesquisa aqui relatada refere-se a uma igreja pentecostal fundada em 1962 por David Martins de Miranda, um ex-católico, que se converteu ao pentecostalismo. Hoje, 46 anos depois, sua Igreja tem sua sede oficial à Avenida do Estado, 4568, na Baixada do Glicério no centro da capital paulista, é dirigida por uma diretoria, da qual DM é o seu presidente. Os Estatutos Sociais dessa Igreja estão registrados no 3o. Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica, de São Paulo, sob no. 9565, Livro A, no. 5 (Diário Oficial 26/6/62) e ela tem por CNPJ o no. 43.208.040/0001-36.

A pesquisa foi realizada nos anos 2007 e 2008. A IPDA está espalhada por todo o Brasil, América Latina e, com menos intensidade em dezenas de outros países. O IBGE, no Censo 2000, colocou-a em 5o. lugar no ranking das igrejas pentecostais, com 774.830 membros. Realizamos pesquisas de campo sobre as origens de David Martins de Miranda a partir de duas cidades do estado do Paraná: Reserva e Telêmaco Borba. A pesquisa parte da data e local e lugar de nascimento de David Miranda, em 1936 e passa pela sua mudança para a capital de São Paulo, em 1957, sua conversão do catolicismo ao pentecostalismo, em 1958 e a fundação de sua denominação, em 1962.

Esta Dissertação de Mestrado pretende resgatar parte da história da família de David Miranda e da Igreja Pentecostal “Deus é Amor” – IPDA – desde suas origens até 2008. Esta Igreja atraiu a nossa atenção porque se trata de uma Igreja sobre a qual há poucas pesquisas realizadas no Brasil, envolvendo origens, características e expansão. Entre os autores que escreveram sobre essa denominação, podemos destacar somente textos isolados de Paul Freston (1993: 92);1 de Reinaldo Olécio de Aguiar (2004);2 de Hélio de Lima (2008);3 de

1 Paul Freston, em sua Tese de Doutorado escreve sobre a conversão de David Miranda.

2 . Reinaldo Olécio de Aguiar, em sua Tese de Doutorado, comenta as restrições da IPDA, “confundindo esporte

com jogo de azar.”

3 José Hélio de Lima, em sua Dissertação de Mestrado, faz referência a David Miranda e ao seu programa de

(14)

Paulo Barrera (2001);4 de Proença (1999);5 de Leonildo Campos. Há um artigo que aborda a estratégia de David Miranda de utilizar a mídia radiofônica como base de sua pregação e expansão da Igreja. Isso ocorreu no seu texto O Milagre no Ar. Levantamento de técnicas

persuasivas num programa radiofônico em São Paulo;6 de R. Andrew Chesnut (1997: 38);7

de Allan Anderson (2004: 72-73)8 e, finalmente, do dicionarista Isael Araújo (2007: 462).9 Para evidenciar a falta de escritos sobre essa Igreja e seu fundador, procuramos no Banco de Teses e Dissertações do Capes o material referente à IPDA. No Portal Capes, entre 214 teses e dissertações, destacamos a publicação de Luzmila Casilda Quezada Barreto intitulado: Gênero e poder: o corpo no culto na Igreja Pentecostal Deus é Amor em Lima, Peru, 01/02/2005. Também consta a publicação de Ricardo Mariano: Neopentecostalismo: os pentecostais estão mudando, 1/6/2005. Joseane Cabral da Silva tem seu trabalho publicado: O show da fé: carisma e mídia na Igreja Internacional da Graça de Deus, 1/10/2005. Nenhum dos autores consultados abordou especificamente, e em detalhes, as origens, características e expansão da IPDA. Também não há, modéstia à parte, alguém do meio acadêmico que tenha tido um envolvimento com a IPDA como tivemos por 11 anos. Por essa razão, propusemo-nos a pesquisar a IPDA, suas origens, características e expansão, tanto no Brasil como no exterior, usando informações tanto internas como externas à Igreja.10

A Igreja Pentecostal “Deus é Amor” foi fundada por um ex-católico e congregado mariano, que se converteu aos 22 anos de idade ao pentecostalismo. Sua irmã, Araci Miranda, juntamente com seu esposo, numa conversa informal, em dezembro de 2008, disseram-nos que eles eram “católicos de primeira mão”, querendo, com isso, expressar que tratavam-se de católicos fervorosos. Esse fervor DM transferiu para o pentecostalismo. A sua Igreja elaborou, por exemplo, um regulamento rigoroso tal como uma Ordem católica medieval em que se busca o aperfeiçoamento e a santidade. A IPDA tem se expandido, apesar da rigorosidade do seu “Regulamento Interno” – RI - que prescreve inúmeras regras de usos e costumes. A IPDA tem total aversão à política, à televisão, ao cinema e teatro, ao futebol e a outros esportes,

4 Paulo Barrera Rivera escreve sobre a IPDA do Peru em sua Tese de Doutorado que se transformou em livro. 5 Wander de Lara Proença, em sua Tese de Doutorado escreve sobre um tipo de pentecostalismo surgido no norte

do Paraná com Miranda Leal, mencionando algumas citações referentes a David Miranda.

6 Revista

Simpósio 26. São Paulo: ASTE, Dez. 1982. (pp. 92-114).

7 Chesnut se refere à conversão de David Miranda na Igreja Brasil para Cristo. (o que não é verdade, como se

verá mais adiante no decorrer desta Dissertação de Mestrado).

8 Allan Anderson escreve que DM, cunhado de Manoel de Mello converteu-se na “Brasil para Cristo”. Estas

duas informações não foram confirmadas e serão esclarecidas no decorrer desta Dissertação de Mestrado.

9 Isael Araújo refere-se a David Miranda, acrescentando que o mesmo converteu-se na Igreja Assembléia de

Deus. Isso não condiz com informações de campo colhidas durante a pesquisa, como se verá mais adiante.

10 Nossa pesquisa gerou muitos documentos e relatórios de viagem que formam o Dossiê “IPDA” constante de

(15)

condenando, dessa maneira, quase todas as formas de lazer usuais do ser humano numa sociedade moderna. Isso nos leva a considerar que a IPDA ainda reflete características de seita, por sua tendência ao isolamento da sociedade.11 Essa tendência não se enfraqueceu apesar de institucionalmente ter se esforçado para se impor como Igreja, cumprindo com a lei nos registros formais dos seus atos legais, como registro de Atas das Assembléias e registro de imóveis em cartórios e outras exigências legais. Nesse sentido, as contribuições de Antonio Gouvêa de Mendonça (1984: 288-289; 2004: 72-77) e de Leonildo Campos (1996: 21-27) foram da maior importância para o nosso entendimento do gradiente seita-igreja, aliado ao referencial teórico de Ernst Troeltsch (1960: 333, 691, 723ss, 1014); Henri Desroche (1985: 13) e Júlio de Santana (1992: 15). No entanto, a práxis de David Miranda, baseada no seu evangelismo, está profundamente ancorada na pregação de curas divinas, no exorcismo, no proselitismo e na sua extensa rede de programação de rádio, bem como nas atividades de sua gravadora, que levam o mesmo nome: “A Voz da Libertação”.

Apesar da existência de alguns escritos sobre a Igreja Pentecostal “Deus é Amor”, ficamos intrigados com dados contraditórios e com a falta de detalhes nas informações existentes sobre ela. Isso nos desafiou a pesquisar o assunto com mais profundidade, especialmente nas informações de campo. Para tanto, foram necessárias uma volta à freqüência aos seus cultos e análise de sua literatura e discografia, às buscas cartoriais e viagens ao interior do estado do Paraná, a fim de colher subsídios à nossa Dissertação de Mestrado. No entanto, valendo-nos de conhecimentos adquiridos durante a longa militância na IPDA, visitamos alguns cultos e conversamos com a irmã de David Miranda, nossa conhecida da década de 90. Entre os muitos cultos pentecostais que assistimos, identificamos o nome da primeira denominação que acolheu DM quando de sua conversão; tal fato deu-se numa entrevista com o fundador daquela Igreja, o pastor Leonel Silva, hoje com 90 anos de idade. Não bastava encontrar detalhes das origens, mas também conhecer as motivações que levaram o então jovem congregado mariano a buscar iniciar um processo de conversão que o levaria a estabelecer seu próprio ministério.

11 Os termos “seita” e “igreja” foram introduzidos na discussão sociológica e histórica principalmente por Ernst

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Seria a influência de um modelo de catolicismo rural, combinado com o modelo urbano que o desencantou, mesmo sendo congregado mariano? Ou seria a anomia pela “perda de sua identidade, da raiz cultural, e a mudança para um sistema onde os códigos de valores são diferentes...”, no dizer de Luís de Castro Campos Jr, (1995: 114)? Talvez fosse a busca de nova identidade que o levou a essa nova ressignificação de experiências de vida de DM no campo sócio-religioso? Os teóricos da sociologia consultados, especialmente Max Weber (2006), Émile Durkheim (2001), Pierre Bourdieu (1982) ou Paul Tillich (1959)12 trouxeram- nos luzes para explicar conceitos como “campo religioso”, “anomia”, “fato social”, “tomada de decisão”, “trânsito religioso”, enfim, de fornecerem a nós toda a base necessária para o referencial teórico.

Outras questões que despertaram o nosso interesse estão ligadas às origens histórico-culturais-religiosas do fundador da Igreja Pentecostal “Deus é Amor”, como também da própria instituição. Que papel tem desempenhado o seu fundador DM ao longo dos 46 anos de história dessa Igreja? Quais são as suas doutrinas principais? Que causas sociais e culturais podem ser atribuídas para o seu crescimento? Que estrutura a IPDA assumiu? Que dilemas enfrentou ou enfrenta ao se tornar uma instituição/organização religiosa? Observamos ainda que Atas da reunião da diretoria da década de 90, diferem bastante das atuais. Isso foi possível conhecermos pela Ata da diretoria, pelas buscas a documentos pertinentes em cartórios da Capital de São Paulo. A questão patrimonial também ensejou pesquisas documentais que contribuíram para esclarecer alguns detalhes sobre as grandes aquisições da IPDA realizadas nas últimas décadas, as quais foram comparadas com notícias veiculadas por jornais que especularam sobre a “riqueza” de DM. As pesquisas de campo trouxeram explicações mais detalhadas sobre algumas informações pouco precisas da autobiografia de próprio David Miranda.

Quanto às conversões, não somente de David Miranda, como também de toda a sua família, observamos que elas se deram em um contexto de curas divinas iniciadas com o movimento de tendas da década de 50. É uma enorme massa de camponeses que se converteram ao pentecostalismo nas grandes e médias cidades brasileiras nas décadas de 50/60. Emigram lideranças como Manoel de Mello (Brasil para Cristo); Leonel Silva (Maravilhas de Jesus) ou David Miranda (Deus é Amor) e a Igreja do Evangelho Quadrangular entre outras. Evidências colhidas durante a pesquisa caminham no sentido de

12 Veja também os referenciais teóricos que os seguintes autores fornecem para se compreender fenômenos como

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confirmar essa hipótese. Dessas denominações surgidas à margem do pentecostalismo tradicional, apenas David Miranda conseguiu expansão em todo o território nacional e também no exterior. Hoje, a IPDA está em mais de 140 países.13 Qual o grande segredo de DM nesse processo? Esta Dissertação de Mestrado mostrará que seus pares da época ainda estão por aí, mas desempenham um pequeno papel no cenário nacional.

A questão doutrinária é outro grande desafio para qualquer pesquisador da IPDA. Valemo-nos da nossa experiência anterior naquela Igreja para esclarecer alguns pontos importantes dos seus ensinamentos. Nos anos 90 tivemos a oportunidade de dirigir vários templos da IPDA, até mesmo a Sede Nacional que então se localizava na rua Conde de Sarzedas 185 no centro de São Paulo. Fizemos duas viagens evangelísticas a serviço da IPDA em Londres. Além de visitarmos outros templos da IPDA na América do Sul, pregamos em alguns países como Bolívia, Paraguai, Peru e Venezuela. Em São Paulo, participamos como dirigentes de reuniões onde os preceitos baseados no “Regulamento Interno” – RI eram apresentados aos fiéis. Na verdade, as normas internas da Igreja Pentecostal “Deus é Amor” estabelecem um culto semanal, quando o pregador é obrigado a tomar como base para o seu sermão um dos itens do RI. Por sua vez, os membros são obrigados a carimbar a sua presença nesse culto. Essa é uma das condições para participar da Santa Ceia.

O louvor e os cânticos na IPDA estão impregnados de apropriações dos hinos da Harpa Cristã, hinário das Igrejas Assembléia de Deus. Há até uma Bíblia lançada pela IPDA em cuja parte final estão impressos todos esses hinos. Em uma outra Bíblia, cuja tiragem foi de 100 mil exemplares, traz o “Regulamento Interno” e o “Livreto de Corinhos”, como se pretendesse conferir mais credibilidade ou autoridade aos ensinos e a doutrina da IPDA. 14 Uma parte importante das pesquisas foi analisar as letras dos hinos e dos corinhos cantados. Por conhecermos a doutrina e um bom número de hinos e corinhos da IPDA, levantamos a hipótese de que nem sempre a doutrina está refletida nas mensagens cantadas. Para confirmar essa hipótese, ouvimos centenas de músicas da gravadora “A Voz da Libertação” e dezenas de corinhos, tabulando esses temas. Uma outra hipótese seria tentar identificar se as mensagens pregadas por DM estão refletidas nos corinhos cantados nos cultos e nos hinos divulgados pela sua gravadora “A Voz da Libertação”. Há coerência ou uniformidade entre a pregação

13 David Miranda afirmou em entrevista ao seu jornal

O Testemunho ano 3, no. 4 – Dez. 2006, p. 2: “Estamos

com a Igreja Pentecostal “Deus é Amor” em mais de 140 países em todos os continentes da Terra.”

14 A IPDA usa tal como a Igreja Assembléia de Deus a palavra “doutrina” com duplo sentido. Às vezes ela se

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de David Miranda, o “Regulamento Interno”, as músicas da gravadora “A Voz da Libertação”, o “Livreto de Corinhos” e alguns hinos da Harpa Cristã?

Qual a razão de DM adotar os hinos da Harpa Cristã? Quais características doutrinárias seriam dominantes numa comparação desses hinos? Onde se concentram essas mensagens? Na escatologia? Na cura imediata dos males do corpo ou no exorcismo? Ou na manifestação do “dom de línguas”? Haverá nesses hinos ou nos “corinhos” uma mensagem subliminar? Outro sub-tema discutido nesta Dissertação de Mestrado diz respeito à liturgia de um culto pentecostal celebrado na IPDA. Notamos muita semelhança com o culto celebrado na Igreja onde DM se converteu: a Igreja Cristã Pentecostal Independente “Maravilhas de Jesus” (IMJ). No culto que assistimos com David Martins de Miranda, em março de 2008, tivemos oportunidade de notar algumas semelhanças com o culto assistido em 3/12/08 na IMJ. Não há boletim litúrgico ou uma ordem de culto anunciado antecipadamente. Alguns corinhos são os mesmos; há uma parte para as pessoas darem seus testemunhos de cura; a pregação é longa e, no final do culto, as pessoas desejarem se entram na fila para receber a oração, ocasião em que ocorreram algumas sessões de possessão e exorcismo. As diferenças ficam por conta de inumeráveis pedidos de ofertas na IPDA, enquanto que na IMJ há apenas o pedido de uma oferta. Na IPDA há manifestações de “línguas estranhas”, o que não aconteceu na “Maravilhas de Jesus”. Finalmente, há um longo apelo na IPDA para as pessoas “aceitarem Jesus”, o que não observamos na outra Igreja, talvez por ter uma presença de somente 30 a 40 pessoas no culto (era uma quarta-feira), enquanto que na IPDA (um domingo), a presença era de milhares de fiéis, principalmente durante a pregação de David Miranda.

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ofertas? Será que os hinos divulgados pela IPDA refletem essas evidentes preocupações com a escatologia, a cura e o exorcismo?

Além dessas perguntas outras estimulam a nossa pesquisa: Quais foram os motivos que levaram DM, desde a fundação da IPDA a investir nos programas de rádio? O que o levou a adotar o sistema de criação de uma rede capilar de templos tanto no Brasil como no exterior? Por que a mega construção de um templo? Seria a forma de concentração de carisma do fundador que precisaria de um local tão grande para divulgar seus “milagres”? Como manter a lotação de um espaço tão amplo? Quais foram as ações sociais da IPDA para assistir parte de seus fiéis ou de pessoas desabrigadas, incluindo crianças de risco, velhos e necessitados? De que forma DM vem enfrentando os problemas e as tensões familiares para resolver a questão da herança do seu capital simbólico? (rotinização do carisma). Como administrar a questão da cantora Léia que fazia dupla com sua irmã Débora, ambas filhas de DM, nos hinos da gravadora “A Voz da Libertação”? Por que razão o seu genro, Sérgio Sóra, casado com a cantora Léia, decidiu fundar sua própria denominação no Rio de Janeiro, a Igreja Evangélica Vida em Cristo (IEVEC), agregando a eles membros e fiéis da IPDA? Como DM trata seu processo de institucionalização do carisma? Até que ponto esse processo poderá trazer maiores dificuldades para o futuro da IPDA? O progresso do país, pela melhora no atendimento das necessidades básicas das classes C, D e E não implicará no decréscimo das atividades religiosas do tipo DM?

Trabalhamos em nossa hipótese principal com a idéia que o sucesso da IPDA se dá por vários motivos. Primeiro, pela presença no imaginário dos fiéis, a tradição católica, pentecostal e mágica da cura divina. Depois, porque os ensinamentos da IPDA trazem reflexos da tradição judaica, bíblica e de uma forte presença das doutrinas da santidade abundantes nos EUA quando do surgimento do pentecostalismo no início do século XX. Sentimo-nos à vontade para abordar esse tema, sobretudo porque pudemos aliar a antiga militância com o distanciamento provocado pelo abandono dessa Igreja dos instrumentos oferecidos pelo estudo acadêmico do fenômeno religioso. Procuramos, no entanto, tomar cuidado com o distanciamento exigido pelas Ciências da Religião e os resíduos da antiga militância naquela Igreja. Temos em mente a recomendação de Pierre Bourdieu (1990: 109) de que o pesquisador, para ser científico, precisa praticar o mais que puder a neutralidade científica ou experimentar a “ruptura epistemológica. Porém, não se deve aproveitar disso para fazer um “ajuste de contas” com o seu passado religioso.

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levantamento do material publicado no site da IPDA, nas publicações impressas e também nas capas de discos, dirigimo-nos ainda à cidade natal de David Miranda, visitamos a fábrica onde o mesmo trabalhou como operário, conseguimos informações biográficas preciosas com o Sr. Jamil Fonseca Leite, funcionário da Câmara Municipal de Telêmaco Borba no estado do Paraná, e também visitamos e conversamos longamente com o pastor Leonel Silva da Igreja Cristã Pentecostal Independente “Maravilhas de Jesus”, onde DM se converteu. Também fizemos buscas em oito Cartórios, sendo três no estado do Paraná, um no município de Mairiporã e quatro na capital paulista, incluindo um cartório de registro de títulos e documentos, com o objetivo de obtenção de cópia de Ata de nomeação da atual diretoria da IPDA e para levantamento de imóveis em nome da IPDA e de David Martins de Miranda e Ereni Oliveira de Miranda. Conversamos com familiares de DM em São Paulo e visitamos a fábrica onde David Miranda trabalhou no estado do Paraná. Naquela fábrica fomos atendidos pelo encarregado do pessoal que gentilmente nos ofereceu cópia da ficha de empregado de David Miranda.

No período em que fomos seguidores de DM, tivemos contato pessoal com ele em várias oportunidades. Todavia, para a elaboração desta Dissertação de Mestrado, não foi feita nenhuma entrevista com o mesmo, nem com seus filhos, filhas ou mulher. Valemo-nos, no entanto, de informações que nos foram prestadas por sua irmã Araci e por seu marido. Ainda mantemos amizade com pessoas que ocupam papel de destaque dentro da IPDA. Para melhor esclarecimento do tema debatido, elaboramos algumas tabelas, tal como a tabela 1. Para elaborar essa tabela, utilizamo-nos de várias fontes de informações, a saber:

1 – Autobiografia de David Martins de Miranda;

2 – Pesquisas realizadas no município de Reserva, no estado do Paraná, envolvendo conversas informais com pessoas da cidade, visita à Secretaria da Cultura de Reserva e busca no Cartório de Registro de Imóveis;

3 – Pesquisas realizadas no município de Telêmaco Borba, no estado do Paraná, envolvendo conversas informais com moradores, visita à fábrica de papel da Klabin, buscas cartoriais, visita à Secretaria da Cultura e do museu do município de Telêmaco Borba;

4 – Leitura de revistas e do jornal publicados pela IPDA, com anotações de entrevistas dadas por David Miranda aos seus órgãos internos de divulgação;

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Tabela 1 – Cronologia da vida de David Martins de Miranda15

DATAS EVENTOS

4/7/1936 David Martins de Miranda nasceu num sítio no município de Reserva – PR 1949 Roberto Miranda Ribeiro, pai de David faleceu

1953 A família mudou-se para Monte Alegre, hoje Telêmaco Borba. Os cartórios de Telêmaco Borba só se instalaram na cidade em 1962. Por essa razão, nas buscas feitas, não conseguimos localizar o endereço da casa que a família comprou em Monte Alegre. 11/5/1953 DM começou trabalhar na fábrica de papel da Klabin como aprendiz mecânico

2/2/1954 Anália Miranda, viúva de Roberto Miranda Ribeiro, formalizou a venda do sítio conforme Certidão do Registro de Imóveis do município de Reserva obtida em 2008. 1/1/1955 DM foi transferido para a secção de manutenção de instrumentos na fábrica da Klabin 15/3/1957 DM pediu demissão da fábrica da Klabin e logo a seguir mudou-se com a família para

São Paulo, SP, empregando-se num escritório

7/1958 DM converteu-se ao pentecostalismo (Miranda, 1992: 28-36)

3/1962 DM foi despedido do escritório e com a indenização resolveu alugar um salão para realização de cultos à rua Setenta, hoje Afonso Pena, Vila Alegre, região de Vila Maria (Miranda: 62)

3/7/1962 DM fundou a Igreja Pentecostal “Deus é Amor” – IPDA- (Miranda: 65) no endereço acima. Ainda no ano de 1962 começou com programas de rádio. Primeiro programa pela Radio Industrial, no bairro do Butantã, 15 minutos, três vezes por semana. 16/12/1962 A IPDA já mantinha um templo em São José dos Campos (Ide Ano 3, no. 6, p. 7). Veja

também (Miranda: 69): pregava lá aos sábados e mantinha programa de rádio aos domingos, das oito às nove horas pela Rádio Piratininga de São José dos Campos. 1963 A IPDA mudou-se para a rua Afonso Pena. Surgindo reclamação de vizinhos, mudou-se

para a R. Carmem Porto em Vila Medeiros.

12/6/1965 David Martins de Miranda casou-se com Ereni Oliveira de Miranda (Miranda, 1992: 93-94)

1/4/1966 Nasceram gêmeos David e Débora, os dois primeiros filhos de David e Ereni.(Miranda: 78)

8/9/1968 Nasceu Daniel (Miranda: 81). Na p. 96 aparece DM com os dois filhos e as duas filhas: David, Débora, Léia e Daniel (O nascimento de Léia, deve ter sido em 1967).

1970 A IPDA muda-se para um salão maior, à rua Fernão Sales, Parque D. Pedro II. O salão foi dividido para moradia de David Miranda e para cultos da IPDA (Miranda: 80) 7/9/1970 A IPDA adquire duas casas de madeira na rua Conde de Sarzedas, 185 no centro de São

Paulo e transforma essas casas num salão de madeira onde funcionará sua Sede Nacional.

1/1/1976 A IPDA inaugura o templo definitivo no mesmo endereço acima, em concreto e alvenaria, com pavimento superior e inferior, como se encontra hoje. (O Testemunho,

dezembro de 2006, p. 2)

7/9/1979 Novo templo no. 2 à Rua Prefeito Passos, 231, Parque D. Pedro II, para onde é

transferida a sede nacional da IPDA (um quarteirão da Av. do Estado) Área de 4.000m2 (O Testemunho: 2) Matr 24743, Certidão de 30/12/08 do 1o. Cartório de registro de

imóveis de São Paulo. (Dossiê “IPDA”, item 17).

1/1/1980 Novo templo, no terreno com 27.000m2 (mesmo quarteirão da rua Prefeito Passos). Com o endereço: Av. do Estado, 4568. Inaugurado salão no. 1, como sede mundial (

O Testemunho: 2) São várias matrículas não reunidas num só imóvel. Vide Anexo 4

Dezembro de 1999 Lançamento da primeira revista da IPDA: Revista Ide, Ano 1, no. 1, impressão Abril

S.A. dezembro de 1999 (50 p).

Idem, primeira revista Expressão Jovem. Ano 1, no. 1, dezembro de 1999 (34 p.).

7/9/2000 Novo templo no.3 numa área de 20.772,076m2, na Av. do Estado 5000 (enquanto

seriam demolidos os antigos dois salões da Av. do Estado 4568 para a construção do novo salão) (O Testemunho: 2) Certidão 121.750 do 6o. Cartório de registro de imóveis

de São Paulo, de 19/12/08 (Dossiê “IPDA”, item 20)

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Quando do início da nossa pesquisa, procuramos localizar documentos que nos dessem a fundamentação para falar sobre a IPDA como uma organização semelhante às outras no aspecto da legitimidade jurídica. Assim, encontramos os Estatutos da Igreja. Desses Estatutos pudemos extrair os seguintes dados:

Nome oficial: Igreja Pentecostal “Deus é Amor” Data de fundação: 3 de junho de 1962

Fundador: David Martins de Miranda – Pastor presidente.

Local de fundação: Rua Setenta, 241, Vista Alegre, Alto de Vila Maria, São Paulo, Capital.

Estatuto: Registrado no 3o. Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica sob número 9565, Livro A, número 5, Diário Oficial do Estado de São Paulo, 26/06/62.

Última Ata: Edital de convocação datado de 28 de dezembro de 2007, assinado pelo Presidente do Conselho Deliberativo, David Martins de Miranda. Registrada no 3o. Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica sob número 560.285 em 21.01.2008, conforme Certidão de Inteiro Teor em 5 folhas. Esta Ata da Reunião Ordinária da IPDA aprovou as contas do exercício anterior e elegeu a diretoria para o período de 1/1/08 a 31/12/09.

Pressupomos que o problema investigado tem uma grande relevância social, pois, ao se procurar identificar qual a estratégia adotada pela IPDA junto às camadas mais carentes da sociedade, especialmente as D e E, podemos ligar a questão da pobreza, miséria e exclusão social à busca do milagre. Porém, as pessoas ao se converterem abandonam o jogo, a bebida, as drogas e a marginalidade. Principalmente porque, ao ingressarem nessa nova denominação de caráter puritano e pietista, elas encontram um sentido para a vida cotidiana. Mas essas pesquisas poderão contribuir para a própria instituição IPDA, justamente quando abordamos a questão da rotinização do carisma de seu líder fundador, David Martins de Miranda. Sendo uma empresa familiar, mantida até aqui sob forte controle pessoal de um líder carismático, certamente a reprodução dessa liderança encontrará obstáculos quando da indicação de eventual sucessor ou sucessores.

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com as devidas explicações sociológicas. Ainda neste bloco descrevemos como se deu a fundação da Igreja Pentecostal “Deus é Amor” (IPDA) e as marcas espaciais da sua expansão, a partir da década de 60. Finalmente analisamos a estrutura da IPDA com seus estatutos, regulamentos, suas características de igreja/seita e seu sistema de governo.

No segundo capítulo, procuramos mostrar a identidade, os padrões de crenças, ritos e processos de comunicação na Igreja Pentecostal “Deus é Amor”. Este capítulo foi dividido em vários temas, tendo sido o mais extenso desta Dissertação de Mestrado. No primeiro sub-tema, estudamos os padrões de crenças e doutrinas. No segundo, abordamos a questão dos ritos e interpretação bíblica. No terceiro, analisamos a maneira de circulação de regras dentro da IPDA. No quarto, abordamos a importância da mídia para David Martins de Miranda (DM). Finalmente, dedicamos um espaço para fazer algumas observações sobre o Batismo, Casamento, Louvores, Ministério de oração/jejum e como a IPDA lida com seus desviados (os que deixam a Igreja e querem voltar). Também estudamos características das exigências de santificação dentro da IPDA.

No terceiro capítulo, estudamos a Igreja Pentecostal “Deus é Amor” em sua política expansionista, tendo dividido a nossa Dissertação de Mestrado em quatro sub-temas. Em primeiro lugar, estudamos a preocupação com a necessidade de grandes templos por parte de DM. Em segundo lugar, como resultado dessa preocupação, as estratégias da IPDA para obtenção de recursos e suas implicações. Em terceiro lugar, levantamos os programas assistenciais da IPDA. Finalmente, em quarto lugar, analisamos a política de abertura e a liderança das filiais dessa Igreja.

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CAPÍTULO 1

Origens e expansão

da

Igreja Pentecostal

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Capítulo 1 - Origens e expansão da Igreja Pentecostal “Deus é Amor” –

IPDA

Introdução

A história da IPDA se confunde com a biografia, família e trajetória de vida de seu fundador, David Martins de Miranda (DM). Nascido e criado no estado do Paraná, DM ali viveu até completar 21 anos de idade. Em 1957, a família emigrou para São Paulo, então em fase de muitas opções de empregos. Por um ano DM permaneceu na religião católica. Em 1958 ele se converteu ao pentecostalismo. A sua inserção em igrejas pentecostais foi difícil, até que em 1962 resolveu fundar sua própria Igreja. Hoje a IPDA é a quinta igreja pentecostal mais numerosa no Brasil.16 Quase 50 anos se passaram. Já é tempo de se buscar a história dessa Igreja e traçar a sua trajetória, ainda hoje identificada com a história de seu fundador, hoje um “velho” missionário, mas cujo dinamismo lhe permite manter centralizado em suas mãos o controle dessa grande Igreja pentecostal.

1.1 – O fundador: aspectos biográficos

A partir do estado do Paraná e do sul do estado de São Paulo surgem os dois personagens que formarão a família Martins de Miranda. A vinda de ambas as famílias para a capital do estado de São Paulo, está inserida no contexto do êxodo rural para grandes centros urbanos os quais se desenvolviam pela industrialização posterior à Segunda Guerra Mundial. Eunice R. Durhan (1973: 113) afirma que o processo de imigração campo-cidade

... não decorre, em geral, de uma situação anormal de fome ou miséria, desencadeada por calamidades naturais. Ao contrário, a emigração aparece como resposta a condições normais de existência. O trabalhador abandona a zona rural quando apercebe que “não pode melhorar de vida”, isto é, que a sua miséria é uma condição permanente. Isto não quer dizer que calamidades naturais ou acidentes não sejam fatores que precipitem a emigração. Há, evidentemente, inúmeros fatores que influem na tomada de decisão: a perda da propriedade, a morte de um membro da família e conseqüentemente desorganização do grupo doméstico, a insistência de um parente que “está bem” em outro lugar.

David Martins de Miranda, filho de Roberto Miranda Ribeiro e Anália Martins de Miranda, nasceu no município de Reserva em 4/07/1936. A sua família, naquela época, era

16 IBGE – Censo Demográfico 2000: Igreja Assembléia de Deus 8.418.140; Congregação Cristã no Brasil

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dona de uma pequena parcela de terras (20 alqueires),17 resultante da fragmentação de uma gleba de 16 mil alqueires conhecida por “Fazenda Santa Elena”. Em 1953, a família mudou-se para Telêmaco Borba, onde David Miranda, então com 17 anos, foi trabalhar na fábrica de papel da Klabin, onde foi registrado em 11/05/53. Em 15/03/57 DM pediu demissão porque sua família estava de mudança para São Paulo. A sua trajetória do campo para a cidade é semelhante à da maioria de seus fiéis, que vêm do mundo rural, convertem-se a uma nova religião ao chegarem à cidade e, geralmente, a uma igreja pentecostal. Para Francisco Cartaxo Rolim (1985: 62) o catolicismo adotou uma estratégia equivocada, supondo que mantinha seu domínio sobre “setores populares das classes dominadas”, privilegiando as classes médias, se esquecendo dos migrantes rurais mais pobres.

Do seu lado, a Igreja Católica dava continuidade à sua aliança com o setor cafeicultor e com as classes médias, de cujo seio tirou sua elite de intelectuais leigos. Mas os setores populares das classes dominadas, que o catolicismo oficial supunha ter sob seu domínio, permaneciam à margem de um trabalho criativo que fosse ao encontro de sua espontaneidade e das raízes da sua fé. Ora, foi precisamente nesta extensa faixa dos econômica e culturalmente desprivilegiados que o pentecostalismo fincou as suas bases.

O pai de David Martins de Miranda (1992: 19-20) faleceu quando ele tinha 13 anos de idade. Sua família praticava o catolicismo típico das regiões rurais brasileiras, recebendo uma assistência periódica de padres católicos. É nesse período de formação que DM interioriza aspectos da doutrina católica romana, que mais tarde iria influenciar a sua maneira estabelecer os princípios que iriam reger a denominação pentecostal que fundou em 1962.

1.1.1 – Trajetória familiar do fundador: David Miranda

Saindo de um ambiente rural, como todo recém-chegado à cidade, DM começou a ressignificação seus valores já em Telêmaco Borba, onde trabalhou na indústria de papel dos Klabin por quase quatro anos. Isso significa que ele teve que ressignificar os seus valores, adaptando-se a um ambiente fabril, interagindo com novos atores sociais. O período foi relativamente curto, porque decorridos quatro anos seus familiares decidiram vender a

17 Vide Dossiê “IPDA” 8, Certidão do Ofício do Registro de Imóveis do município de Reserva no

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residência de Telêmaco Borba e mudar-se para São Paulo,18 capital de um estado pujante, centro urbano em fase de industrialização, onde DM enfrentou novos desafios para seu ajustamento social.

Ao chegar a São Paulo, David Miranda (1992: 62) empregou-se, aos 22 anos de idade, num escritório. No espaço de uma década, DM experimentou quatro mudanças ou situações críticas que abalaram sua estrutura psicossóciorreligiosa. A primeira foi a perda do pai no sítio; a segunda: deixou suas funções de trabalhador rural em plena adolescência, empregando-se numa grande indústria situada em uma pequena cidade; a terceira: mudou-se para São Paulo, e empregou-se num escritório, numa metrópole de alguns milhões de habitantes; a quarta: toda sua família se converteu ao pentecostalismo,19 ficando somente ele na religião anterior da família. Percebe-se que o estado de anomia de DM se manifestava de forma bem marcante, porque, no catolicismo, ele não encontrava apoio e nem se identificava com o catolicismo urbano de São Paulo, apesar de pertencer à Congregação Mariana. Em sua autobiografia, David Miranda (1992: 26) escreveu: “eu ia para a catedral católica na Praça da Sé e ficava ali por muitas horas lendo o catecismo e rezando; pedia aos santos que trouxessem de volta ao catolicismo toda a minha família e principalmente minha mãe.”

Porém, na maioria dos casos a conversão do catolicismo para o pentecostalismo é um caminho sem volta. Notemos que DM ainda lutou para permanecer na religião de seus antepassados. Mas, um ano e três meses após a chegada a São Paulo ele também se converte ao pentecostalismo. A não desconversão da família Miranda, como ele sonhava, deve-se aos fortes mecanismos que todo grupo religioso (assemelhado a uma seita) emprega para criar laços profundos de coesão social e de ligação entre os seus membros. Beatriz Muniz de Souza trata disso em seu texto pioneiro sobre o pentecostalismo no Brasil. Contudo, as exigências requeridas para pertencer a uma nova religião são compensadas pela coesão interna do grupo. Nesse contexto, cabe a afirmação de Beatriz Muniz de Souza (1969: 73, 81): “A disciplina

18 Durhan (1973: 113) analisou com precisão esse fenômeno: “Há, evidentemente, inúmeros fatores que influem

na tomada de decisão: a perda da propriedade, a morte de um membro da família e conseqüentemente desorganização do grupo doméstico, a insistência de um parente que “está bem” em outro lugar.” Nesse caso, observamos que, alguns anos depois que DM perdeu o seu pai, sua irmã Araci mudou-se para São Paulo e se instalou na rua Conde de Sarzedas na década de 50 conforme entrevista de Araci Miranda ao jornal O Estado de S. Paulo. (Sorano, 2008: C8).

19 Em 30 de dezembro de 2008, visitamos Araci Miranda, irmã de DM em sua loja à Rua Conde de Sarzedas,

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interna da ‘seita’ manifesta-se, também, através de rigor disciplinar que desce até a pormenores na aparência dos fiéis, que devem diferir das pessoas ‘do mundo’ por sua vestimenta recatada”. Além do mais, leva à “coesão interna para apoiar o membro”. Essa inclusão oferecida ao membro é explicada por Francisco Cartaxo Rolim (1985: 43): “Os crentes falam nos cultos, ora pregando ora trazendo seus testemunhos. Prega o pastor, prega o diácono ou o simples crente. Não denotam medo de falar em público, mas entusiasmo. Ser letrado ou não ter instrução não é exigência”. Assim, em 1958, começa a relação de DM com o pentecostalismo. Em 1962, iria fundar a própria igreja e, três anos depois, casaria-se com Ereni Oliveira.

1.1.2 – A trajetória familiar da esposa do fundador: Ereni Oliveira

Na sociedade brasileira, o casamento é uma forma de aliança que se estabelece entre um homem e uma mulher. Aparentemente, as escolhas são feitas ao acaso. Mas não é assim que acontece. Há determinações sociais que agem sobre o casal, fazendo com que a escolha recaia sobre pessoas de perfis semelhantes. Pois bem, qual era o perfil de Ereni que a aproximava de David Miranda? As informações sobre essa mulher que se tornaria o braço direito de DM nos foram fornecidas quase ao acaso, por um antigo amigo da família de seus pais. Jamil Fonseca Leite foi o informante no levantamento de dados sobre as origens dos Mirandas, quando de nosso contato (2008). Com 68 anos de idade, dos quais 63 anos em Telêmaco Borba, Leite é contabilista aposentado e estava prestando serviço de vigia na Câmara Municipal. Foi um encontrocasual que tivemos com ele, na praça diante da Prefeitura e da Câmara. Em conversa informal, Jamil nos disse que “conheceu David Miranda apenas de vista, quando moço”, mas sabia que a família veio do município chamado Reserva. Acrescentou que conheceu a família de Ereni, que ficou hospedada em sua casa por seis meses, quando os pais de Ereni procuravam uma oportunidade para se estabelecer em Telêmaco Borba. Ereni tinha então aproximadamente nove anos de idade, seus pais se chamavam Otávio Lagüista e a mãe, Áurea. Depois disso, a família voltou para Caputera, distrito de Itapeva, no estado de São Paulo. Posteriormente, em carta, Jamil20 escreveu:

“Minha mãe era sobrinha e afilhada de Da. Áurea, mãe da Ereni.” É provável que a parte

20 Carta em nosso poder datada de 30/7/08 (Dossiê “IPDA” 9). Nessa carta Jamil dá melhores informações sobre

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materna da família de Ereni venha a origem do sobrenome “Oliveira”, porque os filhos e as filhas de David Miranda trazem esse sobrenome.

Nota-se na ficha de David Martins de Miranda que o sobrenome de seus pais são; Miranda Ribeiro por parte de pai e Martins de Miranda por parte de mãe. O sobrenome “Oliveira não aparece; mas está no nome da Ereni. Inclusive ela chega a usar em artigos assinados em publicações da IPDA.21 Jamil nos contou ainda que os pais de Ereni cantavam na rádio de Itapeva e formavam uma dupla sertaneja. A mãe cantava e tocava pandeiro e o pai, além de cantar, tocava viola. Na expressão de Jamil, ele tinha um “vozeirão”; que, recentemente, seus familiares, já idosos passaram por São Paulo, vindos de Aparecida do Norte e resolveram procurar Ereni. Falou da dificuldade que encontraram com os seguranças da IPDA para atingir seus objetivos, mas, depois de muita insistência, Ereni os recebeu e perguntou quem eles eram realmente e o que desejavam. A mãe de Jamil tirou uma antiga foto de sua bolsa e mostrou para a Ereni, perguntando se ela se reconhecia com nove anos de idade, junto de seus familiares em Telêmaco Borba. Diz que Ereni abraçou-se com a mãe de Jamil, já idosa, e chorou emocionada.

1.1.3 – O casamento de David Miranda

Jamil, o nosso informante em Telêmaco Borba, em 2008, disse não saber como David se encontrou com Ereni, nem como se casaram, pois não mais acompanhou a vida deles. Afirmou também que David Miranda está muito rico e que “não liga” para eles, que apoiaram Ereni e seus pais nas dificuldades. Não conseguimos maiores detalhes sobre a mudança da família de Ereni para São Paulo e nem como ela se converteu ao pentecostalismo. Mas é possível que o mesmo modelo de imigração rural-urbana dos demais imigrantes tenha sido experimentado por essa família. De acordo com sua autobiografia,22 (Miranda: 1992: 71-72) David conheceu Ereni em São Paulo, numa vigília e casaram em 12 de junho de 1965, três meses depois de conhecê-la.

1.1.4 – A conversão de David Miranda ao pentecostalismo

O pentecostalismo, ao qual se filiou Miranda, tinha características bem diferentes daquele advindo com Francescon, que deu origem à Congregação Cristã no Brasil, em 1910.

21 Revista

Ide ano 7 no. 13. Seu nome Ereni Oliveira de Miranda consta de Ata de constituição da Diretoria da

IPDA, datada de 01 de janeiro de 2008, conforme Certidão: 3o. Oficial de Registro de Títulos e Documentos e

Civil de Pessoa Jurídica de 09/12/2008.

22 Embora uma autobiografia tenha sempre alguma característica tendenciosa, o texto de David Miranda serviu

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Também mantinha distância com o pentecostalismo de Berg e Vingren que originou a Assembléia de Deus (1911). As pesquisas realizadas por nós indicam que a conversão da família Miranda deu-se no contexto do movimento de tendas, cuja pregação era centrada em curas divinas. Daí saiu a Igreja do Evangelho Quadrangular, que remonta aos anos de 1906, com o movimento denominado Apostolic Faith Mission (Missão Fé Apostólica) da qual veio, em 1923, a International Church of the Foursquare Gospel, a Igreja do Evangelho Quadrangular, que se estabeleceu no Brasil poucos anos antes da conversão de DM. Miranda afirma em sua autobiografia que se converteu numa Igreja diferente daquela em que sua família congregava. Araci e Deamiro, que se converteram na Quadrangular, confirmam essa informação. Mas, certamente, não foi no movimento da Quadrangular que DM se converteu. O anexo 2, no final desta Dissertação de Mestrado, reproduz um mapa histórico para maior esclarecimento da filiação e formação desses movimentos.23 Sabemos, todavia, que as várias denominações surgidas na década de 50 estavam sob forte impacto das pregações de curas divinas influenciadas pelo movimento de tendas.

Paul Freston faz referência à conversão de DM aos primeiros anos em São Paulo, informações parcialmente confirmadas na autobiografia do fundador da IPDA. Além de Freston, outros autores pesquisaram esse tema sobre o qual não há consenso até este momento. Entendemos que as entrevistas de David Miranda e sua autobiografia devam servir como parâmetro, embora DM não mencione o nome da Igreja na qual se converteu.24

Eu era católico, nascido em berço católico, meus pais davam hospedagem para os padres, missionários, numa fazenda que nós tínhamos no interior do Paraná, porque lá não tinha Igreja Católica e os padres de três em três ou de seis em seis meses, iam e ficavam uma semana toda na casa da fazenda de meu pai. Era uma casa muito grande e ali o padre celebrava as missas, fazia os casamentos, celebrava os batismos de crianças, enfim, eu nasci num berço católico, aprendendo inteiramente com o padre sobre a doutrina católica

Nesse texto, David Miranda continua esclarecendo em que circunstâncias se converteu:

[...] no ano de 1958, dia 6 de julho, quando eu voltava de uma matinê dançante, eu passava em frente a uma Igreja e esta Igreja tinha poucos membros, era pequenina, todavia ali entrei [...] o pastor tinha sotaque baiano e chamava-se Pastor Jonas da Cruz, um senhor já bastante idoso [...] e ele então, lendo a Palavra de Deus, falava sobre o sacrifício de Abraão quando Deus pediu Isaque para ser oferecido em sacrifício a Deus.[...] No momento em que Abraão ia oferecer seu filho em holocausto, Deus providenciou o cordeiro para ali ser sacrificado em

23 Vide Anexo 2 – Mapa genealógico da IPDA (reprodução parcial do Mapa Histórico (Campos, 2005: 114) com

acréscimos a partir dos anos 50). 24DM. Entrevista em

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lugar de seu filho[...] E ele passou a mencionar sobre nosso Jesus que depois de ser maltratado, esbofeteado, terem posto uma coroa de espinhos em sua cabeça e terem feito tantos males a Ele, ainda o crucificaram e mataram[...] Naquela hora, eu me senti envolvido pelo Espírito de Deus. Eu não contive as minhas lágrimas. Pela primeira vez eu me reconheci como pecador diante de Deus.

Porém, nessa autobiografia Miranda (1992: 31-39), omite o nome da igreja e do pastor que pregava quando ele se converteu. Mas, o dia da conversão, 6 de julho de 1958, ele repete na entrevista de dezembro de 1999. Nas décadas de 80 e 90 era voz corrente na IPDA que David Miranda tinha se convertido na Igreja “Maravilhas de Jesus”.25 Numa visita feita a essa

Igreja, e na conversa informal que mantivemos com o presbítero Fiorindo Valoto (25 anos congregando naquela Igreja) e que lá se encontrava em novembro de 2008, esse presbítero confirmou que DM realmente se converteu na Igreja “Maravilhas de Jesus” – IMJ – fundada pelo pastor Leonel Silva, um afrodescendente, advogado ainda atuante.

Na primeira conversa ele não dispunha de tempo e confirmou rapidamente que ficou conhecendo David Miranda no primeiro dia em que ele entrou na Igreja “Maravilhas de Jesus”, mas que chegou com um violão e alcoolizado “querendo aceitar Jesus”, expressão comum entre evangélicos para a pessoa que se converte. Transcrevemos trecho extraído da conversa que tivemos26 quando da segunda visita à IMJ, em 24 de dezembro de 2008:

Voltamos ao assunto anterior, pedindo uns minutos da atenção dele, após mostrar a identificação da Universidade Metodista e esclarecer o motivo da visita, ou seja, a elaboração da Dissertação de Mestrado sobre a IPDA. O pastor Leonel atendeu com boa vontade, disse que DM apresentou-se com um violão, mas que estava embriagado, prometendo voltar na noite seguinte. Quando voltou, estava sóbrio, e aceitou Jesus no culto com o pastor Jonas da Cruz. Este pastor faleceu em 2007. Leonel explicou que DM congregou em sua Igreja por seis meses e que não foi batizado porque não estava preparado. Que DM queria ser logo pastor, mas que isso não seria possível. Que havia um presbítero semialfabetizado em sua Igreja que não concordava em muitas coisas e que saiu, dividindo a Igreja “Maravilhas de Jesus” e fundando a Igreja Pentecostal de Jerusalém, para onde DM foi congregar. O pastor Leonel não sabe onde DM foi batizado, mas sabe que David Miranda passou pela “Brasil para Cristo”, não se dando bem em nenhuma igreja, até fundar sua própria denominação a Igreja Pentecostal “Deus é Amor”.

As pesquisas que realizamos até este momento indicam as seguintes versões sobre o nome da Igreja na qual David Miranda se converteu.

25 A Igreja Cristã Pentecostal Independente “Maravilhas de Jesus” foi fundada em 1957, por Leonel Silva, que

completará 90 anos em 2009, tem a sua seda à Rua do Carmo 71-77, na Sé, no centro da capital paulista. Conversamos em duas ocasiões diferentes com esse pastor após o culto de sua Igreja em 3 e 24 de dezembro de 2008.

26 Dossiê “IPDA” 27 – Caderno de Campo. Visita de 24/12/08 à Igreja Cristã Pentecostal Independente

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Nome da Igreja Fonte

1) Igreja Jerusalém Paul Freston, Tese de doutorado, (2003: 92)

2) Brasil para Cristo R. Andrew Chesnut, Born Again in Brazil, (1997: 38)

3) Brasil para Cristo Allan Anderson An introduction to Pentecostalism, (2004: 72-73)

Este autor informa que DM é cunhado de Manoel de Mello o que é refutado por Freston. Cita texto

de Chesnut indicado acima.

4) Assembléia de Deus Isael Araújo: Dicionário do Movimento Pentecostal (2007: 462).

5) Assembléia de Deus Gilberto Stéfano27

6) Igreja “Maravilhas de Jesus” Pastor Leonel Silva, fundador da Igreja Cristã Pentecostal Independente “Maravilhas de Jesus” e Presbítero Fiorindo Valoto (informação obtida em conversa informal), nas visitas à sede da Igreja na Rua do Carmo 71/77, na Sé, no centro de São Paulo.)

Nas análises das informações acima, nota-se que Freston não dá sua fonte de referência, mas contesta Anderson. Assim, parece que os quatro autores Freston, Chesnut, Araújo e Anderson, com pequenas variações, bebem das mesmas fontes. Apesar de convivermos com DM e com seus familiares, naquela época não nos preocupávamos com essa questão. Por essa razão, não tínhamos a informação dada pessoalmente por DM ou por

27 Uma outra versão aparece em Gilberto Stéfano (2009) que segue desenhos de Araújo (2007: 462): “O

missionário David Martins Miranda, que tem origem assembleiana, deixou-a e fundou a IGREJA DEUS É AMOR em 1962. Esta igreja ainda está em ascensão. Cresce muito entre a população mais carente do país. O fato de seu fundador e líder ainda estar vivo ajuda muito a sua propagação. Seus programas de rádio têm grande audiência na camada mais pobre, e principalmente, nos moradores da zona rural. Muito parelha a esta igreja em doutrinas e costumes a IGREJA SÓ O SENHOR É DEUS, que tem como fundador o missionário Miranda Leal (Que dizem ser primo de Davi Miranda).”

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seus familiares. No período em que congregamos na Igreja Pentecostal “Deus é Amor”, jamais ouvimos David Miranda referir-se à denominação onde se converteu. Apenas ouvimos por terceiros que DM tinha se convertido na Igreja “Maravilhas de Jesus”. Entendemos, por questão de Marketing, que DM jamais divulgaria o nome da denominação concorrente porque considera as demais igrejas como “igrejas mundanas”. Na sua autobiografia consta “denominação diferente da minha”. Apenas em 3 de dezembro de 2008 obtivemos uma informação bastante confiável de que realmente DM se converteu na igreja do pastor Leonel Silva, tendo depois transitado por várias igrejas. Em 24 de dezembro de 2008, num segundo encontro, o próprio pastor Leonel Silva, fundador da Igreja Cristã Pentecostal Independente “Maravilhas de Jesus” – a IMJ, confirmou que DM, ao deixar a IMJ, passou pela “Pentecostal de Jerusalém”,28 depois pela “Brasil para Cristo”, saindo dessa peregrinação religiosa para

fundar sua própria denominação em 1962.

A respeito da situação em sua casa, quando de sua conversão ao pentecostalismo, em sua autobiografia, Miranda (1992: 40) afirma que “a bem da verdade, nós já quase nem nos falávamos mais, devido a tantas brigas dentro de casa por motivo de religião. Então, ninguém sabia ainda do ocorrido que transformara a minha vida. Eles congregavam em outra igreja cuja denominação era diferente da minha”. A igreja, “simples, humilde e pequena”, na expressão de DM era a Igreja Cristã Pentecostal Independente “Maravilhas de Jesus”, o pastor que pregava era o pastor Jonas da Cruz que permaneceu na IMJ até 2007, quando faleceu segundo informações do pastor Leonel Silva. Araci Miranda confirma a conversão de David Miranda na IMJ. Deamiro, esposo de Araci diz que o cunhado não parava em igreja nenhuma até fundar a própria igreja.

Para uma melhor compreensão da trajetória de vida familiar e religiosa de DM, registramos os dados levantados em uma tabela cronológica. Como se pode observar, David Miranda começa sua vida de proprietário de imóveis aos 34 anos de idade. Daí em diante suas aquisições em nome da IPDA vão se desenvolvendo aceleradamente nas duas décadas de sua vida.

1.1.5 – Conversão, trajetórias familiares e explicações sociológicas

As mudanças biográficas, que no meio religioso são chamadas de conversão, receberam o de alternação por Peter Berger. Essa passagem de um círculo para outro

28 Ainda segundo informações de Leonel Silva, a “Igreja de Jerusalém foi fundada por um presbítero semi-

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acontece, ainda segundo Berger, (2004: 18) porque “o homem não possui uma relação preestabelecida com o mundo. Precisa estabelecer continuamente uma relação com ele”. Ora, em um curto espaço de tempo DM experimentou quatro fases, cada qual contendo desafios para uma personalidade em fase de formação. Na última das crises vividas, DM passou a experimentar uma metanoia, palavra usada no vocabulário teológico para designar uma ressignificação dos valores sóciorreligiosos de um indivíduo. DM estava diante de diferentes campos ou espaços sociais fisicamente objetivados, todos eles relevantes para um momento de reorientação, conforme Bourdieu (1982: 160-161). Por sua vez, Mircea Eliade (2007: 132) considera que “colocado entre a aceitação da condição histórica e seus riscos, de um lado, e sua reidentificação com os modos da natureza, de outro, ele (DM – grifo nosso) escolheria uma tal reidentificação.” Pressupomos que David Miranda experimentou esse processo ao converter-se ao pentecostalismo. Para os que vivem experiências anômicas como essas, “a participação em processos dessa índole significa importante afirmação pessoal. [...] As pessoas nessas condições sentem-se valorizadas. Começam a experimentar a cota necessária de auto-estima necessária para tornar suportável a existência de qualquer ser humano”, escreveu Júlio de Santa Ana (1992: 13).

O mesmo processo se faz presente na maioria dos seguidores de David Miranda, pois quase todos eles também vieram do mundo rural. Santa Ana (1992:12) afirma que “a perda de raízes, a incapacidade de produzir sentido para a própria existência e a ausência de reconhecimento social levam muitos a se sentir ‘perdidos’. Nestas condições, a religião procura dar sentido em meio ao desespero”. A necessidade de conversão a uma nova religião em situação de anomia também pode ser analisada à luz da teoria de Thomas O’Dea (1969: 13-14), ao explicar que a “teoria funcional supõe que essa necessidade seja o resultado de três características fundamentais da existência humana. Em primeiro lugar a incerteza [...] caracterizada pela contingência [...] em segundo lugar [...] impotência [...]. Além disso, as sociedades existem em condições de escassez, a terceira característica fundamental da existência humana”. Segundo linha de argumentação semelhante, Lalive D’Epinay (1970: 60) escreve que

a tese que pretendemos sustentar, cujo tema já é clássico na sociologia das seitas, será a seguinte: O pentecostalismo apresenta-se como resposta religiosa comunitária ao abandono de grandes camadas da população, abandono provocado pelo caráter anômico de uma sociedade em transição.

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presente, mas também ao futuro. Pois o presente, representado pela “renúncia ao mundo” e o futuro na salvação eterna, a saber: “a condenação dos pecadores; necessidade de arrependimento; renúncia ao mundo; felicidade dos que alcançam a salvação.” (Souza: 97). “[...] Outro ponto doutrinário referido com certa constância nos sermões é o fim do mundo, quando ‘os ímpios serão condenados e os pecadores arrependidos alcançarão a salvação.” (Souza: 101). André Drooger (1992: 66) sustenta que “[...] em sociedades suscetíveis de mudanças rápidas e grandes contradições de interesses, a anomia mostra-se inevitável [...] A partir de suas próprias necessidades básicas, as pessoas vão em busca de nova comunidade [...] a anomia é irregularidade transitória, o consenso é a situação normal”. Mais adiante, acrescenta que “[...] a impotência dos pobres se converte, com a ajuda da força dos dons do Espírito (cura, profecia, dom de línguas) em força. Os desqualificados pelo mundo, em dado momento, desqualificam esse mesmo mundo”, completa Drooger (1992: 67).

Acreditamos que fatores ligados à anomia influenciaram profundamente a experiência de vida de DM, levando-o a se servir muito mais de novas ressignificações do que fora a sua formação católica rural. Num primeiro momento, DM foi aceito pelo novo grupo cuja liderança não admitia concorrência, razão de sua mudança para outra congregação, onde também não conseguiu se impor. “[...] depois de ter passado essa fase de lutas e provações, fiquei apenas freqüentando os cultos por uns 50 dias, mais ou menos, em diversas denominações diferentes”, afirma Miranda, (1992: 49).29 Tendo sido dispensado de seu

emprego, enfrentando praticamente sua última fase de rompimento de raízes, Miranda decidiu fundar sua própria denominação, como se pode observar na cronologia apresentada. Porém, houve um certo mistério sobre a conversão de DM ao pentecostalismo. Essa falta de informações, alimentada por ele mesmo, criou versões imprecisas sobre seu passado.

1.2 – A Igreja fundada por David Martins de Miranda

David Miranda, em sua autobiografia (Miranda, 1992: 62, 68, 69, 70 e 74) afirma que em março de 1962 iniciou seu trabalho num salão que ele próprio teria alugado com recursos da indenização recebida de seu emprego num escritório: “No final do mês de março, inauguramos a igreja na antiga Rua Setenta, hoje, Avenida Afonso Pena em Vila Alegre, região de Vila Maria.” O seu templo mais tarde mudou-se para a Rua Carmem Porto na Vila

29 Em 30 de dezembro de 2008 conversamos com Araci Miranda e Deamiro seu esposo os quais informaram que

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Medeiros; inaugurando então um templo em São José dos Campos, onde mantinha um programa na Rádio Piratininga daquela cidade. DM afirma que “o povo havia me ‘batizado’ com o título de maior pregador de curas divinas da época,” relatando algumas curas atribuídas a Deus enquanto ele orava. A igreja por ele fundada é centrada em sua própria liderança carismática, pois é tido como profeta ou o “homem de Deus”. Campos (1982: 96) faz referência ao uso constante em seu programa “A Voz da Libertação” como “o consagrado homem de Deus, Missionário David Miranda”. A IPDA sustenta uma visão do batismo com o Espírito Santo30, usando como base textos bíblicos do livro do profeta Joel e de livro dos Atos

dos Apóstolos. Assim, DM dispensa quaisquer referências aos reformadores Lutero, Calvino ou à tradição das igrejas protestantes, recurso típico do líder carismático, cujo tipo ideal foi elaborado por Max Weber (1982: 285): “O carisma só conhece a determinação interna e a contenção interna. 31 O seu portador toma a tarefa que lhe é adequada e exige obediência e um séquito em virtude de sua missão.” Entretanto, a capacidade ou o “dom missionário” que DM tem, inclusive para acumulação de patrimônio e riqueza, distancia-o do tipo de “carisma apostólico” referido por Weber (2004: 124).

Único obstáculo é, outra vez, aquela glorificação – inspirada no exemplo da vida missionária dos apóstolos – do carisma da pobreza apostólica entre os “discípulos” eleitos por Deus pela

“predestinação”, o que de fato significava uma repristinação parcial dos consilia evangélica. A

criação de uma ética profissional racional à maneira dos calvinistas foi com isso, quando nada, retardada, se bem que – como mostra o exemplo da transformação do movimento anabatista – não totalmente excluída (sendo pelo contrário preparada espiritualmente por intermédio da idéia de trabalhar exclusivamente “por causa da vocação”).

Porém, DM encarna bem o tipo ideal do líder carismático que se fundamenta somente no seu próprio capital adquirido, tal como nos apresenta Pierre Bourdieu (1982: 59):

A gestão do depósito do capital religioso (ou sagrado), produto do trabalho religioso acumulado e o trabalho religioso necessário para garantir a perpetuação deste capital garantindo a conservação ou a restauração do mercado simbólico em que o primeiro se desenvolve, somente podem ser assegurados por meio de um aparelho de tipo burocrático que seja capaz, como por exemplo a Igreja, de exercer de modo duradouro a ação contínua

30 BURGESS, Stanley M; McGEE, Gary B. (1996: 415) esclarecem, numa tradução livre que fizemos do texto:

“Pentecostais usam o termo ‘batismo no Espírito’ para se referirem à efusão inicial dos crentes com o Espírito e consideram isso como a experiência de poder que foi acompanhada por falar em línguas no Dia de Pentecostes (At 2.4)”.

31 Atos 2.1-12 – Parte do texto do livro de Atos: V.1: “E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos

Referências

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