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Insônia na infância e adolescência: aspectos clínicos, diagnóstico e abordagem terapêutica.

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www.jped.com.br

ARTIGO

DE

REVISÃO

Insomnia

in

childhood

and

adolescence:

clinical

aspects,

diagnosis,

and

therapeutic

approach

Magda

Lahorgue

Nunes

a,∗

e

Oliviero

Bruni

b

aFacultyofMedicine,PontifíciaUniversidadeCatólicadoRioGrandedoSul(PUCRS),PortoAlegre,RS,Brasil bDepartmentofSocialDevelopmentandPsychology,UniversidadeLaSapienza,Roma,Itália

Recebidoem7demaiode2015;aceitoem9dejunhode2015

KEYWORDS Insomnia; Sleepdisorders; Childhood; Adolescence

Abstract

Objectives: Toreviewtheclinicalcharacteristics,comorbidities,andmanagementofinsomnia inchildhoodandadolescence.

Sources: Thiswasanon-systematicliteraturereviewcarriedoutinthePubMeddatabase,from wherearticlespublishedinthelastfiveyearswereselected,usingthekeyword‘‘insomnia’’ andthe pediatric agegroup filter.Additionally, the study also includedarticles andclassic textbooksoftheliteratureonthesubject.

Datasynthesis: Duringchildhood,thereisapredominanceofbehavioralinsomniaasaformof sleep-onsetassociationdisorder(SOAD)and/orlimit-settingsleepdisorder.Adolescentinsomnia ismoreassociated withsleephygieneproblems anddelayedsleepphase. Psychiatric (anxi-ety,depression)orneurodevelopmentaldisorders(attentiondeficitdisorder,autism,epilepsy) frequentlyoccurinassociationwithorasacomorbidityofinsomnia.

Conclusions: Insomnia complaintsinchildren andadolescentsshouldbe takeninto account andappropriatelyinvestigatedby thepediatrician, consideringtheassociationwithseveral comorbidities,whichmustalsobediagnosed.Themaincausesofinsomniaandtriggeringfactors varyaccordingtoageanddevelopmentlevel. Thetherapeuticapproach mustincludesleep hygieneandbehavioraltechniquesand,inindividualcases,pharmacologicaltreatment. ©2015SociedadeBrasileiradePediatria.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Allrightsreserved.

PALAVRAS-CHAVE Insônia;

Distúrbiosdosono; Infância;

Adolescência

Insônianainfânciaeadolescência:aspectosclínicos,diagnósticoeabordagem

terapêutica

Resumo

Objetivos: Revisarascaracterísticasclínicas,ascomorbidadeseomanejodainsônianainfância eadolescência.

DOIserefereaoartigo:

http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2015.08.006

Comocitaresteartigo:NunesML,BruniO.Insomniainchildhoodandadolescence:clinicalaspects,diagnosis,andtherapeuticapproach. JPediatr(RioJ).2015;91:S26---35.

Autorparacorrespondência.

E-mail:nunes@pucrs.br(M.L.Nunes).

(2)

Fontedosdados: Revisãonão sistemáticadaliteraturafeitanabasedadosPubMed,naqual foram selecionados artigospublicados nos últimos cincoanos, com ouso da palavra-chave insôniaeofiltrofaixaetáriapediátrica.Adicionalmenteforamincluídosartigoselivros-texto clássicosdaliteraturasobreotema.

Síntesedosdados: Na infância existe predomínio da insônia comportamental na forma de distúrbiodeiníciodosonoporassociac¸õesinadequadase/oudistúrbiopelafaltade estabeleci-mentodelimites.Naadolescênciaainsôniaestámaisassociadaaproblemasdehigienedosono eatrasodefase.Transtornospsiquiátricos(ansiedade,depressão)oudoneurodesenvolvimento (transtornododéficitdeatenc¸ão,autismo,epilepsias)ocorremcomfrequênciaemassociac¸ão oucomocomorbidadedoquadrodeinsônia.

Conclusões: A queixadeinsônianascrianc¸asenosadolescentesdeveservalorizada e ade-quadamenteinvestigadapelopediatra,quelevaráemconsiderac¸ãoaassociac¸ãocomdiversas comorbidades,quetambémdevemserdiagnosticas.Ascausasprincipaisdeinsôniaefatores desencadeantesvariamdeacordocomaidade eonível dedesenvolvimento.Aabordagem terapêuticadeveincluirmedidasdehigienedosonoetécnicascomportamentaiseemcasos individualizadostratamentofarmacológico.

©2015SociedadeBrasileiradePediatria.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todososdireitos reservados.

Introduc

¸ão

Osdistúrbiosdosono(DS)constituemumaqueixafrequente nasconsultasmédicasderotinaecadavezmaisopediatra necessitaestarinstrumentalizadoparaoseucorreto diag-nósticoe manejoe evitar,assim, oencaminhamentopara consultasespecializadaseexames/intervenc¸õesexcessivos edesnecessários.

Os DS, em sua maioria, apresentam-se na forma de entidade primária, mas também podem estar associa-dos a doenc¸as orgânicas diversas (ex: asma, obesidade, doenc¸as neuromusculares, refluxo gastroesofágico, epi-lepsia, transtorno da atenc¸ão, transtorno do espectro autista)oucomorbidadespsiquiátricas(ansiedade, depres-são,bullying).

Aapresentac¸ãoclínicaévariávelemúltipla.Duranteos primeirosanos devida sãomaisfrequentes asqueixas de dificuldadesparainiciarosonoe/oudespertaresnoturnos frequentes.A seguirtemos asparassonias(despertar con-fusional)eosdistúrbiosrespiratóriosdosono(síndromeda apneiahipopneiaobstrutiva).Apartirdaidadepré-escolar ocorremosdistúrbiosrelacionadosaquestõesdehigienedo sonoinadequadaenaadolescênciaosdistúrbios relaciona-dosaquestõescircadianas(atrasodefase)ouamovimentos excessivosduranteosono(síndromedaspernasinquietas). Nestarevisão vamosfocar umDSfrequente,a insônia, que durante a infância pode se apresentar de forma clí-nicadiversa,commanejotambémdiverso.Iremosabordar aspectosclínicos,diagnóstico,comorbidadeseterapêutica, comoobjetivodedaraopediatraumavisãogeraldo pro-blemaeinstrumentosparaseudiagnósticoemanejo.

Características

do

sono

e

classificac

¸ão

dos

distúrbios

do

sono

Recomendac¸ões sobre a durac¸ão do sono em crianc¸as e adolescentes variam de acordo com a fonte consultada. RecentementeaNationalSleepFoundationpublicouum con-sensobaseadoempaineldeespecialistasnoqualparacada

faixaetáriaseencontraarecomendac¸ãosobreashorasde sonoideaiseumafaixadevariabilidadequecontémashoras desonoaceitáveis1(tabela1).

Os despertares noturnos ocorrem com frequência na infânciaesuadistribuic¸ãovariacomaidade.Nosprimeiros seismesesde vidase concentram em 1-2 picosnoturnos, apóso 6o mêsseguem umadistribuic¸ão queacompanha o

ciclodesono(quedura90-120minutos)eocorremmais fre-quentementenafaseREM.Nessescasosonaturaléacrianc¸a voltaradormirespontaneamente.2

A classificac¸ão dos DS é proposta pelaAcademia Ame-ricanadeMedicina doSono erecentemente foilanc¸ada a ICSD-3que éa versãoatualizadadaICSD-2, publicada em

Tabela1 Durac¸ãodosonoa

Faixaetária Horasde sonoideais

Horasdesono aceitáveis (máximo emínimo)

Recém-nascidos (0-3meses)

14-17 18-19e11-13

Lactentes (4-12meses)

12-15 16-18e10-11

Crianc¸as(1-2anos) 11-14 15-16e9-10 Pré-escolares(3

e5anos)

10-13 14e8-9

Escolares (6-13anos)

9-11 12e7-8

Adolescentes (14-17anos)

8-10 11e7

Jovens (18-25anos)

7-9 10-11e6

Adultos (26-64anos)

7-9 10e6

Idosos(>65anos) 7-8 9e5-6

a Recomendac¸õesdaNationalSleepFoundation,2015,

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Tabela 2 Prevalência de distúrbios do sono na infância segundoaICSD-3

Distúrbio Prevalência

Insônia 20-30%

Distúrbiosrespiratórios dosono

2-3%

Hiperssonias 0,01-0,20%

Distúrbiosdoritmo circadiano

7%

Parassonias 25%

Distúrbiosdomovimento relacionadosaosono

1-2%

2005. Essa revisão da classificac¸ão manteve os princípios básicos da anterior e identificou sete categorias maiores deDS:insônia,distúrbiosrespiratóriosdosono, hipersono-lênciacentral,distúrbiosdoritmocircadiano,distúrbiosdo movimento durante o sono, parassonias e outros.2 Houve umauniformizac¸ão doscritérios diagnósticosparaadultos e crianc¸as e foi mantido o reconhecimento de situac¸ões específicasidade-dependente.A tabela 2mostra a preva-lênciados diferentesDSna infância, segundoa Academia AmericanadeMedicinadoSono.3

Definic

¸ão

de

insônia

A insônia pode ser definida como a dificuldade de ini-ciar o sono (em crianc¸as considera-se a dificuldade que ocorrepara iniciaro sono sem a intervenc¸ão de cuidado-res);oudemanterosono(despertaresfrequentesdurante anoiteedificuldade deretornarao sonosemintervenc¸ão decuidadores);oudespertarantesdohoráriohabitualcom incapacidade de retornar ao sono. A insônia podecausar sofrimentoeprejuízonofuncionamentosocial,profissional, educacional-acadêmicooucomportamental.2

Prevalência

da

insônia

OsDSquesemanifestamcomdificuldadedeconciliarosono e/oudificuldadedemanutenc¸ãodosono(devidoa desper-tares noturnos) atingemem torno de 30% dascrianc¸as. O aumentodaprevalência,quefoiobservadonosúltimosanos, estáintimamente relacionado a hábitossociaisnoâmbito familiar,existe muitasvezes umadiferenc¸a entreoritmo sono-vigílianaturaldacrianc¸aeasexigênciassociais.Esse distúrbio,quandocrônico,podetercomoconsequência efei-tosdeletériosnodesenvolvimentocognitivo,na regulac¸ão dohumor, na atenc¸ão, nocomportamentoe na qualidade devida, nãosomente da crianc¸a,mas de toda afamília, o que resultandoem privac¸ão desono nospais com con-sequênciasemsuasatividadeslaborais.4,5

Osdadosdaprevalênciadeinsôniavariamdeacordocom aidade.Nosprimeirosdoisanosdevida,astaxassãoaltas, em torno de30%, e após o terceiro ano devida a preva-lênciamantém-seestável,emtorno de15%.Éimportante ressaltarque como a definic¸ão e o diagnóstico deinsônia variambastanteentreosestudosdisponíveis,issoinfluencia diretamentenosdadosdeprevalência.4,5

Em estudo de base populacional, feito na Pensilvâ-nia, foi evidenciado que uma a cada cinco crianc¸as ou

pré-adolescentesapresentamsintomasdeinsônia.A preva-lênciamaisalta(emtornode30%)ocorreemmeninasentre 11-12anos,oquepareceestarmaisrelacionadoaalterac¸ões hormonaisdoqueaansiedade/depressão.6

NaChinafoifeitooutro grandeestudodebase popula-cional,emduasetapasdecoletadedadosecomintervalo decincoanosentreelas.Foievidenciadoaumentoda pre-valência deinsônia de 4,2% para6,6% e da incidência de 6,2%para14,9%.Oscasosiniciaisestavamassociadosa ques-tõesdesaúde(laringofaringite)eestilodevida(consumode cafeína,tabagismo)eosnovoscasosestavamassociadosa baixo nível educacionaldos pais,usode álcoole doenc¸as mentais.7

Estudodebase populacionalfeitona Noruegasomente com adolescentes evidenciou que em dias de semana a médiadehoras/sonofoide6h25m,oquelevouaum défi-cit de mais ou menos duas horas e que a maioria (65%) apresentavalonga latênciaparainiciarosono(>30 minu-tos).Aprevalênciadeinsônianessapopulac¸ãofoide23,8% peloscritériosdoDSM-IV,18,5%peloDSM-Ve13,6%quando usadoscritériosquantitativos.8

Tipos

de

insônia

de

acordo

com

a

faixa

etária

Emcrianc¸asainsôniatemcaracterísticasclaramente com-portamentaisepodeserdefinidaemdoistiposprincipais,o distúrbio deinício dosono porassociac¸õesinadequadase odistúrbioporfaltadeestabelecimentodelimites.9

1) Distúrbiodeiníciodosonoporassociac¸õesinadequadas: Nessa condic¸ão o lactente aprende a dormir sob uma condic¸ão específica (objeto, circunstância) que geralmenterequerintervenc¸ão/presenc¸adospais.Após um despertar fisiológico noturno, necessita da mesma intervenc¸ãoparavoltaradormir.Apesar donúmerode despertaressernormalparaaidade,oproblemaocorre pelaincapacidadedevoltaremadormirsozinhos,oque prolonga o períodoacordado. O diagnóstico é baseado na história de umalonga latênciapara iníciodo sono, requercondic¸õesespecíficas epré-determinadas,além denecessidadede intervenc¸ão docuidador duranteos despertaresnoturnos.Pordefinic¸ãoocorrem2-3 desper-tares/noitecomdurac¸ãoentre5-10minutosousuperior, cinco vezes na semana. Esse tipo de insônia tende a desaparecerem tornode3-4anos deidade.A polisso-nografiaénormalseasassociac¸õesestiverempresentes parafacilitaroiníciodosono.Odiagnósticodiferencial comoutrostiposdeinsôniaocorrepelorápidoadormecer seassociadoàscondic¸õesiniciais.Aabordagem terapêu-ticadeveserprogramadapormeiodaextinc¸ãogradual doestímulodeassociac¸ão.2,5

(4)

doleitoouchamandoospais.Apolissonografiaénormal, poisumavezqueacrianc¸aadormece aarquiteturado sonoéadequada.Paraodiagnósticodiferencialé impor-tanteanalisararelac¸ãoeposturadospaiscomacrianc¸a. Omanejoenvolvebasicamenteospais,quedevemexpor os limites/regras e serem rígidos com o cumprimento deleseousodetécnicascomportamentais.Éaceitável ousodeindutordesonoanti-histamínicoou benzodiaze-pínicoportempolimitadoeenquanto seconsolidamas técnicascomportamentais.2,5Emalgumascrianc¸aspode ocorrerumacombinac¸ão entreosdoistiposde insônia comportamental.5

Estudos demonstram que o sono tem papel crucial nodesenvolvimento saudável dos adolescentes. Entre-tanto,duranteaadolescênciaémuitocomumocorrerem alterac¸õesnopadrãodesonodevidoafatoresbiológicos eambientais,taiscomohoráriotardiodedormir,higiene dosonoinadequada,restric¸ãoefragmentac¸ãodosono. Ainsônianessafaixaetáriaestáassociadaaprognóstico desfavorávelem termosdesaúdemental,desempenho escolarecomportamentoderisco.2

Naadolescênciaainsôniapodeestarrelacionadaauma higieneinadequadadosono,aoatrasodefaseouterorigem psicofisiológica.

1) Insôniaporhigieneinadequada:

Durante a adolescência a insônia apresenta carac-terísticas relacionadas à mudanc¸a de hábitos sociais (tendênciaadormirmaistarde)eaproblemasde higi-ene do sono. São considerados hábitos de higiene do sono inadequados: dormir após as 23 horas e acordar após as8 horas; esquemairregular de sono entredias de semana e fim de semana; uso de substâncias exci-tantesoudrogas (lícitase ilícitas);excesso decafeína nofimdatarde ouà noitee/ou usodeaparelhos ele-trônicos no quarto antes de dormir (TV, computador, celular).Tambémteminfluêncianaqualidadedosonoa pressãosocialefamiliar;mudanc¸ashormonaisea neces-sidade do sentido de pertencimento a um grupo.10 A insôniaporhigieneinadequadalevaaaumentoda latên-ciado sono e reduc¸ão do tempo total de sono. Como consequência resulta em sonolência excessiva diurna e/ouhiperatividade,problemas escolaresede relacio-namento,inversãodociclosono-vigília.11,12Éimportante o diagnóstico diferencial com patologias psiquiátricas, taiscomodepressãoeesquizofrenia.Lembramosquea insônia pode ser o sintoma inicial dessas morbidades. Omanejoterapêuticoconsisteemseguirumarotina ade-quadadehigienedosono,terapiacomportamentaleem casosselecionadosousodemelatonina.5

2) Insôniaporatrasodefase:

Definido como atraso (retardamento) do horário de dormirquelevacomoconsequênciaaumdespertar tar-dio.Esseéumdistúrbioderitmocircadiano,queocorre emadolescentes emfunc¸ãodealterac¸õeshormonaise com desvio do horário de sono noturno em func¸ão de marcapassoendógeno.Éumacausafrequentedeinsônia epodeocorreremoutrasidades,alémdaadolescência. Osconflitosocorremporqueohoráriodedeitarnão coin-cide com ohorário de sono e o adolescentese recusa

a ir dormir e tem dificuldade de acordar de manhã. Geracomoconsequênciasintomasdeprivac¸ãodesono, hiperatividade,agressividadeeatéproblemasde apren-dizagememfunc¸ãodasonolênciaexcessivadiurna.Após conseguiremdormir,osonoétranquilocomestruturae durac¸ãoadequada(senãotiveremdeseracordadosde manhã).Atentativadecompensarasonolênciacom ses-tasduranteodiaoucomhoráriolivredesononosfinsde semanalevaamaisatrasodefaseànoite.Omanejoideal consisteemreadequarohoráriodeiníciodosono.Ouso de melatoninaem dose baixa (1mg), nofim datarde, provousereficazemcorrigiroatrasodefaseemestudo duplo cego feito com populac¸ão de adolescentes.13 Aassociac¸ãoentreatrasodefasecomocausadeinsônia emadolescentestemsidobastanteexploradana litera-tura.Emestudodebasepopulacional,feitonaNoruega, que incluiu 10.220 adolescentes entre 16-18 anos, foi observado atraso de fase em 3,3% da populac¸ão. Mais dametadedessesadolescentes(54%dasmeninase57% dosmeninos)tambémtinhacritériosparainsônia. Adi-cionalmenteodiagnósticodeatrasodefaseacarretava risco três vezesmaior defaltas na escola parao sexo masculinoe1,8vezparaofeminino.14

3) Insôniapsicofisiológica:

Caracterizadaporumacombinac¸ãoentreassociac¸ões previamentevividasehipervigilância.Aqueixaconsiste emumapreocupac¸ãoexageradacomodormir,ou conse-guirdormir,ecomosefeitosadversosdo‘‘nãodormir’’ nodiaseguinte.Essetipodesituac¸ãoocorrepormeiode umacombinac¸ãoentrefatoresderisco(vulnerabilidade genética, comorbidades psiquiátricas), fatores gatilho (estresse)eoutrosfatores(máhigienedosono,usode cafeína,etc.).5

Características

clínicas

Entre osfatores que predispõem a insônia destacamos: a ordem de nascimento (mais prevalente nos primogênitos e/oufilho único);fatoresgenéticos(históriafamiliar posi-tiva);temperamento(variabilidadedohumor);presenc¸ade psicopatologiaoudepressãomaterna; comportamentodos cuidadores durante o despertar noturno (a tendência de fazeradormecernocolooupegarolactentenocolo ime-diatamenteapós o despertarnoturno tendea cronificara insônia);alimentac¸ãonoturna(osdespertaresnoturnossão maisfrequentes em lactentescomregimedealeitamento maternoentreseise12mesesepersistempormaistempo nascrianc¸as quecontinuamapós12meses)ecoleito (fre-quentementeassociadoàinsônia).2

(5)

Tabela3 Causase/oufatoresprecipitantesdeinsôniade acordocomafaixaetária

Faixaetária Causas

Lactente Distúrbiodeiníciodosono porassociac¸õesinadequadas Alergiasalimentares Refluxogastro-esofágico Cólicasdolactente Ingestãonoturnaexcessiva delíquidos

Otitemédiaagudaououtras doenc¸asinfecciosas

Doenc¸ascrônicas

2-3anos Distúrbiodeiníciodosono porassociac¸õesinadequadas Medo

Ansiedadedeseparac¸ãodospais Sestasprolongadasouemhorários inapropriados

Doenc¸asinfecciosasagudas Doenc¸ascrônicas

Pré-escolareescolar Distúrbiopelafaltade estabelecimentodelimites Medo

Pesadelos

Doenc¸asinfecciosasagudas Doenc¸ascrônicas

Adolescente Problemasdehigienedosono Atrasodefase

Comorbidadespsiquiátricas (anisedade,depressão,TDAH) Pressãofamiliar,escolar Distúrbiosrespiratóriosdosono Distúrbiosdomovimento Doenc¸asinfecciosasagudas Doenc¸ascrônicas

expectativa média para sua idade e nível de desenvolvi-mento) pode ocorrer. Nesses casos o sono tem qualidade (organizac¸ão)normal.15

Investigac

¸ão

clínica

Parao diagnósticodainsôniaé defundamental importân-ciaumaboa anamnese, na qual a rotina deadormecer e ascaracterísticasdosonoedodespertardevemser inves-tigadas.Deve-seavaliaroimpactoqueodistúrbiodosono causana vidadacrianc¸ae naestruturafamiliar.O exame físicocompletotambémauxiliaaexcluirpossíveiscausasde insôniasecundária.2,5,16

Adetecc¸ãoprecocedosdistúrbiosdosonoéfundamental paraqueomanejoadequadosejaestabelecidoequeo prog-nósticosejafavorável.Naconsultapediátricaderotinaum instrumentoque podeauxiliar na triagemé o algorítmico Bears(Bedtimeroutines,Excessivedaytimesleep, Awake-ningsduringnight,Regularityofdurationofsleep,Snoring), compostodecinco questõesde fácil aplicac¸ão e que evi-denciaumbompoderdedetecc¸ãodealterac¸õesdosono.17

A tabela 4 mostra as perguntas-gatilho para uma correta avaliac¸ãodosono.

Outraopc¸ãoque auxiliaaverificaradimensãodo qua-drodeinsôniaé ousodediáriosdosono.Essespermitem avaliaroritmocircadianoeotempo(quantidadedesono). Algumasperguntaspodemserdirigidasparaavaliaros hábi-tos e rotina do sono. O diário deve trac¸ar o período de 24horaseconterinformac¸õesrelativasaumperíodomédio deduassemanas.

Adicionalmente,questionários validados que avaliam a qualidadedosonotambémsãobastanteúteisedevemser associadosàentrevistaeaodiáriodosono.

Paracrianc¸asatétrêsanosrecomendamosousodoBrief Infant Sleep Questionnaire idealizado por Sadeh et al. e comversãovalidadaemlínguaportuguesa.18,19Paracrianc¸as acima de três anos indicamos a Sleep Disturbance Scale for Children,proposta porBrunietal.e tambémvalidada paraportuguês.20,21Aversãoemportuguêsbrasileirodessa escalaencontra-sedisponívelnaversãodigitaldesteartigo (AnexoA).

Aactigrafiaétambémumamaneirasimplesdeavaliaro ritmosono-vigília.Esseequipamentotemoformatodeum relógiode pulso emonitora osmovimentos corporais.Por meiodeumsoftwarepodemosanalisarossinaisobtidose correlacionarcomoestadodacrianc¸a.Podeserusadoem qualqueridade.22

A polissonografia (PSG) é o exame padrão-ouro para avaliac¸ão do sono. Consiste no registro de eletroence-falograma (EEG) associado a outras variáveis fisiológicas (movimentos oculares, eletromiograma submentoniano, canais respiratórios, eletrocardiograma, saturac¸ão de oxi-gênio, movimentos de perna, sensor de posic¸ão, sensor de ronco). Permite uma análise completa da arquitetura do sono, eventos respiratórios e movimentos corpo-rais. Auxilia na avaliac¸ão da organizac¸ão do sono, do tempo dormindo, da latência do sono e no diagnós-tico diferencial entre eventos motores epilépticos e não epilépticos.23

Comorbidades

1) Depressão

Doenc¸as psiquiátricas geralmente estão associadas a problemasnosono,taiscomohiperssonia,fadiga,padrão sono-vigíliairregular,pesadelos,entreoutros.Crianc¸as com depressão maior apresentam alta prevalência de insônia(emtornode75%),30%insôniagrave.Ousode medicac¸õespsicotrópicastambémpodeafetar negativa-menteosono.Poroutrolado,existemnovasevidências sugerindoqueainsônianainfânciasejaperseumfator deriscoparaodesenvolvimentodedistúrbios psiquiátri-cosnaadolescênciaeidadeadulta.5

(6)

Tabela4 AlgoritmoBearsa

Bears 2-5anos 6-12anos 13-18anos

Problemasao deitar/dormir

Seufilhotemalgum problemanahoradedormir ouparainiciaradormir?

Seufilhoapresentaalgum problemanahoradedormir? Vocêtemalgumproblemapara irdormir?

Vocêtemproblemaspara iniciaradormirquandoéhora dedeitar?

Sonolência excessivadiurna

Seufilhoaparentaestar cansadoousonolento duranteodia?Aindafaz sestas?

Seufilhotemdificuldadepara acordardemanhã,aparenta estarcansadoousonolento duranteodiaoufazsestas? Vocêsesentecansado?

Vocêtemsonoduranteodia? Naescola?Quandoestá dirigindo?

Despertares duranteanoite

Seufilhoacordamuito duranteanoite?

Seufilhoacordamuitodurante anoite?Tempesadelosou sonambulismo?

Vocêacordamuitodurantea noiteeapresentadificuldade paravoltaradormir?

Vocêacordamuitodurantea noiteeapresentadificuldade paravoltaradormir?

Regularidadee durac¸ãodosono

Seufilhotemumarotina regularemrelac¸ãoahorário dedormireacordar? Quaissão?

Aquehorasseufilhovaidormir equehorasacordaemdias escolares?Enosfinsde semana?Vocêachaquea quantidadedosonoé suficiente?

Aquehorasvocêdeitaemdias deescola?Enosfinsde semana?Quantotempovocê dorme?

Ronco Seufilhoroncaoutem dificuldadepararespirar ànoite?

Seufilhoroncaoutem dificuldadepararespirar ànoite?

Seufilhoronca?

Fonte:ModificadodeMindell&Owens.17

Bears,Bedtimeroutines,Excessivedaytimesleep,Awakeningsduringnight,Regularityofdurationofsleep,Snoring.

aAsperguntasnafaixaetária2-5anossãodirigidasaospais/cuidador,entre6-12anosaospais/cuidadoreseàprópriacrianc¸a,entre

13-18anosdiretamenteaoadolescenteeaúltima(ronco)tambémaoacompanhante.

2) Transtornodedéficitdeatenc¸ãoehiperatividade(TDAH) Estima-se que em torno de 25 a 50% das crianc¸as comTDAHapresentemdistúrbiosdosono.Mianoetal. sugeremdiferentespadrões,entreeleshiperexcitac¸ão, atraso de latência, associac¸ão com distúrbios respira-tórios, associac¸ão com síndrome das pernas inquietas e associac¸ão com epilepsia.25 Crianc¸as com o sub-tipocombinado deTDAH(hiperatividadeedesatenc¸ão) tendematermaisproblemasdesono.Estratégias rela-tivas à melhor higiene do sono e rotinas positivas do sono são eficazes nessas crianc¸as. Em casos selecio-nados pode ser necessário o uso de fármacos para tratamento dainsônia,taiscomo alfa-agonistas (cloni-dina), indutores não benzodiazepínicos (zolpidem) ou melatonina.26

3) Transtornodoespectroautista(TEA)

TEA é composto por distúrbios do neurodesenvolvi-mento(doenc¸aspervasivas,Asperger)caracterizadospor significativadisfunc¸ãonainterac¸ãosocialecomunicac¸ão (linguagem). Distúrbios do sono são comuns nessa populac¸ão e têm efeitos graves na qualidade de vida dacrianc¸aafetadae desuafamília. Restric¸ãodesono tem sido associada a maior frequência de estereoti-piasepioresescoresdegravidade.Aqueixadeinsônia caracterizada por longa latência para iniciar o sono, resistênciapara dormir, reduc¸ão daeficiência dosono e despertares noturnos é de grande preocupac¸ão para

os pais. Nas crianc¸as menores, observa-se adicional-mente maior prevalência de insônia comportamental (problemasdeassociac¸ãoparainiciodosonoefaltade limites).27

4) Epilepsia

Pacientes com epilepsia apresentam diversas alterac¸ões na macro e microarquitetura do sono, tais como aumento da latência para início do sono, reduc¸ão da eficiência do sono, reduc¸ão do sono REM e fragmentac¸ão do sono (principalmente aqueles que apresentam crises noturnas ou epilepsias refratárias). Também é frequente a queixade sonolência excessiva diurnaemáqualidadedosono.28---30

5) SíndromedeTourette

PacientescomsíndromedeTouretteapresentam fre-quentementetranstornodeatenc¸ãoedistúrbiosdosono. AinsôniaéoDSmaisfrequenteegeralmenteéassociada adistúrbiocomportamentalduranteosono.31

Abordagem

terapêutica

O tratamento da insônia inicia com uma avaliac¸ão com-pletadascausasedosfatoresdesencadeantes.Aeducac¸ão dos pais sobrehigiene e rotinas adequadas de sono deve ser feita pelo pediatra nas consultas de puericultura. Na

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Tabela5 Recomendac¸õesderotinasdesono

Recomendac¸õesgerais

Colocarobebê/acrianc¸anoberc¸o/camaaindaacordado Encorajarapraticadeadormecersozinhosemintervenc¸ão

dospais/cuidadores

Evitarfazeracrianc¸adormir,nocolo,nocarrinhoou emoutrolocalquenãosejaemseuquarto/suacama Usarumobjetodetransic¸ãoparaoadormecer

Evitarusaramamadeiraparaadormeceracrianc¸a Terhoráriosregularesparaatividadesdiurnasenoturnas Estabelecerrotinasdepreparodosonoconsistentesque excluamatividadescompotencialdeexcitaracrianc¸a Diferenciaratividadesdiurnasdasnoturnas

Estabelecerhoráriodedormireacordarquesejaadequado àidadeeàscaracterísticaspessoaisdacrianc¸aeassuas atividadesdiurnas,assimcomoàrotinanoturna dafamília

Ensinartécnicasderelaxamentoqueacrianc¸apossaseguir sozinha

Reforc¸opositivocompremiac¸ãoquandoatingirobjetivos denãoacordarduranteanoite

Nãovalorizarcomportamentosinadequadosoubarganhas dehoráriosnahoradedormir

Evitaralimentos/bebidascomcafeínaànoite

Asestratégiasparatratamentodainsôniaprimária envol-vemrotinasdehigienedosono,técnicascomportamentais e/outratamentofarmacológico.

1) Rotinasdehigienedosono

Aeducac¸ãodospaisparaoqueéumaadequada higi-ene dosonoé o iníciodotratamento. Lembramosque essesprocedimentosiniciamaindaduranteodia.Adieta é um fator importante e deve-se evitar alto consumo de cafeína durante o dia (chocolate, chás, refrigeran-tes)e especialmenteànoite.Outroaspectodiurnoéa atividadefísica,que,quandomoderada,promoveefeito benéficoaosono.Nomínimotrêshorasantesdohorário estabelecidoparadormiracrianc¸adeveserenvolvidaem atividadesrelaxanteseevitarasuperestimulac¸ão. Ativi-dadesque envolvemmídia eletrônica(TV,computador,

tabletsecelulares)tambémdevemserrestritase evita-dasnomínimoumahoraantesdedormir.Oambientedo quartotambéméumfatordehigienedosono.Essedeve serarejado,comtemperaturaadequada,comcama con-fortável,silenciosoeescuro.Evitarousodoquartopara punic¸ões(castigos)aplicadasduranteodiaparanãoser feitaassociac¸ãonegativacomolocaldesono.26

Rotinaspositivastambémauxiliamacrianc¸aa apren-derumcomportamentoadequadoparaosonoereduzem oestresse.Alémdadefinic¸ãodohoráriodedormir, esta-belecer rotinas consistentes(atividadesque auxiliamo preparodosono)quedevemserrepetidastodasas noi-tes. Comoexemplo, avisar que já está quase na hora dormir, escovarosdentes, outroscuidadosde higiene, colocarpijamas,lerumahistóriaouficarumpoucocom ospais,apagarasluzes.Éimportantecertificar-sedeque otempoestabelecidoparaessasrotinasésuficientepara

queelaspossamserfeitascomcalmae nãoprejudicar (reduzir)otempototaldesono.26

Em resumo, umaadequada higiene dosono consiste em:1)horáriodedormirregular/consistenteeadequado paraafaixaetária;2)evitar altoconsumo decafeína; 3)ambiente noturnoacolhedor; 4) rotinas paraa hora de dormir e 5) horário de acordarconsistente e regu-lar,independentementedoquetiverocorridodurantea noite(paramanterasincronizac¸ãodorelógiointerno).17 2) Terapiacomportamental

Oobjetivoprincipaldaabordagemcomportamentalé arupturadasassociac¸õesnegativasquelevamàinsônia. Apósosextomêsdevidaépossíveliniciaressetipode terapia. Diversos estudosdemonstram a eficácia dessa abordagem na maioria dos casos e com claros benefí-ciosaofuncionamentodiurnodacrianc¸aedafamíliaem geral.32,33

Existem técnicas comportamentais desenvolvidas ou adaptadas para o manejo de crianc¸as com insônia de origemcomportamental.Têmeficáciaeseguranc¸a com-provadasesãoamplamenteusadas,principalmenteem países de cultura anglo-saxônica. A escolha da téc-nicaaser usada cabeao pediatra,que,junto aospais podedefinir, deacordo com a idade da crianc¸a e das condic¸ões de adesãoao tratamento pelos pais, qual a maisadequada.34

A seguirdescreveremos resumidamente asmais usa-das. Casoo leitor tenha interesse em aprofundar esse conhecimentosugerimosrevisarasreferências.2,16,17,34 1 Extinc¸ão:colocaracrianc¸aparadormircomseguranc¸a

eignorarocomportamentonoturno(choro,birra, cha-marospais)atéapróximamanhã.Esseprocedimento tambémpode ser feitocom umdos pais dentro do quarto,quenãovaiinteragiratéohorário predeter-minado.

2 Extinc¸ãogradual:colocara crianc¸aparadormir com seguranc¸aeignorarocomportamentonoturno(choro, birra, chamar os pais) por períodos de tempo que aumentamduranteanoite(iniciarcomcincominutos eiraumentandootempodeesperaemcincominutos acadachamada).Oobjetivodessatécnicaé estimu-laracrianc¸aaaprenderaseautoconsolareretornar adormirsozinha.

3 Rotinaspositivas: desenvolver uma série de ativida-des/rotinas calmas, que a crianc¸a aprecie, para o preparodahoradedormir,tentandodesvincularoato deirparaacamadeumarotinaestressante.Também épossível estabelecerrecompensasque serãodadas nodiaseguinteparaaquelesqueconseguirem perma-necernoleitoatéamanhãseguintesemiraoquarto ouchamarospais.

4 Horadedormirplanejada:retirar acrianc¸adacama seelanãoconseguedormirnotempopré-estabelecido (15-30 minutos) e deixá-la fazer alguma atividade tranquilizanteatéficar comsono. Deve-se atrasar o horáriodedeitar,deformaqueelaretorneparacama comsono.Apósoestabelecimentodohorárioemquea crianc¸adormeespontaneamente,iradiantando15-30 minutos/diaacolocac¸ãonacamaatéatingirohorário adequado.

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geralmentetemoprimeirodespertarnoturno,como tempoirespac¸andoosepisódios.

6 Reestruturac¸ão cognitiva: usar técnicas cognitivas--comportamentais,comasquaisopacienteéensinado acontrolarseuspensamentosnegativossobreosono eahoradedormir.Comoexemplo,emvezdepensar ‘‘estanoitenãovoudormir’’pensar‘‘estanoitevou relaxaredescansaremminhacama’’.

7 Técnicas de relaxamento: meditac¸ão, relaxamento muscular, respirac¸ões profundas, visualizar imagens positivas.

8 Restric¸ãodesono:restringirotemponacamadeforma queacrianc¸asomentedeitequandoestiverquase dor-mindo.Issoauxiliaadesvincularaideiadepermanecer noleitosemsonoeauxilianaconsolidac¸ãodele. 9 Controledeestímulos:evitarfazeratividadesquenão

sãoindutorasdesono quandoacrianc¸a/adolescente já estiver deitada(o) no leito (TV, mídias sociais, preocupac¸ões,etc.).

As técnicasde extinc¸ão e extinc¸ão gradual, em uso há várias décadas, aindageram discussões e polêmica além de dificuldade de adesão pelos pais, principal-menteempaísesdeculturalatina.Estudoscontrolados demonstramque o uso de intervenc¸ões comportamen-tais em crianc¸as com problemas de insônia melhoram nãosomente ofuncionamento diurno dessas (sensac¸ão de bem estar e reduc¸ão de choro), mas também o humor, o sono e a satisfac¸ão do matrimonial dos pais.34

Estudos mais recentes apoiam e confirmam esses achados e demonstram que na idade escolar crianc¸as cominsôniaquereceberamintervenc¸ãocomportamental têmmelhordesempenhoemhabilidadessociaisquando comparadascomcrianc¸asquenãoreceberam.35 Adicio-nalmente,outroestudotambémrelatamelhoriasnosono ehumormaterno.36

Na revisãodeliteratura feitapara elaborac¸ão deste artigonãoencontramosestudoqueassociasseousode intervenc¸õescomportamentaisemcrianc¸ascominsônia aefeitoscolateraisdeletériosemsuasaúdementalouna ligac¸ãoafetivacom ospais.Aocontrário,encontramos diversosestudosquedemonstramdeformaconsistente osbenefícios dessaintervenc¸ão.37,38 Também é impor-tantecitardoisestudosnosquaiscrianc¸asquereceberam precocementeintervenc¸õescomportamentaispara insô-nia foram revisadas em seguimento vários após. Os autores não detectaram alterac¸ões no funcionamento emocional nem no comportamento internalizante ou externalizante.37,39

3) Terapiafarmacológica

A indicac¸ão de terapia farmacológica na insônia da infânciadeveocorrerquandoospaisnãoconseguemse adaptaràsterapêuticascomportamentaispor dificulda-des objetivas ou se essas não apresentaram resultado adequado. Aindicac¸ãodeveser feitaantesqueo pro-blemasetornecrônico,deveocorreremassociac¸ãocom aterapiacomportamentaleportempolimitado.É impor-tante ressaltar quenão existem fármacospara insônia aprovados para uso na infância com tal indicac¸ão, o quejá tornaessa estratégialimitada.2,17 As indicac¸ões são empíricas, mais baseadas em experiência clínica do que em evidências. Na maioria das crianc¸as é

possívelresolver osproblemas desonocomabordagem dehigienee técnicascomportamentais.Entretanto,se houverindicac¸ãodefármacossugere-seseguiras seguin-tesorientac¸õesdeescolha:

• Escolherofármaco queauxilienosintomaalvo(dor,

ansiedade).

• Distúrbios primários do sono (ex: apneias, síndrome

daspernasinquietas)devemsertratadosantesde indi-carmedicac¸ãoparainsônia.

• A escolhada medicac¸ão deve ser adequada à idade

eaoníveldeneurodesenvolvimento.Semprepesaro benefíciocontraosefeitoscolaterais.

3.1)Anti-histamínicos

São os fármacos mais frequentemente prescritos na terapia da insônia, em nível de cuidado primário (ex: hidroxizina,difenidramina,prometazina).Auxiliamnafase agudae levamaumareduc¸ãodalatênciaedos desperta-res.Devemser usados em associac¸ão com o programade intervenc¸ãocomportamental.Comoefeitocolateralpodem ocorrersedac¸ãodiurna,vertigemouexcitac¸ãoparadoxal.40

3.2)Alfaagonistas(clonidina)

Sãousados no tratamento dainsônia em crianc¸as pelo seuefeitosedativo.Adurac¸ãodesuaac¸ão éde3-5horas ea meia-vida de12-16 horas. Usado porvia oral na hora de deitar. Como efeito colateral estão descritos hipoten-sãoe perdadepeso. Podemocorrersintomasindesejados na retirada rápida, tais como falta de ar, hipertensão, taquicardia.26

3.3)Melatonina

Éumhormônio(N-acetyl-5-methoxytryptamina) sinteti-zadopelaglândulapinealcujasecrec¸ãoé controladapelo núcleosupraquiasmáticodohipotálamocomumpicoentre 2-4horasdanoite.Reduzalatênciaparainíciodosono e osdespertares,assimcomomelhora ohumor eo compor-tamentodiurno. Suaeficácia em crianc¸as com transtorno dodéficitdeatenc¸ãoetranstornodoespectroautistatem sidorelatadaemdiversosestudos.Adosagemaconselhada éde0,5-3mgnascrianc¸as e 3-5mgnos adolescentes.Em doseshabituaisos efeitos colaterais sãoirrelevantes, não interferenasdrogasantiepilépticas,naproduc¸ãode mela-toninaendógenaounodesenvolvimentopuberal.Nãocausa dependência.41

3.4)L-5-hidroxitriptofano

Èumprecursordaserotonina.Temsuaeficácia compro-vadanosepisódiosdeparassoniadotipoterrornoturnona dosagemde1-2mg/kg/diaaodeitar.Pareceterumafunc¸ão estabilizadoradosono,eficazemalgunspacientes.Podeser usadocomotratamentoopcional,jáquepraticamentenão apresentaefeitoscolaterais.40

3.5)Ferro

(9)

Tabela6 Farmacoterapiadainsôniadeacordocomotipo desintomanoturno

Sintoma Medicac¸ões

Dificuldadeparainiciara dormirsemdespertar noturno

Melatonina, anti-histamínico,

Dificuldadeparainiciara dormircommúltiplos despertaresnoturnos

Anti-histamínico, melatonina

Múltiplosdespertaresnoturnos, massemdificuldade

deiniciarosono

5-hidroxi-triptofano, anti-histamínico,

Despertanametadedanoite comdificuldadedevoltara dormir

5-hidroxi-triptofano, Anti-histamínicona metadedanoite Despertarparcialcomchoro

contínuo

5-hidroxi-triptofano

Despertarcomatividade motoraintensa(síndrome daspernasinquietas)

Ferro,gabapentina

Atrasodefaseeinsônia naadolescência

Melatonina,zolpidem

Fonte:ModificadodeBruni&Angriman.2

3.6)Benzodiazepínicos

São os fármacos psicotrópicos mais prescritos para crianc¸as com problemas neurológicos e/ou psiquiátricos. Reduzemalatênciaparainíciodosonoemelhorama efici-ência.Osefeitoscolateraisvariamepodemocorrersedac¸ão diurna,alterac¸ãocomportamento,hiperatividadeparadoxal edéficit dememória.Sãocontraindicadosem suspeitade distúrbiosrespiratóriosdosono.41

3.7)Antidepressivostricíclicos

A imipramina na dosagem de 0,5mg/kg/dia ao deitar pareceteralgumaeficácianainsônia.Entretanto,épouco usadaemfunc¸ãodosriscosdeefeitoscolateraisgraves.41

3.8)Indutoresdosononãobenzodiazepínicos (imidazo-piridina)

Ousoemcrianc¸asabaixode12anosécontraindicado.O zolpidemeozaleplonsãoosmaisusadosecomotêmpoucos efeitos colaterais podemser administrados em crianc¸as a partirde12anosnadosede5-10mgaodeitar.41

Natabela6,resumimosasindicac¸õesdefármacospara insôniadeacordocomaqueixanoturna.

Concluindo, a queixa deinsônia em crianc¸as e adoles-centes deve ser valorizada e adequadamente investigada pelopediatra.Deve-selevaremconsiderac¸ãoaassociac¸ão comdiversas comorbidades,que tambémdevemser diag-nosticadas. As causas principais de insônia e fatores desencadeantes variam de acordo com a idade e o nível dedesenvolvimento.Aabordagemterapêuticadeveincluir medidasdehigienedosonoe técnicascomportamentaise emcasosindividualizadostratamentofarmacológico.

Conflitos

de

interesse

Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.

Apêndice.

Material

adicional

Pode consultar o material adicional para este artigo na sua versão eletrónica disponível em doi:10.1016/ j.jpedp.2015.08.008.

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Tabela 1 Durac ¸ão do sono a
Tabela 2 Prevalência de distúrbios do sono na infância segundo a ICSD-3 Distúrbio Prevalência Insônia 20-30% Distúrbios respiratórios do sono 2-3% Hiperssonias 0,01-0,20% Distúrbios do ritmo circadiano 7% Parassonias 25% Distúrbios do movimento relacionado
Tabela 3 Causas e/ou fatores precipitantes de insônia de acordo com a faixa etária
Tabela 4 Algoritmo Bears a
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