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Mapas conceituais como ferramenta de avaliação na sala de aula.

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Academic year: 2017

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Mapas conceituais como ferramenta de avalia¸c˜

ao na sala de aula

(Concept maps as a tool for evaluation in classroom)

Paulo Rog´

erio Miranda Correia

1

, Amanda Cristina da Silva

1,2

e Jerson Geraldo Romano Junior

2

1

Escola de Artes, Ciˆencias e Humanidades, Universidade de S˜ao Paulo, S˜ao Paulo, SP, Brasil 2

Programa de P´os-Gradua¸c˜ao Interunidades em Ensino de Ciˆencias, Universidade de S˜ao Paulo, S˜ao Paulo, SP, Brasil

Recebido em 20/11/2009; Aceito em 29/4/2010; Publicado em 28/2/2011

A utiliza¸c˜ao dos mapas conceituais (MCs) como ferramenta de avalia¸c˜ao da aprendizagem foi explorada na disciplina Ciˆencias da Natureza, oferecida aos alunos ingressantes da Escola de Artes, Ciˆencias e Humanidades (EACH). Devido `a riqueza e `a diversidade das estruturas proposicionais elaboradas pelos alunos, o desafio de corrigir MCs ´e mais complexo do que a corre¸c˜ao de testes de m´ultipla escolha ou de quest˜oes dissertativas. Um procedimento comparativo envolvendo o professor (P), trˆes especialistas em mapeamento conceitual (E) e os alunos (A) foi utilizado para avaliar MCs (n = 109). A pergunta focal dos MCs explorou as rela¸c˜oes conceituais entre as observa¸c˜oes astronˆomicas do s´eculo XVI, o nascimento da ciˆencia moderna e a amplia¸c˜ao da nossa compreens˜ao sobre o universo. Gr´aficos de correla¸c˜ao foram elaborados para comparar as avalia¸c˜oes (PxE, PxA e ExA). Os resultados obtidos confirmaram a complexidade do processo de avalia¸c˜ao dos MCs, impondo uma mudan¸ca nos procedimentos usualmente adotados na sala de aula. A possibilidade dos alunos serem inclu´ıdos no processo avaliativo ´e confirmada pela correla¸c˜ao verificada entre as avalia¸c˜oes feitas pelo professor e pelos alunos.

Palavras-chave: avalia¸c˜ao da aprendizagem, aprendizagem significativa, ensino superior, mapas conceituais, revis˜ao por pares.

The use of concept maps (CMs) as an evaluation tool of students’ learning was explored during the Natural Science course assigned to all 1st

-year higher education students at School of Arts, Sciences and Humanities (University of S˜ao Paulo). The richness and diversity of propositional networks produced by the students made the assessment task more complex than the evaluation of multiple-choice tests or open questions. A procedure for comparing the evaluation made by the professor (P), three experts in CMs (E) and the students (S) was used to appraise a set of CMs (n = 109). CMs’ focal question explored the conceptual relationships among astronomic observations made during the 16th

century, the birth of modern science and, the increase of our understanding about the universe. Correlation graphs were plotted to compare these evaluations in pairs (PxE, PxS and ExS). The results confirmed the complexity of the MCs evaluation, which asks for changing the procedures frequently used in the classroom. The possibility of including the students in the evaluation process is confirmed by the correlation found between the assessments made by them and the professor.

Keywords: concept maps, learning evaluation, higher education, meaningful learning, peer review.

1. Introdu¸

ao

O mapeamento conceitual ´e uma t´ecnica bem estabe-lecida que permite a representa¸c˜ao gr´afica de conheci-mento e informa¸c˜ao. Apesar de sua utiliza¸c˜ao ocorrer principalmente no ˆambito educacional, os mapas con-ceituais (MCs) j´a come¸cam a ser explorados nas cor-pora¸c˜oes, visto que o aprendizado ´e uma atividade que deve se prolongar por toda a vida [1-3]. Os MCs s˜ao frequentemente utilizados para identificar os conheci-mentos pr´evios dos alunos, para acompanhar o processo

de mudan¸ca conceitual ao longo da instru¸c˜ao, para veri-ficar a organiza¸c˜ao dos conceitos numa disciplina e para avaliar grades curriculares [4-12]. Al´em disso, os MCs podem ajudar no processo de arquivamento e compar-tilhamento de informa¸c˜oes obtidas a partir de especia-listas, bem como mediar processos colaborativos esti-mulando a intera¸c˜ao social por meio da linguagem [13-15].

A aparente facilidade na elabora¸c˜ao de MCs ´e atraente para os iniciantes e pode ajudar a explicar o aumento da popularidade do mapeamento conceitual.

Parte desse trabalho foi apresentado oralmente durante o VII Encontro Nacional de Pesquisa em Educa¸c˜ao em Ciˆencias (ENPEC),

ocorrido em Florian´opolis/SC entre os dias 8 e 13 de novembro de 2009.

1

E-mail: prmc@usp.br.

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4402-2 Correia et al.

Por outro lado, a utiliza¸c˜ao ingˆenua dos MCs pode produzir poucos (ou nenhum) dos benef´ıcios esperados, restringindo sua inser¸c˜ao na sala de aula a experiˆencias fugazes e l´udicas. ´E necess´ario re-examinar os funda-mentos te´oricos que subjazem o mapeamento conceitual para que seja poss´ıvel utilizar os MCs em sua plenitude [16]. Trabalhos da literatura indicam que muitas das di-ficuldades observadas no uso dessa t´ecnica devem-se `a forma¸c˜ao insuficiente dos seus utilizadores (professores, no caso das aplica¸c˜oes educacionais) e `a desvaloriza¸c˜ao da fundamenta¸c˜ao te´orica relacionada com o mapea-mento conceitual [16-17].

A armadilha colocada pela facilidade de elabora¸c˜ao dos MCs leva a uma s´erie de eventos que n˜ao contribui para o uso prolongado do mapeamento conceitual na sala de aula [17]. Na intensa rotina de trabalho que um professor enfrenta, observa-se que (1) o professor opta pelo uso dos MCs para mudar a dinˆamica tradi-cional das aulas expositivas; (2) os alunos produzem v´arios MCs em um curto per´ıodo de tempo, devido `

a empolga¸c˜ao que eles tˆem frente a mais uma “novi-dade”; (3) o professor tem dificuldades de avaliar a grande quantidade de MCs produzidos pelos alunos, visto que o livro did´atico n˜ao apresenta um gabarito para corrigi-los; (4) o professor n˜ao oferece umfeedback

adequado aos alunos e a avalia¸c˜ao restringe-se `a con-tabilidade burocr´atica dos alunos que cumpriram essa tarefa; e (5) o professor n˜ao encontra na sua pr´atica do-cente os benef´ıcios prometidos pelo mapeamento con-ceitual, levando-o a n˜ao utilizar mais essa t´ecnica em sala de aula.

Essa sequˆencia indesej´avel de eventos surge devido ao desequil´ıbrio entre o dom´ınio te´orico e pr´atico que ´e necess´ario para viabilizar uma utiliza¸c˜ao adequada, in-tencional e prolongada do mapeamento conceitual em sala de aula. Estrat´egias metodol´ogicas sofisticadas, como o uso de MCs, exigem do professor mais do que uma vasta experiˆencia profissional: ´e preciso conhecer as teorias que justificam as op¸c˜oes metodol´ogicas para que se tenha uma aplica¸c˜ao bem sucedida. Al´em disso, ´e preciso considerar a sala de aula como um ambiente complexo, onde ocorrem v´arias intera¸c˜oes sociais den-tro de uma dinˆamica peculiar de trabalho que envolve o professor e seus alunos. Por isso, al´em dos conheci-mentos sobre aspectos te´oricos da metodologia de en-sino, ´e preciso compreender processos de gest˜ao de uma sala de aula [18, 19]. Uma tripla aproxima¸c˜ao te´orica, considerando metodologia de ensino, gest˜ao de grupo e mapeamento conceitual, se faz necess´aria para a uti-liza¸c˜ao plena dos MCs no contexto complexo das salas de aula.

A avalia¸c˜ao dos MCs ´e fundamental para que os alunos consigam perceber os benef´ıcios que podem ser obtidos com essa t´ecnica. Para isso, o professor ´e desafi-ado frente a uma tarefa pouco usual: avaliar os alunos de uma forma diferente, por meio de um instrumento subjetivo que n˜ao apresenta um gabarito para auxili-ar o processo de corre¸c˜ao. O objetivo desse trabalho

´e comparar a avalia¸c˜ao de um conjunto de mapas con-ceituais (n = 109) feita (1) pelo professor da disciplina (P.R.M.C.), (2) por trˆes especialistas em mapas con-ceituais (B.X.V., J.G.R.Jr. e A.C.S.) e (3) pelos alunos que elaboraram os mapas conceituais.

2.

Mapeamento conceitual e a teoria da

aprendizagem significativa

O mapeamento conceitual, proposto por Joseph D. No-vak no in´ıcio da d´ecada de 70, ´e uma forma esquem´atica de representar graficamente os conceitos de um determi-nado campo de conhecimento. O exerc´ıcio de elaborar mapas conceituais (MCs) estimula a busca por rela¸c˜oes significativas e diminui a chance da ocorrˆencia da apren-dizagem mecˆanica [1, 12].

Os MCs podem ser definidos como um conjunto de conceitos imersos numa rede de proposi¸c˜oes. As proposi¸c˜oes, que s˜ao as unidades fundamentais dos ma-pas conceituais, s˜ao constitu´ıdas por trˆes elementos: conceito inicial + termo de liga¸c˜ao + conceito final. A inclus˜ao obrigat´oria de um termo de liga¸c˜ao, que expresse claramente a rela¸c˜ao entre dois conceitos, ´e o que confere ao mapeamento conceitual sua carac-ter´ıstica fundamental da busca por significados precisos e expl´ıcitos. Deve-se ressaltar que erros conceituais podem ser evidenciados nos mapas de conceitos, visto que a aprendizagem significativa n˜ao implica necessari-amente no estabelecimento de rela¸c˜oes conceituais cor-retas. Apesar de significativa, a aprendizagem pode apresentar incorre¸c˜oes pass´ıveis de revis˜ao [12]. A Fig. 1 apresenta um mapa conceitual para explicar melhor o que s˜ao os MCs. As caracter´ısticas principais do ma-peamento conceitual s˜ao apresentadas nos conceitos em retˆangulos (parte central); os aspectos estruturais dos MCs est˜ao destacados nos conceitos apresentados em c´ırculos (`a esquerda); as considera¸c˜oes sobre o uso in-dividual e colaborativo dos MCs s˜ao apresentadas nos conceitos em retˆangulos sombreados (`a direita).

(3)

Figura 1 - Um mapa conceitual sobre o mapeamento conceitual. Pergunta focal: “O que s˜ao mapas conceituais?”.

3.

Procedimentos de pesquisa

3.1. Coleta de dados

A coleta de dados emp´ıricos foi feita considerando-se os MCs produzidos individualmente por 109 alunos que cursaram a disciplina Ciˆencias da Natureza (CN), a par-tir da mesma pergunta focal: “Como a ciˆencia e a tec-nologia influenciaram a compreens˜ao da sociedade sobre o universo?”. O n´umero m´aximo de conceitos a serem utilizados por cada aluno foi igual a 9 e o conceito “mais tecnologia” deveria ser utilizado como ponto incial (con-ceito raiz) dos MCs. Essa atividade fez parte da 1a avalia¸c˜ao da disciplina, que ocorreu ap´os um per´ıodo de treinamento j´a descrito na literatura [17]. Duas turmas de 60 alunos do per´ıodo matutino foram consideradas para o desenvolvimento da presente pesquisa. Leituras preparat´orias [24,25] foram indicadas e discutidas com os alunos durante as aulas que precederam a avalia¸c˜ao (Tabela 1), a fim de estabelecer rela¸c˜oes conceituais en-tre as observa¸c˜oes astronˆomicas do s´eculo XVI, o nasci-mento da ciˆencia moderna e a amplia¸c˜ao da nossa com-preens˜ao sobre o universo [26]. A disciplina Ciˆencias da Natureza (CN) ´e parte integrante do Ciclo B´asico e seu objetivo ´e contribuir com o processo de alfabeti-za¸c˜ao cient´ıfica [27-29] dos alunos ingressantes da Es-cola de Artes, Ciˆencias e Humanidades (EACH/USP Leste). As aulas da disciplina CN foram ministradas ao longo do 1◦ semestre de 2009 por um dos autores

desse trabalho (P.R.M.C.).

Os MCs foram codificados para que a autoria fosse mantida em sigilo. Cada MC foi analisado de trˆes maneiras diferentes:

(1) P: pelo professor da disciplina (P.R.M.C.), que classificou os MCs em 8 grupos diferentes, atribuindo valores entre 0 e 5 (1; 2; 3; 3,5; 4; 4,25; 4,5; 5).

(2) E: por trˆes especialistas em mapeamento con-ceitual (B.X.V., J.G.R.Jr. e A.C.S.), que classificaram os MCs em 6 grupos diferentes por consenso, atribuindo valores entre 0 e 5 (1; 2; 3; 3,5; 4; 5).

(3) A: pelos alunos da disciplina Ciˆencias da Na-tureza, que emitiram pareceres para 2 MCs, atribuindo valores entre 0 e 10. A m´edia aritm´etica das 2 notas atribu´ıdas para cada MC foi considerada. Esse valor m´edio foi convertido para uma escala entre 0 e 5.

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Tabela 1 - Atividades did´aticas realizadas durante as aulas 1-5 da disciplina Ciˆencias de Natureza (CN).

Aula Leitura preparat´oria Conte´udos principais

1 - •Caracter´ısticas da sociedade do conhecimento.

A explos˜ao do conhecimento desde a revolu¸c˜ao industrial.As rela¸c˜oes entre ciˆencia, tecnologia e sociedade.

2 Boas e m´as raz˜oes para acreditar [28]

Pensamento cient´ıfico; suas caracter´ısticas e seu processo de constru¸c˜ao.A valoriza¸c˜ao das evidˆencias como sustenta¸c˜ao das teorias cient´ıficas.

3 A Terra im´ovel [29] •Nascimento da ciˆencia moderna como produto do contexto hist´orico e social do s´eculo XVI.As observa¸c˜oes astronˆomicas de Galileu e os conflitos com a Igreja.

A celebra¸c˜ao do Ano Internacional da Astronomia.

4 O ovo c´osmico [29] •O avan¸co tecnol´ogico e o avan¸co cient´ıfico: Hubble e a astronomia extragal´actica.Teorias sobre a origem e o desenvolvimento do universo.

Novos debates entre a ciˆencia e a Igreja.

5 - •1a

Avalia¸c˜ao: elabora¸c˜ao de MCs sobre o conte´udo das aulas 1-4.

3.2. Tratamento de dados

M´etodos de estat´ıstica descritiva [30] foram utilizados para analisar as avalia¸c˜oes feitas pelo professor (P), pe-los especialistas (E) e pepe-los alunos (A). As compara¸c˜oes dessas avalia¸c˜oes foram feitas a partir da diferen¸ca em m´odulo (DM) das avalia¸c˜oes atribu´ıdas para cada MC analisado (n = 109). As compara¸c˜oes entre professor e especialista (PxE), professor e alunos (PxA) e espe-cialistas e alunos (ExA) foram contempladas nesse tra-balho.

Os valores das DM para cada MC foram conside-rados para analisar as compara¸c˜oes entre PxE, PxA e ExA. Foram estabelecidos 8 intervalos para classificar os valores das DM calculadas para os 109 MCs anali-sados (I1 a I8), conforme a indica¸c˜ao da Fig. 2. As menores discrepˆancias (DM≤0,25) foram classificadas no intervalo I1; as maiores discrepˆancias (DM > 2) foram classificadas no intervalo I8.

O coeficiente de correla¸c˜ao linear (r) foi o parˆametro estat´ıstico para avaliar as compara¸c˜oes entre PxE, PxA e ExA. Para cada um desses casos, calculou-se o valor de r para todos os dados (n = 109) e para os subconjun-tos, desprezando-se progressivamente os valores mais discrepantes (de I8 a I2). Foram obtidos 8 valores de r para cada compara¸c˜ao (PxE, PxA e ExA).

Figura 2 - Organiza¸c˜ao das diferen¸cas em m´odulo (DM) em 8 intervalos (I1a I8) diferentes, que variam entre 0 e 2.

4.

Resultados e discuss˜

ao

4.1. Avalia¸c˜oes do professor (P), dos especia-listas (E) e dos alunos (A)

A compara¸c˜ao inicial das avalia¸c˜oes feitas pelo professor (P), pelos especialistas (E) e pelos alunos (A) ´e apre-sentada na Fig. 3. O box plot [30] ´e uma representa¸c˜ao

que re´une as principais informa¸c˜oes do conjunto com-pleto dos dados emp´ıricos. Os valores m´edios atribu´ıdos pelo P, pelos E e pelos A foram, respectivamente, 3,2

±1,0, 3,0±1,1 e 3,6±0,6.

Figura 3 - Box plot para os conjuntos completos de dados (n = 109) relacionados com as avalia¸c˜oes do professor (P), dos espe-cialistas (E) e dos alunos (A).

´

(5)

4.2. Avalia¸c˜ao das compara¸c˜oes PxE, PxA e ExA

A compara¸c˜ao das avalia¸c˜oes feitas pelo P, pelos E e pe-los A foi realizada calculando-se a diferen¸ca em m´odulo (DM) do valor atribu´ıdo a cada MC. Os conjuntos de DM obtidos para as compara¸c˜oes PxE, PxA e ExA foram classificados em 8 intervalos diferentes (I1 a I8), conforme indicado na Fig. 2.

A porcentagem de MCs em cada intervalo aumenta, progressivamente, de I8 (maiores discrepˆancias) para I1 (menores discrepˆancias). A discrepˆancia entre 2 an´alises (valores entre 0 e 5) foi igual ou menor do que 1,25 (exclus˜ao dos intervalos I6, I7e I8) para 79%, 72% e 61% dos MCs, nas compara¸c˜oes PxE, PxA e ExA, respectivamente. Essas porcentagens s˜ao elevadas, so-bretudo quando se considera a complexidade e a subje-tividade inerentes ao processo de avalia¸c˜ao dos MCs.

Uma maneira de verificar a semelhan¸ca nas avalia¸c˜oes feitas pelo P, pelos E e pelos A ´e por meio de gr´aficos de correla¸c˜ao. Em condi¸c˜oes ideais, onde todos os valores s˜ao concordantes, ´e poss´ıvel definir os parˆametros da equa¸c˜ao da reta ideal (y=a+bx) obtida atrav´es da regress˜ao linear dos pontos: o coeficiente li-near (a) ´e igual a 0, o coeficiente angular (b) ´e igual a 1 e o coeficiente de correla¸c˜ao linear (r) ´e igual a 1.

A Fig. 4 apresenta um gr´afico que relaciona os co-eficientes de correla¸c˜ao linear (r) obtidos para as com-para¸c˜oes PxE, PxA e ExA, exclu´ındo-se progressiva-mente os MCs que apresentaram maiores discrepˆancias nas avalia¸c˜oes (Fig. 2). A linha vertical tracejada `a di-reita do gr´afico indica a situa¸c˜ao ideal, quandor´e igual a 1. Isso ocorre, por exemplo, na corre¸c˜ao de quest˜oes de m´ultipla escolha com uma ´unica resposta correta: independente do n´umero de quest˜oes, a compara¸c˜ao entre a avalia¸c˜ao de 2 corretores dever´a ser idˆentica e os parˆametros da regress˜ao linear assumem os valores

a = 0, b = 1 e r = 1. Considerando-se todos os MCs avaliados (n = 109), as compara¸c˜oes PxE, PxA e ExA apresentaram baixos coeficientes de correla¸c˜ao linear: 0,55 (C), 0,54 (B) e 0,43 (A), respectivamente (Fig. 4). Em todos os casos, o valor de r se aproxima de 1 na medida em que os intervalos de classifica¸c˜ao das DM (I8 at´e I2) s˜ao progressivamente desconsiderados. Na situa¸c˜ao limite, onde somente os MCs com maior con-vergˆencia s˜ao considerados (I1), os valores ders˜ao 0,99 (F), 0,96 (E) e 0,88 (D) para PxE, PxA e ExA, respec-tivamente. Cabe ressaltar que essa elevada correla¸c˜ao linear somente foi observada para um subconjunto de MCs contendo cerca de 20 a 30% do seu tamanho ori-ginal.

Uma situa¸c˜ao intermedi´aria foi selecionada e os gr´aficos de correla¸c˜ao das avalia¸c˜oes PxE, PxA e ExA s˜ao apresentados nas Fig. 5a, 5b e 5c, respectiva-mente. O subconjunto de MCs considerados apresenta DM≤1,25, excluindo-se os MCs presentes em I6, I7e I8 (Fig. 2). Nessas condi¸c˜oes, a quantidade de MCs con-siderados para an´alise est´a entre 80 e 60% do conjunto original. Os valores de r para PxE, PxA e ExA foram iguais a 0,77 (Fig. 5a), 0,78 (Fig. 5b) e 0,73 (Fig. 5c),

respectivamente. Os parˆametros estat´ısticos que des-crevem as equa¸c˜oes das retas obtidas por regress˜ao li-near (Tabela 2) podem ser comparados com a situa¸c˜ao ideal (linha tracejada).

Figura 4 - Avalia¸c˜ao do coeficiente de correla¸c˜ao linear (r) dos

gr´aficos obtidos a partir das avalia¸c˜oes dos MCs (n = 109) feitas por PxE, PxA e ExA.

Figura 5 - Gr´aficos de correla¸c˜ao entre as avalia¸c˜oes feitas pelo professor (P), pelos especialistas (E) e pelos alunos (A). As linhas tracejadas indicam a situa¸c˜ao ideal de m´axima correla¸c˜ao linear entre os dados.

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relacionadas com a auto-avalia¸c˜ao. Esse ´e um dos re-quisitos para que eles aprendam por toda a vida e de-senvolvam suas capacidades metacognitivas [2,3,6].

A Fig. 6 mostra 4 MCs selecionados para represen-tar situa¸c˜oes t´ıpicas que foram verificadas no processo de avalia¸c˜ao dos MCs: convergˆencia tripla entre as avalia¸c˜oes do P, dos E e dos A (Fig. 6a) com atribui¸c˜ao de nota alta (P = 4,0; E = 4,0; A = 3,8), con-vergˆencia tripla entre as avalia¸c˜oes do P, dos E e dos A (Fig. 6b) com atribui¸c˜ao de nota m´edia (P = 3,0; E = 3,0; A = 3,2), convergˆencia dupla (Fig. 6c) devido a avalia¸c˜ao rigorosa de P (P = 1,0; E = 3,5; A = 3,0) e convergˆencia dupla (Fig. 6d) devido a avalia¸c˜ao rigoro-sa de E (P = 3,0; E = 1,0; A = 2,9).

O MC da Fig. 6a apresenta proposi¸c˜oes claras e con-ceitualmente aceit´aveis, al´em de estrutura c´ıclica (que indica o estabelecimento de rela¸c˜oes de causa e efeito) e uma destacada reconcilia¸c˜ao integrativa [20,23] em torno do conceito “conhecimento social”. A maioria dos conceitos est˜ao vinculados `as discuss˜oes da aula 4 (Tabela 1), que valorizam as descobertas astronˆomicas do in´ıcio do s´eculo XX. A importˆancia das evidˆencias para conferir credibilidade `as teorias cient´ıficas foi dis-cutida na aula 2 (Tabela 1) e aparece acoplada ao tema da aula 4 nas proposi¸c˜oes “novas evidˆencias – podem comprovar→teorias” e “teorias – como →Big Bang” (Fig. 6a).

O MC da Fig. 6b ´e adequado, mas apresenta pe-quenas falhas estruturais, quando comparado ao MC da Fig. 6a: os conceitos “tradi¸c˜oes” e “predi¸c˜ao” (em c´ırculos) n˜ao integram a rede de conceitos que cons-titui esse MC. A partir do conceito raiz “mais tecno-logia” n˜ao ´e poss´ıvel chegar a esses 2 conceitos. Os conceitos desse MC exploram preferencialmente as dis-cuss˜oes da aula 2, visto que est˜ao presentes as boas (evidˆencias) e m´as (cren¸cas e revela¸c˜oes) raz˜oes para acreditar em algo, segundo o texto indicado para leitura [24]. A proposi¸c˜ao “ciˆencia - necessita de → mais tecnologia” faz referˆencia `as discuss˜oes das aulas 3 e 4, que mostraram o aperfei¸coamento tecnol´ogico do telesc´opio como fator decisivo para o avan¸co da astrono-mia. Elementos importantes que constituem o pensa-mento cient´ıfico aparecem na proposi¸c˜ao “predi¸c˜ao – deve levar `a→ evidˆencias”, indicando uma s´ıntese de todas as discuss˜oes feitas nas aulas iniciais da disciplina CN.

O MC da Fig. 6c apresenta falta de clareza semˆan-tica em algumas proposi¸c˜oes (“novas tecnologias – e novas → pesquisas”), al´em de apresentar proposi¸c˜oes que n˜ao extrapolam o senso comum (veja sequˆencia de proposi¸c˜oes entre “popula¸c˜ao” e “novas tecnologias”).

Nesse caso, a an´alise do P foi mais rigorosa e divergente das an´alises feitas pelos E e pelos A, principalmente porque h´a poucos conceitos relacionados com as leituras pr´evias que foram discutidas nas aulas 2-4 (Tabela 1). O MC da Fig. 6d tamb´em apresenta falta de clareza semˆantica que pode sinalizar falta de clareza conceitual (“universo – que influencia a→sociedade” e “evolu¸c˜ao cient´ıfica – adquire →mais evidˆencias”). Desta vez, a an´alise dos E foi mais rigorosa e divergente das an´alises feitas pelo P e pelos A.

5.

Considera¸

oes finais

A avalia¸c˜ao da aprendizagem ´e uma atividade funda-mental no processo educacional. A incorpora¸c˜ao dos MCs na rotina da sala de aula exige uma abertura para a incerteza, visto que eles permitem a explicita¸c˜ao das idiossincrasias presentes na estrutura cognitiva dos alunos. Essa caracter´ıstica se op˜oe ao determinismo presente nos testes de m´ultipla escolha, ou nas quest˜oes dissertativas que apresentam somente uma resposta “certa”. Em ´ultima an´alise, o uso dos MCs como es-trat´egia de avalia¸c˜ao imp˜oe uma revis˜ao nas rela¸c˜oes que o professor e os alunos estabelecem na sala de aula. Se, por um lado, h´a o desafio de lidar com a incerteza e a subjetividade, por outro lado, surgem mais oportu-nidades para o di´alogo e para as intera¸c˜oes entre pares (aluno/aluno) e professor/aluno. Parece que a inclus˜ao dos alunos no processo de avalia¸c˜ao dos MCs ´e poss´ıvel, desde que eles estejam familiarizados com essa t´ecnica. Isso ´e desej´avel e rompe um dos paradigmas vigentes na maioria das salas de aula, onde somente o professor tem o direito de julgar no processo avaliativo da produ¸c˜ao intelectual dos alunos.

A experiˆencia realizada na disciplina CN est´a rela-cionada com discuss˜oes sobre o nascimento da ciˆencia moderna, as observa¸c˜oes astronˆomicas do s´eculo XVI e o desenvolvimento da astronomia. Os MCs produzidos pelos alunos indicam que eles fizeram uma releitura do que foi estudado no ensino m´edio e, j´a na condi¸c˜ao de ingressantes do ensino superior, eles aceitaram o con-vite para refletir sobre as rela¸c˜oes entre a ciˆencia, a tecnologia e a sociedade existentes naquele momento hist´orico. A partir disso, eles foram capazes de cons-truir rela¸c˜oes conceituais que extrapolam o campo dis-ciplinar da f´ısica, misturando conhecimentos cient´ıficos (astronomia) e human´ısticos (sociais, hist´oricos e fi-los´oficos). Esse esfor¸co sinaliza uma busca por um pen-samento interdisciplinar, a fim de superar o isolamento das duas culturas, descritas por C.P. Snow [31].

Tabela 2 - Parˆametros da equa¸c˜ao da reta obtida pela regress˜ao linear dos dados.

PxE (Fig. 5a) PxA (Fig. 5b) ExA (Fig. 5c) Coeficiente linear (a) 0,7±0,2 -0,1±0,3 0,3±0,4

Coeficiente angular (b) 0,79±0,07 0,99±0,09 0,9±0,1

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4402-8 Correia et al.

6.

Agradecimentos

Agradecemos ao Bruno Xavier do Valle pela colabo-ra¸c˜ao na parte inicial desse trabalho. Os autores agradecem ao CNPq (553710/2006-0) pelo financia-mento de projeto de pesquisa. P.R.M.C. agradece `

a FAPESP (06/03083-0 e 08/04709-6) e `a CAPES (3555/09-7) pelo apoio `a participa¸c˜ao em reuni˜oes cient´ıficas no exterior. J.G.R. Jr. agradece `a Secretaria de Educa¸c˜ao do Estado de S˜ao Paulo pela bolsa de estu-dos concedida no ˆambito do Programa Bolsa Mestrado e A.C.S. agradece `a Pr´o-Reitoria de Gradua¸c˜ao da Uni-versidade de S˜ao Paulo pela bolsa de inicia¸c˜ao cient´ıfica no ˆambito do Programa Ensinar com Pesquisa.

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Figura 1 - Um mapa conceitual sobre o mapeamento conceitual. Pergunta focal: “O que s˜ ao mapas conceituais?”.
Tabela 1 - Atividades did´ aticas realizadas durante as aulas 1-5 da disciplina Ciˆ encias de Natureza (CN).
Figura 4 - Avalia¸c˜ ao do coeficiente de correla¸c˜ ao linear (r) dos gr´ aficos obtidos a partir das avalia¸c˜ oes dos MCs (n = 109) feitas por PxE, PxA e ExA.
Tabela 2 - Parˆ ametros da equa¸c˜ ao da reta obtida pela regress˜ ao linear dos dados.
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Referências

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