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Peso ao nascer e obesidade em crianças e adolescentes: uma revisão sistemática.

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246 Rev Bras Epidemiol 2010; 13(2): 246-58

Peso ao nascer e obesidade em

crianças e adolescentes: uma

revisão sistemática

Birth weight and obesity in children

and adolescents: a systematic review

Camila Elizandra Rossi

Francisco de Assis Guedes de Vasconcelos

Programa de Pós-Graduação em Nutrição do Centro de Ciências da Saúde do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.

Correspondência: Camila Elizandra Rossi.Rua Sete de Setembro, 695, Bouganville Residence, apto. 101, Centro, Biguaçu, SC CEP 88160-000. E-mail: camilarnutri@yahoo.com.br

Resumo

Objetivo: Verificar o nível de evidência cientíica e epidemiológica da hipótese de associação entre peso ao nascer e sobrepe-so/obesidade na infância e na adolescência, a partir de revisão sistemática da literatura.

Método: Foi realizada revisão sistemática nas bases MedLine/Pubmed, Scielo-Brasil e Lilacs. Adaptou-se a escala de Downs & Black para avaliar a qualidade metodológica dos catorze artigos selecionados. Os artigos foram classiicados em duas categorias de análise, de acordo com o índice de desen-volvimento humano do país onde o estudo foi realizado: a) peso ao nascer e sobrepeso/ obesidade em países com desenvolvimen-to humano elevado; e b) peso ao nascer e sobrepeso/obesidade em países com desenvolvimento humano elevado, mas ainda ascendente, e com desenvolvimento

humano médio. Resultados: Em ambas as

categorias predominou a associação entre elevado peso ao nascer e sobrepeso/obesi-dade. Além disso, na primeira categoria, um dos sete artigos mostrou que o baixo peso ao nascer foi preditor de maior percentual de gordura corporal e abdominal. Na segunda categoria, três artigos mostraram

associa-ção do catch-up growth com sobrepeso/

obesidade, e um mostrou o baixo peso ao nascer como fator protetor do sobrepeso (incluindo obesidade). Foram capturados quatro artigos brasileiros, dentre os quais dois não identiicaram associação estatisti-camente signiicativa entre peso ao nascer

e sobrepeso/obesidade. Considerações

Finais: O elevado peso ao nascer apareceu associado ao sobrepeso/obesidade na maioria dos artigos. Há necessidade de se continuar investigando sobre a associação entre o baixo peso ao nascer e sobrepeso/ obesidade.

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Peso ao nascer e obesidade em crianças e adolescentes: uma revisão sistemática

Rossi, C.E. & Vasconcelos, F.A.G.

Abstract

Aim: To verify scientiic and epidemiologic

evidences of the hypothesis of association between birth weight and overweight/obe-sity in childhood and adolescence based on a systematic review of the literature.

Method: A systematic review was performed in the MedLine/Pubmed, Scielo-Brasil and Lilacs electronic bases. Articles were classi-ied into two categories of analysis based on the Human Development Index of the coun-try where the study was performed: a) birth weight and overweight/obesity in countries with a high Human Development Index; b) birth weight and overweight/obesity in countries with a high, but still ascending Human Development Index, and medium Human Development Index. Downs & Black checklist was adapted and used to evaluate the methodological quality of the fourteen

articles chosen. Results: In both categories

the association between high birth weight and overweight/obesity was predominant. Additionally, one of the seven articles in the irst category found low birth weight as a predictor of body and abdominal fat. In the second category, three articles identiied the association between catch-up growth and overweight/obesity and another found low birth weight as a protector for overweight (including obesity). Among the four Brazil-ian studies found, the association between birth weight and overweight or obesity was not statistically signiicant in two articles.

Conclusions: High birth weight was associ-ated with overweight/obesity in the majority of articles. The association between low birth weight and overweight/obesity needs ongoing investigation.

Keywords: Overweight, Obesity, Birth Weight, Literature Review.

Introdução

A partir dos anos 1990, observam-se relatos na literatura sobre a associação entre o baixo peso ao nascer (BPN), caracterizado pelo peso de nascimento abaixo de 2.500 g, e a presença de sobrepeso ou obesidade na

infância1, na adolescência2 e na vida

adul-ta3,4. Outro estudo sugere que a quantidade

de massa magra na adolescência é menor

nos nascidos com BPN5.

Por outro lado, também o elevado peso ao nascer (EPN), caracterizado pelo peso de nascimento igual ou superior a 4.000 g, tem sido associado ao desenvolvimento de excesso de peso corporal na infância e

adolescência6. Entretanto, resultados que

contradizem as evidências da associação signiicativa com EPN também têm sido relatados, especialmente em estudos

reali-zados em países em ascensão econômica7,8.

Sabendo-se que o BPN é mais prevalente

em populações empobrecidase em

desen-volvimento9, enquanto o EPN apresenta

prevalência aumentada em alguns países

desenvolvidos,como os Estados Unidos

da América (EUA) e o Canadá10 e alguns

países europeus11, o nível socioeconômico

das amostras avaliadas tem sido apontado como uma importante variável de confusão na associação do peso ao nascer (PN) com a obesidade. Por isso, esta associação parece ainda permanecer inconsistente em estu-dos realizaestu-dos com crianças de países em

desenvolvimento12.

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ciação entre PN e sobrepeso/obesidade em crianças e adolescentes? A associação entre PN e sobrepeso/obesidade em crianças e adolescentes difere dependendo do índice de desenvolvimento humano do país onde o estudo foi realizado?

Método

Foi realizada revisão sistemática da lite-ratura, procurando-se capturar artigos cien-tíicos que descrevessem a associação entre peso ao nascer e sobrepeso e/ou obesidade. Selecionaram-se artigos publicados a par-tir de 1998. As bases de dados eletrônicas pesquisadas foram: Scielo-Brasil (Scientiic Eletronic Library Online), Lilacs (Literatura do Caribe em Ciências da Saúde) e Medline/

Pubmed via National Library of Medicin,

no mês de julho de 2008. Os unitermos utilizados nas bases Scielo-Brasil e Lilacs estiveram de acordo com sua deinição no DecS (Descritores em Saúde) e foram peso

ao nascer and obesidade, e baixo peso ao

nascer and obesidade. Na base Medline/

Pubmed foram utilizados unitermos de-inidos conforme sua descrição no MeSH (Medical Subject Headings), buscando-se birth weight (or low birth weight) and obesity (or overweight or adiposity), e fetal program-ming and obesity, tendo sido estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: pesquisas realizadas em humanos de ambos os sexos; faixa etária entre 6 e 18 anos de idade; e artigos publicados e incluídos na base nos últimos 10 anos. Nesta última base foram também captados artigos armazenados no link “related articles”. Ressalta-se que dife-rentes unitermos foram utilizados em cada base de dados devido às deinições que cada uma das bases propõe para os descritores. Com a adoção desse procedimento, é pos-sível que um maior número de artigos rela-cionados ao tema de interesse tenha sido capturado em cada base. Outro critério de inclusão adotado foi a condição de a variável peso ao nascer ser a exposição, e sobrepeso e obesidade os desfechos, também tendo sido incluídos estudos que consideraram como desfechos o IMC, medidas de

quan-tiicação de massa magra ou magra gorda e índices antropométricos como peso/ estatura, peso/idade e ains. Como critérios de exclusão deiniu-se não analisar artigos com resultados exclusivos para desfechos nas idades adulta ou pré-escolar, por não serem as faixas etárias de interesse; artigos de revisão, devido à proposta de se anali-sarem somente artigos originais, ou seja, baseados em dados empíricos; e ensaios clínicos, tendo sido incluídos apenas estu-dos observacionais.

Na busca realizada na base Medline/Pub-med foi encontrado um total de 33 artigos utilizando-se a primeira combinação de unitermos, sendo 3 de revisão, e 37 artigos utilizando-se a segunda combinação, sendo 8 de revisão. Na base Scielo-Br foram en-contrados nove artigos a partir do uso dos termos peso ao nascer and obesidade (1 de revisão) e 1 nos termos baixo peso ao nascer and obesidade. Na base Lilacs foram encon-trados 32 trabalhos, somando-se artigos e resumos de trabalhos de pós-graduação (1 artigo de revisão). Após a leitura dos resumos, 14 artigos foram selecionados para análise. Vale ressaltar que as listas de referências bibliográficas de cada artigo selecionado não foram consultadas.

A qualidade metodológica de cada artigo foi avaliada com base nos critérios

estabelecidos por Downs & Black13, os quais

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o artigo em análise atende ou não ao que se pergunta. Para cada questão, o escore zero é atribuído caso o artigo não atenda ao que se está avaliando, e o escore um (1) caso ele atenda. Somente a questão 5 atribui o escore 2, caso a pergunta em questão seja atendida pelo artigo. Com isso, a pontuação máxima a que poderia chegar cada artigo da presente revisão foi de 21 pontos.

Como estratégia de síntese, um roteiro para a descrição das características de cada artigo foi delineado, destacando-se: autoria, país, ano de publicação e delineamento dos estudos, características e tamanho da amostra, critério diagnóstico e pontos de corte para definição de sobrepeso e/ou obesidade, desfecho e exposição, principais resultados encontrados, principais análises estatísticas e escores da qualidade metodo-lógica dos estudos. Os dados capturados em cada artigo encontram-se nos Quadros 1 e 2. Como estratégia de análise, conside-rou-se o fato de que a distribuição do PN diferencia-se de acordo com o nível socio-econômico de cada nação, agrupando-se os 14 estudos em duas categorias, de acordo com a classiicação proposta pelo Programa Nacional para o Desenvolvimento das Na-ções (PNUD), baseada no Índice de

Desen-volvimento Humano (IDH)14 apresentado

pelo país no qual o estudo foi realizado: PN e sobrepeso/obesidade em países com IDH acima de 0,900 (desenvolvimento humano

elevado - 7 artigos)5,6,15-19, incluindo Reino

Unido, Austrália, Dinamarca, Finlândia, EUA e Alemanha; e PN e sobrepeso/obe-sidade em países com IDH entre 0,800 e 0,899 (desenvolvimento humano elevado,

mas ainda ascendente - seis artigos)7,8,20-23,

incluindo Brasil, México e Ilhas Seychelles, e PN e sobrepeso/obesidade em países com IDH abaixo de 0,800 (desenvolvimento

humano médio – um artigo)24, realizado na

China. Ressalta-se que o IDH é calculado a partir de dados de esperança de vida ao nascer, escolarização nos níveis de ensino primário, secundário e superior, alfabeti-zação entre os adultos e produto interno

bruto per capita em dólares americanos14,

justiicando o recorte metodológico

esco-lhido, pois se pode considerar o IDH como um elemento proxi ao nível socioeconômico da nação. Além disso, foi também avaliada a utilização de variáveis socioeconômicas nos artigos analisados, por ser importante variável confundidora nas relações com os desfechos sobrepeso e obesidade.

Resultados

De acordo com o apresentado nos Qua-dros 1 e 2, 14 artigos que preencheram os critérios de elegibilidade foram identiica-dos no período de tempo estudado. Destes,

6 foram publicados a partir de 20056,17,20-22,24,

demonstrando que o tema ainda é atual. Dentre os 14 artigos, percebeu-se o uso de diferentes critérios diagnósticos para a avaliação do sobrepeso e obesidade (vari-ável desfecho da presente investigação) e também diferentes categorizações da va-riável peso ao nascer (vava-riável exposição). O IMC/Idade foi o índice antropométrico mais utilizado (9 artigos) para realizar o diagnóstico de sobrepeso/obesidade, po-rém diferentes critérios e diferentes pontos de corte para cada critério foram utilizados. Os critérios de Cole et al. (2000), CDC (2000) e Must et al. (1991) foram os mais utilizados. Quanto ao peso ao nascer, prevaleceu a utilização de z-escores ou tercis e quartis, sendo que as categorias preconizadas pela

Organização Mundial da Saúde (OMS)25

(BPN < 2.500 g; Peso Insuiciente ao Nascer (PIN) = 2.500 a 2.999 g; Peso Adequado ao Nascer (PAN) = 3.000 a 3.999 g) aparecem na minoria dos artigos (2 dentre 14).

As idades das amostras foram bastante heterogêneas, sendo que 8 artigos avaliaram crianças e adolescentes, 2 avaliaram

somen-te adolescensomen-tes (≥ 10 anos) e 4 avaliaram

somente crianças (< 10 anos).

Quanto à coleta e uso de dados de

do-bras cutâneas, a OMS26 recomenda desde

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Nenhum dos artigos publicados após essa data, porém, cita ou publica o valor do ETM. Seguem-se, descritos sumariamente, os resultados dos estudos analisados.

Peso ao nascer e sobrepeso/obesidade em países com IDH elevado

Nos EUA, observou-se a influência

do EPN, do diabetes mellitus gestacional

(DMG) e do IMC materno no sobrepeso de

crianças e adolescentes. Gillmann et al.15

ob-servaram que o peso ao nascer foi associado ao sobrepeso de crianças com idade entre 9 e 14 anos, tendo sido também signiicativa a associação nos nascidos de mães com DMG.

Frisancho16 não observou o efeito do peso

ao nascer no IMC de crianças e adolescen-tes, uma vez que os recém-nascidos com peso elevado só se tornaram adolescentes obesos quando um dos pais era obeso. Em

Berlim17, também se observou a inluência

negativa do DMG, pois mães com esse distúrbio tiveram ilhos com maior IMC/ Idade gestacional ao nascer, o qual, por sua vez, foi preditor de sobrepeso aos 6 a 8 anos de idade.

Nesses estudos é possível veriicar que a associação entre PN e IMC de crianças e adolescentes deve ser controlada por carac-terísticas maternas, especialmente aquelas relativas à gestação, para ser evitar possíveis efeitos de confusão.

Dois estudos avaliaram sujeitos do Reino Unido, apresentando resultados

divergentes. Reilly et al.6 observaram que a

cada aumento de 100 g no peso ao nascer aumentava o risco de obesidade em crian-ças aos 7 anos de idade. Além do peso ao

nascer, o catch-up weight growth (ganho

compensatório de peso e acima dos pa-drões normais para determinada idade) entre o nascimento e os 24 meses, o ganho de peso no primeiro ano de vida (peso ao nascer subtraído do peso aos 12 meses), obesidade de ambos os pais e um aumento precoce (aos 43 meses de idade) no IMC das crianças foram identificados como potenciais fatores de risco à obesidade. No

estudo de Singhal et al.5, os resultados

fo-ram contrários, sendo que a cada aumento de um desvio-padrão no peso ao nascer aumentava em 3% a quantidade de massa magra dos adolescentes. Para a massa de gordura e para o IMC não foram observadas associações signiicativas com o peso ao nascer. Os autores ajustaram os modelos de análise para variáveis socioeconômicas, estatura, estágios de maturação sexual e atividade física.

Com crianças australianas18, veriicou-se

que aquelas nascidas com os mais baixos pe-sos e que apresentavam pepe-sos mais elevados aos 7 a 8 anos tinham uma quantidade signi-icativamente maior de gordura abdominal e maior percentual de gordura total do que aquelas nascidas com pesos mais elevados. Além disso, observou-se que a cada redução de 1 kg no peso ao nascer, aumentou a quan-tidade de gordura abdominal aos 7 a 8 anos de idade. Algumas falhas foram identiicadas no artigo, tais como: não terem sido apre-sentadas importantes variáveis de confusão que foram incluídas nos demais estudos, não estar claro se os sujeitos elegíveis para o estudo representam a população de interesse (apenas 24% da população) e se a amostra foi composta por sujeitos não pertencentes à população de interesse (29 se candidataram voluntariamente).

Na capital da Finlândia19 observou-se

que a associação entre o peso ao nascer/ idade gestacional e o sobrepeso de ado-lescentes não se manteve após o controle das demais variáveis do estudo. O artigo apresentou falhas nos quesitos de descrição das características dos sujeitos perdidos no seguimento e na validação da amos-tra estudada frente à fonte populacional (representatividade). Além disso, chama a atenção o fato de os autores terem escolhido o ponto de corte para IMC recomendado para adultos na avaliação dos adolescentes

(IMC ≥ 25 kg/m2). Tal procedimento parece

equivocado e resulta em prevalências de sobrepeso bem abaixo do esperado (no estudo, em torno de 4%).

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Quadro 1 – Relação de estudos sobre associação entre peso ao nascer e obesidade em crianças e adolescentes, realizados em países com IDH elevado e publicados no período de 2000 a 2007, de acordo com: autoria/país/ano de publicação, desenho do estudo, características e tamanho da amostra, critério de referência para diagnosticar sobrepeso/obesidade, variáveis desfecho e exposição, resultados principais/ análise estatística e comentários/escores atribuídos.

Chart 1 - List of studies on association between birth weight and obesity in children and adolescents, carried out in countries with high HDI and published in the period from 2000 to 2007, according to: authorship / country / year of publication, design of the study, characteristics and size of the sample, reference criterion to diagnose overweight / obesity, outcome and exposure variables, main results / statistical analysis and comments / attributed scores.

Autores/ País/Ano de publicação Desenho do estudo Amostra Diagnóstico de sobrepeso/ obesidade

Desfecho Exposição Principais resultados e análise estatística Comentários / Escores máximo e obtido

Reilly et al.6/ Reino Unido / 2005

Coorte prospectiva 909 crianças aos 7 anos

IMC ≥ percentil 95 da população- referência do Reino Unido (1990) Obesidade aos 7 anos

31 variáveis, dentre elas, o PN em classes

de 100 g

A cada aumento de 100 g no peso ao nascer, aumentou em 1,05 a razão de chance de se apresentar obesidade (IC 95% = 1,03 a 1,07). O catch-up weight growth entre 0 e 2 anos e altas taxas de ganho de peso nos primeiros anos de vida foram fatores independentemente associados à obesidade./ Regressão logística multivariada e IC.

Uma pergunta não se aplicou

Escore máximo: 20 Escore obtido: 19

Schaefer-Graf et al.17/ Berlim / 2005

Coorte prospectiva 324 crianças ao nascer e aos 2 a 8 anos

IMC ≥ percentil 90 da população- referência germânica (2001) Obesidade aos 2 a 8

anos

IMC/Idade gestacional

A exposição foi fator preditor de sobrepeso aos 6 a 8 anos de idade, mesmo após ajuste para variáveis bioquímicas e biológicas maternas (β = 0,195; p < 0,001). / Correlação de Spearman.

Uma pergunta não se aplicou

Escore máximo: 20 Escore obtido: 18

Gilmann et al.15/ Estados Unidos da América / 2003 Transversal aninhado em coorte 7.981 meninas e 6.900 meninos de 9

a 14 anos

IMC entre percentis 85 e

95 para risco de sobrepeso e ≥ percentil

95 para sobrepeso do CDC(2000) Risco de sobrepeso e sobrepeso Média e desvio-padrão de PN

e presença de diabetes gestacional

Sobrepeso associou-se ao PN (OR = 1,3; 95% IC = 1,1–1,5) e também nos recém-nascidos de mães com diabetes gestacional a razão de chance para sobrepeso foi signiicativa (OR = 1,4; 95% IC = 1,1–2,0). / Regressão logística multivariada e IC.

Cinco perguntas não se aplicaram Escore máximo: 16 Escore obtido: 16

Singhal et al.5/ Reino Unido / 2003

Transversal aninhado em

coorte

86 crianças de 5 a 9 anos e 78 adolescentes

de 13 a 16 anos

Composição corporal (massa magra e gordura) por densitometria, bioimpedância elétrica e dobras cutâneas Massa magra e gordura corporal z-escores de PN

O PN não se associou ao IMC (β = 0,7; p = 0,07 – adolescentes; β = 0,4; p = 0,06 - crianças) e nem à gordura corporal por nenhuma das equações [(Schaefer et al. (1994): β = 0,08; p = 0,24 - adolescentes; Houtkooper et al. (1989): β = 0,04; p = 0,52 - adolescentes; Deurenberg et al. (1990): β = 0,05; p = 0,30 – adolescentes e β = 0,03; p = 0,26 - crianças; e Slaughter et al. (1988): β = 0,05; p = 0,41- adolescentes e β = 0,04; p = 0,21– crianças] e nem por densitometria (β = 0,04; p = 0,24 – crianças). / Regressão linear multivariada.

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Garnett et al.18/ Austrália / 2001

Coorte prospectiva 255 crianças aos 6 meses e aos 7 a 8

anos

Peso avaliado pela referência

Australiana -Hamill et al. (1979) e composição corporal por densitometria

Percentual de gordura corporal e de gordura abdominal

z-escores de PN e de peso aos 7 e 8 anos

PN < 3000 g e maiores pesos aos 7-8 anos determinaram mais gordura abdominal (p<0,001) e percentual de gordura total (6,53±1,3%), quando comparados ao peso elevado (PN >4000 g) (4,14±0,5%) (p <0,001). A cada redução de 1 kg no PN, aumentou em 0,18 milímetros a quantidade de gordura abdominal (β = -0,18; 95% IC = -0,31 a -0,04, p = 0,009). / Teste t de Student./ Regressão linear multivariada.

Três perguntas não se aplicaram

Escore máximo: 18 Escore obtido: 15

Pietiläinen et al.19 /Finlândia /2001

Coorte retrospectiva

2.062 meninos

e 2.314 meninas gemelares, aos 16 anos

IMC ≥25 kg/m2 Sobrepeso Percentis de PN/idade gestacional

Recém-nascidos acima do percentil 95 de peso ao nascer/ idade gestacional apresentaram a mais elevada razão de chance para sobrepeso aos 16 anos, mas a associação não foi signiicativa (OR = 2,7; 95% IC = 0,7 - 10,8). / Regressão logística ajustada para variáveis biológicas dos pais.

Duas perguntas não se aplicaram ao estudo Escore máximo: 19 Escore obtido: 17

Frisancho 16/ Estados Unidos da América / 2000

Coorte prospectiva 1.993 recém- nascidos avaliados aos 15 a 17 anos, e seus pais

IMC e dobra cutânea tricipital como

variáveis contínuas

Média, desvio-padrão e z-escores de IMC

PN/idade gestacional

(PIG, AIG e GIG), IMC dos

pais, IMC e dobra cutânea

tricipital das mães

O IMC dos adolescentes foi mais elevado quando o IMC de um dos pais era elevado, independente da categoria de peso ao nascer/idade gestacional. O mesmo resultado foi observado ao se comparar as dobras cutâneas das mães e de seus ilhos adolescentes. O RR para maior IMC na adolescência foi proporcional ao PN/IG (1,9 para pequenos para a idade gestacional (PIG), 2,2 para adequados para a idade gestacional (AIG) e 5,7 para GIG), mas o maior IMC materno determinou maior incidência de IMC elevado. Nos adolescentes nascidos GIG e com mães de elevado IMC houve a maior incidência de IMC elevado (13,1%)./ Incidência e RR. O IMC do pai e da mãe se associaram signiicativamente ao IMC elevado dos adolescentes, mas o peso ao nascer não. / Regressão linear múltipla.

Uma pergunta não se aplicou ao estudo Escore máximo: 20 Escore obtido: 20

Legenda: IMC = índice de massa corporal; PN = peso ao nascer; OR = odds ratio; IC = Intervalo de Coniança; PIG = pequeno para idade gestacional; AIG = adequado para idade gestacional; GIG = grande para idade gestacional; RR = Risco Relativo. Legend: BMI = Body Mass Index); BW= birth weight; OR = odds ratio; CI=conidence interval; SGA= small for gestational age; AGA= adequate for gestational age; LGA= large for gestational age; RR = Relative Risk.

Quadro 1 – continuação

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Quadro 2 – Relação de estudos sobre associação entre peso ao nascer e obesidade em crianças e adolescentes, realizados em países com IDH elevado mas ascendente, e IDH médio, publicados no período de 2001 a 2008, de acordo com: autoria/país/ano de publicação, desenho do estudo, características e tamanho da amostra, critério de referência para diagnosticar sobrepeso/ obesidade, variáveis desfecho e exposição, resultados principais/análise estatística e comentários/escores atribuídos.

Chart 2 – Relation of studies on association between birth weight and obesity in children and adolescents, carried out in countries with high, ascending HDI, and middle HDI, published in the period from 2001 to 2008, according to: authorship / country / year of publication, study design, characteristics and size of the sample, reference criterion to diagnose overweight / obesity, outcome and exposure variables, main results/ statistical analyses and comments / attributed scores.

Autores/ País/Ano de publicação

Desenho do estudo

Amostra Diagnóstico de sobrepeso/

obesidade

Desfecho Exposição Principais resultados e análise estatística Comentários / Escore máximo e obtido

Hui et al.24 / China / 2008

Coorte prospectiva

(77,5% da população elegível)

6.075 crianças nascidas a termo, avaliadas aos 3 e 12 meses e

aos 7 anos

z-escores de IMC comparados às curvas do CDC (2000) e sobrepeso e obesidade conforme IMC

de Cole et al. (2000)

z-escores de IMC e sobrepeso (incluindo obesidade) aos

7 anos

z-escores de PN e de ganho

de peso (catch-up)

O catch-up foi mais frequente em RN BPN e com IG no mais baixo tercil. Mas, as razões de chance para sobrepeso (incluindo obesidade) foram mais elevadas nas crianças com os mais elevados pesos ao nascer e que tiveram catch-up nos períodos entre 0 e 3 meses (OR = 4,97; IC 95% = 3,16 - 7,83 – meninos; OR = 3,32; IC 95% = 1,85 - 5,95 – meninas) e entre 3 e 12 meses de idade (OR = 5,95; IC 95% = 3,66 - 9,68 – meninos; OR = 5,46; IC 95% = 3,03 - 9,82 – meninas). / Regressão logística multivariada e IC.

Uma pergunta não se aplicou ao estudo Escore máximo: 20 Escore obtido: 19

Goldani et al.20/ Brasil / 2007

Coorte prospectiva

1.189 meninos ao nascer e aos

18 anos

IMC como variável contínua

IMC médio aos 18 anos

Variáveis perinatais, entre elas, PN (<2500, 2500-2999, 3000-3499, 3500-3999, ≥4000 g)

O PN associou-se linear e proporcionalmente ao IMC aos 18 anos, em análise bivariada (PN ≥ 4000g e IMC médio=23,63: β=1,37; IC 95% = 0,22-2,53). Após ajuste para fatores socioeconômicos e biológicos, a associação permaneceu similar (PN ≥ 4000g: β=1,22; IC 95% = 0,01-2,45; p<0,05)./ Regressão linear.

Uma pergunta não se aplicou ao estudo Escore máximo: 20 Escore obtido: 15

Tomé et al.21 / Brasil /2007

Coorte prospectiva

2.797 crianças avaliadas ao nascer e aos 8

a 10 anos

IMC ≥ percentil 85 para excesso de peso e IMC ≤ percentil 5 para baixo

peso, do critério de Must et al. (1991)

Excesso de peso e baixo

peso

PN categorizado

em: <2500; 2500-3000; 3000-3500; 3500-4000 e

≥4000 g

PN ≤ 3500 g conferiu proteção para excesso de peso (PN<2500g: OR = 0,41; IC 95% = 0,19-0,86; entre 2500 e 2999g: OR=0,44; IC 95% = 0,28-0,69; entre 3000 e 3499g: OR = 0,62; IC 95% = 0,42-0,91) e associou-se a maior prevalência de baixo peso (PN<2500g: OR = 4,23; IC 95% = 1,54-1,62; entre 2500 e 2999g: OR=4,22; IC 95% = 1,78-9,98; entre 3000 e 3499g: OR = 3,73; IC 95% = 1,61-8,66). / Qui-quadrado e regressão logística multivariada.

(9)

254

R

e

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as Epidemiol

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P

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.A.G.

Moraes et al.23/ México / 2006

Transversal 700 crianças e adolescentes de 5 a 13 anos

Sobrepeso e obesidade de acordo com IMC de Cole et

al. (2000)

Sobrepeso e obesidade

22 variáveis, dentre as quais, o PN em

tercis

Escolares com PN ≥ 2890 gramas e ≥ 3110 g apresentaram maior razão chance para sobrepeso e obesidade (OR = 2,85; 95% IC = 1,49-5,47 e OR = 7,03; 95% IC = 3,53-13,99, respectivamente). / Regressão logística multivariada e Intervalos de Coniança.

Cinco perguntas não se aplicaram ao estudo Escore máximo: 16 Escore obtido: 16

Dutra et al. 22/ Brasil / 2006

Transversal 810 adolescentes entre 10 e 19

anos

IMC ≥ percentil 85 de Must et

al. (1991)

Sobrepeso PN <2500g, entre 2500 e 3999 g e >4000g

A RP para sobrepeso foi proporcional ao PN, mas as diferenças não foram signiicativas (PN <2500g: dummy, entre 2500 e 3999 g: RP= 1,74; 95% IC = 0,85-3,58; e >4000g: RP = 2,17; 95% IC = 0,92-5,13; p = 0,06)./ Teste de Wald e Regressão de Poisson multivariada.

Quatro perguntas não se aplicaram ao estudo Escore máximo: 17 Escore obtido: 17

Monteiro et al. 7/ Brasil / 2003

Transversal aninhado em

coorte

1.014 adolescentes

de 14 a 16 anos

IMC ≥ percentil 85 (Must et al. 1991) para

sobrepeso e sobrepeso

+ dobras cutâneas > percentil 90 (Johnson et al. 1991) para

obesidade

Sobrepeso e obesidade

PN (<2500, 2500–3999 e ≥4000g), PN/ Idade Gestacional,

catch-up weightgrowth

e catch-up height growth

As RP para os desfechos nos recém-nascidos≥4000g foram maiores, mas as diferenças não foram signiicativas (RP = 2,05; IC 95% = 0,83-5,08; p=0,047 para sobrepeso; e RP = 2,39; IC 95% = 0,51-11,22; p=0,173 para obesidade). O mesmo ocorreu para a associação entre PN/Idade Gestacional e sobrepeso e obesidade. Houve associação entre catch-up weight growth e sobrepeso e obesidade, e entre catch-up height growth e sobrepeso. / Regressão de Poisson multivariada e IC.

Observou-se somente uma inadequação no artigo

Escore máximo: 21 Escore obtido: 20

Stettler et al. 8/ Ilhas Seychelles / 2002

Transversal 5.514 crianças e adolescentes de 4 a 17 anos

Sobrepeso e obesidade

conforme IMC de Cole et al. (2000) e z-scores de Estatura/ Idade

Sobrepeso e obesidade

PN e taxa de ganho de peso no 1º ano (cath-up weightgrowth),

em quartis de quilogramas

O PN se associou aos desfechos em análise univariada (OR= 1,47; IC 95% = 1,23 – 1,76; p<0,001 - sobrepeso; OR = 1,94; IC 95% = 1,43 – 2,62; p<0,001- obesidade). O catch-up no 1º ano de vida se associou a sobrepeso e obesidade, independente do PN (OR = 1,46; IC 95% = 1,27–1,67; p<0,001 - sobrepeso e OR = 1,59; IC 95% = 1,29–1,97; p <0,001 - obesidade). / Regressão logística multivariada e IC.

Quatro perguntas não se aplicaram ao estudo Escore máximo: 17 Escore obtido: 17

Legenda: IMC = Índice de Massa Corporal; PN = peso ao nascer; RN = recém-nascidos; BPN = baixo peso ao nascer; IG = idade gestacional; OR = odds ratio; IC = Intervalo de Coniança. Legend: BMI = Body Mass Index; BW = birth weight; NB =newborn; LBW = low birth weight; GA = gestational age; OR = odds ratio; CI = Conidence Interval.

Quadro 2 – continuação

(10)

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Peso ao nascer e obesidade em crianças e adolescentes: uma revisão sistemática

Rossi, C.E. & Vasconcelos, F.A.G.

obesidade, sendo que a pontuação atri-buída à maioria esses artigos (3) foi muito próxima ao escore máximo que poderiam obter. Dentre os 4 artigos, 3 apresentaram associação do EPN com os desfechos, e 1 apresentou resultados relativos à asso-ciação do BPN com elevado depósito de gordura abdominal e corporal. Um dos artigos também apresentou associação entre o up weight growth e o catch-up height growth e sobrepeso/obesidade. Os demais 3 estudos (42,8%) não identii-caram associação signiicativa do PN com sobrepeso/obesidade, sendo que 1 destes mostrou relação positiva entre maiores pesos ao nascer e massa magra.

Peso ao nascer e sobrepeso/obesidade em países com IDH alto, mas ascendente, e peso ao nascer e sobrepeso/obesidade em países com IDH médio

Foram avaliados 4 estudos brasileiros,

e os resultados diferem-se. Goldani et al.20

observaram associação positiva entre PN e obesidade em indivíduos aos 18 anos de idade, mesmo após o ajuste para variáveis socioeconômicas e biológicas. No entanto, o artigo apresentou quatro falhas, sendo que três delas comprometeram a validade

externa do estudo. No artigo de Tomé et al.21,

o peso ao nascer nas diferentes categorias abaixo de 3.500 g conferiu proteção para ocorrência de sobrepeso (incluindo obe-sidade) em crianças escolares de Ribeirão

Preto (SP) (categoria de referência ≥ 4.000g),

mas também ocasionou maior ocorrência de baixo peso (IMC <= percentil 5).

No estudo de Dutra et al.22, a razão de

prevalência para sobrepeso foi proporcio-nal ao aumento do PN, porém a associação não foi estatisticamente signiicativa. No

estudo de Monteiro et al.7, identiicou-se

associação do catch-up weight growth com o sobrepeso e a obesidade e associação do catch-up height growth com sobrepeso na adolescência. Entretanto, o peso ao nascer e o peso ao nascer/idade gestacional não foram associados aos desfechos nas análises multivariadas.

No México23, observou-se que o peso

ao nascer acima de 2.890 g foi associado ao sobrepeso de escolares. Na associação com

obesidade, somente o PN ≥ 3.110 g

apresen-tou associação signiicativa.

Nas Ilhas Seychelles8 (Oceano Índico),

a associação positiva entre peso ao nascer e sobrepeso e obesidade em crianças não se confirmou na análise multivariada. Neste caso, o ganho acelerado de peso

no primeiro ano de vida (cath-up weight

growth), independente do peso ao nascer, mostrou-se signiicativamente associado à variável desfecho.

Na China24,observou-se que o catch-up

weight growth foi mais frequente em recém-nascidos BPN e com idade gestacional no mais baixo tercil. Peso ao nascer elevado

e catch-up weight growth ocorrido entre

zero e 3 meses de idade foram associados ao sobrepeso (incluindo obesidade) de crianças aos sete anos de idade. O ganho acelerado de peso até os 3 meses de idade teve maior efeito no IMC em idade poste-rior de meninos que nasceram com mais baixos pesos em comparação às meninas na mesma condição.

Dentre os 7 artigos avaliados, em 4 (57,2%) houve associação signiicativa entre PN e sobrepeso ou obesidade, sendo que a pontuação atribuída a esses artigos foi mui-to próxima ao escore máximo que poderiam obter. Dentre os 4 artigos, 3 apresentaram associação dos pesos mais elevados com os desfechos, e 1 apresentou resultados relativos à associação do BPN com baixo peso. Além disso, em 3 artigos houve asso-ciação do catch-up growth e da elevada taxa de crescimento no primeiro ano de vida e sobrepeso/obesidade. Os demais 3 estudos (42,8%), não identiicaram associação signi-icativa do PN com sobrepeso/obesidade.

Discussão

(11)

256 Rev Bras Epidemiol 2010; 13(2): 246-58

Peso ao nascer e obesidade em crianças e adolescentes: uma revisão sistemática

Rossi, C.E. & Vasconcelos, F.A.G.

fenômeno da obesidade na infância e na adolescência.

Resumidamente, entre os 14 artigos analisados, em 5 (35,7%) percebem-se resultados apontando que os pesos ao nascer mais elevados estiveram associados a maiores IMC, percentual de gordura ou sobrepeso/obesidade. Desses estudos, 3 foram realizados em países desenvolvidos da América do Norte e da Europa, nos quais se vem observando um aumento nos índices de EPN, ocasionado provavelmente pela ocorrência de obesidade materna e diabetes gestacional, que também foram fatores associados a sobrepeso e obesidade nas crianças e adolescentes. Dentre os 14 estudos, 3 identiicaram associação entre peso ao nascer e sobrepeso/obesidade so-mente nas análises não ajustadas a fatores de confusão, indicando-se as análises mul-tivariadas como essenciais nas associações para os desfechos sobrepeso e obesidade. A associação entre o catch-up growth e sobre-peso/obesidade foi observada em 4 estudos, sendo que 3 foram realizados em países de IDH ascendente e médio. O catch-up growth caracteriza-se como um crescimento rápido em peso e/ou estatura, compensatório e acima dos padrões normais de crescimento para determinada idade, que ocorre durante a reabilitação resultante de doença ou de

deiciência nutricional25,27. Como situações

de deiciência nutricional são mais comuns em países de menor desenvolvimento humano e econômico, é provável que se encontre a associação entre esse fenômeno e a obesidade na infância nesses países, en-quanto nos mais desenvolvidos a associação predominante é aquela entre o elevado peso ao nascer e a obesidade.

Apenas 1 artigo relatou resultados po-sitivos para a associação entre pesos mais baixos ao nascer e o IMC mais elevado na infância. De acordo com estudo de revisão

realizado por Barker28, três principais

meca-nismos isiológicos são citados na literatura como sendo os mediadores dos efeitos do BPN no desenvolvimento posterior de obe-sidade e até mesmo de outras enfermidades. O primeiro mecanismo seria a modiicação

da expressão fenotípica gerada pela insui-ciente replicação de células, a qual parece levar a um armazenamento de energia pelo organismo, como uma resposta adaptativa. Um segundo mecanismo seria a modii-cação gerada no metabolismo por meio da expressão hormonal, evidenciando-se uma associação entre maior resistência à insulina e BPN. Outra hipótese ainda seria a de que o BPN predispõe o indivíduo a ser mais vulnerável às inluências ambientais presentes em fases posteriores do ciclo de

vida. Saway29 observou algumas evidências

de que a recuperação do BPN por meio do catch-up growth resulta em reservas maio-res de massa gordurosa e menor estoque

protéico na musculatura. Singhal et al.5

também identiicaram que crianças nasci-das com baixo peso apresentaram menor quantidade de massa magra na infância e

adolescência. Power et al.30, por sua vez,

observaram, entre crianças de 7 a 11 anos concebidas com peso insuiciente ao nascer, uma tendência à maturação sexual precoce quando comparadas a crianças concebidas com peso adequado ao nascer. Essas evi-dências parecem indicar que o baixo peso ao nascer não inluencia diretamente na ocorrência de sobrepeso/obesidade, mas sim resulta em mecanismos de adaptação do organismo, tais como o catch-up growth e distúrbios hormonais, os quais poderiam predispor os indivíduos ao desenvolvimento de sobrepeso/obesidade. Por isso, a hipó-tese de associação entre o baixo peso ao nascer e a obesidade precisa ser mais bem explorada, avaliando-se especialmente a composição corporal em massa magra e massa de gordura.

Ainda sobre o baixo peso ao nascer, ob-servou-se que a avaliação do peso ao nascer pela idade gestacional foi identiicada como uma importante variável de interesse nos estudos, já que pode determinar se o recém-nascido sofreu restrição do crescimento intra-uterino (RCIU) ou se é um recém-nascido pré-termo com desenvolvimento uterino adequado à idade gestacional.

(12)

delinea-257 Rev Bras Epidemiol2010; 13(2): 246-58

Peso ao nascer e obesidade em crianças e adolescentes: uma revisão sistemática

Rossi, C.E. & Vasconcelos, F.A.G.

mento transversal obtiveram escores mais elevados em relação à pontuação máxima atribuída a eles. Isso pode ser explicado pela operacionalização mais facilitada desse tipo de estudo e também pela escala utilizada, que foi desenvolvida especiicamente para estudos de coorte e intervenção. Como motivo da menor pontuação nos estudos de coorte cita-se a susceptibilidade de perda amostral e, por isso, a necessidade metodológica de comparar as característi-cas dos sujeitos não avaliados àqueles que permanecem no estudo, havendo maior rigor no quesito validade externa.

Vale ressaltar que ocorreu uso de dife-rentes populações-referência para identii-car a prevalência de sobrepeso e obesidade entre as crianças e os adolescentes estu-dados, e houve signiicante variabilidade na categorização do peso ao nascer. Essa divergência entre os métodos diicultou a comparabilidade entre os estudos, e pos-sivelmente alterou a força de associação entre as variáveis de interesse em cada estudo, pois diferentes categorizações para o IMC interferem na prevalência do desfe-cho. Até mesmo numa mesma população, caso diferentes critérios para diagnosticar sobrepeso e obesidade forem aplicados,

dados distintos podem ser gerados31,32 e, por

isso, vale destacar que um estudo de revisão mais vasto, utilizando artigos com o mesmo critério diagnóstico traria resultados mais consistentes sobre a associação de interesse.

Considerações Finais

O elevado peso ao nascer apareceu as-sociado ao sobrepeso/obesidade na maioria dos artigos. Ressalta-se a necessidade de serem desenvolvidos mais estudos que ava-liem a associação entre baixo peso ao nascer e sobrepeso/obesidade, já que o número de artigos capturados que veriicaram asso-ciação com diferentes categorias do estado nutricional foi mais escasso. A padronização de critérios para deinir sobrepeso/obesida-de entre crianças e adolescentes é essencial para facilitar a comparação entre os estudos. Em relação aos estudos por nível de desenvolvimento dos países, observou-se que naqueles com IDH elevado a relação entre elevado peso ao nascer e sobrepeso/ obesidade foi mais evidente que nos demais países, e nos países em desenvolvimento (IDH elevado, mas ainda ascendente e IDH

médio) o catch-up growth associou-se ao

sobrepeso/obesidade.

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