• Nenhum resultado encontrado

Genética molecular: avanços e problemas.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Genética molecular: avanços e problemas."

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

Genét ica molecular: avanços e problemas

Mo le cular g e ne tics: ad vance s and p ro b le ms

1 Vice-Presidên cia de Pesqu isa e Am bien te, Fu n d ação Osw ald o Cru z . Av. Brasil 4365, Rio d e Jan eiro, RJ 21045-900, Brasil. 2 Coorden ação de Gestão Tecn ológica, Fu n d ação Osw ald o Cru z . Av. Brasil 4365, Rio d e Jan eiro, RJ 21045-900, Brasil.

Abst ract Th is article is an attem p t to d raw th e d iscu ssion on m olecu lar gen etics in h ealth in to th e p u blic h ealth d om ain . Now th at th e gen etic en gin eerin g revolu tion h as arrived , it is im p or-t a n or-t or-t o p oin or-t ou or-t or-t h e a d v a n ces a n d p rob lem s or-t h is or-t ech n ology p oses for socieor-t y. Ior-t is or-t im e for a clear, in form ed assessm en t of w h at w e h ave alread y ach ieved an d m ay soon ach ieve u sin g th is tech n ology. Clearly, society n eed s to u n d erstan d th e eth ical an d p ractical im p lication s of a tech -n ology w h ich ca-n p rod u ce m iracle d ru gs a-n d m od er-n d iag-n oses a-n d cu re virtu ally every d isease. Im p ort a n t p oin t s from sen sit iv e socia l issu es ra ised b y m olecu la r b iology a n d t h e h u m a n gen om e p roject are d iscu ssed .

Key words Molecu lar Gen etics; Biotech n ology; Pu blic Health ; Eth ics

Resumo Est e a rt igo t ra z a d iscu ssã o sob re gen ét ica m olecu la r em sa ú d e a o ca m p o d a sa ú d e p ú blica. Com a revolu ção p rod u zid a p ela ch egad a d a en gen h aria gen ética, é im p ortan te d iscu tir algu n s d os avan ços e p roblem as d esta tecn ologia p ara a socied ad e. Está n a h ora d e se fazer u m a a v a lia çã o cla ra e bem in form a d a a cerca d o qu e já se con segu iu e d o qu e a in d a p od em os con -segu ir através d esta tecn ologia. A socied ad e p recisa com p reen d er as im p licações éticas e p ráticas d e u m a tecn ologia cap az d e p rod u zir d rogas m ilagrosas, d agn ósticos m od ern os e a cu ra d e tod as as d oen ças. Algu n s p on tos p articu larm en te d elicad os p ertin en tes às qu estões sociais ligad as à biologia m olecu lar e ao p rojeto gen om a h u m an o são d iscu tid os.

Palavras-chave Gen ética Molecu lar; Biotecn ologia; Saú d e Pú blica; Ética Eloi S. Garcia 1

(2)

A p a rtir d e 1972 u m a série d e d esco b erta s re-vo lu cio n o u o estu d o d a gen ética e p erm itiu o su rgim en to d e u m a “n ova ciên cia”, a gen ética m olecu laro u en gen h aria gen ética – u m co n -ju n to d e técn ica s o n d e u m d eterm in a d o fra g-m en to d e DNA (á cid o d esoxirrib o n u cléico ) é isolad o e os gen es são p u rificad os, exam in ad os e m an ip u lad os:

(i) a d esco b erta d e en zim a s q u e tin h a m a p rop ried ad e d e clivar (h id rolisar) m aterial gen ético em lo ca is esp ecífico s (seq ü êgen cia s gen u -cleotíd icas) d os gen es, d ivid in d o a d u p la h élice d o DNA em p ed aços m en ores – estas en zim as foram ch am ad as d e en zim as d e restrição;

(ii) a d esco b erta d e en zim a s ca p a zes d e u n irem fragm en tos d e DNA (gen es) – en zim as d e ligação; e

(iii) a d esco b erta d e in ú m ero s m icro cro -m osso-m os (-m in iorgan is-m os) – os p las-m íd ios, u sa d o s co m o veto res d e fra gm en to s d e DNA. Estava com eçan d o u m a n ova tecn ologia b asea-d a n a exp an são asea-d o con h ecim en to sob re o DNA. Esta s d escob erta s leva ra m a tecn ologia d e clon agem , i.e., a p u rificação d e gen es ou cóp ia d eles p or rep rod u zi-los em gran d e n ú m ero n a b a ctéria h o sp ed eira . Da í p a ra a tecn o lo gia d e DNA recom b in an te d om in ar a ciên cia b iológi-ca e b iom éd iiológi-ca foi u m p asso. Torn ou -se p ossí-vel o u so d e son d as (“p rob es”) gen éticas – p ed aços ed e gen es ou cóp ias ed e DNA com p lem en -tar – p ara h ib rid ização. A son d a m arcad a com traçad ores rad ioativos ou flu orescen tes p od e-ria d etecta r a fo rm a h íb rid a (co m p lem en ta r) d e fragm en tos ou regiões esp ecíficas d o DNA. Esta tecn ologia torn ou se o p rin cíp io m olecu -la r d e in ú m era s técn ica s u tiliza d a s em d ia g-n ó stico s d e d o eg-n ça s geg-n ética s, ig-n feccio sa s e p arasitárias.

A gen ética m olecu lar p od e ser u tilizad a p a-ra fa zer co m q u e gen es esta-ra n h o s seja m ex-p ressos em b actérias e leved u ras ou m esm o em ou tras célu las su p eriores. As in d ú strias q u ím i-ca, farm acêu tica e agrária p assaram a in vestir m ilh ares d e d ólares n o d esen volvim en to d esta tecn ologia. Com isto, foram d esen volvid as téc-n ica s ca p a zes d e p rod u zir d ia gtéc-n ósticos extre-m aextre-m en te sen síveis, e corrigir gen es coextre-m erros in a to s, “fa b rica r” a n im a is tra n sgên ico s, etc. Torn ou se p ossível m od ificar o gen om a e algu -m as características d e u -m in d ivíd u o n a d ireção p la n eja d a . O co n h ecim en to m o lecu la r d e ge-n es p o ssib ilito u a o ferta d e va ria d o s testes ge-n a form a d e k its, ao con trário d os p roced im en tos clá ssico s tra b a lh o so s u sa d o s a n terio rm e n t e em d iagn ósticos.

Um a ou tra técn ica d esen volvid a n o m esm o p eríod o tam b ém p or clon agem foi a p rod u ção d e an ticorp os m on oclon ais, q u e são u tilizad os

com o m arcad ores gen éticos. Ju n tas, as tecn o -lo gia s d a gen ética m o lecu la r e d e h ib r id o m a p ro d u zira m a s ferra m en ta s b io ló gica s n eces-sá ria s p a ra exp lo ra r e co n h ecer a s p rin cip a is fu n ções celu lares em n ível m olecu lar e d esen -volver m étod os sen síveis e esp ecíficos d e d iag-n ósticos. Nesta área, a b iologia com eçou a ser com ercial.

No fin a l d o s a n o s 70 a té m ea d o s d o s a n o s 80 fo ra m cria d a s n o s EUA vá ria s co m p a n h ia s q u e se p ro p u n h a m d esen vo lver co m ercia l-m en te p rod u tos u tilizan d o estas l-m etod ologias. Foi u m verd ad eiro “b oom” n a ép oca. Acred ita-va -se em u m n ovo m ila gre in d u stria l. Qu a se tu d o n a b iologia p od eria ser p rod u zid o d esd e q u e fossem con h ecid os os gen es. Logo d ep ois veio o d esen can tam en to. Nem tu d o p od eria ser realizad o p elo con h ecim en to gerad o p ela b io-logia m olecu lar. Mesm o assim algu n s p rod u tos fo ra m co n sa gra d o s n esta ép o ca . Em 1982 a Lilly foi au torizad a p elo Food an d Dru g Ad m in -istration (FDA) – agên cia govern am en tal am erica n a resp o n sá vel p elo registro d e m ed ica -m en tos – p ara en trar n o -m ercad o co-m a in su li-n a ob tid a p or eli-n geli-n h aria geli-n ética. Hoje já fo-ra m reco n h ecid o s o u tro s p ro d u to s: va cin a co n tra h ep a tite B, h o rm ô n io d e crescim en to, ativad or d e p lasm in ogên io esp écie-esp ecífico (TPA), alfa-in terferon . No en tan to, ou tros p ro-d u tos n ão tiveram o m esm o su cesso n o m erca-d o.

Co m o a va n ço d a en gen h a ria gen ética e a p o ssib ilid a d e d e se co n h ecer ca d a gen e e su a fu n çã o n o s seres h u m a n o s (Pro jeto Gen o m a Hu m an o), as ciên cias b iológicas e b iom éd icas d eixaram d e ter u m p ap el secu n d ário n a evolu -ção d as ciên cias em geral.

(3)

-n a is co -n tid o s em 23 p a res d e cro m o sso m o s. Assim , se tiverm o s 200 gru p o s tra b a lh a n d o, com a tecn ologia atu al, seriam n ecessários cer-ca d e 10 a 12 an os p ara se ter o gen om a h u m a-n o to ta lm ea-n te m a p ea d o. O Pro jeto Gea-n o m a Hu m an o é con sid erad o o m ais am b icioso p ro-jeto cien tífico realizad o n este sécu lo. Seu cu sto é d e cerca d e 2,5 b ilh ões d e d ólares. O b iólogo n orte-a m erica n o Dr. Ja m es Dewey Wa tson (n . 1928 – ) – u m d o s d esco b r id o res d a estru tu ra d e d u p la h élice d o DNA e p rêm io No b el em 1962 – su geriu q u e 3% d este m o n ta n te fo sse u tilizad o n o estu d o d os asp ectos éticos, sociais e ju ríd ico s d o tra b a lh o. Wa tso n co o rd en o u o Cen tro Nacion al p ara Pesqu isa d o Gen om a Hu -m a n o d e 1989 a 1992. E-m -m ea d o s d e 91, fo i an u n ciad o qu e os Nation al In stitu tes of Health esta ria m ten ta n d o p a ten tea r seq ü ên cia s d e DNA d e gen es exp resso s n o céreb ro h u m a n o. Watson foi totalm en te con tra esta estratégia e, em ab ril d e 92, p ed iu d em issão, fican d o com o d iretor ap en as d o Lab oratório Cold Sp rin g Har-b o r. Em seu lu ga r, a ssu m iu Fra n cis Co llin s, d escob rid or d o gen e d a fib rose cística.

O m a p ea m en to d o s gen es p erm itirá o co -n h ecim e-n to d a fu -n ção d e cad a u m -n o orga-n is-m o. A p o sse d e to d a a in fo ris-m a çã o co d ifica d a n o gen o m a h u m a n o n o s d á créd ito, p elo m e -n os i-n icial, p ara com p ree-n d er os m eca-n ism os d o d esen volvim en to, d a fisiologia e até m esm o d o com p ortam en to h u m an o. Ser u m b iologis-ta n os d ias d e h oje, n a área d a b ioqu ím ica e d a gen ética m o lecu la r, é u m a ta refa d e en tu sia sm o e d ificu ld ad e. En tu siassm o d evid o ao avan -ço n o co n h ecim en to q u e esta tecn o lo gia n o s traz e qu e p od e levar a m u d an ças e a n ovos d esa fios socia is e cu ltu ra is. Dificu ld a d e em fu n -çã o d a p o ssib ilid a d e d o n a scim en to d e u m a n ova m oral, u m n ovo escrú p u lo, u m a n ova éti-ca cien tífiéti-ca e tecn ológiéti-ca.

Nos d ias d e h oje, se h á u m cam p o cien tífico em q u e p esq u isa d o res e so cied a d e d evem esta r ju n to s e fa zer u m a gra n d e reflexã o é a en -trad a d a en gen h aria gen ética n a área d a saú d e. Rea lm en te, tem -se d im in u íd o o p erío d o d e tem p o qu e sep ara as d escob ertas n as b an cad as d o s la b o ra tó rio s e su a s a p lica çõ es n a sa ú d e p ú b lica . Cien tista s e p o p u la çã o sã o fa ces d e u m a m esm a m oed a. As recen tes tecn ologias d a b io lo gia m o lecu la r e d a im u n o lo gia , a s q u a is resu ltaram em m étod os d e d iagn ósticos extre-m aextre-m en te sen síveis, d eextre-m oraextre-m d e 6 a 8 an os p a-ra sa írem d o s la b o a-ra tó rio s e serem u sa d o s n a m ed icin a.

O Pro jeto Gen o m a Hu m a n o a tra i gra n d es em p resas (veja Tab ela 1). Os testes p ara d etectar p artes falh as d o DNA, cau sad oras d e d oen

-ça s co m o a fib ro se cística , rep resen ta m u m m erca d o n o va lor d e US$ 376 m ilh ões a o a n o. O m étod o d e seqü en ciam en to ráp id o d e gen es d esen vo lvid o p o r J. Cra ig Ven ter, ex-cien tista d os Nation al In stitu tes of Health e atu al ch efe d o Th e In stitu te for Gen om e Research , está levan d o várias firm as a reavaliarem su as tecn o -logias.

Tab e la 1

Alg umas Emp re sas Envo lvid as no Pro je to Ge no ma Humano Emp re sas farmacê uticas e firmas d e b io te cno lo g ia q ue e stão e xp lo rand o o g e no ma humano

Empresa Est rat égia

Human Ge no me Scie nce s De co d ificar to d o s o s g e ne s humano s e d e se nvo lve me d icame nto s e d iag nó stico s, e m p arce ria co m o utras e mp re sas.

Smithkline Be e cham Inve stiu US$125 na Human Ge no me Scie nce s p ara utilizar suas se q üê ncias p ara criar no vo s p ro d uto s.

InCyte Pharmace utical Le r DNA d e muito s te cid o s d ife re nte s p ara e nco ntrar g e ne s inte re ssante s.

Ve nd e r o ace sso ao s se us d ad o s.

Pfize r Pag o u à InCyte US$ 25 milhõ e s p ara te r ace sso ao b anco d e d ad o s.

Up jo hn Assino u aco rd o d e US$ 20 milhõ e s co m a InCyte p ara o b te r d ad o s d e g e ne s.

Bristo l-Mye rs Sq uib b Inve stiu na SEQ e Cad us p ara d e se nvo lve r no va te cno lo g ia d e le itura d e g e ne s e se le ção d e d ro g as.

Mille nnium Pe sq uisar g e ne s e sp e cífico s q ue causam a o b e sid ad e , d iab e te s, asma, ate rio scle ro se e cânce r.

Ho ffmann-LaRo che Assino u aco rd o d e US$ 70 milhõ e s co m a Mille nnium.

Me rck Pag o u à Unive rsid ad e d e Washing to n p ara le r 200 mil frag me nto s g e né tico s.

Divulg ar o s d ad o s ao p úb lico .

Se q uana The rap e utics Pe sq uisar histó ria d e famílias e d ad o s d a HMO e m b usca d e g e ne s q ue causam hip e rte nsão , asma e o b e sid ad e .

Amg e n De co d ificar g e ne s p ara e nco ntrar no vo s alvo s d e me d icame nto s.

Take d a Usar d ad o s d a Smithkline e Human Ge no me Scie nce s p ara d e se nvo lve r re mé d io s.

(4)

in fecciosas (p rin cip alm en te as virais) e p arasi-tárias p od em cau sar alterações com p lexas. Um n ú m ero alto d e p essoas p ossu i con d ições p oli-gên icas – d iab etes d ep en d en te d e in su lin a, ar-teriosclerose, h ip erten são, algu m as form as d e d ep ressão –, on d e vários gen es se in teragem e se com b in am com o am b ien te e estilo d e vid a, p rod u zin d o a d oen ça.

Co m o o p ro gresso a en gen h a ria gen ética p erm ite d etecçã o d e có p ia s o u m esm o fra g-m en tos d e gen es (h ib rid ização, PCR, RFLP, etc.) h a ven d o p o ssib ilid a d e d e se d ia gn o stica r d oen ças gen éticas n o recém -n ascid o ou n o fe-to, o u m esm o em a d u lto s. Qu a n d o rea liza d o em p essoas ad u ltas estes d ad os p od em levar ao “acon selh am en to” d o casal a n ão ter filh os d evid o, p o r exem p lo, à p ro b a b ilid a d e d e ter ge -n es d e a lto risco. Um o u tro p o -n to a ser co -n si-d erasi-d o é a con seq ü ên cia si-d a si-d oen ça p ara o re-cém -n ascid o ou feto, qu an d o n ão h á terap ia. A socied ad e n ão d eve su b estim ar este p rob lem a. As co n seq ü ên cia s lega is e m o ra is d e u m a exp an são d e d iagn ósticos gen éticos são am ea-ça d oras. Por exem p lo, o q u e fa ria m os p a is d e u m a cria n ça n a scid a co m erro in a to d e m eta-b olism o, se sou eta-b esse qu e a d oen ça p od eria ser d iagn osticad a n o feto, ou m esm o an tes d a con cep çã o d o b eb ê? Um o u tro p ro b lem a , a im p ressão “gen ética” (DNA fin gerp rin t) d e u m in -d iví-d u o – tecn o lo gia já u tiliza -d a h o je p a ra id en tifica çã o d e p a ter n id a d e e q u e, fu tu ra -m en te, p od erá ser u tilizad a p ara ap oio às au to-rid ad es d e im igração, id en tificar “p ossíveis” al-terações in d ivid u ais ou “p oten ciais” m od ifica-çõ es d e p erso n a lid a d e, o u m esm o fa to res d e risco p ara d eterm in ad as d oen ças h ered itárias – e p ro d u zir seres h u m a n o s d e p rim eira e se gu n d a classe. O qu e fariam a m ed icin a p reven -tiva, as com p an h ias d e segu ro, as in d ú strias n a seleção d e seu s em p regad os, o n oivo n a esco-lh a d a co m p a n h eira , etc? A so cied a d e p recisa sab er d isto.

Va m o s a p ro fu n d a r u m p o u co m a is estes p o n to s. Um feto co m a lgu n s m eses d e d esen -volvim en to q u e ap resen tasse, p or d iagn óstico gen ético, u m a d oen ça h ered itá ria . Seria reco-m en d ável u reco-m ab orto? Esta ten tação d e eu gen ia n os leva a esq u ecer a essen cia lid a d e h u m a n i-tá ria , a sen sib ilid a d e d a s p essoa s, a ética p esso a l. A esso cied a d e p recisa d iscu tir p ro fu n d a -m en te esta qu estão.

A en gen h a ria gen ética p o d eria a in d a in flu en cia r a m ed icin a n o co n tro le d a rep ro d u -ção. Por exem p lo, p od eria m od ificar em b riões h u m a n os p or técn ica s tra n sgên ica s. Isto q u er d izer, m an ip u lação d e gen es, elim in ação d e ge-n es “ru ige-n s” e ige-n serção d e gege-n es “b oge-n s” (terap ia gên ica ). Certa s d o en ça s p o d erã o ser tra ta d a s A b io lo gia m o lecu la r to rn o u -se u m gra n d e

“n egócio” p ara a socied ad e. Os b on s cien tistas sa íra m d a “to rre d e m a rfim” e ju n to co m p ro -fissio n a is d a á rea d e sa ú d e, ju rista s, filó so fo s e religiosos, com eçaram o d eb ate com a socie-d a socie-d e so b re o u so socie-d a en gen h a ria gen ética em seres h u m a n o s, o p a ten tea m en to d a vid a e a ética . A so cied a d e a in d a n ã o esq u eceu o im -p a cto terrível d a ex-p eriên cia n a zista , n em a s ca m p a n h a s d e e st e r iliza çã o m a ciça d o s a l-co ó la tra s, p sicó til-co s, p o rta d o res d e d o en ça s ge n é tica s re a liza d a s e m a lgu n s e sta d o s a m e-rican os n os an os 20 e 30. Seria fácil cair n o m a-n iq u eísm o. Mas, p ara a ciêa-n cia, o im p acto so-cia l d e n ova s técn ica s, p o r exem p lo, d e d ia g-n ó stico p ré-g-n a ta l, erro s ig-n a to s o u m esm o d e rep ro d u çã o h u m a n a a ssistid a , n ecessita m d e u m a reflexão p rofu n d a d a socied ad e. Com es-tes q u estio n a m en to s é q u e a b io ética en tro u seriam en te n o cen ário cien tífico e tecn ológico. Seria ético m an ip u lar a n atu reza?

Co m o vim o s, o gen o m a h u m a n o é im en so e p ossu i m ilh ares d e gen es. O tam an h o d o DNA h u m an o facilita alterações e com b in ações ge -n ética s q u e p o d em refletir em co -n h ecid a s d o en ça s h ered itá ria s. Po r lo n go tem p o, essa s d oen ças eram estu d ad as b asean d ose em ob servações teratogên icas, as m alform ações con -gên itas, ou d oen ças gen eticam en te tran sm issí-veis, com o a con h ecid a h em ofilia, b astan te es-tu d ad a n os d escen d en tes d a fam ília real ru ssa. Ap ós a ú ltim a gu erra os erros in atos com e-çaram a ser in vestigad os p elo refin am en to d as técn icas citológicas e cariótip os. Os avan ços d a b io q u ím ica e im u n o lo gia p er m itira m o d ia g-n óstico d e várias d oeg-n ças geg-n éticas relaciog-n a-d as ao m etab olism o – alcap ton ú ria, cistin ú ria, h em o -glo b in o p a tia s, a lb in ism o, etc. A esta s d oen ça s a crescen ta m os ou tra s com o a n en ce-falia, esp in h a b ífid a, p sicoses m an íaco-d ep res-siva s, d o en ça d e Hu n tin gto n , m a l d e Alzh ei-m er, sín d roei-m e d e Down , fib rose cística, ei-m u co-viscid ose, b em com o a d etecção d os gen es res-p o n sá veis res-p elo câ n cer d e m a m a vá r io s a n o s an tes d o tu m or ser d etectad o p or m am ografia. Hoje se con h ece cerca d e 3.000 d oen ças re-la cio n a d a s a “d efeito s” gen ético s. Estim a -se q u e 1% d os n ascim en tos traga d e algu m a m a -n eira u m b eb ê com d eficiê-n cia ge-n ética, e q u e 30% d a m o rta lid a d e in fa n til (em p a íses n ã o a feta d o s co m d o en ça s en d êm ica s e m á n u tri-çã o ) esteja m rela cio n a d o s a u m erro in a to d o m etab olism o ou a u m a m alform ação con gên i-ta – qu e reflete i-tam b ém alteração m ei-tab ólica.

(5)

p or rep osiçã o d o gen e d efeitu oso. Seria a ver-sã o m od ern a d o b eb ê d e p roveta ou d a rep rod u çã o a ssistirod a . É b em verrod a rod e q u e rep ro rod u -çã o a ssist id a , p r in cip a lm e n t e, in se m in a -çã o a r tificia l, fertiliza çã o “in vitro’’, im p la n te d e e m b riã o, já ve m se n d o u sa d a p e la m e d icin a veterin ária p or vários an os. A m ed icin a h u m a-n a co m eço u a u sa r esta s teca-n o lo gia s m a is re-cen tem en te. Neste re-cen á r io p o d em o s p en sa r qu e u m a crian ça p od erá ser “gerad a” totalm en -te fora d o organ ism o d a m ãe, com o as p lan tas cu ltivad as n a au sên cia d e solo, n o Ep co t Cen -ter (EUA).

Gen es fo ra m in serid o s em ca m u n d o n go s, co elh o s, p o rco s e ovelh a s. Cerca d e d ez a n o s a p ó s a d esco b erta d a tra n sgên ese fo ra m p ro -d u zi-d as m ais -d e 1.000 cep as -d e cam u n -d on gos e m a is d e d ez tip o s d e p o rco s gen etica m en te alterad os. Hoje já são gerad as ovelh as qu e p ro-d u zem leite con ten ro-d o fator 9, q u e p oro-d e ser ex-traíd o e u tilizad o com o m ed icam en to p ara h e-m o filia . Ta e-m b ée-m fo i cria d a u e-m tip o d e ovelh a q u e p ro d u z leite co n ten d o TPA em q u a n tid a -d e su ficien te p a ra su p rir a -d em a n -d a m u n -d ia l d a d roga.

O p a ten tea m en to d a vid a é o u tra q u estã o b astan te com p lexa. Em 1972, a m icrob iologis-t a An a n d a Ch a kra b a r iologis-t y, d a Un ive r sid a d e d e Illin o is, d e s e n vo lve u u m m ic r o o r ga n is m o e n ge n h e ira d o n ã o -re co m b in a n t e ca p a z d e d egrad ar com p on en tes d o p etróleo b r u to. Em 1980, a Su p rem a Corte Am erican a con ced eu a p aten te a este m icroorgan ism o, con stitu in d o o p rim eiro ser vivo p aten tead o n os EUA. O caso to rn o u -se ju risp ru d ên cia p a ra o Escritó rio Am erican o d e Paten tes. Desd e en tão, os p ed id o s id e p a ten te rela cio n a id o s a seres vivo s p a -re cem n ã o ter lim ites. Em 12 d e a b r il d e 1988 foi con ced id a à Un iversid ad e d e Harvard a p a-ten te U.S. 4.736.866, p ara u m rato tran sgên ico, qu e con tin h a u m gen e cau sad or d e cân cer.

O p ro b lem a ético é sério. Os co n h ecim en -to s so b re a gen ética h u m a n a e a n im a l p o d em ser exp lo ra d o s eco n o m ica m en te p o r em p re-sas? A ten d ên cia in tern acion al é qu e p revaleça a s ra zõ es eco n ô m ica s. Acred ita m o s q u e em b reve as legislações d e p rop ried ad e in d u strial d os p aíses em d esen volvim en to estarão ad ap -ta d a s a o s n ovo s tem p o s e à glo b a liza çã o d o s m ercad os, d e acord o com a lógica n eolib eral.

A socied ad e p recisa refletir e d ecid ir com o ela qu er e d eve u tilizar os con h ecim en tos gera-d o s p ela en gen h a ria gen ética . Nã o b a sta ter u m a vid a sau d ável e m aior exp ectativa d e vid a. É n ecessária u m a vid a ética e n ecessariam en te m ais feliz.

Para fin alizar, h istoricam en te sab em os qu e q u an d o Darwin p u b licou h á cerca d e 130 an os

Referências

Documentos relacionados

acesso”. Quem vai definir o perfil do usuário no SIGUE, responsável pela efetivação dos registros institucionais da UEL – Unidade Escoteira Local, será o Diretor Presidente da

Sem prejuízo do disposto anteriormente é, no entanto, permitido o reembolso antecipado (total ou parcial) do capital mutuado, bem como a reestruturação de operações por acordo

BASICO

Esse é um dos aspectos em que a elaboração de um Plano Educacional pode contribuir de modo mais efetivo - cada setor, preservando a sua especificidade, deverá indicar quais as

Dentre elas, podemos destacar as técnicas Eigenfaces e Fisherfaces, que origi- naram toda uma corrente de estudos sobre reconhecimento de faces, assim como as técnicas PCA

O rendimento da luminária é um importante critério na eco- nomia de energia e decisivo para os cálculos luminotécni- cos, sob condições específicas: posição de funcionamento

É com vistas ao empoderamento, que podemos correlacionar à promoção dos direitos humanos e a lei 11.645-08, sendo essa ao mesmo tempo um marco jurídico em direção à

Ter o apoio da liderança foi identificado por 47% das entrevistadas como o principal fator para ajudar a reduzir os sentimentos da síndrome da impostora no local de trabalho,