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Educação musical escolar: O canto orfeônico na Escola Normal de Belo Horizonte (1934-1971)

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Academic year: 2017

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EDECDÇÃO MESICDL ESCOLDR:

OmCANTOmORFEÔNICOmNAmESCOLAmNORMALmDEm

BELOmHORIZONTEm(1934-1971).

BelomHorizonte

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EDECDÇÃO MESICDL ESCOLDR:

OmCANTOmORFEÔNICOmNAmESCOLAmNORMALmDEm

BELOmHORIZONTEm(1934-1971).

Dissertação m dem mestradom apresentada m ao mPrograma de Pós-Graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social, m da m Faculdade m de m Educação m dam Universidade m Federal m de m Minas m Gerais, m comom requisitomparcialmàmobtençãomdomtítulomdemMestrememm Educação.

Áreamdemconcentração:mHistóriamdamEducação.

Orientadora: m Professora m Doutora m Cynthia m Greivem Veiga.m

BelomHorizonte

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Normalmentemasmatividadesmacadêmicasmsãommuitomsolitárias.mMasmnamescritamdessam dissertaçãomnuncamestivemoummemsentimsozinho.mPormissomqueromagradecermemdedicarmestemtrabalhom amalgumasmpessoasmquemparticiparam,mdiretamoumindiretamente,mdestemprazerosomperíodo.

PrimeiramentemàmDeus.

Em m segundo m lugar m à m minha m orientadora, m professora m Cynthia m Greive m Veiga m pelam orientaçãomcompetentememdedicada,mpelamleituramminuciosamempelomapoiomamigomemmtodosmosm momentos.

Queromagradecermdemmaneirammuitomespecialmàmminhamfamília,mamquemmdedicomestem trabalho.mMãe,mPaimemAnanda,mobrigadompelampaciência,mpelomapoiomempelomrespeito.mPrometomquem nãomficommaismenchendomomsacomdemvocêsmcommasmconversasmsobremampesquisamemquemnãomvoum maismocuparmamcasamtodamcommessemmundaréumdemlivros.mPablomemÉrika,mquemmesmomdistantesmmem proporcionarammommomentommaismalegremdosmúltimosmtempos,mamvindamdampequenininhamLaís.m Amomvocês.mJámiammemesquecendomdasmdonasmdamnossamcasa!mShiva,mClaramemLua,momquemseriamdem nósmsemmvocês?

Aos m meus m avós m queridos, m em m especial m meu m avô m Beline, m vocês m fazem m parte m dam minhamvida!mAommeumpovomdemBelomhorizonte,mAbaeté,mCuritiba,mPernambucomemDivinópolis,m tios, m tias, m primos, m primas, m valeu m a m força, m este m trabalho m também m é m de m vocês. m Quero m deixarm registradamtambémmamlembrançamaosmqueridosmtiomCorreinha,mArnaldomemàmminhampriminhamlindam Letícia,mseimquemvocêsmestarãomsempremcomigo.m

AompessoalmdomGrupomdemPesquisamemmHistóriamdamEducaçãom–mGEPHE,mpelomapoiom acadêmicomempelasmàsmamizadesmconstruídas.mAosmprofessoresmpelasmleiturasmsempremprecisasmem pelo m auxílio m nas m horas m necessárias. m Quero m destacar m alguns m amigos m verdadeiros m que m fiz m nom Gephe:mAdair,mAlessandra,mJuliana,mLarissa,mCarol,mClarice,mClaudinha,mCecília,mZica,mMariana,m Cleide, m Célia, m Cida, m Betânia, m Fernanda, m Paola, m Aleana, m Andréia. m Acho m que m me m lembrei m dem todos...mEmemmespecialmaomEliezer,mcomedormdempoeiramdosmarquivosmdomInstituto.mEliezer,mvaleumam força,momapoiomemamamizade.mSemmomseumauxíliomissomnãomiamdarmcerto.

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Queromagradecermamummoutromgrandemamigo,mFlávio,mpelomtantomquemmemajudoumnestam curtamtrajetória.mFlávio,msemnãomfossemamoportunidademdempesquisarmcommvocê,mnadamdistomseriam possível.

Agradeçomàsminstituiçõesmquemapoiarammessampesquisa:mAomInstitutomdemEducaçãomdem Minas m Gerais, m na m figura m dem sua m diretora m Marília m Sartí, m ao m Museu m da m Escola m do m Centro m dem ReferênciamdomProfessormemaomLuizmTomichmpelomapoio.

AomprofessormLuizmMaiamquemmemauxilioumamcompreendermummpoucommaismsobremam educaçãommusicalmemmMinasmGerais.

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Este m trabalho m investigou m a m implantação m e m a m consolidação m do m Canto m Orfeônico m enquantom modalidade m de m educação m musical m na m Escola m Normal m de m Belo m Horizonte, m atual m Instituto m dem EducaçãomdemMinasmGerais,mnomperíodomcompreendidomentrem1934mem1971.mProcurou-semanalisarm asmpermanênciasmemrupturasmpresentesmnosmargumentosmacercamdameducaçãommusicalmescolarme,m mais m especificamente, m do m canto m orfeônico m em m artigos m publicados m em m periódicos, m emm bibliografiamdemreferênciamememmanotaçõesmemregistrosmescolares.

A m pesquisa m demonstrou m a m relação m entre m a m educação m musical m e m os m ideaism civilizadoresmemestéticosmpresentesmnampedagogiamromânticamdomséculomXIXmementremameducaçãom musicalmescolarmdominíciomdomséculomXXmemamcorrentemdosmmúsicosmnacionalistasmbrasileiros.mAm pesquisamdocumentalmrealizadamnamantigamEscolamNormalmdemBelomHorizontempermitiumanalisarmam práticamcotidianamdomcantomorfeônicomemamconseqüentemformaçãomdocentemvoltadamparamomcantom escolar.

Palavras-chaves:mcantomorfeônico,mEscolamNormal,meducaçãommusicalmescolar.

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ThismstudymaddressedmthemsettlementmofmOrfpheonicmSingingmasmammusicalmeducationm modalityminmthemperiodmbetweenm1934mem1971matm“EscolamNormal”mofmBelomHorizonte,mnowm called m “Instituto m de m Educação m de m Minas m Gerais”. m Permanencies m and m disruptions m on m them discoursemaboutmschoolmmusicalmeducationmand,minmparticular,maboutmthemeducationmmodalitymofm Orfpheonicmsingingmweremanalyzedmthoughmthemexaminationmofmarticlesmpublishedmonmjournals,m referencembibliographymandmonmschoolmrecords.

Themresearchmbroughtmoutmevidencesmofmthemrelationshipmbetweenmmusicalmeducationm andmenlighteningmandmestheticmidealsmexistentmonmromanticmpedagogymofmXIXmcentury,masmwellmasm themrelationshipmbetweenmmusicmteachingmcarriedmbymeducationalminstitutionsmofmthembeginningmofm XXmcenturymandmthemBrazilianmschoolmofmnationalistmmusicians.mDocumentalmresearchmdonematm former m “Escola m Normal” m of m Belo m Horizonte m allowed m the m analysis m of m daily m practice m ofm orfpheonicmsingingmandmconsequentmformationmofmteachersmtomschoolmsinging.

Key-words:morfpheonicmsinging,mEscolamNormal,mschoolmmusicalmeducation.

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Figura 1:mLateralmdamEscolamNormalm–m1946...mm85

Figura 2:mDesfilem–m1937...125

Figura 3:mAvaliaçãomdemCantomOrfeônicom–m1939...132

Figura 4:mAtividademorfeônicam–m1938...139

Figura 5:mapresentaçãominfantilmnamfestamdamprimaveram–m1952...144

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Tabela 1: Disciplinasmemnúmeromdemsériesmdemacordomcommosmníveis,mapósmam LeimOrgânicamdem1946...95

Tabela 2: Calendário m das m manifestações m musicais m na m Escola m Normal, m dem 1934mam1936...136

Tabela 3: Calendário m das m manifestações m musicais m na m Escola m Normal, m dem 1937mam1938...137

Tabela 4: Calendário m das m manifestações m musicais m na m Escola m Normal, m dem 1939mam1945...138

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INTRODEÇÃO

... 11

CDPÍTELO 1: O CDNTO NDCIONDLIZDDOR

... 22

1.1. Canto, civilização e folclore ...22

1.2. O Nacionalismo Musical Brasileiro... 27

mmmmmmmm1.2.1.mPrimeirosmacordesmdomNacionalismomMusical...28

mmmmmmmm1.2.2.mHeitormVilla-Lobos... 32

mmmmmmmm1.2.3.mOutrosmartistasmdomNacionalismomMusicalmBrasileiro... 43

mmmmmmmm1.2.4.mAlgunsmAcordesmDissonantes... 46

1.3. O Canto Orfeônico no Brasil... 47

mmmmmmmm1.3.1.mOmCantomOrfeônicomsobmambatutamdommaestro... 50

CDPÍTELO 2: EDECDÇÃO ESTÉTICD

... 61

2.1. Educação estética e educação dos sentidos... 61

mmmmmmmm2.1.1.mDoismrepresentantesmdampedagogiamromânticamalemã:mPestalozzimemFröebel... 69

2.2. O debate da educação estética no Brasil... 74

mmmmmmmm2.2.1.mOmescolanovismomemameducaçãomestética... 76

CDPÍTELO 3: EDECDÇÃO MESICDL ND ESCOLD NORMDL

DERDNTE DS PRIMEIRDS DÉCDDDS REPEBLICDNDS

...82

3.1. D organização da Escola Normal em Minas Gerais... 85

3.2. O canto nas primeiras décadas republicanas (1906 – 1934)... 96

3.3. O canto na rotina escolar... 109

CDPÍTELO 4: OBRIGDTORIEDDDE DO CDNTO ORFEÔNICO

– 1934 a 1971

... 115

4.1. Ds práticas do ensino de canto na sala de aula...120

mmmmm4.2.mEstado-NovomemcantomorfeônicomnamEscolamNormalmdemBelomHorizonte...125

mmmmm4.3.mAmculturammusicalmnamEscolamNormal... 132

mmmmm4.4.mOmcantomorfeônicomnasmatividadesmoficiais... 139

mmmmm4.5.mOmcantompraticadomentrem1946mem1971... 143

CONCLESÃO...157

REFERÊNCIDS BIBLIOGRÁFICDS...160

FONTES...166

DNEXO 1:mEntrevistamcommomprofessormLuizmGuimarãesmMaia... 170

DNEXO 2:mPartituramdamMelodiamdamMontanham(SerramdamPiedade)...187

DNEXO 3:mManosolfa... 189

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INTRODEÇÃO

Aomcursarmamgraduação,mnãommemaproximeimdampesquisamhistoriográfica,mpoismprojetavam direcionarmamminhamvidamprofissionalmaomensinomdemHistória.mDurantemosmanosm2003mem2004,mlogom apósmamconclusãomdamgraduação,mtivemomprazermdemtrabalharmcomomauxiliarmdemumampesquisamdem doutoradomdesenvolvidamnamáreamHistóriamdamEducação,mcujomobjetomcentralmeramammúsicamcomom disciplinamnasmescolasmprimáriamemnormalmdemMinasmGerais1.mAsmatividadesmquemrealizeimnessem períodom baseavam-se, m alémm dem idas m aos m arquivos m emm busca m de m fontes m param am pesquisa, m emm leiturasmdemtextosmacadêmicosmacercamdamHistóriamdamEducação,mdameducaçãommusicalmescolar,m dentre m outros, m pois m o m pesquisador m que m me m contratou m é m deficiente m visual. m Essa m agradávelm experiência m contribuiu m sobremaneira m para m meu m envolvimento m na m pesquisa m em m História m dam Educação, m visto m que m minha m iniciação m científica, m normalmente m realizada m na m graduação, m foim efetuadamnessamoportunidade.mAdemais,mdurantemasmatividadesmmencionadas,mtivemcontatomcommom objetomdampesquisamquemapresentomnestamdissertação,momcantomorfeônico,mvistomquemommesmomém umamdasmmodalidadesmdemeducaçãommusicalmquemfoimdesenvolvidamnomBrasilmnosmanosm30,mememm MinasmGerais,mespecificamente,mampartirmdem1934.

O m tema m desenvolvido m nesta m dissertação, m no m âmbito m do m Grupo m de m Estudos m em PesquisamemmHistóriamdamEducaçãom-mGEPHE,mpartícipemdom ProgramamdemPós-Graduaçãomemm Educação/mFaEm–mUFMG,mconsistememminvestigarmamimplantaçãomemconsolidaçãomdameducaçãom musicalmemmMinasmGerais,mmaismespecificamentemdomCantomOrfeônicomcomomdisciplinamescolar.m OmmarcominicialmémampromulgaçãomdomDecreto mnºm24.794,mdem14mdemjulhomdem1934,mquemtornoum obrigatóriamamutilizaçãomdomCantomOrfeônicomemmtodosmosmestabelecimentosmdemensinomprimáriosm emsecundáriosmdompaís.mOmmarcomfinalmdessemrecortemtemporalmémampromulgaçãomdamLeimnºm5.692,m de m 1971, m a m partir m da m qual m o m Canto m Orfeônico m foi m substituído m pela m disciplina m denominadam EducaçãomArtística,menglobandommúsica,mteatro,martesmplásticasmemdança.m

A m história m do m canto m coletivo m ou m canto m coral m remonta m à m antiguidade. m Entre m osm egípcios,massírios,mhebreus,mhindusmemchineses,mera,minclusive,mnormalmentemassociadomamdançasm emàmpoesia,mempregadomnosmcultosmreligiososmememmsolenidadesmvariadas.mEssampráticamdemsem cantarmemmconjuntomganhoumimpulsomcommosmgregos2,mquemassociavammomcantomàmeducação,mem

1m OLIVEIRA, m Flávio m Couto m e m Silva m de. mO canto civilizador: música como disciplina escolar nos ensinos

primário e normal de Minas Gerais, durante as primeiras décadas do século XX.m[Manuscrito]-mFaE,mUFMG.m 2004.

2m Sobre m as m formas m de m música m na m Grécia m antiga m e m em m Roma, m e m sobre m a m história m da m música m em m geral, m o m sitem

(12)

sendo m ministrado m desde m a m infância. m Na m antiga m Grécia, m existiam m duas m escolas m de m música: m am PitagóricamemamHarmônica3.mOmcantomgrego,massimmcomomoutrasmformasmdemarte,mfoimassimiladomem influencioumsobremaneiramamculturamromana,mnamqualmomcantomcoralmeramexecutadomemmconjuntom commgruposmdemtrombetasmemoutrosminstrumentos.mCommamadoçãomdomcatolicismomcomomreligiãom oficialmdomImpériomRomano,momcantomcoralmsemdesenvolveumemganhoumoutrasmformas,mcomomom cantomambrosiano4memomgregoriano5,msegmentosmquemconstituemmambasemdomcantochãomutilizadosm aindamnamliturgiamcatólicam(RIBEIRO,m1965).

Semmdúvida,mescondem-semnasmmelodiasmdomcantochãomfragmentosmdosmhinosm cantados m nos m templos m gregos m e m dos m salmos m que m acompanhavam m o m culto m nom TemplomdemJerusalém",mescrevemCarpeaux.m"Nãompodemos,mporém,mapreciarmam proporção m em m que m esses m elementos m entraram m no m cantochão. m Tampouco m nosm ajuda,mparamtanto,momestudomdasmliturgiasmquemprecederammamreformamdomcantom eclesiásticompelompapamGregóriomImdasmliturgiasmdamIgrejamoriental,mdamliturgiam galicana, m já m desaparecida, m da m liturgia m ambrosiana, m que m se m canta m até m hoje m nam arquidiocesemdemMilão;memdamliturgiamvisigóticamoummozárabemque,mpormprivilégiom especial,msobrevivememmalgumasmigrejasmdamcidademdemToledo.mAmúnicammúsicam litúrgicamcatólicamquemcontamparamomOcidentemémomcoralmgregoriano,mamliturgiamàm qualmGregóriomI,momGrande,mconcedeumespéciemdemmonopóliomnamIgrejamRomanam (LOBO,m2008).

EssasmmodalidadesmdemcantomperpassarammtodamamIdademMédia,msobmomcontrolemem direcionamentomdasmdeterminaçõesmcatólicas.mEramummcantommonódico,mcoletivo,mamumamsómvoz.m AmpartirmdomséculomIX,messemcantommonódicomfoimsemtransformandomemmumamformamdemcantomcomm superposiçãomdemvozes,mdesenvolvendo-semmelódicamemharmonicamentematravésmdosmséculosmem estendendo-semamdiversosmpaísesmeuropeus.mEssamnovamformamdemcantomfoimamplamentemutilizadam namAlemanhamreformadamemnamItália,mondemomensinomdemmúsicamestavamsobmamdireçãomdomcatólicom Palestrinam(1525-1594).mAmpartirmdomséculomXVIII,minúmerasmorganizaçõesmcoraismsemespalhamm por m toda m a m Europa, m em m especial, m na m França, m Áustria, m Alemanha, m Itália m e m Inglaterra. m Essesm conjuntosmerammdenominadosmdemCoraism(ARRUDA,m1964).

Emm 1833,m Bouquillon m Wilhemm (1781-1842),m orientador m do m ensinom dem cantom nasm escolas m parisienses m adotou m o m termo m“L’ Orpheon”6m para m designar m os m coros m de m alunos m dasm 3m

OsmpitagóricosmerammmatemáticosmemseguiammamfilosofiamnuméricamdemPitágoras,memmquemomsommgeradormeramom1,mom 2meramamoitavamdomsommgerador, mom3meramamquintamemom4meramamquarta.mOsmharmonicistas mnegavammomvalormdos m números,mmasmprocuravammtambémmamharmoniamemamcoerênciamdosmsons,mquemressoariammcommperfeição,massimm comomamnatureza,mdemmaneiramintuitiva.

4m Nomanom370,momPapamAmbrósiomescolheumquatrommodosmgregos,msol,mfá,mmi,mré,minverteu-osm(ré,mmi,mfá,msol)mem

chamoumessemmodomdemAuthentus,mtornando-omobrigatóriomparamamcomposiçãomdomcantomlitúrgicomemdandomorigemm aosmcantosmambrosianos.

5mOmPapamGregóriomMagnom(540m-m604)mdedicamespecialmatençãomaomcantomeclesiástico.mFunda,memmRoma,mamScholam

Cantorum m e m reforma m a m música m sacra. m Juntam o m Antifonário m aos m Cantos m Ambrosianos m e m daí m surgem m os m Cantosm Gregorianosmoumcantochão,mquempassamamsermomúnicomcantomlitúrgicomdamIgrejamRomana.

6

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escolasmquemsemreuniammesporadicamentememmaudições.mAmpalavramorfeãomvemmsendomutilizadamam partirmdementão,msendomimportantemressaltarmamexistênciamdemumamdiferençamconsiderávelmentrem ummcoralmemummorfeão.mOsmcoraismsãomconjuntosmvocaismcommmaiormcapacidademmusical,mtantom teóricamquantomprática,msendomexigidommelhormtécnicamvocal,momquempermitemaminterpretaçãomdem peças m complexas. m Por m outro m lado, m os m orfeões m designam m coros m formados m por m escolares,m militares, m operários m e m músicos m amadores, m que m executam m um m repertório m mais m simples m em acessível,mcommumamboamqualidademmusical,mmasmsemmvisarmapresentaçõesmartísticasmemmaltom nívelmdemtécnicameminterpretação.mUmasmdasmprincipaismcaracterísticasmdomCantomOrfeônicomseriam sua m função m dem alfabetização m musical m exercida m nas m escolas, m aom contrário m do m ensino m musicalm profissionalmrestritomaosmconservatórios.mAmimportânciamdamimplantaçãomdomCantomOrfeônicom seria m então m a m possibilidade m da m popularização m da m prática m do m conhecimento m musical m e m suam conseqüentemextensãomamdiversosmsetoresmsociais.

EmmMinasmGerais,momtermomCantomOrfeônicomaparecemcommmaismfrequênciamampartirm damdécadamdem1930.mPelampesquisamdocumentalmrealizada,mseumusomfoimidentificadomemmummartigom damprofessoramBrancamdemCarvalhomVasconcellos,mpublicadomnamRevistamdomEnsino,memm1932:

Em m nossas m modestas m preleções m e m mesmo m em m escritos m nesta m Revista m temosm sempre m pugnado m por m algumas m modificações m indispensaveis, m principalmentem quantomaomensinomdomcantomescolarmdemmoldemampreenchesmessamdisciplinamosmfinsm que m déla m devemos m esperar, m do m seu m multiplo m ponto m de m vista m – m educativom higienico,mpedagogico,mrecreativomemartistico.

Contando,mcomomsempre,mcommambôamvontadememomauxiliomdosmnossosmdirigentes,m jámalgumamcousamtemosmconseguido.

Aminstituição,mpormexemplo,mdo mCanto Orfeonicom namEscolamNormalmModelo,m commampliaçãomaomterceiromano,mmedidasmjámhámtemposminiciadasmemquemomrecentem decretomdomatualmgovernomconsolidou;mamnovamorientaçãomdadamaomprogramamdem musicamvisandomumamaplicaçãommaismpraticamdasmregrasmgeraismemconhecimentosm damteoriammusicalm–matendendomamquemomensinomdammusicamnomcursomnormalmnãom temmpropriamentempormfimmformarmartistasm–msãomprovidenciasmacertadasmemcujosm resultados m felizmente m vão m aparecendo, m seja m no m estímulo m despertado, m seja m nam propriameficienciamdomensino7.

AomsemfalarmemmCantomOrfeônico,mremete-semsempremaomcantomcoral,mmasmexistemm algumasmdiferençasmimportantes.mAsmaulasmdemCantomsãomentendidasmcomomaulasmvoltadasmparam umamformaçãomvocalmlírica,mcommamplamcargamdemtécnicasmemexercíciosmvocais,mpreparandomosm alunosmparamamcomposiçãomdemcorosmlíricosmprofissionais,mcomomosmquemacompanhammorquestrasm

paravammdemvoarmparamescutar,mosmanimaismselvagensmperdiammommedomemasmárvoresmsemcurvavammparampegarmosmsonsm nomvento.mSegundomammitologia,melemganhoumamliramdemApolo;m“UmamvezmquemOrfeumtambémmrepresentamomcantom acompanhado m com m a m lira, m ou m a m associação m música-poesia, m essa m associação m mitológica m refere-se m também m aom objetivo m de m transmitir m valores m morais m e m padrões m de m pensamento m e m comportamento m por m meio m das m letras m dasm canções”m(LISBOA,m2005:58).

7

(14)

sinfônicas,m por m exemplo.m Para m melhor m esclarecer m essa m diferenciação, m seguem uma m citação m dem FlaustinomVallempresentemnamobramElementos de folk-lore musical brasileiro,mdem1936:

Actualmente. m A m palavra m coral m atravessa m uma m phase m de m confusão, m muitom desvirtuadamdemseumprimitivomsentido;mchega-semampontomdemdenominarmcoralmasm obras m puramente m instrumentaes, m de m caracter m religioso, m muito m embora m nãom tenhammrelaçãomcommnenhummcultomdeterminado.mEntão,mdepoismquemsurgiomom vocabulomorpheon,mambalburdiamrecrudesceu!mW,mnãomobstantemdesignarem-sem por m orpheons m as m sociedades m coraes m em m geral, m tende m tudo m para m estam differenciação:momcantomcoralmémdemcaractermerudito,mseusmcomponentesmdevemm ser mmúsicos, mpelomque momnumeromde mcantores mémmais moummenos mreduzido; mom orpheãomémdemíndolempopular,mseusmmembrosmnãomprecisammsabermmúsica,mpelom quemémrepresentadompormimmensasmmassasmdemvozes,mcontando-se,mnãomraro,mporm milharesm(VALLE,m1936,mapudmLEMOSmJÚNIOR,m2005:10).

Nota-sementãomquemomtermomOrfeãomestámligadomàmidéiamdempráticamcoletivamassociadam àsmmultidões,mnãomsendomnecessáriomaosmseusmcomponentesmumamformaçãommusicalmmaismsólida.m Aomseremmanalisadasmamsociedadembrasileiramemseumgraumdeminstruçãommusical,mprincipalmentem nosmcentrosmurbanos,mampráticamdomCantomOrfeônicomfoimpensada,mportanto,mcomomidéiamplausívelm de m ser m aplicada m nas m escolas m brasileiras. m O m Canto m Orfeônico m não m possuía m a m pretensão m e m om objetivomdemformarmmúsicosmprofissionais,mmasmsim,mdemsemconfigurarmcomomummmeiomeficazmdem popularizaçãomdammúsica,mdemsemelevarmompadrãomartísticomemdomsensomestéticomdampopulaçãom brasileira. m Heitor m Villa-Lobos m (1887-1959), m em m um m texto m denominado m Educação m Musical,m expressamquemumamdasmfinalidadesmdameducaçãommusicalmémompreparomestéticomdamcoletividade.m Segundomommaestro,m“omnossomsentidomestéticomémcondicionadompelomhábitomempelameducação.m Habitue-semomouvidomdemnossamjuventudemaomque,msegundomamnossamherançamacumulada,mémbelom–m emomseumgostomserámsão”m(VILLA-LOBOS,m1991:03).m

LISBOAm(2005),memmsuamdissertaçãomdemmestrado,maomanalisarmomCantomOrfeônicom praticadomnamFrançampormBouquillonmWilhemmnomséculomXIX,mindicoumquemessampráticammusicalm teriamamfunçãomdem elevarm omnívelmmoralm em artísticom dampopulação,m “civilizando” mumamgrandem quantidade m de m pessoas m inseridas m no m sistema m educacional m parisiense m em m questão. m A m autoram baseoumsuamargumentaçãomnamobramdemRenatomGilioli8,mquemapresentamamidéiamdemquemomCantom Orfeônico m procurou m trazer m mensagens m e m “incutir” m comportamentos m em m seus m praticantes m em espectadores.mCommessasmcaracterísticas,macaboumsendomutilizadomparamfinsmpolítico-ideológicos,m presentesmnomcontextomfrancêsmdemconsolidaçãomdamRevoluçãomFrancesa,mdemexpansãomdosmideaism demigualdadememdemconstruçãomdemumamnovamnaçãomisentamdosmproblemasmenfrentadosmdurantemom Antigo m Regime. m Dessa m forma, m as m idéias m de m harmonização m social m e m de m unidade m coletivam

8m GILIOLI, mRenato mdemSouza mPorto. m“Civilizando pela música”: a pedagogia do canto orfeônico na escola

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presentesmnampráticamorfeônica,maliadasmàmtransmissãomdemvaloresmmoraismpresentesmnasmletrasmdasm canções m assumiram m um m papel m cívico-patriótico m importante m pra m consolidação m da m nação m emm construção.mAmeducação,mnessemcontextomfrancês,mémameducaçãompública,mdemresponsabilidademdom Estadomemrepresentoumumamimportanteminstituiçãomparamamformaçãomdomcidadãomrepublicano.mOm modelomeducacionalmfrancêsminfluenciadompormRousseaum(1712-1778),mentremoutros,mapresentoum amimportânciamdomprocessomeducativomnamformaçãomdomcidadãomemdamsociedade,memammúsicamém partemintegrantemdessemcontexto.mEmmoutrasmpalavras,m“ommodelomeducacionalmpropostomtrouxemam inclusãomdammúsica,mquemeramvistamcomomelementominfluentemnamformaçãomdomcarátermdomcidadão,m nosmcurrículosmdasmescolasmpúblicas,mpormmeiomdampresençamdemcançõesmnomrepertóriomescolar”m (LISBOA,m2005:60).

Nampropostamdemeducaçãommusicalmfrancesamestavampresentemtambémmomsentidomdam civilizaçãomdasmmassasmpopulares,maomintrojetarmvaloresmmoraismempadrõesmestéticosmespecíficos.m Nesse m sentido, m o m movimento m tomou m grandes m dimensões m e m difundiu-se m para m outros m paísesm europeus,mEstadosmUnidosme,malgunsmanosmmaismtarde,mBrasil.mEmmMinasmGerais,mampartirmdam ReformamdomEnsinomPrimáriomdem1892,memnomcurrículomdomCursomNormalmdommesmomano,mestãom presentesmdisciplinasmdenominadas mMúsicam e mCanto,msendomamexecuçãomdemhinosmpatrióticosm recorrentes m no m ensino m primário. m Essa m prática m de m educação m musical m se m estendeu m por m váriasm décadas,mcommcaracterísticas mem formasm variadas,m cumprindom principalmente mideais mestéticos,m cívicos,mpatrióticosmemdisciplinadores.m

Conformemamanálisemdamlegislaçãompertinentemaomensinomdemmúsicamemcantomcoral,m observa-semquemamdisciplinamMúsicamestariammaismligadamamumamformaçãommusicalmbásica,mdem carátermmaismteórico,memcompreenderia,mentremoutrosmtemas,momestudomdamvidamemdamobramdosm principaismmúsicosmbrasileirosmemestrangeiros.mMuitosmdosmprogramasmcurricularesmdominíciomdom século m XX m apresentaram m a m disciplina m denominada mMúsica e Canto, m englobando m om conhecimentomtécnicomemteóricomdamdisciplinamMúsicamcommamaplicaçãompráticamdomCanto.mOm conceitomdemmúsicamaquimencontrado,mtomandompormbasemosmprogramas,mosmcadernosmdemalunosmem osmdiáriosmdemclassemutilizadosmnasmaulas,mémomdemmúsicamerudita,mquemrecebemummcarátermdem músicamséria,memmdetrimentomdomcarátermlúdicomemdescompromissadomdammúsicamdem“origem”m popularm(LEMOSmJÚNIOR,m2005:10).m

Para m o m desenvolvimento m desta m pesquisa, m foram m encontradas m no m Instituto m dem EducaçãomdemMinasmGerais,mantigamEscolamNormal,mdiversasmfontesmdemnaturezasmdiferentes,mam saber:

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Vasconcellos, m Maria m Amorin m Ferrara, m Yolanda m Lodi, m Aurélia m Leal, m Amnerism Flores m Félix m e m Cecy m Pinto m da m Silva. m Nesses m diários, m além m do m controle m dam frequênciamemdomdesempenhomdasmalunas,masmprofessorasmdescreverammasmaulasm ministradas,mexplicitandomosmconteúdosmtrabalhados,masmdivisõesmdasmvozes,masm dinâmicasmemmetodologiasmaplicadas.mAlgunsmpossuemmacompanhamentomdiário.m Essesmdiáriosmforammproduzidosmampartirmdem1930memterminammemm1943.

• AtasmdosmGrêmiosmMusical,mLitero-social,mLitero–pedagógico,mLitero-educativom e m do m Conselho m de m Estudantes, m que, m em m 1939, m denominou-se m Centro m Cívicom Bárbara m Heliodora. m Essas m atas m são m interessantes, m pois m essas m organizaçõesm promoviam m encontros m regulares, m nos m quais m as m programações m descreviamm apresentaçõesmmusicaisminstrumentaismemcorais.mEssasmreuniões,mquemseminiciamm em m 1929, m ocorrem m até m o m ano m de m 1950. m Destacam-se m os m nomes m que m estasm agremiaçõesmrecebiam:mGrêmiomCarlosmGomes,mVitormMeireles,mPedromAmérico,m AntôniomMatos,mVillamLobosmemOlavomBilac.m

• OmdiáriomdamescolamdemAdaptação,mdetalhandomosmacontecimentosmocorridosmentrem 1931mem1946.

• Inventário m de m patrimônio, m de m maio m de m 1937. m Nessa m relação, m dentre m váriosm objetos, mforamm citadosm 4m pianos, m1 meletrola,m 2m victrolas,m 1m coleção mdem discosm clássicos,m2mquadrosmpautadosmem1mcoleçãomdemdiapasões.

• Relatóriosmdosminspetores,mcontendomanálisesmsobremomcorpomdocente,mestatísticasm de m matrículas, m horários m de m aulas, m avaliações m aplicadas, m dentre m outrasm informações.mSãom24mvolumesmdemrelatóriosmsobremosmcursosmginasialmemformação,m domperíodomcompreendidomentremosmanosmdem1946mem1955.

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MinasmGerais.mEssasmobrasmcircularammentremosmprofessoresmdessammodalidademdemcantomemsem configuraram m como m bibliografia m de m referência m para m a m execução m desta m prática. m Outra m fontem importante m foi m uma m entrevista m concedida m pelo m professor m Luiz m Guimarães m Maia, m que m atuoum comomprofessormdemmúsicamemdemcantomorfeônicomdomIEMG,mnomperíodomcompreendidomentrem 1957mem1996.m Essam interessantem entrevistam permitem percebermasm nuancesm emcaracterísticas mdam educação m musical m nesse m período, m sendo m possível m detectar m as m mudanças m e m permanências m nam execuçãomdasmaulasmdurantemomperíodomdampesquisa.mAlgumasmproduçõesmacadêmicasmacercamdem educaçãommusicalmemmMinasmGeraismememmoutrosmestadosmbrasileiros,msobremomCantomOrfeônicom submetidomamHeitormVilla-LobosmemsobremMariamAmorimmFerrara,mumamimportantemprofessoram mineira m de m Canto m Orfeônico, m também m contribuíram m sobremaneira m para m a m efetivação m destam pesquisa. m Outra m modalidade m de m fonte m importante m para m se m pesquisar m acerca m da m história m dam educação m é m a m legislação m pertinente, m seja m ela m federal m ou m mineira. m A m legislação m contida m nam coleção m de m leis m e m decretos m do m Arquivo m Público m Mineiro m foi m bastante m útil m para m om desenvolvimentomdamdissertaçãomemmquestão.

Com m esta m vasta m gama m de m fontes, m datadas m em m momentos m históricos m distintos,m organizaram-se m algumas m categorias m para m facilitar m e m permitir m a m investigação m necessária. m Am pesquisa m desenvolvida m versa m especificamente m sobre m a m modalidade m de m educação m musicalm denominada m Canto m Orfeônico. m Para m melhor m visualização m das m nuances m acerca m dosm desenvolvimentosmdamdisciplina,msuamconsolidaçãomnosmcurrículosmescolaresmemamsuamdecadência,m culminandomcommamsuamretiradamdosmcurrículosmoficias,mpropõe-msemamseguintemdivisãomtemporal,m baseadamemmtrêsmmomentos:

Primeirommomento:miníciomdamdécadamdem20mdomséculompassadomatémomanomdem1933.m Nessamépoca,momcantompossuimcaracterísticasmmaismvoltadasmparamamformaçãomdomgostomestéticomem para m o m desenvolvimento m dos m órgãos m dos m sentidos. m Houve m poucas m mudanças m entre m osm argumentosmnessemamplomperíodo.

Segundo m momento: m de m 1934 m a m 1945. m Durante m esse m período, m a m partir m dam obrigatoriedademdampráticamdomcantomorfeônicomemadentrandomnomEstadomNovo,momcantomrecebem uma m carga m maior m de m influencias m cívicas m e m patrióticas, m condizentes m com m as m característicasm adotadasmpelomregimemditatorialmdemVargasmnomBrasil.mOsmargumentosmacercamdamutilidademdom CantomOrfeônicomcirculammcommmaismênfase.m

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Optou-se, m na m realização m da m pesquisa, m pela m investigação m do m Canto m Orfeônicom praticado m na m Escola m Normal m de m Belo m Horizonte, m posteriormente m chamada m de m Instituto m dem Educação m dem Minas m Gerais. m Esta m instituiçãom foim o m mais m importante m centrom dem formação m dem professorasmdemMinasmGerais,msendomquemasmpessoasmformadasmemmseumâmbito,mcircularammporm váriasm escolasm demtodomom estado.m Supõe-semquem asmidéiasm preconizadasmnaminstituiçãom foramm levadasmpelasmprofessorasmlámformadasmparamosmlocaismondemtrabalharammposteriormente.m

Dompontomdemvistamteórico-metodológico,mampesquisamseminseremnomcampomdamhistóriam cultural, m fato m que m merece m algumas m considerações. m O m escopo m intelectual m que m deu m origem m àm história m cultural m está m diretamente m ligado m ao m surgimento, m em m fins m dos m anos m 20 m do m séculom passado,mdemumamnovammaneiramdemsempensarmasmquestõesmhistoriográficas,midentificadamcommam história m das m mentalidades. m Essa m nova m maneira m de m pensar m e m interpretar m os m fatos m históricosm buscava m o m distanciamento m em m relação m ao m fazer m historiográfico m tradicional, m essencialmentem político, m episódico, m linear m e m evolucionista m (FONSECA, m 2008:51). m Ao m negar m a m vertentem tradicional,messamnovamcorrentemhistoriográficamprocuroumestabelecermasmbasesmdemsuamatuação,m aproximando-semcadamvezmmaismdasmabordagensmsocioculturaismemmultidisciplinares,mdialogandom bastantemcommamantropologia,mpsicologia,mlinguística,mgeografiame,msobretudo,mcommamsociologia.m SegundomVAINFAS,maomcontráriomdamhistoriografiamtradicional,meramprecisomadotarmumamhistóriam quemproblematizassemomsocial,m

preocupadamcommasmmassasmanônimas,mseusmmodosmdemviver,msentirmempensar.m Umamhistóriamcommestruturasmemmmovimento,mcommgrandemênfasemnommundom dasmcondiçõesmdemvidammaterial,memboramsemmqualquermreconhecimentomdam determinânciamdomeconômicomnamtotalidademsocial,màmdiferençamdamconcepçãom marxista m da m história. m Uma m história m não m preocupada m com m a m apologia m dem príncipesmoumgeneraismemmfeitosmsingulares,msenãomcommamsociedademglobal,mem com m a m reconstrução m dos m fatos m em m série m passíveis m de m compreensão m em explicaçãom(VAINFAS,m2002:17).

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investigação m pertencentes m à m história m cultural, m sendo m situada m no m âmbito m desta. m “Os m últimosm balanços m realizados m sobre m a m produção m em m História m da m educação m indicam m uma m forte m e m jám reconhecidamtendênciamdasmpesquisasmnamdireçãomdamNovamHistória,mespecialmentemdamHistóriam Cultural”m(FONSECA,m2008:59-60).

Pensando m a m História m da m Educação m como m um m campo m de m investigação m da m Novam HistóriamCultural,mémnecessáriomaproximarmamanálisemacercamdomCantomOrfeônicomàmHistóriamdasm Disciplinas m Escolares. m Segundo m André m Chervel m (1990), m as m disciplinas m escolares m devem m serm estudadas m historicamente, m contextualizando m os m papéis m exercidos m pelas m escolas m em m variadosm momentosmhistóricos.mOmautormdefendemasmdisciplinasmescolaresmcomomautônomas,memproduzidasm nominteriormdasmculturasmescolares,mpossuindomobjetivosmprópriosmemespecíficos.mArgumentandom nessemsentido,mChervelmentendemamescolamcomomumaminstituiçãomquemobedecemamumamlógicamdam qualmparticipammváriosmagentesminternosmemexternos,mmasmquemdevemsermconsideradamcomomlugarm demproduçãomdemummsabermpróprio.mOsmfatoresmdemordemminternamsemrelacionammàsmcondiçõesm própriasmdemtrabalhomnamárea,memosmexternosmsãomnormalmentematribuídosmaomcontextomsócio-político-culturalmquemoriginoumamdisciplinamemmquestão.mNestemsentido,masmdisciplinasmnãomdevemm sermconsideradasmcomommerasmmetodologiasmdemensino.mAmpartirmdamidéiamdamescolamcomomlugarm demproduçãomdemconhecimento,masmdisciplinasmescolaresmdevemmsermintegradasmamumamculturam escolarmparamfacilitarmasmanálisesmementendermasmrelaçõesmestabelecidasmcommomexteriormemcommam cultura m geral m das m sociedades. m Os m conteúdos m e m métodos m das m disciplinas m não m devem m serm entendidosmdemmaneiramseparada,mnãomsendommerasmadaptaçõesmdemsaberesmproduzidosmemmoutrasm esferas,mcomomamacademia,mpormexemplo.

Segundo m Chervel, m são m constituintes m das m disciplinas m escolares m os m seguintesm aspectos: m os m métodos; m os m conteúdos m atrelados m ao m conhecimento m que m a m disciplina m desejam transmitir; m as m atividades m e m exercícios m utilizados m para m a m fixação m desses m conteúdos, m e m asm avaliações. m Sobre m estas m bases m se m configuram m as m análises m sobre m a m história m das m disciplinasm escolares.mEfetivamente,mamhistóriamdasmdisciplinasmescolaresmtemmcontribuídomdemmaneiramímparm nasmreflexõesmacercamdosmcurrículos,mdosmconteúdosmemdasmpráticasmdemensinomrelacionadas.mAm história m das m disciplinas m vem m se m aproximando m cada m vez m mais m e m se m configurando m como m umm campomdeminvestigaçãombaseadomnosmpressupostosmdamnovamhistóriamcultural,maomdeslocarmomfocom das m observações m unicamente m dos m conteúdos m escolares m em m direção m a m análises m mais m amplas,m voltadasmparamasminterpretaçõesmconcretasmdomensinomnasmescolas.

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O m primeiro m pretende m analisar, m à m luz m das m idéias m de m Norbert m Elias, m o m movimentom civilizatório m sobre m o m qual m as m sociedades m ocidentais m modernas m foram m constituídas. m Essem processomcivilizadormsemdesenvolveumemmváriasmáreasmdomconhecimentomemdomcomportamentom humano,msendomdestacadamamatuaçãomdameducaçãomcomomformamdemsemtransmitirmemdivulgarmosm saberesmatreladosmàmconstruçãomdemumamsociedademcivilizada.mPercebe-sementãomumameducaçãom dosmsentidos,mvoltadamparamomaprimoramentomdomgostomemdasmsensibilidades,mdamqualmdestaca-semam educaçãommusical.mEssameducaçãommusical,minseridamemmummcontextommaismamplomdemexaltaçãom emvalorizaçãomdosmnacionalismosmampartirmdemmeadosmdomséculomXIX,mcaminha,mnomBrasil,mparamom estabelecimento m de m uma m vertente m musical m que m se m baseava m na m valorização m do m folclore m e m dam cultura m popular, m culminando m com m a m sistematização m de m uma m estética m musical m de m cunhom nacionalista, m base m para m a m elaboração m e m implantação m de m um m projeto m de m educação m musicalm denominado m dem Canto m Orfeônico, m e m posto m emm funcionamento m por m umm dos m expoentes m dessam vertentemmusical,mHeitormVilla-Lobos.

Omsegundomcapítulomdiscutemosmfundamentosmestéticosmdameducaçãomdosmsentidos,mdem inspiração m romântica m que m circularam m no m Brasil m a m partir m do m século m XIX, m influenciando m osm movimentos m reformistas m da m instrução m brasileira m na m primeira m república, m e m sendo m partem constituintemdosmideaismpropostosmpelosmeducadoresmescolanovistas,mdemsumamimportânciamparamam educaçãombrasileiramampartirmdosmanosm30mdomséculompassado.mOsmargumentosmacercamdameducaçãom estéticamsão mdirecionados mparam amprática m dom CantomOrfeônicom emmMinas mGerais, mimportantem manifestação m educacional m presente m nos m currículos m das m escolas m nos m mais m diversos m níveis m dem ensinomemquemperfazemmomcaminhomdameducaçãomestéticamnomcontextomrepublicanombrasileiro.

OmterceiromcapítulomapresentamummpanoramamsobremomEnsinomNormalmnomBrasilmememm Minas m Gerais, m mais m especificamente, m enfatizando m a m presença m da m educação m musical m nosm currículosmdamEscolamNormalmdemBelomHorizontemdurantemasmprimeirasmdécadasmrepublicanas,m maismprecisamentementremosmanosm1906mem1934.mOsmargumentosmacercamdomusomdomcantomescolarm nessa m época m circulavam m em m torno m de m questões m estéticas, m cívicas, m patrióticas m e m artísticas.m Pretende-semdemonstrarmtambémmasmbasesmnasmquaismameducaçãommusicalmnamEscolamNormalmdem BelomHorizontemestavamestruturada,mantesmdamobrigatoriedademdomusomdomCantomOrfeônicomemm todosmosmestabelecimentosmdemensinomdomBrasil.

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CDPÍTELO 1: O CDNTO NDCIONDLIZDDOR

Este m capítulo m apresenta m uma m discussão m acerca m do m processo m civilizatório m que m asm sociedades m européias m desenvolveram m entre m os m séculos m XI m e m XVIII, m descrita m na m obra m dom sociólogo m alemão m Norbert m Elias. m Nesse m processo m de m civilização m está m presente m a m idéia m dam educaçãomparamamcivilização,mpoismammesmamcontribuiumparamamdivulgaçãomemexpansãomdemsaberesm fundamentais m para m a m construção m de m uma m sociedade m civilizada. m Nessa m prática m educacionalm voltadamparamamcivilização,mpercebe-semamnecessidademdemumameducaçãomdosmsentidos,mvoltadam paramomaprimoramentomdasmsensibilidades,memmquemsemdestacamameducaçãommusical.mNominíciomdom séculomXIX,mamvalorizaçãomdomfolclorememdasmmanifestaçõesmdemorigemmpopularmcontribuiumparamam elevaçãomdemummsentimentomdemvalorizaçãomdamnação,memessemsentimentomdemnação,mbaseadomnasm manifestações m artísticas m provenientes m do m povo, m culminou m na m elaboração m de m uma m estéticam musicalmdemcunhomnacionalista,momnacionalismommusical.mEssemnacionalismommusicalminiciadom namRússiamestendeumsuasmbasesmparamváriosmoutrosmpaísesmeuropeusmemamericanos,memmespecialmom Brasil. m Esse m movimento m gerou m o m estabelecimento m de m uma m cultura m musical m brasileiram preponderantemquemforneceumsubsídiosmàmelaboraçãomemàmaplicaçãomdemummprojetomnacionalmdem educaçãommusicalmbaseadomnampráticamdomcantomorfeônico.

No m desenvolvimento m do m capítulo, m será m apresentado m e m detalhado m o m projeto m dem implantação m e m o m desenvolvimento m do m Canto m Orfeônico, m sendo m especificada m a m estruturam proposta,masmdeterminaçõesmparamosmvariadosmníveismdemensino,mcommespecialmatençãomparamom EnsinomNormal,mdestacandomomcarátermemosmpostuladosmacercamdomcantomamsermpraticado,mamsaber:m amdisciplina,momcivismomemameducaçãomartísticamemestética.

1.1. Canto, civilização e folclore.

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civilizaçãomdesenvolvidompormEliasmfoimutilizadomemmpesquisasmrecentes9mcujosmtemasmsãomafinsm aomaquimpesquisadomemquemservirammdemsuportemteóricomparamamelaboraçãomdampesquisa.m

Segundo m Norbert m Elias m (1994 m e m 1993), m o m processo m civilizador m ou m umam transformaçãomprocessualmemaleatóriamdamsociedademocidentalmpodemsermencontradomemsintetizadom nas m mudanças m histórico-sociais m e m psicológicas m ocorridas m entre m os m séculos m XI m e m XVIII m nasm sociedadesmeuropéias,memmparticular,mnosmgruposmnobresmguerreirosmquemsemtransformarammemm nobresmcortesãos,msobmamóticamdemummprocessomdemdistinçãomemdiferenciaçãomsocial.mAlémmdessesm aspectos, m compõem m essa m transformação m a m monopolização m da m violência m e m da m tributação, m om surgimentomemascensãomdamburguesiamfrentemàmnobrezamemamcentralizaçãompolíticamestatal.mEssem processo m desenvolveu-se m concomitantemente m às m mudanças m e m transformações m psicológicas m em comportamentais,mnamdireçãomdomauto-controle,memmdetrimentomdamcoerçãomexterna.mAsmnovasm atitudesmacabammpormnormatizarmomquemseriamconcebidomcomomcomportamentomcivilizadomemam própriamnoçãomdemcivilização,mbastantempresentemnasmnaçõesmeuropéiasmnosmperíodosmposterioresm aomséculomXVIII.mCabemaindamdizermquemessemprocessomcivilizadormsemcaracterizoumpelomaumentom do m autocontrole m e m pela m contenção m das m paixões, m desejos m e m pulsões m de m cunhos m psicológicos,m estendendo-semàsmsociedadesmeuropéias,mdemmaneiramgeral.

NessemcontextomsurgiumnamFrançamomtermomcivilité,mderivadomdomtermomcivilisation,m quemdesignavamamauto-imagemmdosmmembrosmdamcortemrecémmreconfigurada. mCivilisationm estám ligadomàsmmaneirasmrefinadasmdemconduta,mdemcomportamentomemdempolidezmquemdistinguiammam nobreza m cortesã m das m camadas m mais m baixas m da m população. m Om termo mCivilité, m empregado m porm ErasmomdemRotterdamm(1467-1536)mnamobramDe civilitate morum puerilium, circuloumpormtodamam Europa,mdifundindomasmmaneirasmdemcondutampropostasmpormErasmomemtidasmdesdementãomcomom padrãomidealmdemcomportamentom(ELIAS,m1994:m68).mPormsuamvez,momtermomcivilitémdeumorigemm aomconceitomdemcivilisation,mquempassoumamsermutilizadomparamdesignarmomprocessomdemdifusãomdasm maneirasmdemcomportamentomparamasmsociedades,mbaseadomnameducaçãomdemgrandesmparcelasmdam população,msuavizandomentãomasmmaneirasmdemcondutamemeliminandomtodosmosmresquíciosmdemumm comportamentomconsideradom“ultrapassado”,m“bárbaro”,m“incivilizado”.mOmpadrãomdemreferênciam utilizadomparamatingirmtalmtarefamfoimomdasmclassesmaltasmemdeveriamsermestendidomamtodasmasmoutrasm sociedades m em m que m ainda m predominavam m os m costumes m bárbaros m de m comportamento. m Essem

9mGUÉRIOS,mPaulomRenato. mHeitor Villa- Lobos: o caminho sinuoso da predestinação.mRiomdemJaneiro:mEditoram

FGV,m2003.

m LISBOA,mAlessandramCoutinho. mVilla-Lobos e o Canto Orfeônico: música, nacionalismo e ideal civilizador.m [Manuscrito]mInstitutomdemArtesmdamUNESP,m2005.

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fenômeno m surgiu m no m absolutismo, m mas m as m idéias m acima m explicitadas m foram m ampliadas m em perdurarammnamFrançampós-revolucionária.

AmpartirmdosmanosmfinaismdomséculomXVIII,mosmtermosmemmquestãompassarammamsem referirm aosm hábitosmburguesesm demcomportamento mem conduta,mhábitosm esses mquem porm suam vezm foram m apropriados m dos m comportamentos m da m nobreza m cortesã m absolutista. m Essas m normas m dem condutamemdemcomportamento,massimmcomomosmvaloresmculturaismforammdisseminadosmparamasm camadasmmaismbaixasmdampopulação,mmuitosmdelesmatravésmdosmsistemasmeducacionais,mnosmquaism omCantomOrfeônicomestavaminserido.m

NomséculomXIX,momtermom“civilização”mpassoumamdesignarmamauto-imagemmquemom mundomocidentalmeuropeumtinhamdemsi,memmdistinçãomdasmsociedadesmditasmprimitivasmematrasadas,m presentes, m em m sua m maioria, m em m outros m continentes. m Nessa m relação, m outros m padrões m foramm utilizadosmparamcivilizar,mcomomomdesenvolvimentomtecnológico,mamreligião,mamciênciamemamcultura.m Entretanto,momtermom“civilização”mnãomtevemommesmomsignificadomemmtodasmasmnaçõesmeuropéias.m Elias m explicita m a m existência m de m uma m diversidade m fundamental m no m uso m desses m termos m entrem francesesmeminglesesmdemummlado,memalemães,mdemoutro.mSemparaminglesesmemfrancesesmomtermom sintetizamomorgulhompelaminfluênciamdemsuasmnaçõesmnom“desenvolvimentomdamhumanidade”,mparam osmalemãesmomtermomreferente, mzivilisation,m trazmumamconotaçãomdemcarátermmaismsimplório,mdem segundamclasse,malgomcomomamsuperfíciemdamexistênciamhumana,mamaparênciamexternamdosmseresm humanos.mEntão,m“ampalavrampelamqualmosmalemãesmseminterpretam,mquemmaismdomquemqualquerm outra m expressa-lhes m o m orgulho m em m suas m próprias m realizações m e m no m próprio m ser, m é mKultur”m (ELIAS,m1994:24).m

NamAlemanha,maomcontráriomdamFrançamemInglaterra,masmrelaçõesmentremamnobrezamemam burguesia m seguiram m uma m forte m separação m de m classes, m durante m o m século m XVIII. m Com m isso, m am intelectualidademburguesamdemclassemmédiamdesenvolveumumamespéciemdemauto-expressãomemumam culturamprópria,mdiferentemdasmmesmasmcategoriasmcortesãs.mEssamintelectualidadememmfirmava-sem atravésmdemsuasmrealizaçõesmartísticas,mintelectuaismemcientíficas;mportanto,mamidéiamdemprogressom relacionou-se m com m o m conceito m de Kultur, m que m se m refere m às m realizações m humanas, m não m aosm códigosmgestuaismemnormasmcomportamentais.mParamisso,momalemãomusamomtermomKultiviert,malgom comomomconceitomdem“cultivado”m(OLIVEIRA,m2004:18).

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tornoumpossível,mentremoutrasmcoisas,mamsocializaçãomdosmsaberesmfundantesmdemumamsociedadem civilizada.mPortanto,momaprimoramentomdosmsentidosmemdasmsensibilidadesmseriampartemintegrantem domdesenvolvimentomdamsociedademeuropéia”m(OLIVEIRA,m2004:18).mSobremomsegundomtermo,mam partirmdomséculomXVIIImémpossívelmamconstataçãomdemummmovimentomnomqualmampercepçãomdam cultura m no m sentido m alemão, m migra m para m outros m países, m algo m parecido m como m uma m “auto-descoberta”mdosmpovos.m

Durante m esse m período, m a m intelectualidade m burguesa m de m classe m média m procuroum encontrarmequivalentes,mnasmmanifestaçõesmdemorigemmpopularmàsmmanifestaçõesmdamaltamculturam aristocrática,mprincipalmentemdemordemmartísticamcomommúsica,mliteraturamemartesmplásticas.mEssem interesse m pela m cultura m do m povo m acontece m em m um m momento m crucial, m pois m com m a m rápidam urbanizaçãomocorridamnessammodernidademeuropéiamdamépoca,messasmmanifestaçõesmtendiammam diminuirmpaulatinamente.mAssim,mnominíciomdomséculomXIXmcomeçammamsurgirmtermosmquemsem assemelhammaomfolclore10m(folcklore,memminglêsmemvolkskunde,memmalemão)memquemdãomcontamdem abarcarmessamnovamcategoria.mApresenta-sementãomumambuscampelasmorigensmnacionaismpresentesm nasm manifestações m culturais m dem origemm popularm ou m folclóricam em esse m pensamento m emm curso,m principalmentemnamsociedademalemã,mpermitiumquemamintelectualidadempercebessemamculturamcomom ummdosmprincipaismpontosmdemconvergênciamparamomestabelecimentomdemummidealmdemnação,mumm sentimento m único m de m nacionalidade, m muito m utilizado m no m processo m de m unificação m da m própriam Alemanha.

Ampartirmdementão,mapareceramminúmerasmmanifestaçõesmdemrecolhimentomemregistrom das m “culturas m populares”. m Foram m elaboradas m várias m coletâneas m de m canções m russas, m suecas,m sérviasmemfinlandesas;mosmfamososmcontosmdosmirmãosmGrimmm(1812),mcontosmhúngarosm(1822),m norueguesesm(1841)memrussosm(1855);mpoesiasminglesasmpublicadasmpormPercym(1765);mumamsériem de m exposições m universais m que m apresentavam m as m “identidades” m de m vários m países m (1851)m (GUÈRIOS,m2003:74).mAsmidentidadesmcoletivasmnacionaismestavammsendomconstruídasmemessem fenômenomfoimsemampliandomemsemdiversificando.mForammtomadasmposiçõesmdemindependênciam políticambaseadasmnasmrelaçõesmidentitárias,mestimulandomasmconsciênciasmnacionais,mcomomnom processomdemlibertaçãomdamPrússiamdamdominaçãomfrancesamemasmguerrasmdamunificaçãomitalianamem

10m

“Ampalavram“folclore”m(dominglêsmfolkm–mpovo;mlorem–msaber)mapareceumpelamprimeiramvezmemm1846,memmumamcartam assinadampormAmorosomMortonm–mpseudônimomdomarqueólogomWilliamsmThomas, mno mAtheneumm –mpropondo-sem substituirmamexpressãomummtantomimprópriamdem“antigüidadesmpopulares”m(Popular Antiquitiesm–mtítulomdemummlivrom demBrandt).mInicialmente,momseumsentidomsemrestringiumàsmtradiçõesmorais,mtomandommaismtardemmaiormamplitude,m incorporandomtambémmtodamtécnicammaterial.mHoje,mampalavramfolclore,mdesignandomom“sabermpopular”,mjámsemtornoum demusomuniversal,mapesarmdemoutrosmvocábulosmteremmsidompropósitosmnomcorrermdosmanos,mdesdemamsuamprimeiram aparição;mdemopsicologia,mantropopsicologia,mmitografia,mtradiçõesmpopularesme,mtalvez,mmuitasmoutrasmquemnãom conseguirammvencermomtempo.”mPresentememmTEIXEIRA,mFausto.mReflexõesmsobremomfolclore.m

(26)

alemã. m Em m síntese, m as m auto-afirmações m das m nações m geraram m vários m conflitos m ao m longo m dosm séculosmXVIIImemXIX.

Além m das m guerras m acima m citadas, m essa m “auto-afirmação m nacional” m gerou m novasm formasmestéticas.mLiteraturamemartesmforammdesenvolvidasmparamommundomdivididomemorganizadom emmpovos.mHaydnm(1732-1809)mfezmváriosmarranjosmparamcançõesmescocesasm(1790);mBeethovenm (1770-1827)mharmonizouminúmerasmcançõesmirlandesas,mgaulesas,mescocesasmemitalianasm(entrem 1810mem1818);mChopinm(1810-1849)mcompôsmas mPolonaises;mBerliozm(1803-1869),ma mMarcha Húngara;mLiszt,m(1811-1886)masmDanças Húngaras.mDestaca-semquemtodasmasmobrasmemmquestãom são m baseadas m nos m postulados m da m música m erudita m ou m clássica m européia, m não m representandom nenhumamgrandemrupturamestrutural.m“Surgiamentãomtodamumamproblemáticamrelativamaomlimitemaom qualmsemdeveriamlevarmomdesafiomamtaismcânonesmnamutilizaçãomdemmateriaismfolclóricos,mou,mnosm termos m nativos, m à m maneira m pela m qual m se m deveria m universalizar m o m material m folclórico m ‘bruto’m ”m(GUÉRIOS,m2003:75).

AmpartirmdomséculomXIX,mváriosmcompositoresmestudarammasmtécnicasmdemcomposiçãom nosmgrandesmcentrosmmusicaism(FrançamemÁustria)memvoltarammamseusmpaísesmdemorigemmnomintuitom demcompormmúsicasmnacionais.mSomentemmúsicosmnativosmestariammlegitimadosmemimbuídosmdom espíritomdemsuasmterrasmnataismparamalcançarmtalmfeito.mAssimmsendo,momBoêmiomSmetanam(1824-1884)mcompôsmMa Vlastm(minhampátria);mGriegm(1843-m1907),masmDanças Norueguesas;mSibeliusm (1865-1957)mescreveumFinlândia;mAlbénizm(1860-1909);me,mdemFallam(1876-1946)mcompuseramm váriosmtemasmespanhóis.m

Masmomprincipalmdistanciamentomperantemosmpostuladosmdammúsicameruditameuropéiam foimdadompelosmcompositoresmrussos,mquemenfatizarammamutilizaçãomdemelementosmfolclóricosmemdam linguagemmrussambuscando,mnãomapenasmeruditizarmosmtemasmsegundomosmpressupostosmmusicaism francesesmoumitalianos,mmasmtambémmamcriaçãomdemumam“sonoridade”mrussamprópriamamcumprirmam tarefamdemregistrarmamculturampopularmdemsuampátria.mPartindomdemGlinkam(1804-1857),mcom mA vida pelo czar, mempassandompormRimsky-Korsakovm(1844-1908)memModestemMussorgiskim(1839-1881), m renomados m compositores m deste m novo m viés m artístico, m o m que m os m russos m fizeram m foi m sem recusarmamacatarmasm“basesmdamcivilizaçãommusical”,mbasesmessasmfranco-ítalo-alemãs,memmfavorm demumamcriaçãomverdadeiramentemnacional.mEssesmcompositoresmrussosminfluenciarammtodamumam geraçãomdemmúsicos,mcapitaneadampelomgermânicomRichardmWagnerm(1813-m1883),mquemderamm iníciomàmidéiamdamchamadammúsicamnacionalmoumnacionalismommusical.m

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foimconfiguradompelamprimaziamquemFrança,mItáliamemAlemanhamtinhammsobremammúsicameruditam européiamemquemdeterminavam,massim,mosmrumosmamseremmseguidosmpormtodomommundo,memmumm processomcivilizatório.mVáriosmmovimentosmcontramhegemônicosmpoderiammtermocorrido,mmasmam música m nacional, m formada m ao m longo m do m século m XIX m na m Europa, m adquiriu m fundamentalm importânciamnessemprocessomemsemdifundiumpelommundomampartirmdementão:

Aomsemdirigiremmparamosmgrandesmcentrosmemmbuscamdemformaçãomemaomentraremm emmcontatomcommtaismidéias,mosmnovosmartistasmaosmpoucosmsemconstituíammnãomsóm enquanto m artistas, m mas m enquanto m artistas m nacionais. m Tomavam m para m sim definições,mdemandasmemexpectativasmgeradasmnosmgrandesmcentrosmemconstruíamm sobremelas.mAmmúsicamnacionalmassumiamentãomestatutomontológico.mElampassoumam sermumamrepresentaçãomcommeficáciamsocial,moumseja,mumamidéiamquempossuía,m para m seus m nativos, m uma m existência m concreta m jamais m colocada m em m questão.m Restavamamelesmapenasmrevelá-lam(GUÈRIOS,m2003:m82).

As m obras m sob m a m inspiração m nacional m poderiam m ser m apropriadas m como m am demonstraçãomdamprópriamnação,mquemsemafirmaria,mampartirmdementão,mpelomprismamdessesmartistas.m Essemmovimento,mcomomditomanteriormente,mespalhou-sempormváriosmpaíses,mincluindomomBrasil,m gerando m profundas m transformações m nos m panoramas m artístico- m culturais. m No m universo m dessasm transformaçõesminsere-semampresençamdomCantomOrfeônicomcomomdisciplinamescolarmnomBrasil.

1.2. O Nacionalismo Musical Brasileiro

NamobramEnsaio sobre a música brasileira,mdem1928,mMariomdemAndradempostulamasm basesmdomnacionalismommusicalmbrasileiro.mAmpartirmdampublicaçãomdessamobramatémamdivulgaçãom damCarta aberta aos músicos e críticos do Brasil,mdemCamargomGuarnieri,memm1950,mcriticandom ammúsicamuniversalmemapátrida,mapresenta-semomperíodomdamhegemoniamdomnacionalismommusicalm brasileiro.mDemummmeiommusicalmdominadompelamóperamitalianamempelasmmúsicasmsinfônicasmdem origem m francesa m durante m a m Primeira m República, m a m música m brasileira m adentra m em m uma m fase,m durantemomperíodomVargasm(1930-1945),memmquemomnacionalismommusicalmpredomina,mbaseadom nomfolclore.mEntão,mdurantemasmdécadasmdem30mem40mdomséculompassado,mom“nacionalismommusicalm nomBrasilmpassoumdamcorrentemprogressistameminovadoramquemeramnominício mdommodernismo màm estética m hegemônica m no m meio m musical m brasileiro m com m a m consolidação m do m movimentom folclorista” m (CONTIER, m 1985). m O m ano m de m 1950, m com m a m publicação m da mCarta,m de m Camargom Guarnieri,mmarcamomfimmdamhegemoniamdamcorrente:

(28)

de m concerto, m suas m técnicas m de m boa m escrita, m estes m compositores m buscavamm deliberadamente m alguma m característica m que m soasse m como m marca m dem brasilidade m – m elementos m rítmicos m ou m melódicos m encontrados m na m músicam popular.mCommissomomBrasilmestariamfazendomomquemjámfizeramamEuropa:mcriarm suamlinguagemmprópriamdemmúsicamculta,midentificávelmcommamidéiamdemnação.11m

1.2.1. Primeiros acordes do Nacionalismo Musical

NomBrasil,momnacionalismommusicalmexecutamseusmprimeirosmacordesmnomSegundom Reinadom(1840-1889),mperíodomdemgrandemesforçompormpartemdasmautoridadesmemintelectuaismparam se m construir m uma m identidade m nacional. m Algumas m instituições m foram m fundadas m em m anosm anteriores m para m tentar m atingir m tal m finalidade, m tais m como m o m Instituto m Histórico m e m Geográficom Brasileirom(IHGB)memm1838,momfinanciamentomdamAcademiamImperialmdemBelasmArtesm(1826)mem dasmváriasmexpediçõesmcomandadasmpormcientistasmemnaturalistasmpormtodomominteriormdomvastom Império. m O m indígena m recebe m o m status m de m símbolo m nacional, m abordado m pela m literatura m dem GonçalvesmDiasm(1823-1864)memJosémdemAlencarm(1829-1877)memémmusicadommagistralmentemporm CarlosmGomesm(1836-1896)m(LANA,m2005:18).

Nessemprocessomdemconstruçãomdamidentidadembrasileira,mammúsicammerecemummpapelm demdestaque,mpoismfoimutilizadamtantomcommomintuitomdemexpandirmummsentimentomdembrasilidadem quanto m para m construir m através m dela m esse m sentimento. m Para m atingir m tal m fim, m foi m necessáriom incorporarmaomimagináriommusicalmbrasileiro12melementosmdemorigemmpopular,mcommomobjetivomdem atingirmumamgamammaiormdembrasileiros,munindo-osmpormessemsentimentomdembrasilidade.mNomfinalm domséculomXIX,maindamnomImpério,malgunsmcompositoresmcomomBrasíliomItiberêmdamCunham(1846-1913), m Alexandre m Levy m (1864-1892), m Alberto m Nepomuceno m (1864- m 1920), m Ernesto m Nazarém (1863-1934), m Francisco m Braga m (1868-1945), m Barroso m Neto m (1881-1941) m e m Luciano m Galletm (1893-1931)mintroduzirammtemasmmusicaismdemorigensmbrasileirasmemmsuasmobras,mamplamentem influenciados m pela m tendência m musical m européia m em m voga, m uma m corrente m musical m que m sem mostrava m como m uma m alternativa m aos m exageros m da m ópera m italiana m e m da m “maré m wagneriana”m (MARIZ,m1981:88).mOmNacionalismomMusicalmsemconfiguramentãomcomomumammúsicamescritam com m “sabor” m nacional, m com m apelo m folclórico. m Os m compositores m que m com m ela m comungavam,m

11m

EGG, m André m Acastro. mConsiderações sobre o nacionalismo musical no Brasil: Camargo Guarnieri e Francisco Mignone, 1928-1950.mpáginam04.

Disponívelmemm <www.fapr.br/site/pesquisa/revista/artigos/andreegg.pdf>mAcessadomemm21/09/2008.

12m

(29)

imprimirammemmsuasmobrasmummcoloridomdiferente,mummtoquempatrióticompelomaproveitamentom dasmmelodiasmemritmosmcolhidosmdosmcantosmpopulares.

No m Brasil, m essa m valorização m das m riquezas m folclóricas m nacionais m encontroum resistênciamdampartemdemumamsociedademaindamdemasiadomdependentemdosmgostosm tradicionaismeuropeus.mComomampartemmaismricamempitorescamdemnossompopuláriom musical m vinha m dos m negros, m que m só m obtiveramm a m abolição m da m escravatura m emm 1888, m o m público m musical m das m sociedades m de m concertos m olhava m com m certom desprezomtudomomquempudessemprocedermdompovo.mSemhojemtalvezmprevaleçamumam supervalorizaçãomdomquemvemmdompovo,mnomfimmdomséculompassadomexistiamnítidam subvalorização m da m contribuição m cultural m das m camadas m mais m baixas m dam sociedade. mAindam emm1920 meram preciso mdisfarçar mos msambas msobm om título mdem “tangos” m para m que m pudessem m ser m lançados m e m aceitos. m A m Semana m de m Artem Moderna m teve m efeito m preponderante, m em m 1922, m para m o m reconhecimento m dosm méritos m da m música m de m caráter m nacional, m quer m acabou m sendo m paulatinamentem aceitamcomomartemmodernamemavançada.m(MARIZ,m1981:m88)

Oficialmente,mamprimeirampeçameruditamdemcarátermnacionalistamescritamnomBrasilmfoim

Sertanejam (1869), m composta m por m Brasílio m Itiberê m da m Cunha, m considerado m como m o m precursorm oficialmdammúsicambrasileiraminspiradampelomfolclore.mItiberêmfoimdiplomatambastantemprestigiadom namEuropa,mamigompessoalmdemRubinstein,mSgambattimemFranzmLiszt.mSuamamizademcommLisztm vincula-o m ao m movimento m nacionalista m musical m em m questão, m embora m sua m obra m tenha m sidom composta, m majoritariamente m no m Brasil m (MARIZ, m 1981:89). m No m apagar m das m luzes m do m séculom XIX, m emergem m dois m compositores m respeitáveis, m Alexandre m Levy m e m Alberto m Nepomuceno,m dispostos m a m enfrentar m a m mentalidade m europeizante m do m público m de m concertos m no m Brasil,m especificamentememmSãomPaulomemnomRiomdemJaneiro,mrespectivamente.mNepomucenomlançou,memm 1891, m a mSérie Brasileira, m obram orquestrada, m dem caráter m nacional, m pioneira m por m esses m palcos.m Levymescreveu mVariações sobre um Tema Brasileiro, emm1884,mmasmorquestradamemm1891.m Compôs m também m a mSuíte Brasileira, m em m 1890, m repleta m de m influências m de m sambas m e m temasm nordestinos.

AlbertomNepomucenomfoimamprincipalmfiguramdammúsicambrasileiramnosmprimeirosm20m anosmdomséculompassado.mDefensormdamcançãomemmportuguês,mpossuíamnotávelmprestígiomcomom educadormemfoimmuitombemmaceitompelamcríticamespecializada.mUtilizoumemmsuamobramommaxixe,mosm batuques,mtemasmnordestinosmemosmlundus.mFoimdiretormdomInstitutomNacionalmdemMúsica,mdem1906m am1916,momquemcontribuiumparamaumentarmsuamaceitaçãomemamdemsuamvertentemmusicalmnomBrasil.m

OmgrandemErnestomNazaré,mcompositormdomclássico mOdeonm emdemmaismdemduzentasm outrasmobrasmémconhecidompormseusmchorinhosmemsuasmvalsas,mnãomsendomassociado màmmúsicam erudita,mmasmsuamobraminfluencioumgeraçõesmdemmúsicosmbrasileiros.mVascomMarizm(1921)13,maom

13m Um m dos m mais m respeitados m musicólogos m brasileiros, m ocupante m da m cadeira m nº m 40 m da m Academia m Brasileira m dem

(30)

tentar m inserir m Nazaré m no m rol m dos m compositores m eruditos m brasileiros m pediu m uma m opinião m am FranciscomMignonem(1897-1986),mtambémmcompositor,mquemomrespondeumdamseguintemmaneira:m

VocêmmemperguntamsemdevemcolocarmNazarémcomommúsicomeruditomoumnão.mAm minhamopiniãomémquemelemnadamtinhamdemerudito.mEramapenasmummintuitivomcomom MussorgskymoumVilla-Lobos.mAmsuamobramserviumdempadrãomemmodelomparamosm nacionalistas m que m viveram m na m época m dele m e m depois. m Visto m desse m ângulo, m elem devemsermconsideradomummclássicomdammúsicambrasileiramnacionalista.mTalvezmumm Glinkamdamnossammúsicam(apudmMARIZ,m1981:m94).

AmfalamdemMignonemtraduzmbemmamimportânciamdemNazarémparamammúsicamdemcaráterm nacionalista m brasileira, m de m origem m erudita. m Segundo m Villa-Lobos, m Nazaré m “é m a m verdadeiram encarnaçãomdamalmammusicalmbrasileira”m(MARIZ,m1981:95).m

Outrommúsicomimportante,momcariocamFranciscomBraga,mfoimumamfiguramrespeitada,m apesarmdemsuamobramnãomsermmuitomconhecidamdomgrandempúblico.mSeumprincipalmtrabalhomémom

Hino à Bandeira,malémmdemváriasmcomposiçõesmparambandasmmilitares.mCompôsmtemasmindígenasm paramorquestras,mváriasmóperasmcommcarátermbrasileiromemfoimprofessormdomInstitutomNacionalmdem Música.m

Emm1905mcompôsmummpequenomhinomampedidomdomprefeitomPassos,mcommversosm demOlavomBilac,mcommomobjetivomdemsermusadomnasmcerimôniasmdemhasteamentom da m bandeira m nacional m nas m escolas m públicas m do m Rio m de m Janeiro. m A m peça m foim estreadamam15mdemagostomdem1906,memmconcertomsinfônicomemmhomenagemmaom3ºm CongressomPan-Americanomemdesdementãomsemespalhoumpormtodomompaísmemacaboum adotadampelasmautoridadesmmilitaresmcomomomHino à Bandeiram(MARIZ,m1981:m 97).

Maismummnomemdestamgaleriamdemmúsicos,mBarrosomNeto,mfoimummpianistamvirtuoso,m excelente m concertista, m entusiasta m do m canto m coral, m tendo m fundadom o mCoral Carlo Gomesm em om

Coral Barroso Neto.mÉmconsideradomummdosmprimeirosmcompositoresmbrasileirosmamescrevermparam cinema.mExerceumsignificativaminfluênciamnamépocamcomomincentivadormdomcantomcoralmemcultivoum o m apreço m à m música m de m cunho m nacional m (MARIZ, m 1981:99). m Finalizando m esses m autoresm precursoresmdomnacionalismommusicalmbrasileiros,maparecemamfiguramdemLucianomGalletm(1893-1931), m grande m apreciador m dos m estudos m de m folclore m musical. m Como m compositor m foi m um m dosm primeirosmamescrevermutilizandomtemasmemritmosmpopulares,mfrutomdemsuasminúmerasmpesquisasmem de m sua m amizade m com m Mario m de m Andrade m (1893-1945). m Suas m composições m produzidas m entrem 1918mem1929mversarammsobremváriosmtemasmbrasileiros,mdentremelesmosmtemasmnegros,mcomomam macumbamemomjongo,memsobremombumba-meu-boi.mEscreveumummmétodomdemestudosmparampiano,m

(31)

O m modernismo m nacionalista m musical, m capitaneado m teoricamente m por m Mario m dem Andrade,m constituiu-sem comom umam corrente m estéticam predominante m no m Brasilm atém meados m dam décadamdem1940.mEssemmovimentompregavamambuscamdemumamidentidademmusicalmbrasileira,mdem elementos m que m formariam m a m musicalidade m étnica m nacional m (ANDRADE, m 1962:29)14. m Essem movimentomsembaseavamemmumamanálisemcríticamfeitampormMariomdemAndrademempormintelectuaismdem suamépoca,mnamqualmammúsicambrasileira meramvítimamdemconstantesmimportaçõesmdemelementosm estéticos m estrangeiros. m Seriam m modelos m europeus m de m composição m musical m utilizados m porm compositoresmbrasileiros,momquemculminariamnomemparelhamentomdomdesenvolvimentomdammúsicam brasileira m com m a m música m européia. m A m música m brasileira m estaria, m então, m carente m de m umam “evolução”mprópria,mdemumamidentidademmusicalmespecífica.m

Ambuscamdessamidentidade,msegundomMariomdemAndradem(1962),mbaseou-sememmumam definiçãomdemnaçãomemdempovombrasileiro,msendomquemessamnaçãomsemassentariamnomresultadomdam miscigenaçãomentremosmindígenas,mosmnegrosmafricanosmemosmeuropeusmportugueses15.mUmamvezm definidos m os m pilares m raciais m sobre m os m quais m se m assentam m a m nação, m as m fontes m musicais m quem propiciariam m a m formação m da m identidade m musical m brasileira m estariam m presentes m na m músicam folclórica m ou m popular, m termo m utilizado m por m Mario m de m Andrade. m Sendo m assim, m “Caberia m aosm compositoresmam transposiçãomdom material mmusicalm folclóricom àm músicam artísticamdem concerto,m defendendomomusomrenovadomdamtécnicameuropéia,memnãommaismsuammeramcópia”m(ANDRADE,m 1962:16).

Esse m modernismo m nacionalista m musical m buscava m a m incorporação m dos m elementosm nacionaismquemseriammabsorvidosmnamtexturamdasmobras,mdefinindomatémmesmomamprópriamformam musicalmdasmmesmas.mAsmprincipaismdiretrizesmdessemmovimentomsãomdefinidasmpormElizabethm Travassos,mcomomsendo:

1)mAmmúsicamexpressamamalmamdosmpovosmquemamcriam.

2) m a m imitação m dos m modelos m europeus m tolhe m os m compositores m brasileirosm formadosmnasmescolas,mforçadosmamumamexpressãominautêntica.

3)msuamemancipaçãomserámumamdesalienaçãommediante mamretomadamdomcontatom commammúsicamverdadeiramentembrasileira.

4)mestammúsicamnacionalmestámemmformação,mnomambientempopular,memaímdevemserm buscada.

5)melevadamartisticamentempelomtrabalhomdosmcompositoresmcultos,mestarámprontam a m figurar m ao m lado m de m outras m no m panorama m internacional, m levando m suam contribuiçãomsingularmaompatrimôniomespiritualmdamhumanidade.m(TRAVASSOS,m 2000:33-34)

14m Amprimeiramediçãomdo mEnsaio sobre a Música Brasileiram émdatadamdem1928,mmesmomanomdemlançamentomdom

clássicomMacunaíma – o herói sem nenhum caráter.

15

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ParamMariomdemAndrade,mammúsicameramumamexpressãomvivamdemummpovo,mcoletiva,mem nãomamexpressãomindividualmdemummartista.mAmmúsicamassentadamemmumamessênciamesteticamentem nacional m encontraria m seu m valor m social m e m sua m conotação m coletiva. m Nesse m contexto, m Mario m dem Andrade m destacou m am importância m do m cantom coral m em do m canto m coletivo m comom alicerce m para m am unificaçãomdosmindivíduosmemdemseusmsentimentos,mpormsermumampráticamsocializadora.mBaseadom nessa m rápida m exposição m das m idéias m do m autor m de m Macunaíma, m é m possível m perceber m como m asm mesmasmcirculavammnosmambientesmintelectuaismemmusicaismdamépoca,mapropriadasmdemformasm diversas,memrealmentemmudarammosmrumosmdamartembrasileira,mcommaminauguraçãomdomchamadom nacionalismommusical.m

Vasco m Mariz, m importante m musicólogo m brasileiro m e m autor m de m várias m obras m dem referência m para m o m estudo m da m música m nacional, m inseriu m esses m artistas m como m precursores m dom movimento m nacionalista m musical m brasileiro. m Esses m compositores, m uns m mais m famosos m outrosm menos,minfluenciarammsobremaneiramammúsicambrasileira,mpoismdesempenharammummpapelmdifícilm demsermexecutado,momdemcombatermumamtradiçãommusicalmvigente,mamdammúsicamclássicameuropéia,m hegemônicamnasmapresentaçõesmdompúblicomdemconcertosmnomBrasil.mNãomforammcompositoresm populares,mmasmescreverammdemmaneirameruditamsobremtemasmpopulares,mtemasmessesmrelegadosmam planosmsecundáriosmnomgostomeuropeizadomdasmelitesmbrasileiras.mAmpartirmdemsuasmobras,moutrosm compositoresmemergirammnomcenáriombrasileiro,mávidosmpormapresentarmosmtãomricosmemcomplexosm temas m de m origem m popular, m preocupados m em m “formar m um m público” m para m a m música m eruditam brasileiramemdemformatarmomgostommusicalmdosmbrasileiros.

1.2.2. Heitor Villa-Lobos

(33)

tentar m perceber m em m seu m histórico, m o m embasamento m para m a m formulação m de m suas m concepçõesm artísticasmempolíticasmaplicadas,mampartirmdosmanosm30,mnamdisciplinamCantomOrfeônico.

A m bibliografia m sobre m Villa-Lobos m é m extensa m e m apresenta m vários m pontos m de m vistam distintos.mExistemmmaismdem40mbiografiasmemobrasmnacionaismemestrangeirasmsobremomcompositor,m entre m as m quais m destacam-se: mHeitor Villa-Lobos, compositor brasileiro, m do m musicólogo m em diplomata m Vasco m Mariz, m escrita m em m 1946, m e mHeitor Villa- Lobos: o caminho sinuoso da predestinação,mdemPaulomRenatomGuérios,mpublicadamemm2003.mEstamúltimamémamanálisemmaism ampla m e m complexa m acerca m do m compositor, m não m se m prestando m apenas m a m traçar m a m biografiam cronológicamemmusicalmdemVilla-Lobos,mmasmapresentandomumamdiscussãomcoerentemempertinentem sobremommaestro,manalisandomomcontextomhistóricomdemsuamobrameminserindo-omemmummuniversom políticomemculturalmmaismamplomdomquemapenasmosmlimitesmdemsuamobramartística.

Além m dessas m obras, m a m produção m acadêmica m a m respeito m de m Villa-Lobos m ém considerável.mParamamconstruçãomdestemtextomforammanalisadasmobrasmespecíficasmsobremVilla-Lobosmemsuamproduçãomenquantomartista,mdasmquaismdestacam-semamdissertaçãomdemLANAm(2005),m

Sob o selo nacional, sobre o solo popular: Ressonâncias de uma nação na obra para violão de Heitor Villa-Lobos (1908-1940)m e mEstratégias político – discursivas do estado Vargas: Uma análise semiolinguística dos hinos de Villa-Lobos, m de m GALINARI m (2004). mLanam apresenta,malémmdemumamcoerentemcontextualizaçãomhistórica,melementosmdamobramdomcompositorm quemremetemmaomprojetomdemnaçãomquemelemsempropunhamamconstruir,memGalinarimlê,msobmamóticamdam análisemdomdiscurso,mhinosmcívicosmdemautoriamdommaestromutilizadosmnasmdisciplinasmdemCantom Orfeônico.m

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percebermasmcaracterísticasmdamgestãomdemVilla-Lobosmàmfrentemdosmórgãosmdestinadosmàmdifusãom dameducaçãommusicalmemdomcantomorfeônicompormtodomompaís.

HeitormVilla-LobosmnasceumnomRiomdemJaneiro,mnomdiam05mdemmarçomdem1887.mSeum pai,mRaulmVilla-Lobos,meramprofessor,mfuncionáriomdamBibliotecamNacional,mautormdemlivrosmdem históriamemcosmografiamemummbommmúsico.mFoimominiciadormdemHeitormpelosmcaminhosmdammúsica,m sendomummpequenomvioloncelomomprimeirominstrumentomdomgrandemmaestro.mEmmsuaminfância,m HeitormVilla-Lobos,minfluenciadompelamfamília,mingressoumnomambientemmusicalmemartísticomdom Riomdemjaneiro.mPormmotivosmpolíticos,mamfamíliamdemVilla-LobosmsemmudoumparamMinasmGerais;m primeiro,mresidirammemmBicasmemdepois,memmCataguases.mSegundomosmbiógrafos,mampartirmdessam vivência m em m Minas m Gerais m várias m experiências m musicais m foram m registradas m na m memória m dom jovem m Heitor. m A m música m sertaneja, m rural, m marcaram-no m profundamente m também. m Teve, m nam infância, m as m primeiras m aproximações m com m a m obra m de m Bach, m grande m influência m em m suasm composições, m a m quem m homenageou m ao m denominar m as m suas m mais m célebres m composições m dem BachianasmBrasileiras.m

Villa-Lobos m foi m um m grande m fã m dos m chorões m de m sua m época m e m era m constantementem encontrado m nas m diversas m rodas m de m choro m do m Rio. m Essas m experiências m musicais m formaram m em afirmarammemmVilla-Lobosmomgostompelammúsicambrasileiramemforammdesenvolvendo,mnomartista,m asmtécnicasmsofisticadasmemvirtuosasmnecessáriasmparamomexecutormdemtãombelomgênerommusical,mom choro,mtalvezmommaismbrasileiromdemtodos,msemmdesmerecermosmdemais.mAprendeumcommompaimam tocarmvioloncelo,maosmseismanosmdemidade.mAosm11,maprendeumclarinete,mtambémmpormintermédiom demseumpai.mNãomémencontradomemmsuasmbiografiasmamfrequênciamdemVilla-Lobosmemmescolasmdem músicamemConservatóriosmnessesmanosminiciais.mAosm16manos,mjámsemapresentavamemmdiversosm locais,mcomomteatros,mhotéismemcinemas,mexecutandomummvastomrepertóriomdemvalsinhas,mxotes,m dobrados,mpolcas,mdentremoutrosmgênerosm(MARIZ,m1981:107).mNota-se,mnessemrepertório,mváriosm gênerosmdemorigemmeuropéia,mdesenvolvidomnasmcortes,memquemcirculavammcommdesenvolturamnom ambientemmusicalmurbano,mprincipalmentemdomRiomdemJaneiro,mdurantemasmprimeirasmdécadasmdom séculompassado.mAlémmdisso,mconviveumcommcantoresmpopularesmemcommgrandesmcompositores,m comomErnestomNazaré,mAnacletomdemMedeirosmemoutros.

Imagem

FIG. 1: D Escola Normal de Belo Horizonte – 1946.
FIG. 2. Desfile militar com a participação das normalistas – 1937.
FIG. 3: Dvaliação de Canto Orfeônico – 1939.
FIG. 4: Dtividade orfeônica no antigo campo do Dmérica F. C. – 1938.
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Referências

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