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Lazer e ciclo de vida: contribuição ao estudo de transformações no uso do tempo livre de jovens administradores de empresas residentes na cidade de São Paulo

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Academic year: 2017

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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

PEDRO AUGUSTO RAMIREZ MONTEIRO

LAZER E CICLO DE VIDA

Contribuição ao estudo de transformações no uso do tempo livre de jovens administradores de empresas residentes na cidade de São Paulo

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PEDRO AUGUSTO RAMIREZ MONTEIRO

LAZER E CICLO DE VIDA

Contribuição ao estudo de transformações no uso do tempo livre de jovens administradores de empresas residentes na cidade de São Paulo

Dissertação apresentada à Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração de Empresas.

Linha de Pesquisa

Gestão do Lazer e do Turismo

Orientadora: Profa. Dra. Gisela Black Taschner

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PEDRO AUGUSTO RAMIREZ MONTEIRO

LAZER E CICLO DE VIDA

Contribuição ao estudo de transformações no uso do tempo livre de jovens administradores de empresas residentes na cidade de São Paulo

Dissertação apresentada à Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração de Empresas.

Linha de Pesquisa:

Gestão do Lazer e do Turismo

Data de Aprovação: __/__/____

Banca Examinadora:

___________________________________ Profa. Dra. Gisela B. Taschner (orientadora) FGV-EAESP

__________________________________ Profa. Dra.

FGV-EAESP

__________________________________ Profa. Dra.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, inicialmente, a Deus, por ter me dado a oportunidade e a capacidade de realizar esse trabalho, que compreende dois anos de muito estudo, muita dedicação e muitas renúncias.

Agradeço à minha mãe, exemplo de paciência, dedicação, coragem, determinação, carinho e amor, por todo o apoio e incentivo dado desde o primeiro passo dessa caminhada de estudos e pesquisa.

À minha esposa, companheira e amiga, pelo apoio irrestrito desde o começo, bem como por sua presença e seu carinho nos momentos mais angustiantes, de dúvidas ou de ansiedade.

À minha orientadora, Professora Gisela Black Taschner, que me acolheu logo no primeiro dia e me mostrou os caminhos da pesquisa e da pós-graduação, dedicando-me atenção, conhecimentos e muita paciência, em todos os momentos da construção desta dissertação.

A todos os professores do programa de mestrado, que contribuíram para a minha formação acadêmica e científica, fundamental para a conclusão, a bom termo, deste trabalho. Em especial, agradeço aos professores Maria José Tonelli, Maria Ester de Freitas, Wilton Bussab, Luiz Carlos DiSerio, Marcos Cobra e Osmar Bertero, que, direta ou indiretamente, mostraram-me os caminhos a serem seguidos nesta dissertação, seja pelo rigor acadêmico, seja pelo exemplo de pesquisador, seja pela contribuição à temática central deste meu trabalho.

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Todos vocês estarão, eternamente, guardados em meu coração e em minha memória.

Agradeço aos amigos do GVnet, pela oportunidade de aprendizado e pelo exemplo de profissionalismo, aos amigos da Biblioteca, que não mediram esforços para me auxiliar, e às meninas da Secretaria, pela paciência para dirimir minhas inúmeras dúvidas.

Agradeço, também, à CAPES pela bolsa oferecida durante todo o curso e que possibilitou a realização deste trabalho.

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RESUMO

O mundo do trabalho vem passando por alterações substanciais, notadamente em função do desenvolvimento da tecnologia, e, historicamente, a humanidade vem percebendo a redução da jornada de trabalho e o conseqüente aumento do tempo disponível. Nesse contexto, um importante campo de estudo é o lazer. No Brasil, ainda são relativamente poucos os estudos voltados a essa temática, o que oferece oportunidades de pesquisa, em especial aquelas voltadas ao entendimento dos fatores que influenciam o comportamento dos indivíduos em relação ao lazer. Um dos elementos principais na formação desse comportamento é o ciclo de vida familiar, que retrata os principais momentos da vida de um indivíduo, notadamente em relação à sua idade, sua situação familiar e sua condição laboral. No que se refere a lazer, um dos estágios do ciclo de vida familiar que parece representar uma forte ruptura de comportamento é o chamado Ninho Cheio I, quando o casal entra na paternidade. O presente trabalho objetiva compreender de que maneira o comportamento de lazer nesse estágio difere-se em relação ao estágio imediatamente anterior, bem como entender qual o significado de lazer para os indivíduos que se encontram nesse estágio. Para isso, foi realizada uma pesquisa de campo, exploratória, de caráter qualitativo, com uma amostra de 15 indivíduos casados com filhos pequenos e 4 casados mas sem filhos, todos ex-alunos de curso de Administração da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EAESP-FGV). Os resultados indicam que o ciclo de vida familiar representa, sim, um importante fator de formação do comportamento dos indivíduos em relação ao lazer. Para os indivíduos casados e com filhos pequenos, o lazer é, predominantemente, complementar, ou seja, constrangido pelos papéis de pai e mãe. Em comparação ao estágio anterior, há uma forte limitação das atividades externas e reforço das domiciliares. Além disso, há evidências de que a idade do filho exerce influência sobre o comportamento dos pais. Percebe-se que parte do lazer envolve o consumo de bens e serviços culturais ou de entretenimento e parte remete a praticas tradicionais como encontros dominicais familiares..

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ABSTRACT

The world of work has been deeply changing, mostly due to the development of the new technologies. This has entailed a reduction of the working hours for many people with a consequent increase of free time. In this context, leisure has emerged as an important field for study. In Brazil, there are few studies directed to this area. There are many lacunae which open research opportunities, particularly those focused on consumer behavior in leisure. One of the main elements that seem to shape leisure practices is the family life-cycle, a it portraits the main moments of a person’s life in relation of age, family roles and working condition. As for leisure, one of the stages of the family life- cycle that seems to promote a strong rupture in behavior habits is called Full Nest. It refers to the period when couples enter parenthood. The objective of the present work is to understand 1- if and how the leisure practices in this stage are different of the immediately previous life cycle stage ones ; 2- what is the meaning of leisure for the person that is in the stage of Full Nest. For this purpose, a qualitative exploratory field research was carried out, with depth interviews applied to a sample of 15 married people with small children and 4 married people with no children, all of them alumni of a top Management School of Brazil ( Escola de Administração de Empresas de São Paulo of Fundação Getúlio Vargas) belonging to he upper middle-class. The results indicate that the family life cycle represents an important factor to form the person’s leisure practices. For the married people with small children, the leisure was, predominantly, constrained by parenthood. In relation of the previous stage, there was a strong limitation of external activities and a reinforcement of the indoor ones. Results also suggest that the age of the children influences the parents leisure choices (the younger the child, the more restricted the activities). It was also noticed that leisure activities involve the consumption of cultural or entertainment products and services.as well as a return to traditional practices as Sunday family meetings..

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 01–ATIVIDADES DE LAZER ATIVO,PASSIVE E SOCIAL...27

QUADRO 02–CLASSIFICAÇÕES DAS ATIVIDADES DE LAZER...29

QUADRO 03–PRINCIPAIS ATIVIDADES DE LAZER DA ELITE PAULISTANA DA DÉCADA DE 80..42

QUADRO 04–AS 10 FORMAS DE DIVERSÃO PREFERIDAS – JOVENS DE PERIFERIA...43

QUADRO 05–MODELOS E CATEGORIAS DE CICLO DE VIDA. ...47

QUADRO 06–HORAS SEMANAIS GASTAS COM RECREAÇÃO FORA DE CASA, POR ESTÁGIO DO CICLO DE VIDA...49

QUADRO 07–TIPO DE LAZER EM CADA UMA DAS TRÊS FASES DA FAMÍLIA. ...50

QUADRO 08–PERFIL DOS ENTREVISTADOS –GRUPO 1...63

QUADRO 09–PERFIL DOS ENTREVISTADOS –GRUPO 2...63

QUADRO 10–DIMENSÕES DE LAZER POR ATIVIDADE –D1 ...64

QUADRO 11–DIMENSÕES DE LAZER POR LOCAL DE REALIZAÇÃO –D2...64

QUADRO 12–ATIVIDADES ATUAIS DE LAZER –ANA...68

QUADRO 13–ATIVIDADES ATUAIS DE LAZER –ANA CAROLINA...73

QUADRO 14–ATIVIDADES ATUAIS DE LAZER –AMANDA...78

QUADRO 15–ATIVIDADES ATUAIS DE LAZER –CARLA...82

QUADRO 16–ATIVIDADES ATUAIS DE LAZER –CLÁUDIA...85

QUADRO 17–ATIVIDADES ATUAIS DE LAZER –EDIVALDO...89

QUADRO 18–ATIVIDADES ATUAIS DE LAZER –EMERSON...94

QUADRO 19–ATIVIDADES ATUAIS DE LAZER –EUGÊNIO...97

QUADRO 20–ATIVIDADES ATUAIS DE LAZER –FABÍOLA...101

QUADRO 21–ATIVIDADES ATUAIS DE LAZER –FRANCISCO...104

QUADRO 22–ATIVIDADES ATUAIS DE LAZER –LEONARDO...107

QUADRO 23–ATIVIDADES ATUAIS DE LAZER –MARCELA...111

QUADRO 24–ATIVIDADES ATUAIS DE LAZER –MÔNICA...115

QUADRO 25–ATIVIDADES ATUAIS DE LAZER –SANDRO...118

QUADRO 26–ATIVIDADES ATUAIS DE LAZER –TADEU...122

QUADRO 27–ATIVIDADES ATUAIS DE LAZER –ÁLVARO...125

QUADRO 28–ATIVIDADES ATUAIS DE LAZER –GUSTAVO...128

QUADRO 29–ATIVIDADES ATUAIS DE LAZER –MARINA...132

QUADRO 30–ATIVIDADES ATUAIS DE LAZER –RAQUEL...135

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QUADRO 32–ATIVIDADES ATUAIS DE LAZER –GRUPO 2...143

QUADRO 33–ATIVIDADES DE LAZER QUE SOFRERAM DIMINUIÇÃO DE FREQÜÊNCIA, COM O NASCIMENTO DO FILHO...145

QUADRO 34–ATIVIDADES DE LAZER QUE SURGIRAM COM O NASCIMENTO DO FILHO...146

QUADRO 35–ATIVIDADES DE LAZER QUE SOFRERAM MUDANÇAS COM O CASAMENTO...148

(11)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...13

CONTEXTO E RELEVÂNCIA DA PESQUISA...17

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO...19

1. ENTENDENDO O LAZER E A INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA ...21

1.1DEFINIÇÃO DE LAZER E SUAS CATEGORIAS...21

1.2RELAÇÕES DE TEMPO, TEMPO DE TRABALHO, TEMPO LIVRE E LAZER...30

1.3LAZER,ENTRETENIMENTO E CONSUMO...39

1.4FAMÍLIA,CICLO DE VIDA E CONSUMO DE LAZER...44

1.5O PAPEL DA FAMÍLIA NO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR NO LAZER...50

2. CONSTRUINDO A PESQUISA...55

2.1DELIMITAÇÃO E QUESTÃO DA PESQUISA...55

2.2ESTRATÉGIA DA PESQUISA...57

2.3SELEÇÃO DO CICLO DE VIDA...59

2.4DESENHO DA PESQUISA...59

2.5INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS...61

2.6DADOS DE REFERÊNCIA...63

3. ANALISANDO OS RESULTADOS...66

3.1ANÁLISE INDIVIDUAL...66

3.1.1 Grupo 1 – Casados, com filhos ...66

3.1.2 Grupo 2 – Casados, sem filhos ...124

3.2ANÁLISE GERAL...136

3.2.1 Tempo de trabalho ...136

3.2.2 Significados de Trabalho e Lazer ...138

3.2.3 Atividades atuais de lazer...140

3.2.4 O Impacto do Filho ...144

3.2.5 O Impacto do Casamento...148

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...150

(12)

LIMITAÇÕES...154

SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS...155

REFERÊNCIAS...157

(13)

INTRODUÇÃO

A sociedade contemporânea vem passando por processos de evolução, de ordem econômica, cultural e social, em especial quando se consideram os efeitos da globalização. Neste ambiente de mudanças, teóricos se colocam a questionar quais os novos paradigmas da sociedade.

Talvez uma das áreas de maior impacto frente aos processos de globalização e desenvolvimento tecnológico seja o trabalho, considerado por muitos como o elemento principal da vida (ou ativididade central) do indivíduo moderno (ver, por exemplo, discussão feita por Padilha [2000]).

Conforme diversos autores (DUMAZEDIER [1999], RIFKIN [1995], PADILHA [2000], entre outros), o mundo do trabalho tem passado por alterações substanciais, principalmente em decorrência do desenvolvimento de novas tecnologias produtivas, que acabaram gerando maiores índices de produtividade, mas, em contrapartida, maiores índices de desemprego.

Nesse contexto, muito se discute sobre a redução da jornada semanal de trabalho, em grande parte para diminuir o número de desempregados, o que já vem ocorrendo nas últimas décadas. Empresas mundiais, como HP e Volkswagen, têm experimentado novos padrões, como a semana reduzida de trabalho, com 33 horas, em média, ao invés das 40 horas semanais tradicionais (RIFKIN, 1995).

Independentemente da forma em que se dê essa redução, o certo é que, historicamente, a humanidade vem percebendo a redução do tempo de trabalho e o conseqüente aumento do tempo disponível para o indivíduo.

(14)

possível transição de uma sociedade eminentemente do trabalho para uma outra sociedade mais direcionada ao lazer.

Nesse contexto, vale a pena refletir sobre o lazer em relação ao trabalho. No mundo capitalista, em função da racionalidade econômica e da ética protestante da supervalorização do trabalho (ver Weber [2003] e Padilha [2000]), o lazer tem sido confundido com o ócio, o que gera diversas distorções e críticas, em função do preconceito popular em relação a este último.

De acordo com Bacal (2003, p. 41) “os gregos denominavam de ócio o tempo livre, atribuindo-lhe maior valor que à vida de trabalho”. O trabalho era, pois, destinado aos indivíduos pobres ou escravos, restando aos membros das classes mais abastadas o tempo para a contemplação, para o conhecimento, etc. Tanto é que a palavra ócio está relacionada, etimologicamente, à palavra skolé, que designa o lugar em que se realiza a educação. Assim, ócio pode ser entendido, nesse período, como um momento em que toda a ação é interrompida, para que possa restar, ao indivíduo, o tempo para se educar. O ócio é “[...] uma condição ou estado – o estado de estar livre da necessidade de trabalhar” (GRAZIA1 apud BACAL, 2003, p. 42).

Na Idade Média, de acordo com Veblen (1985), surgiu uma classe que, assim como os gregos, não se dedicava nem ao trabalho rotineiro e nem à contemplação no sentido acima mencionado: era a elite, composta pela nobreza e pelo clero. Naquele contexto, o trabalho continuava a ser considerado indigno e o ócio era a atividade (caracterizada por não ter um fim utilitário) à qual o indivíduo digno podia dedicar-se.

Entretanto, com a reforma protestante e o desenvolvimento do capitalismo e da reforma protestante, a sociedade ocidental passou a valorizar o trabalho, ao contrário dos períodos históricos anteriores. Com isso, o ócio passou a ser visto como um mal, um vício que deveria ser combatido. Não era mais admissível que o indivíduo se entregasse a qualquer prática que não tivesse um caráter utilitário, ou seja, uma tarefa-meio e não com um fim em si mesmo.

1 GRAZIA, Sebastian de.

(15)

Agora já é possível perceber o ócio como contraposição do trabalho, e não mais como elementos distintos. É importante frisar, entretanto, que lazer e ócio são conceitos diferentes, ao menos se tomadas as conceituações contemporâneas. Como será percebido durante a apresentação deste trabalho, o ócio pode ser entendido como o “não-fazer”, e está relacionado ao trabalho de maneira negativa ou excludente. Assim, se o indivíduo não trabalha, vive em ociosidade. Em contrapartida, o lazer pressupõe, necessariamente, a existência do trabalho. Ou seja, só tem lazer aquele que trabalha.

Nessa nova configuração, o lazer aparece como algo que deve ser buscado e preservado; um elemento essencial na vida cotidiana, capaz de oferecer condições de desenvolvimento pessoal e recuperação física e mental. Entretanto, muito se questiona o aspecto libertador do lazer, em contraposição a um trabalho desgastante e alienante (ver discussão de Padilha [2000]). Se por um lado o lazer pode ser entendido como fonte de satisfação, por outro é considerado uma continuidade da lógica alienante do trabalho.

Nesse contexto, pode-se perguntar se as práticas de lazer são uma fonte real de satisfação, ou apenas um momento de escapismo do tempo de trabalho? Qual é o significado do lazer para seus praticantes? Quais são os fatores que determinam os comportamentos de lazer?

Sabe-se que diversos fatores concorrem para os contornos desse comportamento. Dentre eles podemos citar idade, escolaridade, saúde, classe social e estágio no ciclo de vida familiar.

(16)

Dentre todos os estágios de ciclo de vida, um se sobressai em pesquisas na área de lazer e uso do tempo, por sua característica de “corte” entre um padrão e outro: quando o casal entra na paternidade (ver Altergott e McCreddy [1993], Brown et al. [2001] e Kelly [1975]).

Assim, coloca-se o questionamento que é o cerne da presente pesquisa: Quais são os padrões de consumo de lazer de casais com filhos pequenos (até 6 anos de idade)? Em que diferem do consumo de lazer existente no período anterior ao nascimento do filho?

É importante frisar que o presente trabalho faz parte de um projeto maior, que procurará entender o comportamento dos indivíduos em dois estágios críticos do ciclo de vida familiar: os casais, antes e depois do nascimento do(s) filho(s) – tema central do presente estudo; e os casais, após os filhos se tornarem independentes2.

Considerando o exposto acima, o objetivo mais amplo da presente pesquisa é identificar possíveis padrões de comportamento de consumo de lazer de administradores de empresas residentes em São Paulo, cujas famílias se caracterizem por casais com filhos pequenos (até 6 anos de idade) e por casais sem filhos.

Este objetivo se relaciona com as lacunas de conhecimento sobre as relações entre o comportamento dos indivíduos no lazer, e os estágios em que eles se encontram em seus ciclos de vida familiar, em especial nos estágios de transição, como antes e depois do nascimento do(s) filho(s).

Também é importante ressaltar a relativamente pouca produção de pesquisas nessa área, no Brasil. Os principais trabalhos começam a ser desenvolvidos a partir da década de 70. O trabalho mais recente, de que temos conhecimento, ainda está in progress, no Centro de Estudos da Metrópole, e procura compreender o consumo cultural na região metropolitana de São Paulo.

2 Ambos os trabalhos integram um projeto mais amplo, relacionado a consumo, lazer e turismo no

(17)

Em termos de área do conhecimento (ou área profissional), o lazer é discutido, principalmente, no âmbito da Educação Física, muitas vezes relacionado a Recreação, sem abordar o aspecto do ciclo de vida familiar na composição do comportamento dos indivíduos.

Nos estudos de lazer existentes relacionados a estágios no ciclo de vida familiar, percebe-se uma concentração em grupos de adolescentes e idosos.

Dessa forma, o presente trabalho pretende colaborar para preencher essas lacunas do conhecimento, procurando explorar, junto a um grupo social determinado, de que forma o lazer se insere na rotina diária, quais são seus significados e, principalmente, como a presença de filhos com idade de até 6 anos modifica (ou não) as práticas de lazer dos indivíduos que, agora, assumem o papel de pai/mãe.

Além dos objetivos gerais citados anteriormente, temos os seguintes objetivos específicos:

1) Entender a distribuição das categorias de lazer entre indivíduos cujas famílias se caracterizem como casais com filhos pequenos;

2) Entender a percepção dos indivíduos em relação ao lazer condicionado com os papéis familiares de pai e mãe, em especial no que se refere à satisfação que essas atividades de lazer proporcionam; e

3) Entender as diferenças mais significativas na composição do consumo de lazer antes e depois do nascimento do(s) filho(s).

Contexto e Relevância da Pesquisa

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et al. (1984) encontraram, por exemplo, 37 temas em artigos publicados em periódicos da área de Comportamento do Consumidor, entre 1950 e 1980.

Dentre os temas, o da Família (Family Decision Process) foi trabalhado em apenas 3,4% dos artigos pesquisados pelos autores. Entretanto, o tema Família tem grande importância para que se possa entender o comportamento das pessoas, em especial em relação ao lazer, objeto de estudo deste trabalho (KELLY [1975]; PESTLE; ARRINGTON; CARD [1989]; SHAW; DAWSON [2001]; RAYMORE et al. [2001]; HUTCHINSON; BALDWIN; CALDWELL [2003]; LEE; BHARGAVA [2004]).

Sobre o tema lazer, especificamente, parece haver relativamente pouco interesse por parte dos pesquisadores da área de comportamento do consumidor, ao menos nos periódicos internacionais relacionados pela base de dados EBSCO. Em busca realizada nesta base de dados, utilizando-se como palavra-chave o termo Leisure, e como identificador do periódico o termo Consumer, apenas 9 artigos apareceram relacionados, no período de janeiro de 2000 a abril de 2005. Ao utilizar o termo Family, foram encontrados 134 trabalhos. Considerando-se a totalidade de 1883 trabalhos nesse período, temos cerca de 7,12% de trabalhos relacionados a Família e apenas 0,48% abordando o Lazer.

Fazendo-se a mesma busca, mas no período de janeiro de 1995 a dezembro de 1999, encontramos os seguintes dados: 1654 trabalhos, sendo 76 ligados a Família (4,59%) e 6 ligados a Lazer (0,36%).

Os dados mostram o crescimento da importância desses temas para estudos ligados ao consumidor, entretanto ainda há muito que se desenvolver, em especial na área de lazer.

Além disso, entender o comportamento das pessoas em relação ao consumo de lazer oferece às entidades públicas ou privadas subsídios para o devido atendimento às necessidades e demandas por espaços e opções de lazer.

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número de desempregados, em que o tempo livre (dedicado ou não ao lazer) é maior.

Cientistas sociais, principalmente ligados a estudos do trabalho e da cultura, encontram no lazer um importante campo de análise, como salienta Taschner (1991), seja para entender o significado do tempo livre (ou tempo de não trabalho) ou para analisar até que ponto esse tempo pode ser entendido como uma pausa na alienação decorrente do trabalho taylorizado, ou, ao contrário, uma continuação desta. Também está presente a questão do consumo cultural como forma de lazer.

Por outro lado, pesquisadores das áreas de Família, Adolescentes, Educação, entre outros, encontram no lazer um campo de estudo sobre a sociabilidade, educação e mesmo saúde, no ambiente familiar, escolar e nos grupos de amigos.

Finalmente, alguns estudos associam lazer à qualidade de vida, entendendo que o acesso às diversas atividades no tempo livre corresponde a um indicador de qualidade da vida das pessoas (SOUZA, 1972).

Pode-se perceber, assim, a importância desse objeto de estudo que é o lazer. Entender o comportamento das pessoas em relação ao uso do tempo livre, e entre o estágio de ciclo de vida e esse comportamento, pode oferecer subsídios para o melhor entendimento das próprias relações sociais.

No nosso caso, poderá mais especificamente determinar o tipo de demanda de lazer que caracteriza as pessoas de determinada categoria profissional, em período chave de seu ciclo de vida.

Organização do Trabalho

(20)

O primeiro capítulo, dedicado à revisão da literatura, teve como objetivo resgatar conceitos e informações importantes para que se pudesse definir um referencial teórico para orientar a pesquisa. Basicamente, buscou-se, nesta etapa, equacionar os diversos conceitos de lazer, contrapondo-os à idéia de trabalho e tempo livre; entender de que maneira o lazer poderia ser tomado como consumo; analisar a relação entre o ciclo de vida familiar e o comportamento dos indivíduos em relação ao lazer; e, finalmente, entender de que maneira a família, e em especial o papel que o indivíduo exerce no ambiente familiar, relaciona-se às escolhas das práticas de lazer.

O segundo capítulo descreve a metodologia utilizada nesta pesquisa. Ela pode ser caracterizada como estudo de campo, de cunho exploratório e qualitativo, cujas informações foram coletadas através da técnica de entrevistas em profundidade, utilizando-se um roteiro semi-estruturado, além de servir-se de fontes bibliográficas e documentais.

O terceiro capítulo apresenta a análise dos resultados obtidos, tendo por foco inicialmente cada entrevista tomada individualmente, passando em seguida a uma análise de conjunto, de forma a possibilitar responder, de modo mais sistemático, as perguntas de pesquisa formuladas neste trabalho.

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1. ENTENDENDO O LAZER E A INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA

1.1 Definição de lazer e suas categorias

Para poder entender o consumo de lazer, é importante definir o que se entende por lazer, em função das diversas conceituações existentes.

Dumazedier (1973, p. 34), talvez o principal teórico da chamada sociologia do lazer, define lazer como:

[...] conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda, para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.

É interessante compreender que, para o autor, esta definição de lazer não é, necessariamente, a única, mas a que melhor recorta das atividades cotidianas aquelas que têm características tais que as tornam lazer, conforme compreendido pela sociologia do lazer (DUMAZEDIER, 1999). As outras possíveis definições, criticadas pelo autor, são mais abrangentes e, por isso mesmo, até certo ponto ambíguas.

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A segunda definição relaciona o lazer apenas ao campo das atividades profissionais. Assim, tudo aquilo que pudesse ser considerado não trabalho seria lazer. Esta definição encontra eco entre os economistas, e tem sua vantagem, uma vez que diferencia, ou melhor, contrapõe o lazer com a principal fonte de limitação do próprio tempo de lazer: o tempo de trabalho. Entretanto, não leva em consideração outros tempos importantes, sociologicamente falando, como o das obrigações familiais ou de engajamento sócio-religioso e sócio-político.

Finalmente, a terceira possível definição exclui do âmbito das atividades de lazer as obrigações doméstico-familiais, entretanto não considera as atividades de cunho sócio-religioso ou sócio-político como um campo a parte. Para Dumazedier (1999), isto gera um problema, uma vez que a própria história da humanidade mostra que a redução das atividades sócio-religiosas abre espaço para outras atividades, estas sim de lazer, ou seja, de mais liberdade de escolha. Além disso, para o autor essa definição pode confundir a sociologia política e a sociologia religiosa com a sociologia do lazer, dificultando a delimitação e restrição dos campos de estudo.

Dessa maneira, chegamos à definição apresentada inicialmente, em que se percebe, claramente, a separação das atividades de lazer daquelas relacionadas a obrigações profissionais, familiais, sócio-religiosas e sócio-políticas.

(23)

noite em um bar, conversando com os amigos, mas sente-se obrigado a voltar para casa, a fim de auxiliar a esposa no cuidado com os filhos). Esse aspecto, de constrangimento ou restrição do lazer em função de questões sociais ou familiares, principalmente, será retomado durante este trabalho.

Podemos perceber, até agora, que o conceito de lazer está muito ligado à satisfação pessoal e à sua relação com as atividades consideradas obrigatórias. Camargo (1999) apresenta alguns outros elementos que auxiliam no entendimento desse conceito:

a) Escolha pessoal – o lazer está ligado a uma opção pessoal, ou uma certa liberdade de escolha. O próprio autor reforça, entretanto, que o lazer, assim como qualquer ação humana, não pode ser entendido como uma escolha totalmente livre. “Os determinismos culturais, sociais, políticos e econômicos pesam sobre todas as atividades do cotidiano, inclusive sobre o lazer” (CAMARGO, 1999, p. 10). Por isso, podemos entender esse primeiro aspecto, a escolha pessoal, como um grau de liberdade de escolha maior do que aquela que o indivíduo tem em relação ao trabalho ou às atividades familiares.

b) Gratuidade – a palavra, nesse contexto, refere-se mais à questão de o lazer ser desinteressado do que no sentido de não demandar um investimento financeiro. Assim, ainda que toda e qualquer atividade humana atenda a um certo tipo de interesse, o lazer está mais ligado ao “fazer-por-fazer” (CARAMGO, 1999, p. 12), ou seja, tem um fim em si mesmo.

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d) Liberação – “O lazer é sempre liberatório de obrigações” (CAMARGO, 1999, p. 12). A idéia contida nesse tópico é a que o lazer tem, sempre, um caráter de liberação das obrigações da vida social, gerando certa compensação. Esse elemento é facilmente percebido quando se nota a maneira como as pessoas encaram os finais de semana ou as férias.

O trabalho de Requixa (1973) pode contribuir para que possamos nos aprofundar ainda mais em outros elementos que compõem o lazer. Nas palavras do autor, lazer pode ser entendido “como uma ocupação não obrigatória, de livre escolha do indivíduo que a vive e cujos valores propiciam condições de recuperação psicossomática e de desenvolvimento pessoal e social” (REQUIXA, 1973, p. 41). A partir dessa definição, o próprio autor reforça o caráter ativo do lazer, considerando-o cconsiderando-omconsiderando-o uma considerando-ocupaçãconsiderando-o. Nesse sentidconsiderando-o, considerando-o lazer nãconsiderando-o pconsiderando-ode ser entendidconsiderando-o cconsiderando-omconsiderando-o um “não-fazer” ou “fazer nada”. Dessa forma, ainda que o ato de dormir, por exemplo, gere prazer, não será considerado lazer, por não se caracterizar em uma ocupação.

(25)

divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda, para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora”.

Até agora as definições de lazer apresentadas foram mais restritivas do que abrangentes. De acordo com as definições anteriores, por exemplo, levar os filhos para passear no parque poderia não seria lazer, caso esteja condicionado ao papel que o indivíduo deve desempenhar como pai ou mãe; também a freqüência a eventos como batizado e casamento pode ter um componente de obrigação, no caso social ou familiar, que a descaracterizaria como atividade de lazer.

Além disso, a partir do que foi visto até agora, dificilmente poderíamos entender a ida ao cinema para assistir a um filme produzido sob a lógica da indústria cultural como lazer, afinal, até que ponto podemos afirmar, com toda certeza, que essa atividade foi escolhida livremente pelo indivíduo ou influenciada pelos meios de comunicação utilizados pelos produtores do bem cultural em questão? Neste ponto é importante frisar que o objetivo do presente trabalho não é discutir a influência dos meios de comunicação no consumo de lazer dos indivíduos, muito menos analisar criticamente a indústria cultural como parte da indústria do lazer. A idéia do questionamento apresentado neste parágrafo é mostrar a necessidade que temos de buscar conceitos um pouco mais abrangentes de lazer, a fim de possibilitar realizar o estudo que é objeto desta pesquisa.

Por isso, para efeito deste trabalho, é importante levarmos em conta outras considerações, um pouco mais amplas, que nos possibilitem abranger mais atividades como lazer.

Nesse sentido, Robinson e Godbey3 (1997 apud LEE; BHARGAVA, 2004) entendem que o lazer envolve qualquer atividade de escolha do indivíduo, o que se aproxima da definição de lazer incondicional, usada por Kelly (1975). Para este autor, o lazer incondicional é aquele escolhido pelo indivíduo, sem constrangimentos ou restrições sociais ou de trabalho. Ou seja, é uma escolha livre. Entretanto, para o autor ainda

ROBINSON, J. P.; GODBEY, G. Time for life: The surprising ways Americans use their time.

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existem outros dois tipos de lazer: lazer coordenado, que é o tipo de lazer que parece trabalho na forma, mas é feito livremente e sem penalidades na sua não-realização (ex.: Professor lendo livro de sua área de trabalho nas horas de lazer); e lazer complementar, que corresponde às atividades que são escolhidas, mas sujeitas a constrangimentos de trabalho, família ou sociedade (ex.: participar de uma festa de casamento, pela obrigação familiar de ser parente do noivo ou da noiva). Este último tipo de lazer será constantemente considerado durante este trabalho.

Podemos entender lazer, também, como uma prática cultural, interligada a outras práticas culturais como religião, arte, ciência, organização política, mercado, entre outros, de acordo com Werneck (2000). Para a autora, o lazer pode ser entendido como “expressão da cultura, constituindo um elemento de conformismo ou de resistência à ordem social estabelecida” (WERNECK, 2000, p. 81).

Além da discussão do conceito de lazer, é necessário entender de que maneira as diversas atividades desse tempo livre (ou de não trabalho) são combinadas em categorias pelos diversos pesquisadores da área. Esta preocupação entende-se pela necessidade que temos em, ao realizar uma pesquisa – como se propõe neste trabalho –, buscar unidades de análise, de preferência que sejam comparáveis com outros estudos anteriores.

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as atividades que estão relacionadas com cada uma dessas três categorias: Lazer Ativo (L1), Lazer Passivo (L2) e Atividades Sociais (L3).

Categoria Significado

Lazer ativo (L1) Soma das seguintes atividades

Esportes Tênis, futebol, basquete, vôlei, etc. Lazer externo Pescar, acampar, etc.

Exercícios Aeróbica, musculação, corrida, etc. Hobbies Fotografia, coleção, etc.

Arte/escultura/pintura Escultura, pintura, desenho, etc.

Música/teatro/dança Tocar um instrumento, cantar, interpretar, dançar Jogos Jogos de carta, de tabuleiro, brinquedos, etc. Viagem (ativa) Relativo a viagens para lazer ativo

Lazer passivo (L2) Soma das seguintes atividades

Ouvir radio Transmitir rádio / ouvir radio

Assistir TV Assistir TV, videocassette, TV a cabo Ouvir música Gravar música, ouvir discos, fitas, etc. Ler livros Ler livros por prazer

Ler revistas Ler revistas

Ler jornais Ler jornais

Conversar Conversar com os membros da casa, converar ao telefone

Escrever por lazer / prazer Cartas, poesia, fazer um diário Pensar / relaxar Relaxar, pensar, fazer nada

Viagem (passivo) Relativo a viagem, aguardar ou se preparer para sair

Atividades Sociais (L3) Soma das seguintes atividades

Eventos esportivos Assistir ou participar de eventos esportivos Eventos (miscelâneo) Circos/feiras, concertos de rock

Cinema Assistir filmes no cinema

Teatro Teatro, ópera, concerto, bale

Museus/zôológicos Visitar museus, zoológicos, galerias de arte, exibições, etc.

Visitar Visitar pessoas (que não membros da casa) Festas Pique-nique, festas, recepção, casamento

Bares Beber / socializar em um bar

Outros eventos sociais Outros eventos de socialização não comentados acima

Viagem (social) Relativo a viagem, aguardando ou se preparando para viajar

Quadro 01 – Atividades de lazer Ativo, Passive e Social. Fonte: Adaptado de Lee e Barghava (2004, p. 266).

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Lazer ativo: atividades que requerem esforço físico, como jogar basquete, pescar, andar a cavalo, etc.

Lazer passivo: atividades que envolvem pouco esforço e normalmente são realizadas de maneira privativa, como ler um livro ou ouvir uma música.

Lazer social: envolve atividades em que a interação com outras pessoas é preponderante.

Entretenimento: atividades que incluem o consumo público de produtos culturais, como ir ao teatro ou eventos esportivos.

Assistir à TV: esta atividade é relacionada em separado das demais atividades de lazer passivo por sua presença marcante no uso do tempo livre.

Em função da variação de entendimentos sobre o que seria lazer passivo e ativo, optamos por buscar outras classificações, que utilizassem categorias menos ambíguas.

Como lazer, Dumazedier (1999) apresenta as seguintes atividades: Jogos (cultura popular nascida no lazer), ler livros, ir ao cinema (imaginário), ler jornais (informação desinteressada), ir a cafés (botecos, no Brasil - lazer operário), participar de organizações recreativas e educativas. O autor ainda apresenta o conceito de

Semilazeres: cuidar do jardim de casa, pequenos reparos (chamado de do yourself ou bricolage), ou seja, são atividades que geram prazer, mas que têm um componente de obrigatoriedade ou têm um fim que não a atividade em si (o pequeno reparo, por exemplo, não é feito apenas por fazer, ou para gerar prazer a quem o faz, mas para reparar algum problema).

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Esta classificação é a mesma apresentada por Marcelinno: “A classificação mais aceita é a que distingue seis áreas fundamentais: os interesses artísticos, os intelectuais, os físicos, os manuais, os turísticos e os sociais” (MARCELINNO, 2000, p. 18). Por acreditarmos que essa categorização, ou classificação, favorece a operacionalização das diversas atividades, e por ser uma classificação mais usual em trabalhos brasileiros, utilizaremos esta mesma classificação na análise dos dados obtidos na pesquisa de campo.

Classe Cultural Atividade

Físicas (corpo) Ginástica, esportes

Manuais (mão) Bricolage, jardinagem e criação de animais Artísticas (imaginação) Festas, artes

Intelectuais (curiosidade) Informação e auto-formação

Sociais (o outro) Relações interpessoais, participação em grupos ou de movimentos

Turísticas (deslocamento) Passeios e viagens

Quadro 02 – Classificações das Atividades de Lazer Fonte: Adaptado de Camargo (1981, p. 31-32)

Essa classificação possibilita melhores distinções entre as práticas, em relação à categorização de Lee e Bhargava (2004). Entretanto, é importante que seja considerado o aspecto subjetivo relacionado à prática, uma vez que, por exemplo, levar o cachorro para passear pode ser atividade manual (cuidado com o animal), físico (é uma possibilidade de praticar uma caminhada) e/ou social (é uma fonte de contato com outras pessoas, que estejam levando seus animais para passear ou não).

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domiciliar x externo também será utilizada como base para análise da pesquisa de campo, uma vez que permite, até certo ponto, uma comparação ou aproximação com o trabalho de Botelho e Fiore (2005), que é a mais recente pesquisa realizada na área do lazer, na região metropolitana de São Paulo (mesma área geográfica da pesquisa de campo realizada para a elaboração desse trabalho), de que temos notícia.

Uma vez que utilizaremos a classificação de domiciliar x externa, é importante ter em mente o que diz Marcelinno:

Todas as pesquisas dão conta de que a grande maioria da população, notadamente nos grandes centros urbanos, desenvolve suas atividades de lazer, prioritariamente, no ambiente doméstico. O lar é o principal equipamento não-específico de lazer, ou seja, um espaço não construído de modo particular para essa função, mas que eventualmente pode cumpri-la (MARCELINNO, 2000, p. 29).

Botelho e Fiore (2005) confirmam essa característica da predominância das práticas domiciliares, mesmo entre a elite, ao menos no que se refere a consumo cultural. De acordo com os autores, o acúmulo de práticas culturais domiciliares4, entre os

membros da amostra, alcançou 46,6%, enquanto que o acúmulo das práticas externas corresponde a apenas 12,7%. Entre os entrevistados pertencentes à classe A da região metropolitana da cidade de São Paulo, o acúmulo de práticas externas foi um pouco maior, 22%, entretanto permanece a predominância das práticas domiciliares (acúmulo de 64,3%) (BOTELHO; FIORE, 2005, p. 20).

1.2 Relações de tempo, tempo de trabalho, tempo livre e lazer

Para se entender o que é lazer, também é importante compreender de que forma ele se relaciona com o trabalho e com o tempo livre. Por isso, apresentamos a seguir uma discussão sobre a questão do tempo, chegando à idéia do tempo social e, por conseguinte, do tempo de trabalho e tempo livre. A partir daí, procuramos 4 O índice de acúmulo das práticas domiciliares ou externas refere-se à quantidade de práticas

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equacionar de que maneira o lazer se insere no tempo livre bem como sua relação com o trabalho.

Desde a Antigüidade o homem tem tentado contar o tempo. Relógio de água, relógio do sol, ampulheta, relógio mecânico ou a quartz, todos estes instrumentos, entre diversos outros, mostram a preocupação em marcar a passagem do tempo. Mas para ser passível de mensuração por esses instrumentos, esse tempo precisa, obrigatoriamente, ser linear, contínuo.

Entretanto, até que ponto podemos afirmar que o tempo é linear? Para alguns, essa pergunta pode parecer absurda, pois a passagem do tempo pode ser percebida pelo ciclo do nascer e pôr do sol, do envelhecimento do ser humano, pela passagem das horas (uma vez que este conceito foi convencionado com o significado de passagem do tempo).

Entretanto, uma análise dos estudos de diversas ciências mostra que esta idéia de um tempo linear, físico (citado no sentido de objetivo por Bernhoeft [1985]), não é a única existente. Na verdade, a questão do “tempo” pode gerar diversas análises e mesmo confusões (LAUER, 1981). Um exemplo, de acordo com Lauer, é a discussão gerada pela Psicanálise. Segundo o autor, Freud entendia o tempo como um modo de percepção (o que já poderia, em tese, descaracterizar a idéia de linearidade, uma vez que a percepção abre espaço para a subjetividade). Entretanto, esta percepção insere-se apenas no nível do consciente, pois para o inconsciente não há passado, presente ou futuro e, conseqüentemente, passagem de tempo.

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Freitas (2003, p. 10) indica a possível não-linearidade do tempo, ao comentar, ainda que metaforicamente, que “tempo agora é medido e pesado, pode ser perdido, estocado, ganho, trocado, segundo os ditames da economia moderna que não pode dispensar estes cálculos”.

Mas qual seria a visão correta sobre o tempo? Seria ele linear e físico, apenas uma percepção ou mesmo irreal? Naturalmente este questionamento é tendencioso, pois pressupõe a existência de apenas uma resposta. Na realidade, podemos afirmar que todas as alternativas estão corretas (ou erradas, dependendo do ponto de vista) e que há outras mais que respondem satisfatoriamente à questão apresentada.

Aquino (2003), por exemplo, sugere a existência de diversos “tipos” de tempo, como o tempo biológico, tempo cósmico, tempo econômico, entre outros. Segundo o autor, pode-se afirmar, em certo aspecto, que o tempo é uma construção social, com significados diversos. Podemos, então, falar no tempo social (AQUINO, 2003; LAUER, 1981), que, segundo Aquino (2003, p. 2)

[...] pode ser considerado como uma referência específica ou um qualificativo de uma perspectiva mais substancial do tempo, ou seja, como um recorte da aplicação do tempo à realidade social, ou pode ainda, ser tomado como uma concepção autônoma do tempo.

Assim, o tempo social é mais abrangente que o tempo “do relógio” (TONELLI, 2003), pois pode abranger este último. Lauer (1981) exemplifica esta questão, usando a idéia do antropólogo Philip Bock de que o dia de um indígena pode ser melhor compreendido em termos de “tempo de oração”, “tempo de canto”, “tempo de alimentação”, etc., sendo que estes não estão relacionados ao tempo do relógio.

Entretanto, de acordo com Eugênio5 (1997, apud Aquino, 2003), uma análise do tempo necessita focar as duas esferas, social e física, uma vez que cada vez mais, na sociedade moderna, o tempo social está se aproximando do tempo físico, ou, muitas vezes, ficando preso a este (LAUER, 1981). Talvez isso explique a sensação de tirania, ou a sensação de impotência, que o tempo exerce sobre muitas pessoas (LAUER, 1981; FREITAS, 2003).

5 EUGÊNIO, Norbert.

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Esta aproximação, ou dependência, de acordo com Tonelli (2003), teve início no século XVIII, em função do desenvolvimento dos relógios mecânicos, e continuou durante os séculos seguintes.

No século XIX, o conceito de “perder tempo” já faz parte do cotidiano e várias dimensões da organização social cotidiana estão articuladas ao controle do tempo – tais como a regulação do horário dos transportes, dos correios, do trabalho – exigindo cada vez mais a sincronização das atividades e, portanto, um quadro de referência temporal único (TONELLI, 2003, p. 36).

É interessante notar que o desenvolvimento tecnológico (relógios) foi um dos grandes responsáveis pela aproximação do tempo social com o tempo físico e, conseqüentemente, pela adoção deste como controle do trabalho. Entretanto, nas últimas décadas (notadamente a partir dos anos 90) a tecnologia pode ter desenvolvido o início do distanciamento entre o tempo físico e o tempo social (em especial, o tempo de trabalho).

Isto pode ser o resultado de uma sociedade cada vez mais apressada, que exige maior produtividade, no menor intervalo de tempo (“do relógio”) (FREITAS, 2003). Uma das maneiras de se conseguir isso é aumentando o número de tarefas executadas em um mesmo período. Ou pelo aumento na velocidade da execução de cada atividade. Ou, ainda, pelo avanço do tempo de trabalho sobre o tempo de lazer ou não-trabalho. “O tempo privado, pessoal e familiar é o primeiro a ser sacrificado […]” (FREITAS, 2003, p. 20).

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Como visto até agora, podemos dizer que a sociedade vive um tempo social, que, ao menos em parte, está subordinado ou ligado ao tempo cronológico. Camargo (1981) decompõe esse tempo social em quatro tempos distintos: 1) Tempo de trabalho (dedicado às atividades produtivas); 2) Tempo familiar (dedicado às atividades domésticas como arrumar a casa, lavar, passar, cozinhar e cuidados com os filhos); 3) Tempo pessoal (que envolve o sono, os cuidados pessoais e necessidades privadas) e; 4) Tempo livre (aquele destinado à educação e formação pessoal, incluindo a participação religiosa e cívica bem como o lazer).

Assim, a idéia de tempo livre só pode ser entendida a partir da existência de um tempo delimitado para o trabalho, que é sua contraparte. Nesse sentido, podemos dizer que até a Idade Média não havia o que hoje chamamos de tempo livre, uma vez que “nas sociedades predominantemente rurais, a tendência é a de vivenciar e entender a diversão, o descanso, o convívio social, familiar e o trabalho, como esferas e tempos que se misturam e se confundem” (SANT’ANNA, 1994, p. 14).

Fica claro, nessa organização do tempo social, que o lazer corresponde a uma das atividades executadas no chamado tempo livre. Também é possível perceber, claramente, que este tempo é chamado de livre por corresponder às atividades que são executadas quando não há mais outras obrigações (profissionais, familiais ou sociais). Esta idéia se aproxima da definição que Dumazedier (1973) faz de lazer, entretanto, como vimos, este autor exclui dessas atividades o engajamento social (que corresponde à participação sócio-política e sócio-religiosa).

A partir desta categorização, podemos perceber claramente que o tempo de lazer está ligado, diretamente, ao tempo de trabalho e ao tempo de outras obrigações, uma vez que aquele só é possível assim que estes se esgotarem. Podemos, então, compreender o lazer como oposto ao trabalho ou às obrigações sociais ou familiais.

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Se pensarmos em termos de evolução do lazer, vamos encontrar que a sua prática não é um fenômeno recente, de acordo com Munné6 (1992, apud JUNIU, 2000).

Para o autor, esta prática é antiga, porém sofreu transformações e mudanças conceituais até chegar à atualidade.

Na Grécia Antiga o lazer estava relacionado à contemplação dos valores supremos do mundo como beleza, verdade, conhecimento e divindade (JUNIU, 2000). É interessante notar que neste período da história, o trabalho era considerado indigno do homem e destinava-se aos escravos e aos pobres. Uma passagem do texto de Marilena Chauí retrata bem essa questão, ao mostrar que o trabalho visto como desonra e degradação:

[...] aparece nas sociedades escravistas antigas, como a grega e a romana, cujos poetas e filósofos não se cansam de proclamar o ócio um valor indispensável para a vida livre e feliz [...], vendo o trabalho como pena que cabe aos escravos e desonra que cai sobre homens livres pobres (CHAUÍ, na introdução ao texto de LAFARGUE, 1999).

Veblen (1985), em seu trabalho “A teoria da classe ociosa”, considerada como uma das primeiras contribuições à teoria do lazer, comenta a evolução da civilização ocidental, em termos econômicos e sociais, e o surgimento da classe ociosa. Para o autor, as classes altas da fase bárbara da sociedade, compostas por membros da nobreza e do clero, não exerciam atividades industriais, ou produtivas, mas dedicavam-se a atividades governamentais, guerreiras, religiosas e esportivas. Essas atividades tinham o caráter de serem não rotineiras e exigirem atos de coragem. Por isso, eram consideradas dignas. Já as atividades rotineiras e que não exigiam a proeza ou façanha, eram consideradas indignas e destinavam-se aos escravos e homens livres das classes mais baixas (essa idéia reforça o comentário de Marilena Chauí, apresentado acima).

Nesse período, os símbolos de riqueza e status eram, em grande parte, os troféus conquistados por grupos de nobres em guerras, que indicavam bravura e coragem. Entretanto, com o desenvolvimento da sociedade em direção à propriedade privada e ao aumento das atividades industriais, e a diminuição das oportunidades de uso da bravura, os símbolos de status passaram a ser outros, caracterizando-se, 6 MUNNÉ, F.

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principalmente, pelo acúmulo de bens. Considerando que a disputa por prestígio social estava atrelada à superação em relação às outras pessoas, o acúmulo de bens passou a ser cada vez mais intensificado. Assim, o consumo conspícuo, ou sem utilidade, de bens caracterizou a classe ociosa da fase pecuniária da sociedade ocidental.

Conforme salienta Taschner (2000), este consumo ainda não pode ser considerado lazer, ao menos se compararmos com as definições contemporâneas, pois não estão atreladas a um tempo livre (mesmo porque podemos considerar que até certo ponto não havia, para a classe ociosa, um tempo de trabalho que fizesse contraposição a um tempo liberado do trabalho), bem como “não estava necessariamente associado a prazer, diversão ou relaxamento” (TASCHNER, 2000, p. 40).

Assim, podemos entender que na obra de Veblen (1985) o lazer (ou ócio) não está ligado ao trabalho, como sua complementação, mas sim como sua contraposição. A classe ociosa só pode ser entendida dessa maneira por não realizar atividades consideradas trabalho (no sentido de serem rotineiras e ligadas à produção). Esse conceito está mais relacionado à idéia de ócio do que de lazer. É interessante notar, entretanto, que o título do trabalho de Veblen em inglês – Theory of the leisure class – remete à idéia de lazer, enquanto que a tradução para o português remete ao ócio.

Essa distinção é importante para diversos autores, uma vez que os conceitos de ócio e de lazer são diferentes, entretanto, é comum as pessoas considerarem os dois como sinônimos. Como cita Requixa, “A idéia de lazer entendida como um não-fazer parece derivar da distinção não muito percebida entre lazer e ócio” (REQUIXA, 1973, p. 42).

Sant’Anna vai além, ao comentar que:

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A preocupação com a distinção entre ócio e lazer se justifica a partir do momento em que a sociedade ocidental passa a ser regida sob a valorização do trabalho. Durante o século XVIII, a ética puritana e a racionalidade econômica passaram a ter grande influência e a valorização do trabalho foi construída baseada nas crenças de Lutero em que a responsabilidade para com o trabalho e a família era vista como serviço a Deus. Os puritanos consideravam o lazer vão e, portanto, perda de tempo (LAFARGUE, 1999; WEBER, 2003). Neste momento histórico, o ócio, que até então estava ligado à alta classe ou à contemplação, passou a ser considerado um vício que deveria ser banido.

Com a valorização do trabalho, em contraposição ao ócio, podemos entender como o conceito de lazer passou de contemplação ou atividade destinada àqueles que não estavam subjugados à lógica do trabalho, para uma relação direta, muitas vezes entendida como complementação, para recuperação, do próprio trabalho.

Marcelinno reforça essa idéia, ao comentar que:

Antes de mais nada, o tempo de lazer encontra-se não em oposição, mas em relação com o tempo das obrigações. Sobretudo com as obrigações profissionais – com o trabalho. [...] o tempo do lazer situa-se no “tempo liberado”, portanto supõe a sua existência (MARCELINNO, 2000, p. 11).

Nesse sentido, o tempo dos indivíduos desempregados não pode ser considerado livre ou de lazer, pois não está relacionado a um tempo de trabalho. Sant’anna reforça que:

[...] o direito ao lazer tende a ser legitimado e reconhecido, social e individualmente, na medida em que o homem é um trabalhador remunerado A dona de casa, por exemplo, que cuida dos filhos e da casa, que passa os sete dias da semana no serviço de gerenciar e preservar o lar, encontra dificuldade em ser reconhecida como trabalhadora. […] Assim, o direito ao lazer está atrelado ao dever de trabalhar, e vice-versa (SANT’ANNA, 1994, p. 37-38).

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Considerando essas informações e as conceituações de lazer apresentadas na primeira parte deste capítulo, percebemos a clara relação entre trabalho e lazer na cultura contemporânea. Essa relação é enfatizada por Weiermer (2004), ao afirmar que a quantidade e a estrutura do trabalho exercem a influência dominante no comportamento e no tempo de lazer. Assim, a qualidade, quantidade e forma como se utiliza o tempo de lazer recebe forte influência das necessidades impostas pelo mundo do trabalho. Esta idéia reforça a noção de que o lazer é, de certa forma, subordinado ao trabalho.

Isso se torna ainda mais claro se pensarmos que mudanças na estrutura do trabalho resultam em modificações na forma como se utiliza o tempo de lazer (WEIERMER, 2004).

Entretanto, podemos entender, no que se refere à sociedade hipermoderna, que o uso do tempo está cada vez mais individualizado (GODBEY, 2004). Historicamente o progresso da economia é quem dita o sentido e uso do tempo livre (ou para o lazer). Entretanto, múltiplas forças estão reordenando as relações entre trabalho e lazer. Assim, não se pode mais pensar em dias de trabalho (semana) e dias de descanso (final de semana). Na realidade, é crescente o número de pessoas que levam trabalho para casa, inclusive nos finais de semana, principalmente em função do uso do computador (GODBEY, 2004).

Percebe-se, assim, a crescente dificuldade em encontrar os limites entre as dimensões de trabalho e de não-trabalho. Para o autor, por exemplo, lazer e trabalho não são mais esferas completamente separadas no decorrer dos dias e semanas. A própria luta em reservar o final de semana para o lazer, evitando trabalho e comércio, tem sido esquecida em todas as nações modernas (BREEDVELD7, 2002, apud GODBEY, 2004).

Essa sobreposição, associada à hipertatividade do indivíduo pós-moderno, tem gerado a busca pela customização das agendas das semanas e dos dias, ou seja,

7 BREEDVELD, K. Shop opening hours: the rrigidity of time structures. Lisbon, Portugal, October

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busca por uma maior flexibilidade – advento de mais formas de flexibilidade no trabalho (GODBEY, 2004).

Weiermer (2004) reforça essa idéia ao afirmar que novos padrões de tempo alocado entre trabalho e lazer estão surgindo. Alguns desses padrões podem ser as novas estruturas de semana de trabalho comprimida, o tele-trabalho (possível graças ao desenvolvimento da tecnologia), viagens a trabalho (que acabam se combinando com o lazer), entre outros.

Todas essas mudanças geram a necessidade de acordos entre a família e o trabalho, entre o trabalho e a diversão, uma vez que o trabalho não está mais restrito ao ambiente profissional das fábricas ou dos escritórios, nem ao tempo específico de trabalho. Assim, podemos perceber a existência de atividades de trabalho no tempo de não trabalho (como checar e-mails da empresa em casa, fazer reuniões aos finais de semana), bem como atividades de lazer realizadas no tempo de trabalho, como checar e-mails pessoais no ambiente profissional, a compra de ingressos pela Internet, durante o expediente, os momentos do “cafezinho”, etc.

1.3 Lazer, Entretenimento e Consumo

Na sociedade contemporânea é difícil falar em lazer sem se referir a consumo de produtos e serviços da chamada indústria do entretenimento ou da indústria do lazer. O objetivo do presente trabalho não é discutir esse aspecto, apresentando argumentos que expliquem de que maneira esta relação se estabeleceu (o que fazemos de forma breve, apenas para indicar possíveis caminhos neste sentido), mas sim perceber de que maneira esse consumo se apresenta no comportamento de lazer dos indivíduos.

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Adorno (1973) critica a utilização que se faz do tempo livre, ao afirmar que este se encontra contaminado pela lógica do capital, ou seja, pela racionalidade econômica. Assim, para o autor, no tempo livre o trabalhador mantém os mesmos padrões que tem no tempo de trabalho. “[...] essa atividade que se entende em si mesma como o contrário de toda coisificação [...] também se coisifica. [...] [No tempo livre] continuam as formas da vida social organizada segundo o regime do lucro” (ADORNO, 1973, p. 56).

Assim como a lógica do trabalho está inserida no tempo de lazer, também a lógica da produção de bens e serviços de entretenimento é a lógica da produção capitalista. Na sociedade contemporânea podemos entender que existe uma relação direta entre lazer e o consumo (TASCHNER, 2000).

Em outras palavras, uma vez que estamos inseridos em uma sociedade capitalista, que é regida pela lógica do capital, o lazer assume essa mesma lógica, através da produção de mercadorias (de lazer) para serem consumidas pelo mercado consumidor, ou então o próprio ato de consumo (aqui entendido como compra, uso ou exibição) se transforma em uma atividade de lazer.

Padilha reforça a relação entre a racionalidade econômica do capitalismo e a inevitabilidade do lazer de se transformar em uma relação de consumo. “[...] parece inevitável que o lazer, entendido como ocupação ou atividade durante um tempo liberado de obrigações, numa sociedade capitalista, implique necessariamente numa relação de consumo” (PADILHA, 2000, p. 70).

Nesse sentido, é fácil perceber que as práticas de lazer tendem a ser, cada vez mais, mediadas pelo mercado, ou seja, mercantilizadas. É o que comenta Sue8:

Cada vez mais numerosos serão os especialistas do lazer que intervirão para substituir as funções até agora realizadas pelo próprio indivíduo ou pela coletividade (animação, relações sociais etc.). Nesta perspectiva, o lazer será reduzido a uma simples função de consumo. Consumir-se-á serviços e bens de lazer... (SUE, 1980, p. 123, apud PADILHA, 2000, p. 69).

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Albano e Lemos9 (s/d, apud PADILHA, 2000, p. 71) comentam que o

desenvolvimento das cidades e do comércio acabou por configurar o consumo como lazer. O maior exemplo disso são os shoppings centers. E as autoras ainda reforçam o consumismo ao comentar que “o ato de contemplar os objetos se enfraquece em decorrência da pulsão do fetiche e do aumento da intensidade do consumo”.

Um elemento importante no processo de tornar o tempo de lazer um tempo de consumo é o desenvolvimento tecnológico. Hemingway (1996) atribui ao aumento da instrumentalização do lazer o surgimento de uma cultura de consumo que permeia os momentos do tempo livre. Cultura passou a ser entendida como um produto padronizável, estandardizado, e o consumo da cultura se transformou em lazer.

Wernek (2000) também apresenta o desenvolvimento das tecnologias como elemento de construção e fortalecimento da indústria do entretenimento:

Uma vez que o progresso tecnológico vem reduzindo o trabalho nos setores agrícola e industrial, vem se multiplicando, se diversificando e se sofisticando a oferta de bens e de serviços no setor terciário [...] Os investimentos substanciais na chamada “indústria do lazer e entretenimento” devem-se, em grande parte, ao quadro social que caracteriza a nossa realidade sociocultural histórica (WERNECK, 2000, p. 64).

Ora, se a lógica do lucro, presente no ambiente produtivo de trabalho, também se insere no ambiente do lazer, é de se esperar que a própria indústria produtiva encontre meios de estar presente no tempo de lazer.

Na realidade, o consumo de bens culturais e de entretenimento (ou produtos da indústria cultural) representa uma importante parcela do lazer dos indivíduos, conforme salienta Forjaz (1988). Em sua análise dos hábitos de lazer da elite paulistana da década de 80, a autora percebe que “[...] o lazer dessas famílias das classes dominantes está estreitamente associado ao consumo cultural. A leitura, o cinema, a televisão e o rádio são as formas predominantes de divertimento ou de ocupação do tempo livre” (FORJAZ, 1988, p. 103).

9 ALBANO, M. C.; LEMOS, C. B. Reflexões sobre o consumo como forma de sociabilidade e lazer nos

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O quadro 03 mostra a freqüência das principais atividades de lazer da elite paulistana da década de 80, evidenciando a presença intensa do consumo de bens culturais e de entretenimento no rol de práticas de lazer (as atividades destacadas em negrito representam aquelas que, normalmente, envolvem o consumo mercantil, entendido como a troca de um valor financeiro por um produto ou serviço).

Atividades

1º. Leitura

2º. Cinema

3º. Televisão e rádio

4º. Comer, beber e dançar (restaurantes, bares, boates, etc.) 5º. Esporte, ginástica, dança e outros exercícios físicos

6º. Viagens

7º. Teatro

8º. Convivência social e afetiva com amigos e colegas

9º. Ouvir, tocar ou estudar música (shows, concertos, rádio, etc.) 10º. Visitas (fazer ou receber)

Quadro 03 – Principais atividades de lazer da elite paulistana da década de 80. Fonte: adaptado de Forjaz (2000, p. 103).

Além do consumo de bens culturais e de entretenimento, também é presente o consumo de produtos ou serviços relacionados à estética ou ao culto ao corpo e à beleza.

A preocupação com a própria aparência, a “elaboração do visual” é outra dimensão importante da cultura somática das elites entrevistadas. Há uma enorme diversidade de práticas efetuadas com a intenção de atingir a beleza, independentemente das intenções estéticas que também estão incluídas nas práticas esportivas. Saunas, duchas, massagens, cabeleireiros, etc. constituem um arsenal de técnicas a que as elites recorrem para produzir a própria imagem (FORJAZ, 2000, p. 111).

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O consumo cultural e de entretenimento, como forma de lazer, não se restringe à elite, mas também está presente, de modo menos diversificado, na classe operária paulistana da década de 80, conforme estudo de Taschner (1991). As principais formas de consumo cultural eram assistir TV, ouvir rádio, discos e fitas. Entretanto, ao contrário da elite, a classe operária não tinha, na década de 80, um consumo expressivo de bens e serviços de cunho estético.

O trabalho de Magnani (1998) também reforça a presença do consumo de bens culturais ou de entretenimento nas classes sociais mais populares, em especial entre os jovens, conforme mostra o quadro 04. As atividades destacadas em negrito representam aquelas que envolvem o consumo (desembolso financeiro) de algum produto ou serviço cultural ou de entretenimento.

Atividade Cinema

Futebol Passeio

Bailes

Parque Assistir à TV

Circo

Ouvir discos Excursão

Festas (aniversário, casamento, batizado)

Quadro 04 – As 10 formas de diversão preferidas – jovens de periferia

Fonte: adaptado de Magnani (1998, p. 109)

O trabalho de Botelho e Fiore (2005) também indica o consumo cultural como forma de lazer, o que fortalece a idéia da presença do aspecto do consumo nas práticas de lazer. Os elementos que apresentaram maior consumo foram TV, rádio, DVD/VHS, jornais, revistas, livros e cinema.

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despesas com Viagens, Recreação e Cultura, Serviços Pessoais (que englobam, entre outros, cabeleireiro, manicure, bricolage, etc.), e Cerimônias e Festas, de famílias com renda familiar mensal acima de R$ 3.000,00, moradoras da área urbana da região Sudeste, perceberemos que o consumo de lazer, a partir dessas categorias, chegou a 5,43% do total de despesas mensais. Um outro dado interessante refere-se aos gastos com alimentação fora do domicílio: esta categoria representa cerca de 33,95% das despesas com alimentação de famílias com rendimento familiar mensal acima de R$ 3.000,00, moradoras da região Sudeste. Obviamente essa categoria não designa apenas o consumo de alimentos e bebidas realizado no tempo de lazer (ou como atividade de lazer) apenas, mas apresenta o grande potencial dessa indústria, que muitas vezes atrai os indivíduos também no seu tempo de lazer (fonte: adaptado a partir do documento eletrônico Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003: primeiros resultados – IBGE – acessado em 27/04/2005).

Assim, é fácil perceber a relação que o lazer tem com o consumo, em especial com a indústria cultural e do entretenimento. Nesse sentido, o presente trabalho pode proporcionar a entidades públicas e privadas uma mostra dos possíveis padrões de consumo dos indivíduos, possibilitando o desenvolvimento de estratégias de desenvolvimento para o setor na cidade de São Paulo.

1.4 Família, Ciclo de Vida e Consumo de Lazer

Além de entender o conceito de lazer e sua relação com o trabalho e com o consumo, é importante, para a presente pesquisa, discutirmos o papel da família no que se refere ao consumo de lazer. Daremos especial atenção ao chamado Ciclo de Vida Familiar, por ser uma ferramenta importante na análise de comportamento de consumo, como se verá a seguir.

Referências

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