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Trabalho e saúde na sociedade capitalista: uma relação inversamente proporciona

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS CCSA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL - PPGSS/UFRN

VIVIANE ALLINE GREGORIO AZEVEDO

TRABALHO E SAÚDE NA SOCIEDADE CAPITALISTA: UMA

RELAÇÃO INVERSAMENTE PROPORCIONAL

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VIVIANE ALLINE GREGORIO AZEVEDO

TRABALHO E SAÚDE NA SOCIEDADE CAPITALISTA: UMA RELAÇÃO

INVERSAMENTE PROPORCIONAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Serviço Social. Área de Concentração: Serviço Social, Formação Profissional, Trabalho e Proteção Social. Linha de Pesquisa: Serviço Social, Trabalho, Proteção Social e Cidadania.

Orientadora: Dra. Denise Câmara de Carvalho

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A994t AZEVEDO, Viviane Alline Gregorio

Trabalho e saúde na sociedade capitalista: uma relação inversamente proporcional/Viviane Alline Gregorio. – Natal, 2011.

143 p.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2011.

Orientador: Dra. Denise Câmara de Carvalho.

1. Saúde do trabalhador. 2. Serviço Social. 3. Processo de

Trabalho. I. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. II.

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AGRADECIMENTOS

Existem pessoas em nossas vidas que nos deixam felizes pelo simples fato de terem cruzado o nosso caminho. Algumas percorrem ao nosso lado, vendo muitas luas passarem, mas outras apenas vemos entre um passo e outro. A todas elas chamamos de amigo. Há muitos tipos de amigos. Talvez cada folha de uma árvore caracterize um deles. Os primeiros que nascem do broto são o amigo pai e a amiga mãe, aos meus Mércia e Ivanildo e respectivos cônjuges (Jonas e Rosineide), meus irmãos, minha eterna gratidão por me fazerem tão feliz e orgulhosa, pelo amor e por me mostrarem o que é ter vida.

Depois vem o amigo irmão, com quem dividimos o nosso espaço para que ele floresça como nós, por isso agradeço aos amigos especiais, pois tê-los sempre ao meu lado foi um grande presente. O destino ainda nos apresenta outros amigos, os quais não sabiam que iam cruzar o nosso caminho. Muitos desses são designados amigos do peito, do coração. São verdadeiros e sabem quando não estamos bem, sabem o que nos faz feliz..., aos colegas de escola, de graduação, de mestrado, e de trabalho, a estes meu muito obrigada.

Mas também há aqueles amigos por um tempo, talvez umas férias ou mesmo um dia ou uma hora. Esses costumam colocar muitos sorrisos na face, durante o tempo que estamos por perto, a todos aqueles, folhas de outono, que cruzaram meu caminho, meu obrigado por me fazerem entender o valor da vida.

Falando em perto, não posso me esquecer dos amigos distantes, que ficam nas pontas dos galhos, mas que quando o vento sopra, aparecem novamente entre uma folha e outra, mesmo quando caídas – mais distantes – continuam alimentando nossas raízes com alegria, a esses meus agradecimentos pela eterna disposição de me acolherem com amor e carinho.

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Aos mestres, que oportunizaram sonhos e semearam o solo para grandes realizações, meu muito obrigada, e eterno carinho e afeição para a amiga e professora Denise.

Meu eterno obrigada à Deus, por sua presença grandiosa e constante na minha vida, pela guia nas minhas escolhas e pelo conforto nas horas difíceis.

Todas as bênçãos àqueles que sempre deixaram um pouco de si e levam um pouco de mim durante esse caminho. Um muito obrigada a todas as folhas de minha árvore... Hoje e sempre!

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Daquilo que eu sei Nem tudo me deu clareza Nem tudo foi permitido Nem tudo me deu certeza Daquilo que eu sei Nem tudo foi proibido Nem tudo me foi possível Nem tudo foi concebido Não fechei os olhos Não tapei os ouvidos Cheirei, toquei, provei Ah eu! Usei todos os sentidos Só não lavei as mãos E é por isso que eu me sinto Cada vez mais limpo!

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RESUMO

Trata-se de uma dissertação de mestrado que tem como Área de Concentração: Serviço Social, Formação Profissional, Trabalho e Proteção Social. Linha de Pesquisa: Serviço Social, Trabalho, Proteção Social e Cidadania. Traz uma abordagem da saúde e a segurança do trabalhador, enfocadas a partir da organização do trabalho em seus processos de exploração do trabalhador, analisadas a partir da perspectiva crítica e de totalidade. Tem como objetivo central desvelar de que modo a organização do trabalho repercute na saúde de seus trabalhadores, considerando o processo de trabalho, no modo de produção capitalista, na relação saúde-doença. Apresenta a saúde do trabalhador como determinada pelo processo de trabalho, enfatizando, nos moldes do capitalismo, as suas consequências para o bem-estar físico,mental e social dos trabalhadores. Para tanto, realiza-se uma pesquisa documental e bibliográfica, cujo eixo de análise se fundamenta na perspectiva da centralidade do trabalho, recuperando o seu sentido ontológico em Marx, através do qual se discutem as metamorfoses no mundo do trabalho, elencadas com base no contexto da reestruturação produtiva do capital, que se verifica ao longo do estágio imperialista do modo de produção capitalista. Problematiza-se, ainda, a saúde do trabalhador, analisada a partir do conceito ampliado de saúde, como campo da saúde pública, considerando o processo de trabalho na relação saúde-doença. Por fim, são levantadas pesquisas desenvolvidas, entre 2006 e 2010, pelos Programas de Pós-Graduação da UFRN, que tratam do elenco de questões estudadas nesta dissertação. As produções científicas são problematizadas como forma de revelar as tendências teóricas (críticas ou conservadoras) que ensejam a área temática.

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ABSTRACT

It is a dissertation which has the Area of Concentration: Social Services, Vocational Training, Labour and Social Protection. Research Line: Social Services, Labor, Social Protection and Citizenship. Brings an approach to health and worker safety, approached on the organization of work in their processes of worker exploitation, analyzed from the critical perspective and all. Its central objective of uncovering how the organization of work affects the health of their workers, considering the working process in the capitalist mode of production, the health-disease relationship. Displays the worker, as determined by the work process, emphasizing, along the lines of capitalism, the consequences for the physical well-being, mental and social workers. To this end, we make a documentary and bibliographic research, whose point of analysis is based on the perspective of the centrality of work, recovering their sense of ontological Marx, through which the transformations are discussed in the working world, listed based on context productive restructuring of capital, which occurs along the imperialist stage of capitalist mode of production. It is problematized, though, worker health, analyzed from the wider definition of health as a field of public health, considering the work process in health-disease relationship. Finally, the research developed raised between 2006 and 2010, the Graduate Programs UFRN that address the range of issues studied in this dissertation. The scientific outputs are problematized as a way to reveal the theoretical trends (critical or conservative) which facilitate the thematic area.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 - Acidentes e Doenças do Trabalho em 2006 ... ...85

Gráfico 02 – Total de Teses/Dissertações Consultadas (2006-2010)...105

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 – Óbitos por Acidente do Trabalho ... ...88

Quadro 02 – Número de Acidentes e Doenças do Trabalho no Brasil: Média por Décadas, de 1970 a 2008...88

Quadro 03 - Demonstrativo resumido das estatísticas acidentárias do ano de 2009...90

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

C.A - Certificação de Aprovação

CAT – Comunicação de Acidente de Trabalho

CEREST – Centro de Referência em Saúde do Trabalhador CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

CF - Constituição Federal

CLT - Consolidação das Leis Trabalhistas

CNAE - Classificação Nacional de Atividades Econômicas DRT - Delegacia Regional do Trabalho

D.U.O – Diário Oficial da União

EPI – Equipamento de Proteção Individual ETE – Estação de Tratamento de Efluentes FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

FUNDACENTRO - Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho

GM - Grupo Ministerial

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBUTG - Índice de Bulbo Úmido Termômetro de Globo INSS - Instituto Nacional do Seguro Social

INPS - Instituto Nacional de Previdência Social

LER/DORT-Lesão por Esforço Repetitivo/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho

LOS - Lei Orgânica da Saúde

LTCAT - Laudo Técnico de Condições do Ambiente de Trabalho MS - Ministério da Saúde

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego NR – Norma Regulamentadora

OIT – Organização Internacional do Trabalho OMS - Organização Mundial de Saúde

PAIR - Perda Auditiva Induzida por Ruído PIB – Produto Interno Bruto

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PNST - Política Nacional de Saúde do Trabalhador PPRA - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais PQT – Programa de Qualidade Total

RENAST - Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador RN – Rio Grande do Norte

S/A - Sociedade Anônima

SEESMT - Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho

SESMT - Serviços Especializados de Segurança e Medicina do Trabalho SGQ – Sistema de Gestão de Qualidade

SGSST - Sistema de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação SST - Segurança e Saúde no Trabalho

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...14

2 TRABALHO E SUAS FORMAS CONCRETAS NO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA...22

2.1 TRABALHO E SER SOCIAL...23

2.2 O TRABALHO E O TRABALHADOR NO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA...29

2.2.1 O trabalho assalariado: forma particular da exploração do trabalho no capitalismo...31

2.2.2 A Grande Indústria capitalista: a combinação do taylorismo com o fordismo...35

2.2.3 O trabalho “flexível” no toyotismo...43

3 O TRABALHADOR ENTRE A SAÚDE E A (IN)SEGURANÇA DO TRABALHO...52

3.1 A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO CAPITALISTA E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A ÁREA DA SAÚDE DO TRABALHADOR...56

3.1.1 Taylorismo e a saúde do trabalhador...57

3.1.2 Fordismo e a saúde do trabalhador...59

3.1.3 Toyotismo e a saúde do trabalhador...62

3.2 AS MUDANÇAS TEÓRICO-CONCEITUAIS NO CAMPO DA SAÚDE DO TRABALHADOR...67

3.3 A (IN) SEGURANÇA DO TRABALHO...75

3.4. UMA JORNADA DE ACIDENTES...84

4 O DEBATE ACERCA DA SAÚDE DO TRABALHADOR: TENDÊNCIAS TEÓRICAS DO CAMPO TEMÁTICO...93

4.1 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO CAMPO DA SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO...96

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4.1.2 Programa de Pós-Graduação em Enfermagem...100

4.1.3 Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção...101

4.1.4 Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais...102

4.1.5 Programa de Pós-Graduação em Psicologia / Psicologia Social...102

4.1.6 Programa de Pós-Graduação em Serviço Social...102

4.2 ANÁLISES DOS DADOS: ONDE ESTÁ A “CRÍTICA” DO DEBATE? ...103

4.2.1 Área Biomédica...106

4.2.2 Área das Ciências Exatas...111

4.2.3 Área das Ciências Humanas e Sociais...114

4.3 O DEBATE ACERCA DA SAÚDE DO TRABALHADOR: TENDÊNCIAS TEÓRICAS NO CAMPO TEMÁTICO...118

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...123

REFERÊNCIAS...128

APÊNDICE...133

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1.

INTRODUÇÃO

Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos. (Eduardo Galeano)

Um dos aspectos característicos da sociedade contemporânea, que vem sendo expresso a partir da década de 1970, é o processo de reestruturação produtiva do capital1 que possibilitou uma redefinição dos processos de produção e das relações de trabalho, bem como das formas de inserção dos indivíduos no mercado ocupacional, resultante das mudanças estruturais em andamento na economia mundial.

Essas mutações ocorridas no mundo do trabalho nas últimas quatro décadas trouxeram consigo o aprofundamento da exploração do trabalhador através dos processos de flexibilização e terceirização, dentre outras formas de precarização da força de trabalho. Junto a isso, agrava-se a precariedade das condições de saúde e segurança nos ambientes de trabalho e o consequente comprometimento na qualidade da vida dos sujeitos trabalhadores.

As informações divulgadas sobre a realidade acidentária refletem a seriedade e complexidade da temática. Mesmo assim, os dados expostos refletem em grande parte a simplória exposição de causas imediatas de referência técnico-biológica, como uma relação de causa-efeito incipiente e linear, sem considerar as contradições presentes no mundo do trabalho. Desse modo, não são especificados o conjunto das expressões que desvelam as contradições da sociedade de classes, deixando de destacar os agravos à saúde e integridade física e mental dos trabalhadores enquanto sequelas mais visíveis da relação capital-trabalho.

No contexto da sociedade capitalista, os processos de trabalho mantêm estreita relação com as formas de adoecimento da classe trabalhadora. Tais formas de adoecer devem ser analisadas a partir da relação saúde/doença na totalidade do ser social, o que nos permite tratar a questão como uma “arma silenciosa” de morte

em massa, vitimando, segundo a Organização Internacional do Trabalho - OIT,

1

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cerca de 2 milhões de trabalhadores a cada ano, devido a acidentes e doenças associados ao trabalho, dos quais 6.000 são vítimas fatais2.

No Brasil, segundo dados do Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho publicado em janeiro de 2008, estima-se que foram registrados em 2007, 503.890 acidentes de trabalho3, podendo esse número ser triplicado em razão das subnotificações – situação em que os dados referentes às características do acidente e da vítima não são repassados às entidades responsáveis – já que os números registrados pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS dizem respeito apenas aos trabalhadores regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. Assim não contabilizados segmentos importantes do mercado de trabalho, como os servidores públicos e o setor informal4, onde a maior parte dos acidentes e doenças não é registrada, o que compromete a qualidade das ações prestadas, uma vez que estas informações constituem base indispensável para a indicação, aplicação e controle de medidas prevencionistas no âmbito das políticas públicas e das ações do setor privado. Dessa forma, identifica-se que a realidade é ainda mais grave, graças à escassez e à inconsistência dos dados já contabilizados pelos órgãos responsáveis. Essa situação, apesar de dramática, ainda não contabiliza o custo humano da perda ou da desestruturação dos laços sociais e familiares construídos a partir do trabalho, cujas repercussões são negativas sobre a identidade, a auto-estima, a dor e o sofrimento, já que esses valores são incalculáveis (BARRETO, 2003).

Conforme dados ministeriais, divulgados recentemente5 (2007), o país gasta por ano R$ 88 bilhões com acidentes, doenças e mortes oriundas do trabalho. Esse montante de recursos, que inclui o gasto no tratamento dos acidentados nos hospitais, equivale a 4% do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas no país. As estatísticas mostram que ocorre praticamente um acidente de trabalho por minuto. A cada hora, uma pessoa fica permanentemente incapacitada e a cada três horas e 15 minutos um brasileiro morre enquanto trabalha. Mas a situação certamente é pior, pois os números oficiais não retratam plenamente o que acontece em razão das subnotificações.

2 Disponível em http://www.fundacentro.gov.br/, acesso em 06 de nov de 2008. 3 Idem

.

4Para esse grupo, assim como as demais atividades de trabalho que não são regidas pela CLT, têm seus registros através dos Sistemas de Notificação no âmbito da política de saúde, que seguem as mesmas prerrogativas de subnotificações.

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Na ótica capitalista, o investimento na saúde e segurança de seus

“colaboradores” contribuiria diretamente para o aumento da produtividade, pois as

ações de segurança e saúde dos trabalhadores são imprescindíveis, também, para a

criação de um “clima organizacional” nos moldes da racionalidade capitalista. Do

contrário, o descaso com a prevenção pode significar desmotivação dos trabalhadores, custos diretos e indiretos com os acidentes e doenças do trabalho, multas e processos trabalhistas, além de elevação do absenteísmo e consequente queda de produtividade. Fatores estes que, de acordo com a lógica perversa do capital, comprometeriam a formação de um comportamento produtivo compatível com as atuais exigências produtivas.

Diante disso e por reconhecer o ambiente de trabalho capitalista enquanto um espaço de exploração e alienação da classe trabalhadora constata-se que a relação capital-trabalho assentada na extração de mais-valia, apresenta-se como

uma “máquina” destruidora da saúde e, portanto, dilaceradora da sociabilidade

humana.

Do mesmo modo, esse trabalho, intitulado “Trabalho e Saúde na sociedade capitalista: uma relação inversamente proporcional”, propõe-se a pensar as formas que predominam no estudo da saúde do trabalhador, buscando identificá-las nas produções científicas voltados à temática. Para isso, parte da apreensão da categoria trabalho em sua concepção ontológica e seu desvelamento sob o modo de produção capitalista, desenvolvendo as formas históricas de organização do trabalho mais especificamente em seu estágio de acumulação imperialista. Para tanto, analisaremos, ainda, a evolução conceitual e histórica da concepção de saúde do trabalhador, pensando o bem-estar social dos homens como estreitamente relacionado a outras esferas da vida em sociedade, como educação, moradia, lazer, alimentação e, principalmente, o trabalho, por meio de um conceito ampliado de saúde.

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Concomitantemente, afirmar que o trabalho está na base da história é afirmar que este é historicamente determinado, tendo, então, uma dimensão ontológica, ou seja, ele está enraizado na existência dos homens, de tal maneira que sem ele, nem os homens nem a história existiriam. Ele é determinante das variadas formas dos homens existirem e se organizarem socialmente. Por isso, o trabalho ocupa centralidade na história dos homens, determinando a vida e a organização humana.

Desse modo, três aspectos centrais orientarão a análise do objeto da pesquisa: a centralidade do trabalho, recuperando o seu sentido ontológico de trabalho em Marx, através da qual serão discutidas as metamorfoses no mundo do trabalho, engendradas no contexto da reestruturação produtiva do capital; a saúde do trabalhador, abordada através do conceito ampliado de saúde, considerando o processo de trabalho na relação saúde-doença; e ainda, a apreensão das formas de pensamento que concorrem para conservar a ordem estabelecida, bem como aquelas que se voltam contra a hegemonia do capital, a fim de desvelar as implicações e contradições da relação trabalho-saúde na vida da classe trabalhadora.

Será particularmente focalizada a produção científica do conhecimento, como expressão das formas de pensamento hegemônicas, apreendidas das concepções teóricas existentes nas produções de mestrado e doutorado desenvolvidas nos programas selecionados para a análise: Programas de Pós-Graduação stricto sensu da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, defendidos entre 2006 e 2010.

A pesquisa propôs-se a pensar as formas que predominam no estudo da saúde do trabalhador, buscando identificá-las nas produções científicas voltadas à temática. Para isso, partiu da apreensão da categoria trabalho em sua concepção ontológica e seu desvelamento sob o modo de produção capitalista, desenvolvendo as formas históricas de organização do trabalho mais especificamente em seu estágio de acumulação imperialista, analisando, ainda, a evolução conceitual e

histórica da concepção de “saúde do trabalhador”.

A escolha do universo pesquisado, que se situa no campo das produções

científicas que envolvem a “saúde do trabalhador” procura situar, também, o papel

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política, uma vez que os pesquisadores criam soluções/respostas gerais para os problemas da humanidade.

Este panorama de conhecimento procurará, ainda, analisar as apreensões conservadoras e superficiais da realidade de fatalidade dos acidentes e incidentes do trabalho, entendida comumente pelo conceito prevencionista, a partir da existência de causas básicas que possibilitam a ocorrência de acontecimentos imediatos, classificadas como práticas e condições sub-padronizadas. As causas imediatas frequentemente são denominadas como atos e condições inseguras. O que nos leva a refletir que a produção do conhecimento, assim como o conjunto da produção humana, alcança elevados níveis de aprimoramento e tecnologias, que não superam a convivência com as formas mais degradantes de trabalho humano.

Desse modo, é nossa intenção nesse estudo apreender a maneira como o trabalho está organizado e de que forma o seu dimensionamento poderá acarretar agravos à saúde dos trabalhadores, considerando as características dos diferentes estágios do capitalismo, as estruturas da organização do trabalho, e ainda, os danos à integridade física e psicológica dos trabalhadores.

Assim, analisar esta realidade torna-se relevante para contribuir efetivamente para estruturar as transformações necessárias na sociedade tarefa histórica da classe trabalhadora, a partir de uma nova visão de mundo, de novas formas sociais, econômicas e organizacionais de mobilização, a fim de superar o paradigma mecanicista, biologizante e as práticas conservadoras.

Não será aceita como fundamentação teórica para esse estudo, qualquer concepção que apresente os trabalhadores tratados como simples peças de uma grande engrenagem, a máquina que move o capital, que substitui o homem tão

facilmente como as outras peças, entendidos como seus “recursos humanos”, ou ainda “capital humano”, na expressão mais mercantilizada da força de trabalho.

A pesquisa apresenta importância acadêmica no que diz respeito à área de saúde do trabalhador, tendo em vista contribuir para a produção científica que destaque os aspectos sociais da temática trabalhada. No entanto, pretende-se que o produto final resultante deste trabalho ultrapasse a esfera acadêmica e contribua, também, para a reavaliação das atuais práticas organizacionais desenvolvidas no

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Vale ressaltar que, com este trabalho, não há a pretensão de esgotar todas as determinações e aspectos que envolvem o tema aqui discutido, tendo em vista a riqueza e complexidade da realidade social, mas potencializamos a viabilidade da pesquisa, que se aplicará no espaço acadêmico da UFRN. Do mesmo modo, não se coloca com a pretensão de deflagrar os estudos e pesquisas analisadas pelo endurecimento da crítica, mas sim enriquecer o campo das discussões teóricas sobre a saúde do trabalhador, apreciando como vem sendo discutida esta temática, a partir das categorias de análise elencadas nesse trabalho.

Além disso, destacam-se inquietações sobre a temática aqui sugerida, construídas e subjugadas desde o processo formativo do curso de graduação e que geram aqui a expectativa de serem maturadas. Não há uma separação, ou um corte entre o pesquisador e seu objeto, esta necessária tomada de posição significa afirmar que essa análise, em sintonia com o referencial teórico assumido, possa levar ao desvelamento do objeto de estudo, suas determinações e contradições.

Assim, esta pesquisa assume a perspectiva teórico-metodológica crítica, com a intenção de dar direção à investigação no processo de apreensão do objeto estudado. Em se tratando da temática da saúde do trabalhador, muitas são as interpretações reducionistas, mecanicistas e biologizantes, portanto, não dialéticas, sobre o trabalho e a saúde, que resultaram em sérios equívocos teóricos e políticos. Desse modo, buscamos, com base no método marxiano de aproximações sucessivas, analisar a organização do trabalho e a saúde dos trabalhadores, a fim de desvelar as contradições presentes no mundo do trabalho com a intenção de melhor apreender a dinâmica do objeto pesquisado.

A pesquisa aqui empreendida, como já mencionamos neste trabalho, tem contemplado em seu objeto de estudo a produção cientifica no âmbito dos Programas de Pós-Graduação da UFRN, tendo como foco de análise as abordagens dadas à saúde e segurança dos trabalhadores. Esse traço empírico da realidade concreta nos dá a imediaticidade que na perspectiva do método em Marx, é em si a aparência como ponto de partida para o conhecimento da essência. O concreto é tanto o ponto de partida quanto o ponto de chegada e vai aparecer como síntese intelectual da análise, como síntese do processo de enriquecimento das determinações do objeto.

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selecionadas; leitura e discussão de textos centrais à questão e legislações pertinentes, e a revisão crítica de outros documentos e publicações da área, a fim de fundamentar o tom do debate e as questões levantadas.

A pesquisa bibliográfica continuada tem a finalidade de possibilitar uma maior aproximação com a temática, aprofundando as categorias centrais em questão: trabalho, saúde do trabalhador, reestruturação produtiva, definindo os objetivos do trabalho e as particularidades que caracterizam o objeto da pesquisa. Assim, fundamentaremos nosso estudo, principalmente, nos aportes teóricos de Marx (2006), Meszáros (2007), Harvey (2007), Netto e Braz (2010), Lessa (2007), Antunes (2006, 2007), Mota (1998, 2008), na discussão sobre a categoria trabalho e o modo de produção capitalista; e em autores como Minayo-Gomes (1997), Oliveira e Vasconcelos (1992) Domingos e Pianta (2007), que trazem uma abordagem sobre a saúde do trabalhador, além de outras referências, documentos técnicos e legislação referente.

A aproximação com o objeto exige conjugar pesquisa documental, histórica e analítica, voltada para apreender a dinâmica e complexidade do fenômeno aqui trabalhado, considerando os possíveis limites da pesquisa. Desse modo, a escolha desse objeto partiu, também, dos limites impostos, uma vez que sua proposta originária era desenvolver uma pesquisa de campo junto ao segmento da Indústria Têxtil de Natal/RN, mas esta realidade se apresentou inviável, em virtude das limitações de tempo e condições objetivas da pesquisadora para uma dedicação exclusiva às atividades do mestrado, que precisavam acontecer em simultaneidade com as atividades profissionais, realizadas na mesma instituição, mas na área da assistência estudantil. Esses fatos não impossibilitariam a realização da idéia inicial, mas limitaria muito o alcance dos resultados da pesquisa, com uma proposta aquém do tempo do mestrado e dos recursos disponíveis.

Além dessas limitações, considere-se o difícil acesso às informações no interior das empresas, o que levou a exigir outras estratégias e técnicas de pesquisa, que se revelaram à medida que o estudo caminhou. Mesmo assim, dada a inviabilidade para realização das ações, pensamos ser mais prudente, e não menos prazeroso e relevante, redirecionar a pesquisa, que se manteve no mesmo campo de estudo.

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centralidade do trabalho, trazendo uma pequena incursão no mundo do trabalho a partir de sua dimensão ontológica, com o objetivo de discutir a relação capital-trabalho.

A segunda seção do estudo procura analisar as mudanças na organização, no processo, nas relações de trabalho e no interior da classe trabalhadora e suas repercussões nas condições sociais de vida, especialmente, os aspectos relacionados saúde, tendo como referência o processo de desenvolvimento capitalista e o percurso teórico da conceituação de saúde do trabalhador.

A terceira seção apresenta o levantamento dos trabalhos científicos na UFRN (2006-2010), em programas de pós-graduação específicos, com o objetivo de identificar as abordagens relacionadas à temática da saúde do trabalhador e analisar os dados em sua totalidade, “colocando em xeque” nos trabalhos estudados –

enquanto representantes de áreas amplas do conhecimento – como se expressam

as categorias “trabalho” e “saúde do trabalhador”, a fim de desvelar os principais referenciais teóricos adotados e a articulação dessas produções científicas com as categorias de análise elencadas nesse estudo.

Com essa pesquisa, pretendemos contribuir com a teoria para o desvelamento da realidade, com o intuito de trazer à tona as contradições e lutas

que se fazem presentes no silêncio ruidoso do “chão-de-fábrica”.

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Um homem se humilha Se castram seu sonho Seu sonho é sua vida E vida é trabalho... E sem o seu trabalho O homem não tem honra E sem a sua honra Se morre, se mata... (Gonzaguinha)

Qualquer estudo que pretenda analisar as formas mais aviltantes de degradação do gênero humano e suas mais diversas expressões no modo de produção capitalista, não pode deixar de considerar os elementos que lhe são fundantes. Assim, para este trabalho, que anseia desvelar as formas de adoecimento da classe trabalhadora, destacando a centralidade da categoria trabalho na relação saúde-doença, iniciamos com uma aproximação à discussão sobre o trabalho e suas formas concretas no modo de produção capitalista.

Para que se supere qualquer forma de empirismo, como nos reportamos na Introdução, o texto está baseado em grandes estudiosos, que trazem na perspectiva marxista – incluindo aqui o próprio Marx (2008) – os elementos necessários para uma análise da categoria trabalho, com destaque para Gramsci (2008), Harvey (2007), para a apreensão do trabalho e do ser social; além das ricas contribuições de Mota (1998, 2008), Netto e Braz (2010), Lessa (2002), Antunes (2007; 2007), dentre outros, que contribuem para o debate do trabalho sob a sociabilidade capitalista e as marcantes transformações no mundo do trabalho.

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fenômeno que existe de fato na sua concretude. Como são ontológicas, são também dialéticas uma vez que a realidade é dialética. Neste sentido, não se pode compreendê-las com base em pensamentos dicotômicos, precisamos visualizá-los como unidades de contrários, que se transmutam dependendo das relações sociais que lhe dão concretude.

2.1 TRABALHO E SER SOCIAL

Pensar o trabalho hoje não pode estar destoante de suas formas originárias, de seu entendimento na base das relações sociais de produção e de distribuição dos bens que satisfazem as necessidades do homem. Essa satisfação das necessidades se obtém da transformação dos meios naturais em produtos, numa interação metabólica homem-natureza realizada pelo trabalho, o que explica a própria categoria trabalho. Assim temos o trabalho como a ação humana que torna possível a criação de bens e dá valor a esses, categoria central e indispensável para a compreensão do modo de ser dos homens e da sociedade. O trabalho é, antes de

tudo, “um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio

material com a natureza” (MARX, 2008, p. 211).

Desse modo, o trabalho se especifica pela relação sujeito-objeto, mediada pelos meios de trabalho, que são os instrumentos necessários para proporcionar ao homem a melhor apropriação da natureza – em suas mais variadas formas – para a satisfação dos homens em suas necessidades individuais e coletivas. O que nos leva a aludir que o ponto de diferenciação da relação homem-natureza é assinalado pelo trabalho e desenvolve-se e reconfigura-se no curso da história.

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as condições materiais necessárias para se realizar os processos de trabalho. Neste sentido, objetos e meios de trabalho formam os meios de produção.

Ainda segundo Marx (2008):

O que distingui as diferentes épocas econômicas não é o que se faz, mas como, com que meios de trabalho se faz. Os meios de trabalho servem para medir o desenvolvimento da força humana de trabalho e, além disso, indicam as condições sociais em que se realiza o trabalho (MARX, 2008, p. 214).

Esses instrumentos são também produtos do sujeito que trabalha, resultado da objetivação do trabalho, são criados ao mesmo tempo em que criam e dão forma a novos produtos, novos instrumentos, novas possibilidades. O conhecimento parte da necessidade concreta, imediata e constante; da ação repetitiva de suprir àquela necessidade específica; é o saber fazer, que gera conhecimentos, amplia possibilidades de ação do homem e desenvolvendo novas necessidades, o que torna o trabalho exclusivo ao homem. No fim desse processo tem-se como produto algo que já havia sido idealmente projetado na imaginação do trabalhador, dessa forma, o sujeito que trabalha não apenas transforma o objeto do trabalho, mas também reproduz na sua consciência o próprio projeto do trabalho, planejando-o.

Assim, o trabalho só se realiza quando a ação idealizada, construída no campo das ideias, se objetiva. Momento em que o homem, sujeito da ação, transforma a matéria natural, modificando a natureza à medida que também se modifica, implicando em alterações na sociedade, em seus sujeitos e na sua organização. Põe os sujeitos a avaliarem as condições dadas e fazerem escolhas entre as alternativas concretas, o que coloca para esses a necessidade de conhecer as propriedades da natureza e reconhecer as condições objetivas em que atuará. A prévia ideação que realiza o trabalhador é sempre uma resposta a uma dada realidade que surge em uma situação determinada pela história humana, que também se constrói diferencialmente ao surgimento de cada nova necessidade da humanidade.

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ser social. Isso exige a coletivização dos saberes, que se realiza através da comunicação, do uso da linguagem como mecanismo para realização de suas atividades sociais, emergindo aí o ser social. Desse modo, conforme Netto e Braz (2010), é através do trabalho que a humanidade se constitui como tal, pois são colocados aos sujeitos, a partir das suas experiências vivenciadas pelo trabalho, possibilidades reais de generalização e universalização dos saberes que detêm. Isso propicia a constituição de um tipo de linguagem articulada, forma através da qual o sujeito expressa sua representação de mundo e condição para a comunicação e aprendizado.

Nunca será demais repetir que o chamado fenômeno humano é produto de um processo histórico de larguíssimo curso e que a visibilidade do ser social, como inteiramente diverso do ser natural, é relativamente recente; cumpre mesmo afirmar que tal visibilidade só se tornou possível há pouco mais de dois séculos e meio, quando o modo de produção capitalista se consolidou como dominante no Ocidente e operou a constituição do mercado mundial, que permitiu o contato entre praticamente todos os grupos humanos (NETTO; BRAZ, 2008, p.42, grifos dos autores).

Podemos assim eludir que, enquanto elemento fundante do ser social, ou seja, da humanidade, o trabalho é ontologicamente determinante para a transformação substantiva da espécie humana – enquanto salto qualitativo dos processos evolutivos na natureza – em um novo tipo de ser, inédito e mais complexo que os outros já existentes na natureza, agora um ser social. A partir do trabalho uma espécie natural, o homem, foi transformada em algo diferente da natureza e mediante o trabalho os homens produziram-se a si mesmos, como resultado de sua própria ação, produziram a própria humanidade, construíram a história (NETTO; BRAZ, 2010).

Ainda segundo esses autores, é importante destacar que a satisfação das necessidades não é uma prerrogativa exclusiva do gênero humano, pois é condição de sobrevivência dos seres vivos, da natureza orgânica. No entanto, o trabalho rompe com esse padrão de determinação natural, distinguindo-se da natureza. Isso porque não se opera de forma imediata, mas exige instrumentos, habilidades e conhecimentos, historicamente construídos e desenvolvidos.

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ele está enraizado na existência dos homens, de tal maneira que sem ele nem homens nem história existiriam. Ele é determinante das variadas formas dos homens existirem e se organizarem socialmente. Por isso, o trabalho ocupa centralidade na história dos homens, determinando a vida e a organização humana. Considerado como pressuposto da existência do gênero humano, podemos, ainda, definir o trabalho como o meio pelo qual os homens satisfazem suas necessidades materiais e também espaço no qual, na condição de sujeitos, se relacionam entre si e onde são produzidas e reproduzidas as relações sociais. Nesse sentido, é a partir do trabalho que os indivíduos se realizam enquanto seres sociais, passando a se relacionar com os outros indivíduos num processo de sociabilidade e construção das relações sociais.

O processo de trabalho – o próprio ato de trabalhar – caracteriza qualquer estrutura social determinada, pois sua característica primária é a produção de valores de uso que satisfaçam as mais diversas necessidades dos homens. Mesmo assim, em determinados momentos históricos o trabalho passa a ser usado e controlado em benefício de um determinado sistema de economia-social, como é o caso do modo de produção capitalista (MARX, 2008).

Ainda assim, não podemos esquecer que toda sociedade tem sua existência atrelada à natureza, numa dialética de transformação que é historicamente determinante, alterando ao longo do desenvolvimento das sociedades, as formas de interação homem-natureza, bem como os meios empregados na transformação das matérias naturais pelo trabalho. Ao longo da história transformam-se as formas de produção material e de reprodução da vida social, da mesma forma e ao mesmo tempo em que se alteram as condições materiais de existência do homem.

Numa palavra, este é o processo da história: o processo pelo qual, sem perder sua base orgânico-natural, uma espécie da natureza constitui-se como espécie humana – assim, a história aparece como a história do desenvolvimento do ser social, como processo de humanização, como processo da produção da humanidade através da sua auto-atividade; o desenvolvimento histórico é o desenvolvimento do ser social (NETTO; BRAZ, 2010, p. 37, grifos dos autores).

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sempre fundante e necessária. Isso porque as demais objetivações supõem as características constitutivas do trabalho, já que os produtos e valores resultantes dessa práxis são também objetivações que se realizam de acordo com as condições histórico-sociais vivenciadas. Além disso, podem se apresentar como produtos

“estranhados”, que escapam ao seu controle e reconhecimento, ou ainda,

expressões de opressão, numa inversa relação objeto-sujeito.

Vale destacar que o homem não perde a sua condição originária de ser da natureza, pois foi a partir dela que se desenvolveu como ser social. O homem é natureza historicamente transformada, mas sua humanidade está para além da natureza e o caracteriza como ser social, pois o atendimento de suas necessidades, mesmo as mais elementares para a manutenção da vida, é humanizado, historicamente determinado e ganha vazão social. As determinações naturais não deixam de existir, mas são cada vez menos relevantes na vida humana.

Em cada estágio do seu desenvolvimento, o ser social é o conjunto de atributos e das possibilidades da sociedade, e esta é a totalidade das relações nas quais os homens estão em interação. Assim, em cada estágio do seu desenvolvimento, o ser social condensa o máximo de humanização construído pela ação e pela interação dos homens, concretizando-se em produtos e obras, valores e normas, padrões e projetos sociais. Compreende-se, pois, que o ser social seja patrimônio comum de toda a humanidade, de todos os homens, não residindo em nenhum deles e, simultaneamente, existindo na totalidade de objetivações de que todos podem participar (NETTO; BRAZ, 2010, p.45).

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desenvolvimento do ser social (NETTO; BRAZ, 2010). Nesse contexto de alienação as possibilidades de incorporar as objetivações do ser social sempre foram postas desigualmente para os homens singulares, o desenvolvimento não se expressa igualmente para todos os homens.

Para que todos os homens e mulheres possam construir-se enquanto indivíduos sociais, diferentes entre si, são necessárias condições sociais iguais para todos, ou seja, é imperativo que todos tenham iguais possibilidades humanas de se sociabilizar diferencialmente.

A subjetividade de cada homem não se elabora nem a partir do nada, nem num quadro de isolamento: elabora-se a partir das objetivações existentes e no conjunto de interações em que o ser singular se insere. A riqueza subjetiva de cada homem resulta da riqueza das objetivações de que ele pode se apropriar. E é a modalidade peculiar pela qual cada homem se apropria das objetivações sociais que responde pela configuração da sua personalidade (NETTO; BRAZ, 2010, p. 47).

No modo de produção capitalista, vemos constituir-se o trabalho abstrato –

produtor de mais-valia e medido pelo tempo de trabalho socialmente necessário –

que é trabalho reificado, subsumido ao capital e alicerçado pelo fetiche da mercadoria. Este se difere substancialmente do trabalho, ontologicamente concebido, que em sua concretude é categoria fundamental da autoconstrução humana e do desenvolvimento da sociabilidade. Essa associação do trabalho como elemento de exploração se intensifica na sociabilidade capitalista contemporânea,

no âmbito da “reestruturação produtiva” em curso.

[...] hoje, com a extensão das relações capitalistas até praticamente todas as formas de práxis social, com a incorporação, ao processo de valorização do capital, de atividades que anteriormente ou estavam dele excluídas ou apenas participavam de modo muito indireto, vivemos uma situação em que praticamente a totalidade dos atos de trabalho assume a forma abstrata advinda de sua subordinação ao capital (LESSA, 2002, p.28).

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A divisão do trabalho gera uma contradição entre o interesse do indivíduo singular e o interesse do coletivo, escondendo os interesses de classe.

Todas as formas presentes de degradação da força humana que trabalha, de agravos e adoecimentos relacionados ao trabalho têm neste estudo a apreensão da categoria trabalho abstrato, que tem vigência nessa sociedade e é produzida na exploração do trabalho pelo capital.

Desenvolve-se então, a partir da atual organização econômico-social, um fenômeno histórico da alienação, que marca as relações de trabalho e o conjunto das relações sociais, num processo crescente de exploração que leva a formas de regressão do ser social, mas que pode ser, e deve ser, superado no curso do desenvolvimento histórico.

Feitas essas análises, e já observadas as características essenciais do trabalho, no item a seguir buscaremos aprofundar as formas constitutivas do trabalho e da classe trabalhadora sob o modo de produção capitalista.

2.2 O TRABALHO E O TRABALHADOR NO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA

O trabalho sob a produção capitalista, dada a sua centralidade para a sociabilidade humana, passa a ser claramente identificado como gerador de valor, expropriando, explorando e controlando o trabalhador, dilacerando toda a estrutura física, psicológica e social dos trabalhadores e incorporando um sentido dual em suas vidas dotado de dor e sofrimento. Isso se dá porque no processo de produção capitalista o trabalho passa a ser estranhado ao indivíduo.

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se confronta com outras experiências que desafiem a sua dinâmica (NETTO; BRAZ, 2010).

Nesse contexto, Marx analisou o capitalismo não como o fim da história, única forma correspondente à natureza humana, mas como um modo de produção historicamente determinado e transitório, cujas próprias contradições internas o levariam à superação. Em suas análises, fica claramente entendido que a base de cada sociedade humana é o processo de trabalho, seres humanos cooperando entre si para fazer uso das forças da natureza e, portanto, para satisfazerem suas necessidades.

Para isso, o produto do trabalho deve, antes de tudo, atender às necessidades do homem, deve ser útil, em seu objeto e finalidade. O que Marx chama de valor-de-uso, pois seu valor se assenta primeiro e principalmente em ser útil para alguém. Sob o capitalismo, todavia, os produtos do trabalho tomam a forma de mercadorias, feitas não para serem consumidas diretamente, mas para serem comercializadas, postas no mercado para serem trocadas. E, cada produto passa a ter um valor-de-troca, numa relação quantitativa, mas com falsa proporção de valores. Assim, no modo de produção capitalista o processo de trabalho deve estar além da produção de valores de uso, ele subsume a satisfação das necessidades humanas à sua melhor satisfação, sua demanda para produzir uma mercadoria e ter um valor excedente sobre o produto fruto do trabalho.

[...] O dinheiro, em si mesmo, não é capital; ele se converte em capital apenas quando compra força de trabalho e outras mercadorias para produzir novas mercadorias (novos valores de uso e de troca) que serão vendidas por mais dinheiro. Vê-se, pois, que o capital não é uma coisa ou um conjunto de objetos – ele só existe na medida em que subordina a força de trabalho; de fato, o capital, mesmo que se expresse através de coisas (dinheiro, objetos, mercadorias etc.), é sempre uma relação social. (NETTO e BRAZ, 2010, p. 98 - grifos dos autores).

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relações econômicas a que se pretende, ou seja, da função social que desempenham.

Todo esse conjunto de imperativos do capital encontra nas relações de trabalho as condições necessárias para a objetivação de seu projeto societário. Antunes (2006), fazendo uma leitura das transformações vivenciadas no mundo do trabalho na atualidade e demonstrando a centralidade do trabalho na estruturação das sociedades contemporâneas, destaca que, embora submetidos à mais aviltante insegurança, os trabalhadores permanecem como protagonistas das transformações sociais necessárias.

Desse modo, em oposição à sociabilidade do capital é relevante apreender a categoria trabalho enquanto fundamental no processo de humanização do ser social, entendendo que o trabalho possibilita ao homem transformar a natureza e a si, pois a finalidade básica do ser social seria sua realização no e pelo trabalho, porém, o trabalho se torna estranho ao homem em razão das diferentes formas pelas quais o processo de trabalho se subsume ao processo de valorização do capital, a partir de bases concretas de extração do sobretrabalho que se acentuam no modo de produção capitalista.

2.2.1 O trabalho assalariado: forma particular de exploração do trabalho no capitalismo

A partir das idéias anteriores que concebem o trabalho para além da produção de valor, elucidaremos ao longo do texto como, sob o modo de produção capitalista, o trabalho adquire a forma particular de trabalho assalariado, produtor de valor de troca, gerador de mais-valia.

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qualitativamente, diferentemente do que acontece na produção de valor, em que se pesa sua importância quantitativa, originária da mais-valia.

O processo de produção, quando unidade do processo de trabalho e do processo de produzir valor, é processo de produção de mercadorias; quando unidade do processo de trabalho e do processo de produzir mais-valia, é processo capitalista de produção, forma capitalista da produção de mercadorias (MARX, 2008, p. 230).

Assim, o valor da força de trabalho e o valor que ela cria no processo de trabalho são duas magnitudes distintas e bem visualizadas no capitalismo. Os diversos elementos do processo de trabalho desempenham papéis diferentes na formação do valor dos produtos. Esses são também os diferentes componentes do capital no processo de produzir mais-valia. Nesse caso, o trabalhador acrescenta ao objeto de seu trabalho tempo de trabalho, ou seja, acrescenta valor à medida que vemos consumir valor-de-uso para produzir novo valor-de-uso.

[...] o tempo de trabalho necessário para produzir o valor-de-uso consumido constitui parte do tempo de trabalho necessário para a produção de novo valor-de-uso, sendo, portanto, tempo de trabalho que se transfere dos meios de produção consumidos ao novo produto. O trabalhador preserva os valores dos meios de produção consumidos, transfere-os ao produto como partes componentes do seu valor (MARX, 2008, p.236).

Sobretudo, o valor das mercadorias é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário, isto é, o tempo de trabalho que ela contém, e que é requerido para produzir um valor-de-uso qualquer, nas condições dadas de produção socialmente normais, em grau social médio de habilidade e de intensidade de trabalho (MARX, 2008).

Marx recorre, aqui, ao duplo caráter do trabalho produtivo, em sua forma mais simples: onde o trabalhador produz alguma coisa humanamente necessária, um valor de uso; e em sua forma alienada, na qual produz para outrem em troca de um salário.

Isso mostra que do ponto de vista do sistema capitalista, não importa o trabalho concreto – o trabalho simples, força vital humana gasta, o próprio trabalho –

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sociedade capitalista como um todo precisa para produzir o valor como valor de troca. A força de trabalha aparece no modo de produção capitalista como uma mercadoria muito especial, que tem seu próprio valor de troca e que produz mais valor.

Assim, sob o modo de produção capitalista o trabalho passa a ter um

“caráter dual”:

Todo trabalho é, por um lado, dispêndio de força de trabalho do homem no sentido fisiológico, e nessa qualidade de trabalho humano igual ou trabalho humano abstrato gera o valor da mercadoria. Todo trabalho é, por outro lado, dispêndio de força de trabalho do homem sob forma especificamente adequada a um fim, e nessa qualidade de trabalho humano concreto útil produz valores de uso (MARX, 2008, 215).

A força de trabalho é deste modo também um produto, que é posto nas mãos de quem o compra para pô-lo em exercício. Vendendo o que é produzido este proprietário da força de trabalho recebe, de um lado, uma quantidade igual á que investiu anteriormente; de outro, obtém um excedente que provém do trabalho concreto gerido por esse, o que vem a ser conhecida como mais-valia, que gera ao capitalista possibilidades formais, capital suficiente, para adquirir no mercado os meios de produção e comprar força de trabalho.

Com o capital, sob a forma de dinheiro, o capitalista adquire os meios de produção – esses não criam novos valores, apenas transferem seu valor a mercadoria que está sendo produzida, seu capital constante. Adquire, ainda, a força de trabalho dos operários, mas esta se constitui em uma mercadoria especial, sem a qual os meios de produção são inúteis, e que tem seu valor determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário para garantir sua manutenção e reprodução, sendo esse valor pago em salário, que não é a reversão proporcional do quantitativo de valor que o trabalho gera.

Ambas as mercadorias adquiridas pelo capitalista têm seu valor determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário para produzi-las. A diferença se verifica na utilização dessas mercadorias. Comprando a força de trabalho, seu dono pode dispor da sua capacidade de trabalho, mas essa dispõe de uma capacidade única: a de criar valor superior ao que lhe é pago. Como bem explicam Netto e Braz

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de todo o seu valor de uso” (p.100). É nessa relação de exploração que se funda o

modo de produção capitalista.

[...] Na mercadoria encontramos, pois, simultaneamente trabalho concreto e trabalho abstrato – mas não se trata, obviamente, de dois trabalhos: trata-se da apreciação do mesmo trabalho sob ângulos diferentes: do ângulo do valor de uso, trabalho concreto; do ângulo do valor de troca, trabalho abstrato (NETTO; BRAZ, 2010, p. 105).

Também de acordo com os estudos de Antunes (2007), o sistema de metabolismo social do capital nasce como resultado da divisão social que operou subordinação estrutural do trabalho ao capital, o que torna os seres sociais mediados entre si6.

Nenhum imperativo de mediação primária, ou seja, aqueles que garantem a reprodução dos indivíduos, necessita do estabelecimento de hierarquias estruturais de dominação e subordinação, esses são bens característicos do sistema de metabolismo social do capital e das mediações que lhe são próprias.

De acordo com Antunes (2007), as mediações de segunda ordem correspondem a um período específico da história humana, correspondente à introdução de elementos fetichizadores e alienantes de controle social metabólico, que se realiza pela subordinação das necessidades humanas à reprodução do valor de troca.

[...] com o capital erige-se uma estrutura de mando vertical, que instaurou uma divisão hierárquica do trabalho capaz de viabilizar o novo sistema de metabolismo social voltado para a necessidade da contínua, sistemática e crescente ampliação de valores de troca [...] (ANTUNES, 2007, p. 21).

Isto implica na separação e alienação entre trabalhador e meios de produção, como imposição dessas condições aos trabalhadores e personificação do

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capital. Os sujeitos são reduzidos às funções produtivas de forma fragmentada, separando os que produzem dos que controlam a produção.

O que nos leva a elucidar, ainda, que o trabalho assalariado é uma forma específica do regime de trabalho sob o modo de produção capitalista, ele é parte constitutiva do sistema de exploração, qualquer melhoria nessa condição – sejam melhores salários, sejam condições matérias de trabalho mais dignas e seguras –

não afeta o núcleo da exploração capital-trabalho.

Daí a definição de capital como a propriedade que garante ao capitalista explorar trabalho alheio, se resumindo numa relação social de exploração. Desse modo, o sistema capitalista se orienta fundamentalmente para a obtenção de mais-valia, através do prolongamento da jornada de trabalho, travada apenas pelos limites físicos (o próprio desgaste natural do trabalhador) e pelas lutas de classes. Além disso, outro meio eficaz de lucratividade, de obter mais-valia, é o aumento da produtividade do trabalho, através da sua intensificação, fazendo com que, no mesmo tempo de trabalho, mais mercadorias sejam produzidas.

Em razão dessa lógica, o modo de produção capitalista depende essencialmente do trabalho – mas o inverso é falso – que aliado ao desenvolvimento das forças produtivas, através de novas tecnologias e ciências da produção, aprimorando-as aos seus interesses, cria em seu seio as condições de mudança das próprias relações sociais de produção que o definem.

2.2.2 A Grande Indústria Capitalista: a combinação do taylorismo com fordismo

Ao longo do século XX foram engendradas um série de transformações no âmbito do modo de produção capitalista, que configuraram um novo estágio do capitalismo. Nesse momento vemos reiterada sua estrutura essencial, revivida em algumas formas peculiares de regulação produtiva e social, mas sempre mantendo viva sua chama com novas determinações.

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A história do capitalismo – a sua evolução –, portanto, é produto da interação, da imbricação, da intercorrência do desenvolvimento das forças produtivas, de alterações nas atividades estritamente econômicas, de inovações tecnológicas e organizacionais e de processos sóciopolíticos e culturais que envolvem as classes sociais em presença numa dada quadra histórica. E todos esses vetores não só se transformam eles mesmos: as suas interações também se alteram no curso do desenvolvimento do MPC. (NETTO; BRAZ, 2010, p. 169).

Netto e Braz (2010) nos fazem refletir sobre a história do capitalismo como produto do desenvolvimento das forças produtivas, colocando em destaque os percursos históricos que configuram os diferentes estágios do capitalismo. Esse trafega desde a acumulação primitiva, como forma originária de produção através das manufaturas, que segue do século XVI ao XVIII, caracterizada pelo capitalismo comercial (mercantil). Período em que a burguesia afirma-se como classe controlando as principais atividades econômicas e pondo em cheque os privilégios da nobreza fundiária. Tem-se aí, de acordo com esses autores, a expressão revolucionária dessa classe.

É então uma classe revolucionária, cujos interesses se conjugam com os da massa da população; sobretudo, é a classe que tem por tarefa liberar as forças produtivas dos limites que lhe eram colocados pelas relações feudais de produção e seu específico regime de propriedade. Temos, à época, uma burguesia de caráter audacioso, uma burguesia empreendedora, heroica mesmo, como se verifica dos seus inícios à sua marcha triunfal rumo à construção da nova sociedade. (p. 170. Grifos dos autores).

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domínio das ciências naturais (química, física e biologia) e pelo desenvolvimento da eletricidade.

O Estado atendia consideravelmente aos interesses do capital, como seu agente externo, garantindo a segurança da propriedade privada e a manutenção da

“ordem” pública. Tinham os trabalhadores como sujeitos passivos da repressão, violenta em muitos casos, como forma de enquadramento à essa ordem. Mesmo assim, foi a ação dos trabalhadores ao longo dos tempos que forçou um certo avanço nos processos de democratização identificados na sociedade burguesa, mesmo que de forma restritiva. As conquistas do movimento operário contribuíram

para a consciência dos antagonismos de classes, “situando-se como sujeito revolucionário potencialmente capaz para promover a transformação da ordem burguesa numa sociedade sem exploração” (NETTO; BRAZ, 2010, p. 175).

Agora a burguesia é convertida em classe conservadora, com a intenção pura e única de verem mantidas as relações sociais que fundam o regime de acumulação no modo de produção capitalista, o domínio privativo dos meios de produção. Assim, foram instauradas reformas sociais a fim de amenizar os efeitos da exploração sobre os trabalhadores, sem que o reformismo burguês alterasse o

“direito natural” à propriedade privada dos meios fundamentais de produção.

No final do século XIX temos o surgimento dos monopólios, concentração de grandes capitais ancorados na produção industrial, e a modificação do papel dos bancos, agora como grupos capitalistas no controle de ramos industriais inteiros. Os bancos avançam com os sistemas de crédito, controle monetário e concessão de

empréstimos que configuram “o processo de centralização do capital”, com o

mercado de ações. Temos, ainda, grandes alterações nas economias nacionais e na dinâmica econômica como um todo, ou seja, o próprio modo de produção capitalista, tem seu domínio estendido globalmente, fazendo com que os monopólios atinjam o mais elevado grau de concentração de capital (NETTO; BRAZ, 2010). Esse mercado mundial foi criado com o estreitamento das relações econômicas no estágio mercantil do desenvolvimento capitalista, mas é verídica a tendência do capital para a mundialização, como um traço que lhe é constitutivo.

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imperialista, com transformações que se prolongam até os dias atuais e desempenham papel decisivo. Essa é a fase do desenvolvimento do capitalismo que se inicia no final do século XIX e que continua a se operar. Aqui, as empresas monopolistas multinacionais, já bem consolidadas, tratam de ganhar mercados externos através de grandes acordos comerciais que estabelecem os limites do avanço e as regiões do mundo que cada monopólio dominará, uma nova reedição da partilha econômica do mundo pelo grande capital, se inicia agora em sua fase imperialista. Leva os Estados capitalistas a partilharem o mundo territorialmente e economicamente, em um verdadeiro processo de recolonização, que teve nas grandes guerras do século XX a expressão dos conflitos interimperialistas, como

“forma extrema de partilha do mundo pelas potências imperialistas” (NETTO; BRAZ,

2010, p. 183). E, ainda, segundo esses autores:

O imperialismo é um estágio de desenvolvimento do capitalismo; por isso mesmo, as leis (tendências) que comandam a dinâmica desse modo de produção continuam operando nesse estágio. No entanto, fazem-no sob condições novas e dessas novas condições, que modificam a operação daquelas leis, decorrem processos e fenômenos antes inexistentes (ou que antes não tinham a relevância que, com o imperialismo, passam a ter). (p. 188).

Com novos incrementos na forma de exploração do trabalhador, numa perspectiva de manter sua lei geral de acumulação e escapar das tendências à queda das taxas de lucro, desenvolve-se uma trajetória de alta expansão da produção e de acúmulo de importantes inovações tecnológicas.

Como expressão da própria dinamicidade do capitalismo este estágio também se desenvolveu processualmente. Em sua fase mais clássica, que vai de

1890 a 1940; passando pelos denominados “Anos dourados”, do fim da segunda

guerra mundial até os anos 1970; e seguindo deste período até o capitalismo contemporâneo, que penetra em plena vigência no século XXI (NETTO; BRAZ, 2010).

Esse processo implicou em mudanças nas relações econômicas, com alta exportação de capitais e ampliação dos monopólios subsidiados pelos países de economia periférica, além das mudanças na organização do trabalho que corroboraram com o binômio taylorista-fordista tornando-se o padrão de produção

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Ainda durante a vigência da era concorrencial do modo de produção capitalista no século XIX, centrado na expansão do trabalho assalariado, na plena vigência do Estado Liberal, centrado na defesa da liberdade e da igualdade jurídica

– sem interferência nas relações de trabalho e validando o contrato privado – Taylor7 desenvolveu um modelo de divisão do trabalho baseado no controle do tempo e rendimentos, aumentando a produtividade à medida que racionalizava a produção de mercadorias e neutralizava a resistência operária. Separou as atividades de planejamento das de execução, de forma que cada trabalhador era treinado e contratado para um posto de trabalho específico, sendo desconsideradas a aptidão e criatividade do trabalhador num processo maior de expropriação do saber operário.

As experiências destinadas a aumentar a produtividade mediante eficiência no nível operacional baseavam-se em métodos e sistemas de racionalização do trabalho, através das estratégias de subsunção do conhecimento operário ao comando da gerência; desenvolvimento dos mecanismos de seleção e treinamento; e planejamento e controle do trabalho.

Desenvolvem-se espaços e relações de trabalhos desarticulados e sem planejamento, consolidando um modelo de ordem e obediência, baseado em regras não claras e com ênfase na disciplina, onde se padronizam as relações sociais de subordinação, em que os sujeitos sociais passam a adquirir padrões de generalidade, com nítido desprezo pelas suas diferenças e características individuais.

No sistema Taylor desenvolveram-se várias tentativas por parte das gerências de refrear a combatividade de classe por meio de estratégias de altos salários e da difusão de ideologias proibicionistas entre as famílias operárias, com a regulação puritana e moralista dos hábitos, compondo traços culturais associados à difusão e uma nova visão social do mundo.

Já no século XX, Ford8 incorpora e faz avançar a proposta taylorista, de racionalização da estrutura administrativa, e consequentemente dos processos de trabalho, utilizando os princípios da linha de montagem na fabricação de

7 Frederick Winslow Taylor (1856 - 1915), foi um engenheiro mecânico norte-americano, que

formoulou vários preceitos da “Administração Científica”.

8 Henry Ford (1863-1947) foi um grande empresário americano, fundador da Ford Motor Company ,

que desenvolveu um modelo de organização produtiva, denominado “Fordismo”, baseado na

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automóveis, baseadas em: unidades de comando, divisão do trabalho, especialização das atividades e ampliação do controle. Isso levou a uma redução do tempo de montagem dos produtos, a exemplo do carro, parcelando e simplificando as operações.

Segundo Harvey (2010), os princípios da administração científica de Taylor estavam baseados no aumento da produtividade do trabalho através da organização dos movimentos e tempos e da fragmentação das tarefas do trabalho. O que Ford

apresenta de novo é seu reconhecimento de que “produção de massa significava

consumo de massa, um novo sistema de reprodução da força de trabalho, uma nova

política de controle e gerência do trabalho “[...] um novo tipo de sociedade democrática, racionalizada, modernista e populista” (p.121), com a idéia de formar

um novo tipo de trabalhador, um tipo particular de homem.

De acordo com Gramsci (2001), a superação do taylorismo pelo fordismo se dá significativamente pela passagem de um modelo de organização do trabalho para um regime de acumulação que supõe a regulação salarial como eixo da dinâmica macroeconômica. Uma forma produtiva por onde se estabelecem formas institucionais de estabilização da relação capital-trabalho.

O fordismo baseava-se, assim, num sistema de produção de grandes quantidades de produtos padronizados, destinados a mercados de massa. A concorrência capitalista era baseada nas economias de escala e no aumento da velocidade do processo de produção, controlado pelo ritmo da linha de montagem e pelos movimentos das máquinas. Ford verticalizou e hierarquizou a linha de produção, no combate ao desperdício reduziu o tempo e aumentou o ritmo de trabalho, intensificando as formas de exploração do trabalho, incrementando a geração de mais-valia. Com os trabalhadores alinhados ao longo das grandes esteiras rolantes, atrelados a uma parte específica do processo produtivo desenvolviam suas atividades de forma mecânica e repetitiva, com ritmo cada vez mais acelerado, numa composição mais que literal e estética do homem-máquina.

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Gráfico 02  – Total de Teses/Dissertações Consultadas (2006-2010)
Gráfico 03  – Trabalhos Analisados

Referências

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