12/11/2015 Apenas réu
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SUPREMO EM PAUTA
21 agosto 2015 | 11:20
A formalização da denúncia contra o deputado Eduardo Cunha pode trazer consequências mesmo antes de uma eventual condenação, sobretudo diante da exposição de pontos que ainda não estavam claros sobre a sua participação na Operação Lava Jato.
Um desses pontos se refere à natureza e vulgaridade das acusações. O deputado é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro envolvendo a construção de naviossondas da Petrobrás em um esquema cujos valores ultrapassam US$ 40 milhões. Se é lugarcomum ser relacionado ao recebimento de propinas, talvez a denúncia também o torne mais ordinário.
Outro ponto é a extensão das provas citadas na denúncia. Memorandos, relatórios de auditorias, extratos bancários, atas de reuniões, contratos, recibos e movimentações financeiras são algumas das provas mencionadas, tornado os depoimentos em colaboração premiada, alvo de maior polêmica até o momento, meros coadjuvantes. Parte dos chamados delatores foi indicada como testemunha e devem voltar a prestar declarações perante os ministros do Supremo, no caso de uma ação penal.
Entretanto, o elemento mais revelador da denúncia é o que vincula a prática do crime à função exercida por Cunha. Como deputado entre 2006 e 2012, Cunha teria se valido de sua condição de parlamentar para obter dinheiro e cobrar as propinas. Trecho da denúncia menciona que sua atuação “não buscava um objetivo Republicano”, mas tão somente a vantagem pessoal, mostrandose “extremamente agressivo” nas cobranças.
Juntos, a vulgaridade do crime, a variedade de provas e o uso do cargo em benefício próprio podem ruir o prestígio que o deputado parece ter na Câmara, abrindo espaço para cassação de seu mandato, o que pode ser agravado caso a denúncia seja admitida. Tornarse réu e, com isso, ser apenas mais um réu.
Eloísa Machado de Almeida, professora e coordenadora do Supremo em Pauta FGV Direito SP.