• Nenhum resultado encontrado

Efeitos do freio magnético sobre a distribuição da rotação estelar

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Efeitos do freio magnético sobre a distribuição da rotação estelar"

Copied!
72
0
0

Texto

(1)

centro de ciˆ

encias exatas e da terra

departamento de f´ısica te´

orica e experimental

programa de p´

os-graduac

¸˜

ao em f´ısica

Efeitos do freio magn´

etico sobre a distribui¸c˜

ao da

rota¸c˜

ao estelar

Rodrigo da Silva Sobrinho

(2)

Efeitos do freio magn´

etico sobre a

distribuic

¸˜

ao da rotac

¸˜

ao estelar

Disserta¸c˜ao de mestrado apresentada ao Programa de P´os-Gradua¸c˜ao em F´ısica do Departamento de F´ısica Te´orica e Experimental da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para a obten¸c˜ao do grau de mes-tre em F´ısica.

Orientador: Prof. Dr. Daniel Brito de Freitas.

(3)
(4)

• A Deus pela minha vida e por tˆe-la transformado de forma t˜ao profunda por in-term´edio de Cristo;

• Ao meu orientador, Prof. Dr. Daniel Brito de Freitas, pelo apoio e pelas pala-vras de incentivo, por ter acreditado em mim quando at´e eu n˜ao acreditava e pela disponibilidade de seu tempo ao me orientar t˜ao bem;

• A todos os meus colegas do DFTE/UFRN, em especial aos amigos de sala, pelas d´uvidas tiradas, pelo aux´ılio nas dificuldades acadˆemicas e pela companhia;

• Aos meus irm˜aos em Cristo da Igreja Batista Independente do Brasil Novo, pelo apoio espiritual e f´ısico. Obrigado pelas ora¸c˜oes em meu favor, muito das minhas vit´orias s˜ao tamb´em de vocˆes. Obrigado Pastor Davi Jr. pelo carinho e cuidado que tem por mim;

• A todos os professores do PPGF-UFRN, em particular ao Prof. Dr. Daniel Brito de Freitas, Prof. Dr. Francisco George Brady, Prof. Dr. Dory H´elio Aires de L. Anselmo, Prof. Dr. Luciano Rodrigues e Prof. Dr. Gandhi Mohan pelos conheci-mentos transmitidos;

• A minha linda amiga, namorada, noiva e esposa Lene Giovanni Calixto da Silva,` pelo amor que tem por mim e por estar sempre ao meu lado quando preciso;

• Aos meus familiares e amigos por todos os momentos juntos;

• A Antonio de Carvalho Filho, colega e amigo de gradua¸c˜ao que se foi t˜ao jovem. E Zanoni Tadeu, professor e educador, que nos deixou saudades;

• Aos funcion´arios do PPGF-UFRN;

(5)

´

E a volta central na mola que contrabalan¸ca o giro da via l´actea ´

E a fraqueza na for¸ca da gravidade ´

E o fim da gravidez de um nascimento estelar ´

E a sutil caduquice na explos˜ao de uma supernova A f´ısica ´e o metal na fivela do cintur˜ao de Orion

A f´ısica ´e os feriados em um ano luz ´

E o retorcer dos elos de uma corrente alternada ´

E a areia branca do ch˜ao de um buraco negro ´

E o ringir nas engrenagens de uma nebulosa ´

E a frieza no molhar por ondas de mat´eria ´

E a poeira de part´ıculas de luz que cega o olhar

A f´ısica ´e o orvalho nas relvas de um campo magn´etico

A f´ısica ´e o nada no tudo, ´e o tudo no nada ´

E o pouco no muito, ´e o muito no pouco ´

E a parte que sobra do que n˜ao existiu ´

E a existˆencia do que n˜ao sobrou ´

E o que n˜ao se tem, e mesmo assim, ´

E colocado onde n˜ao se cabe A f´ısica ´e o sorriso de Deus.

(6)

O pioneiro trabalho proposto por Skumanich (1972) mostrou que a velocidade de rota¸c˜ao projetada m´edia< v sini >para estrelas do tipo solar obedece uma lei de decres-cimento no tempo, dada port−1/2, onde t´e a idade da estrela. Essa rela¸c˜ao ´e consistente

com as teorias de perda de momentum angular atrav´es do vento estelar ionizado, que por sua vez est´a acoplado `a estrela pelo seu campo magn´etico. V´arios autores (e.g.: Silva

et al. 2013 e de Freitas et al. 2014) analisaram as poss´ıveis correla¸c˜oes entre o decai-mento rotacional e o perfil da distribui¸c˜ao de velocidade. Esses autores chegaram a uma simples rela¸c˜ao heur´ıstica, mas n˜ao constru´ıram uma passagem direta entre o expoente do decaimento rotacional (j) e o expoente da distribui¸c˜ao da velocidade rotacional (q). Todo esse cen´ario te´orico foi proposto usando uma eficiente e robusta mecˆanica estat´ıstica bem conhecida como mecˆanica estat´ıstica n˜ao-extensiva. A presente disserta¸c˜ao prop˜oe efetivamente fechar essa quest˜ao, elaborando um caminho te´orico para modificar as dis-tribui¸c˜oes q-Maxwellianas em q-Maxwellianas com v´ınculos f´ısicos extra´ıdos da teoria do freio magn´etico. Para testar nossas distribui¸c˜oes, usamos um pacote de dados do cat´alogo de Geneva-Copenhagem Survey com aproximadamente 6000 estrelas F e G limitadas em idade. Como resultado, obtivemos que os expoentes da lei de decaimento e da distribui¸c˜ao seguem uma rela¸c˜ao similar `aquela proposta por Silvaet al. (2013).

(7)

The pioneering work proposed by Skumanich (1972) has shown that the projected mean rotational velocity < v sini > for solar type stars follows a rotation law decreases with the time given by t−1/2, where t is the stellar age. This relationship is consistent

with the theories of the angular momentum loss through the ionized stellar wind, which in turn is coupled to the star through its magnetic field. Several authors (e.g.: Silva et al. 2013 and de Freitas et al. 2014) have analyzed the possible matches between the rotational decay and the profile of the velocity distribution. These authors came to a simple heuristic relationship, but did not build a direct path between the exponent of the rotational decay (j) and the exponent of the distribution of the rotational velocity (q). The whole theoretical scenario has been proposed using an efficient and strong statistical mechanics well known as non-extensive statistical mechanics. The present dissertation proposes effectively to close this issue by elaborating a theoretical way to modify the

q-Maxwellians’ distributions into q-Maxwellians with physics links extracted from the theory of magnetic braking. In order to test our distributions we have used the Geneva-Capenhagen Survey data with approximately 6000 F and G field stars limited by age. As a result, we obtained that the exponents of the decay law and distribution follow a similar relationship to that proposed by Silva et al. (2013).

.

(8)

1.1 Frequˆencia angular Ω/2π em fun¸c˜ao do raio para cinco diferentes latitu-des: 0◦

(equador), 15◦ , 30◦

, 45◦ e 60◦

. A envolt´oria convectiva segue a rota¸c˜ao diferencial, entretanto a envolt´oria radiativa segue aproximada-mente a rota¸c˜ao de um corpo r´ıgido. Cortesia do National Solar Observa-tory. Ω/2π ´e medido em nHz (nanohertz). http://soi.stanford.edu . . . 3 1.2 Esquema de determina¸c˜ao da velocidade rotacional de uma estrela pelo

m´etodo das linhas espectrais. http://hsc.csu.edu.au/physics/options/astrophysics 4 1.3 Velocidade de rota¸c˜ao projetada (v sini), onde i´e o ˆangulo entre o eixo de

rota¸c˜ao e a linha de visada. . . 5 1.4 Estrutura solar. Figura retirada de: http://astro.if.ufrgs.br/esol/esol.htm . 7 1.5 As zonas radiativa e convectiva em fun¸c˜ao da massa. http://www.sun.org . 8 1.6 Diagrama-HR; Foto do Observat´orio Nacional: http://www.on.br/ead2013/ 9

1.7 No painel (a) representando as flutua¸c˜oes da velocidade do vento solar no per´ıodo do ano de 2003 a 1 UA (Unidade Astronˆomica) pelo telesc´opio espacial ACE (Advanced Composition Explorer). No painel (b) est˜ao re-presentados as flutua¸c˜oes da intensidade do campo magn´etico tamb´em me-didas sob as mesmas condi¸c˜oes que a velocidade do vento. Burlaga e Vin˜as (2004) . . . 11 1.8 Linhas do campo magn´etico ao redor da estrela Tau-Scorpii. Em azul,

as linhas do campo aberto que fazem o fluxo de part´ıculas provenientes do vento estelar escaparem para fora da estrela. Em branco, as linhas de campo fechadas. Figura retirada de Donati et al. (2006). . . 12

2.1 Fun¸c˜ao distribui¸c˜ao q-Maxwelliana para diferentes valores de q. . . 23 2.2 Comparativo entre a fun¸c˜ao Maxwelliana e aq-Maxwelliana para diferentes

(9)

2.3 Comparativo entre as fun¸c˜oes distribui¸c˜oes Maxwelliana padr˜ao,q-Maxwelliana e a q-Maxwelliana com v´ınculo para a lei de Skumanich (j = 3). Escala arbitr´aria. Usando q = 1.5. Fator de freioxj = 20. . . 28

2.4 q-Maxwelliana com v´ınculo (para a lei de Skumanich) para diferentes va-lores de q. x3 = 20 . . . 28

2.5 q-Maxwelliana com v´ınculo (para a lei de Skumanich) para diferentes va-lores de x3. q= 1.4. . . 29

2.6 q-Maxwelliana com v´ınculo para a lei de decaimento proposta por Soder-blom et al. (1991). Variando o fator de freio e mantendo q fixo em 1.9. . . 31 2.7 q-Maxwelliana com v´ınculo para a lei de decaimento proposta por

Soder-blom et al. (1991). Variando o ´ındice entr´opico q por um fator de 0.5. Fator de freio fixo em 20. . . 32 2.8 q-Maxwelliana com v´ınculo para a lei de decaimento proposta por Pace e

Pasquini (2004). Variando o fator de freio. O ´ındice entr´opico q fixo em 1.9. 32 2.9 q-Maxwelliana com v´ınculo para a lei de decaimento proposta por Pace e

Pasquini (2004). Variando o ´ındice entr´opico q por um fator 0.5. Fator de freio fixo em 20. . . 33 2.10 q-Maxwelliana com v´ınculo para a lei de decaimento proposta por Reiners

e Mohanty (2012). Variando o fator de freio. O ´ındice entr´opico q fixo em 1.9. . . 33 2.11 q-Maxwelliana com v´ınculo para a lei de decaimento proposta por Reiners

e Mohanty (2012). Fator de freio fixo em 20. O ´ındice entr´opico qvariando por um fator 0.5. . . 34 3.1 Distribui¸c˜ao de v sini das estrelas F e G da amostra. As linhas s´olidas

referem-se aos dados de v sini, enquanto as linhas tracejadas referem-se aos dados de v sini multiplicados pelo fator estat´ıstico de corre¸c˜ao 4/π. Figura retirada de de Freitas e De Medeiros (2013). . . 37 3.2 Histograma da velocidade de rota¸c˜ao projetada das estrelas F single. . . 38 3.3 Histograma da velocidade de rota¸c˜ao projetada das estrelas G single. . . . 38 3.4 Rela¸c˜ao rota¸c˜ao-idade das estrelas F e G da amostra. S˜ao mostradas as

m´edias dev sinino intervalo de idade correspondendo a 0,5 Gyr. As linhas cont´ınuas representam o fit usando a lei de Skumanich e as linhas tracejadas representam o fit utilizando as equa¸c˜oes v(t) =v0exp[−λ1(t−t0)] ev(t) =

vsat[1 + (q−1)λq(t−tsat)]1/(1−q) respectivamente. de Freitas e De Medeiros

(10)

3.8 Histograma da massa em fun¸c˜ao da massa solar das estrelas G single. . . . 42

3.9 Histograma da metalicidade em fun¸c˜ao da metalicidade solar das estrelas F single. . . 43

3.10 Histograma da metalicidade em fun¸c˜ao da metalicidade solar das estrelas G single . . . 43

4.1 Distribui¸c˜ao de v sini das estrelas early F. . . 46

4.2 Distribui¸c˜ao de v sini das estrelas F tardias. . . 47

4.3 Distribui¸c˜ao de v sini das estrelas early G. . . 48

4.4 Distribui¸c˜ao de v sini das estrelas G tardias. . . 49

4.5 Distribui¸c˜ao de v sini de todas as estrelas F da amostra. . . 50

(11)

2.1 Algumas leis de decaimento presentes na literatura escritas em fun¸c˜ao do expoente j. . . 30

4.1 Valores do expoente j obtidos por de Freitas e De Medeiros (2013). . . 45 4.2 Melhores valores dos parˆametros j, xj e q do ajuste n˜ao-linear via m´etodo

LM das distribui¸c˜oes te´oricas e emp´ıricas para o intervalo do tipo espectral F0-F5. . . 47 4.3 Melhores valores dos parˆametros j, xj e q do ajuste n˜ao-linear via m´etodo

LM das distribui¸c˜oes te´oricas e emp´ıricas para o intervalo do tipo espectral F6-F9. . . 47 4.4 Melhores valores dos parˆametros j, xj e q do ajuste n˜ao-linear via m´etodo

LM das distribui¸c˜oes te´oricas e emp´ıricas para o intervalo do tipo espectral G0-G5. . . 48 4.5 Melhores valores dos parˆametros j, xj e q do ajuste n˜ao-linear via m´etodo

LM das distribui¸c˜oes te´oricas e emp´ıricas para o intervalo do tipo espectral G6-G9. . . 49 4.6 Melhores valores dos parˆametros j, xj e q do ajuste n˜ao-linear via m´etodo

LM das distribui¸c˜oes te´oricas e emp´ıricas para o intervalo do tipo espectral F0-F9 . . . 49 4.7 Melhores valores dos parˆametros j, xj e q do ajuste n˜ao-linear via m´etodo

(12)

Agradecimentos i

Resumo iii

Abstract iv

Lista de Figuras vii

Lista de Tabelas viii

Sum´ario x

1 Introdu¸c˜ao 1

1.1 Rota¸c˜ao Estelar . . . 1

1.1.1 Um breve resgate hist´orico da Rota¸c˜ao Estelar at´e os trabalhos de Otto Struve em 1945 . . . 2

1.1.2 A Rota¸c˜ao Estelar depois dos trabalhos de Otto Struve . . . 4

1.1.3 A rela¸c˜ao rota¸c˜ao-atividade-idade . . . 6

1.2 Decaimento rotacional como uma consequˆencia da a¸c˜ao do freio magn´etico 11 1.3 Mecˆanica Estat´ıstica: Ser ou n˜ao ser (n˜ao)-extensiva . . . 14

1.3.1 Mecˆanica estat´ıstica de Boltzmann-Gibbs . . . 14

1.3.2 Mecˆanica estat´ıstica n˜ao-extensiva de C. Tsallis . . . 16

1.4 Plano de trabalho . . . 18

2 Distribui¸c˜ao q-Maxwelliana com v´ınculos 19 2.1 Fun¸c˜ao distribui¸c˜ao q-Maxwelliana . . . 19

2.2 Um novo elemento no contexto: O fator de freio generalizado . . . 24

2.3 A fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao q-Maxwelliana Skumanichiana . . . 27

(13)

3 Dados observacionais 36

3.1 Levantamento Geneva-Copenhagen . . . 36

3.2 Parˆametros estelares importantes . . . 36

3.2.1 Velocidade de rota¸c˜ao projetada v sini . . . 36

3.2.2 Idade . . . 39

3.2.3 Massa e Metalicidade . . . 40

3.2.4 Defini¸c˜ao da amostra . . . 43

4 Resultados e Discuss˜oes 45 4.1 Distribui¸c˜oes te´oricas versus distribui¸c˜oes emp´ıricas . . . 45

4.1.1 Correla¸c˜oes entre os expoentes q ej . . . 51

5 Conclus˜oes e perspectivas 53 5.1 Conclus˜oes . . . 53

5.2 Perspectivas . . . 54

(14)

Cap´ıtulo

1

Introdu¸c˜

ao

1.1

Rota¸c˜

ao Estelar

Sem d´uvida, um dos fenˆomenos mais intrigantes da mat´eria ´e o fato dela poder gi-rar. Esse comportamento denominado de rota¸c˜ao est´a fortemente presente em nossa vida cotidiana, seja pelo simples fato de uma crian¸ca girar um pi˜ao ou pela forma como marca-mos o tempo. Podemarca-mos verificar rota¸c˜ao em quase todas as coisas que nos rodeiam: das menores part´ıculas subatˆomicas como o el´etron, passando pelos gigantescos aglomerados de galaxias at´e o pr´oprio Universo. Sua popularidade no Universo nos mostra o quanto ´e importante o conhecimento sobre esse fenˆomeno. Infelizmente, n˜ao teremos na presente disserta¸c˜ao como abordar essa tem´atica em sua completude, mas apenas mergulhar em ´aguas rasas no oceano da Rota¸c˜ao das Estrelas.

No caso espec´ıfico da Rota¸c˜ao Estelar, vivenciamos ultimamente a comemora¸c˜ao dos 400 anos da Rota¸c˜ao Estelar. Essa importante data remete `as observa¸c˜oes feitas pelo pensador italiano Galileo Galilei em 1613, registradas no seu livro “l’Istoria e dimostra-zioni intorno alle macchie solari e loro accidenti”, onde ele descreve as manchas no Sol e a interpreta¸c˜ao dos seus movimentos devido `a rota¸c˜ao solar. Tal marco hist´orico foi celebrado na cidade de Natal no workshop intitulado “400 Years of Stellar Rotation”. Na ocasi˜ao se fizeram presentes os maiores nomes da rota¸c˜ao em todo o mundo. Oworkshop

focou nas mais recentes descobertas das miss˜oes espaciaisCoRot1 eKepler2, com vi´es na

rota¸c˜ao.

Nesse contexto nosso trabalho ir´a focar no estudo do comportamento da rota¸c˜ao

este-1O projetoCoRoT foi desenvolvido pelaAgˆencia Espacial Francesa (CNES), em conjunto com v´arios

laborat´orios franceses e parceiros internacionais, incluindo o Brasil.

2A sondaKeplerconsiste em um observat´orio espacial projetado pelaNASAcom o objetivo de procurar

(15)

lar projetadav sini, ondei´e o ˆangulo de inclina¸c˜ao em rela¸c˜ao `a linha de visada. Devemos destacar que a rota¸c˜ao estelar ´e um assunto bastante vasto na Astrof´ısica, existem v´arios estudos sobre rota¸c˜ao de estrelas tanto no campo das estrelas single3 como tamb´em das

bin´arias. Esse assunto ´e t˜ao vasto que tamb´em pode ser estudado segregando as estrelas por massa (ou tipo espectral), por magnitude, presen¸ca ou n˜ao de planeta(s) e/ou fase evolutiva, ou ainda para os casos mais at´ıpicos, investigar o comportamento da rota¸c˜ao de gal´axias e outros objetos astrof´ısicos ex´oticos, como quasares e buracos negros.

1.1.1

Um breve resgate hist´

orico da Rota¸c˜

ao Estelar at´

e os

tra-balhos de Otto Struve em 1945

Os estudos sobre rota¸c˜ao estelar tiveram in´ıcio em meados do s´eculo XVII com a ob-serva¸c˜ao do movimento de manchas escuras (manchas solares) na superf´ıcie do Sol. As medidas do movimento dessas manchas foram originalmente feitas pelo alem˜ao Johannes Fabricius (1587-1616), o italiano Galileo Galilei (1564-1642), o inglˆes Thomas Harriot (1560-1621), e o alem˜ao Christopher Scheiner (1573-1650). Atrav´es dessas observa¸c˜oes, eles chegaram a um per´ıodo de rota¸c˜ao do Sol de 27 dias. Scheiner considerava que os padr˜oes escuros na superf´ıcie do Sol eram planetas, (Hip´otese Planet´aria). Mas, em 1613 Galileo refutou a Hip´otese Planet´aria de Scheiner ao publicar suas ideias e observa¸c˜oes no artigo intituladoIstoria e Dimostrazioni intorno alle Macchie Solari e loro Accidenti. Galileo observou que as manchas sofriam alargamento e aceleravam `a medida que se des-locava da borda em dire¸c˜ao ao centro solar.

Com rela¸c˜ao `a rota¸c˜ao em outras estrelas, o pioneirismo fica por conta dos trabalhos do astrˆonomo francˆes Isma¨el Boulliand (1605-1694). Em 1667 Boulliand atribuiu a varia-bilidade das curvas de luz de algumas estrelas, como Mira Ceti, ao efeito de rota¸c˜ao, onde a estrela ao girar exibia hemisf´erios: hora com manchas, hora sem manchas.

Depois de um longo per´ıodo de inatividade, em 1850 a quest˜ao da rota¸c˜ao estelar sofre avan¸cos significativos. O britˆanico Richard Carrington (1826-1875) e Gustav Sp¨orer (1822-1895), de forma independente, entre os anos de 1853-1861, mostraram que a en-volt´oria externa vis´ıvel do Sol n˜ao girava como um corpo r´ıgido, mas que o per´ıodo de rota¸c˜ao variava com a latitude. Essa espetacular constata¸c˜ao ´e o que se conhece hoje como rota¸c˜ao diferencial. A Fig 1.1 nos mostra que pr´oximo do equador solar (0◦

), a rota¸c˜ao ´e maior que pr´oximo aos polos (60◦

).

3O termo em inglˆes single no contexto da Astrof´ısica ´e de dif´ıcil tradu¸c˜ao. Por esse motivo iremos

(16)

Figura 1.1: Frequˆencia angular Ω/2π em fun¸c˜ao do raio para cinco diferentes latitu-des: 0◦

(equador), 15◦ , 30◦

, 45◦ e 60◦

. A envolt´oria convectiva segue a rota¸c˜ao dife-rencial, entretanto a envolt´oria radiativa segue aproximadamente a rota¸c˜ao de um corpo r´ıgido. Cortesia do National Solar Observatory. Ω/2π ´e medido em nHz (nanohertz). http://soi.stanford.edu

Com o avan¸co da tecnologia, em especial o advento da espectroscopia, a f´ısica este-lar entrou em uma nova era. O astrˆonomo alem˜ao Hermann Vogel (1834-1898) mostrou em 1871, que a taxa de rota¸c˜ao do Sol poderia ser determinada por desvio Doppler das linhas espectrais. Nils D´uner e Jakob Halm, depois de in´umeras observa¸c˜oes feitas entre 1887-1906, demostraram que a taxa de rota¸c˜ao determinada espectroscopicamente e as realizadas pelas observa¸c˜oes das manchas solares eram compat´ıveis. Em 1877, William de Wiveleslie Abney (1877) foi o primeiro a expor a ideia de determinar a taxa de rota¸c˜ao estelar atrav´es das larguras das linhas espectrais. Outro m´etodo de determina¸c˜ao da taxa de rota¸c˜ao estelar, o m´etodo gr´afico, foi desenvolvido por Shajn e Struve (1929). Esse m´etodo sistem´atico consiste em determinar o valor da velocidade de rota¸c˜ao projetada

v sini. Na Fig 1.2 podemos mostrar de forma esquem´atica como o m´etodo para determi-nar a velocidade de rota¸c˜ao estelar, por meio do espectro, funciona.

(17)

raz˜ao para suspeitar que os eixos de rota¸c˜ao n˜ao sejam essencialmente distribu´ıdos aleato-riamente. Mais tarde, como veremos, outros autores baseados nesse princ´ıpio constru´ıram as bases estat´ısticas para investigar o perfil da distribui¸c˜ao das velocidades rotacionais. Sem d´uvidas, esse trabalho ´e um divisor de ´aguas para a descri¸c˜ao estat´ıstica da rota¸c˜ao estelar.

Figura 1.2: Esquema de determina¸c˜ao da velocidade rotacional de uma estrela pelo m´etodo das linhas espectrais. http://hsc.csu.edu.au/physics/options/astrophysics

1.1.2

A Rota¸c˜

ao Estelar depois dos trabalhos de Otto Struve

Como j´a frisamos no in´ıcio do Cap´ıtulo, a rota¸c˜ao ´e um dos parˆametros mais impor-tantes no estudo da evolu¸c˜ao estelar. Ela ´e importante para descrever uma variedade de quest˜oes em Astrof´ısica Estelar e nos fornece importantes informa¸c˜oes sobre intera¸c˜oes de mar´e gravitacional em bin´arias, magnetismo estelar, assim como a transferˆencia de momentum angular ou desacelera¸c˜ao devido a planetas ou efeito magn´etico. A rota¸c˜ao influencia e acompanha toda a vida da estrela, do nascimento ( onde h´a a distribui¸c˜ao do momento angular ainda na fase de proto-estrela), at´e a morte, onde a massa desempenha um papel importante.

(18)

entanto, seria necess´ario um avan¸co muito grande na tecnologia dos telesc´opios ´opticos para se obter uma amostra estatisticamente satisfat´oria utilizando-se o segundo m´etodo.

Figura 1.3: Velocidade de rota¸c˜ao projetada (v sini), onde i ´e o ˆangulo entre o eixo de rota¸c˜ao e a linha de visada.

O m´etodo que utiliza as linhas espectrais tem se mostrado bem ´util na determina¸c˜ao de velocidades projetadas de estrelas do tipo espectral O, B, A e F. Entretanto, as medidas dev sinis´o podem ser utilizadas de uma forma estat´ıstica, j´a que o ˆangulo de inclina¸c˜ao

i ´e, em geral, desconhecido. Uma contribui¸c˜ao importante nesse sentido foi feita por Struve (1945), que propˆos que esses ˆangulos estariam distribu´ıdos de forma aleat´oria. Tal afirma¸c˜ao consiste em uma das mais importantes no estudo da rota¸c˜ao estelar. Usando esse argumento, pode-se ent˜ao relacionar a m´edia da velocidade projetada < v sini >

para um grupo de estrelas com a m´edia da velocidade equatorial< v >, tendo em conta que o valor m´edio de < sini > ´e igual a π/4 (ver Chandrasekhar e M¨unch, 1950; Gray, 1992; e, mais recentemente, Silva, Soares e de Freitas, 2014).

Como vimos, as observa¸c˜oes nos fornecem somente as velocidades rotacionais proje-tadas, mas estamos interessados nas velocidades equatoriais das estrelas. Nessa mesma linha, Chandrasekhar e M¨unch (1950) sugeriram duas equa¸c˜oes integrais para descrever a distribui¸c˜ao de velocidades rotacionais verdadeirasf(x) e projetadasφ(y), ondey =x sini

(19)

f(x) = 2 πx 2 ∞ Z x

φ(y)dy

y2(y2x2)1/2 (1.1)

φ(y) =y

Z

y

f(x)dx

x(x2y2)1/2 (1.2)

Outra quest˜ao intrigante e que possui in´umeras controv´ersias na Astrof´ısica Estelar est´a relacionada com a natureza estat´ıstica que controla a velocidade de rota¸c˜ao, de ma-neira que podemos nos perguntar sobre algumas quest˜oes como: qual ´e a distribui¸c˜ao que controla as velocidades rotacionais? Como foi distribu´ıdo o momento angular da nuvem que formou as estrelas? Ser´a que esta distribui¸c˜ao ´e oriunda de uma lei f´ısico-estat´ıstica?

´

E preciso assim fazer uma outra pergunta: Existiria uma mecˆanica estat´ıstica que melhor descreve a distribui¸c˜ao da rota¸c˜ao estelar? Uma poss´ıvel solu¸c˜ao dada a esta per-gunta foi proposta por Soares et al. (2006) quando sugeriu uma fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao para velocidade de rota¸c˜ao estelar baseada na entropia generalizada de Constantino Tsal-lis (1988). Essa entropia, dita n˜ao-extensiva, surgiu como uma poss´ıvel generaliza¸c˜ao da entropia de Boltzmann-Gibbs. Soares et al. (2006) levaram em conta os argumentos propostos por Silva et al. (1998) para uma generaliza¸c˜ao da fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao de velocidades de Maxwell-Boltzmann.

A entropia proposta por Boltzmann-Gibbs ´e muito bem utilizada para explicar o com-portamento de divessos sistemas f´ısicos, por´em ela falha em um n´umero consider´avel de outros sistemas, tamb´em conhecidos como sistemas complexos. Nesse sentido, surgiram v´arias entropias que buscavam investigar os casos em que a teoria de Boltzmann-Gibbs n˜ao era satisfat´oria. Dentre elas podemos citar, al´em da n˜ao-extensiva de Tsallis (1988), a de Druyvenstein (1930, 1934), Renyi (1970), Sharma-Mittal (1975), Abe (1997), Papa (1998), Borges e Roditi (1998), Landsberg e Vedral (1998), Anteneodo e Plastino (1999), Frank e Daffertshofer (1999) e Kaniadakis (2001).

1.1.3

A rela¸c˜

ao rota¸c˜

ao-atividade-idade

(20)

A cromosfera solar ´e uma regi˜ao da atmosfera solar situada um pouco acima da fotos-fera e que possui uma baix´ıssima densidade. J´a a fotosfotos-fera solar ´e uma regi˜ao de cerca de 330 km de espessura e temperatura de aproximadamente 5785 K, sendo a camada vis´ıvel do Sol. A envolt´oria convectiva representa 15% do raio solar, ´e uma regi˜ao de temperatura relativamente baixa (2 milh˜oes ◦

C), onde o plasma por convec¸c˜ao transporta energia no interior solar. A Fig 1.4 mostra de forma esquem´atica, a estrutura solar.

Figura 1.4: Estrutura solar. Figura retirada de: http://astro.if.ufrgs.br/esol/esol.htm

A rota¸c˜ao afeta n˜ao apenas a atmosfera, mas de forma substancial o interior estelar. Fenˆomenos turbulentos na envolt´oria convectiva provocam uma circula¸c˜ao meridional cau-sando o efeito conhecido como rota¸c˜ao diferencial. Deste modo, a envolt´oria convectiva segue uma rota¸c˜ao diferencial, enquanto que a envolt´oria radiativa parece seguir uma rota¸c˜ao de corpo r´ıgido, (ver Faulkner et al., 1968; Kosovichev et al., 1997), como ilus-trado para o Sol na Fig 1.1.

(21)

Algo que tamb´em influencia bastante a rota¸c˜ao estelar e outros mecanismos estelares principalmente o d´ınamo, ´e a localiza¸c˜ao das envolt´orias convectiva e radiativa e suas es-pessuras. A Fig 1.5 mostra que existe uma invers˜ao na localiza¸c˜ao dessas zonas, e a massa da estrela ´e que define essa invers˜ao e tamb´em a espessura das envolt´orias (de Freitas, 2006).

A diferen¸ca na forma como gira a zona radiativa (quase como corpo r´ıgido) e a zona convectiva (diferencial ), faz existir uma regi˜ao de transi¸c˜ao de rota¸c˜ao. Essa regi˜ao onde existe essa brusca transi¸c˜ao na velocidade de rota¸c˜ao entre um interior que gira como um corpo r´ıgido e a envolt´oria convectiva, onde o plasma gira mais r´apido no equador, ´e determinada por uma fina camada imediatamente abaixo da envolt´oria convectiva deno-minada detachocline4 (ver Silva (2006)). Na Fig 1.4 essa zona de transi¸c˜ao ´e representada

como a linha preta entre a zona convectiva e a zona radiativa.

Figura 1.5: As zonas radiativa e convectiva em fun¸c˜ao da massa. http://www.sun.org

A rota¸c˜ao tamb´em causa um efeito levitacional onde as estrelas apresentam luminosi-dade intr´ınseca e temperatura efetiva menores. A luminosiluminosi-dade tamb´em ´e um importante parˆametro em astrof´ısica. Tal fato gera fortes consequˆencias na determina¸c˜ao da posi¸c˜ao das estrelas no Diagrama HR5 (de Freitas, 2006).

4Otachocline´e uma camada de transi¸c˜ao entre dois regimes de rota¸c˜ao distintos: O envelope

convec-tivo que gira de forma diferencial e o interior radiaconvec-tivo que rotaciona como um corpo r´ıgido.

5HR significa Hertzsprung-Russel em homenagem ao astrˆonomo dinamarquˆes Ejnar Hertzsprung e o

(22)

O diagrama HR ´e um gr´afico que relaciona a luminosidade de algumas estrelas com as temperaturas que elas apresentam, esse diagrama pode relacionar outros pares de parˆametros. Ele ´e o mapa que orienta todo astrof´ısico. A figura 1.6 mostra um exemplo de diagrama HR.

Figura 1.6: Diagrama-HR; Foto do Observat´orio Nacional: http://www.on.br/ead2013/

Outro trabalho de destaque ´e o de Schatzman (1962), que fez um importante estudo so-bre o papel da rota¸c˜ao na atividade magn´etica estelar. Como mencionamos anteriormente, a rota¸c˜ao estelar tem um papel importante no comportamento da atividade magn´etica da estrela. Schatzman mostrou que a atividade magn´etica em uma estrela com rota¸c˜ao para cada regi˜ao do diagrama-HR depende da profundidade da envolt´oria convectiva.

No contexto da estat´ıstica, destaca-se os trabalhos de Su-Shu Huang (1965, 1967) que utilizando as fun¸c˜oes de distribui¸c˜ao de Chandrasekhar e M¨unch (1950), analisou o com-portamento da rota¸c˜ao para estrelas da sequˆencia principal com foco nas consequˆencias pertencentes `a perda de momento angular devido a presen¸ca de planetas6.

6

(23)

Esses importantes estudos (Su-Shu Huang, 1965, 1967) e outros trabalhos decorrentes, proporcionaram uma descri¸c˜ao estat´ıstica das distribui¸c˜oes devsini para diferentes tipos espectrais, mostrando que o mecanismo de desacelera¸c˜ao, que ´e fun¸c˜ao da idade da estrela, tem um comportamento que muda de perfil com o tipo espectral. O autor considerou que a taxa de perda de momento angular poderia ser descrita como uma lei de potˆencia:

dx dt =−

X

ajxj (1.3)

onde xrepresenta qualquer grandeza f´ısica que n˜ao se conserva (de Freitas, 2006).

Outro trabalho muito importante no ˆambito astrof´ısico foi o de Skumanich (1972). Ele mostrou em seu trabalho, que medidas de rota¸c˜ao e atividade para as Hyades e Pleia-des, efetuadas anos antes por Kraft (1967), eram consistentes com a rela¸c˜ao vrot ∝t−1/2.

Esta rela¸c˜ao ´e bem comportada para teorias simples de perda de momento angular em que o vento ionizado ´e acoplado `a estrela pelo campo magn´etico. Alguns autores como Soderblom (1983), Barryet al.. (1987) e Soderblom et al. (1991) chegaram a resultados parecidos para estrelas do tipo solar, entretanto com leis de potˆencia apresentando expo-entes diferexpo-entes. Em seus trabalhos, eles encontraram expoexpo-entes que iam de -1/2 (rela¸c˜ao de Skumanich) a -4/3. Mais recentemente, Pace e Pasquini (2004) argumentaram que essas leis de potˆencia n˜ao representam o perfil da curva que relaciona atividade com idade de estrelas an˜as com tipo espectral F em aglomerados abertos.

Podemos destacar tamb´em o trabalho de de Freitas e De Medeiros (2013) que prop˜oe uma nova abordagem, baseada na Mecˆanica Estat´ıstica n˜ao-extensiva de Tsallis (Tsallis, 1988), para o estudo da rela¸c˜ao rota¸c˜ao-idade estelar. Nesse sentido os autores generali-zam a lei de decaimento usando a estat´ıstica n˜ao-extensiva. Com isso, em seu modelo, os mesmos levam em conta fatores que s˜ao de suma importˆancia quando falamos de rota¸c˜ao estelar (e.q.: geometria do campo magn´etico, taxa de perda de massa e temperatura co-ronal) e que n˜ao s˜ao poss´ıveis de serem tratados no ˆambito da estat´ıstica de BG.

´

(24)

1.2

Decaimento rotacional como uma consequˆ

encia

da a¸c˜

ao do freio magn´

etico

Os dados observacionais mostram que as estrelas diminuem sua rota¸c˜ao ao longo do tempo. Um dos mecanismos propostos para explicar esse efeito ´e a perda de momento angular por vento estelar magn´etico (Nariai, 1969).

As estrelas possuem em geral um campo magn´etico remanescente da nuvem que a criou ou que foi desenvolvido posteriormente por algum efeito processual de d´ınamo. Com exce¸c˜ao do nosso Sol, a configura¸c˜ao do campo magn´etico n˜ao ´e bem conhecida, fato esse devido principalmente `a distˆancia e `as limita¸c˜oes instrumentais.

A Fig 1.7, retirada de Burlaga e Vin˜as (2004), ´e um bom exemplo da correla¸c˜ao entre o campo magn´etico e o vento estelar. Ela faz referˆencia ao comportamento do vento solar na fase de decl´ınio do ciclo de atividade solar 23. ´E poss´ıvel ver que os picos de maior intensidade do campo magn´etico coincidem com os picos de maior velocidade dos ventos.

Figura 1.7: No painel (a) representando as flutua¸c˜oes da velocidade do vento solar no per´ıodo do ano de 2003 a 1 UA (Unidade Astronˆomica) pelo telesc´opio espacial ACE (Advanced Composition Explorer). No painel (b) est˜ao representados as flutua¸c˜oes da intensidade do campo magn´etico tamb´em medidas sob as mesmas condi¸c˜oes que a veloci-dade do vento. Burlaga e Vin˜as (2004)

(25)

com a rota¸c˜ao tem um papel importante na perda de quantidade de momento angular (de Freitas, 2009).

Figura 1.8: Linhas do campo magn´etico ao redor da estrela Tau-Scorpii. Em azul, as linhas do campo aberto que fazem o fluxo de part´ıculas provenientes do vento estelar escaparem para fora da estrela. Em branco, as linhas de campo fechadas. Figura retirada de Donatiet al. (2006).

A perda de massa ´e um processo comum durante a evolu¸c˜ao da estrela. Esse processo pode ocorrer de uma forma s´ubita e catastr´ofica - na explos˜ao de uma supernova, por exemplo - como tamb´em pode ocorrer de uma forma mais lenta e cont´ınua atrav´es dos ventos estelares (de Freitas, 2009). Pode ocorrer ainda transferˆencia de massa de uma estrela para outra em um sistema bin´ario de contato.

As primeiras evidˆencias da perda de massa nas estrelas remontam ao s´eculo XVI, com as observa¸c˜oes de uma supernova pelo famoso astrˆonomo Tycho Brahe7 em 1572 e a

pos-terior com as primeiras observa¸c˜oes da estrela vari´avel P Cygni. Mas somente a partir de 1920 e 1930 as observa¸c˜oes come¸caram a ser feitas de forma sistem´atica.

Essas primeiras observa¸c˜oes eram feitas de forma que imagens obtidas em ´epocas di-ferentes mostravam cascas concˆentricas em expans˜ao `a medida do tempo, configurando

7Tycho Brahe apenas observou a supernova. Ele n˜ao creditou o fenˆomeno `a perda de massa estelar

(26)

assim uma eje¸c˜ao. O que ocorre ´e que alguns mecanismos fornecem energia `a mat´eria oriunda da superf´ıcie estelar, essa mat´eria ent˜ao ´e acelerada at´e superar a velocidade de escape da estrela, configurando assim uma perda de massa para o espa¸co (ver Maciel, 2005).

O fenˆomeno dos ventos estelares pode ocorrer tanto em estrelas an˜as, como no Sol por exemplo, como tamb´em em estrelas gigantes vermelhas e supergigantes quentes. A perda de massa por vento estelar varia muito com a massa da estrela. No Sol essa perda ´e muito pequena, algo em torno de ˙M 10−14

M⊙/ano, onde ˙M8 ´e taxa de perda de massa. J´a em estrelas mais massivas (M > 20M⊙) essa taxa ´e bem significativa, che-gando a 10−5M

⊙/ano, ainda na sequˆencia principal. Al´em do tipo espectral, o est´agio evolutivo da estrela tamb´em influencia na perda de massa. Em estrelas menos massivas (M < 10M⊙) quando em seus est´agios finais de sua evolu¸c˜ao, podem apresentar uma taxa de perda de massa de 10−6M

⊙/ano ou at´e maiores.

Um dos mecanismos respons´aveis pela perda de massa ´e o chamado ventos coronais

(Maciel, 2005). Esse mecanismo ocorre em estrelas relativamente frias da sequˆencia prin-cipal, com tipo espectral F5 ou acima, e pode tamb´em ocorrer em algumas gigantes, pois essas estrelas apresentam cromosferas e coroas semelhantes ao Sol. Os ventos coronais s˜ao produzidos pela press˜ao do g´as nesta regi˜ao onde a temperatura chega pr´oximo de 106K, no caso do Sol.

Os ventos estelares tamb´em podem ser gerados por ondas sonoras(Maciel, 2005). Es-sas ondas s˜ao geradas por movimentos convectivos na regi˜ao subfotosf´erica, que criam ondas ac´usticas que se propagam ao longo da atmosfera.

Outro mecanismo ´e o causado pelapoeira circunstelar (Maciel, 2005). Esse fenˆomeno ocorre em estrelas gigantes frias que podem condensar diversas esp´ecies de gr˜ao em suas fotosferas e envelopes. Desse modo, a a¸c˜ao da press˜ao da radia¸c˜ao estelar pode produzir elevadas taxas de perda de massa, que ocorre pela transferˆencia da quantidade de movi-mento do campo de radia¸c˜ao para os gr˜aos, e dos gr˜aos para o g´as circunvizinho.

Em s´ıntese, a perda de massa afeta significativamente a evolu¸c˜ao das estrelas9,

princi-palmente em estrelas mais massivas, pois como vimos, essas apresentam uma maior taxa de perda de massa. Outro parˆametro importante que ´e afetado por essa perda ´e a lumi-nosidade e, consequentemente, as escalas de tempo evolutivo, pois sabemos que a massa ´e

8dM/dtdescreve quanto material ´e perdido pela estrela por unidade de tempo.

9Para estrelas de pequena massa e na sequˆencia principal a perda de massa n˜ao influencia de forma

(27)

o principal parˆametro que influencia a evolu¸c˜ao estelar (ver Lamers et al. (1999); Castor

et al. (1975); Nariai (1969); Maciel (2005))

Que argumentos poderiam sustentar a tese de que os ventos magn´eticos seriam res-pons´aveis por tal fenˆomeno de desacelera¸c˜ao rotacional? Segundo Nariai (1969), embora o vento das estrelas da sequˆencia principal n˜ao influencie fortemente a evolu¸c˜ao estelar, devido `as altas velocidades de eje¸c˜ao de massa, da ordem de centenas de km/s, depen-dendo da classe espectral, ele provoca torques externos que podem ser respons´aveis pelo decaimento rotacional. Segundo Castor et al. (1975), podemos atribuir a taxa de perda de massa e a velocidade terminal que corresponde a velocidade do vento atingida assinto-ticamente a grandes distˆancias da estrela, como os mecanismos que controlam os ventos estelares.

Nesse sentido destacamos o trabalho de de Freitas e De Medeiros (2013) que anali-saram a evolu¸c˜ao rotacional de estrelas F e G limitadas em idade e massa e dentro da vizinhan¸ca solar. Eles atribu´ıram o ´ındice entr´opicoq, extra´ıdo do formalismo de Tsallis, como sendo o parˆametro que descreve o n´ıvel do freio magn´etico e tamb´em associaram este parˆametro com o expoente da teoria do d´ınamo (a) e a topologia do campo magn´etico (N) atrav´es da rela¸c˜ao q = 1 + 4aN/3.

Para construir o cen´ario ideal para descrever, investigar e correlacionar todos esses fenˆomenos ´e necess´ario um background te´orico da mecˆanica estat´ıstica que possa nos dar um caminho l´ogico entre a a¸c˜ao do freio magn´etico e o perfil da distribui¸c˜ao da velocidade rotacional. Deste modo, como o expoente do decaimento rotacional afeta a distribui¸c˜ao? Ou seja, seria o perfil da distribui¸c˜ao um reflexo da a¸c˜ao do freio magn´etico? Ele pode ser quantificado estudando apenas a distribui¸c˜ao da velocidade sem ser necess´ario fazer uso da idade das estrelas? Na pr´oxima se¸c˜ao iremos destacar dois poss´ıveis grandes cen´arios da mecˆanica estat´ıstica, um no ˆambito extensivo e outro no ˆambito n˜ao-extensivo, que podem preencher essa lacuna.

1.3

Mecˆ

anica Estat´ıstica: Ser ou n˜

ao ser (n˜

ao)-extensiva

1.3.1

Mecˆ

anica estat´ıstica de Boltzmann-Gibbs

(28)

termo-dinˆamico do sistema ´e o estado macrosc´opico10 no qual a entropia ´e m´axima (Boltzmann,

1872).

Desse modo, a Termodinˆamica descreve os efeitos macrosc´opicos do sistema formado por in´umeros entes microsc´opicos que est˜ao sujeitos `as leis fundamentais da Mecˆanica Cl´assica (leis de Newton) ou da Mecˆanica Quˆantica. Como esse n´umero de entes mi-crosc´opicos ´e muito grande, utiliza-se como ponte entre os micro e os macro estados uma teoria probabil´ıstica: Mecˆanica Estat´ıstica. Sendo assim, tem-se que a mecˆanica estat´ıstica ´e uma teoria probabil´ıstica que estabelece uma conex˜ao entre os dois n´ıveis de descri¸c˜ao: o macrosc´opico (Termodinˆamica) e o microsc´opio (Mecˆanica).

O conjunto de microestados compat´ıveis com os valores das vari´aveis macrosc´opicas do sistema, como energia interna U, o volume V e o n´umero de part´ıculas N constituem o macroestado ou estado macrosc´opio do sistema. Isso ´e consider´avel, pois possibilita o estudo do comportamento mais geral do sistema, que em geral ´e mais importante, em vez do tratamento de maneira individual de cada part´ıcula do sistema. O que torna oportuna a teoria probabil´ıstica, pois o n´umero de part´ıculas ´e muito grande.

Um dos pilares do trabalho de Boltzmann-Gibbs ´e a aditividade da entropia, ou seja, o fato queSAB =SA+SB. Dessa forma ´e que Boltzmann e posteriormente Gibbs, partindo

dos conceitos de Clausius, formularam o que chamamos hoje de Mecˆanica Estat´ısica de Boltzmann-Gibbs ou do equil´ıbrio.

A Mecˆanica Estat´ıstica de Boltzmann-Gibbs foi formulada a mais de um s´eculo, e desde ent˜ao tem tido um sucesso not´avel para uma enorme variedade de sistemas. A entropia foi termodinamicamente formulada por Clausius no s´eculo XIX. Posteriormente, Boltzmann e Gibbs desenvolveram a teoria da Mecˆanica Estat´ıstica, com a entropia ocupando um papel central. Eles associaram a ideia termodinˆamica de entropia com uma abordagem probabil´ıstica do sistema onde se tem microestadosi com probabilidade pi . Com efeito,

a entropia, na forma de Shannon, ´e

SBG =−k W

X

i=1

pilnpi (1.4)

onde k ´e uma constante positiva (que, sem perda de generalidade, consideramos igual `a unidade), W ´e a quantidade de microestados.

10Quando se fala em estado microsc´opico (microestado) de um sistema de N part´ıculas, fala-se dos

(29)

Quando se tem equiprobabilidade dos microestados,pi = W1 , (hip´otese de

equiproba-bilidade) a entropiaSBG pode ser expressa como

SBG =klnW (1.5)

onde k ´e uma constante positiva e W ´e o n´umero de microestados compat´ıveis com o estado microsc´opico do sistema isolado. Esta equa¸c˜ao, conhecida como o princ´ıpio de Boltzmann, ´e uma das express˜oes fundamentais da Mecˆanica Estat´ıstica (ver Salinas, 2013).

Apesar da estat´ıstica de Boltzmann-Gibbs representar bem muitos sistemas na na-tureza, existem outros tipos de sistemas (muitas vezes considerados dentro da classe de sistemas complexos) que apresentam desvios em rela¸c˜ao `as predi¸c˜oes desse formalismo. Exemplos t´ıpicos s˜ao sistemas com intera¸c˜oes de longo alcance (por exemplo, gravitaci-onais), sistemas n˜ao-lineares no limiar do caos, turbulˆencia, sistemas granulares, entre outros. Nesse sentido, se faz necess´ario uma maneira alternativa de descrever a estat´ıstica do sistema.

No geral, o maior problema em usar tal Mecˆanica Estat´ıstica para descrever o com-portamento da distribui¸c˜ao da rota¸c˜ao est´a na homogeneidade do espa¸co de fase. Em outras palavras, existe um equil´ıbrio entre a cria¸c˜ao e a destrui¸c˜ao de rota¸c˜ao elevadas e, por consequˆencia, n˜ao h´a produ¸c˜ao de cauda de altas energia t˜ao comum no cen´ario da rota¸c˜ao estelar (e.g.: Soares et al. 2006, de Freitas 2006 e Silvaet al. 2013). A dinˆamica do espa¸co de fase no contexto da rota¸c˜ao estelar ´e essencialmente heterogˆenea, ou seja, a estrutura hier´arquica desse espa¸co de fase obedece a um modelo de estat´ıstica mais com-plexo e que consegue descrever esses estados quase ou meta-est´aveis. Dentre as in´umeras Mecˆanicas Estat´ısticas que descrevem sistemas fora do equil´ıbrio, est´a a Mecˆanica Es-tat´ısitica N˜ao-Extensiva de C. Tsallis proposta em 1988.

1.3.2

Mecˆ

anica estat´ıstica n˜

ao-extensiva de C. Tsallis

(30)

que apresentem geometria fractal, ou que sejam sens´ıveis `as condi¸c˜oes inicias, ou ainda que possuam mem´oria de longa dura¸c˜ao. Desse modo foi que em 1988, o f´ısico greco-brasileiro Constantino Tsallis propˆos um novo formalismo que seria uma generaliza¸c˜ao da entropia de BG.

Inspirado por sistemas multifractais, Tsallis (1988) apresentou uma generaliza¸c˜ao para a entropia de BG. Para isso ele violou um dos princ´ıpios da mecˆanica estat´ıstica de BG: a aditividade da entropia.

Sq(A+B) = Sq(A) +Sq(B) + (1−q)Sq(A)Sq(B) (1.6)

Assim a entropia generalizada por Tsallis fica da forma

Sq =k

1PWi=1pqi

q1 (1.7)

onde q11 ´e denominado ´ındice entr´opico e mede o grau de n˜ao-extensividade do

sis-tema. O Sq ´e, dessa forma, a entropia generalizada, que difere da de BG por n˜ao ser

aditiva.

Refor¸ca-se que a Eq. (1.7) ´e uma generaliza¸c˜ao da entropia SGB e n˜ao uma

substi-tui¸c˜ao. Para q= 1 a entropia SGB ´e recuperada.

A equa¸c˜ao acima generaliza a entropia de BG e podemos recuper´a-la fazendo o limite em queq tende `a unidade. O ´ındice entr´opicoqmede o quanto n˜ao-extensivo ´e o sistema. Quanto mais diferente de 1, mais complexo ´e o sistema. O parˆametro mais importante na Mecˆanica Estat´ıstica n˜ao-extensiva ´e o ´ındice q. Moyano (2006) argumenta que sua implica¸c˜ao f´ısica vem do pr´oprio sistema em estudo, ou da classe de universalidade do sistema. Depois de in´umeras aplica¸c˜oes em diversos sistemas que englobam diversas ´areas do conhecimento, ´e acreditado que o valor deqpara um sistema espec´ıfico pode ser deter-minadoa priori. Tal argumento tem como pano de fundo a pr´opria origem dinˆamica da Mecˆanica Estat´ıstica. Ent˜ao podemos pensar que se existem in´umeros sistemas (simples) que obedecem `a Mecˆanica Estat´ıstica de BG, tamb´em devem existir in´umeros sistemas (complexos) que n˜ao obedecem tal mecˆanica.

Desse modo, conclu´ımos que o formalismo n˜ao-extensivo ´e o que se ajusta ao prop´osito deste trabalho, pois ´e o que melhor descreve sistemas de intera¸c˜ao de longo alcance (gra-vitacional, por exemplo), mem´oria de longa dura¸c˜ao (que tem a ver com auto grau de correla¸c˜ao) e fractalidade espacial. Em s´ıntese, temos uma teoria estat´ıstica muito

ro-11

(31)

busta e amplamente testada em diferentes sistemas f´ısicos e n˜ao-f´ısicos. Caber˜ao aos cap´ıtulos que seguem unir de forma l´ogica todos os pressupostos que emergem da teoria da rota¸c˜ao estelar e da mecˆanica estat´ıstica n˜ao-extensiva, assim como, verificar as im-plica¸c˜oes f´ısicas que surgem quando correlacionarmos essas diferentes vertentes por seus espec´ıficos parˆametros.

1.4

Plano de trabalho

Nosso trabalho consiste em propor uma nova distribui¸c˜ao q-Maxwelliana da veloci-dade rotacional projetada com v´ınculos f´ısicos oriundos da dinˆamica da rota¸c˜ao estelar. Para isso, teremos como pressuposto elaborar uma abordagem te´orica que possibilite uma correla¸c˜ao entre o expoente do decaimento rotacional (j) e o expoente da distribui¸c˜ao (q). No geral, tal v´ınculo f´ısico ´e advindo da teoria de perda da taxa de momentum angular pelo vento estelar magn´etico ou, em outras palavras, da teoria do freio magn´etico.

No Cap´ıtulo 2 ´e exposto o trabalho feito pelos autores Soareset al. (2006) que propu-seram uma nova fun¸c˜ao distribui¸c˜ao de velocidade baseada na estat´ıstica n˜ao-extensiva. Esta fun¸c˜ao, proposta por estes autores, consiste em uma generaliza¸c˜ao da fun¸c˜ao Maxwel-liana proposta por Deutsch (1970). Ainda no Cap´ıtulo 2, relacionamos as fun¸c˜oes q -Maxwellianas generalizadas, obtidas por Soareset al. (2006), com um parˆametro de freio proposto por de Freitas (2006). Esse autor, partindo dos trabalhos de Huang (1965 e 1967) elaborou uma generaliza¸c˜ao para a lei de Skumanich. Por fim, n´os iremos genera-lizar a fun¸c˜ao q-Maxwelliana utilizando v´ınculo advindo do parˆametro proposto por de Freitas (2006) denominado defator de freio.

No Cap´ıtulo 3, focamos nossa aten¸c˜ao na descri¸c˜ao detalhada da amostra de estrelas utilizadas em nosso trabalho. Tal amostra foi retirada da vers˜ao atualizada do cat´alogo

Geneva-Copenhagen Survey por Holmberg et al. (2007, 2009) com foco nos parˆametros estelares mais relevantes para o nosso trabalho, como: massa, metalicidade, idade e velo-cidade de rota¸c˜ao projetada (v sini). A sele¸c˜ao foi definida apenas por estrelas do tipo F e G com idades bem definidas.

No Cap´ıtulo 4, mostramos os resultados e discuss˜oes obtidos dos ajustes das nossas distribui¸c˜oes e as distribui¸c˜oes emp´ıricas. Al´em disso, mostraremos que existe uma de-pendˆencia entre os expoentesj e q acima mencionados.

(32)

Cap´ıtulo

2

Distribui¸c˜

ao

q

-Maxwelliana com v´ınculos

Nesse Cap´ıtulo teremos como objetivo modificar as q-Maxwellianas propostas inici-almente por Silva, Plastino e Lima (1998) e contextualizada para a rota¸c˜ao estelar por Soares et al. (2006). No geral, enquanto as Maxwellianas generalizadas propostas por Silva, Plastino e Lima (1998) tem como arcabou¸co te´orico a teoria cin´etica dos gases, a vers˜ao contextualizada de Soares et al. (2006) apresenta tamb´em como base central a quest˜ao da aleatoriedade dos eixos de rota¸c˜ao. No entanto, essa vers˜ao n˜ao traz `a tona outros elementos extra´ıdos do contexto da rota¸c˜ao estelar, tais como o decaimento ro-tacional pelo freio magn´etico, os efeitos da topologia do campo e/ou da lei do d´ınamo. Nossa proposta est´a inteiramente baseada nos efeitos desses parˆametros sobre o compor-tamento da distribui¸c˜ao emp´ırica da velocidade de rota¸c˜ao. Enfim, nossa hip´otese inicial est´a associada `a ideia de que o expoente do decaimento rotacional controla a dinˆamica do espa¸co de fase das velocidades rotacionais, ou seja, tal expoentej controla o perfil da distribui¸c˜ao que por sua vez depende do ´ındice entr´opico q, como veremos mais tarde.

2.1

Fun¸c˜

ao distribui¸c˜

ao

q

-Maxwelliana

No contexto da n˜ao-extensividade, as distribui¸c˜oes gaussianas das velocidades que le-varam Maxwell a usar uma exponencial ´e um caso particular de uma fam´ılia de leis de potˆencia. Essas s˜ao as q-exponenciais, expq(f)[1 + (1q)f]11q, ondef ´e uma fun¸c˜ao de vari´aveis aleat´orias1, que inclui a exponencial padr˜ao para o caso ondeq= 1. Esse

for-1Uma vari´avel aleat´oriadiscreta pode assumir valores em um conjunto finito. A fun¸c˜ao associada a

essa vari´avel ´e afun¸c˜ao de probabilidade, que obedece a duas regras:

p(x)≥0 (2.1)

X

p(x) = 1 (2.2)

(33)

malismo, diferentemente das fun¸c˜oes padr˜ao de BG, proporciona uma not´avel ponte com a Mecˆanica Estat´ıstica n˜ao-extensiva, onde asq-exponencias desempenham um papel fun-damental (assim como a exponencial faz dentro da estat´ıstica de Boltzmann-Gibbs). Se-gundo Limaet al. (2000), esta observa¸c˜ao permitiu aq-generaliza¸c˜ao do teorema cl´assico da equiparti¸c˜ao da energia produzindo tamb´em uma distribui¸c˜ao tipo lei de potˆencia em que o parˆametro vari´avel ´e a energia cin´etica. Por outro lado, Latora et al. (2002) tem usado a velocidade de rota¸c˜ao como um parˆametro vari´avel em seus trabalhos sobre dinˆamica de um sistema Hamiltoniano com N spins cl´assicos planares. Ao passo que Campaet al. (2001) tem usado os mesmos princ´ıpios no estudo de rotatores interagindo atrav´es de um potencial de alcance infinito.

Deutsch (1970) considerou a fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao para a magnitude de um vetor que tem orienta¸c˜ao aleat´oria. Por isto, ´e necess´ario encontrar a fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao de um escalar positivo ω (velocidade angular da estrela), que ´e a magnitude de um vetor~ω. As-sumimos que a distribui¸c˜ao de~ω ´e isotr´opica. Assumimos tamb´em que se for decomposta em eixos cartesianos, a distribui¸c˜ao de qualquer componente ´e independente dos outros.

Deutsch (1970) definiu Ω como uma quantidade adimensionaljω, ondej´e um parˆametro com dimens˜ao deω−1

, assim

~

Ω = Ωxˆi+ Ωyˆj + Ωzkˆ (2.6)

A probabilidade de que Ωxse encontre no intervalo [Ωx,Ωx+dΩx], Ωyem [Ωy,Ωy+dΩy]

e Ωz em [Ωz,Ωz +dΩz] ´e ent˜ao

F(Ω)d3Ω =f(Ωx)f(Ωy)f(Ωz)dΩxdΩydΩz (2.7)

com Ω = pΩ2

x+ Ω2y + Ω2z. ´E simples (ver Deutsch, 1970) mostrar que F(Ω) ´e a

distri-bui¸c˜ao Maxwelliana padr˜ao

F(Ω) = 4

πΩ

2exp(

−Ω2) (2.8)

Assim, ser˜ao relevantes as probabilidades em que a vari´avel assuma valores em determinados intervalos. Esses s˜ao calculados por meio dafun¸c˜ao densidade de probabilidade, que obedece as trˆes regras:

f(x)≥0 (2.3)

+∞

Z

−∞

f(x)dx= 1 (2.4)

b

Z

a

(34)

Dessa forma, podemos analisar o problema no ˆambito n˜ao-extensivo proposto por Tsal-lis (1988), modificando a hip´otese b´asica de independˆencia estat´ıstica entre a distribui¸c˜ao associada com as componentes de Ω. Como foi salientado por Silva, Plastino e Lima~ (1998), a independˆencia entre as trˆes componentes da velocidade n˜ao se mant´em em sis-temas de intera¸c˜ao de longo alcance, onde o car´ater n˜ao-extensivo ´e observado. Levando em conta tais argumentos, Silva, Plastino e Lima (1998) propˆos a seguinte generaliza¸c˜ao para Eq. (2.7):

F(Ω)d3Ω = expq(lnqf(Ωx) + lnqf(Ωy) + lnqf(Ωz))dΩxdΩydΩz (2.9)

onde aq-exponencial expq(f) e q-logaritmo lnq(f) s˜ao fun¸c˜oes definidas como

expq(f) = [1 + (1q)f]1/(1−q) (2.10)

lnq(f) =

f1−q1

1q (2.11)

nota-se que no limite q = 1, expq(f) e lnq(f) reproduzem as fun¸c˜oes exponenciais e

lo-gar´ıtmicas habituais recuperando a forma padr˜ao da Eq. (2.7).

A diferencia¸c˜ao parcial da q-log em rela¸c˜ao a Ωi ´e (ver Deutch., 1970)

∂lnqF

∂Ωi

= ∂

∂Ωi

(lnqfx+ lnqfy + lnqfz) (2.12)

desde que expq(lnq(f)) = lnq(expq(f)) =f, onde i=x, y, z. Equivalentemente,

Ωi

χ F′

(χ)

Fq(χ) =

∂ ∂Ωi

(lnqfi) (2.13)

onde χ=pΩ2

x+ Ω2y+ Ω2z eF

(χ) ´e a derivada total de F(χ).

Definindo Φ(χ)(1/χ)F′

(χ)/Fq(χ), podemos rescrever a Eq. (2.13) como

Φ(χ) = 1 Ωx

∂ ∂Ωx

(lnqfx) =

1 Ωy

∂ ∂Ωy

(lnqfy) =

1 Ωz

∂ ∂Ωz

(lnqfz) (2.14)

Esta equa¸c˜ao pode ser satisfeita apenas se todos os termos forem iguais a uma cons-tante que n˜ao cont´em os componentes Ω. Assim, podemos fazer Φ(χ) =γ, que ´e,

1 Ωi

∂ ∂Ωi

(35)

Assim, as solu¸c˜oes da Eq. (2.15) para f(Ωi) ser˜ao dados por

lnqfi =−

γΩ2

i

2 + lnqA, (2.16) OndeA ´e uma constante de integra¸c˜ao. Tomando a q-exponencial obtemos

f(Ωi) =

1 + (1q)

lnqA−

γΩ2

i

2

1/(1−q)

(2.17)

Definindo uma nova constante como 2

σ2 ≡

γ

1 + (1q) lnqA

= γ

A1−q (2.18)

onde o parˆametro σ ´e a largura da q-Maxwelliana, e substituindo na Eq. (2.17) resulta em

f(Ωi) =Aq

1(1q)Ω

2

i

σ2

1/(1−q)

. (2.19)

Aqui introduzimos o sub-´ındice q para explicitar a q-dependˆencia de A2. Eq. (2.19)

recupera os termos da exponencial padr˜ao da fun¸c˜ao Gaussiana para q= 1.

Ent˜ao a probabilidade de Ω esta no intervalo [Ω,Ω +dΩ] pode ser determinada como se segue:

F(Ω) =

Z

f(Ω)d3Ω

Colocando d3Ω = Ω2sinθdθdϕdΩ, para um dado Ω obtemos

Fq(Ω) =

Z Z AqΩ2

1(1q)Ω

2

σ2

1/(1−q)

sinθdθdϕ,

e ap´os a integra¸c˜ao n´os temos que

Fq(Ω) = 4πAqΩ2

1(1q)Ω

2

σ2

1/(1−q)

. (2.20)

Uma vez que a distribui¸c˜ao padr˜ao da velocidade verdadeira x para uma amostra de estrela ´e F(x) x2ex2

, como mostrado por Deutsch (1970), o padr˜ao da distribui¸c˜ao de velocidade de rota¸c˜ao projetadaxsini, para eixos orientados aleatoriamente, deve ser dado por φ(y) ye−y2

(ver Kraft., 1970), com y xsini. Agora, a q-distribui¸c˜ao φq(y)

deve reproduzir o padr˜ao, da mesma forma que Fq(x) recupera F(x) para o caso limite

(36)

q= 1.

Desta forma, propomos a seguinte fun¸c˜ao distribui¸c˜ao para as velocidades de rota¸c˜ao estelar observadas:

φq(y) = Bqy

1(1q)y

2

σ2

1/(1−q)

(2.21)

onde Bq ´e uma constante que depende deq e deve ser determinada analiticamente da

normaliza¸c˜ao deφq(y).

´

E visto na Fig 2.1 o comportamento da fun¸c˜ao q-Maxwelliana para diferentes valores deq. Nota-se a influˆencia do ´ındice entr´opicoqna cauda da distribui¸c˜ao. Nota-se tamb´em que existe uma descontinuidade na fun¸c˜ao para q = 0.5. Esse comportamento j´a havia sido observado por Tsallis (1988), onde o autor prop˜oe umacut-off na fun¸c˜ao para alguns valores de q menores que a unidade onde a fun¸c˜ao q-generalizada apresentaria um com-portamento at´ıpico. J´a na Fig 2.2 pode-se ver a compara¸c˜ao entre a fun¸c˜ao Maxwelliana padr˜ao e a fun¸c˜aoq-generalizada q-Maxwelliana.

Figura 2.1: Fun¸c˜ao distribui¸c˜ao q-Maxwelliana para diferentes valores deq.

´

(37)

Ressaltamos que as vari´aveisypresentes naq-Maxwelliana s˜ao aleat´orias (estoc´asticas). No contexto do nosso trabalho, essas vari´aveis obedecem uma lei determin´ıstica que est´a associada aos efeitos do freio magn´etico durante a evolu¸c˜ao estelar na sequˆencia principal. Nesse sentido, se faz necess´ario incluir esses efeitos que dependem do tempo. Na se¸c˜ao posterior iremos extrair o parˆametro que engloba tais efeitos.

Figura 2.2: Comparativo entre a fun¸c˜ao Maxwelliana e a q-Maxwelliana para diferentes valores deq.

2.2

Um novo elemento no contexto: O fator de freio

generalizado

O v´ınculo f´ısico extra´ıdo do cen´ario da rota¸c˜ao estelar est´a relacionado com o decres-cimento (ou perda) da rota¸c˜ao com a idade. Tal comportamento depende da massa da estrela e existem v´arias leis de freio na literatura, dentre elas podemos destacar a lei de Skumanich (1972), Barryet al. (1987), Soderblom et al. (1991), Pace e Pasquini (2004), e a forma generalizada obtida do contexto n˜ao-extensivo proposta por de Freitas e De Medeiros (2013).

(38)

derivada de uma s´erie de potˆencia de uma grandeza que decai com o tempo; 2) encontrou uma distribui¸c˜ao de frequˆencia da velocidade rotacional projetada, utilizando as distri-bui¸c˜oes q-Maxwelliana propostas por Soares et al. (2006), para a lei de Skumanich; 3) obteve distribui¸c˜oes te´oricas de rota¸c˜ao que foram comparadas aos dados observacionais.

Nosso trabalho consiste em um generaliza¸c˜ao desse fator de freio. Enquanto de Freitas (2006) utilizou o fator de freio apenas para a lei de Skumanich, iremos generaliz´a-lo para qualquer lei de decaimento.

Segundo Huang (1967) e, mais recentemente, de Freitas (2006), a taxa de diminui¸c˜ao do momento angular de uma dada estrela pode ser descrita por uma lei de potˆencia do tipo:

dx

dt =−a0−a1x−a2x

2

−a3x3−...

| {z }

n vezes

. (2.22)

O parˆametro adimensional x ´e uma rela¸c˜ao entre v sini e seu valor mais prov´avel

Vm =< vrot >. De forma geral, se j > 1 a distribui¸c˜ao de y desaparece em y = 0. Por

outro lado, se 0j 1 a distribui¸c˜ao assume um valor finito em y= 0, devido `a rota¸c˜ao de algumas estrelas serem muito baixas. Isto equivale a dizer que, para um caso j > 1, as distribui¸c˜oes te´oricas tem um m´aximo em y com uma certa distˆancia ∆y da origem que depende do fator de freio. Os dados observacionais revelam que as distribui¸c˜oes de rota¸c˜ao para estrelas simples, no sentido das F at´e K, tendem a deslocar tal pico para baixas velocidades; da mesma forma, a cauda da distribui¸c˜ao tamb´em se desloca neste sentido, como mostra Huang (1967).

Desse modo, a Eq. (2.22) denota, para uma determinada dimens˜ao de x, a n˜ao con-serva¸c˜ao da grandeza f´ısica considerada, seja ela por exemplo, o momento angular, a massa, a velocidade rotacional ou fluxo cromosf´erico. Os trˆes primeiros termos da s´erie foram estudados por Huang (1965 e 1967) supondo uma rota¸c˜ao de corpo r´ıgido para a estrela, que os eixos de rota¸c˜ao s˜ao aleat´orios e que as velocidades rotacionais sejam baixas para que o efeito da cauda da distribui¸c˜ao presente para grandes velocidades n˜ao afete a estrutura da fun¸c˜ao. Nesse sentido, cada caso proposto por Huang tem por objetivo definir a forma como o fator de freio se comporta na distribui¸c˜ao da velocidade rotacional projetaday, considerando que

y=xsini, (2.23)

ondei denota o ˆangulo de inclina¸c˜ao com rela¸c˜ao `a linha de visada. Com isso, de Freitas (2006) partindo da Eq. (2.22) e escolhendo um certo termo da s´eriexj com

dxj

dt =−ajx

j

(39)

obteve uma express˜ao geral para determinar o fator de freio xj, dada por:

xj = [(j−1)ajt]

1 1

−j, j 6= 1. (2.25)

O passo seguinte foi, partindo das Eqs. (2.22) e (2.24), encontrar uma express˜ao para

xcomo uma fun¸c˜ao da condi¸c˜ao inicial xa e do fator de freioxj:

dx dt =

dx dxj

dxj

dt , (2.26)

e com isso, para cada valor de j = 0,1 e 2, obt´em-se os casos descritos por Huang. Substituindo as Eqs. (2.22) e (2.24) chega-se a:

x

Z

xa

dx xj =

xj

Z dxj

xjj . (2.27)

Deste modo, a Eq. (2.27) denota, para cada valor de j, uma determinada equa¸c˜ao para o parˆametro inicial xa como uma fun¸c˜ao do fator de desacelera¸c˜ao e do parˆametro

x. De posse dexa e da fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao q-maxwelliana, o autor obteve uma fun¸c˜ao

distribui¸c˜ao da velocidade rotacional projetada, que de maneira geral ´e expressa como

φ(y, xj) = y

Z

y

f(x, xj)dx

x(x2y2)1/2

Nesse contexto, de Freitas (2006), em sua disserta¸c˜ao de mestrado, define o fator de freio para a lei de Skumanich, dada por:

dx3

dt =−a3x

3

3, (2.28)

e que foi extra´ıda da s´erie proposta por Huang (1965 e 1967). O autor procurou, com base nos casos desenvolvidos por Huang (1967), obter uma equa¸c˜ao parax3 como uma fun¸c˜ao

do tempo. Para isso, usando a Eq. (2.28), ele obteve uma equa¸c˜ao de decaimento em t

que pode ser comparada a lei de Skumanich, a menos de uma constante. Deste modo, temos que:

x3 =

1

2a3

t−0.5. (2.29)

Recorrendo a Eq. (2.27), de Freitas (2006) obteve uma equa¸c˜ao para x em fun¸c˜ao do fator de desacelera¸c˜ao x3 dada por:

1

x2 =

(40)

Desta equa¸c˜ao pode-se encontrar dxdx3, que juntamente com a Eq. (2.28) satisfaz a Eq. (2.26). O autor partiu da Eq. (2.30) e expressou xa como uma fun¸c˜ao de x e x3

para tornar a distribui¸c˜ao q-maxwelliana, expressa pela Eq. (2.8), uma fun¸c˜ao do tempo atrav´es da inclus˜ao do parˆametrox3. Assim, temos que

xa =

x3x

(x2 3−x2)

1/2. (2.31)

2.3

A fun¸c˜

ao de distribui¸c˜

ao

q

-Maxwelliana

Skuma-nichiana

A Eq. (2.31) ´e o fator de freio obtido por de Freitas (2006). J´a a Eq. (2.20) representa aq-Maxwelliana para as velocidades verdadeiras. De acordo com o contexto do presente trabalho, essa distribui¸c˜ao ´e v´alida apenas para t = 0. Para introduzir a dependˆencia temporal ´e necess´ario substituirxa na equa¸c˜ao abaixo

Fq(xa) = 4πAqx2a

1(1q)x

2

a

σ2

1/(1−q)

(2.32)

Assim, escolhendo o caso particular j = 3, i.e., a lei de Skumanich, n´os obtemos uma nova q-distribui¸c˜ao que depende do fator de freio x3, dada por

Fq(x, x3) = 4πAq

x2 3x2

x2 3−x2

1(1q) x

2 3x2

σ2(x2 3−x2)

1/(1−q)

. (2.33)

Vale ressaltar quexa representa a vari´avel aleat´oria da nossa nova fun¸c˜ao distribui¸c˜ao.

Ela ´e fun¸c˜ao da velocidade verdadeirax e do fator de freio x3. O xa, portanto, ir´a fazer

o papel do Ω da equa¸c˜ao q-Maxwelliana proposta por Soares et al. (2006). Com base na Eq. (2.33), que representa a velocidade real, levando em conta a considera¸c˜ao feita por Deutsch (1970) e o algebrismo seguido para obter a equa¸c˜ao acima, n´os propomos a seguinte distribui¸c˜ao para a velocidade projetada:

Φq(y, x3) = Bq

x3y

(x2 3−y2)

1/2

1(1q) x

2 3y2

σ2(x2 3−y2)

1/(1−q)

(2.34)

(41)

Figura 2.3: Comparativo entre as fun¸c˜oes distribui¸c˜oes Maxwelliana padr˜ao, q -Maxwelliana e a q-Maxwelliana com v´ınculo para a lei de Skumanich (j = 3). Escala arbitr´aria. Usandoq = 1.5. Fator de freio xj = 20.

Figura 2.4: q-Maxwelliana com v´ınculo (para a lei de Skumanich) para diferentes valores deq. x3 = 20

(42)

Figura 2.5: q-Maxwelliana com v´ınculo (para a lei de Skumanich) para diferentes valores dex3. q= 1.4.

verificamos que ao fazer x3 → ∞ recuperamos a q-Maxwelliana. Percebe-se que o fator

de freio tamb´em exerce influˆencia na cauda da distribui¸c˜ao. J´a a Maxwelliana padr˜ao ´e recuperada no limiteq1.

2.4

A fun¸c˜

ao de distribui¸c˜

ao

q

-Maxwelliana com v´ınculo:

o caso geral

Na se¸c˜ao anterior obtivemos uma fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao para o caso da lei de Sku-manich. Para generalizar, o procedimento ´e bem simples: generalizamos o fator de freio para o caso geralxj. Assim, partindo da Eq. (2.24), encontramos uma express˜ao paraxj

em fun¸c˜ao do tempo

xj = [(j−1)ajt]1/1−j, (2.35)

assumindo que a velocidade inicial ´e nula. Para o caso de uma velocidade inicial qualquer

x0, a express˜ao muda para

xj =x0[1+(j −1)xj

1

0 ajt]1/1−j. (2.36)

A express˜ao acima ´e semelhante `a exponencial generalizada denotada por expq(x).

(43)

encontra-mos que a vari´avelxa pode ser expressa de uma forma geral por:

xa(xj) =

x

1xx j

j−11/j−1 (2.37)

Com a equa¸c˜ao acima vemos claramente que no limite xj → ∞ temos que a vari´avel

para condi¸c˜ao t= 0, isto ´e, xa, ´e a pr´opria vari´avel aleat´oria x.

De posse da Eq. (2.37) podemos substitu´ı-la na Eq. (2.32) e obtermos uma fun¸c˜ao

q-Maxwelliana com v´ınculo para rota¸c˜ao verdadeira em um caso mais geral, que fica:

Fq(x, xj) = 4πAq

x2

1x xj

j−12/(j−1)

   

1(1q) x

2

σ2

1x xj

j−12/(j−1)

   

1/(1−q)

(2.38) De forma semelhante a nossa fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao para as rota¸c˜oes projetas genera-lizadas para qualquer lei de decaimento ´e dada por:

Φq(y, xj) = Bq

y

1xy j

j−11/(j−1)

   

1(1q) y

2

σ2

1xy j

j−12/(j−1)

   

1/(1−q)

(2.39)

Com isso obtemos uma fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao no contexto n˜ao-extensivo, que leva em conta o v´ınculo f´ısico respons´avel pela perda de momento angular, o que torna essas fun¸c˜oes estatisticamente mais robustas e fisicamente mais adequadas.

Tabela 2.1: Algumas leis de decaimento presentes na literatura escritas em fun¸c˜ao do expoente j.

Soderblom et al. (1991) t−2/3 j = 5/2

Pace e Pasquini (2004) t−5/2 j = 7/5

Reiners e Mohanty (2012) t−1/4

j = 5

Na tabela 2.1 mostramos algumas leis de decaimentos presentes na literatura. Desse modo, podemos verificar o comportamento da fun¸c˜ao q-Maxwelliana com v´ınculo (Eq. (2.39)) generalizado para essas leis.

(44)

entr´opico q em 1.9 e variamos o valor do fator de freio para essa lei de decaimento (j = 5/2). Nela ´e poss´ıvel verificar o papel do fator de freio sobre a cauda da distri-bui¸c˜ao. J´a na Fig 2.7 fixamos o valor do fator de freio em 20 e variamos o valor doq por um fator 0.5, verifica-se que a fun¸c˜ao tem um comportamento esperado para valores deq

menores que a unidade (Tsallis, 1988). Verifica-se tamb´em que a fun¸c˜ao q-Maxwelliana com v´ınculo generalizada tende a Maxwelliana padr˜ao para q 1. Esse comportamento tamb´em ´e verificado para as leis de freio propostas por Pace e Pasquini (2004) e Reiners e Mohanty (2012) (Ver as Fig 2.9 e Fig 2.11).

Figura 2.6: q-Maxwelliana com v´ınculo para a lei de decaimento proposta por Soderblom et al. (1991). Variando o fator de freio e mantendoq fixo em 1.9.

Na Fig 2.8 ´e apresentado o comportamento da fun¸c˜aoq-Maxwelliana com v´ınculo para a lei de freio proposta por Pace e Pasquini (2004). Nesse caso tamb´em fixamos o ´ındice entr´opicoq em 1.9 e variamos o valor do fator de freio. Mais uma vez ´e visto o papel do fator de freio sobre a cauda da distribui¸c˜ao. Nela podemos notar que ao mudar o valor do fator de freio em 10 unidades, h´a uma mudan¸ca consider´avel na cauda. Esse compor-tamento j´a n˜ao ´e verificado para o caso da lei de freio proposta por Reiners e Mohanty (2012), nesse caso a mudan¸ca no valor do fator de freio n˜ao exerce um papel t˜ao forte sobre a cauda quanto no caso de Pace e Pasquini (2004), isso ´e visto na Fig 2.10.

(45)

com-Figura 2.7: q-Maxwelliana com v´ınculo para a lei de decaimento proposta por Soderblom et al. (1991). Variando o ´ındice entr´opicoq por um fator de 0.5. Fator de freio fixo em 20.

(46)

Figura 2.9: q-Maxwelliana com v´ınculo para a lei de decaimento proposta por Pace e Pasquini (2004). Variando o ´ındice entr´opico q por um fator 0.5. Fator de freio fixo em 20.

Imagem

Figura 1.1: Frequˆencia angular Ω/2π em fun¸c˜ao do raio para cinco diferentes latitu- latitu-des: 0 ◦ (equador), 15 ◦ , 30 ◦ , 45 ◦ e 60 ◦
Figura 1.3: Velocidade de rota¸c˜ao projetada (v sini), onde i ´e o ˆangulo entre o eixo de rota¸c˜ao e a linha de visada.
Figura 1.5: As zonas radiativa e convectiva em fun¸c˜ao da massa. http://www.sun.org A rota¸c˜ao tamb´em causa um efeito levitacional onde as estrelas apresentam  luminosi-dade intr´ınseca e temperatura efetiva menores
Figura 1.6: Diagrama-HR; Foto do Observat´orio Nacional: http://www.on.br/ead 2 013/
+7

Referências

Documentos relacionados

Objetivo: Identificar critérios de seleção para a rizotomia dorsal seletiva (RDS) na paralisia cerebral (PC), analisar os instrumentos de avaliação e descrever as características

Obedecendo ao cronograma de aulas semanais do calendário letivo escolar da instituição de ensino, para ambas as turmas selecionadas, houve igualmente quatro horas/aula

A disponibilização de recursos digitais em acesso aberto e a forma como os mesmos são acessados devem constituir motivo de reflexão no âmbito da pertinência e do valor

Lista de preços Novembro 2015 Fitness-Outdoor (IVA 23%).. FITNESS

os atores darão início à missão do projeto: escrever um espetáculo para levar até as aldeias moçambicanas para que a população local possa aprender a usufruir e confiar

Sobretudo recentemente, nessas publicações, as sugestões de ativi- dade e a indicação de meios para a condução da aprendizagem dão ênfase às práticas de sala de aula. Os

José Arno Appolo do Amaral, Prefeito Municipal, no uso de suas atribuições legais e de acordo com o Processo nº 2808/2020 da Secretaria Municipal de

 A combinação desta referência com a referência do mandato, permitirá ao Banco do devedor fazer uma análise à instrução de cobrança antes de proceder ao