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A Central Única dos Trabalhadores (CUT) no embate das contrarreformas da previdência social: contraposição ou consenso?

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Academic year: 2017

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CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

LEIDILANE DE OLIVEIRA HONORATO

A CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES (CUT) NO EMBATE DAS CONTRARREFORMAS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL: contraposição ou

consenso?

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LEIDILANE DE OLIVEIRA HONORATO

A CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES (CUT) NO EMBATE DAS CONTRARREFORMAS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL: contraposição ou

consenso?

Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Serviço Social, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Serviço Social.

Orientadora: Profª. Dra. Odília Sousa de Araújo

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AGRADECIMENTOS

Na realização desse trabalho muitas pessoas foram de grande relevância para concretização desse estudo. Pessoas sem as quais o caminho teria ficado mais difícil e desafiador do que já fora. A essas pessoas tenho muito a agradecer.

Primeiramente a Deus, Meu Pai Celestial. Em muitos momentos somente Ele me fez ter forças, ânimo e coragem para continuar esse caminho. Um caminho que às vezes me parecia nebuloso, mas Ele sempre esteve por perto me iluminando.

Depois aos meus familiares e parentes, especialmente, aos meus pais – sempre tão carinhosos – ao meu esposo pela compreensão desse processo e amabilidade e a minha tia Vera e sua família por ter me hospedado em sua casa durante um bom tempo para que eu conseguisse continuar os estudos longe de casa. Obrigada a vocês pelo apoio e confiança de sempre.

À minha orientadora, professora Odília pelas muitas contribuições que deu durante todo o processo de pesquisa, as indicações de leitura, pela motivação com a temática, por tudo. À professora Sâmya que foi uma das motivadoras para realização desse estudo quando eu estava saindo da graduação. Obrigada por sempre ter se mostrado disposta a contribuir em meu trabalho. Às professoras que conheci durante as disciplinas do Mestrado que sempre davam significativas contribuições para o estudo, direta ou indiretamente: Silvana Mara, Denise Câmara, Rita de Lourdes, Eliana Guerra e Márcia Rocha. Obrigada pelo compromisso de vocês com a pós graduação.

As minhas colegas de turma – Valmara, Marwyla, Sônia, Manuela, Cristina Pereira, Cristina Otoch, Meirice, Laudilene, Brenda, Neila e Marilac – que sempre nas aulas e reencontros nos corredores deixava o processo de estudo mais gostoso, com as conversas, risadas e desabafos.

E não poderia esquecer a CUT Estadual que me recebeu muito bem, principalmente, à secretária e, também, ao Departamento de Documentação da CUT Nacional que me enviou documentos muito relevantes para minha análise, sem os quais o processo teria sido mais difícil.

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RESUMO

Os direitos previdenciários foram resultantes de intensas lutas entre o capital e o trabalho, exigindo as intervenções do Estado para criação de um sistema de proteção social amplo. No Brasil a lei marco da Previdência Social data de 1923, a partir de então, muitos foram os avanços e extensões dessa política a diversas categorias. Entretanto, na década de 1990 o Governo brasileiro adotou, a exemplo de outros países desenvolvidos, o paradigma neoliberal o que implicou na realização de substanciais mudanças no papel do Estado, nos direitos alcançados e na própria organização das classes trabalhadoras. Para a Previdência Social as principais perdas se deram nos anos de 1998 e 2003, respectivamente nos Governos de FHC e Lula, com a realização de duas contrarreformas que restringiram os direitos previdenciários e incentivaram a privatização da previdência pública. Nesse cenário, a CUT, uma das entidades representantes das classes trabalhadoras, fundada em 1983, que sempre se mostrou atuante mudou seu direcionamento: de combativa à negociativa. Essa inflexão determinou o posicionamento dessa Central diante das propostas de contrarreformas da Previdência Social. O presente trabalho tem como objetivo analisar o contexto sociopolítico das lutas do movimento sindical brasileiro no período das conquistas e desmontes de direitos e, precipuamente analisar o posicionamento, atuação e propostas da CUT no período das contrarreformas da Previdência nos Governos FHC e Lula. Para realização desse estudo além da revisão bibliográfica essencial para fundamentar e aprofundar o tema, utilizamos, principalmente, a pesquisa documental através de páginas da internet, resoluções, informativos e outras publicações da CUT. A atuação da CUT nesses Governos deu-se de modo distinto: na contrarreforma do Governo FHC mostrou-deu-se por meio de diversas ações, apesar de não haver homogeneidade em seu interior, contrária às políticas neoliberais desse governante, bem como à proposta de mudanças previdenciárias. Enquanto que durante o Governo Lula mostrou-se prioritariamente negociativa e propositiva.

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ABSTRACT

The provident rights were results of intense fights in between the capital and work, claiming the interventions of the state for the creation of an ample social protection system. In Brazil the law, Providence Social mark, dated 1923, from then on, the advances and extensions were many, of this diverse categories of politics. Mean while, in the 1990‘s, the Brazilian government adopted the examples of other developed countries, the new pattern that hinted the realization of substantial changes on the states purpose, the reached rights and the proper organization of working classes. For the Social Providence, the principal loses turned out in 1998 and 2003; respectively in FHC governments and Lula, with the realization of two counter reforms that restricted the provident rights and motivated the privatization of public providence. In the scenery, the CUT, one of the representative organizations from working classes, founded in 1983, that has always itself with changed direction, from fighting to negotiating. This inflection determined the proposition of the center before the offers of the counter reforms, of Social Providence. The present work has the objective to analyze the social politic content of the fights from Brazilian union movement in the period of the conquests and disassembled rights and, to analyze the proposition, acting and offers from CUT in the counter reform period from Providence in the Government FHC and Lula. To perform this study beyond the essential bibliographical revision to found and deepen the subject, we use, the documental search through the internet pages, resolutions, informations and others publications from CUT. Using CUT in the governments worked in an elegant way, the FHC government against-reforms, showed itself through diverse actions, even though they didn‘t have homogeneous inside, contrary the neoliberalists politicians from this government, also the offers and precaution changers. While during the reign of Lula it shoved itself priority negociative and propositive.

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LISTA DE QUADROS

Quadro I – Gasto social federal no Governo Collor ... 83 Quadro II – Lutas da CUT em torno da Previdência Social até o Governo

Collor ... 121

Quadro III – Posição da CUT, segundo setor de atividade atingido pela

reforma constitucional ... 124

Quadro IV – A CUT e a previdência social no Governo Fernando Henrique

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LISTA DE SIGLAS

ACO – Associação Católica Operária AIB – Ação Integralista Brasileira

ANAMPOS – Articulação Nacional dos Movimentos Populares e Sindical ANFIP – Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Previdência Social ANL – Associação Nacional Libertadora

BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento CCQ – Círculo de Controle de Qualidade

CAP – Caixa de Aposentadorias e Pensões CEB – Comunidade de Base

CEME – Central de Medicamentos

CGT – Comando Geral dos Trabalhadores / Confederação Geral dos Trabalhadores / Central Geral dos Trabalhadores

CGTB – Confederação Geral dos Trabalhadores Brasileiros CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas

CNESF – Coordenação Nacional das Entidades de Servidores Federais CNI – Confederação Nacional da Indústria

CNTI – Congresso da Confederação Nacional dos Trabalhadores Industriais COB – Confederação Operária Brasileira

CONCLAT – Conferência Nacional da Classe Trabalhadora / Congresso Nacional da Classe Trabalhadora / Coordenação Nacional das Classes Trabalhadoras

CONCUT – Congresso Nacional da Classe Trabalhadora CONLUTAS – Coordenação Nacional de Lutas

CSUB – Confederação Sindical Unitária Brasileira CUT – Central Única dos Trabalhadores

DATAPREV – Empresa de processamento de dados da Previdência Social DRT – Delegacia Regional do Trabalho

EC n° 20 – Emenda Constitucional n° 20 EC n° 41 – Emenda Constitucional n° 41 EC nº 47 – Emenda Constitucional nº 47 EFPR – Entidades Fechadas de Previdência

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FACR – Fundação Abrigo Cristo Redentor

FEBRABAN – Federação Brasileira de Associação de Bancos FHC – Fernando Henrique Cardoso

FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo FNPS – Fórum Nacional de previdência Social

FNT – Fórum Nacional do Trabalho FPR – Fator Previdenciário

FMI – Fundo Monetário Internacional

FUNABEM – Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor IAP – Instituto de Aposentadoria e Pensão

IAPAS – Instituto de Administração Financeira da Previdência Social IAPB – Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Bancários

IAPC – Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Comerciários IAPI – Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários IAPM – Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Marítimos

IPASE– Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Servidores do Estado

IAPETEC – Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Empregados em Transporte de Carga

INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social INSS – Instituto Nacional do Seguro Social

INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica Previdência Social INPS – Instituto Nacional de Previdência Social

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada LBA – Legião Brasileira de Assistência Social LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social LOPS – Lei Orgânica da Previdência Social

MARE – Ministério da Administração da Reforma do Estado MPS – Ministério da Previdência Social

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OIT – Organização Internacional do Trabalho PCB – Partido Comunista Brasileiro

PCdoB – Partido Comunista do Brasil PDT – Partido Democrático Brasileiro

PDRE – Plano Diretor da Reforma do Estado PEC – Proposta de Emenda Constitucional PIB – Produto Interno Bruto

PLP – Projeto de Lei Parlamentar

PMDB – Partido Moderado Democrático Brasileiro PTB – Partido Trabalhista Brasileiro

PSB – Partido Socialista Brasileiro PSD – Partido Social Democrático PT – Partido dos Trabalhadores PUA – Pacto de Unidade e Ação PUI – Pacto de Unidade Intersindical

RGPS – Regime Geral de Previdência Social RPPS – Regimes Próprios de Previdência Social

SINPAS – Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social SUS – Sistema Único de Saúde

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 12 2 A INTERVENÇÃO DO ESTADO COM A CRIAÇÃO DOS SISTEMAS

DE PROTEÇÃO SOCIAL: DO PROTAGONISMO DAS CLASSES TRABALHADORAS À CRIAÇÃO DA CUT...

19 2.1 AS DETERMINAÇÕES DO CAPITAL SOBRE AS INTERVENÇÕES

DO ESTADO E NA ATUAÇÃO DAS CLASSES TRABALHADORAS... 19 2.1.1 O embate entre as classes fundamentais... 29 2.2 O ESTADO BRASILEIRO E AS LUTAS DOS TRABALHADORES

POR DIREITO... 35

2.3 A REORGANIZAÇÃO DO MOVIMENTO SINDICAL NOS ANOS 1980 55

2.4 AS CONTRIBUIÇÕES DA REORGANIZAÇÃO DO MOVIMENTO

SINDICAL PARA A CRIAÇÃO DA CUT... 61 2.4.1 CUT: lutas e mudanças ao longo da década de 1980... 65 3 A OFENSIVA NEOLIBERAL: DETERMINAÇÕES PARA A

INFLEXÃO DO ESTADO, TRANSFORMAÇÕES NA CUT E DESMONTE DA PREVIDÊNCIA SOCIAL... 72

3.1 A PREVIDÊNCIA SOCIAL ANTES DAS CONTRARREFORMAS

PREVIDENCIÁRIAS: UMA CONQUISTA DOS TRABALHADORES.... 73 3.2 A CONTRARREFORMA DO ESTADO BRASILEIRO... 81

3.3 AS PROPOSTAS NO DEBATE SOBRE AS CONTRARREFORMAS

PREVIDENCIÁRIAS... 91

3.4 A CONFIGURAÇÃO DAS CLASSES TRABALHADORAS NO

CONTEXTO NEOLIBERAL... 94 3.4.1 A mudança de direcionamento da CUT no contexto neoliberal... 102

3.5 AS CONTRARREFORMAS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL:

DESMONTE DOS DIREITOS DOS TRABALHADORES... 107 3.5.1 As mudanças efetivadas nos direitos dos trabalhadores através

das contrarreformas da Previdência realizadas nos Governos FHC e Lula... 109

4 POSICIONAMENTOS DA CUT NO PERÍODO DAS

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4.1 GÊNESE DAS INTERVENÇÕES DA CUT NAS POLÍTICAS PREVIDENCIÁRIAS...

119

4.2 ATUAÇÕES DA CUT DIANTE DA CONTRARREFORMA

PREVIDENCIÁRIA NO GOVERNO FHC... 122

4.3 POSICIONAMENTO E PROPOSTAS DA CUT NA CONTRARREFORMA DA PREVIDÊNCIA NO GOVERNO LULA... 133

4.4 DESAFIOS PARA A CUT E AS CLASSES TRABALHADORAS PÓS CONTRARREFORMAS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL... 145

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 153

REFERÊNCIAS... 160

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1 INTRODUÇÃO

A Previdência Social – juntamente com a Saúde e a Assistência Social – constitui-se numa das políticas que formam o tripé da Seguridade Social brasileira, sendo esta uma importante conquista das classes trabalhadoras consolidada na Constituição Federal de 1988.

Entretanto, a Previdência Social, diferentemente dessas outras duas políticas sociais, tem caráter contributivo, ou seja, está voltada para aqueles trabalhadores que podem pagar, o que acaba, já de antemão, excluindo muitos indivíduos do acesso aos benefícios e serviços previdenciários.

Esse quadro vem se agravando, desde a década de 1990, com a redefinição do Estado a partir da perspectiva neoliberal, atingindo, principalmente, as camadas mais pobres da população e, valorizando, cada vez mais, um mercado livre de restrições, quer sejam políticas, econômicas ou culturais (IANNI, 1997). Desse modo, esse modelo político ideológico, tem incidido fortemente sobre os direitos sociais conquistados, especialmente, no que diz respeito à legislação previdenciária, com as constantes mudanças, as quais objetivaram a minimização e/ou a retirada paulatina de direitos.

A contrarreforma da Previdência Social é prova cabal dessas inflexões que têm ocorrido em relação aos direitos sociais. Algumas dessas iminentes mudanças foram: o aumento do tempo de contribuição e idade para a aposentadoria; diminuição do valor da aposentadoria – principalmente, devido ao fator previdenciário – e do teto; extinção das aposentadorias por tempo de serviço e proporcional, dentre outras (SOUZA, 2004).

É importante salientar que os direitos civis, políticos e sociais hoje legalizados são resultados de uma luta histórica da classe trabalhadora que reivindicou seus direitos. A principio, essas lutas deram-se mais efetivamente no âmbito da produção, através dos movimentos operários. Os trabalhadores almejavam melhores condições de trabalho e buscaram o reconhecimento de direitos trabalhistas.

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operário para a conquista de direitos trabalhistas e também previdenciários – especialmente, porque durante muito tempo a Previdência Social esteve voltada prioritariamente, para os trabalhadores regulados formalmente e pode-se mesmo dizer que, ainda hoje, a política previdenciária, tendo em vista o seu caráter contributivo, está relacionada muito fortemente com o trabalho, isto é, para aqueles trabalhadores que podem pagar.

É imprescindível ressaltar que os principais prejudicados com as duas últimas contrarreformas da Previdência nos Governos Fernando Henrique Cardoso (1998) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003 e 2005) foram os trabalhadores brasileiros, em especial os servidores públicos, visto que essas mudanças retiraram ou minimizaram direitos que foram duramente conquistados por setores organizados da sociedade.

Portanto, partindo da perspectiva de que os direitos sociais, especificamente, os previdenciários, são resultantes de um processo histórico de luta, travado pela classe trabalhadora contra o capital e intermediado pelo Estado, faz-se extremamente relevante analisar como atuou o movimento sindical diante das duas últimas contrarreformas da Previdência no governo FHC, em 1998 e Lula, em 2003.

O interesse inicial pela temática da Previdência Social veio com a aproximação com essa política no estágio curricular de dois anos no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). E, a vontade de estudar a organização das classes trabalhadoras veio, principalmente, com a participação como bolsista em uma pesquisa cuja temática envolvia os Movimentos Sociais, através do Programa de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), na graduação.

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Para isto, fizemos um ―recorte‖ nas lutas das classes trabalhadoras, para melhor analisá-las, haja vista que nos voltamos para o seu posicionamento e atuação diante de uma política social específica, a Previdência Social, contudo não desconsideramos o movimento geral das lutas e embates travados, tendo em vista que na atual conjuntura muitos são os desafios a serem vencidos.

Por compreendermos a grande diversidade do movimento sindical, geralmente, dividido por categorias profissionais, tínhamos o desejo de contemplar em nossa análise as discussões, propostas e lutas de algumas Centrais Sindicais brasileiras, na perspectiva de que estas têm uma representação mais ampla das classes trabalhadoras atingidas pelas contrarreformas. A princípio nos propomos a analisar o posicionamento e contrapropostas de três Centrais Sindicais, as quais eram: Central Única dos Trabalhadores (CUT), Coordenação Nacional de Lutas (CONLUTAS) e Intersindical.

Entretanto, à medida que fomos nos aproximando da temática e conhecendo um pouco mais dessas centrais sindicais, apreendemos que a pesquisa ficaria muito ampla, sendo necessário fazer um novo recorte. Desejamos, ainda, permanecer com duas centrais sindicais, a CUT e a CONLUTAS que representam duas vertentes distintas do movimento sindical atual. Porém, como nosso objetivo era tratar do posicionamento dessas centrais no período das contrarreformas realizadas, acabamos abrindo mão da CONLUTAS que foi criada em 2006, oito anos após a contrarreforma do Governo FHC e três anos depois da contrarreforma do Governo Lula. Consideramos, ainda, para esse delineamento do objeto o prazo e a viabilidade da pesquisa.

Assim, nos detemos em analisar o posicionamento, lutas e propostas nesses períodos de contrarreformas da Previdência Social de uma única Central Sindical, a Central Única dos Trabalhadores (CUT). O que é interessante, tendo em vista que em sua gênese esta Central esteve articulada em diversos movimentos e embates pela defesa dos direitos dos trabalhadores, porém nos últimos anos vem vivenciando grandes mudanças ideopolíticas diferindo sobremaneira do período de sua fundação.

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Sendo assim, o estudo dessa temática é de grande relevância para o movimento sindical, especialmente, as Centrais Sindicais brasileiras, com ênfase para a CUT, para análise e reflexão de sua atuação, tendo em vista que no contexto neoliberal faz-se, cada vez mais relevante a presença de movimentos fortes que não se calem diante da retirada de direitos e que não se deixem enfraquecer pela conjuntura adversa propugnada pelos valores da sociabilidade capitalista.

Este estudo é significativo, também, para todas as classes trabalhadoras que dependem da Previdência Social, visto que todos os cidadãos, cedo ou tarde, não mais poderão usufruir de sua força laboral para garantir condições de vida digna, recorrendo então a esta política. Sendo essencial conhecer como está configurada na atualidade e as discussões em torno dela para dificultar e diminuir, ainda mais, o acesso. Bem como, da existência ou não de uma luta contrária a estas mudanças.

No que concerne à Previdência Social, as lutas do Movimento sindical e dos movimentos em geral, pela garantia e extensão dessa política é indispensável e urgente, tendo em vista as duas últimas contrarreformas. A política previdenciária constitui-se num direito social conquistado pelas lutas dos trabalhadores que não podemos deixar ser minimizada, pelo contrário, devemos lutar por sua consolidação e ampliação.

Para embasar a investigação fizemos uso de uma perspectiva teórico metodológica que defende: a apreensão da relação entre aparência e essência; a totalidade como aspecto essencial da realidade; a superação da dualidade entre o subjetivo e o objetivo; a apreensão das relações entre o singular, o particular e o universal; e o objeto como pólo regente do conhecimento.

Essa abordagem insere-se no âmbito do materialismo dialético e significa um importante avanço na interpretação dos fenômenos, posto que considera a história como fator relevante no desenvolvimento dos fenômenos sociais; analisa a existência de relações contraditórias na sociedade; e preocupa-se com a análise da totalidade social e de suas particularidades.

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ocorrem de modo isolado, tornando-se imprescindível apreendermos os fenômenos sociais como um todo estruturado que está em constante movimento, sofrendo determinações, também, do processo histórico.

Foi relevante, ainda, nessa investigação a análise das contradições desse sistema capitalista vigente, no qual a capacidade social de produzir riquezas e a concentração destas cresce, cada vez mais, e concomitantemente registram-se altos índices de pobreza e desemprego e mudanças na própria forma de organização das classes trabalhadoras.

Privilegiamos a pesquisa qualitativa. Embora analisemos que nas pesquisas com enfoque dialético as categorias quantidade-qualidade ―não se opõem, mas se interrelacionam como duas fases do real num movimento cumulativo e transformador‖ (GAMBOA, 2007, p. 105), contudo, como os procedimentos metodológicos variam de acordo com o objeto a ser estudado e dos objetivos a serem alcançados, nessa pesquisa trabalhamos, mais enfaticamente, com a pesquisa qualitativa.

É interessante ressaltar que o percurso metodológico dessa pesquisa foi repleto de idas e vindas, pela própria dinâmica da realidade e dificuldades que foram se colocando diante da investigação, carecendo empreender mudanças para tornar viável sua concretização.

A primeira delas foi o próprio delineamento do objeto, como já registramos, visto que não há como iniciar uma pesquisa, sem ter claro o que se deseja saber, buscar e quem procurar para saber disso. Esse foi um desafio tremendo para a pesquisadora que adentrava em um universo novo para ela, que era o movimento sindical, as centrais sindicais. Pois, enquanto o estudo da Previdência integrou boa parte de sua vida acadêmica, a temática sindical constituía-se, com poucas exceções, um verdadeiro desconhecido, um mundo a ser desbravado.

A definição pela CUT não foi menos desafiante, tendo em vista que sabíamos muito pouco dessa Central Sindical histórica para as classes trabalhadoras. Os questionamentos foram muitos, quem procurar? Onde encontrar? Como entrar contato? Enfim, como contatar a CUT para ter acesso às informações desejadas.

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especialmente, através das entrevistas a dirigentes da CUT para complementar os documentos. Entretanto, encontramos muitos entraves e desafios para a realização das entrevistas.

Fizemos duas visitas à CUT estadual presente em Natal. Pelas dificuldades de encontro com dirigentes nacionais da CUT – o dirigente nacional da CUT mais próximo ficava em Pernambuco – acreditamos ser possível entrevistar dirigentes estaduais, apesar de termos sido muito bem recebidos pela secretária, a pessoa que nos foi indicada por ela para conversarmos, ainda que cheia de boa vontade, não compreendeu exatamente o nosso propósito. Naquele momento ficou nítido que os dirigentes estaduais, talvez, pela pesquisa remeter a um período de atuação anterior a sua gestão não tinha as informações que pretendíamos ter acesso. Além do que, sabíamos que a atuação da CUT face às contrarreformas da Previdência Social foi algo de âmbito nacional, sendo mais coerente entrevistar representantes nacionais.

Ainda buscamos o contato de alguns deles, mas a dificuldade de acesso e a aproximação do término do prazo para finalização da pesquisa fizeram com que decidíssemos optar exclusivamente, além da revisão de literatura, pela pesquisa documental. Esta foi indispensável e fundamental para a consecução da pesquisa. Utilizamos, portanto, como instrumento para levantamento de dados fontes secundárias que permitiram analisar as mudanças ocorridas na CUT, seu posicionamento e propostas, dentre as quais podemos citar: páginas da internet, resoluções, informativos e outras publicações da CUT, as quais tornaram público suas discussões e proposições no período dos debates das contrarreformas da Previdência Social.

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Desse modo, esses desafios colocados para a concretização da investigação precisam ser considerados quando analisamos os seus resultados.

Assim, visando atender nossos objetivos dividimos este estudo em três seções, além desta introdução e da conclusão. Na primeira parte fazemos uma análise das lutas das classes trabalhadoras na conquista de direitos, levando o Estado e as classes dominantes a fazerem concessões e a criarem um sistema de proteção social.

Partimos da perspectiva que tanto as intervenções do Estado no âmbito social, atendendo alguns interesses dos trabalhadores, quanto a própria organização e lutas das classes trabalhadoras sofreram determinações e impulso do capital. Nessa análise partimos do âmbito mundial, para então apreendermos os determinantes dessa configuração internacional nas intervenções do Estado brasileiro, os direitos alcançados nessa parte do mundo e as influências sobre a organização e lutas dos trabalhadores. Todo esse processo, principalmente, o entorno da década de 1980 foi importante para a fundação de uma central nascida para representar as classes trabalhadoras em suas lutas e embates: a CUT.

Na segunda seção tratamos de analisar as conquistas alcançadas nos direitos previdenciários com as constantes mudanças efetivadas na Previdência, com a contribuição das lutas dos trabalhadores, antes das contrarreformas previdenciárias. Analisamos, ainda, as implicações da ofensiva neoliberal no Brasil para as mudanças na configuração do Estado – construindo o solo para a realização das contrarreformas da Previdência –, nos direitos previdenciários, e na organização das classes trabalhadoras, inclusive na CUT. Empreendemos, também, uma análise das principais propostas de diversas instituições nas discussões sobre as mudanças de cunho neoliberais na Previdência e as principais perdas para os direitos previdenciários dos trabalhadores com a concretização das contrarreformas.

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2 A INTERVENÇÃO DO ESTADO COM A CRIAÇÃO DOS SISTEMAS DE PROTEÇÃO SOCIAL: DO PROTAGONISMO DAS CLASSES TRABALHADORAS À CRIAÇÃO DA CUT

Para analisar o posicionamento e as propostas da Central Única dos Trabalhadores (CUT) diante das contrarreformas da Previdência Social realizadas nos Governos Fernando Henrique Cardoso, em 1998 e Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, é essencial apreendermos o processo político, econômico e social que fundamentou a construção dos direitos sociais, principalmente da política previdenciária e suas transformações, bem como das lutas efetivadas pelas classes trabalhadoras nas conquistas de direitos até chegarmos ao desmonte do paradigma neoliberal.

Apesar da CUT ter atuado em sua gênese (1983) de forma combativa e ter sido fruto do recrudescimento do movimento sindical na década de 1980, como analisaremos o seu posicionamento diante das ofensivas neoliberais, efetivadas na Previdência Social – a qual foi constituída em um período anterior à criação da CUT – faz-se relevante analisar as lutas anteriores das classes trabalhadoras na construção dos direitos sociais, especificamente, os direitos previdenciários, para apreendermos, assim, a sua atuação diante dessa política no final da década de 1990 e no início do século XXI.

É importante analisarmos que os direitos sociais foram sendo conquistados durante todo o século XX através de lutas que foram travadas para pressionar o Estado a formar um sistema de proteção social para, então, apreendermos melhor, a essencialidade da luta das classes trabalhadoras no período que demarca a inserção do neoliberalismo em nosso país, atingindo sobremaneira a política previdenciária. Esse período careceu, mais do que nunca, de movimentos fortes para barrar suas ações nefastas.

As sucessivas realizações dessas contrarreformas foram resultados de diversas mudanças ocorridas historicamente e que devem ser analisadas com cuidado, tendo em vista que estão fundadas em alterações significativas na relação entre capital e trabalho intermediada pelas ações do Estado que atingiram os direitos sociais.

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ESTADO E NA ATUAÇÃO DAS CLASSES TRABALHADORAS

As formas de atuação do Estado sofreram progressivamente determinações do capital, tendo em vista garantir o objetivo precípuo do sistema capitalista: o aumento das taxas de lucro. Pois, como muito bem afirmou Antunes (2006, p.23)

O capital constitui uma poderosíssima estrutura totalizante de organização e controle do metabolismo societal, à qual todos, inclusive os seres humanos, devem se adaptar. Esse sistema mantém domínio e primazia sobre a totalidade dos seres sociais, sendo que suas mais profundas determinações estão orientadas para a expansão e impelidas pela acumulação.

Assim, a atuação do Estado, também, está articulada às estratégias utilizadas pelo capital em resposta às suas crises.

É importante salientar que as intervenções do Estado anteriores à essa época foram marcadas pela repressão, especialmente, voltada para os indigentes, mendigos e pessoas sem trabalho. Na Inglaterra no início do século XVII foram editadas as famosas Leis dos Pobres ―que tornavam as paróquias responsáveis pelo sustento de ‗seus‘ pobres, ou seja, dos residentes que perdiam seus meios de vida. A mesma lei também procurava dar trabalho aos destituídos‖ (SINGER, 2005, p. 193).

Outra solução encontrada foi a Workhouse (Casa do Trabalho) ―em que

mendigos e vagabundos eram internados e postos a trabalhar‖. Na França tais instituições foram chamadas de ―hospital geral‖. (SINGER, 2005, p. 194-195). ―O que todas essas tentativas de ‗resolver‘ o problema dos sem trabalho têm em comum é a negação dos direitos aos mesmos‖ (SINGER, 2005, p. 195).

Somente no século XVIII, com o advento da Revolução Industrial – que marcou a passagem do feudalismo para o capitalismo –, surgiu ―um vasto proletariado fabril formado por ex-artesãos e grande número de pessoas sem trabalho, antes dependentes da assistência paroquial ou sujeitos aos rigores das

Workhouses‖ (SINGER, 2005, p. 196). Esses trabalhadores lançaram-se à luta por

melhores condições de vida e de trabalho, diante das difíceis condições de trabalho e salários baixíssimos. Era o prenúncio da luta por direitos que, assim como as intervenções do Estado, foram determinadas pelo avanço do capitalismo.

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liberalismo clássico. Segundo Nobre (2000) para a doutrina liberal, grande parte dos problemas econômicos e sociais, decorriam da intervenção do Estado na economia, argumentando que a melhor forma para atingir o ―bem comum‖ seria deixar que os mecanismos ―naturais‖ de equilíbrio, alicerçados na lei da oferta e da procura, funcionassem sem interferência. Existiria, portanto, o que se denominou de a ―mão invisível‖ do mercado que equilibraria as disparidades e a economia se organizaria por si mesma para o ―bem de todos‖, sem a necessidade de intervenção do Estado. A ele, nesse período, cabia unicamente a tarefa de assegurar as funções básicas da organização da sociedade, particularmente, a liberdade – para agir no mercado -, a propriedade privada e a segurança.

O Estado devia ser apenas a instância fiscalizadora das relações de troca, apoiando-se em um conjunto de leis que definiam seus limites (NOBRE, 2000). Essa teoria dominou o pensamento dos países capitalistas desenvolvidos praticamente durante todo o século XIX e início do século XX, sendo colocada em xeque com a crise econômica mundial de 1929, quando as bolsas de valores dos Estados Unidos da América (EUA) quebraram.

Nesse sentido, a atuação do Estado no âmbito sócioeconômico foi mais evidente a partir dos anos 1930, buscando responder às tensões provocadas pelas crises do capital. Os pressupostos liberais, que foram hegemônicos desde meados do século XIX, começaram a entrar em crise, devido a uma ―produção descomunal de mercadorias que não achavam compradores e a falência de inúmeros capitalistas‖ (NOBRE, 2000, p. 3). Consequentemente, milhares de trabalhadores ficaram desempregados.

Com mais uma crise estrutural inerente a esse sistema, o capitalismo buscou reorganizar-se através de mecanismos que garantissem novamente sua ascensão. Nesse sentido, adotou durante praticamente todo o século XX, sobretudo, a partir da segunda década, o binômio taylorismo/fordismo, baseando-se na produção em massa de mercadorias, estruturada de forma homogeneizada e verticalizada, com trabalho parcelar e fragmentado e divisão de tarefas.

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indústria automobilística dos EUA e depois para praticamente todo o processo industrial nos principais países capitalistas‖.

Entretanto, não somente, o modo de produzir mudou, mas todo o ideário político econômico, como já foi assinalado. A organização do processo de trabalho taylorista/fordista contou, também, com um acordo firmado entre o capital e o trabalho, mediado pelo Estado e fundado no compromisso existente nessa relação. Na realidade, esse compromisso era resultado, dentre outros elementos posteriores à crise de 1930, da política keynesiana, a qual foi formulada pelo economista inglês John Maynard Keynes em oposição à concepção liberal vigente no período anterior à crise de 1930.

Diferentemente desta concepção o keynesianismo defendia uma política econômica de Estado intervencionista, oferecendo uma saída para a crise vivenciada. Esse pensamento foi a base para a construção do Estado de Bem Estar Social em grande parcela dos países capitalistas avançados, sendo hegemônico nos trinta anos pós Segunda Guerra Mundial1.

Essa nova relação entre capital e trabalho, possibilitou ganhos significativos para os trabalhadores, desde melhores salários até o acesso a diferentes medidas de proteção social, contudo, ao mesmo tempo, adaptava o movimento das classes trabalhadoras às novas formas de controle e de acumulação de capital. Para Antunes (2006, p. 39) o movimento operário na época foi convertido numa ―espécie de engrenagem capitalista‖. Bihr (1999, p. 50) reforça essa idéia quando afirma que

O movimento operário progressivamente se transformou em estrutura mediadora do comando do capital sobre o proletariado. Foi desse modo que, durante o período fordista, os organismos sindicais e políticos tentaram canalizar a conflitualidade do proletariado, propondo e/ou impondo-lhe objetivos e saídas compatíveis com os termos do dito compromisso, combatendo violentamente toda tentativa de transbordamento desse compromisso.

Desse modo, o compromisso significou, também, o esforço em garantir a hegemonia burguesa frente à ameaça socialista, à medida que fez com que as classes dominantes estivessem mais predispostas a ―amparar‖ os trabalhadores, o que se deu através de um crescimento no gasto social público. Vale salientar que

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esses ganhos sociais estavam voltados para os países centrais, enquanto que os países do Terceiro Mundo estavam totalmente excluídos desses benefícios, e, ainda eram explorados para sustentar tal compromisso (BIHR, 1999).

Assim, após a Segunda Guerra Mundial, se desenvolveu nos países capitalistas do chamado Primeiro Mundo o Estado de Bem Estar Social ou Estado Providência, o qual teve como características a promoção social e forte intervenção na economia2. Neste sentido, o Estado assumiu um duplo papel: criar mecanismo para a acumulação de capital – financiando novos investimentos ou criando outros, tornando-se empresário em áreas que demandam alto investimento, reduzindo ou eliminando tributos, etc – e garantir uma distribuição de renda, por meio de uma rede de políticas sociais compensatórias.

Vianna (2000, p. 11) apontou uma característica que norteou as intervenções do Estado de Bem Estar Social na esfera social, contraditoriamente ao Estado liberal, qual seja:

O risco a que qualquer cidadão, em princípio, está sujeito – de não conseguir prover seu próprio sustento e cair na miséria – deixa de ser problema meramente individual, dele cidadão, e passa a constituir uma responsabilidade social, pública. O Estado de bem-estar assume a proteção social como direito de todos os cidadãos porque a coletividade decidiu pela incompatibilidade entre destituição e desenvolvimento.

Foi nesse momento que a Seguridade Social foi alicerçada efetivamente em diversos países desenvolvidos, em virtude do crescimento das ações do Estado de Bem Estar Social3. Entretanto, o marco inicial já havia sido dado na Alemanha, desde o final do século XIX, pelo chanceler do Império Otto Von Bismarck, o qual propôs ao parlamento um projeto de lei contra acidentes de trabalho, enfermidades,

2

Esse modelo de acumulação requereu, ainda, um consumo em massa da população, o qual foi sustentado pelo poder estatal por meio da tomada de algumas medidas, como o aumento de salários, a redução do desemprego, a criação do seguro-desemprego, dentre outras.

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velhice e invalidez, porém, os direitos aos benefícios eram garantidos mediante contribuição direta anterior, financiada pelos empregados e empregadores4.

Todavia foi na Grã Bretanha por uma lei de 1911, que surgiu o primeiro germe do Estado de Bem Estar Social, trazendo algo de novo em relação à legislação alemã, não somente nos 25 anos que as separam, mas principalmente por que pressupõe o uso de recursos do erário público, enquanto que na Alemanha o Parlamento exigia que os trabalhadores e empregadores cobrissem por inteiro os custos com os benefícios.

Essas conquistas demonstraram que antes mesmo da Primeira guerra Mundial já começava a se alicerçar uma rede de direitos sociais, não somente nesses países, mas em muitos outros países europeus. Porém, a Primeira Guerra Mundial e a vitória do Socialismo na Revolução Russa de 1917, impulsionaram a luta por direitos pelos trabalhadores, o que tornou o Estado e as classes dominantes mais predispostas a atender algumas reivindicações, temendo uma revolta da população.

Outras conquistas foram sendo alcançadas nos anos seguintes, no âmbito dos direitos sociais. Após a Primeira Guerra Mundial por disposição do Tratado de Versalhes, em 1919 foi criada a Organização Internacional do Trabalho (OIT), com a finalidade de generalizar direitos sociais e universalizar condições de trabalho.

Entre 1941 e 1942 foi criado o Plano Beveridge, por um comitê interministerial britânico, presidido por William Beveridge, o qual abordando a concepção de pleno emprego de keynes inaugurou a Seguridade Social como responsabilidade primordial do Estado e como direito universal a todos os cidadãos, posto que, eram garantidos os mínimos sociais a todos aqueles que necessitavam e o financiamento era proveniente dos tributos (orçamento fiscal) e a gestão era pública/estatal (BOSCHETTI E SALVADOR, 2005). Os princípios desse relatório – universalidade, unidade e uniformidade – influenciaram a concepção de Seguridade Social em todo o mundo, inclusive no Brasil.

Ainda que estivesse havendo ampliação dos direitos sociais, esses avanços ocorreram de modo diferenciado, de acordo com a influência que esses eventos tiveram em cada país. Singer (2005, p. 239) chama a atenção para a desigualdade

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existente nos ―gastos sociais como parcela do PIB entre países igualmente desenvolvidos e igualmente partícipes na história política e social do ocidente, a partir das revoluções industriais‖. Salienta, ainda, como exemplo, que ―nos Estados Unidos, que participaram apenas do final da Guerra Mundial e não foram palco de batalhas, os efeitos da mobilização e do temor do bolchevismo foram muito menores do que na Alemanha‖.

Entretanto, a partir dos anos 1970, observou-se que a organização taylorista/fordista dava sinais de esgotamento. Iniciou-se, desse modo, uma nova crise vivenciada no modo de acumulação capitalista, em que o capital não mais conseguia manter suas altas taxas de lucro e o crescimento econômico.

Os traços mais evidentes desta crise foram a queda das taxas de lucro, pelo aumento do preço da força de trabalho e intensificação das lutas sociais; o esgotamento do padrão de acumulação taylorista/fordista de produção, em virtude da incapacidade de responder à diminuição de consumo, devido ao desemprego; hipertrofia da esfera financeira; maior concentração de capitais, haja vista, as fusões entre empresas monopolistas e oligopolistas; crise do Estado de bem Estar Social e de seus mecanismos de funcionamento; e incremento acentuado das privatizações, desregulamentação e flexibilização do processo produtivo5

(ANTUNES, 2006).

A intensificação das lutas de classe, boicotando e resistindo ao trabalho despótico, taylorizado e fordizado, somou-se aos fatores agravadores da crise. O operário massa constituído durante o processo taylorista/fordista se recompõs de uma nova consciência de classe que passou a confrontar o compromisso social-democrático. Conforme Antunes (2006, p. 41)

No final dos anos 60 as ações dos trabalhadores atingiram seu ponto de ebulição, questionando os pilares constitutivos da sociabilidade do capital, particularmente no que concerne ao controle da produção. Com ações que não pouparam nenhuma das formações capitalistas desenvolvidas e anunciavam os limites históricos do ‗compromisso‘ fordista. [...] O taylorismo/fordismo realizava uma expropriação intensificada do operário-massa destituindo-o de qualquer participação na organização do processo de trabalho, que se resumia a uma atividade repetitiva e desprovida de sentido.

As formas de enfrentamento assumiram as mais diversas formas individuais

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– absenteísmo, fuga do trabalho etc. – e coletivas – greves parciais, formação de conselhos, contestações da divisão hierárquica, entre outras.

Nesse período, entretanto, o Estado, como um dos traços da crise do capital, antes visto com um estabilizador político econômico, passou a ser objeto de críticas profundas, surgindo a expressão denominada de "Crise do Estado de Bem Estar social", a qual foi marcada por uma forte tendência ao esgotamento da capacidade financiadora deste.

Vianna (2000, p. 61) ressaltou que

A crise do Welfare State se apresenta, então, sob pelo menos três ângulos. O primeiro é o da crise econômica, que se manifesta em termos de recessão, redução do PIB e aumento do desemprego: menos receitas e maiores gastos, portanto. O segundo reflete mudanças na estrutura demográfica, cujo perfil vem mostrando uma diminuição do contingente de população ativa em relação à inativa; menores taxas de natalidade e mais longevidade fazem com que os encargos com idosos, aposentados, doentes crônicos, etc., tornem-se pesados. A terceira dimensão da crise é política, e se expressa na insatisfação da população – ou seja, do eleitorado – com a atuação do Estado de bem-estar.

O modelo de Estado de Bem Estar Social exigia forte intervenção do Estado, no âmbito social e econômico, contudo, com a crise no padrão de acumulação capitalista, cresceu a demanda das pessoas por ações do Estado para sua sobrevivência, nas mais diversas áreas – previdência, assistência, saúde entre outras – em razão do aumento do desemprego, e o Estado não conseguiu mais dar respostas satisfatórias.

A crise do Estado de Bem Estar Social, embora, restrita a alguns países, nos quais ele se fez presente, foi preponderante para o avanço do paradigma neoliberal em todo o mundo.

Esse cenário que se viveu pós 1970 acabou constituindo-se no ―solo propício‖ para a propagação e implementação das ideias neoliberais elaboradas por Friedrich Von Hayek, que, embora formuladas em 1944, não tiveram, na época, adesão, pois esse período marcou o início dos anos dourados do capitalismo.

Os defensores destas ideias defenderam que a nova crise do capital deveu-se às constantes pressões reivindicativas do movimento da clasdeveu-se trabalhadora para que o Estado aumentasse sempre mais os gastos com o social6 (IANNI, 1997). ―O

6 Uma pioneira na implementação de políticas neoliberais foi a primeira ministra da Inglaterra,

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neoliberalismo ressuscita a metáfora da ‗mão invisível‘, que estaria cada vez mais presente em todo o mundo‖ (IANNI, 1997, p. 263). Retomou o discurso de que é preciso liberalizar sempre mais, pois o mercado é o melhor mecanismo para o crescimento e para a satisfação das necessidades dos indivíduos.

Assim, foram fortalecidos os discursos marcados pelo ataque à intervenção do Estado, na medida em que se considerou que esta limitava os mecanismos do mercado, destruía a liberdade dos cidadãos e a possibilidade de concorrência, inviabilizando o progresso de todos, haja vista que a desigualdade social, segundo argumentam os seus defensores, é imprescindível para o desenvolvimento das sociedades (ANDERSON, 2003). Neste sentido, o Estado diminuiu os gastos com o social e diminuiu, também, o seu papel nas intervenções econômicas, isto é, quando fosse conveniente para o capital.

Dentre as muitas propostas da política neoliberal, podemos destacar a contrarreforma do Estado, a desestatização da economia, a privatização de empresas produtivas e lucrativas governamentais e a abertura de mercados (IANNI, 1997). Essas ações têm levado o Estado a um verdadeiro repasse de responsabilidades, já que praticamente tudo passou a girar em torno do mercado. O capital, nesse período, também reorganizou a sua forma de acumulação por meio de um novo padrão produtivo – com caráter flexível, emprego de terceirização e uso de alta tecnologia. Antunes (2006, p. 31) destaca que

Como resposta à sua própria crise, iniciou-se um processo de reorganização de capital e de seu sistema ideológico e político de dominação, cujos contornos mais evidentes foram o advento do neoliberalismo, com a privatização do Estado, a desregulamentação dos direitos do trabalho e a desmontagem do setor produtivo estatal, da qual a era Thatcher-Reagan foi expressão mais forte; a isso se seguiu também um intenso processo de reestruturação da produção e do trabalho, com vistas a dotar o capital do instrumental necessário para tentar repor os patamares de expansão anteriores.

Dentre os instrumentos utilizados para voltar ao padrão de acumulação anterior destacou-se o toyotismo japonês.

O toyotismo ou ohnismo – derivado de Ohno, engenheiro que o criou – é

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uma forma de organização do trabalho que nasceu na Toyota, no Japão logo após a Segunda Guerra Mundial e que se propagou para outros países com a crise do sistema produtivo vigente em 1970. Os seus traços principais, os quais se diferenciavam do fordismo são: produção vinculada à demanda, por isso também bastante variada e heterogênea, diferindo da produção em série e de massa do taylorismo/fordismo e da homogeneidade fordista; o trabalho é realizado em equipe e com multivariedades de funções; os trabalhadores são polivalentes, operando simultaneamente várias máquinas; e busca-se o melhor aproveitamento do tempo de produção.

Além desses, outros traços típicos do toyotismo são: os estoques mínimos para evitar qualquer desperdício; a estrutura das empresas são horizontalizadas – transferência para ―terceiros‖ de partes que antes eram produzidas dentro de seu espaço produtivo – inclusive as terceirizadas; organização dos Círculos de Controle de Qualidade (CCQs), criando estratégias para se apropriar dos conhecimento dos trabalhadores, acerca do processo de trabalho; utilização, também, do ―emprego‖ vitalício‖ para uma parcela dos trabalhadores das grandes empresas, além de ganhos salariais intimamente ligados ao aumento da produtividade (ANTUNES, 2006).

É evidente que, pelas próprias características de cada país, esses aspectos do toyotismo vão sendo aperfeiçoados, ou mesmo, sendo assimilados processualmente (ANTUNES, 2006). Todavia, é inegável que esse processo de reestruturação produtiva, ainda que queira mostrar-se superior ao padrão taylorista/fordista, posto que este era mais rígido e autoritário, enquanto que o modelo flexível implica participação e envolvimento dos trabalhadores, ainda que manipulado, trouxe uma intensificação da exploração do trabalho, requerendo um trabalhador polivalente e multifacetado, de acordo com o ritmo produtivo e a velocidade da cadeia produtiva. Conforme Chesnais (1996, p. 17) ―todas as virtudes atribuídas ao ‗toyotismo‘ estão dirigidas a obter a máxima intensidade do trabalho e o máximo rendimento de uma mão de obra totalmente flexível‖.

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modelo taylorista/fordista, mas seguindo um receituário diferente ―reinaugura um novo patamar de intensificação do trabalho, combinando fortemente à forma relativa e absoluta de extração da mais-valia‖ (ANTUNES, p. 2006, p. 56), utilizadas sem nenhuma preocupação com as consequências para o aumento brutal do desemprego (CHESNAIS, 1996).

Esse novo cenário vai ser palco de constantes desregulamentações e quebras de direitos alcançados nas décadas anteriores, especialmente nos países desenvolvidos, visto que

Na experiência fordista-keynesiana, os sistemas de seguridade social foram ampliados por força das negociações entre empresas e instituições do Estado, enquanto nas experiências pós-fordistas, sob o influxo das idéias neoliberais, a tendência é de privatizar os programas de previdência e saúde e ampliar os programas assistenciais, em sincronia com as mudanças no mundo do trabalho e com as propostas de redirecionamento da intervenção social do Estado (VIANNA, 2000, p. 13).

Nesse novo cenário os trabalhadores contestaram, cada vez mais, o direito de organização sindical para lutar por seus direitos. É imprescindível ressaltar que a literatura especializada que tratam dos direitos alcançados nessa época, salientam sobremaneira a relevância das lutas das classes trabalhadoras, principalmente dos sindicatos e associações, apesar de que em diversos momentos, estes tiveram sua atuação restringida, quer seja por leis que proibiam suas ações ou por cooptação dos mesmos pelos empregadores e pelo Estado.

É importante nesse momento abrir um parêntese para falar dos primórdios dessa luta e do seu impacto sobre os direitos nos diversos países.

2.1.1 O embate entre as classes fundamentais

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a distinção entre capitalistas e proprietário fundiário, bem como entre trabalhador rural e trabalhador industrial, deixa de existir e toda a sociedade se deve dividir em duas classes, os possuidores de propriedade e os trabalhadores sem propriedade‖ (MARX, 1989, p. 157).

A divisão da sociedade em classes sociais é encarada por Marx como uma categoria histórica7, visto que essa divisão não ocorreu em todas as sociedades

indistintamente, mas é resultante de um crescente desenvolvimento da divisão do trabalho social e do surgimento da propriedade privada. Foi nesse momento que os não produtores (detentores dos meios de produção) e os produtores diretos (trabalhadores destituídos de propriedade, exceto sua força de trabalho) se enfrentaram pela primeira vez na condição de explorados e exploradores, ―os possuidores de propriedade e os trabalhadores sem propriedade‖ (MARX, 1989, p. 157).

Essa afirmação vem ratificar o que disse Santos (1991, p. 19): ―o conceito de classes sociais se constitui teoricamente dentro do conceito de luta de classes. A luta de classes é, pois o conceito-chave para se compreender as classes sociais‖.

Na sociedade capitalista as relações dos homens entre si são mediadas pela propriedade e pelo uso dos meios de produção. Dessa forma, aqueles que detêm esses meios (capitalistas) se beneficiam de modo diferenciado daqueles que não os detêm (trabalhadores). Na realidade, as relações que se travam entre trabalhadores e capitalistas são movidas por interesses notadamente distintos e antagônicos.

Como muito bem caracterizou Marx (1989, p. 116): ―o trabalhador, em relação ao patrão, não se encontra de modo nenhum na situação de vendedor livre [...] o capitalista é sempre livre para empregar o trabalho e o operário vê-se obrigado a vendê-lo‖.A igualdade não passa de mera injunção formal presente na legislação. Como o trabalhador é destituído dos meios de produção, vê-se obrigado a vender sua única propriedade, sua força de trabalho, para sobreviver. Assim, sua força de

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trabalho torna-se também uma mercadoria, contudo, como esta não existe fora do trabalhador, este cede sua disposição de trabalho por um tempo determinado em troca de um salário. Esse salário reflete apenas a ínfima parte do produto do trabalho, sendo apenas o indispensável para existirem como trabalhadores.

Desse modo, como os trabalhadores precisam garantir cotidianamente os meios de subsistência precisam lutar pela possibilidade de realizarem sua atividade, isto é, pela oportunidade de trabalharem, visto que é o capital que demanda segundo os seus parâmetros de produtividade a absorção da força de trabalho.

O valor do trabalho fica completamente destruído se não for vendido a todo instante. O trabalho não pode nem ser acumulado nem poupado, ao contrário das autênticas mercadorias. O trabalho é vida e se não for todos os dias permutada por alimentos depressa sofre danos e morre (MARX, 1989, p. 116).

Pelo exposto é possível afirmar que os trabalhadores não podem ficar sem trabalho, haja vista que dele necessita para sua existência. Os capitalistas sabem disso e não somente fazem crescer o número de trabalhadores, mas criam, também, uma superpopulação, a qual forma um grande exército industrial de reserva, à espera de uma oportunidade de trabalho.

No consumo da força de trabalho pelo capital não somente o operariado trabalha sobre o controle e disposição do capitalista, mas também o produto é propriedade deste, não do produtor imediato, o trabalhador (MARX, 1983). Assim, ―quanto mais objetos o trabalhador produzir, menos ele pode possuir e mais se submete ao domínio do capital‖ (MARX, 1989, p. 159). Segundo Marx a realização do trabalho para o trabalhador se dá como alienação, visto que o trabalhador vê o produto de seu trabalho como algo estranho a ele e nele não se reconhece, como aponta:

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Enquanto para o trabalhador o trabalho é sacrifício para o capitalista é sinônimo de garantia de mais riquezas. O emprego de trabalhadores pelos capitalistas só faz sentido porque eles esperam não somente serem revertidos os fundos aplicados em salários, matérias primas e objetos de trabalho, mas desejam lucrar através de suas aplicações (MARX, 1989) e, mais do que isso, anseiam por extrair mais valia do trabalho. Segundo Marx (1983, p. 162) ―a mais valia se origina de um excedente quantitativo de trabalho, da duração prolongada do mesmo processo de trabalho‖. Assim, apreendemos que os capitalistas buscam não a satisfação de necessidade, mas o dinheiro acrescido, a acumulação de capital e para isso se utilizam do trabalho como fonte criadora de valor.

Portanto, a relação que se estabelece entre trabalhadores e capitalistas enriquece apenas estes, enquanto aumenta o domínio do capital sobre aqueles. Torna-se perceptível, nesse momento, uma relação de oposição e antagonismo. O trabalhador como sai perdendo nesse jogo rebela-se contra o capital e passa a lutar pelo reconhecimento e garantia de direitos.

A origem da luta de classes para Marx (2008, p. 67) deu-se

À medida que a burguesia se desenvolve, desenvolve-se também no seu interior um proletariado moderno: desenvolve-se uma luta entre a classe operária e a classe burguesa, luta que antes de ser sentida por ambos os lados, percebida, avaliada, compreendida, confessada e proclamada abertamente, manifesta-se previamente apenas por conflitos parciais e momentâneos, por episódios subversivos.

Desse modo, segundo Marx a luta de classes materializou-se através de lutas e conflitos concretos. Essas lutas em nível mundial se fizeram presentes, especialmente, em meados do século XVIII, quando diversas invenções começaram a revolucionar a manufatura e o transporte na Inglaterra, substituindo muitos artesãos que produziam com ferramentas simples em suas próprias casas, devido aos altos custos dos equipamentos para produção, que estavam fora do alcance econômico da maioria dos trabalhadores. Com a Revolução Industrial, mudou também o quadro urbano, com uma grande massa de trabalhadores morando nas cidades em condições insalubres.

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2008, p. 54), pois vivenciavam longas jornadas de trabalho, falta de higiene e salários insuficientes para sanar suas necessidades e de suas famílias. Desse modo, são impulsionados a lutar para assegurar uma melhor posição e uma condição mais humana, apesar de que, até o final do século XVII e início do século XIX, a organização de trabalhadores foi proibida em diversos países.

De acordo com Engels (2008) a primeira e mais brutal forma de luta foi o crime e ressalta que, com a expansão da indústria o número anual de prisões também cresceu. Contudo,

Os operários logo perceberam que o crime não ajudava em nada. O criminoso só podia protestar contra a sociedade existente sozinho, como indivíduo; todo o poder da sociedade caía sobre cada criminoso, e o esmagava com sua imensa superioridade. Além disso, o roubo [...] nunca se tornou a expressão universal da opinião pública dos trabalhadores, embora muitos deles pudessem aprová-lo em silêncio (ENGELS, 2008, p. 54).

Outra forma de luta das classes trabalhadoras foi a resistência à introdução da maquinaria, o que foi levado a cabo através de perseguições aos primeiros inventores e destruição de máquinas8. Essa forma de protesto ficou restrita a algumas localidades e no fim somente os trabalhadores eram punidos, enquanto a maquinaria era reintroduzida.

Foram resultados também de revoluções e motins no século XVIII, significativas conquistas em vários países, de que são exemplos os Estados Unidos, país pioneiro na construção de uma Constituição Federal baseada nos princípios de cidadania, apesar das diversas restrições aos negros, mulheres e índios; e a França, cuja população através dos diversos motins denunciou a situação de miséria e desemprego, culminando na Carta Magna de 1791. Estas conquistas, embora repletas, ainda, de concepções conservadoras, era o prenúncio de mudanças substantivas (SINGER, 2005).

Na Inglaterra um importante avanço foi a aprovação da lei de 1824, a qual concedeu o direito de associação e greve, que havia sido revogada no final do século XVIII. Haja vista que, durante esse período toda organização dos trabalhadores foi limitada, devido à clandestinidade e a necessidade de manter-se em segredo.

8 Um movimento na Inglaterra que usou a quebra das máquinas e que ficou mundialmente conhecido

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Conforme Engels (2008, p. 55-56) na Inglaterra

Em todas as seções da indústria sindicatos foram formados com a intenção manifesta de proteger o operário isolado contra a tirania e negligência da burguesia. Seus fins eram negociar, en masse, como força, com os empregadores; regular a taxa de salários segundo o lucro dos últimos, elevá-la quando se oferecia a oportunidade, e mantê-la uniforme em cada ofício por todo o país.

Marx (2008, p. 62) corroborou com a afirmação de Engels ao falar sobre o objetivo da organização sindical: ―os sindicatos têm por fim impedir que o nível de salários desça abaixo da soma paga tradicionalmente nos diversos ramos da indústria e que o preço da força de trabalho caia abaixo de seu valor‖. Contudo, sabemos que essa finalidade até atendia os interesses e necessidades da época, porém, hoje, com as diversas inflexões ocorridas no mundo do trabalho e mesmo na esfera do Estado, as lutas do movimento sindical, precisam atuar nesse âmbito também, mas, sobretudo, deve superá-la. Daí ser tão relevante sua atuação para além dos direitos trabalhistas e corporativistas.

Foi no fim do século XIX e início do século XX que os direitos, especificamente, os direitos sociais, contaram com amplo alargamento, como já abordado, processo concomitante com a luta da classe trabalhadora que se fez sempre presente. Ora de forma mais combativa, ora de forma mais pontual, devido às diversas limitações e desafios colocados historicamente e diferenciadamente nos diversos países do mundo9.

Entretanto para Marx as lutas das classes trabalhadoras só fazem sentido à medida que tomam consciência de sua situação comum. Por isso, Marx faz uma importante distinção entre consciência de classe em si e consciência de classe para si:

A dominação do capital criou para essa massa uma situação comum, interesses comuns. Por isso, essa massa é já uma classe diante do capital, mas não o é ainda para si mesma. Na luta [...] essa massa reúne-se, constitui-se em classe para si mesma. Os interesses que defende tornam-se interesses de classe (MARX, 2008, p. 67).

Como classe em si os trabalhadores reconhecem-se como classe

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subalterna, com interesses comuns e antagônicos à classe burguesa. Porém, somente quando os trabalhadores tomam consciência de sua situação e objetivos e passam a lutar por seus objetivos, como sujeitos da história, tornam-se então classe para si. Esses momentos que parecem distintos, na realidade não o são, Iamamoto (2007) chama a atenção que estas dimensões são inseparáveis para a formação histórica das classes em Marx, elas se dão em um processo de transição (de classe em si para classe para si) e não de uma concepção de dualidade. Assim,

Em sua luta revolucionária, não basta o proletariado, assumir-se enquanto classe (consciência em si), mas é necessário assumir-se para além de si mesmo (consciência para si). Conceber-se não apenas como um grupo particular com interesses próprios dentro da ordem capitalista, mas também se colocar diante da tarefa histórica da superação dessa ordem. A verdadeira consciência de classe é fruto dessa dupla negação: num primeiro momento, o proletariado nega o capitalismo assumindo sua posição de classe para depois negar-se a si próprio enquanto classe, assumindo a luta de toda sociedade por sua emancipação contra o capital (IASI, 2007, p. 32).

A luta de classes na concepção de Marx é considerada como fator primordial para a busca e consolidação de direitos e, mesmo que a vitória não seja o seu resultado imediato, as lutas servem para unir, cada vez mais, os trabalhadores (MARX E ENGELS, 1998). Contudo, embora para Marx essas lutas parciais e momentâneas (motins, greves, entre outras) fossem importantes, era imprescindível que a luta se estendesse para um âmbito mais geral de transformação da própria realidade social como um todo. Essa luta daria origem a uma revolução que destronaria a própria ordem social vigente.

Para esse autor eram os proletários que deveriam destruir a relação de exploração pautada na propriedade privada, resultante do modo de produção capitalista (MARX E ENGELS, 1998). Apesar de tantos anos passados, a frase de encerramento do Manifesto do Partido Comunista (1998, p. 46) é extremamente atual, numa sociedade notadamente marcada pela divisão de classes e desigualdade social, e ainda ressoa em diversos movimentos de trabalhadores que lutam contra a opressão e exploração: ―Proletários de todos os países, uni-vos!‖.

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No Brasil o Estado possui um legado histórico de repressão e autoritarismo, contudo, temendo as movimentações e conflitos, diversas vezes precisou ceder e criar, paulatinamente, e ainda que não tão amplamente quanto nos países desenvolvidos, um sistema de proteção social, visando amenizar os conflitos e dar legitimidade ao sistema de poder.

O processo de reconhecimento e garantia dos direitos sociais deu-se, mais concretamente, no início do século XX, quando algumas necessidades da população começaram a ser atendidas pelo Estado10. Esse processo foi determinado, fundamentalmente, a exemplo do que aconteceu nos países desenvolvidos, pela organização e lutas das classes trabalhadoras, representadas, principalmente, pelo movimento operário e sindical, resistindo e denunciando a opressão que lhe era imposta pela classe dominante e reivindicando a melhoria, tanto das condições de trabalho, quanto de vida.

Nesse período, o Estado passou a regulamentar e garantir os direitos sociais inspirados no padrão bismarckiano de origem alemã e posteriormente no beveridgiano, inglês. Porém, desde o final do século XIX já se esboçavam alguns direitos sociais, contudo, não ultrapassavam o âmbito dos profissionais do Estado.

É importante salientar que esse processo deu-se tardiamente, visto que diversos países desenvolvidos já contavam com significativos avanços no campo dos direitos. Aliás, o Brasil é marcado notadamente por sua inserção tardia em diversos processos que nos países desenvolvidos já se faziam presentes desde muito tempo, assim, podemos falar de capitalismo, industrialização, proteção social e neoliberalismo tardios.

Esse fato ocorreu em virtude da própria história e cultura brasileira, na qual durante muito tempo – desde o seu descobrimento até o século XIX – apresentou-se como uma colônia de Portugal, tendo como principal atividade a agricultura, cuja mão de obra era escrava.

Somente no final do século XIX, esse quadro começou a mudar, mais substancialmente, com a abolição da escravatura e o fim do regime monárquico,

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Referências

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