• Nenhum resultado encontrado

As tecnologias da informação sob o domínio da justiça: disponibilidade e garantia de acesso das informações jurídicas da Justiça Estadual do Maranhão?

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "As tecnologias da informação sob o domínio da justiça: disponibilidade e garantia de acesso das informações jurídicas da Justiça Estadual do Maranhão?"

Copied!
107
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília Programa de Pós-Graduação em Ciência da informação

ALDINAR MARTINS BOTTENTUIT

AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO SOB O DOMÍNIO DA JUSTIÇA: disponibilidade e garantia de acesso e distribuição das informações

jurídicas da Justiça Estadual do Maranhão?

(2)

ALDINAR MARTINS BOTTENTUIT

AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO SOB O DOMÍNIO DA JUSTIÇA: disponibilidade e garantia de acesso e distribuição das informações jurídicas

da Justiça Estadual do Maranhão ?

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Campus de Marília,

como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Ciência da Informação.

Área de concentração: Informação, Tecnologia e Conhecimento

Linha: Informação e Tecnologia

Orientadora: Profa. Dra. Plácida Leopoldina Ventura Amorim da Costa Santos

(3)

ALDINAR MARTINS BOTTENTUIT

AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO SOB O DOMÍNIO DA JUSTIÇA: disponibilidade e garantia de acesso das informações jurídicas da Justiça

Estadual do Maranhão ?

TESE PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR

Banca Examinadora:

________________________________________________

Profa. Dra. Plácida Leopoldina Ventura Amorim da Costa Santos (UNESP/Marília)

_______________________________________________ Profa. Dra. Mariângela Braga Norte

(UNESP/Marília)

_______________________________________________ Prof. Dr. Edinilson Donisete Machado

(UNIVEM/Marília)

_______________________________________________ Prof. Dr. Marcos L Mucheroni

(USP)

_______________________________________________ Prof. Dr. Ricardo André Gonçalves Sant’ana (UNESP/Marília)

(4)

À memória de minha querida avó Flora Durans; Aos meus pais, Ademar e Natividade; As minhas irmãs Alda e Aldimar;

(5)

AGRADECIMENTOS

À Marília (cidade) pelo recebimento;

À professora Dra. Mary Ferreira, pela leitura e troca de idéias.

À professora Dra. Plácida Santos, pela orientação segura.

À professora Dra. Mariângela Braga Norte, pelo convívio.

Aos professores que participaram da qualificação do projeto, e, agora, da apresentação/defesa da pesquisa.

À Maria José Jorente e a sua família, pela amizade e acolhimento.

À Lucia Nascimento (Luma), pela amizade e companheirismo.

À Bete Mass e família pela disponibilidade e valiosa contribuição na estrutura final do trabalho.

A todos os colegas e funcionários do Departamento e Coordenação de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão, pelo apoio e compreensão durante a minha ausência;

Aos colegas da Biblioteca, da livraria e dos serviços de Xerox (Hércules) da UNESP;

Aos gestores do TJMA e aos profissionais do Direito, atuantes nos Tribunais de Pequenas Causas, pelas informações fornecidas durante a pesquisa;

Aos colegas da Pós-Graduação: Miguel, Lucia Nascimento, Luzia, Lourdes, Terezinha, Ricardo Santana, Silvia Espírito Santo, Carlos Cândido, Luana, Juliana, Jane, Rosa, que convivi no decorrer desse tempo.

(6)

“O acesso à Justiça é o mais básico dos direitos humanos de um sistema jurídico moderno e igualitário que pretenda garantir, e não apenas proclamar os direitos de todos”.

(7)

RESUMO

A presença das tecnologias de informação (TI) na Justiça Estadual do Maranhão sinaliza para um conjunto de medidas que deveriam possibilitar uma maior aproximação do Poder Judiciário ao cidadão com a perspectiva de atender -via virtualização das informações jurídicas- aos princípios da transparência e do direito à informação viabilizados pelo acesso a essa informação. A adoção dessas tecnologias vem permitindo a disponibilidade em rede de um conjunto de serviços como acompanhamento processual; pesquisa na base da legislação, na doutrina e na jurisprudência; uso do processo eletrônico; além de algumas ferramentas sociais ou colaborativas. Este conjunto lhes possibilita aos cidadãos e atores do direito “desterritorializações” sem a necessidade de saírem de suas casas, escritórios, fóruns ou tribunais. Esta nova forma de prestação jurisdicional, que configura uma Sociedade em Rede ou uma Cibercultura Judicial, tem apresentado alguns aspectos que merecem ser investigados pela Ciência da Informação, como no caso da qualidade do acesso e da distribuição de conteúdos jurídicos em domínio público. Entendemos que se há um movimento pelo livre acesso ao conhecimento e à informação jurídica (à Justiça), este tem que ser em condições de igualdade para todos/as. Objetivamos assim investigar e compreender como tem se efetivado a presença e a utilização da TI na distribuição da Justiça. A realidade social que elegemos para esta investigação é a da Justiça Estadual Maranhense. Para compreensão desse fenômeno, optamos pelo pluralismo metodológico com a entrevista, a observação e a pesquisa bibliográfica/documental alicerçada em autores como Boaventura Santos, Castells, Cappelletti, Capurro, Lojkine, Mattelart, Muñoz, Rifkin, Sadek, Saracevic, entre outros e que contribuíram para a reflexão crítica da problemática proposta. Dada às novas possibilidades que se apresentam na democratização do acesso e uso de tecnologia de informação e para possibilitar a circulação de mais informação em meio digital, bem como para garantir uma Justiça mais visível, transparente e próxima do/a cidadão/ã, concluímos pela necessidade de se fomentar e efetivar, de modo geral, o uso dessas tecnologias nos Tribunais.

(8)

RESUMÉ

La présence des technologies de l’information à la justice de l’État du Maranhão montre par un groupe de mesures qui devraient possibiliter une plus grande proximité du pouvoir judiciaire avec le citoyen, en perspective d’assister par les moyens virtuels d’informations juridiques, aux principes de transparence et du droit à l’information qui deviennent viables par l’accès à cette information. L’adoption de ces technologies permet la disponibilité en réseau, d’un groupe de services comme le suivi de procès; la recherche la base de la législation, doutrine et la prestation de services; l’utilisation du procès électronique, au delà de quelques outils sociaux ou de collaboration, lesquels possibilitent aux citoyens, aux acteurs du droit de globalisation sans sortir de chez eux, des bureaux, des foruns ou tribunaux. Cette nouvelle manière de prestation de services dans la répresentation d’une société en réseau ou d’une “Ciberculture” Judiciaire, est en train de présenter quelques aspects qui méritent être examinés par la Science de l’Information, comme la qualité de l’accès et la distribution de sujets juridiques en domaine pulic. On comprend que s’il y a un mouvement par le libre accès à la connaissance et l’information juridique, à Justice, cette-ci doit être en conditions d’égalité pour tous et pour toutes. On objecte, de cette manière, examiner et comprendre comment la présence et l’utilisation de la TI dans la distribuition de la Justice sont en train d’être accomplies. La réalité sociale qu’on choisie pour cette recherche, est de la Justice de l’État du Maranhão. Pour la compréhension de ce phénomène, on choisit par la diversité de méthode, comme l’interview, l’observation et la recherche bibliographique / documentaire basés sur quelques écrivains comme Boaventura Santos, Castells, Cappelletti, Capurro, Lojkine, Muñoz, Rifkin, Sadek, Saracevic et d’autres qui ont contribué à la refléxion critique de cette question. Montrées les nouvelles possibilités qui se présentent dans la democratisation de l’accès et l’utilisation de la technologie de l’information et, ainsi, possibiliter la circulation davantage d’informations en milieu digital, d’assurer une justice plus visible, transparente et proche du citoyen ou de la citoyenne, on conclut par la necessité de stimuler et d’effectuer, d’une manière générale, l’utilisation de ces technologies dans les tribunaux.

(9)

RESUMEN

La presencia de las tecnologías de información (TI) en la Justicia Estadual de Maranhão señaliza hacia un conjunto de medidas que debería permitir una mayor aproximación del Poder Judiciario al ciudadano con la perspectiva de atender -vía virtualización de los informaciones jurídicas- a los principios de la transparencia y del derecho a la información viabilizados por el acceso a esa información. La adopción de esas tecnologías ha permitido la disponibilidad en red de un conjunto de servicios como acompañamiento procesal; investigación en la base de la legislación, en la doctrina y en la jurisprudencia; uso del proceso electrónico; además de algunas herramientas sociales o colaborativas. Este conjunto les permite a los ciudadanos -actores del derecho- “desterritorizaciones” sin necesidad de salir de sus casas, oficinas, foros o tribunales. Esta nueva forma de prestación jurisdiccional, que configura una Sociedad en Red o una Cibercultura Judicial, ha presentado algunos aspectos que merecen ser investigados por la Ciencia de la Información, como es el caso de la calidad del acceso y de la distribución de contenidos jurídicos en dominio público. Entendemos que si hay un movimiento por el libre acceso al conocimiento y a la información jurídica (a la Justicia), este tiene que ser en condiciones de igualdad para todos. Objetivamos, así, investigar y comprender como se ha hecho efectiva la presencia y la utilización de la TI en la distribución de la Justicia. La realidad social que hemos elegido para esta investigación es la de la Justicia Estadual Maranhense. Para comprensión de ese fenómeno hemos optamos por el pluralismo metodológico con la entrevista, la observación y la investigación bibliográfica/documental fundamentada en autores como Boaventura Santos, Castells, Cappelletti, Capurro, Lojkine, Mattelart, Muñoz, Rifkin, Sadek, Saracevic, entre otros que contribuyeron para la reflexión crítica de esa problemática. En virtud de las nuevas posibilidades que se presentan en la democratización del acceso y uso de tecnología de información y para permitir la circulación de más información en medio digital, así como también para garantizar una justicia más visible, transparente y próxima del ciudadano, concluimos por la necesidad de fomentar y hacer efectivo, de modo general, el uso de esas tecnologías en los Tribunales.

(10)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Resultado de pesquisa à Biblioteca Juridica digital ( BDJur) acerca do

tema Tecnologia da I nformação... 52

Figura 2 Documento recuperado em inteiro teor na BDJur... 53

Figura 3 Página de pesquisa a doutrina na BDJur... 54

Figura 4 Resultado da pesquisa a doutrina acerca do tema linguagem jurídica na BDJur... 54

Figura 5 Referência recuperada da pesquisa acerca do tema linguagem jurídica na BDJur... 55 Figura 6 Página de pesquisa a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ)... 56

Figura 7 Página de e-mail cadastrado no TRF para acompanhamento processual (sistema push)... 62

Figura 8 Transição do processo em formato papel para o digital... 63

Figura 9 Página da biblioteca do TJMA... 72

Figura 10 Página do Diário Eletrônico do TJMA... 73

Figura 11 Página do clipping do TJMA... 74

Figura 12 Página de informação institucional do TJMA... 74

Figura 13 Página de consulta a processo 1 grau do TJMA... 75

Figura 14 Página de consulta a processo 2 grau do TJMA... 76

Figura 15 Página de consulta a jurisprudencia do TJMA... 76

Figura 16 Página de consulta ao processo virtual nacional... 77

(11)

LISTA DE QUADROS

(12)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 13

2 O PODER JUDICIÁRIO NA SOCIEDADE EM REDE... 34

3 A CIRCULAÇÃO DA INFORMAÇÃO JURÍDICA NA SOCIEDADE EM REDE... 45

4 AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E OS TRIBUNAIS: novas formas de prestação jurisdicional... 58

5 AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO SOB O DOMÍNIO DA JUSTIÇA ESTADUAL: estudo do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão –TJMA... 66

5.1 Da apresentação dos serviços... 68

5.2 Da apresentação das páginas do sítio jurídico... 72

6 CONCLUSÃO... 79

REFERÊNCIAS... 83

(13)

1 INTRODUÇÃO

Um dia bastará fazer mover pequenas agulhas, sobre um quadrante numerado de um mostrador, para ler, diretamente, as últimas informações dadas pela Enciclopédia Mundial, disposta com um centro de irradiação contínua. Esse será o livro que, contendo todos os assuntos, estará à disposição do universo.

Paul Otlet1

A Justiça brasileira, com o discurso de construir um Poder Judiciário

mais eficiente e, portanto, célere, moderno e transparente, desde a década de 1990 tem utilizado as Tecnologias de Informação (TI) para a prestação jurisdicional2, rompendo assim, de certa forma, a sua cultura conservadora “que sempre teve na tradição uma garantia segura contra as inovações”

(SADEK, 2004, p.18).

As novas tecnologias permitem, conforme Dowbor (2009), “que o conhecimento adquirido pela humanidade, sob forma de ciência, obras de arte, música, filmes e outras manifestações da economia criativa seja

1 Com este espírito, toma-se como primeira referência o pensamento visionário de Paul Otlet, em epígrafe, para lidar com um verbete desta “Enciclopédia Mundial” que é o da informação jurídica, hoje disponível pelos sítios, pelas “bibliotecas sem paredes” (expressão cunhada por Chartier,1999), para consulta pública. Paul Otlet nasceu em Bruxelas, na Bélgica, em 1868, Paul Otlet é considerado o fundador das ciências da informação e da documentação. Em 1892, fundou o Escritório Internacional de Bibliografia, em parceria com Henri Lafontaine. Três anos mais tarde, transformaram o escritório em Instituto Internacional de Bibliografia e lançaram o Repertóire Bibliographique Universel - RBU. Em 1905, criaram a Classificação Decimal Universal, inspirada na obra de Melvil Dewey, na qual introduziram níveis hierárquicos entre as áreas do conhecimento. Em 1920, Paul Otlet organizou o primeiro congresso mundial de bibliografia e de documentação. Com a transformação, em 1931, do Instituto Internacional de Bibliografia em Instituto Internacional de Documentação, pela primeira vez o termo documentação foi utilizado intitulando um organismo internacional. Em 1934, produziu o livro Traité de Documentation, na qual a noção de documentação é extendida além do livro, o que de certa forma antecipa a questão dos novos suportes de informação como portadores de

memória. Disponível

em:http://www5.prossiga.br/informacaoct/asp/SaidaCat.asp?cod=22&id=port

(14)

universalmente acessível, a custos virtualmente nulos.”

A condição de uso de tecnologia de informação é fruto da contemporaneidade. Diferente em alguns aspectos da antiga economia da

Era Industrial, que perdurou do século XIX ao início do XX e tinha as redes de energia elétrica, as ferrovias, as estradas como único veículo de comunicação e produção em massa, a sociedade atual é caracterizada pelo uso intensivo de tecnologia de informação e pelo modo de desenvolvimento

informacional.

O período pós a Era Industrial (1956-1957) é definido por autores/pesquisadores de diferentes escolas de pensamentos (alguns mais críticos, pessimistas, outros mais conservadores, outros apologéticos) que

anunciam essa sociedade sob várias perspectivas de construções e denominadas como Sociedade Industrial (BELL, 1973), Sociedade Pós-Moderna (LYOTARD, 1979), Sociedade Pós-Capitalista (DRUCKER, 1999), Sociedade da Informação (MASUDA, 1979; MATTELART, 2002), Sociedade

Informática (SCHAFF, 1990), Sociedade do Conhecimento (MATOS, 1982), Cibercultura (LÉVY, 1999), Sociedade Digital (NEGROPONTE, 1995), Sociedade do Controle (DELEUZE, 2000), Sociedade do Espetáculo (BAUDRILLARD, 1989), Sociedade em Rede (CASTELLS, 1999), Era do

Acesso (RIFKIN, 2001) e abordadas nas obras O Futuro das Idéias (LESSIG, 2000) e A Revolução Informacional (LOJKINE, 2002). Todas essas visões diferenciadas, por um lado demonstram uma riqueza de conceitos e, por

(15)

Independentemente das definições/conceitos abraçados por esses autores, interessa-nos ressaltar que se vive uma nova Era, alavancada durante as últimas décadas do século XX pelos avanços científicos e

tecnológicos que vêm interferindo de forma muito direta nas atividades humanas e modificam seus modos de ser, fazer, ouvir, pensar e produzir, tendo em vista os novos modelos e a forma como se movem os seres humanos (individual ou coletivamente).

Ao objetivar e caracterizar as transformações atuais, esses autores, de modo geral, sinalizam para o esgotamento do padrão de acumulação capitalista tradicional e apresentam um novo modo de produtividade, ou seja, o da economia do conhecimento.

O sociólogo espanhol Castells (1999a), por exemplo, apresenta o informacionalismo, que tem como elementos estruturadores da nova economia as políticas de desregulamentação, de desintermediação, de privatização e de liberalização do comércio e dos investimentos em escala

global e em tempo real. Para Castells (1999a, p.87), essa nova economia é informacional e global, posto que a produtividade é gerada pelo conhecimento e a concorrência e é desenvolvida em uma rede global de interação.

Portanto, a instituição da Sociedade em Rede, conceito cunhado por Castells (2003) e que adotamos como caminho teórico nesta tese, deve ser compreendida a partir do desenvolvimento da tecnologia da informação e da

(16)

acontece nas redes globais e locais que configuram a sociedade em rede”. Desta forma, e ainda segundo o autor, o sistema político, os estados e as administrações têm se modificado no seu funcionamento por causa da

globalização e por um novo enquadramento tecnológico.

O enquadramento tecnológico apontado por Castells, assim como as interferências e mudanças advindas com este novo modelo de sociedade, estão articulados em quase todos os campos do conhecimento, a exemplo do

campo Jurídico. Esclarecemos o conceito de campo Jurídico tendo como referência o pensamento de Bourdieu (2004, p.212) que expressa:

[...] é o lugar de concorrência pelo monopólio do direito de dizer o direito, quer dizer, a boa distribuição ou a boa ordem, na qual se defrontam agentes investidos de competência ao mesmo tempo social e técnica que consiste essencialmente na capacidade reconhecida de interpretar (de maneira mais ou menos livre ou autorizada) um corpus de textos que consagram

a visão legítima, justa, do mundo social.

Tal como nos indica Bourdieu, o campo Jurídico tem uma lógica de funcionamento própria, com práticas e discursos associados à diversidade

de operadores e peritos, de interesses e de leis escritas. Da mesma forma, o campo informacional se apresenta com a sua gramática própria.

Capurro (2003) entende que “[...] a rede digital provocou uma revolução não apenas mediática, mas também epistêmica com relação à

sociedade dos meios de comunicação de massa do século XX”. Essa revolução para o autor possibilita “não só a distribuição hierárquica, ou

one-to-many, das mensagens, mas também um modelo interativo que vai além das tecnologias de intercâmbio de mensagens meramente individual”.

(17)

de sociedade “os quais mal começamos a enfrentar teórica e praticamente”. O autor destaca ainda que este seja “o grande desafio epistemológico e epistemoprático que a tecnologia moderna apresenta a uma Ciência da

Informação”.

Deste modo, a Ciência da Informação, que tem entre seus pressupostos “epistemológico e epistemoprático” transmitir/transferir o conhecimento para aqueles/as que dele necessitam, “teve e tem um

importante papel a desempenhar por sua forte dimensão social e humana, que ultrapassa a tecnologia” (SARACEVIC, 1995, p.42). Neste sentido, ela não pode ficar alheia as reflexões acerca da distribuição da Justiça à luz desse paradigma tecnológico e sua relação com as novas formas de

prestação jurisdicional. Essas são questões de pertencimento para o campo da Ciência da Informação, tendo em vista que no seu escopo investigativo a socialização qualitativa da informação e do conhecimento ainda são desafios que merecem maior base teórico-metodológica.

Reconhece-se que desde a aprovação no Brasil da Lei n.11.419 de 19 de dezembro de 20063 que trata da informatização do processo judicial, os tribunais, de modo geral, têm aderido tanto à tramitação (fases) dos processos de forma eletrônica/digital (e-processo) quanto ao interrogamento

on line pelo recurso da videoconferência4 ou ao uso do e-mail para

3 Lei em inteiro teor disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil

(18)

notificação de andamento processual, entre outros, tornando-se a política preferida para atingir as metas de descongestionamento, produtividade, confiança, segurança e celeridade.

Para justificar este contexto de uso das tecnologias de informação, os atores e as instituições jurídicas apresentam argumentos positivos. O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Ministro Cesar Asfor Rocha (gestão 2008-2010) afirma que “a ferramenta mais eficaz para

combater a morosidade da justiça é a tecnologia” e conclui que “a virtualização é um caminho sem volta e inevitavelmente todos terão que digitalizar seus processos5”.

Para tanto, o STJ vem coordenando o Projeto Justiça na Era Virtual, em

que 27 dos 32 tribunais do País estão aptos a enviar de forma eletrônica os processos que serão julgados por esta Corte. De acordo ainda com o ministro Cesar Rocha, isso dará maior velocidade à tramitação desses casos. “Para se ter uma idéia, o tempo entre a saída do processo do tribunal de origem até a

chegada ao gabinete do ministro, que leva de seis a sete meses, é reduzido a alguns minutos”, explicou o ministro6. Outro exemplo desta afirmativa sobre

um papel importante no Judiciário atual, inclusive mediante a Lei n. 11.419/06, que cuida da informatização do processo judicial, sendo o peticionamento eletrônico viável em vários tribunais, reduzindo gastos e tempo. Ela afirma que não se trata de desvalorizar o papel do desenvolvimento tecnológico no processo, mas, segundo ela, para a realização do interrogatório, não é possível preterir a presença de juiz e acusado frente a frente”.

5

Fala disponível em www.cnj.jus.br. Acesso em: 8 set. 2009.

(19)

a aceleração que o processo digital proporciona figura-se como metas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ):

a) informatizar todas as unidades judiciárias e interligá-las ao respectivo tribunal e à rede mundial de computadores (internet).

b) informatizar e automatizar a distribuição de todos os processos e recursos.

c) implantar sistema de gestão eletrônica da execução penal e mecanismo de acompanhamento eletrônico das prisões provisórias.

d) tornar acessíveis as informações processuais nos portais da rede mundial de computadores (internet), com andamento atualizado e conteúdo das decisões de todos os processos, respeitado o segredo de justiça.

e) cadastrar todos os magistrados como usuários dos sistemas eletrônicos de acesso a informações sobre pessoas e bens e de comunicação de ordens judiciais (Bacenjud, Infojud, Renajud).

f) implantar o processo eletrônico em parcela de suas unidades judiciárias (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2009)7.

Numa pesquisa no Relatório Anual do CNJ referente a 2008 obtivemos informações estatísticas descritas sob a ótica do processo eletrônico, tendo

em vista que a partir de maio de 2007 todos os processos recebidos no âmbito deste Conselho passaram a ser totalmente eletrônicos, conforme disposto no quadro1.

Importa destacar que, a partir de 2008, grande parte dos processos em

papel que estava pendente de julgamento tramitou-se também no sistema de processos eletrônicos (E-CNJ).

7

(20)

2006* 2007** 2008*** Quantitativo recebido Quantitativo recebido Quantitativo recebido

2.575 3.782 4.544

Quantitativo baixado Quantitativo baixado Quantitativo baixado

2.060 3.565 3.830

Quadro 1: Quantitativo de processos recebidos e baixados entre 2006-2008.

Fonte: Relatório Anual do CNJ, 2009. (*) Dados utilizados no Relatório Anual de 2006 do CNJ, coletados da base SI-CNJ. (**) Total de processos eletrônicos, coletados da base do E-CNJ em 18/12/2008, e em papel, utilizados no Relatório Anual de 2007. (***) Total de processos eletrônicos, coletados da base do E-CNJ e em papel da base SI-CNJ, em 09/01/2009.

Para ilustrar a tendência de transição do analógico para o digital e demonstrar como outros países têm buscado atuar em rede na tentativa de resolver/responder aos problemas comuns às novas exigências de eficiência

e de eficácia da gestão da Justiça, com base em tecnologia de informação, em março de 2008, aconteceu a XIII Cupula Judicial Iberoamericana em conjunto com a II Exposição de Justiça e Tecnologia, sediada no STJ, em Brasília (DF) e com a participação de representantes de 23 países8.

Durante o encontro foram apresentadas algumas experiências sobre o uso de dispositivos tecnológicos nos Tribunais dos países participantes e como resultado foi elaborada a Declaración de Brasília com o fim de fomentar a cooperação, o intercâmbio e o desenvolvimento científico e tecnológico

8 Presidentes das Cortes e Tribunais Supremos e Superiores de Justiça e dos Conselhos da Justiça e da Magistratura, de Andorra, Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Chile, República Dominicana, Equador, El Salvador, Espanha, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Portugal, Porto Rico, Uruguai, Venezuela; Disponível em:

(21)

entre esses países ibero-americanos, pois com todo o fluxo de informação e conhecimento agora disponível em rede, uma das questões colocadas no encontro foi a do acesso, considerado neste contexto um dos vetores básicos

necessários para a efetiva democratização desse fluxo.

Convencidos de la extraordinaria importancia que el uso de la tecnología tiene para una adecuada y eficaz administración de justicia, así como para la difusión de información a la ciudadanía en materias relacionadas con la justicia.

Ratificamos la importancia de proseguir con esta iniciativa en las sucesivas cumbres, con el fin de fomentar la cooperación y el intercambio tecnológico y científico entre nuestros países.

Em O Poder da Lei, entrevista concedida pelo constitucionalista Luis

Roberto Barroso (2009, p. 6), este expressa que:

A idéia de que o conhecimento só faz sentido se for socializado, universalizado, que ele não é monopólio ou privilégio de uma elite, é hoje vitoriosa no meio acadêmico e no meio profissional. Acho que também contribui para isso a ascensão do Poder Judiciário, a maior visibilidade que ele passou a ter. Há mais de uma década, juízes e tribunais iniciaram uma interlocução construtiva com a sociedade, com a opinião pública, com a imprensa [...]. Pois bem: ao lidar com a imprensa, com a opinião pública, com a sociedade, o mundo jurídico precisou ser mais claro, passou a ter a necessidade de se fazer entender. Ocorreram duas revoluções por aqui: a da visibilidade do Judiciário e a da simplificação da linguagem.

Portanto, as revoluções apontadas por Barroso são recentes e de

importância crítica, porém, se elas, por um lado, não rompem em sua totalidade com o modelo conservador que o Poder Judiciário vinha operando durante a modernidade e, em muitos casos, ainda opera, por outro lado, reconhece-se que esse Poder apresenta um avanço comprovado pela maior

visibilidade deste frente à sociedade atual.

(22)

conhecimento (dissemos, de uma perspectiva temporal de acesso para poucos “iluminados”, ou de “entesouramento” desse saber e, na atualidade, dada a importância crítica de sua socialização, como evidencia Barroso) está

no centro de um debate na relação de três variáveis entre os tribunais e as tecnologias de informação: a) a base legal para uso intensivo dessas tecnologias nos tribunais; b) a tecnologia da informação a serviço da gestão/administração da justiça; e c) a disponibilidade e acesso em rede da

base de conhecimento jurídico.

No que concerne a essa última variável, é de recordar que antes o

instrumento de acesso ao conhecimento jurídico era manual, de forma

analógica, e bem circunscrita, exigindo tempo disponível para as consultas

nos catálogos das bibliotecas, dos centros de documentação, dos arquivos ou de algum setor destinado para este fim. Já na atualidade, muito dos acervos desses lugares estão em versão digital, alojados em sítios ou páginas jurídicas. Por sua disponibilidade permanente, têm se constituído em fonte

de informação constante e em um meio para assegurar o acesso democrático e livre (pelo menos teoricamente) a serviços e conteúdos de informação em

texto, imagem e vídeo na Internet.

Assim, com a disponibilidade da informação no ambiente digital, há

agora uma grande visibilidade e circulação de informações e serviços resultantes das diferentes ações do Poder Judiciário. Dessa forma, ele oferta/disponibiliza serviços mais personalizáveis como o sistema Push e Distribuidores Simples de Informação (Really Simple Syndication (RSS), onde

(23)

processos; o acompanhamento do andamento de processos na página do tribunal; o fornecimento de certidões e petições on line; e vídeos. Esses cidadãos podem também buscar e consultar a legislação (atos legais), a

doutrina (teorias), a jurisprudência (acórdãos e decisões), clipping de notícias (vídeo, texto), acessar o diário da justiça, os calendários e plantões judiciais, bem como usufruir dos serviços de ouvidoria ao cidadão como: fale conosco, telejustiça, telejudiciário.

Cabe destacar que consideramos sítio jurídico (versão do termo em inglês site) ao conjunto de informações institucionais ou não, de serviços e produtos disponíveis pelo Poder Judiciário por meio de seus Tribunais superiores, regionais ou estaduais, independente de sua natureza e

finalidade, ou por órgãos da Justiça, com vistas à prestação jurisdicional, à pesquisa e/ou à consulta pública em rede digital.

Admitimos, na atualidade, que é igualmente necessário desenvolver

infra-estrutura material e possibilitar condições de acesso da população a esse conhecimento, assim como também aos serviços ofertados em rede. O direito de ser informado e, portanto, de não ser excluído desse acesso e consumo de informação e conhecimento, são exemplos de problemáticas

originadas e/ou redimensionadas pelo novo paradigma tecnológico, tendo em vista que qualquer apreciação sobre tecnologia da informação deverá sempre ser cotejada em uma situação heterogênea, com vários níveis e ritmos diferentes de desenvolvimento entre os países e entre as regiões no

mundo.

(24)

entre outras variáveis, com a modernidade informática:

[...] o sistema tecnológico centrado nas tecnologias de informação permitiu a formação de uma nova economia, um novo sistema de meios de comunicação, uma nova forma de gestão, tanto nas empresas como nos serviços públicos, uma nova cultura e, de forma incipiente, a emergência de novas formas de instituições políticas e administrativas. Também surgiram novos problemas sociais e novas formas de reivindicação e mobilização de cidadania, uma vez que nem só de tecnologia vivem as pessoas: a modernidade informática não elimina os problemas sociais e políticos, e em alguns casos e em determinadas condições até os acentua.

Waiselfisz (2007, p.8), na apresentação da pesquisa Mapa das

Desigualdades Digitais9 teve a intenção de caracterizar e detalhar melhor a

temática da exclusão digital vivenciada na contemporaneidade em uma realidade continental como a representada pelo nosso País e traz em seus dados “os novos problemas sociais” evidenciados por Castells.

[...] Brasil, quanto à proporção de sua população total que em 2005 teve acesso à Internet (17,2%), encontra-se, na América Latina, atrás de Chile (28,9%), Costa Rica (21,3%), Uruguai (20,6%) e Argentina (17,8%), e na 76ª posição entre os 193 países do mundo pesquisados pela União Internacional de Telecomunicação (UIT).

Em que pese o Brasil figurar entre as dez maiores economias do mundo, infelizmente é um país que ainda detém os piores índices de concentração de riquezas. Situação esta que verticaliza e agrava, a cada dia, as diferenças sociais e regionais, destinando milhares de cidadãos/ãs a

viverem permanentemente na ignorância, interditando-os/as desta forma, ao acesso aos direitos e bens imateriais.

(25)

Se a brecha que separa o Brasil dos países avançados é larga – a Suíça, com 76,2% de sua população acessando a Internet, tem um índice 4,4 vezes maior que o do Brasil – as fraturas internas são bem maiores: o índice de Alagoas (7,6%) é 5,4 vezes menor que o do Distrito Federal (41,2%). Mas a distância que separa o grupo de menor renda (0,5% de acesso) do grupo de maior renda (77% de acesso) é bem maior ainda:154 vezes. Fica evidente que as brechas internas – por renda, raça/cor/etnia, região geográfica do país – são muito mais largas e profundas do que as brechas que separam o Brasil dos países avançados (WAISELFISZ, 2007, p.8).

Além desses vários índices em que as desigualdades ou fraturas internas, como bem define Waiselfisz, manifestam-se nos municípios

brasileiros, evidenciamos que dentre os 5.564 municípios no país, aproximadamente 2.400 estão localizados nas regiões Norte e Nordeste e se encontram em situação de desconexão pelo fato de não serem atrativos economicamente para as concessionárias de telecomunicação, e

consequentemente confirmamos que os índices de inclusão e de exclusão digital10 coexistem em nossa sociedade.

10 Este assunto tem merecido atenção de muitos autores. Na visão de Sorj (2003, p.62-63) a exclusão digital representa uma dimensão da desigualdade social, pois mede a distancia relativa do acesso a produtos, serviços e benefícios das novas tecnologias da informação e comunicação entre diferentes segmentos da população. Silveira (2003, p.34-35), cita que dentro as políticas de inclusão se têm que pensar em modelos de continuidade, como: unidades de inclusão traduzidas em bibliotecas informatizadas atuantes, laboratórios escolares de informática conectados à rede, telecentros, quiosques; opções tecnológicas; atividades disponíveis (cursos presenciais e a distância, atividades comunitárias em rede); monitoria das unidades (monitores, orientadores, voluntários, conselhos gestores); sustentabilidade das unidades (recursos do fundo público, de empresas, contribuições individuais e coletivas, cobrança do usuário); autonomia e participação das comunidades. Já Mattos (2006), num trabalho que trata sobre Inclusão digital e desenvolvimento econômico na construção da sociedade da informação no Brasil, o qual traz uma série de dados estatísticos que confirmam a dificuldade desse país em se inserir de forma digna na era da informação, uma vez que “Os limites colocados pela renda da população para a expansão da rede não se devem apenas à elevada concentração da renda, mas ao fato de que a renda média da população é baixa e, dessa forma, não é difícil supor que - a não ser que sejam feitos enormes progressos em termos de políticas públicas de inclusão digital, fato que parece estar ocorrendo apenas em alguns casos isolados do território nacional”. MATTOS, Fernando Augusto M. Inclusão digital e desenvolvimento econômico na construção da sociedade da informação no Brasil. DataGramaZero - Revista de Ciência da

Informação , v.7, n.3 , jun. 2006. Disponível em:

(26)

Em se tratando do Poder Judiciário, campo que se adotou como objeto para desenvolvimento desta pesquisa, é necessário evidenciar algumas contradições fortemente presentes em suas unidades: por exemplo, conforme

relatório sobre a Participação do Tribunal em relação à Justiça Estadual, atualizado em 16 de junho de 2009, na categoria Insumos, Dotações e

Gestãos o Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão (TJMA) gastou com informática 1,69% de suas despesas, em relação ao total, no ano de 2007,

enquanto Alagoas investiu 4,59% e Rio de Janeiro, 4,33%. Na variável número de computadores por usuários, os dados compilados em 2007 apontam ainda que o Tribunal do Maranhão teria 0,89 (de computadores) para cada 100 usuários. A média dos Tribunais Estaduais ficou em torno de

86 para cada 100 usuários (CNJ, 2009). Tais dados mostram o pouquíssimo investimento do TJMA, tanto em equipamentos de informática quanto em número de computadores por usuário. Assim cabe questionar como

dimensionar distribuição e pontos de acesso para a população com tão pouco recursos disponíveis.

Ao confrontar esses dados com a realidade observada inferimos que no caso do Maranhão ainda se precisa de muitos investimentos se houver

realmente interesse em atender as demandas informacionais e de prestação de serviços dos/as cidadãos/ãs.

Para Saracevic (1995) tecnologia é uma questão central em Ciência da Informação, mas questiona se são os aspectos humanos (conhecimento,

registros do conhecimento, comunicação, contextos individual, institucional

(27)

e social, necessidade e uso da informação) fundamentais, como alicerces sobre os quais as soluções tecnológicas devem ser construídas.

Compreendemos que a disponibilidade de conteúdo jurídico em rede

digital não significa necessariamente condições plenas de acesso, apropriação e uso. Historicamente, sabe-se que todo processo de inserção e uso de novas tecnologias (quer sejam de informação e comunicação, de entretenimento, de reestruturação do mundo do trabalho) favorece uma

parcela da população, mas alija a um considerável contingente, quer seja pela sua situação econômica, cultural, física, educacional ou política.

Neste sentido, o pressuposto teórico e empírico que se tece para esta pesquisa é o de que as tecnologias de informação apresentam um grande

potencial de mudança no Poder Judiciário, tanto em relação à transparência e à efetividade na gestão da Justiça quanto em sua relação com a Sociedade. Mas é necessário reconhecer, considerando, sobretudo, os dados apresentados, que essas tecnologias se (re)configuram em necessidade e

importância social, desde que resolvam antigos problemas como os déficits de exclusão digital.

Pressupomos que toda investigação é movida por interesses subjetivos, científicos, sociais, políticos e profissionais do/a pesquisador/a.

O interesse pela temática surgiu primeiramente de nosso envolvimento em um projeto interdepartamental (Biblioteconomia e Direito da UFMA) de pesquisa que tinha como objetivo a extração e sistematização da

(28)

Esses estudos foram aprofundados durante o Mestrado em Ciência da Informação, na Universidade de Brasília (UnB) e acrescidos de outras perspectivas que ampliaram o universo da pesquisa enveredando-a pela

análise dos serviços disponíveis em rede digital pelos sítios dos tribunais de justiça estaduais brasileiros, com um estudo de caso do TJMA. Naquele momento, final da década de 1990, a maioria dos sítios ofertava mais informação institucional do que propriamente serviços, diferentemente de

hoje, quando, em função do desenvolvimento das tecnologias digitais, observamos que tais serviços cresceram qualitativamente (BOTTENTUIT, 2000).

Tal fato, aliado aos demais argumentos apresentados no decorrer deste

texto, justificam as questões centrais de nossa pesquisa:

a) como o Poder Judiciário tem contribuído para o acesso, distribuição e democratização da Justiça por meio das tecnologias de

informação?

b) como o Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão (TJMA) está adotando as tecnologias de informação para efetivar a prestação jurisdicional?

E como subquestões associadas:

a) o que constitui o movimento de livre acesso a informação e ao conhecimento jurídico? Como este “ressignifica” a antiga prestação jurisdicional diante dos novos paradigmas da sociedade em rede?

b) quais serviços estão disponíveis em rede para o/a cidadão/ã ? Quais conteúdos estão em domínio público?

(29)

possibilitado melhoria na gestão dos serviços da Justiça, maior acesso e acompanhamento por parte dos cidadãos envolvidos do andamento do fluxo das informações processuais?

Foi a partir e orientada por essas questões de natureza teórica e empírica e na perspectiva de tentar respondê-las, que elegemos como

objetivo geral desta tese, compreender, na atualidade, como tem se efetivado a presença e a utilização das tecnologias de informação na distribuição e consumo da Justiça Estadual. E como desdobramento do objetivo geral apresentamos os seguintes objetivos específicos:

a) compreender o acesso à Justiça na perspectiva do movimento atual de livre acesso a informação e ao conhecimento jurídico no cenário da cultura digital, bem como discutir os paradigmas da

Sociedade em Rede e sua relação com as novas formas de prestação jurisdicional;

b) identificar os serviços on line prestados pelo TJMA e caracterizar os

conteúdos de domínio público e serviços disponíveis em rede digital;

c) mapear o que há de infra-estrutura tecnológica local para acesso, consulta e uso público nesse Tribunal , assim como identificar as

possíveis barreiras para a efetivação deste acesso;

d) verificar e analisar o que tem sido feito no domínio da educação e/ou da orientação jurídica para uso dos recursos tecnológicos

(30)

Assim, esta investigação não deve se reduzir somente a uma dimensão técnica, mas se relacionar às outras dimensões, como a cognitiva, a social, e, sobretudo, a política, por entender que a adoção dessas tecnologias não deve

verticalizar/aprofundar ainda mais os velhos obstáculos e, muito menos ensejar os novos, por concorrerem entre si para a inacessibilidade ao Judiciário brasileiro.

A realidade social que elegemos para esta investigação é a do Tribunal

de Justiça do Estado do Maranhão (TJMA), instituição jurídica com atribuição de julgamentos de processos em primeira instância. Com este entendimento, ressaltamos que as pesquisas voltadas para o uso de

ferramentas tecnológicas no fomento de novos serviços no universo jurídico, não devem perder de vista o foco em questão: a tecnologia a serviço da Justiça. Portanto, para ampliar o escopo e a compreensão desses aspectos mais complexos, adotamos para o trabalho de campo a realização de

entrevistas com os gestores da Diretoria de Informática e Automação do TJMA do setor de Jurisprudência, Diretor do Foro. Nesse sentido, buscamos informações acerca de: a) serviços disponíveis; b) políticas de fomento para a inserção de tecnologias no ambiente jurídico; c) políticas e estratégias de

educação para acesso e uso por parte do cidadão das tecnologias disponíveis;

Ao escolher a entrevista, partimos do conceito de Haguete (1992, p.86) que a define como “um processo de interação social entre duas pessoas na

(31)

conjunto de perguntas abertas, elaboradas seguindo um roteiro previsto, possibilitando, no entanto, no decorrer de sua aplicação, acrescentar/ entabular novos esclarecimentos ou novas perguntas para o/a

entrevistado/a.

Em continuidade, adotamos também a observação direta, tendo como referência os autores Jaccour e Mayer (2008, p. 254-255) que a expressam como uma forma prolongada de conhecer situações e comportamentos que

interessam para a compreensão do estudo em pauta. O lugar destinado para esta modalidade de técnica qualitativa foi o Foro da Justiça. Justificamos a escolha pelo fato desta Casa concentrar as audiências e júris populares, bem como estarem disponíveis dois pontos (totens) de acesso para consulta

processual para o cidadão/ã, por meio do sistema Themis11. Também

entrevistamos juízes responsáveis pelos Juizados Especiais de Pequenas Causas, mas somente aqueles que adotam em suas atividades tecnologia para atendimento, a exemplo do processo virtual (PROJUDI).

Predomina na análise desta pesquisa uma abordagem descritiva, exploratória e prospectiva. A revisão bibliográfica/documental permitiu a construção do referencial teórico que, não só auxiliou o exercício de reflexão para entendimento dessa problemática- da presença das tecnologias de

informação no tribunal de justiça estadual (TJMA) e as novas formas de

prestação jurisdicional disponíveis pelos sítios jurídicos - que se estabelece em torno do tema da pesquisa, como também ajudou a encontrar alternativas

viáveis para a sua solução.

Em complemento ao estudo buscamos também os conteúdos dos sítios

11

(32)

do CNJ (www.cnj.jus.br) e do STJ (www.stj.jus.br) para visualizar os tipos de conteúdos em domínio público e os serviços/produtos ofertados. Justificamos as escolhas por compreender que ao CNJ e ao STJ, como

instituições de governança do Poder Judiciário brasileiro, cabe a definição e o fomento dos rumos de implementação da tecnologia da informação para os demais tribunais. Também foram objeto de consulta, leitura e análise as políticas institucionais, os discursos dos presidentes, a legislação, os

relatórios e os indicadores estatísticos como a Justiça em Números (2009)12 e

Anuário da Justiça (2009)13 e os artigos armazenados na Biblioteca Digital Jurídica (BDJur14) (www.bdjur.jus.br), por entender que se a pesquisa trata de informação e serviço jurídicos, é necessário buscar/consultar, também,

nos próprios sítios e repositórios dessas instituições.

No que se refere ao sítio do TJMA (www.tjma.jus.br), desde 1998 estão disponíveis informações e serviços pela internet, principalmente relativas ao acompanhamento do rito processual. Na atualidade, além de um conjunto

12 O relatório Justiça em Números é um sistema que visa à ampliação do processo de conhecimento do Poder Judiciário por meio da coleta e da sistematização de dados estatísticos e do cálculo de indicadores capazes de retratarem o desempenho dos tribunais. Os dados englobam as seguintes categorias gerais: Insumos, dotações e graus de utilização; Litigiosidade e carga de trabalho; Acesso à justiça; e Perfil das demandas. As informações são fornecidas originariamente pelos Tribunais de Justiça dos Estados, Tribunais Regionais Federais, Tribunais Regionais do Trabalho e Tribunal Superior do Trabalho. Os dados apresentados são de responsabilidade exclusiva dos Tribunais que participaram da pesquisa. É publicado anualmente, além de ser enviado ao Congresso Nacional como parte do Relatório Anual do Conselho Nacional de Justiça. Disponível em: www.cnj.jus.br/index.shp

13 O Anuário da Justiça é uma publicação que retrata o universo jurídico brasileiro, trazendo informações sobre o Supremo Tribunal Federal e os tribunais superiores de Justiça ( STJ), do Trabalho (TST), Eleitoral (TSE) e Militar (STM).

(33)

de serviços, há também a oferta para consulta dos profissionais do direito e dos cidadãos o processo digital (PROJUDI) adotado para o encaminhamento de processos dos juizados especiais de pequenas causas, o THEMIS 3.0

(sistema processual de primeiro grau com as novas tabelas unificadas do CNJ) e o diário da justiça eletrônico, entre outros (TJMA, 2009).

Na busca por apresentar os resultados desta pesquisa, a tese ficou estruturada em quatro momentos, além desta Introdução. No primeiro

momento, traçamos um texto acerca dos paradigmas da Sociedade em Rede e como esta se articula com a nova prestação jurisdicional. Em continuidade, no segundo momento, discorremos acerca da circulação da informação jurídica em rede digital. No terceiro e quarto momento,

apresentamos as tecnologias de informação que estão, na atualidade, sob o domínio da Justiça, a exemplo do acompanhamento processual, processo eletrônico, entre outros, focalizando nos estudos empíricos desenvolvidos no Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão.

Por fim, apresentamos as conclusões advindas da síntese analítica da observação dos aspectos pelos quais o Tribunal de Justiça Estadual se apresenta ou aparenta, no que se refere aos conteúdos e serviços informacionais disponíveis em rede digital para o cidadão e para os

(34)

2 O PODER JUDICIÁRIO NA SOCIEDADE EM REDE

Na década que antecede o século XXI assistimos a ocorrências de

mudanças socioculturais, científicas e tecnológicas, em escala nacional e global, advindas do modelo de Sociedade em Rede. Essas mudanças contribuíram significativamente para que o Direito, e em conseqüência, as tradicionais instituições da Justiça tivessem sua função social

redimensionada.

Nesse sentido, Machado e Nunes (2003, p.40) ressaltam que os “emergentes modos de relação entre a ciência e o direito vieram suscitar novas questões ou reformular debates já antigos, marcados pelas

inquietudes e incertezas que desperta o cenário da ciência ao serviço da justiça”.

Nesta travessia, por exemplo, a situação de “visibilidade” do Poder Judiciário, já evidenciada em outros momentos deste texto, remete,

sobretudo, a muitos desafios no que concerne a satisfatória recuperação e distribuição dos conteúdos que estão a cada dia entrando em domínio público. Conteúdos esses que se constituem em legislação, doutrina, jurisprudência, informações processuais, entre outros, e que têm uma

gramática/terminologia própria e, é preciso que se diga, longínqua da compreensão de boa parte da população brasileira.

Ressaltamos que esses sítios têm papel fundamental na vida civil e

(35)

também nas possibilidades de oferta efetiva de informação. Outras condições dadas a esse “lugar” estão expressas nesta citação:

Los portales de Internet del sector judicial son la mejor forma para medir y evaluar el cumplimiento de los requisitos mínimos de información pública y acercar al Poder Judicial con la sociedad. Por ello es importante que los portales estén actualizados15 (DIAZ, 2008).

Entendemos que a modernização do Judiciário, sobretudo no que se refere à infra-estrutura e gestão de tecnologia de informação nas atuais

políticas institucionais do Conselho Nacional de Justiça, é visto como parte do modelo de governança em rede digital que opera hoje no mundo, exigindo das instituições de modo geral, e das jurídicas em particular, uma reorientação e/ou redesenho de seus serviços, considerando-se que muitos

daqueles modelos existentes (no caso dos órgãos jurídicos remetem sempre a uma burocracia forense) exauriram-se.

Partindo-se desse pressuposto é que se inicia a nossa abordagem sobre o lugar que o Poder Judiciário passou a ocupar no contexto dessa

Sociedade em Rede.

Primeiramente, antes de discorrer sobre o Poder Judiciário na configuração de uma Sociedade em Rede convém expor, ainda que de forma resumida, aspectos de sua função. São as atribuições do Poder Judiciário

interpretar e aplicar as normas que compõem o ordenamento jurídico nacional e distribuir a Justiça entre as pessoas, sejam elas físicas ou jurídicas (PASSOS; BARROS, 2009).

(36)

Com a aprovação da Constituição Federal de 1988 o Poder Judiciário ficou constituído em sua estrutura de tribunais superiores e regionais com atribuições próprias e autonomia administrativa. Dessa forma, na

configuração atual está assim estruturado: Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça, Superior Tribunal Eleitoral, Superior Tribunal Militar, tribunais regionais federais e juízes federais, tribunais e juízes do trabalho, tribunais e juízes eleitorais, tribunais e juízes militares, tribunais

e juízes dos estados e do Distrito Federal e territórios (BRASIL, 1988).

Desde os finais da década de 1980, após 30 anos de ditadura militar, a redemocratização do país e a promulgação da nova Constituição de 1988 contribuíram para que o Poder Judiciário adquirisse maior visibilidade social

e política, tendo em vista a ação dos novos movimentos sociais que passaram a demandar e exigir direitos historicamente negados.

Nesse sentido, o constitucionalismo contemporâneo brasileiro16 na visão de Sadek (2004, p.5):

[...] reforçou o papel do Judiciário na arena política, definindo-o cdefinindo-omdefinindo-o uma instância superidefinindo-or de resdefinindo-oluçãdefinindo-o de cdefinindo-onflitdefinindo-os entre o Legislativo e o Executivo, e destes poderes com os particulares que se julguem atingidos por decisões que firam direitos e garantias consagrados na Constituição. O protagonismo político do Judiciário está inscrito em suas atribuições e no modelo institucional. As atribuições não apenas foram aumentadas com a incorporação de um extenso catálogo de direitos e garantias individuais e coletivos como alargaram-se os temas sobre os quais o Judiciário, quando provocado, deve se pronunciar.

O Poder Judiciário, nas duas últimas décadas, tem enfrentado críticas contundentes no que se refere a sua atuação. A morosidade no

(37)

hermética, formação técnico-profissional formal, baixa efetividade, corrupção dos juízes, desconhecimento dos meandros de funcionamento do judiciário e falta de informação são alguns dos problemas que ilustram bem a crise

judiciária.

As questões acerca da crise do judiciário têm refletido na atual juridificação da sociedade e "é agravado pelas crescentes pressões que sofre com o aumento da demanda de serviços, dada o caráter cada vez mais

contratual de todas as relações sociais, com a erosão dos sistemas convencionais e tradicionais de poder e solução de conflitos" (SORJ, 2003, p.111).

Sadek (2004, p.79) considera que o Judiciário brasileiro tem duas

faces: uma, de poder de Estado e outra, de instituição prestadora de

serviços. A duas faces têm significado para o campo da informação. A

primeira como Poder de Estado Democrático trazendo em seu bojo o direito à

informação. A segunda como prestadora de serviço possui “atribuições de

um serviço público encarregado da prestação jurisdicional, arbitrando

conflitos, garantindo direitos” (SADEK, 2004, p.79) e agrega dessa forma,

uma responsabilidade tanto no que se refere à garantia expressa na constitucionalidade contemporânea brasileira, definida no artigo 5, inciso

XIV, quando assegura: “a todos o acesso à informação” (BRASIL, 1988)

como também aos princípios da transparência administrativa e da prestação

de contas (accountability).

(38)

pesquisa, agências de fomento e sociedade civil; o Manifesto da IFLA17, que preceitua: “a capacidade da Internet de interconectar o mundo inteiro possibilita a todos o direito de usufruir desse recurso”, bem como o

movimento de acesso à Justiça que apregoa “ [...] o mais básico dos direitos humanos de um sistema jurídico moderno e igualitário que pretenda garantir, e não apenas proclamar os direitos de todos” (CAPELLETTI E GARTH, 1988, p.5) são eventos importantes que dão a dimensão do papel

que neste momento se atribui as instituições democráticas, como a Jurídica. Em face à diversidade de olhares e a percepção dos múltiplos caminhos que o ambiente da Internet e as tecnologias da informação proporcionam à Sociedade em Rede e às inexoráveis transformações que

atravessaram o campo da informação, colocamos algumas questões: Naturalmente pensamos em rede? O que é uma Sociedade em rede? Qual é a dimensão epistemológica da rede criada pela web social? Como essa rede vem influenciando as nossas práticas?

Neste caminhar, em direção ao entendimento dessas questões, citamos teóricos contemporâneos pertencentes aos campos da Ciência da Informação, da Sociologia e da Filosofia. Enfim, para compreendermos o momento de transição que a humanidade atravessa, de “modelização do

mundo e da subjetividade” (PARENTE, 2004, p.9), argumentamos no sentido da necessidade de enveredarmos pelas possibilidades que a própria rede nos oferece.

(39)

O sociólogo contemporâneo Manuel Castells18 concebe a Sociedade em Rede como sendo a nova estrutura social da Era da informação. Este autor evidencia como características dessa Era a globalização e

transnacionalização das atividades econômicas, a formação de redes organizacionais, a cultura da virtualidade real, a transformação dos bens materiais das vidas- o tempo e o espaço - por um espaço de fluxos e de tempo intemporal, entre outras variáveis que operam na atualidade. Na

perspectiva deste autor as “redes constituem a nova morfologia social de nossas sociedades e a difusão das lógicas das redes modifica de forma substancial a operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura” (CASTELLS, 2003, p. 564).

Para Castells (2005, p.19) a Sociedade em Rede é a “sociedade em que nós vivemos” depois de ter transitado durante mais de um século pela sociedade industrial. Desta maneira, a humanidade está enredada de forma direta ou indiretamente nos acontecimentos oriundos das redes globais e

locais e sofre, portanto, as suas conseqüências, mesmo que não esteja totalmente integrada a ela, porque as redes “incluem e organizam o essencial da riqueza, do conhecimento, do poder, da comunicação e da tecnologia existente no mundo”.

As redes são concebidas como sendo a constituição de nós interconectados ou ligados entre si, de natureza dinâmica, e que representam, na visão do cientista político Musso (2004, p. 31), “uma

estrutura de interconexão instável, composta de elementos em interação, e

(40)

cuja variabilidade obedece a alguma regra de funcionamento”.

Ainda numa perspectiva conceitual, Kastrup (2004, p.80) destaca que a rede deve ser compreendida a partir de uma lógica das conexões, portanto,

não pode ser “caracterizada como uma totalidade fechada dotada de superfície e contorno definido, mas sim como um todo aberto, sempre capaz de crescer através de seus nós, por todos os lados e em todas as direções”.

A seu turno, a idéia de conexão, que tem conceito próximo a coesão,

relação e ligação, e é muito bem representada tanto numa perspectiva interior ao corpo humano, as redes sangüínea e neural, por exemplo, quanto pela sua exterioridade, quer seja traduzida na mitologia através do imaginário da tecelagem e do labirinto; da rede de pesca e caça; da rede de

tecido que abriga o corpo humano; do transporte através das redes ferroviária, rodoviária, aérea e marítima; da rede de energia, de telecomunicações, teleinformática; das redes de comunicação científica, das redes cívicas, das redes sociais, da rede Internet, assim por diante.

Para Castells (1999), esta nova configuração de sociedade institui um novo tipo de Estado que não é o Estado-Nação, representante da Era Industrial, mas que não o elimina e sim o redefine. O Estado denominado pelo autor é o Estado-rede que se caracteriza por compartilhar a autoridade

(ou seja, a capacidade institucional de impor uma decisão) por meio de uma série de instituições.

(41)

chefes de Estado, os comitês de ministros, as instituições de cooperação em matéria de defesa – que ultrapassam a União Européia etc.). Também funcionam em rede, nessa mesma rede, instituições regionais e locais. E inclusive, cada vez mais, dela participam de organizações não-governamentais, porque fundamentalmente trabalham em relação com e a partir de governos que conectam com essa rede interinstitucional, feita tanto de negociação como de decisão, de compromisso como de autoridade, de informação como de estratégia. Esse tipo de Estado parece ser o mais adequado para processar a complexidade crescente de relações entre o global, o nacional e o local, a economia, a sociedade e a política, na era da informação. E é precisamente o desenvolvimento de novas tecnologias de informação e de comunicação o que permite uma articulação cotidiana de uma rede de instituições e organizações cuja complexidade a faria não-manejável se não fosse capaz de interatividade informática.

Nessa nova lógica institucional:

O grau de eficiência das administrações estatais de diferentes hierarquias dependerá, em boa medida, de sua capacidade para processar informação e assegurar o processo de decisão compartilhada – o que implica capacidade tecnológica, recursos humanos adequados e uma estrutura administrativa apta para assimilar esse funcionamento flexível de uma geometria variável da política (CASTELLS, 1999, p.164).

No processo de formação do Estado-rede são exigidos oito princípios de funcionamento administrativo, a saber:

(42)

executar uma ampla descentralização pela qual se transfiram poder e recursos aos níveis mais próximos aos cidadãos e aos seus problemas, num âmbito em que a gestão do problema possa fazer-se eficazmente.

b) flexibilidade: na organização e atuação da administração. Sem ele não será possível ao Estado atuar eficazmente em um mundo em constante mudança, em que os processos decisivos (mercados financeiros, crime organizado, segurança,meio ambiente) acontecem em fluxos globais fora do alcance das ordens diretas do Estado.

c) coordenação: aqui inclui também formas de hierarquia, nas quais se mantêm as regras de subordinação democraticamente estabelecidas. Sem coordenação, a extrema flexibilidade e a descentralização acabam dissolvendo o Estado, debilitando, portanto, os elementos que o interagem e desarmando os cidadãos diante dos fluxos.

(43)

e) transparência administrativa: é outro princípio fundamental da nova administração. Ainda que seja uma antiga aspiração, quase sempre frustrada, sua vigência se coloca com nova intensidade. Numa economia cada vez mais invadida por máfias e em uma política cada vez mais vulnerável à corrupção, a limpeza administrativa é, provavelmente, o princípio de governo mais importante. Assim, a transparência da gestão perante o cidadão, os meios de comunicação e a justiça são imprescindíveis neste contexto. Os controles internos do Estado não bastam. São necessários controles externos, ancorados na sociedade. Aqui, também, as novas tecnologias de informação, permitindo o acesso direto dos cidadãos a todos os dados e atuações administrativas que não necessitam ser confidenciais, criam a possibilidade de uma abertura de gestão que assegura um novo vínculo entre o Estado e a sociedade.

f) modernização tecnológica: O Estado-rede requer o uso continuado de redes informáticas e de telecomunicações avançadas. Na realidade, os estudos mostram que a introdução de tecnologias informáticas em organizações burocratizadas as fazem ainda mais burocráticas, exacerbando seus problemas. Mas uma administração nova, ágil, flexível, descentralizada, participativa só pode operar em certo nível de complexidade, munida de um novo sistema tecnológico. Sistema, que felizmente, já é uma realidade, tanto em sua capacidade de processar informação como em sua interatividade. A modernização tecnológica requer investimento em equipamento, mas, sobretudo, requer capacitação de recursos humanos, alfabetização informática dos cidadãos e o redesenho das instituições do Estado, para que sejam capazes de absorver o funcionamento em rede aberta.

(44)

toda organização no novo sistema de adaptação constante ao redor da organização. Isso implica uma grande flexibilidade das regras administrativas e a autonomia dos administradores para modificar suas próprias regras, em razão de seus resultados e de sua própria avaliação. Na prática cotidiana, o princípio de retroação permite às unidades administrativas corrigir seus próprios erros, em um processo de prova, erro e correção, que já se aplica nas empresas mais dinâmicas, mas que ainda se ignora na maior parte das administrações públicas. (CASTELLS, 1999, p.165-169).

A aplicação desses oito princípios na administração da Justiça é uma discussão que depende de cada administração, cada cultura institucional e a cada momento em particular. Nessa contemporânea estrutura social que tem sido impulsionada pelo advento das tecnologias de informação

entendemos que o campo do Direito e o Poder Judiciário são desafiados sistematicamente a mudar e adequar seus métodos, a reformular conceitos e práticas e, assim, buscar atender/responder as mais variadas demandas

advindas da sociedade. Dessa forma, tais princípios (subsidiariedade, fllexibilidade, coordenação, participação cidadã, transparência administrativa, modernização tecnológica e retroação) assinalam oportuna contribuição no horizonte de ação do Poder Judiciário na transição do

(45)

3 CIRCULAÇÃO DA INFORMAÇÃO JURÍDICA NA SOCIEDADE EM REDE

Diferente em alguns aspectos da antiga economia da Era Industrial, que perdurou do século XIX ao início do XX, hoje a Sociedade em Rede é a

base da Era da Informação. Uma das principais características deste momento consiste nas transformações por que passam os países e as instituições com o uso intensivo de tecnologias de informação e comunicação para tornar-se competitivos no mercado global.

Um conjunto de variáveis críticas marca este milênio e acreditamos que elas ainda vão perdurar, pois estão enredadas em uma tríade de fenômenos que não se excluem; pelo contrário, se refletem e se

complementam: a mudança do papel da informação e do conhecimento para os indivíduos, para a organização e a cultura (WERSIG, 1993); a intensificação da globalização (CASTELLS, 2003); e a presença das tecnologias de informação que têm sido, desde as últimas duas décadas do

século XX, alçadas à posição de instrumento de reordenação do mundo (MATTELART, 2002).

Sobre esse fato, Castells (2003) adverte: “uma revolução tecnológica concentrada nas tecnologias da informação está remodelando a base

material da sociedade em ritmo acelerado” e assinala que a formação de redes organizacionais, a cultura da virtualidade real, os espaços de fluxo, os mercados globais, a globalização e a transnacionalização das atividades econômicas são dependentes e conseqüências das tecnologias de

(46)

Uma das aplicações das tecnologias de informação é o desenvolvimento de um modelo de governança (governance) que se instituiu toma forma por meio do governo eletrônico (e-gov) e da prestação de serviços

em rede. Para Jardim (2004) “o aparelho de Estado faz uso das novas tecnologias para oferecer à sociedade melhores condições de acesso à informação e serviços governamentais, ampliando a qualidade desses serviços e garantindo maiores oportunidades de participação social no

processo democrático”.

O governo eletrônico, assim incorpora o conceito de democracia eletrônica com o potencial de conectar mais diretamente o governo com os seus cidadãos, criando novas oportunidades para que esses cidadãos

interajam e recebam informações do governo federal, estadual ou local durante 24 horas por dia, sete dias da semana. Castells (2003) destaca:

Esperava-se que a Internet fosse um instrumento ideal para promover a democracia - e ainda se espera. Como dá fácil acesso a informação política, permite aos cidadãos ser quase tão bem informados quando os seus líderes. Com boa vontade do governo, todos os registros públicos, bem como um amplo espectro de informação não sigilosa, poderia ser disponibilizado

on-line. A interatividade torna possível aos cidadãos solicitar

informações, expressar opiniões e pedir respostas pessoais a seus representantes (CASTELLS, 2003, p.128).

Dupas (2005, p.200) concorda com Castells no que se refere à potencialidade da rede “para a expressão dos direitos dos cidadãos e a comunicação de valores “mas também lembra dos riscos. E continua que “a

qualificação do trabalhador é cada vez mais importante numa economia que depende da capacidade de descobrir, processar e aplicar informações

(47)

Mesmo reconhecendo-se o potencial das tecnologias de informação no interior das instituições para o incremento de serviços, não se pode deixar de evidenciar, contudo, que os autores divergem em suas interpretações e

análises. O que é plenamente aceitável neste momento. Ianni (1999, p.18), por exemplo, se afasta do ideário de uma era de democracia eletrônica e enfatiza que:

[...] dissolvem-se as fronteiras entre o público e o privado, o mercado e a cultura, o cidadão e o consumidor, o povo e a multidão. Aí o programa televisivo de debate e informação política tende a organizar-se nos moldes do programa televisivo de entretenimento. Aos poucos, o político, o partido, a opinião publica, o debate da realidade nacional e mundial, as possibilidades de opção dos eleitores e a controversa sobre planos alternativos de governo, tudo isso tende a basear-se nas linguagens, recursos técnicos, teatralidade e encenação desenvolvidos pelos programas de entretenimento.

A formação de redes é uma das mais importantes questões com que

hoje se defronta a comunidade de informação (MCGARRY, 1999). A convergência da tecnologia da informática com as comunicações afetou, e continua afetando a criação, a gestão e o uso da informação de modo inédito. Isto aconteceu com a introdução dos tipos móveis de Gutemberg na Idade

Média e hoje acontece com as redes que se configuram como novo lugar de informação.

Na visão de Lojkine (2002, p.15):

Imagem

Figura 1 : Resultado de  pesquisa  à Biblioteca Juridica digital ( BDJur)
Figura  2 : Documento recuperado em inteiro teor na BDJur
Figura 4 : Resultado da pesquisa a doutrina acerca do tema linguagem jurídica na                   BDJur
Figura 5 : Referência recuperada da pesquisa acerca do tema linguagem jurídica na                       BDJur
+7

Referências

Documentos relacionados

A investigação se direcionava à questão-problema de ações para o uso pedagógico das tecnologias da informação e comunicação na instituição selecionada e teve

Alguns dos professores em regência de sala e os professores coordenadores do LEI ressaltaram o incentivo e a importância dada pelos integrantes da gestão da escola a essa

Em 2008 foram iniciadas na Faculdade de Educação Física e Desportos (FAEFID) as obras para a reestruturação de seu espaço físico. Foram investidos 16 milhões

De acordo com resultados da pesquisa, para os AAGEs, a visita técnica não é realizada com a presença do AAGE. Quanto ao “ feedback ” ao AAGE sobre a visita técnica realizada

Os resultados alcançados com os documentos produzidos foram profícuos e estimulantes, pois os caminhos escolhidos pelos educadores atenderam ao disposto na

Então são coisas que a gente vai fazendo, mas vai conversando também, sobre a importância, a gente sempre tem conversas com o grupo, quando a gente sempre faz

De acordo com o Consed (2011), o cursista deve ter em mente os pressupostos básicos que sustentam a formulação do Progestão, tanto do ponto de vista do gerenciamento

Porque é que os pretos do Brasil são melhores que os de Portugal.. Porque estão