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Evolução do emprego formal no Rio Grande do Norte no novo milênio

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

CAIO CEZAR FERNANDES DA SILVA

EVOLUÇÃO DO EMPREGO FORMAL NO RIO GRANDE DO NORTE NO NOVO MILÊNIO

NATAL, RN 2019

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CAIO CEZAR FERNANDES DA SILVA

EVOLUÇÃO DO EMPREGO FORMAL NO RIO GRANDE DO NORTE NO NOVO MILÊNIO

Monografia apresentada ao curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de bacharel em Economia.

Orientador: Prof. Dr. William Eufrásio Nunes Pereira

NATAL, RN 2019

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA

Silva, Caio Cezar Fernandes da.

Evolução do Emprego Formal no Rio Grande do Norte no Novo Milênio / Caio Cezar Fernandes da Silva. - 2019.

82f.: il.

Monografia (Graduação em Economia) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Departamento de Ciências Econômicas. Natal, RN, 2019.

Orientador: Prof. Dr. William Eufrásio Nunes Pereira.

1. Emprego Formal - Rio Grande do Norte - Monografia. 2. Desenvolvimento econômico - Monografia. 3. Mercado de trabalho - Monografia. I. Pereira, William Eufrásio Nunes. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/Biblioteca do CCSA CDU 338.1(813.2)

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CAIO CEZAR FERNANDES DA SILVA

EVOLUÇÃO DO EMPREGO FORMAL NO RIO GRANDE DO NORTE NO NOVO MILÊNIO

Monografia apresentada ao curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de bacharel em Economia.

Orientador: Prof. Dr. William Eufrásio Nunes Pereira

Aprovada em:

_______________________________________ Prof. Dr. William Eufrásio Nunes Pereira

Orientador – DEPEC/UFRN

_____________________________________ Prof. Dra. Júlia Rocha Araújo

Examinador – DEPEC/UFRN

NATAL, RN 2019

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AGRADECIMENTOS

O presente trabalho, assim como minha vida acadêmica, se tornou possível somente pelo apoio e imensa cooperação e amizade que a mim foram dedicados, especialmente de meus pais aos quais são a razão maior de tudo isso. O ambiente universitário se apresentou ao longo da graduação como a realização de um sonho em muitos aspectos, mas também como um imenso desafio quase intransponível. O que tornou valioso cada momento, mesmo sob as dificuldades, foi o tempo que me dediquei à pesquisa, às disciplinas, mas principalmente aos amigos que me ensinaram muito mais que as cátedras e as centenas de páginas lidas.

Por esse motivo agradeço a Thaise Varela que me acolheu como um irmão durante a graduação, nunca estive sozinho ou desamparado, apesar de ter quase quebrado seu dedo e dever dinheiro suficiente para comprar uma estatal chinesa. A miudeza desse trabalho dedico a você para lembrar de alguma forma que nossa amizade começou por aqui, na UFRN.

Também de forma especial agradeço a Ellitamara Alves, outra grande amiga a qual devo muito, me ensinando os valores da tolerância, da bondade e da leveza. Assim, não posso deixar de lembrar de Larissa Azevedo que tanto torce pelos amigos, sempre esteve disposta a dizer “está bom!!”. É com muito carinho que dedico a grande amiga Cristina Morais meu muito obrigado por tudo, principalmente por me abrilhantar com seu sorriso sempre presente em todo momento. Amo todas vocês.

Ao meu orientador William Eufrásio tenho também muito a agradecer pelos valores morais e científicos, além da dedicação que sempre cultivou em mim e a todos nós do Grupo de Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho Inovação e Sustentabilidade (GEPETIS). Aproveito para agradecer também aos demais professores do grupo e a professora Julia Rocha, cujas contribuições foram e serão de vital importância para meu crescimento acadêmico. Aguardo ansioso por nossos próximos passos.

Por último, aos demais grandes amigos do GEPETIS e de outras bases de pesquisa que fizeram tudo valer muito a pena: a Renata Moura, a João Paulo, a Rodolfo Mendes, Rafael Montenegro, Emerson Castelo branco, Lucas Moura e Pollyanna Neves. Não tenho palavras para descrever a dívida de uma vida que adquiri com todos vocês. Não menos importante, ao grande amigo Severo Lima que tanto me apoiou no tempo em que estivemos juntos durante a graduação.

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“Acreditar no mundo é o que mais nos falta; nós perdemos completamente o mundo, nos desapossaram dele” Gilles Deleuze – Conversações. “O novo não está no que é dito, mas no acontecimento a sua volta.” Michel Foucault – A Ordem do Discurso. “A terra não pode ser completa e imediatamente remodelada, o passado não pode ser apagado” François Perroux – A economia do século XX.

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SILVA, C. C. F. Evolução do Emprego Formal do Rio Grande do Norte no Novo Milênio. Monografia (Bacharelado), Curso de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2019.

RESUMO

O objetivo desse trabalho é investigar o modo como a economia do Rio Grande do Norte passou pelo ciclo dinâmico dos empregos no período de 2004 a 2014, verificar as dependências históricas desse crescimento com os paradigmas herdados dos anos 1990 e da formação econômica subdesenvolvida através do espaço. Também se verificou a composição setorial da geração de empregos por território e as modificações com a crise que se instaurou a partir de 2015. A análise leva a conclusão de que apesar do crescimento substantivo dos empregos e dos ganhos sociais relevantes, o período de crescimento da demanda efetiva não foi suficiente para modificar qualitativamente o fluxo circular da economia, sem transferir trabalhadores para setores com maior produtividade. Constituindo-se assim em um modelo de crescimento frágil, cujos resultados são reversíveis em curto prazo com a perda de dinamicidade da economia.

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SILVA, C. C. F. Evolução do Emprego Formal do Rio Grande do Norte no Novo Milênio. Monografia (Bacharelado), Curso de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2019.

ABSTRACT

The objective of this paper is to investigate how the economy of Rio Grande do Norte went through the dynamic cycle of jobs from 2004 to 2014, checking the historical dependencies of this growth with the paradigms inherited from the 1990s and the underdeveloped economic formation through space. The sectoral composition of job creation by territory and changes with the crisis that began in 2015 were also verified. The analysis leads to the conclusion that despite the substantial growth in jobs and the relevant social gains, the period of growth of effective demand was not sufficient to qualitatively modify the existing circular economic stream without transferring workers to higher productivity sectors. Thus, constituting a model of fragile growth, whose results are reversible in the short term with the loss of dynamics of the economy.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Variação do emprego nos setores econômicos 1990-1999 (%)...pág. 22 Tabela 2 – Distribuição de trabalhadores formais no Rio Grande do Norte por setores da economia (%)...pág. 24 Tabela 3 – PIB e PEA por territórios e composição setorial do valor agregado - 2000 (%)...pág. 26 Tabela 4 – Distribuição setorial do emprego formal nos territórios em 2000 (%)...pág. 31 Tabela 5 – Composição setorial do emprego por território em 2000 (%)...pág. 34 Tabela 6 – Composição dos empregos da indústria de transformação por território em 2000 (%)...pág. 35 Tabela 7 – Distribuição do emprego da indústria de transformação por tamanho das firmas no RN em 2000 (%)... pág. 36 Tabela 8 – Variação média do Valor Agregado Bruto por setor da economia (%)...pág. 43 Tabela 9 – Distribuição de trabalhadores formais no Rio Grande do Norte por setores da economia (%)...pág. 47 Tabela 10 – Variação ano a ano do emprego nos setores econômicos 2000 – 2014 (%)...pág. 48 Tabela 11 – Participação do território na composição da PEA, crescimento acumulado médio e participação relativa do PIB (%)... pág. 51 Tabela 12 – Composição setorial do emprego por território por território (%)...pág. 53 Tabela 13 – Variação acumulada média por setor nos territórios (%)...pág. 54 Tabela 14 – Resumo de informações da análise espacial por território...pág. 55 Tabela 15 - Composição setorial do emprego por território por território (%)...pág. 57 Tabela 16 - Variação acumulada média por setor nos territórios (%)...pág. 58 Tabela 17 – Resumo de informações da análise espacial por território...pág. 58 Tabela 18 - Composição setorial do emprego por território por território (%)...pág. 60 Tabela 19 - Composição setorial do emprego por território por território (%)...pág. 60 Tabela 20 - Variação acumulada média por setor nos territórios (%)...pág. 61 Tabela 21 - Variação acumulada média por setor nos territórios (%)...pág. 62 Tabela 22 – Resumo de informações da análise espacial por território – 2004/2014...pág. 62 Tabela 23 - Composição setorial do emprego por território por território (%)...pág. 66 Tabela 24 - Variação ano a ano do emprego nos setores da economia 2014 - 2018 (%)...pág. 67 Tabela 25 - Variação do emprego por setor da economia nos territórios (%)...pág. 68 Tabela 26 - Variação do emprego por setor da economia nos territórios (%)...pág. 70 Tabela 27 - Variação do emprego por setor da economia nos territórios (%)...pág. 70

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Variação do produto interno bruto (%)...pág. 18 Gráfico 2 – Variação anual dos componentes do Valor Adicionado Bruto do Rio Grande do Norte (%)....pág. 19 Gráfico 3 – Variação acumulada com base fixa em 1989 dos componentes do Valor Adicionado Bruto do Rio Grande do Norte (%)...pág. 20 Gráfico 4 – Crescimento dos vínculos de emprego formal no Rio Grande do Norte: 1990 – 1999 (%)...pág. 21 Gráfico 5 - Variação do produto interno bruto (%)...pág. 40 Gráfico 6 – Variação do crescimento por setor da economia 2001 – 2014...pág. 42 Gráfico 7 – Crescimento dos vínculos de emprego formal no Rio Grande do Norte: 2000 – 2014 (%)...pág. 46 Gráfico 8 - Variação do produto interno bruto (%)...pág. 64 Gráfico 9 - Variação anual dos componentes do Valor Adicionado Bruto do Rio Grande do Norte (%)...pág. 65 Gráfico 10 – Crescimento dos vínculos de emprego formal no Rio Grande do Norte: 2015 – 2018 (%)...pág. 66

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal no RN em 2000...pág. 28 Figura 2 – População desocupada maior de 18 anos em 2000 (%)...pág. 32 Figura 3- Distribuição de recursos do programa bolsa família per capita, em 2010...pág. 39 Figura 4 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal no RN em 2010...pág. 40 Figura 5 – Cartogramas da distribuição por território dos empregos criados no Rio Grande do Norte (%)...pág. 56 Figura 6 – Cartogramas da distribuição por território dos empregos criados no Rio Grande do Norte (%)...pág. 59 Figura 7 – Cartogramas da distribuição por território dos empregos criados no Rio Grande do Norte (%)...pág. 63

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LISTA DE SIGLAS

a.a. – Ao Ano

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPEADATA – Plataforma de dados compilados pelo IPEA ONU – Organização das Nações Unidas

PEA – População Economicamente Ativa PIB – Produto Interno Bruto

p.p. – Ponto Percentual

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento SCCLN – Sertão Central, Cabugi e Litoral Norte

SCN - Sistema de Contas Nacionais SCR – Sistema de Contas Regionais

SIDRA – Sistema IBGE de Recuperação Automática SIUP – Serviços Industriais de Utilidade Pública VAB – Valor Adicionado Bruto

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SUMÁRIO

RESUMO ... 8

ABSTRACT ... 9

INTRODUÇÃO ... 14

METODOLOGIA ... 16

1. O TRABALHO FORMAL NO TERRITÓRIO POTIGUAR NO LIMIAR DO NOVO MILÊNIO ... 17

1.1. UMA PERSPECTIVA DA HERDADE DOS ANOS 1990 ... 17

1.2. DISTRIBUIÇÃO TERRITORIAL E COMPOSIÇÃO SETORIAL DO EMPREGO NO RIO GRANDE DO NORTE EM 2000 ... 25

1.2.1. Elementos da composição estrutural ... 25

1.2.2. A composição setorial do trabalho no território do Rio Grande do Norte . 29 2. ASCENSÃO DO CÍCLO DINÂMICO DO TRABALHO FORMAL NO TERRITÓRIO DO RIO GRANDE DO NORTE ... 38

2.1. COMENTÁRIOS SOBRE A COMPOSIÇÃO DO CRESCIMENTO E ELEMENTOS ESTRUTURAIS ... 38

2.2. O CRESCIMENTO DO TRABALHO FORMAL SOBRE AS BASES DO SUBDESENVOLVIMENTO ... 44

2.3. OS REFLEXOS DO CICLO EXPANSIVO ATRAVÉS DO ESPAÇO ... 50

2.3.1. Terra dos Potiguaras, Açú-Mossoró e Seridó ... 52

2.3.2. Agreste Litoral Sul, Sertão do Apodi e Sertão Central Cabugi e Litoral Norte...56

2.3.3. Mato Grande, Alto Oeste, Trairi, Potengi ... 59

3. A EXTENSÃO DA CRISE NO MERCADO DE TRABALHO DO RIO GRANDE DO NORTE ... 64

3.1. O PANORAMA GERAL DO ESTADO ... 64

3.2. IMPACTOS NO EMPREGO FORMAL ATRAVÉS DO TERRITÓRIO ... 68

COMENTÁRIOS CONCLUSIVOS ... 72

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INTRODUÇÃO

A temática do desenvolvimento econômico regional possui atualmente uma ampla gama de abordagens teóricas e faces que não se restringem ao campo das ciências econômicas. Como todo conceito das ciências sociais, o termo “desenvolvimento” carrega uma semântica historicamente densa, nesse sentido, o presente trabalho trata de explorar e adicionar a esse campo de significados novos enunciados e visibilidades sobre questões específicas do desenvolvimento econômico do estado do Rio Grande do Norte através do estudo do emprego formal. Esse novo corpo de enunciados e visibilidades pôde ser extraído através de revisões da historiografia econômica especializada e análise dos dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), buscando delinear a participação dos atores sociais locais na montagem dos condicionantes históricos que levaram a criação dos conceitos dos novos paradigmas do desenvolvimento.

Esses novos paradigmas tornaram mais complexo o sentido desse campo de estudo, elevando os desafios políticos, fortalecendo e aprofundando velhas estruturas de desigualdades sistêmicas que reemergiram com a globalização fragmentadora, com avanço tecnológico que predelineou novas fronteiras de atraso e a natureza das persistentes e generalizadas crises. O avanço das transformações do capitalismo, portanto, exige uma nova análise das nuances e particularidades que são impostas à periferia, reformulando os eixos do conceito de desenvolvimento.

Emprega-se nas elaborações argumentativas uma visão de desenvolvimento econômico produtivo desenvolvida por Schumpeter (1982) e resgatada por Furtado (2000), em que o processo de desenvolvimento se caracteriza como transformações qualitativas do fluxo circular econômico de determinado espaço em determinado tempo. A forma analítica adotada parte da visualização dos dados do mercado de trabalho formal, sua composição setorial e o padrão de crescimento que esse apresentou no período de expansão da economia, frente à estrutura econômica herdada historicamente.

Nos anos 1990, somou-se a questão local do Rio Grande do Norte novos paradigmas, advindos de novas configurações do capitalismo mundial e da economia brasileira. A crise instaurada ainda nos anos 1980 e que se prolongou com novas características nos anos 1990, deixou um horizonte de possibilidades muito limitado em termos de desenvolvimento. Não havia perspectiva de que a atuação das forças de mercado, em curto prazo, engendrasse um modelo de crescimento dos empregos do número de postos de trabalho e possibilitasse uma trajetória que elevasse o padrão de desenvolvimento produtivo e social.

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15 Com a chegada do novo milênio, especialmente pós 2004, surge um ciclo expansivo da economia iniciado por vetores de demanda criados pelo Estado e sustentados pelo consumo e crédito. Fato que proporcionou a criação de milhões de empregos no país e 211 mil no Rio Grande do Norte, até 2014. Esse movimento de crescimento foi intenso até 2010, com uma breve interrupção pelo impacto da crise internacional de 2008/2009, e passou a desacelerar a partir de 2011, irrompendo em uma nova crise pós 2015.

Não obstante, esse período dinâmico trouxe importantes transformações para a economia do Rio Grande do Norte, com as políticas de transferência de renda, o crescimento de centros urbanos impulsionados pela construção civil, a inserção de parte da população no mercado consumidor, melhoria nos níveis educacionais da população e etc. Porém essas transformações que representaram um salto no desenvolvimento social da população, não repercutiram positivamente na mesma proporção no desenvolvimento produtivo do estado.

A hipótese principal do presente trabalho foi desenvolvida em torno da percepção das diferenças que o modelo de crescimento da economia entre 2004 e 2014 teve através do território e dos mercados de trabalho no Rio Grande do Norte. O predomínio do crescimento setorial do emprego no comércio varejista, nos serviços e na administração pública imprimiu um padrão vulnerável às oscilações cíclicas na demanda agregada, pois não houve sincronicamente tempo hábil e dinamicidade suficiente para que a demanda efetiva tornasse mais complexa a estrutura produtiva endógena do estado (KALECKI, 1943).

Assim, a distância entre os níveis de desenvolvimento produtivo e produtividade entre o interior e aos espaços de Natal e região metropolitana de fronteira se mantiveram apesar do crescimento observado. Não foram criados meios para que o desenvolvimento tomasse a forma de permanência e estabilidade necessária para um processo contínuo de crescimento e desenvolvimento em longo prazo. Faltou ao Estado Nacional coadunar e proporcionar o escoamento do investimento produtivo para esses espaços, compatibilizando o interesse das forças de mercado na geração e apropriação do valor com o potencial produtivo endógeno dos municípios através do território.

O presente estudo divide-se em três capítulos, além da presente introdução e os comentários conclusivos. O objeto do primeiro capítulo trata dos novos paradigmas somados pela década de 1990 e o status econômico do Rio Grande do Norte no ano 2000. Já o segundo capítulo trata das transformações decorridas a partir de 2004 a 2014, analisando o desempenho da economia através do espaço. No terceiro e último, é abordado o desempenho recente da economia a partir do cenário de crise instaurado em 2015.

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METODOLOGIA

O presente trabalho foi construído, predominantemente, a partir de uma abordagem dedutiva, com base na análise de dados e revisão da literatura historiográfica econômica e teórica do desenvolvimento regional. Uma matriz de conceitos relacionados às desigualdades regionais, seus condicionantes e sua persistência, foi resgatada de acordo com a necessidade de sustentar a coesão de novos enunciados abordados no texto e criar uma densidade de interpretação dos fenômenos relativos às questões idiossincráticas do Rio Grande do Norte. Os dados utilizados dão confluência aos conceitos captados na literatura e permitem sua adaptação e aplicabilidade às condições históricas geradas pelo panorama de crise e fragmentação da nação nos anos pós 1980.

Diversas fontes de dados foram utilizadas, além de uma pesquisa documental, como leis, decretos e a Constituição Federal e do estado. A principal base de dados foi a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), compilada pelo ministério do trabalho, provendo dados do estoque de empregos formais e estabelecimentos. Outras fontes complementaram a análise, como o Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA), fornecendo informações quanto a diversas pesquisas e a dados compilado do Sistema de Contas Nacionais (SCN), o IPEADATA e o banco de dados do Banco Central.

Os recortes espaciais utilizados foram obtidos através da regionalização feita para elaboração do Plano Plurianual do estado, cuja variável chave foi o Índice de Desenvolvimento Humano. A divisão compreende 10 agrupamentos, doravante chamados “territórios”. São eles: Terra dos Potiguaras, Açú-Mossoró, Seridó, Potengi, Sertão Central Cabugi e Litoral Norte, Agreste Litoral Sul, Mato Grande, Alto-oeste, Trairi e Sertão do Apodi (BARBOSA; PAZ; DANTAS, 2017). Os municípios que os compõe e sua localização geográfica podem ser consultados na figura “A” em anexo.

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1. O TRABALHO FORMAL NO TERRITÓRIO POTIGUAR NO LIMIAR DO

NOVO MILÊNIO

1.1. UMA PERSPECTIVA DA HERDADE DOS ANOS 1990

A década de 1990 foi um momento histórico em que se consolidaram importantes transformações na economia brasileira advindas de um processo de reestruturação iniciado nos anos 1980. A nova dinâmica de crescimento e a forma de inserção internacional, aliada a uma reforma do papel do Estado repercutiu de forma diferenciada através do território do país, redefinindo características das economias regionais e locais (CANO, 2011; PACHECO, 1996).

A literatura especializada aponta para a instalação de um processo de transformações conservadoras que ressignificaram a desconcentração econômica, fruto do espraiamento do capital produtivo e das políticas de estado da década de 1970. O resultado foi o surgimento de novas desigualdades locais, aumentando a complexidade envolvida no campo do desenvolvimento regional no Brasil (CANO, 2011; PACHECO, 1996).

O ressignificado se deu a partir de 1985, quando a desconcentração passou a carregar o elemento espúrio da recessão e da desindustrialização do centro cíclico da economia nacional: o estado de São Paulo. Com a ampliação da fronteira agrícola agroexportadora emergiram polos de crescimento desarticulados do desempenho da economia nacional e regional. Sincronicamente, o ambiente macroeconômico e político ampliou a emergência dos interesses dos entes federados, colocando em contraste os princípios estruturais e institucionais que sustentam a federação. Nesse contexto, eclodiram disputas entre estados, pela alocação de investimentos em seus territórios, baseadas em conflito fiscal. Sintomas da fragmentação da economia nacional e do pacto federativo (CANO, 2011; PACHECO, 1996; DULCI, 2002).

O estado do Rio Grande do Norte, em meio a esse cenário, reproduz as características de sua formação econômica como um espaço periférico dentro do Brasil e do Nordeste. As transformações da economia nacional e nordestina se refletiram no desenvolvimento local e determinam as formas e desempenho das articulações produtivas. O salto de urbanização e crescimento econômico dos anos 1970, sustentados pelo ciclo do algodão e a industrialização, teve resultados muito limitados aos territórios Terra dos Potiguaras, ao Seridó e Açú-Mossoró. As economias de urbanização e o núcleo do processo de desenvolvimento logo se deslocaram ao longo dos anos 1980 para serviços e comércio a partir da paulatina redução relativa do peso da indústria têxtil, com destruição de empregos industriais e falência da cadeia algodoeira (ARAÚJO, 2009; CLEMENTINO, 1987).

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18 Grosso modo, as articulações econômicas do estado passaram a ser pautadas pela dimensão reduzida e baixa diversificação do parque industrial, baseado substancialmente em setores tradicionais, além do predomínio do comércio varejista e de serviços com baixo grau de sofisticação. A heterogeneidade e irregularidade do processo de desenvolvimento econômico não foram compensadas pelo crescimento dos anos 1970, e somaram-se aos elementos destrutivos e limitantes da década de 1980, solidificando o status de pobreza e desarticulação produtiva do interior em relação às cidades centrais (OLIVEIRA et al, 2016)

A dinâmica do Produto Interno Bruto (PIB) apresentou alta variabilidade das taxas de crescimento antes da estabilização monetária da economia, em 1994. Relacionado aos efeitos do ambiente macroeconômico e pela escala reduzida de negócios no Rio Grande do Norte, historicamente entre as três últimas economias do Nordeste em termos de valor da produção. O pior resultado foi em 1991, com uma recessão na ordem de 13,53% de declínio do PIB, no contexto em que a economia nacional regredia 4,3%, sob efeitos do primeiro plano Collor, baseado em retenção compulsória de liquidez, aumento de impostos e regime de câmbio flutuante (CASTRO, 2011; GIAMBIAGI, 2011).

Gráfico 1 – Variação do produto interno bruto (%)

Fonte: Elaboração própria com base em dados do IBGE compilados pelo IPEADATA. Nota: Constantes a preços de 2010.

A recessão, vista pelos componentes do valor agregado, deveu-se, principalmente, ao desempenho da agropecuária que reduziu drasticamente sua participação entre 1989, em que representou mais de 22,6% do PIB, e 1990 em que passou a corresponder por apenas 7,5%. Nesse mesmo espaço de tempo o setor público aumentou relativamente sua participação de 16%

-20,00 -15,00 -10,00 -5,00 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999

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19 para 26%. Segundo Araújo (2009), esse movimento ocorre devido a extinção da cotonicultura no final da década de 1980, tanto devido as pragas que atingiram a plantação, quanto pela redução das barreiras de proteção tarifária ao algodão e o efeito da reestruturação internacional do trabalho. Fato que reorganizou significativamente a estrutura produtiva do Rio Grande do Norte.

É possível observar dois comportamentos agregados da economia do estado, respectivamente, antes e depois do plano real. Até 1993 a economia crescia em um padrão mais acelerado que foi substituído, a partir de 1994, por um padrão mais estável e menos célere, apesar de ainda crescer a taxas superiores da economia brasileira e a do Nordeste. O plano real e a nova matriz macroeconômica redefiniram o panorama das articulações produtivas, via transmissão de efeitos de política fiscal e monetária sob renda e consumo, atingindo diretamente o Rio Grande do Norte como economia subdeterminada pelo comportamento da economia agregada. Os gráficos 2 e 3, abaixo, mostram como esssa dinâmica se deu entre os setores (CASTRO, 2011; GIAMBIAGI, 2011).

Gráfico 2 – Variação anual dos componentes do Valor Adicionado Bruto do Rio Grande do Norte (%)

Fonte: Elaboração própria com base em dados do IBGE compilados pelo IPEADATA. Nota: constantes a preços de 2000. -100,00 -80,00 -60,00 -40,00 -20,00 0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00 1 9 9 0 1 9 9 1 1 9 9 2 1 9 9 3 1 9 9 4 1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9

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Gráfico 3 – Variação acumulada com base fixa em 1989 dos componentes do Valor Adicionado Bruto do Rio Grande do Norte (%)

Fonte: Elaboração própria com base em dados do IBGE compilados pelo IPEADATA. Nota: constantes a preços de 2000

Em termos de Valor Adicionado Bruto (VAB), calculado a preços básicos1, o estado apresentou 5 anos de contração relativa na década (1990, 1992, 1994, 1995, e 1998), reflexos das políticas macroeconômicas dos planos Collor 1 e 2, do ajuste das taxas de juros elevadas e o câmbio valorizado que marcaram a transição para o novo ambiente que deu sustentabilidade ao real como nova base monetária.

A variação acumulada no valor adicionado bruto, com o início da crise dos 1990, reduziu, até o final da década, o estoque de valor gerado pelos setores econômicos observados em 1989. A década encerra para o Rio Grande do Norte em um patamar de capacidade de geração de valor inferior aos correntes no ano de egresso. Os resultados da produção de bens industriais foram os responsáveis pela queda dos níveis de geração de valor da economia local, seguido pelos resultados da produção de primários que apresentou as maiores e piores flutuações ao longo do período. O crescimento acumulado na década foi sustentado pelo comércio e serviços, principalmente no período pós 1993.

Para além dos dados da produção, as variações no mercado de trabalho revelaram o impacto das reformas de transição para o novo modelo de economia implantado a partir do final dos anos 1990. Houve destruição de postos de trabalho em 1992 e 1997, de 3,1% e 5,1% dos

1 Nota do IPEADATA para as séries compiladas do gráfico 1 e 2: As estimativas do PIB não são consistentes com

o VAB por atividades. O problema se deve à utilização de conceitos distintos. O PIB refere-se a preços de mercado e as atividades a preços básicos.

-100,00 -80,00 -60,00 -40,00 -20,00 0,00 20,00 40,00 1 9 9 0 1 9 9 1 1 9 9 2 1 9 9 3 1 9 9 4 1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9

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21 postos de trabalho formal. O estado aumentou em média 1,5% o volume de vagas no mercado de trabalho no período, enquanto a população entre 15 e 64 anos cresceu em média 2,56% ao ano, de acordo com os censos de 1991 e 2000. Essa assimetria é um indicador de uma tendência ao aumento do desemprego estrutural de longo prazo que se tornou uma das características patentes da economia brasileira sob a reestruturação produtiva.

Gráfico 4 – Crescimento dos vínculos de emprego formal no Rio Grande do Norte: 1990 – 1999 (%)

Fonte: Elaboração própria com base em dados da RAIS. Nota: “Contínuo” refere-se à variação ano a ano do estoque de empregos formais, enquanto acumulado refere-se à variação com base fixa em 1990.

A dinâmica do mercado de trabalho foi muito heterogênea dentro dos setores da economia, em função do impacto diferenciado da crise geograficamente e nos diferentes segmentos dos componentes da oferta agregada. Cano (2011), caracteriza alguns determinantes que foram centrais para essas transformações estruturais nos anos 1990. Em primeiro lugar, a política cambial sobrevalorizou a moeda servindo como âncora de preços, além de elevadas taxas de juros reais que reduziram a competitividade da indústria nacional. Um outro determinante foi o processo de desregulamentação e rápida abertura econômica, em um contexto de crise, iniciada ainda em 1989 e aprofundada pelas administrações seguintes reduzindo o grau de proteção dos produtos brasileiros e fomentando importações (CASTRO, 2011; GIAMBIAGI, 2011).

O elemento que completou o circuito regressivo no mercado de trabalho foi a contração da “eficiência marginal do capital” frente as elevadas taxas de juros. A capacidade de investimento da economia foi restringida tanto pela via da absorção de capital na esfera financeira, que não gera capacidade, quanto pela via do encarecimento do financiamento dos projetos industriais (CANO, 2011).

-10 -5 0 5 10 15 20 25 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 Contínuo Acumulado

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22 Os setores mais atingidos entre 1990 e 1993, no Rio Grande do Norte, foram, preponderantemente, a indústria de transformação que demitiu mais de 8 mil trabalhadores, o que significou uma retração relativa a 1990 de 17,2% dos vínculos formais existentes. As maiores perdas foram nos subsetores de indústria pesada, intensivos em capital e tecnologia, como a indústria mecânica, do material elétrico, farmacêuticas e de material de transporte (consultar “tabela A” em anexo). Os setores mais significativos, em termos absolutos, e com maior demanda por trabalho no período pós crise foram os comerciais e de serviços, assegurando a geração de empregos entre 1994 e 1999 na ordem de 36 mil postos de trabalho.

É importante ressaltar o papel que o setor público desempenhou no mercado de trabalho do Rio Grande do Norte nos anos 1990. No primeiro momento, entre 1990 e 1993, a administração pública assumiu um papel anticíclico com a criação de 3 mil postos de trabalho, garantindo que os resultados não fossem piores no momento mais profundo da crise. Com a estabilização monetária e a minimização das distorções inflacionárias sob as contas públicas, os entes federados se depararam em profunda crise fiscal e financeira (LOPREATO, 2000).

A União interviu com a imposição de severos ajustes fiscais e refinanciamento de dívidas, levando a uma profunda reorganização na máquina pública que resultou em uma contração entre 1994 e 1999 de 7,9 mil funcionários públicos entre todas as esferas de governo no estado. Esse movimento influenciou negativamente a dinamicidade do emprego em 1996 e contribuiu significativamente para a destruição de postos de trabalho observados em 1997 (LOPREATO, 2000).

Tabela 1 – Variação do emprego nos setores econômicos 1990-1999 (%)

Ind ú st ria ex tra tiv a Ind ú st ria de tra ns fo r ma çã o Co ns truçã o Civ il Serv iço s e Co mérc io Admi n is tra çã o P úb lica Ag ro pecuá ria T o ta l 1990 -27.57 -11.58 -0.50 -9.13 108.30 10.45 21.53 1991 -10.37 -0.74 5.05 4.36 1.06 -5.35 2.91 1992 -15.35 -11.45 -23.96 -5.86 -1.32 -4.10 -3.10 1993 11.65 -5.76 13.11 -2.62 3.79 15.21 2.15 1994 102.53 14.61 36.05 0.25 8.54 48.65 4.80 1995 -12.24 -3.05 1.89 20.57 7.52 34.13 3.50 1996 39.74 4.92 14.53 6.89 -2.48 -28.87 0.57 1997 -17.51 1.96 3.01 11.28 -17.07 1.05 -5.17 1998 12.97 6.11 24.94 1.68 5.51 23.37 4.98 1999 -2.48 5.82 -2.30 5.60 2.16 5.79 3.94

Fonte: Elaboração própria com base em dados da RAIS. Nota: o crescimento do total de empregos leva em conta os trabalhadores declarados que não foram classificados dentro dos setores.

(24)

23 Analisando conjuntamente os dados relativos ao valor agregado da indústria no produto interno bruto do estado e as transformações no emprego industrial revelam um aberto e célere processo de desindustrialização e perda de complexidade estrutural da economia. Apesar dos empregos na indústria de transformação terem apresentado uma retração relativa de cerca de 0,5% entre 1990 e 1999, a análise das transformações nos intersetoriais apontam para um movimento de especialização no crescimento pós 1993. A criação de postos de trabalho se deu em setores associados ao processamento de primários e à produção de bens de consumo não duráveis, principalmente, na indústria têxtil e de alimentos. Entre 1994 e 1999, 7,3 mil postos de trabalho foram criados, dos quais 6,1 mil foram empregados na indústria têxtil (CANO, 2010, 2012).

Especificidades da indústria têxtil permitiram que ela se expandisse no ambiente dos 1990, apesar das deficiências em produtividade comparada com os países produtores internacionais, majoritariamente a China que ascendeu como um espaço privilegiado para a atuação da manufatura no contexto de redefinição da divisão internacional do trabalho. Os custos reduzidos com mão de obra, benefícios fiscais e a capilaridade das vias de inserção dos produtos em nichos de mercado específicos dentro do Brasil permitiram um ambiente de negócios sustentável a atuação de grandes empresas do setor.

Alterações quantitativas intersetoriais no mercado de trabalho foram mais significativas que alterações qualitativas na estrutura econômica sob a ótica dos setores. O panorama da organização da força de trabalho entre as atividades não passou por modificações radicais de sua macroestrutura, a administração pública continuou sendo a maior fonte de emprego formal, seguida por serviços e comércio e indústria de transformação (consultar tabela 2).

Porém, conforme já mencionado, o principal movimento ocorreu intersetorialmente com substituição de empregos nos subsetores mais complexos por postos de trabalho em empresas pouco intensivas em capital e tecnologia. Houve avanço relativo da importância do comércio e serviços, com destaque para o setor de varejo e serviços de baixa complexidade. De forma geral, a perspectiva gerada por essa modernização conservadora da estrutura produtiva diminuiu a capacidade da economia gerar melhores salários, encadear setores complexos e elevar o nível de desenvolvimento produtivo do setor privado local. O potencial de crescimento da economia foi afetado pelos paradigmas macroeconômicos dos anos 1990, definindo as bases das articulações que viriam a se construir a partir dos anos 2000 (CANO, 2010).

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24

Tabela 2 – Distribuição de trabalhadores formais no Rio Grande do Norte por setores da economia 1990–1999 (%)

Ind ú st ria ex tra tiv a Ind ú st ria de tra ns fo rma çã o Co ns truçã o Civ il Serv iço s e Co mérc io Admi n is tra çã o P úb lica Ag ro pecuá ria 1990 1.89 18.22 3.00 27.41 43.68 2.43 1991 1.65 17.57 3.06 27.80 42.89 2.23 1992 1.44 16.05 2.40 27.01 43.68 2.21 1993 1.57 14.81 2.66 25.75 44.38 2.49 1994 3.04 16.20 3.45 24.63 45.96 3.53 1995 2.58 15.17 3.40 28.69 47.75 4.58 1996 3.58 15.83 3.87 30.50 46.30 3.24 1997 3.12 17.02 4.20 35.78 40.49 3.45 1998 3.36 17.20 5.00 34.66 40.70 4.06 1999 3.15 17.51 4.70 35.21 40.00 4.13

Fonte: Elaboração própria com base em dados da RAIS.

Em conclusão, podemos retirar dos anos 1990 dois momentos que forneceram diferentes marcas estruturais e institucionais que ainda repercutem contemporaneamente. O marco divisório é o plano real efetivado em 1994. No período de 1990 a 1993 o Rio Grande do Norte passou por uma crise aberta com a abrupta transformação a partir do fim do ciclo do algodão, encadeando todas as atividades correlatas em um ciclo regressivo que redefiniu a forma de produção da economia local.

Somado a dinâmica macroeconômica e a desindustrialização, ainda em meio a uma estrutura econômica atrasada, a herança do período foi a coerção em uma trajetória sistêmica que se moderniza conservando os pilares do atraso produtivo. Para o período de 1994 a 1999, além da continuidade dos esforços reformistas do Estado e a busca pela estabilidade macroeconômica, se destacam as modificações na ação da esfera pública local que passou a ter um comportamento pró-cíclico aderindo à pauta de reformas do governo central e o avanço substantivo da participação do setor de comércio e serviços no mercado de trabalho.

O setor privado não protagonizou uma ascensão na trajetória de desenvolvimento no Rio Grande do Norte no período, acompanhando a diminuição relativa do peso do setor público, evidenciada pelos números do emprego. O crescimento do número de postos de trabalho nos segmentos observados representa os reflexos da reestruturação produtiva no mercado, com especialização nas indústrias tradicionais. O oposto da necessidade estrutural de um mercado de trabalho que transite para setores com maior produtividade agregada, cujo fim último seria elevar os padrões de vida da população e permitir uma trajetória de desenvolvimento, conforme elaborado nas teses estruturalistas (BRESSER-PEREIRA, 2010; ARTHUR, 2015).

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25 1.2. DISTRIBUIÇÃO TERRITORIAL E COMPOSIÇÃO SETORIAL DO EMPREGO NO RIO GRANDE DO NORTE EM 2000

1.2.1. Elementos da composição estrutural

A forma de distribuição territorial do trabalho dentro do Rio Grande do Norte possui uma relação intrínseca com a formação econômica do estado. A estrutura produtiva e socioeconômica desigual nasceu juntamente com o processo de colonização, e se perpetuou secularmente com a urbanização tardia, a precariedade da infraestrutura de transportes e o processo de industrialização restrito às regiões dinâmicas. A concentração da propriedade fundiária e origem de segregação histórica da população do campo e da periferia das cidades, formada pela miscigenação de povos indígenas, negros e trabalhadores migrantes, definiram a formação primitiva de uma massa de trabalhadores pobres. Além desses condicionantes, a ação do Estado, em suas esferas nacionais e locais, esteve sempre pautada sobre a tutela do clientelismo de oligarquias políticas (MACEDO, 2008; MONTEIRO, 2007).

A dialógica complexa desses fatores, expressos nessas linhas gerais, são as bases da superestrutura do subdesenvolvimento potiguar. As repercussões dessa superestrutura sobre a estrutura econômica produtiva definiram a questão das desigualdades locais entre os espaços e, consequentemente, geram as dessemelhanças nos mercados de trabalho locais. Os movimentos dinâmicos, descritos na seção anterior, que acompanharam a conjuntura macroeconômica se consolidaram localmente de forma diferenciada e resultaram em novas características do status de concentração das atividades produtivas e de especialização relativa dos mercados de trabalho (MARTIN; SUNLEY, 2006; GORDON, 2004).

A área do estado do Rio Grande do Norte pode ser dividida em dez territórios compostos por municípios que compartilham semelhanças geográficas naturais e políticas. A polarização das atividades produtivas e da população se deu historicamente na capital Natal e Região metropolitana contrastando com os municípios do interior, outro polo de concentração está em Mossoró. Ambas constituem cidades-polo de seus territórios, respectivamente a Terra dos Potiguaras e Açú-Mossoró.

Dados da série histórica do PIB municipal revelam que a participação dessas duas cidades no produto agregado é nascitura com a economia do estado. As forças da polarização espacial aumentaram substancialmente entre o período pós-guerra e os anos 1970, apesar de Mossoró não ter alçado a mesma escala econômica e populacional que Natal.

Os territórios Açú-Mossoró e Terra dos Potiguaras, com 19 municípios, corresponderam a mais de 68% do PIB do estado, devido ao peso dos centros urbanos de suas cidades polos.

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26 Desses 41,48% eram gerados em Natal e 8,97% em Mossoró, em outras palavras, as duas maiores cidades do estado eram detentoras de pouco mais de 50% do total do valor adicionado mais os impostos gerados na economia do Rio Grande do Norte.

O Seridó apareceu como terceiro território em termos de participação, contando com duas cidades polo: Caicó (1,68% do PIB) e Currais-Novos (1,14%), seguida pelo território Agreste e Litoral Sul, também policêntrico, com Arês (0,81%) e São José de Mipibu (0,69%). Consultando a tabela 3, abaixo, é possível verificar a importância de cada território no PIB e na População Economicamente Ativa (PEA) com 18 anos, ou mais.

Tabela 3 – PIB e PEA por territórios e composição setorial do valor agregado - 2000 (%)

T er rit ó rio s Número de mu nicí pio s % do P IB 200 0 % da P E A 2000 P rimá rio Secund á rio T er ciá rio Set o r P úb lico Potengi 11 1,38 2,44 9,08 10,95 32,52 47,45 Trairi 15 2,22 4,01 6,46 11,12 35,52 46,90 Alto Oeste 30 3,32 6,11 4,84 9,40 39,18 46,58 Mato Grande 15 3,71 6,05 9,82 9,32 35,06 45,80 SCCLN 11 3,96 2,77 1,63 48,37 30,10 19,90 Sertão do Apodi 17 4,44 5,10 5,25 42,51 23,87 28,36

Agreste Litoral Sul 24 5,95 8,76 6,19 16,42 35,87 41,51

Seridó 25 6,46 10,61 7,13 12,21 42,84 37,82

Açú-Mossoró 14 16,75 13,92 2,55 47,84 30,00 19,61

Terra dos Potiguaras 5 51,76 40,23 0,56 22,11 57,80 19,54

Rio Grande do Norte 167 100,00 100,00 2,77 26,31 45,22 25,69

Fonte: Elaboração própria com base em dados do SIDRA-IBGE. Nota: PEA – População Economicamente Ativa com 18 anos, ou mais; SCCLN – Sertão Central, Cabugi e Litoral Norte.

Através do distanciamento entre a parcela da PEA e a parcela do PIB correspondente a cada território é possível inferir alguns enunciados sobre produtividade do trabalho, considerando o PIB per capita da PEA como proxy da produtividade agregada. Em primeiro lugar, os territórios Terra dos Potiguaras, Açú-Mossoró e Sertão Central, Cabugi e Litoral Norte foram os mais produtivos se apropriando de uma parcela maior do PIB em relação a PEA. Em segundo lugar, os mais produtivos, exceto o Terra dos Potiguaras, possuíam uma parcela maior do valor agregado bruto no setor secundário.

Esses enunciados corroboram com as conclusões de Myrdal (1957), Kaldor (1970), Furtado (1966), Arthur (2014), nas quais a manufatura tem um potencial marginal maior de elevar a produtividade agregada local, ainda que o formato de industrialização relativa desses espaços seja limitado e atrasado (esse assunto será retomado adiante).

(28)

27 Os dados da tabela 3 revelam ainda a heterogeneidade estrutural pervasiva na distribuição do produto e na agregação setorial de valor ao longo do território. Os dois territórios mais significativos do estado possuíam, em 2000, características bastante distintas de suas economias, sob a ótica do valor adicionado bruto. O Terra dos Potiguaras se destaca com a importância de 57,8% dos setores de comércio e serviços, seguido por 22,11% da indústria, já em Açú-Mossoró esse cenário é invertido com o predomínio do setor secundário (47,84%) sobre o terciário (30%). Tal predomínio do secundário foi observado no Sertão do Apodi e Sertão Central, Cabugi e Litoral Norte.

Potengi, Trairi, Alto Oeste e o Mato Grande são os territórios com menor apropriação do PIB no ano de 2000, com um total de 71 municípios e 18,61% da população economicamente ativa, estes detinham apenas 10,63% de todo valor agregado na economia, mais impostos. O papel do setor público em todos esses territórios ultrapassou a marca de 45% de agregação do valor, seguidos pelo setor terciário. O peso cíclico da máquina pública nesses espaços se dá pela ausência de dinamicidade do setor privado frente às estruturas de formação econômica herdadas, e não superadas, através do processo de desenvolvimento econômico, ainda que em sua face atrasada visível nos espaços urbanos mais desenvolvidos do estado.

Atividades das prefeituras, para a maioria desses pequenos municípios, não representavam somente uma nova face territorial de organização e intervenção política via poder do Estado, mas uma das únicas formas de acesso à economia formal, principalmente pelo vetor de demanda por trabalho do setor público. Em 153 municípios a administração pública, segurança e seguridade social eram responsáveis por 30%, ou mais, do valor adicionado bruto. Dentre esses, em 52, esse percentual era de 50%, ou mais. Além disso, em 98 municípios a participação do setor público era maior que a participação da soma dos setores secundário e terciário.

Emerge dessa realidade a figura patente do caso geral de grande parte dos pequenos municípios do Brasil. Uma economia pouco dinâmica, baseada na informalidade, no comércio e serviços dependentes da renda auferida pelo setor público e da renda do trabalho gerada externamente às suas fronteiras territoriais, geralmente em cidades-polo. Estabeleceu-se uma relação de dependência dessas economias em relação aos empregos públicos, que se tornaram a esfera nodal dessas dinâmicas de renda e consumo locais.

O mercado de trabalho nesses municípios funciona virtualmente com uma oferta ilimitada de mão de obra, pela ausência da demanda do setor privado. Isso leva os salários reais nesses espaços para níveis muito próximos aos de subsistência, impactando negativamente o

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28 desenvolvimento econômico. Os poucos fluxos monetários gerados, boa parte pelo mercado informal, não são absorvidos em ciclos locais de renda e gasto, dados a alta propensão a comprar nos centros comerciais, causando vazamento desses fluxos em direção a cidades polo (OLIVEIRA et al, 2016).

Essas formações históricas criaram uma armadilha de estagnação circular e acumulativa de longo prazo, autossustentada pela infraestrutura precária, ausência de investimento privado, falta de acesso a serviços públicos básicos (saúde, educação e segurança pública de qualidade), distribuição assimétrica de propriedade e má governança dos poucos recursos públicos existentes (ARTHUR, 2015; MYRDAL, 1957).

Apesar desses temas não fazerem parte do objeto central da presente análise, eles são elementos importantes para a compreensão ex ante da estrutura sobre a qual os mercados de trabalho locais se fundamentam. Uma das formas de se observar com maior propriedade e objetividade o panorama do subdesenvolvimento nos espaços do estado é através do índice de desenvolvimento humano municipal, calculado a partir do censo demográfico. A figura 3 abaixo traz essa visibilidade (CALIXTRE; FAGNANI, 2018).

Figura 1 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal no RN em 2000

Fonte: Elaboração própria com base em dados do Atlas do Desenvolvimento Humano – IPEA/PNUD/IBGE

O índice pode apresentar valores entre 0 e 1, representando níveis de desenvolvimento humano de muito baixo a muito alto, tão mais próximo de 1 ele esteja. No Rio Grande do Norte, o índice apresentou, em 2000, valores que variavam de 0.334 (Venha-Ver no Alto Oeste) e 0.664 (Natal, capital do estado). O espectro da variação desse indicador no estado se enquadra entre as classificações de muito baixo e médio. Dentre os 167 municípios, 132 possuíam um IDH muito baixo, 31 baixo, e somente Natal, Parnamirim e Caicó apresentaram IDH médio. Os

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29 dados apontam a existência de uma correlação positiva entre os melhores índices nos municípios com uma maior participação desses no PIB do estado2. Ambas as variáveis possuem uma relação de concentração nos territórios Terra dos Potiguaras, Açú-Mossoró e Seridó.

Dessemelhanças estruturais sobrevieram das articulações históricas de economia política diferenciadas. Os diferenciais na capacidade de acumulação primitiva de capital, intrinsecamente ligados às formas de produção da periferia do capitalismo tardio brasileiro, inseparáveis das ações do Estado em todas as suas esferas, construíram a hierarquia dos espaços econômicos. Sejam dos fluxos concentradores de rendas geradas nas formas agrárias baseadas em um produto central, açúcar e posteriormente o algodão, sejam da indústria tradicional e concentração crônica das atividades de comércio, Natal e circunvizinhança é o principal centro a que as tendências orgânicas de concentração das atividades produtivas são confluentes, seguidas pelos centros menores de Açú-Mossoró e o Seridó (ARTHUR, 2015; GORDON, 2004) .

Ações do Estado, tanto na esfera local quanto a União, não foram anticíclicas à essas tendências durante o século XX. Ainda que a primeiro momento fosse o objetivo, as políticas de incentivo produtivo implantadas foram espacialmente concentradoras e não foram capazes de resgatar o interior, de uma forma geral, do atraso e estagnação. As políticas se resumiram a legitimar espacialmente o status de concentração das atividades produtivas, através de políticas de modernização conservadora, guiados pelos interesses das elites clientelistas locais (SILVA, 2018; ARAÚJO, 2008).

1.2.2. A composição setorial do trabalho no território do Rio Grande do Norte

As duas décadas que antecederam nosso olhar analítico sobre a questão do emprego formal na abertura do milênio foram catalisadoras do crescimento e integração dos espaços periféricos, à medida que os paradigmas da macroeconomia reduziram a expansão dos centros e frearam as forças centrífugas que foram restritas às suas vizinhanças imediatas.

No Rio Grande do Norte o processo de metropolização da capital, Natal, se espraia para Parnamirim e São Gonçalo do Amarante concentrando fluxos de investimento, especialmente o imobiliário, enquanto poucos espaços no interior receberam alocações significativas de capital (ARAÚJO, 2009; SILVA, 2008).

2 Considerando os municípios com IDH acima de 0.5 e a participação no PIB maior que 1%, a correlação foi de

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30 Ao mesmo passo em que permanecem esses traços do anacronismo da estrutura produtiva ocorreram significativas e céleres mudanças sistêmicas no mundo do trabalho. Martin e Morrison (2003) chamam atenções para as forças chave fundamentais para pensar a geografia do trabalho no limiar do século XXI.

I - As transformações estruturais baseadas no novo consenso em torno do papel dos Estados Nacionais e da administração de política econômica, com privatizações e redução da máquina pública.

II - Conjuntamente, a crise do capitalismo global, levou a movimentos de desindustrialização precoce, à flexibilização das legislações trabalhistas, aumentando a assimetria das relações entre capital e trabalho, e promovendo a terceirização generalizada.

III - As mudanças dos grandes paradigmas tecnológicos com a terceira revolução industrial, baseada na microeletrônica, na informatização e digitalização.

IV - A globalização que alavancou, acelerou e aprofundou a dependência mútua entre os países. Na periferia do sistema, a margem de um país subdesenvolvido, essas transformações têm um impacto muito mais significativo em comparação aos centros. A distância entre os níveis de desenvolvimento dos espaços aumenta correspondentemente às dificuldades para perseguir sua superação também se elevam gradativamente.

Conforme já demonstrado anteriormente, todas essas transformações repercutiram no espaço do Rio grande do Norte. Com recomposição setorial do emprego dentro do setor industrial, baseado no aprofundamento da especialização nos ramos tradicionais da indústria, preponderantemente no setor têxtil e a indústria de alimentos, além de um crescimento na importância do setor de comércio e serviços, marcando o processo de desindustrialização local. Ademais, o salto tecnológico baseado na microeletrônica e a ascensão da nova divisão internacional do trabalho, capitalizada na Ásia, com a crescente abertura do mercado brasileiro abriu uma grande lacuna de produtividade e competitividade para as empresas do parque industrial local, especialmente para as pequenas e médias empresas.

Os últimos anos do século XX reafirmaram como paradigmas as características estruturais da economia do Rio Grande do Norte, nesse cenário, sem modificar consideravelmente a distribuição setorial do mercado de trabalho ao longo do espaço. Tornando mais inflexíveis as estruturas da questão das desigualdades espaciais locais, e deteriorando a capacidade endógena de transformações qualitativas sistêmicas. A tabela 4, abaixo, apresenta o status dessa distribuição no ano 2000.

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Tabela 4 – Distribuição setorial do emprego formal nos territórios em 2000 (%)

Ind ú st ria ex tra tiv a Ind ú st ria de tra ns fo rma çã o Co ns truçã o Civ il Serv iço s e co mérc io Admi n is tra çã o bli ca Ag ro pecuá ria T o ta l Potengi 0,32 0,67 0,21 0,28 1,81 0,44 0,93 Trairi 0,37 0,88 1,24 0,72 2,73 0,16 1,51 SCCLN 11,11 0,60 1,49 0,89 2,36 1,85 1,78 Sertão Do Apodi 1,76 0,58 2,34 0,49 3,44 0,79 1,78 Alto-Oeste 0,00 0,54 0,77 0,67 4,63 0,03 2,15 Mato Grande 1,28 5,12 0,53 4,69 3,35 4,33 3,93

Agreste Litoral Sul 3,54 4,31 1,22 2,81 4,21 36,77 5,17

Seridó 19,14 7,44 2,84 3,95 6,22 0,97 5,50

Açú-Mossoró 44,01 12,95 13,50 11,99 6,14 42,89 12,32

Terra Dos Potiguaras 18,46 66,92 75,86 73,50 65,10 11,77 64,94

Desvio padrão da distribuição 14,08 20,41 23,47 22,59 19,42 16,17 19,59

Rio Grande do Norte* 8818 39607 13812 115093 122629 15529 315488

Fonte: Elaboração própria com base em dados da RAIS. Nota: os valores expressos na linha “Rio Grande do Norte” fazem referência ao total em termos absolutos.

Assim como observado no produto interno bruto, os empregos foram concentrados no território Terra dos Potiguaras, seguido por Açú-Mossoró e o Seridó, com intensidade substancialmente maior que a concentração da população economicamente ativa. Sinalizando que os trabalhadores que não conseguem coincidir sua situação de moradia com a demanda local de postos de trabalho formais, e não têm as condições de participar da massa de trabalhadores do movimento pendular para o centro, ficam expostos à informalidade, ao trabalho precário e ao desemprego de suas realidades.

Corrobora a essa hipótese a análise da taxa de desocupação quando ponderada pela população economicamente ativa, que revelou um padrão de desocupação maior fora dos centros urbanos, e aquém dos estabelecimentos demandantes de mão de obra. A figura 2, revela esse diferencial entre as taxas de desocupação nos municípios do Rio Grande do Norte

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Figura 2 – População desocupada maior de 18 anos em 2000 (%)

Fonte: Elaboração própria com base em dados do Atlas do Desenvolvimento Humano – IPEA/PNUD/IBGE

O Terra dos Potiguaras concentrou 64,94% do total dos postos de trabalho e somente a indústria extrativa e a agropecuária se excetuam da concentração hegemônica do emprego na capital. A indústria extrativa e a agropecuária3 têm sua localização muito condicionada à

dotação natural de fatores de produção, necessitando de grandes extensões de terra e fertilidade do solo, determinando uma concentração desses setores em Açú-Mossoró.

Enquanto a maior desconcentração de empregos se observou nos dois setores supracitados, a maior concentração foi no setor de construção civil. Fato relevante ao se considerar que essa estatística é um indicativo da concentração dos investimentos imobiliários, com alto potencial de encadeamento produtivo, nos centros urbanos. A sinergia gerada por essa atividade gerou efeitos multiplicadores de concentração de atividades produtivas e da população, em um movimento dialético e autossustentado do espaço do Terra dos Potiguaras de implosão para as áreas centrais e explosão do tecido urbano de Natal em direção aos municípios metropolitanos (MYRDAL, 1968; HIRSCHMAN, 1961).

Comércio e Serviços, principalmente os comércios varejistas, foram o principal dínamo do setor privado no mercado de trabalho e a principal fonte de valor agregado na economia do estado. Esses setores também possuíam uma forte polarização, corroborando também à hipótese teórica de tendência estrutural à processos de concentração autossustentados, que no Rio Grande do Norte são liderados, a grosso modo, por um sistema binário assimétrico conduzido por Natal e seguido por Mossoró.

3 Importante ressaltar que os empregos da agropecuária que aparecem nos dados de emprego formal não são

preponderantemente de pequenos agricultores, ou da agricultura familiar, tipicamente informal, mas de médias e grandes empresas.

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33 Apesar de o emprego público ter tido o maior estoque de empregos formais da economia do estado, esses postos de trabalho seguiram os fundamentos da concentração relativa. O tamanho do setor público é proporcional à população residente e, portanto, apesar de ser majoritário na geração de emprego nos territórios menos desenvolvidos, o estoque de trabalho demandado pelas prefeituras é pequeno em relação ao total da população economicamente ativa.

O Terra dos Potiguaras concentrou 65,1% do total desses postos de trabalho, mais que o percentual de concentração da população proporcionalmente, principalmente por reter a burocracia administrativa. A dispersão entre territórios, medida através do desvio padrão, é de 19,42 pontos percentuais e, ainda assim, em 6 dos 10 territórios, o peso relativo do setor público na composição do mercado de trabalho foi o mais relevante.

Para compreender essas assimetrias é necessário olhar para a composição setorial dos empregos de cada território, procurando as visibilidades do nível de complexidade econômica desses espaços. Quanto maior a diversidade e dinamicidade comparativa das atividades produtivas observadas maior a produtividade relativa das economias dos territórios4 (KALDOR, 1970), aumentando sua a capacidade de se desenvolver convergindo para os níveis de renda do Terra dos Potiguaras, e mitigando a distância estrutural de suas relações de centro e periferia (RODRIK, 2008). Portanto, essa análise pressupõe considerar a estrutura econômica herdada do processo de formação histórica do estado (MARTIN; SUNLEY, 2006; BRESSER-PEREIRA; OREIRO; MARCONI, 2016).

A tabela 5, abaixo, permite visualizar o panorama geral da composição setorial do emprego. O padrão geral do mercado de trabalho no estado, conforme já mencionado, girou em torno do setor público, do comércio e serviços, no entanto o olhar sobre os territórios possibilita verificar desvios relativos. No Alto-Oeste, Potengi, Sertão Central Cabugi e Litoral Norte, e Trairi a administração pública teve mais que 70% de participação no mercado de trabalho. Nos territórios Terra dos Potiguaras, Açú-Mossoró e Mato Grande a ordem geral se inverte, com serviços e comércio como principal fonte de emprego, seguida pelo setor público e a indústria.

4 Não implica aceitar a prognose da tese de incentivo à industrialização para todos os espaços subdesenvolvidos

como única possibilidade de desenvolvimento econômico. A produtividade do trabalho depende de fatores sistêmicos complexos determinados pelos vetores de demanda e condicionados em longo prazo ao estoque de capital (BRESSER-PEREIRA; OREIRO; MARCONI, 2016).

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Tabela 5 – Composição setorial do emprego por território em 2000 (%)

Ind ú st ria ex tra tiv a Ind ú st ria de tra ns fo rma çã o Co ns truçã o Civ il Serv iço s e Co mérc io Admi n is tra çã o P úb lica Ag ro pecuá ria Potengi 0,96 9,05 0,99 10,97 75,71 2,32 Trairi 0,69 7,29 3,59 17,41 70,49 0,53 SCCLN 2,76 4,06 5,75 10,11 75,15 2,17 Sertão Do Apodi 17,41 4,21 3,66 18,14 51,46 5,12 Alto-Oeste 0,00 3,15 1,58 11,34 83,86 0,07 Mato Grande 0,91 16,37 0,59 43,60 33,11 5,42

Agreste Litoral Sul 1,91 10,48 1,03 19,87 31,67 35,03

Seridó 9,72 16,97 2,26 26,22 43,96 0,87

Açú-Mossoró 9,98 13,20 4,80 35,51 19,38 17,13

Terra Dos Potiguaras 0,79 12,94 5,11 41,29 38,97 0,89

Rio Grande do Norte 2,80 12,55 4,38 36,48 38,87 4,92

Fonte: Elaboração própria com base em dados da RAIS.

A combinação desses dados com as observações estruturais elaboradas anteriormente, possibilitam enunciar que esses territórios estiveram imersos em uma situação econômica de estagnação, com esvaziamento do setor privado formal e profunda subordinação espacial em relação aos territórios polo. Em termos de complexidade econômica dos empregos esses municípios não se colocaram em uma trajetória capaz de fornecer as bases de um desenvolvimento produtivo, aumento da produtividade e consequente redução das desigualdades entre os territórios. Trata-se de um lock-in estrutural e limitador do desenvolvimento econômico em um circuito contínuo (MARTIN; SUNLEY, 2006).

Porém é necessário ainda um olhar mais atento para os setores industriais de transformação, analisando os subsetores que os compõem. Os dados da tabela 5 revelam que em 5 territórios os empregos industriais representaram mais de 10% do total, no entanto, a configuração da distribuição desses vínculos se diferencia de acordo com o território e seu nível de desenvolvimento econômico.

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Tabela 6 – Composição dos empregos da indústria de transformação por território em 2000 (%) Açú -M o ss o Ag re st e L it o ra l Sul Alt o -O este M a to G ra nd e P o teng i Seridó SCCL N Sert ã o do Apo di T er ra do s P o tig ua ra s T ra iri Rio G ra nd e do No rt e Material Elétrico - - - - Material de Transporte 1,2 - - - 19,7 0,3 - 0,5 Indústria Metalúrgica 3,5 - - - - 0,7 0,4 - 1,4 - 1,4

Borracha, Fumo, Couro 1,0 0,2 - - - 0,5 - - 1,9 - 1,4

Indústria Mecânica 4,4 - - - 5,9 - 1,9 - 1,9

Madeira e Mobiliário 3,8 1,8 - 0,8 - 3,9 0,4 0,9 2,6 4,3 2,7

Indústria de Calçados 0,2 25,9 - - 80,4 3,4 - - 2,3 - 3,4

Papel e Gráfica 4,0 0,1 1,4 - - 0,8 1,3 0,4 4,4 1,2 3,6

Indústria Química 10,2 2,8 0,5 2,0 - 0,6 58,6 1,3 4,2 - 4,7

Serviço de Utilidade Pública 6,3 4,5 62,9 7,2 4,2 6,4 7,6 26,8 7,0 15,6 7,2

Alimentos e Bebidas 60,9 46,3 17,4 81,9 13,2 30,0 13,5 30,3 17,3 21,0 28,5

Indústria Têxtil 4,4 18,4 17,8 8,1 2,3 53,6 12,2 20,6 56,8 57,9 44,6

Fonte: Elaboração própria com base em dados da RAIS.

É possível reter duas conclusões gerais a partir da análise da tabela 6. Em primeiro lugar havia um esvaziamento relativo de empregos nos setores mais intensivos em capital e tecnologia (metalúrgica, mecânica, elétrica, transporte e química) no estado, e, até mesmo, a inexistência de muitas dessas atividades nos territórios econômicos menos desenvolvidos, caso do Potengi, Alto Oeste e Trairi. Em segundo lugar, se destacaram os setores tradicionais (alimentos e bebidas e indústria têxtil), presentes em todos os territórios do estado, e hegemônicos no mercado de trabalho dos três maiores, Terra dos Potiguaras, Açú-Mossoró e Seridó.

Nos territórios em que as firmas do mercado de trabalho local absorveram trabalhadores em setores com alta capacidade de agregação marginal de valor, ainda que de forma prescindível em relação aos setores mais significativos em termos de emprego, o tamanho dessas unidades industriais era maioritariamente de micro e pequeno porte. Quanto as firmas dos setores mais dinâmicos, cinco grandes empresas da indústria têxtil5 se destacaram na geração de empregos (com 54,3% dos postos de trabalho do setor e 35,4% do emprego do total da indústria de transformação), caracterizando um oligopsônio no mercado de trabalho desse setor. Na indústria de transformação ao todo, as grandes empresas são responsáveis por empregar a maior parcela de trabalhadores, explicado pelo peso das grandes firmas do setor têxtil.

Referências

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