• Nenhum resultado encontrado

Os católicos e a «República Nova» (1917-1918): da «questão religiosa» à mitologia nacional

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Os católicos e a «República Nova» (1917-1918): da «questão religiosa» à mitologia nacional"

Copied!
115
0
0

Texto

(1)

OS CATÓLICOS E A «REPÚBLICA NOVA» (1917-1918):

DA «QUESTÃO RELIGIOSA» À MITOLOGIA NACIONAL *

A R M A N D O B. M A L H E I R O DA SILVA **

1. N ó t u l a s P r e a m b u l a r e s

A « q u e s t ã o r e l i g i o s a » , c o m o f i c o u c o n h e c i d a , t e m s i d o a b o r d a d a pela h i s t o r i o g r a f i a r e c e n t e com i n c i d ê n c i a m a i o r nos a n t e c e d e n t e s e na m a t r i z p o l í t i c o i d e o l ó g i c a d o c o n f l i t o e n t r e o r e p u b l i c a n i s m o j a -c o b i n o e a n t i - -c l e r i -c a l e o -c o n s e r v a d o r i s m o m o n á r q u i -c o e -c a t ó l i -c o ' , e

* Este a r t i g o i n s e r e - s e num p r o j e c t o dc d o u t o r a m e n t o em c u r s o i n t i t u l a d o « S i d ó n i o e S i d o n i s m o . H i s t ó r i a e M i t o » sob a o r i e n t a ç ã o do P r o f . D o u t o r Luís Reis T o r g a l , da F a c u l d a d e de Letras da U n i v e r s i d a d e de C o i m b r a . Na sua e l a b o r a ç ã o u t i l i z a m o s d o c u m e n t a ç ã o do A r q u i v o S e c r e t o do V a t i c a n o , p e s q u i s a d a e r e p r o d u zida, a n o s s o p e d i d o , p e l o Padre D o u t o r José P a u l o A b r e u , da F a c u l d a d e de T e o -l o g i a de B r a g a , da U n i v e r s i d a d e C a t ó -l i c a , a q u e m t r i b u t a m o s s i n c e r o e p r o f u n d o a g r a d e c i m e n t o .

** A s s i s t e n t e de I n v e s t i g a ç ã o da U n i v e r s i d a d e do M i n h o .

' Sem o intuito de uma e n u m e r a ç ã o e x a u s t i v a , i n d i c a m - s e a l g u n s d o s e s t u d o s m a i s i l u s t r a t i v o s : C R U Z , Manuel Braga da — ,4.? Origens da democracia cristã e o salazarismo. L i s b o a , E d i t o r i a l P r e s e n ç a , 1980; R A M O S , A. J e s u s — A Igreja e a I Republica. A reacção católica em Portugal a's leis persecutórias de 1910-1911. «Di-d a s k a l i a » , L i s b o a , 13 ( 1 - 2 ) 1983; C A T R O G A , F e r n a n «Di-d o — Laicismo e a questão religiosa em Portugal (18651911). « A n á l i s e S o c i a l » , L i s b o a , 24 ( 1 0 0 ) 1988, p. 2 1 1 -- 2 7 3 ; Idem — A Militância laica e a descristianização da morte em Portugal - (1865--1911), 2 vols. C o i m b r a , U n i v e r s i d a d e de C o i m b r a , 1988 ( p o l i c o p i a d o ) ; e Idem — O Republicanismo em Portugal. Da formação ao 5 de Outubro de 1910. vol. 2. C o i m b r a , F a c u l d a d e de L e t r a s da U n i v e r s i d a d e de C o i m b r a , 1991. p. 3 2 9 3 7 1 ; F E R -R E I -R A , A n t ó n i o M a t o s — A Questão religiosa: um aspecto das relações Igreja-Es-tado no Portugal oitocentista. « E s t u d o s C o n t e m p o r â n e o s » , P o r t o (4) 1982, p. 113--135; I d e m — Aspectos da acção da Igreja no contexto da I República, in M E D I N A ,

(2)

m e n o r n o u t r o s a s p e c t o s , c o m o , p o r e x e m p l o , a p r o g r e s s i v a a p r o x i -m a ç ã o e n t r e e s s a s f o r ç a s a n t a g ó n i c a s2. D o 5 de O u t u b r o de 1910 ao 28 de M a i o d e 1926, as r e l a ç õ e s d o E s t a d o l a i c o e r e p u b l i c a n o c o m a I g r e j a C a t ó l i c a a t r a v e s s a r a m u m a g r a v e c r i s e , que t e v e a sua f a s e p a r o -xística d e 1911 a 1 9 1 4 e o seu p o n t o de v i r a g e m « p a c i f i c a d o r » e m 1 9 1 7 1 9 1 8 , n o c o n t e x t o f u g a z , m a s d e c i s i v o , da e x p e r i ê n c i a p r e s i d e n c i a l i s t a d o m a j o r e l e n t e de M a t e m á t i c a da U n i v e r s i d a d e de C o i m -bra, S i d ó n i o B e r n a r d i n o C a r d o s o da S i l v a Pais ( 1 8 7 2 - 1 9 1 8 )3. J o ã o (dir.) — « H i s t ó r i a C o n t e m p o r â n e a de P o r t u g a l » , t o m o 1- P r i m e i r a R e p ú b l i c a . C a m a r a t e . M u l t i l a r , 1988, p. 2 1 2 2 1 3 ; e Idem — A Igreja e a República, in M E D I -NA, J o ã o (dir.) — « H i s t ó r i a de P o r t u g a l . D o s T e m p o s p r é - h i s t ó r i c o s aos n o s s o s d i a s , vol. 1 0 - A R e p ú b l i c a , 1 - S o n h o s e m a l o g r o s » . A m a d o r a , E d i c l u b e , 1 9 9 3 , p . 3 3 9 - 3 7 0 ; G U E D E S , Ana Isabel M a r q u e s — Algumas considerações sobre a «questão religiosa» em Portugal (meados do séc. XIX a início do séc. XX). O anticlericalismo e o espírito republicano. P o r t o , O Oiro do Dia, 1990; M A R Q U E S , A. H. de O l i v e i r a — Portu-gal da Monarquia para a República, in S E R R Ã O . Joel e M A R Q U E S , A. H. de Oli-veira — « N o v a H i s t ó r i a de P o r t u g a l » , vol. 11. L i s b o a , E d i t o r i a l P r e s e n ç a , 1991, p. 4 7 9 - 5 1 8 ; S O U S A . P a u l o S é r g i o G r a ç a de — Os Jesuítas e a Primeira República. «His-t ó r i a » , L i s b o a ( 1 5 1 ) Abril 1992, p. 9 0 - 9 6 ; S I L V A , J o a q u i m P a l m i n h a da — Por«His-tu- Portu-gal: religiosidade cívica e fanatismo messiânico. « H i s t ó r i a » , L i s b o a ( 1 6 3 ) Abril

1993, p. 3 4 - 7 7 ; N E T O , V i t o r — O Estado e a Igreja, in M A T T O S O , J o s é (dir.) — « H i s t ó r i a de P o r t u g a l » , vol. 5. L i s b o a , C í r c u l o de L e i t o r e s , 1993, p. 2 6 5 2 8 3 ; T O R -G A L , Luís Reis — O Tradicionalismo absolutista e contra-revolucionário e o mo-vimento católico, in i b i d e m , p. 2 2 7 - 2 3 9 ; L E A L , E r n e s t o C a s t r o — Quirino Avelino de Jesus, um católico «pragmático»: notas para o estudo crítico da relação exis-tente entre publicismo e política (1894-1926). « L u s i t a n i a S a c r a » , L i s b o a , 2' série, 6, 1994, p. 3 5 5 - 3 8 9 ; e S I L V A , A m a r o C a r v a l h o da — O Partido Nacionalista no con-texto do nacionalismo católico (1901-1910). L i s b o a , E d i ç õ e s C o l i b r i , 1996.

2 Entre as e x c e p ç õ e s que c o n f i r m a m a regra c o n t a m - s e os b r e v e s e n f o q u e s de

F E R R E I R A , A n t ó n i o M a t o s — Aspectos da acção da Igreja no contexto da I Re-pública, e s t u d o c i t . ; T E L O . A n t ó n i o José — Decadência e queda da I República Por-tuguesa, vol. 1. L i s b o a , A R e g r a d o J o g o , 1980, p. 8 1 - 9 1 ; A N T U N E S , José F r e i r e — A Cadeira de Sidónio ou a memória do presidencialismo. M e m M a r t i n s , P u b l i c a -ç õ e s E u r o p a - A m é r i c a . 1981, p. 8 7 - 8 9 ; G A R R I D O , Á l v a r o — Sidónio Pais: a edi-ficação do mito. « H i s t ó r i a » , L i s b o a , 16 ( 1 6 7 ) J u l h o 1994, p. 3 8 - 6 7 ; e M E D I N A , J o ã o

— Morte e transfiguração de Sidónio Pais. L i s b o a . E d i ç ã o C o s m o s , 1994, p. 6 7 - 7 2 . ' Para um c o n h e c i m e n t o d e t a l h a d o d a s suas o r i g e n s e f o r m a ç ã o v e j a s e T R I -G U E I R O S S.J., A n t ó n i o J ú l i o L i m p o e S I L V A , A r m a n d o B. M a l h e i r o da — Os Paes de Barcelos. Subsídios genealógico-biográficos do Presidente da República Si-dónio Paes. « B a r c e l o s R e v i s t a » , B a r c e l o s , 2 série (5) 1994, p. 107-182; e I d e m — Sidónio Pais, natural de Caminha... Subsídios genealógicos e histórico-biográ-ficos. Viana do C a s t e l o , 1997 (no p r e l o ) . Mas para uma b r e v e i n t r o d u ç ã o à s u a vi-da e o b r a a d i a n t á m o s , a q u i . o s e g u i n t e a p o n t a m e n t o p r o s o p o g r á f i c o : « N a s c e u em

(3)

A h i s t o r i o g r a f i a de p e n d o r p r ó - a f o n s i s t a ( e l o g i o s a da a c t u a ç ã o d e A f o n s o C o s t a , M i n i s t r o da J u s t i ç a e dos C u l t o s , n o G o v e r n o P r o v i

-Caminha, no dia I de Maio de 1872, no seio de uma família de funcionários ju-diciais e de fiéis adeptos da causa liberal. Viveu alguns anos da sua infância na vi-la da Sertã, mas regressou à terra natal com a mãe (D. Rita Júlia Cardoso da Sil-va) e irmãos, após a morte do pai (o escrivão Sidónio Alberto Marrocos Pais) a 27 de Agosto de 1883, em Dornes, concelho de Ferreira do Zêzere. Alistou-se vo-luntáriamente no Regimento de Infantaria n" 23, em 12 de Dezembro de 1888, ao mesmo tempo que cursava, na Faculdade de Matemática da Universidade de Coim-bra, os preparatórios para a Escola do Exército, onde ingressou em 1890. Ter-minado o curso de dois anos, no posto de Sargento graduado cadete do Regimento de Artilharia n" 1, foi promovido a 2" Tenente para a arma de Artilharia, em De-zembro de 1892. Colocado no Grupo de Baterias n° 4 de Amarante, nessa vila veio a casar com D. Maria dos Prazeres Martins Bessa, sobrinha materna do ilustre cau-sídico e político local, Dr. Miguel Pinto Martins, amigo e correligionário do Con-selheiro António Cândido Ribeiro da Costa. Graças à influência deste famoso de-putado do Partido Progressista e lente da Faculdade de Direito de Coimbra, Si-dónio Pais regressou à Faculdade de Matemática para completar a licenciatura, sendo premiado no 5° ano (1898). Doutorou-se com umas Theses de Mathematicas puras e applicadas (Coimbra, Imprensa da Universidade, 1898) e apresentou a Introdução á theoria dos erros das observações (Coimbra. Imprensa da Uni-versidade, 1898) como dissertação inaugural para o acto de conclusões magnas. Concorreu, sob a «protecção» de António Cândido, a um lugar de lente substituto, na Faculdade de Matemática, com a dissertação Series de números (Coimbra. Im-prensa da Universidade, 1898), lendo sido nomeado em 12 de Janeiro de 1899. Lec-cionou, como lente substituto, várias cadeiras, entre as quais a de Cálculo Di-ferencial e Integral (1904-1910), e, como lente, a de Álgebra Superior e Geometria Analítica (1910-1911). Concorreu a um lugar de professor do 3o grupo das Escolas

Industriais com a dissertação A Í Forças e os movimentos. Definições e postulados da mecanica (Coimbra, Imprensa da Universidade, 1902). Proferiu, na Sala Gran-de dos Actos da UniversidaGran-de Gran-de Coimbra, em 16 Gran-de Outubro Gran-de 1908, uma Oração de Sapiência, que causou sensação e foi publicada no Anuário de 1908-1909. Foi professor, director e organizador da Escola Industrial Brotero, de Coimbra

(1904--1911). Em 29 de Dezembro de 1906. foi promovido a Capitão. Após o 5 de Outubro del910. acumulou vários cargos até ao 1° trimestre de 1911: Presidente da Co-missão Administrativa Municipal de Coimbra, Administrador da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses e Vice-Reitor da Universidade de Coimbra. Em 20 de Fevereiro de 1911. iniciou-se na loja E s t r e l a de A l v a , n" 289 de Coimbra, do Ri-tual Escocês Antigo e Aceite ( R E A A ) , com o nome simbólico de Carlyle. Foi eleito, pelo cítculo de Aveiro, deputado às Constituintes. Nomeado Ministro do Fomento em 3 de Setembro de 1911. deixou este cargo em 2 de Novembro do mesmo ano. pa-ra ser nomeado Ministro das Finanças, funções de que foi exonepa-rado a seu pedido em 12 de Junho de 1912. Em 17 de Agosto de 1912, foi nomeado Ministro Ple-nipotenciário em Berlim, missão difícil de desempenhar, devido ao conflito arma-do que opunha os Impérios centrais à França. Inglaterra e demais países aliaarma-dos.

(4)

s ó r i o , e r e s p o n s á v e l pela c o n t r o v e r s a Lei da S e p a r a ç ã o d o E s t a d o d a s I g r e j a s , d e 21 d e Abril de 1911) não h e s i t o u e m d u v i d a r das c o n -v i c ç õ e s r e p u b l i c a n a s , l i b e r a i s e a g n ó s t i c a s d e S i d ó n i o P a i s : «De fac-to Sidónio — e s c r e v e u Raul R e g o — já não tinha mentalidade re-publicana quando faz. a revolução. E um republicano histórico, como Xavier Esteves, como Alfredo de Magalhães. A Constituição que ele quer assemelha-se muito à que irá ser plebiscitada, com os votos fa-voráveis dos abstencionistas, em 1933. As câmaras que ele convocou não são tão monocórdicas como as que teremos depois dessa

Cons-A eclosão da Grande Guerra, tornou mais crítica a situação do diplomata e a en-trada de Portugal no conflito fez com que tivesse de regressar a Portugal, in-gressando então no quadro da sua arma. para o qual foi promovido a Major Gra-duado, em 18 de Março de 1916. Por Portaria de 18 de Março de 1916 regressou ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, onde «ficou demorado em serviço». No dia 5 de Dezembro de 1917, chefiando um movimento militar, afastou do poder a facção democrática e integrou uma Junta Revolucionária, que assumiu o Governo da Na-ção em 8 do referido mês. No dia imediato, dissolveu o Congresso da República e em

11 destituiu o Chefe do Estado, mandando-o residir fora do território nacional, até ao dia em que terminaria o seu mandato, se não tivesse sido destituído. O Governo já havia sido exonerado por decreto do dia 10 de Dezembro. Entre outras questões

urgentes, a forma política do regimen republicano ganhou especial acuidade e abriu brechas no bloco de apoio ao golpe dezembrista: a inflexão no sentido claro do mo-delo presidencialista, realçou o protagonismo de Sidónio em detrimento de figuras históricas, como Machado Santos, José Carlos da Maia ou Brito Camacho, e mar-cou a metamorfose do «dezembrismo» em Sidonismo. Os Ministros passaram a de-signar-se Secretários de Estado e pela nova Lei Eleitoral, de 26 de Abril de 1918, deu-se a representação no Senado a 6 categorias profissionais. Foi também es-tabelecido. que o mandato do Presidente da República emanaria directamente dos votos dos cidadãos. No preâmbulo do mesmo Decreto, se fixa a necessidade de dar mais independência ao poder executivo, aproveitando disposições claramente ex-pressas na Constituição de 1911. Em 9 de Maio de 1918. assumiu as funções de Pre-sidente da República, em virtude da proclamação da Comissão Central de Apu-ramento. por ter sido eleito para esse alto cargo por meio milhão de votos. Em Ou-tubro de 1918, em virtude de graves acontecimentos de carácter político, que se de-senvolveram de 12 a 15 desse mês, proclamou-se Comandante em Chefe do Exérci-to de Terra e Mar, dominando facilmente a situação que se lhe deparava. Faleceu no dia 14 de Dezembro de 1918. assasinado na Estação do Rossio, quando inicia-va a sua viagem ao Porto» ( T e x t o e l a b o r a d o a p a r t i r de três « b i o g r a f i a s » e s c o l h i d a s : Sidónio Bernardino Cardoso da Silva Paes. «O C a m i n h e n s e » , C a m i n h a , de 21 de Abril a 5 de M a i o de 1972, p. 16: As Constituintes de 1911 e os seus deputados. Obra compilada e dirigida por um antigo official da Secretaria do Parlamento. Lisboa, Livraria F e r r e i r a , 1911. p. 2 4 7 ; e M A R Q U E S , A. H. de O l i v e i r a — Dicionário de Maçonaria Portuguesa, vol. 2. L i s b o a . Editorial D e l t a , 1986, col. 1238-1241).

(5)

tituição; mas os indícios corporativistas da sua organização, o au-toritarismo, a aliança com o clero, a despeito da reforma da Lei da Se-paração ter sido verdadeira desilusão para o mesmo clero, são vi-síveis. O seu regime foi sem dúvida um ensaio do fascismo italiano e ele é bem uma figura do Duce, do Franco»4. E m c o n t r a p a r t i d a , os s e u s

a p o l o g e t a s e s e g u i d o r e s , c o m o C u n h a e C o s t a , a q u e a d i a n t e nos re-f e r i r e m o s c o m d e t a l h e , a t e n u a r a m ou a t é a p a g a r a m d o « c u r r i c u l u m » a f a c e t a a n t i - c l e r i c a l e l i v r e - p e n s a d o r a d e S i d ó n i o P a i s5, r e a l ç a d a pela

4 R E G O , Raul — História da República, vol. 5 - Do sidonismo ao 28 de Maio.

L i s b o a , C í r c u l o de L e i t o r e s , 1987, p. 60.

5 A t e n t e - s e em dois e x e m p l o s e s c l a r e c e d o r e s . O p r i m e i r o c o l h e - s e numa das

14 F o l h a s a v u l s a s , p u b l i c a d a s logo a p ó s a m o r t e de S i d ó n i o Pais e d i s t r i b u í d a s na v é s p e r a e d u r a n t e o seu i m p r e s s i o n a n t e c o r t e j o f ú n e b r e , dos P a ç o s d o C o n c e l h o de L i s b o a até ao M o s t e i r o dos J e r ó n i m o s . Aí se lê o s e g u i n t e : «Elle respeitou u reli-gião, porque tinha probidade intellectual e moral e porque respeitava os seus con-cidadãos. Não ignorava que a orientação demagógica da Republica alienara delia as simpatias da quasi totalidade dos portugueses. Desprezando os radicalismos de copia, comprehendeu a força moral dessa poderosa associação que atravessou os séculos e tem adeptos em todas as latitudes. Sem sacrificar nenhuma das pre-rogativas do Estado, procurou entender-se com Roma e esse acto de alta in-telligencia e de alta diplomacia para logo lhe conciliou as simpatias da parte mais interessante e mais numerosa da nação. Mulheres de Portuga! que agora tendes as mãos livres para as erguer ao Ceu. levantai-as devotadamente por alma do Gran-de PresiGran-dente, pedindo ao Senhor que não faça pagar á patria o pecado dos mal-vados. Nas catedraes das cidades e nas ermidas das serras, no enlevo da vossa pre-ce. recordai sempre o Santo d'alma clara e coração puro que Jesus escolheria pa-ra companheiro se ha dias cá voltasse. Como Jesus que vós adopa-rais. Elle foi már-tir do seu bem-querer e do seu bem-fazer». O u t r o e x e m p l o p e r p a s s a pela A l o c u ç ã o f ú n e b r e do P.c V a l é r i o C o r d e i r o «ás allumnas do Lyceu Garrett por occasião da

Mis-sa do 30" dia, mandada celebrar por uma commissão das mesmas, na egreja da En-carnação, 15-1-1919», em q u e o o r a d o r s a c r o se c o n g r a t u l o u pelo f a c t o de S i d ó n i o Pais ter sido o o b r e i r o , i n s p i r a d o d i r e c t a m e n t e p o r D e u s . da r e c o n c i l i a ç ã o do lista-do com a Igreja e a v a n ç o u , sob a f o r m a de t e s t e m u n h o s f i á v e i s , com a g a r a n t i a de que o « G r a n d e P r e s i d e n t e » se r e n d e r a p u b l i c a m e n t e ao p o d e r da Fé: «(...) Eu via os pri-meiros passos dados para esse culto e alegrava-me. Ouvira pouco antes a uma sen-hora, das que coadjuvavam o chorado Presidente na sua na sua obra benefica em prol da infanda e. indigência, na obra admiravel e tão christã de vestir, alimentar e principalmente educar as creanças, ouvira, digo, que elle affirmara, poucos mo-mentos, talvez algumas horas antes da morte, «que estava persuadido ser im-possível moralizar o povo sem a Religião», sem o auxilio poderoso, insubstituível, da Fé. Ouvira mais. que oito dias antes, elle invocara Deus, numas palavras di-rigidas ao povo de Lisboa, no Rocio, confessando a protecção que sentia ter re-cebido do Ente Supremo. E o meu coração catholico, sacerdotal, estava cheio de

(6)

esc o n h e esc i d a O r a ç ã o d e S a p i ê n esc i a , de 16 de O u t u b r o d e 1908 — d e n ú n cia m o d e r a d a , m a s c e r t e i r a , d o e n s i n o a n a c r ó n i c o m i n i s t r a d o na U n i -v e r s i d a d e d e C o i m b r a , e s p a r t i l h a d o p o r -v e l h a s f ó r m u l a s r e l i g i o s a s p o u c o c o n s e n t â n e a s c o m o m o d e r n o e s p í r i t o c i e n t í f i c o6. L e i t u r a s t ã o e x t r e m a s e r e d u t o r a s n ã o p o d e m p e r m a n e c e r c o m o ref e r e n c i a i s ú n i c o s d e i n t e l i g i b i l i d a d e ou d e e x p l i c a ç ã o p a r a u m a c o n -j u n t u r a p o l í t i c a c u r t a , m a s a s s a z c o m p l e x a . I m p õ e - s e , p o r i s s o , u m a a n á l i s e c r í t i c a e r i g o r o s a , e r g u i d a s o b r e um i n d i s p e n s á v e l e n q u a -d r a m e n t o h i s t ó r i c o . U m a a n á l i s e , e n f i m , q u e a j u -d e a e x p l o r a r o u t r a s l i n h a s d e i n t e r p r e t a ç ã o da p o s t u r a c o n c i l i a t ó r i a da « R e p ú b l i c a N o v a » s i d o n i s t a f a c e à I g r e j a C a t ó l i c a e da « r e c o n c i l i a ç ã o » d e s t a c o m o Est a d o r e p u b l i c a n o . A s p e c Est o i m p o r Est a n Est e ( m a s a p e n a s i s s o . . . ) de u m a e x -p e r i ê n c i a -p o l í t i c a — o S i d o n i s m o , e n t e n d i d o , -p o i s , c o m o c o n j u n t o de p o l í t i c a s p r e p a r a d a s p e l o g o l p e d e z e m b r i s t a ( 1 9 1 7 ) e d e s e n v o l v i d a s no q u a d r o da « R e p ú b l i c a N o v a » ( M a i o a D e z e m b r o d e 1 9 1 8 )7— , t ã o e f é m e r a , q u a n t o e s s e n c i a l p a r a a c o m p r e e n s ã o g l o b a l da Ia R e p ú b l i -ca P o r t u g u e s a8 e d o « a m b i e n t e p o l í t i c o - i d e o l ó g i c o » q u e t o r n o u

ma-peranças» ( C f . Idem — A Sombra da Cruz. Allocuçõesfúnebres. L i s b o a . E d i ç ã o do A u c t o r , 1922, p. 23).

" PAIS, S i d ó n i o — Oração de sapientia, recitada na sala grande dos actos da Universidade de Coimbra no dia 16 de Outubro de 1908. C o i m b r a , I m p r e n s a da Univ e r s i d a d e , 1909. U m a s ú m u l a r e c e n t e d e s t a O r a ç ã o d e Univ e s e a F E R N A N D E S , R o -g é r i o — Uma experiência de formação de adultos na 1° República. A Universidade Livre para Educação Popular, 1911-1917. L i s b o a , C â m a r a M u n i c i p a l de L i s b o a , 1993, p. 13-15.

' O « D i c i o n á r i o C o m p l e m e n t a r da L i n g u a P o r t u g u e s a » ( P o r t o , E d i t o r a E d u c a -ç ã o N a c i o n a l , 1936) de A u g u s t o M O R E N O não r e f e r e o t e r m o S i d o n i s m o . E s t e apa-rece no « D i c i o n á r i o Geral e A n a l ó g i c o da L í n g u a P o r t u g u e s a » (vol. 1. P o r t o , Edi-ções « O u r o » , 1 9 4 8 . p . 1 0 6 5 e 1066) de Artur BIVAR: «Sidonismo, s.m. Situação politi-ca portuguesa que foi presidida por Sidónio Pais». E a p a r e c e t a m b é m : «Sidonista, s.m. Partidário do Sidonismo». O « N o v o D i c i o n á r i o c o m p a c t o da L í n g u a P o r t u g u e -sa» (vol. 2. L i s b o a . Editorial C o n f l u ê n c i a L d a , 1960, p. 2 1 9 6 ) de A n t ó n i o M O R A I S da S i l v a inclui: «Sidonismo. s.m. A situação política que foi presidida por Sidónio Pais. O partido dos que defenderam a política desse presidente. Adj. Relativo ao si-donismo. S. 2 gén. Pessoa partidária do sistema governativo de Sidónio Pais». A par-tir da f i x a ç ã o do(s) t e r m o ( s ) em B I V A R e M O R A I S a c h a - s e r e p r o d u ç ã o em C O S T A , J. A l m e i d a e M E L O . A. S a m p a i o e — Dicionário da Língua Portuguesa, 5* ed. P o r t o , Porto E d i t o r a , s.d., p. 1311; e M A C H A D O . J o s é P e d r o — Grande Dicionário da Lín-gua Portuguesa, vol. 11. L i s b o a , A m i g o s do Livro E d i t o r e s , 1981, p. 159.

8 Para a i n d i s p e n s á v e l leitura da « R e p ú b l i c a N o v a » no c o n t e x t o h i s t ó r i c o p o

-Iítico d a Ia R e p ú b l i c a P o r t u g u e s a c o n v é m ter p r e s e n t e , e n t r e o u t r o s , o c o n t r i b u t o

(7)

dura e i n e v i t á v e l a « s o l u ç ã o » m i l i t a r e d i t a t o r i a l do 2 8 de M a i o de 1926. 2. A « Q u e s t ã o R e l i g i o s a » — d e F r a n ç a p a r a P o r t u g a l , da M o n a r q u i a p a r a a R e p ú b l i c a . . . S e q u i s e r m o s r e c u a r a t é às « o r i g e n s » p l a u s í v e i s d o f e n ó m e n o , tem o s , i n e v i t a v e l tem e n t e , de e v o c a r o c o n f l i t o g e r a d o , nos a l v o r e s da c h a -m a d a É p o c a M o d e r n a , e n t r e l u t e r a n o s , c a l v i n i s t a s , n u -m a p a l a v r a , re-f o r m i s t a s , e m re-f r a n c a d i s s e m i n a ç ã o da S u i ç a à E s c a n d i n á v i a , e o Pa-p a d o d e R o m a , e s c u d a d o Pa-p e l o m o v i m e n t o da C o n t r a - R e f o r m a , c u j o s p r i n c i p a i s b a l u a r t e s , b e m e s c o r a d o s na E u r o p a o c i d e n t a l e m e r i d i o -nal, f o r a m o C o n c í l i o d e T r e n t o e a C o m p a n h i a de J e s u s de S a n t o Iná-c i o d e L o y o l a . E s s e Iná-c o n f l i t o f o i , sem d ú v i d a , u m a a m e a ç a s é r i a ao pod e r t e m p o r a l e e s p i r i t u a l poda I g r e j a R o m a n a . E, m a i s t a r pod e , n o v a e t e m í vel a m e a ç a s u r g i u c o m o d e s e n r o l a r d o s a c o n t e c i m e n t o s p o l í t i c o r e l i -g i o s o s e s o c i a i s da R e v o l u ç ã o F r a n c e s a ( 1 7 8 9 ) . E m e r g i u , e n t ã o , u m a n o v a c o n t e s t a ç ã o , d i r e c t a e i n t e r n a , a o s f u n d a m e n t o s t r a d i c i o n a i s d o Ancien Regime, f o r j a d a p e l o e s p í r i t o i l u m i -nista e e n c i c l o p é d i c o , q u e ao l o n g o d o s é c u l o X V I I I n ã o só g a n h a r a c o n t e ú d o e f o r m a , m a s p r o g r e s s i v a d i f u s ã o e n t r e as é l i t e s n a c i o n a i s . D e n t r o d e s s a c o n t e s t a ç ã o , o r a c i o n a l i s m o f i l o s ó f i c o - c i e n t í f i c o e o hum a n i s hum o i n d i v i u a l i s t a , l a i c o e hum a ç ó n i c o , v i s a r a hum a d o u t r i n a t r a d i c i o n a l i s t a da I g r e j a e a s u a h e g e m o n i a p o l í t i c a e s ó c i o e c o n ó m i c a , c o n -trária à e x p a n s ã o d o c a p i t a l i s m o b u r g u ê s e p r a g m á t i c o . S e r á , aliás, n o i n t e r i o r d o p r ó p r i o Ancien Régime e d o E s t a d o m o d e r n o , na s u a versão a b s o l u t i s t a e d e d e s p o t i s m o i l u m i n a d o , q u e v e r e m o s g r a s s a r a p o s t u r a g a l i c a n a d e d e f e s a das l i t u r g i a s l o c a i s ( f i x a d a s em i d i o m a n a c i o -nal em vez d o l a t i m e sem a l g u n s d o s ritos e p r e c e i t o s da l i t u r g i a

História política de Portugal, 19101926. M e m M a r l i n s . P u b l i c a ç õ e s E u r o p a A n i é -rica, s.d., p. 157-173. Bem g i z a d a e r i g o r o s a é, sem d ú v i d a , a a n á l i s e de S E R R A , J o ã o B o n i f á c i o — Do 5 de Outubro ao 28 de Maio: a instabilidade permanente, in REIS, A n t ó n i o (dir.) — « P o r t u g a l C o n t e m p o r â n e o » , vol. 3. L i s b o a , P u b l i c a ç õ e s Al-fa. 1990, p. 100 ( i d e m vol. 2. L i s b o a , S e l e c ç õ e s do R e a d e r ' s D i g e s t , 1996. p. 13-- 1 0 0 ) . M a i s d i s c u t í v e l , s o b r e t u d o pelos p r e s s u p o s t o s t e ó r i c o s que e n f o r m a m a in13-- in-t e r p r e in-t a ç ã o g l o b a l , é a r e c e n in-t e a b o r d a g e m de R A M O S , Rui — A Segunda fundação (1890-1926), in M A T T O S O , J o s é (dir.) — « H i s t ó r i a de P o r t u g a l » , vol. 6. ob. cit., p. 6 1 5 - 6 2 3 .

(8)

r o m a n a ) , da e x i g ê n c i a d o b e n e p l á c i t o r é g i o ( a p r o v a ç ã o p e l o s o b e r a -no, de q u a l q u e r E s t a d o , dos d o c u m e n t o s p o n t e f í c i o s , tais c o m o bulas e b r e v e s , q u e lhe e r a m r e m e t i d o s ) e da c r e s c e n t e d e s c o n f i a n ç a e c e r c o à a c ç ã o p e d a g ó g i c a e p a s t o r a l d o s J e s u í t a s (em e s p e c i a l o c o m p o r -t a m e n -t o m i s s i o n á r i o n o N o v o M u n d o ) . D e s -t e s s i n a i s de c l i v a g e m , « a g u d a » no c a s o c o n c r e t o da e x p u l s ã o d o s J e s u í t a s p e l o M a r q u ê s de P o m b a l , até à d e s a m o r t i z a ç ã o dos b e n s e c l e s i á s t i c o s , à s e c u l a r i z a ç ã o v i o l e n t a d o c l e r o r e g u l a r ou à d e s c r i s t i a n i z a ç ã o p r a t i c a d a d u r a n t e o p e r í o d o r e v o l u c i o n á r i o f r a n c ê s , c o m i m p a c t o p o s t e r i o r nos r e i n o s p e r i f é r i c o s , n ã o f o i l o n g o o t r a j e c t o , n e m d e m o r a d a a e s p e r a . . . Em P o r t u g a l , a p ó s o « t e r r a m o t o » p o l í t i c o m i l i t a r e s ó c i o e c o -n ó m i c o das I -n v a s õ e s F r a -n c e s a s ( 1 8 0 7 - 1 8 1 1 ) , da f u g a da C o r t e para o B r a s i l , da v a g a r e v o l u c i o n á r i a e l i b e r a l e m E s p a n h a ( R e v o l u ç ã o de C á d i z , 1812) e da p r e s e n ç a t ã o i n e v i t á v e l , q u a n t o i n c ó m o d a , d o d o m í -nio i n g l ê s na g o v e r n a ç ã o d o r e i n o , a c a b o u p o r e c l o d i r , n o P o r t o , a 2 4 d e A g o s t o de 1820, u m a R e v o l u ç ã o d e ó b v i a s c o n o t a ç õ e s c o n s t i t u -c i o n a i s , m a ç ó n i -c a s e j a -c o b i n a s , m a s de -c o n t o r n o s m o d e r a d o s , q u e não d e i x o u , p o r é m , de a m e a ç a r a v e l h a a l i a n ç a d o T r o n o e d o A l t a r e de a c e n d e r o r a s t i l h o da « r e f o r m a » c o m p u l s i v a — da « r e g e n e r a ç ã o » se-g u n d o a r e t ó r i c a v i n t i s t a — do E s t a d o e da S o c i e d a d e . De 1820 a 1828 — o i t o a n o s a t r i b u l a d o s e m q u e a v u l t a m a ind e p e n ind ê n c i a indo Brasil ( 1 8 2 2 ) , o ê x i t o e f é m e r o ind o m o v i m e n t o c o n t r a -- r e v o l u c i o n á r i o da V i l a f r a n c a d a ( 1 8 2 3 ) , o f r a c a s s o da A b r i l a d a ( 1 8 2 4 ) , a m o r t e de D. J o ã o VI (1 826), a r e g ê n c i a da I n f a n t a D. Isabel M a r i a , a o u t o r g a da C a r t a C o n s t i t u c i o n a l p e l o i m p e r a d o r d o B r a s i l , D. P e d r o I e o r e g r e s s o d o I n f a n t e D. M i g u e l ( e x i l a d o em V i e n a d e s d e 1824), c o -m o l u g a r - t e n e n t e d o i r -m ã o e e s p o s o da s o b r i n h a , para r e g e r o r e i n o e m n o m e da C a r t a , c o m p r o m i s s o r o m p i d o p o r ser, e m r e u n i ã o dos T r ê s E s t a d o s , a c l a m a d o rei a b s o l u t o — , h o u v e u m v i v o d e b a t e s o b r e o papel p o l í t i c o c u l t u r a l da I g r e j a e surgiu l e g i s l a ç ã o s o b r e o s i s t e -m a f u n d i á r i o e r e n t i s t a , c o n t r o l a d o , e -m l a r g a -m e d i d a , p e l a n o b r e z a tit u l a d a e p e l o c l e r o , c o m p a r tit i c u l a r d e s tit a q u e p a r a as O r d e n s R e l i -g i o s a s , m o n a c a i s e c o n v e n t u a i s . A n t ó n i o M a t o s F e r r e i r a c o n s i d e r o u este p e r í o d o c o m o a p r i m e i r a e t a p a da « q u e s t ã o r e l i g i o s a » em P o r -tugal 9 e s u b l i n h o u a a t i t u d e , a p r i n c í p i o c o o p e r a n t e e p r u d e n t e , das

au-t o r i d a d e s e c l e s i á s au-t i c a s para com o p r o j e c au-t o v i n au-t i s au-t a , a p e s a r d e a l g u n s

9 F E R R E I R A , A n t ó n i o M a t o s — A Questão religiosa: um aspecto das

(9)

i n c i d e n t e s , c o m o , p o r e x e m p l o , o e x í l i o p a r a F r a n ç a d o p a t r i a r c a de L i s b o a D. C a r l o s da C u n h a e M e n e s e s , q u e r e c u s a r a o a r t i c u l a d o so-bre m a t é r i a r e l i g i o s a i n s e r t o nas b a s e s da C o n s t i t u i ç ã o a p r o v a d a e m 1822. C a s o s p o n t u a i s , l o g o a m p l i a d o s e d i s c u t i d o s pela i m p r e n s a c o n -t r a - r e v o l u c i o n á r i a nos s e u s a -t a q u e s ao p e r i o d i s m o e ao p a n f l e -t i s m o li-beral e a n t i - c o n g r e g a n i s t a . A s u c e s s ã o r á p i d a dos e v e n t o s , n o p l a n o p o l í t i c o - i n s t i t u c i o n a l , a c o m p a n h o u a i n t e n s i f i c a ç ã o d o c o n f r o n t o i d e o l ó g i c o e da f r a c t u r a n o c a m p o c a t ó l i c o , o p o n d o - s e os a d e p t o s das r e f o r m a s l i b e r a i s aos «or-t o d o x o s » e «or-t r a d i c i o n a l i s «or-t a s , e n «or-t r e o s q u a i s se c o n «or-t a v a m i n f l u e n «or-t e s « i d e ó l o g o s » da c o n t r a - r e v o l u ç ã o , t a i s c o m o o P.c J o s é A g o s t i n h o de M a c e d o , Frei F o r t u n a t o d e S. B o a v e n t u r a ou F a u s t i n o da M a d r e de D e u s l0. U m a d i v i s ã o q u e a t r a v e s s o u o b r e v e e c o n v u l s o r e i n a d o d e D. M i g u e l ( 1 8 2 8 - 1 8 3 4 ) , s e n d o de n o t a r a p e r s e g u i ç ã o a o s c l é r i g o s e leigos a f e c t o s às i d e i a s l i b e r a i s e a p o s i ç ã o c a u t e l o s a da S a n t a S é n o c o n c e r n e n t e a o r e c o n h e c i m e n t o d o g o v e r n o m i g u e l i n o . O a p o i o de G r e -g ó r i o X V I ( 1 8 3 1 - 1 8 4 6 ) f o i , n a t u r a l m e n t e , m u i t o d i s p u t a d o , no p l a n o d i p l o m á t i c o , q u e r p e l o s m i g u e l i s t a s , q u e r p e l o s l i b e r a i s , r e u n i d o s e m t o r n o d o e x - i m p e r a d o r d o B r a s i l , D. P e d r o IV e d e sua f i l h a D. M a r i a da G l ó r i a , f u t u r a D. M a r i a II. U n s e o u t r o s p r e t e n d i a m a t r a i r a s i m -patia d e R o m a . E de R o m a c h e g a v a , a f i n a l , u m a m e d i d a q u e a f e c t o u as r e l a ç õ e s E s t a d o - I g r e j a d u r a n t e a t e r c e i r a e t a p a : a c o n s t i t u i ç ã o a p o s t ó l i c a Solicitudo Ecclesiarum, d e d i c a d a à s u p e r a ç ã o d a s c a r ê n -10 S o b r e o « c o r p u s » i d e o l ó g i c o d a c o n t r a r e v o l u ç ã o m i g u e l i s t a e c o r r e s p o n -d e n t e -d i s p o s i t i v o p r o p a g a n -d í s t i c o v e j a - s e , e n t r e o u t r o s e s t u -d o s , T O R G A L , L u í s Reis — Tradicionalismo absolutista e contra-revolução (1820-1910), in M E D I N A , J o ã o (dir.) — « H i s t ó r i a C o n t e m p o r â n e a de P o r t u g a l » , vol. I. L i s b o a , M u l t i l a r , 1990. p. 111-118; Idem — O Tradicionalismo absolutista e contra-revolucionário e o mo-vimento católico, in M A T T O S O . J o s é ( d i r ) — « H i s t ó r i a de P o r t u g a l » , vol. 5, ob. cit., p. 2 2 7 - 2 3 9 ; L O U S A D A , M a r i a A l e x a n d r a — D. Pedro ou D. Miguel? As opções po-líticas da nobreza titulada portuguesa. « P e n é l o p e » , L i s b o a (4) 1989, p. 8 1 - 1 1 7 ; S I L V A , A r m a n d o B. M a l h e i r o — Miguelismo. Ideologia e mito. C o i m b r a , L i v r a r i a M i n e r v a , 1993; Idem — O discurso ideo-político de Faustino José da Madre de Deus. Contribuição para a história das ideias antiliberais em Portugal, in « E s t u -dos de h i s t ó r i a c o n t e m p o r â n e a p o r t u g u e s a . H o m e n a g e m ao P r o f e s s o r V i c t o r dc Sá. O r g a n i z a ç ã o do C e n t r o de H i s t ó r i a da U n i v e r s i d a d e do P o r t o » . L i s b o a , L i v r o s H o -r i z o n t e , 1991, p. 163-182; Idem — O miguelismo na histó-ria contempo-rânea de Po-r- Por-tugal « I t i n e r a r i u m » , Braga, 39, 1993, p. 5 3 7 - 6 4 7 ; e B R I S S O S , José — Contraliberalismo e prática política no século XIX, in M E D I N A , J o ã o (dir.) — « H i s -tória de Portugal dos t e m p o s p r é - h i s t ó r i c o s aos n o s s o s dias. V o l u m e VIII - P o r t u g a l l i b e r a l » . A m a d o r a , E d i c l u b e , 1993, p. 169-198.

(10)

c i a s d a s d i v e r s a s I g r e j a s n a c i o n a i s , p o s s i b i l i t o u o r e s t a b e l e c i m e n t o das r e l a ç õ e s d i p l o m á t i c a s c o m a S a n t a Sé e a n o m e a ç ã o de a l g u n s bis-p o s , l o g o c o n o t a d o s c o m o m i g u e l i s m o e c o n s i d e r a d o s hostis a um go-v e r n o l i b e r a l . D a í , p o i s , a o p o s i ç ã o f r o n t a l d e D. P e d r o , em c a r t a de 12 d e O u t u b r o de 1831 para o P o n t í f i c e , a m e a ç a n d o c o m u m c i s m a . E daí, t a m b é m , os s i n a i s « h o s t i s » dos g o v e r n o s l i b e r a i s , p r i m e i r o na ilha T e r c e i r a e, p o u c o s m e s e s d e p o i s , na s i t i a d a c i d a d e d o P o r t o : e x t i n ç ã o d o s d í z i m o s , c o n c e s s ã o e s t a t a l da c ô n g r u a p a r a s u s t e n t o d o c l e r o , s u b s í d i o a o c u l t o , s u p r e s s ã o , em 1833, de m o s t e i r o s e c o n v e n t o s a b a n d o n a d o s e c r i a ç ã o da p o l é m i c a C o m i s s ã o d e R e f o r m a G e r a l E c l e -s i á -s t i c a , v o c a c i o n a d a p a r a u m a « l i m p e z a p o l í t i c o - i d e o l ó g i c a » d o c l e r o s e c u l a r e, s o b r e t u d o , r e g u l a r , m a i o r i t a r i a m e n t e c o n t r a r e v o l u c i o n á r i o " . C o m a v i t ó r i a m i l i t a r s o b r e o n u m e r o s o , m a s f r á g i l e x é r -c i t o m i g u e l i s t a , e a p ó s a a s s i n a t u r a da C o n v e n ç ã o d e É v o r a M o n t e , s u r g i r a m as i n e v i t á v e i s m e d i d a s r e t a l i a t ó r i a s : e x p u l s ã o d o n ú n c i o a p o s t ó l i c o , M o n s . J u s t i n i a n i , o q u e i m p l i c o u , p o r p a r t e da S a n t a Sé, i m e d i a t o r o m p i m e n t o d a s r e l a ç õ e s d i p l o m á t i c a s e a n u l a ç ã o de t o d a s as d i s p o s i ç õ e s l e g a i s d o n o v o g o v e r n o p o r t u g u ê s e m m a t é r i a r e l i g i o s a ; e x p u l s ã o d o s j e s u í t a s ; e p r o m u l g a ç ã o d o c o n t r o v e r s o d e c r e t o de J o a -q u i m A n t ó n i o de A g u i a r s o b r e a e x t i n ç ã o d e t o d a s as c a s a s e b e n s das O r d e n s R e l i g i o s a s , i n c o r p o r a d o s « n o s p r ó p r i o s da F a z e n d a N a c i o n a l » e v e n d i d o s em h a s t a p ú b l i c a p a r a a t e n u a r a c r í t i c a s i t u a ç ã o d a s f i -n a -n ç a s p ú b l i c a s 12. E n t r a r a s e , e n t ã o , n u m a f a s e « c i s m á t i c a » , de c o n f l i t o a b e r t o e n -tre L i s b o a e R o m a , a p e s a r da C a r t a C o n s t i t u c i o n a l o u t o r g a d a , e m

1826, p o r D. P e d r o IV, r e c o n h e c e r , n o a r t i g o 6o «A religião católica,

apostólica, romana continuará a ser a religião do Reino». Era a a s s u n ç ã o p l e n a d e u m E s t a d o c o n f e s s i o n a l , e m b o r a n o p l a n o p o l í t i c o d i -p l o m á t i c o c o n t i n u a s s e m -p o r r e m o v e r e a t é se a g r a v a s s e m os « -p o m o s da d i s c ó r d i a » , d e v i d o à a t i t u d e d e a c e n t u a d a i n t r a n s i g ê n c i a da S a n t a Sé, i m p e r t u b á v e l p e r a n t e as i n i c i a t i v a s d o g o v e r n o de D. M a r i a II, d e s d e 1835, p a r a r e a t a m e n t o das r e l a ç õ e s . E e m 1838 o b r e v e d e G r e " C o m o i n t r o d u ç ã o à p r o p a l a d a a d e s ã o dos f r a d e s ao m i g u e l i s m o v e j a s e S I L -V A , A r m a n d o B a r r e i r o s M a l h e i r o da — O Clero regular e a «usurpação». Subsídios para uma história sócio-política do miguelismo. « R e v i s t a dc H i s t ó r i a das I d e i a s » , 9,

1987, p. 5 2 9 - 6 3 0 .

12 Para uma i n t r o d u ç ã o a c t u a l i z a d a e e s t i m u l a n t e ao tema v e j a s e S I L V A , A n

-t ó n i o M a r -t i n s da — A desamor-tização, in M A T T O S O , José (dir.) — « H i s -t ó r i a de P o r t u g a l » , vol. 5. L i s b o a , C í r c u l o de L e i t o r e s , 1993, p. 3 3 9 - 3 5 3 .

(11)

g ó r i o X V I , q u e e x t i n g u i u o P a d r o a d o nas t e r r a s q u e j á n ã o e s t a v a m s o b a d o m í n i o p o l í t i c o p o r t u g u ê s , c o n s t i t u i u u m v e r d a d e i r o « g o l p e d e f o r ç a » , l e s i v o d o s i n t e r e s s e s c o l i n i a i s e i n t e r n a c i o n a i s d e P o r t u gal, e n e s s e s e n t i d o f o r ç a r a m os g o v e r n o s l i b e r a i s a u m a « r e c o n c i -l i a ç ã o » i n e v i t á v e -l . A e t a p a d o a p a z i g u a m e n t o nas r e l a ç õ e s E s t a d o e I g r e j a c h e g o u c o m o r e s t a b e l e c i m e n t o o f i c i a l das r e l a ç õ e s d i p l o m á t i c a s , e m 1 8 4 1 , a p ó s o r e c o n h e c i m e n t o p o r D. M a r i a II d o s b i s p o s n o m e a d o s d u r a n t e o r e i n a d o m i g u e l i n o . C o m o o b s e r v a e b e m A n t ó n i o M a t o s F e r r e i r a , d u r a n t e a q u a r t a e t a p a ( 1 8 4 1 - 1 8 9 4 ) h o u v e u m a e f e c t i v a a p r o x i m a ç ã o e n t r e a M o n a r q u i a C o n s t i t u c i o n a l e a I g r e j a , q u e c o n s e g u i u r e s t a b e l e c e r m u i t a da s u a a n t i g a i n f l u ê n c i a e a l g u m d o seu a n t i g o p o d e r s ó -c i o - e -c o n ó m i -c o . M a s , a o r e v é s , f o i - s e t a m b é m d e s e n v o l v e n d o , n o s e i o das n o v a s g e r a ç õ e s e e m s i n t o n i a c o m a e v o l u ç ã o f i l o s ó f i c a e po-l í t i c o - i d e o po-l ó g i c a o c o r r i d a , n o m e a d a m e n t e e m F r a n ç a ( c o m a e c po-l o s ã o da R e v o l u ç ã o d e m o c r á t i c a d e 1848 e a e x p a n s ã o d a s i d e i a s s o -c i a l i s t a s , d o p o s i t i v i s m o , d o l i v r e - p e n s a m e n t o 1 3...), u m d i s c u r s o cul-t u r a l e i d e o l ó g i c o g l o b a l i z a n cul-t e e, p o r i s s o m e s m o , i n c o m p a cul-t í v e l c o m a h e g e m o n i a m o r a l e e d u c a t i v a da I g r e j a e das s u a s c o n g r e g a ç õ e s , p a u l a t i n a m e n t e r e s t a u r a d a s e r e i n t r o d u z i d a s em t e r r i t ó r i o n a c i o n a l . N e s -se d i s c u r s o m o d e r n o , e m q u e p o n t i f i c a r a m a p o l é m i c a de H e r c u l a n o c o m o c l e r o , a p r o p ó s i t o d o m i l a g r e d e O u r i q u e ( 1 8 4 8 1 8 5 0 ) , e as C o n -f e r ê n c i a s d o C a s i n o ( 1 8 7 1 ) , s u s p e n s a s e m n o m e d o a r t i g o 6o da C a r ta C o n s t i t u c i o n a l , e s t a v a j á s u p e r a d a a m e r a d e l i m i t a ç ã o de c o m -p e t ê n c i a s e d e l e g i t i m i d a d e s , t e n d o -p a s s a d o -p a r a -p r i m e i r o -p l a n o a c o n s t r u ç ã o , v i n c a d a m e n t e f i l o s ó f i c o - p o l í t i c a e i d e o l ó g i c a , d e u m a so-IJ O t e r m o t e v e . ao l o n g o d o séc. X I X , uma f o r t e c o n o t a ç ã o p o l í t i c a , e m b o r a , na raiz, se a s s o c i e a u m a a t i t u d e e s s e n c i a l m e n t e i n t e l e c t u a l e f i l o s ó f i c a . O «livre-- p e n s a d o r » e r a o d e f e n s o r do «livre e x a m e de t u d o » e t o m a d o n e s t e s e n t i d o é pos«livre-- pos-sível e s c r e v e r a h i s t ó r i a do « l i v r e - p e n s a m e n t o » d e s d e o m u n d o h e l é n i c o até aos nos-sos dias. A e m e r g ê n c i a do p r i m a d o da r a z ã o e da c i ê n c i a m o d e r n a ( c a r t e s i a n a e co-p e r n i c i a n a ) o co-p e r o u a i d e n t i f i c a ç ã o da l i b e r d a d e do co-p e n s a m e n t o com a b u s c a d o sa-b e r e x p e r i m e n t a l e r a c i o n a l , em o p o s i ç ã o c r e s c e n t e ao p r i m a d o da m e t a f í s i c a e do p o d e r t e o c r á t i c o . Daí q u e , c o m o s i n t e t i z o u A l b e r t B a y e t , «aos olhos do livre-pen-sador, o homem tem o direito de examinar e de criticar todas as opiniões, de dis-cutir todos os problemas, sem que nada possa constituir um obstáculo ou marcar um limite a este direito. (...) Assim, o «livre-pensamento», ao longo de toda a sua his-tória. manifesta-se principalmente como uma força em luta contra as dominações religiosas» ( I d e m — História do livre-pensamento. L i s b o a , A r c á d i a , 1971, p. 8 - 9 e 15).

(12)

c i e d a d e b a l i z a d a p e l o s v a l o r e s l i b e r a i s e a n i m a d a p o r um p r o g r e s s i s m o o p t i m i s t a , a q u e r e p u g n a v a o i m o b i l i s m o c u l t o m e n t a l da I g r e -j a C a t ó l i c a R o m a n a . N u m a c o n j u n t u r a e n s o m b r a d a a p r a z o pela f a l ê n c i a d o m o d e -lo f o n t i s t a de d e s e n v o l v i m e n t o e a t r a v e s s a d a p e l o c r u c i a n t e d e b a t e e m t o r n o da d e c a d ê n c i a (o m o t e t i n h a s i d o , a l i á s , m a g i s t r a l m e n t e d a -d o p o r A n t e r o -de Q u e n t a l na sua c o n f e r ê n c i a -d o C a s i n o , i n t i t u l a -d a Causas da decadência dos povos peninsulares), c o u b e a o s j o v e n s in-t e l e c in-t u a i s da g e r a ç ã o de 7 0 e aos s e u s h e r d e i r o s da g e r a ç ã o de 9 0 l4,

a b a l a d o s p e l o Ultimatum inglês ( 1 8 9 0 ) , a s i s t e m a t i z a ç ã o d o d i s c u r s o a n t i - m o n a r q u i s t a e a n t i - c l e r i c a l , e s t i m u l a d o , na v i r a g e m do séc. X I X para o X X , pela o c o r r ê n c i a d o s c é l e b r e s e s c â n d a l o s d o C o n v e n t o das T r i n a s ou d e Sara de M a t o s ( 1 8 9 1 ) e de R o s a C a l m o n ( 1 9 0 1 ) , pela d i f u s ã o da p r o p a g a n d a a n t i - j e s u í t i c a , a c r e s c i d a d o c o m b a t e racio-nalista c o n t r a a c o n f i s s ã o ( c o n s i d e r a d o i n s t r u m e n t o m a n i p u l a d o r da v o n t a d e e c o n s c i ê n c i a das m u l h e r e s ) l s, e pela r e s p o s t a d a s a u t o -r i d a d e s e c l e s i á s t i c a s , das c o n g -r e g a ç õ e s e d a s a s s o c i a ç õ e s d e l e i g o s — uma r e s p o s t a e s s e n c i a l m e n t e p o l í t i c o i d e o l ó g i c a , p o l v i l h a d a de d o u -trina social e r e n o v a ç ã o p a s t o r a l , q u e c u l m i n o u na f u n d a ç ã o e m 3 de J u n h o de 1903, d o c o n t r o v e r s o P a r t i d o N a c i o n a l i s t a , h e r d e i r o da f u -gaz e x p e r i ê n c i a p o l í t i c a d o C e n t r o C a t ó l i c o P a r l a m e n t a r ( 1 8 9 4 - 1 8 9 5 ) e f r u t o d i r e c t o da ( r e ) a c ç ã o d o C e n t r o N a c i o n a l ( 1 9 0 1 - 1 9 0 3 ) 14 U m a i n t e r e s s a n l e c a r a c t e r i z a ç ã o d o s f u n d a m e n t o s i d e o l ó g i c o s da g e r a ç ã o

literária de 90 a c h a - s e em D I A S , A u g u s t o da C o s t a — A Crise da consciência pe-queno-burguesa. I - O nacionalismo literário da geração de 90. Ensaio. L i s b o a , P o r t u g á l i a E d i t o r a , 1964; e D U A R T E M a n u e l Dias — História da filosofia em Por-tugal nas suas conexões políticas e sociais. L i s b o a . L i v r o s H o r i z o n t e , s. d., p. 112 1 2 3 . S o b r e o d i s c u r s o da « g e r a ç ã o p o l í t i c a » ( r e p u b l i c a n a ) de 90 v e j a 112 s e , p o r e x e m 112 p l o . H O M E M , A m a d e u C a r v a l h o — A Propaganda republicana. 18701910. C o i m -b r a , E d i ç ã o do A u t o r , 1990.

15 F o l h a s v o l a n t e s , c o m o a que de s e g u i d a t r a n s c r e v e m o s na íntegra, ilustram

bem o tom da c a m p a n h a a n t i - j e s u í t i c a , l e v a d a a c a b o , s o b r e t u d o , nos p r i n c i p a i s cen-t r o s u r b a n o s . F o l h a d o b r a d a em d u a s f a c e s — na 1": «AO POVO // Abre os olhos po-vo! O grande inimigo da humanidade é o jesuíta. O jesuíta d o padre!, desde Leão X ao ultimo dos reverendos! Guerra, pois, ao jesuíta! Nem tréguas, nem quartel.'»;

e na 2a: «A CONFISSÃO / / A Confissão é uma monstruosidade! A Mulher, pondo-se

de joelhos ante qualquer Sotaina, para lhe contar os Segredos que só devêru con-tar ao marido, deu o primeiro passo no caminho do Crime! A Confissão produz Me-retrizes. Combatemos o Clero, o Jesuíta e a Confissão. É um dever d 'honra» ( A r q u i v o Pessoal S i d ó n i o Pais [ A . P . S . P . ] — D o c u m e n t o a v u l s o , a i n d a por o r d e n a r ) .

(13)

A a p o s t a n u m p a r t i d o c a t ó l i c o , c o m a p e t ê n c i a e l e i t o r a l e p a r l a m e n t a r , d e s a g r a d o u , d e s d e logo, a t o d a s as o u t r a s f o r ç a s p o l í t i c o p a r -t i d á r i a s e d i v i d i u o p r ó p r i o c a m p o c a -t ó l i c o , o p o n d o l e g i -t i m i s -t a s a c o n s t i t u c i o n a i s , j e s u í t a s ( a l e g a d o s p a t r o n o s da i n i c i a t i v a ) a f r a n c i s -c a n o s ( -c o n t r á r i o s à e x i s t ê n -c i a d o P . N . , -c o m o d e i x a r a m e s -c r i t o na

Voz de Santo António). Em M a r ç o de 1908 — a n o d o r e g i c í d i o e da O r a ç ã o de S a p i e n t i a d e S i d ó n i o P a i s — , r e a l i z o u s e , sob a p r e s i d ê n -c i a d e T e ó f i l o B r a g a , e x p o e n t e d o r e p u b l i -c a n i s m o e da i n t r o d u ç ã o d o p o s i t i v i s m o à L i t t r é e m P o r t u g a l i 7, o Io C o n g r e s s o d o L i v r e P e n s a m e n t o . De u m l a d o e de o u t r o da b a r r i c a d a , e r a , p o i s , i n t e n s o o e s f o r -ç o de m o b i l i z a -ç ã o da o p i n i ã o p ú b l i c a , a o m e s m o t e m p o q u e o e s t a d o a g ó n i c o da M o n a r q u i a C o n s t i t u c i o n a l s u g e r i a c a d a v e z m a i s um d e s -f e c h o r e v o l u c i o n á r i o 18... A a g u d i z a ç ã o , d u r a n t e o ú l t i m o q u a r t e l d o séc. X I X , d o d e b a t e i d e o l ó g i c o e c u l t u r a l à c e r c a d o papel da I g r e j a não p o d e d e i x a r d e ser r e l a c i o n a d a c o m a e v o l u ç ã o e i n f l u ê n c i a d o a n t i c l e r i c a l i s m o f r a n -c ê s 19, s o b r e t u d o a p a r t i r de 1871, a n o da h u m i l h a n t e v i t ó r i a a l e m ã em S e d a n , da q u e d a d o S e g u n d o I m p é r i o n a p o l e ó n i c o ( 1 8 5 1 - 1 8 7 1 ) e da i n s t a u r a ç ã o da III R e p ú b l i c a — o r e g i m e d e m o - l i b e r a l e l a i c i z a n t e d e G a m b e t t a , de J u l e s F e r r y , de C l e m e n c e a u . . . A o p r i n c í p i o , os d i r i g e n t e s r e p u b l i c a n o s , n o m e l i n d r o s o r e s c a l d o da g u e r r a f r a n c o - a l e m ã e d o s d i s t ú r b i o s r e v o l u c i o n á r i o s , e x e r c e r a m o p o d e r em c o e x i s t ê n c i a p a c í f i c a c o m os a m i g o s m a i s d e v o t a d o s da 17 S o b r e a o b r a d o u t r i n á r i a e i d e o l ó g i c a de T e ó f i l o Braga v e j a - s e H O M E M ,

A m a d e u C a r v a l h o — A Ideia republicana em Portugal. O contributo de Teófilo Bra-ga. C o i m b r a . L i v r a r i a M i n e r v a . 1989.

18 U m a útil s i n o p s e c r o n o l ó g i c a dos a c o n t e c i m e n t o s p o l í t i c o - r e l i g i o s o s ,

des-de m e a d o s do séc. XIX até 1910, a c r e s c i d a des-de s í n t e s e s des-de l e i t u r a s des-de obras esco-lhidas de a u t o r e s r e p u b l i c a n o s e a n t i - c l e r i c a i s , todos n o r t e n h o s — Silva Pinto (Os jesuítas..., 1880), J o s é C a l d a s (Os jesuítas e a sua influencia..., 1900?). R o d r i g u e s de Freitas (Páginas avulsas. 1906), S a m p a i o B r u n o (A questão religiosa, 1907), Ba-sílio T e l e s (A questão religiosa. 1913) e E u r i c o de Seabra (A Egreja, as Congregações e a República..., 1914) — p o d e a c h a r - s e em G U E D E S , Ana Isabel M a r q u e s — Al-gumas considerações sobre a «questão religiosa» em Portugal (meados do séc. XIX a início do séc. XX), ob. cit.

" V e j a - s e . a este p r o p ó s i t o , M E L L O R , A l e c — Histoire de l'anticléricalisme français. Paris, É d i t i o n s Henri V e y r i e r , 1978, p. 142-375 e R É M O N D , R e n é —

L'Anticléricalisme en France. De 1815 à nos jours. B r u x e l l e s , E d i t i o n s C o m p l e x e , 1985, p. 4 5 2 2 3 . S o b r e a e x p a n s ã o do l a i c i s m o e d o m a ç o n i s m o na B é l g i c a ver B A R -T I E R . John — Laicité et Franc-Maçonnerie. Études rassemblées et publiées par Guy Cambler. B r u x e l l e s . É d i t i o n s de L ' U n i v e r s i t é de B r u x e l l e s , 1981.

(14)

I g r e j a e a n t i g o s s e r v i d o r e s d o I m p é r i o , i n v e s t i n d o , a c i m a d e t u d o , na d e f e s a d a o r d e m , o q u e i m p l i c a v a o p r i m a d o da u n i d a d e e da t o l e r â n -cia r e l i g i o s a . U m e n t e n d i m e n t o t á c t i c o , b a s t a n t e d e f e n s i v o p o r p a r t e d o s a n t i - c l e r i c a i s , q u e n ã o t a r d o u a d e t e r i o r a r - s e . A t e s t a - o a o r a t ó r i a p o l í t i c a de G a m b e t t a , q u e , s e g u n d o R e n é R é m o n d , f o i q u e m m a i s to-m o u a d i a n t e i r a na d e n ú n c i a d o p e r i g o c l e r i c a l 20. E das p a l a v r a s h a -veria de se c h e g a r aos a c t o s . . . A e v o l u ç ã o d o s a c o n t e c i m e n t o s , e n t r e 1879 e 1901, t o r n o u o c o n f r o n t o i r r e v e r s í v e l . E m t o r n o da E s c o l a pri-m á r i a o b r i g a t ó r i a , g r a t u i t a e laica, a R e p ú b l i c a e n s a i a v a , c o pri-m n o t ó r i o e s p í r i t o d e c o n c ó r d i a ( a c e i t a r a a i n c l u s ã o n o p r o g r a m a e s c o l a r dos «deveres para com Deus»), m a s s e m q u e b r a dos p r o p ó s i t o s e s s e n -c i a i s , a f u n d a ç ã o d e u m a s o -c i e d a d e n o v a , d e -c i d a d ã o s e s -c l a r e -c i d o s e l i v r e s . A l a r m a r a m - s e os c o n s e r v a d o r e s , as a u t o r i d a d e s e c l e s i á s t i c a s e as o r g a n i z a ç õ e s d e l e i g o s , p r e c i p i t a n d o s e , de i m e d i a t o , n u m a c a m -p a n h a v i o l e n t a c o n t r a a q u i l o que d e s i g n a r a m « E s c o l a sem D e u s » , n ã o o b s t a n t e o a p e l o d e L e ã o X I I I , a t r a v é s d o ralliement de 1890, para q u e os c a t ó l i c o s se d e m a r c a s s e m d o v e l h o m o n a r q u i s m o l e g i t i m i s t a e c o -o p e r a s s e m f r a n c a e l e a l m e n t e c -o m -os n -o v -o s p -o d e r e s i n s t i t u í d -o s . E s s a t e m p e s t u o s a c a m p a n h a a n t i - l a i c i s t a p r e n u n c i o u , c o n t u d o , o f r a c a s s o do ralliement. P e l a i m p r e n s a se d e u o e n f r e n t a m e n t o d a s p o s i ç õ e s e pela i m p r e n s a se e s t e n d e u a c o n t r o v é r s i a ao c é l e b r e c a s o D r e y f u s 21, q u e « a r r u m o u » l o g o a i n t e l e c t u a l i d a d e e a o p i n i ã o p ú b l i c a f r a n c e s a s em d u a s f r e n t e s a n t a g ó n i c a s : de u m l a d o os a n t i d r e y f u s i s t a s , i d e n -t i f i c a d o s c o m o m i l i -t a r i s m o , o n a c i o n a l i s m o e o a n -t i - s e m i -t i s m o ; e d o o u t r o , os d r e y f u s i s t a s , s o l i d á r i o s d e f e n s o r e s de u m m i l i t a r j u d e u in-j u s t i ç a d o , m a s , m a i s do q u e i s s o , p a l a d i n o s , c o m o E m i l e Z o l a , de u m a o r d e m p o l í t i c o - i n s t i t u c i o n a l s o l i d a m e n t e r e p u b l i c a n a e d e m o c r á t i c a . No c a l o r da d i s c ó r d i a i r r o m p e r a m os b o a t o s s o b r e a q u e d a da Re-p ú b l i c a , m o b i l i s a n d o - s e , d e Re-p r o n t o , os s e u s d e f e n s o r e s , c o m o a Ass o c i a ç ã o N a c i o n a l doAss L i v r e Ass P e n Ass a d o r e Ass , c o l o c a d a Ass o b a p r e Ass i d ê n c i a d e h o n r a de B e r t h e l o t e de A n a t o l e F r a n c e , c o m p o s t a , na p r i m e i -ra l i n h a , p o r e s c r i t o r e s , u n i v e r s i t á r i o s e p o l í t i c o s , e a n i m a d a p o r três o b j e c t i v o s f u n d a m e n t a i s : r e s t r i n g i r a i n f l u ê n c i a das c o n g r e g a ç õ e s , i n s t a u r a r a s e p a r a ç ã o das I g r e j a s e d o E s t a d o e e x i g i r q u e as leis e s c o l a r e s laicas f o s s e m d e c l a r a d a s i n t a n g í v e i s . O b j e c t i v o s q u e n ã o t a r

-20 R É M O N D , R e n é — UAnticlericalisme en France. ob. cit., p. 1 7 6 - 1 8 7 . 21 S o b r e a h i s t ó r i a d e s t e c a s o , em F r a n ç a , e seu i m p a c t o em P o r t u g a l v e j a - s e

M E D I N A , J o ã o — O caso Dreyfus em Portugal. « R e v i s t a da F a c u l d a d e de L e t r a s » , L i s b o a , 5a s é r i e , ( 1 6 - 1 7 ) 1994, p. 117-231.

(15)

d a r a m m u i t o a ser a l c a n ç a d o s , a t r a v é s d e um a c e r v o d e l e i s t i d a s p o r m o d e l a r e s : a lei de 1901, p r o p o s t a p o r W a l d e c k R o u s s e a u , d e c l a r a v a ilícitas as c o n g r e g a ç õ e s r e l i g i o s a s n ã o a u t o r i z a d a s p o r lei; e m 1904, B r i a n d f e z a p r o v a r u m a lei q u e i n t e r d i t a v a , n o s e u a r t i g o Io, o e n s i n o , e m F r a n ç a , às c o n g r e g a ç õ e s ; a lei de 9 d e D e z e m b r o d e 1905 e s t a b e l e c i a a s e p a r a ç ã o das I g r e j a s e d o E s t a d o ; e, e m 1907, f a c e à i n t r a n s i g e n -te p o s t u r a da S a n t a Sé de r e c u s a d a s « a s s o c i a ç õ e s de c u l t o » , B r i a n d f e z v o t a r a lei de 1907 q u e c e d i a os t e m p l o s a o s f i é i s e aos m i n i s t r o s d o c u l t o . T o d o este a p a i x o n a n t e p r o c e s s o l a i c i z a d o r i m p r e s s i o n o u e insp i r o u os r e insp u b l i c a n o s insp o r t u g u e s e s , a t e n t o s , t a m b é m , a o q u e se insp a s -sara n o B r a s i l : na s e q u ê n c i a da p r o c l a m a ç ã o da R e p ú b l i c a , a 15 de No-v e m b r o de 1889, foi d e c r e t a d a , e m 7 d e J a n e i r o d e 1890, a s e p a r a ç ã o da I g r e j a e d o E s t a d o . E o c a s o d o p r o f e s s o r e s p a n h o l e l a i c i s t a c o n -v i c t o , F r a n c i s c o F e r r e r G u a r d i a , f u s i l a d o e m O u t u b r o de 1909, na se-q u ê n c i a d o s d r a m á t i c o s a c o n t e c i m e n t o s o c o r r i d o s e m B a r c e l o n a n o s ú l t i m o s d i a s d e J u n h o d e s s e m e s m o a n o , d u r a n t e o s q u a i s f o r a m q u e i -m a d o s c o n v e n t o s e e s c o l a s d i r i g i d a s p o r r e l i g i o s o s 22, n ã o d e i x o u , c l a -ro e s t á , de f e r i r a s e n s i b i l i d a d e d o s l i v r e s - p e n s a d o r e s p o r t u g u e s e s . C h e g a r a , e n t r e t a n t o , a P o r t u g a l a d o u t r i n a d o ralliement e c o m ela u m a n o v a e t a p a — a q u i n t a — n a s r e l a ç õ e s E s t a d o e I g r e j a ( 1 8 9 4 1 9 1 0 ) . O s e s f o r ç o s e s b o ç a d o s i n c i p i e n t e m e n t e d e s d e a d é c a d a de s e -t e n -t a ( c r i a ç ã o da A s s o c i a ç ã o C a -t ó l i c a e m 1870 e o r g a n i z a ç ã o da imp r e n s a c a t ó l i c a à volta de a r a u t o s i n f l u e n t e s , c o m o A Palavra, f u n d a -da em 1872, e o Correio Nacional, de 1893) no s e n t i d o -da a f i r m a ç ã o de u m m o v i m e n t o c a t ó l i c o s o c i a l m e n t e e m p e n h a d o e p o l i t i c a m e n t e a b e r t o à c o o p e r a ç ã o c o n s t r u t i v a c o m t o d o s os p a r t i d o s p o l í t i c o s , g a n -h a r i a m i m p o r t a n t e a l e n t o , e m f i n a i s de o i t o c e n t o s , g r a ç a s à p o s i ç ã o p ú b l i c a dos B i s p o s . A h i e r a r q u i a c a t ó l i c a d e c l a r a v a - s e a c i m a d a s q u e r e l a s p o l í t i c o - p a r t i d á r i a s e d i s p u n h a - s e a a c t u a r j u n t o dos p a r t i d o s p a r a q u e «(...) sem impedir a sua acção governativa e a sua política, possamos evitar, quanto fôr possível, que eles, condescendendo com exigências ultra-avançadas, possam combater a Religião, a Igreja e

22 T O R T E L L A C A S A R E S , G a b r i e l et al. — Revolución burguesa, oligarquia

y constitucionalismo (1834-1923), in T U N Ó N DE L A R A , M a n u e l — « H i s t ó r i a de E s p a n a » , vol 8. M a d r i d , Editorial L a b o r , 1981, p. 4 8 3 - 4 8 5 . S o b r e o p r o c e s s o d e lai-c i z a ç ã o em E s p a n h a a p a r t i r da E s lai-c o l a r e p u b l i lai-c a n a v e j a - s e M I L L A N S A N C H E Z , F e r n a n d o — La Revolucion laica de la institución libre de ensenanza a la escuela de la Republica. V a l e n c i a , F e r n a n d o Torres-F.ditor, 1983.

(16)

os seus direitos» 23 — p a l a v r a s d o B i s p o C o n d e d e C o i m b r a , D. M a -nuel C o r r e i a de B a s t o s Pina, p r o f e r i d a s na C â m a r a d o s P a r e s a 27 d e N o v e m b r o de 1894, c o n f o r m e s c o m o p e n s a m e n t o d e L e ã o XIII e ins-p i r a d o r a s da c r i a ç ã o d o C e n t r o C a t ó l i c o P a r l a m e n t a r ( 1 8 9 4 - 1 8 9 5 ) . M a s , c o m o j á r e f e r i m o s a t r á s , a p o s i ç ã o d o s B i s p o s f i c o u a q u é m d o c o n s e n s o e da u n a n i m i d a d e n o m e i o c a t ó l i c o , n ã o c o n s e g u i n d o r e u n i r à s u a v o l t a os s e c t o r e s m a i s i n t r a n s i g e n t e s na s u a e s t r a t é g i a d e c o m b a t e e de c o n f r o n t o p o l í t i c o p a r t i d á r i o , i l u s t r a d a pela c u r t a e a t r i b u l a -da v i d a d o P a r t i d o N a c i o n a l i s t a . A i m p l a n t a ç ã o da R e p ú b l i c a , e m 5 de O u t u b r o d e 1910, c o i n c i d i u c o m u m a c l a r a a d e s ã o da c l a s s e m é d i a e da p e q u e n a b u r g u e s i a ur-b a n a s à v i g o r o s a p r o p a g a n d a l a i c i s t a e a n t i - c l e r i c a l d o s ú l t i m o s a n o s da M o n a r q u i a . N ã o s u r p r e e n d e , p o r i s s o , a a c t u a ç ã o de A f o n s o C o s t a , e n q u a n t o M i n i s t r o da J u s t i ç a e d o s C u l t o s 24 n o G o v e r n o P r o v i s ó r i o e e n q u a n t o líder da f a c ç ã o « d e m o c r á t i c a » e r a d i c a l , u m a das três em q u e se h a v e r i a d e f r a g m e n t a r o h i s t ó r i c o P a r t i d o R e p u b l i c a n o P o r t u g u ê s ( f u n d a d o em 1876) e a ú n i c a q u e m a n t e v e a r e d e o r g a n i z a t i v a e o c a c i q u i s m o , à e s c a l a n a c i o n a l , d o e x t i n t o P a r t i d o R e g e n e r a d o r , t r a n s f e r i d o s , na í n t e g r a , para o P . R . P . Sem as c a u t e l a s , n e m as p r e o c u -p a ç õ e s a -p a z i g u a d o r a s da III R e -p ú b l i c a f r a n c e s a , a I R e -p ú b l i c a - port u g u e s a l a n ç o u s e n u m a port o r r e n port e l e g i s l a port i v a , port a l h a d a d e n port r o d o s p a r â -m e t r o s d o p o s i t i v i s -m o e d o i n d i f e r e n t i s -m o d o E s t a d o e -m -m a t é r i a rel i g i o s a ou c o n f e s s i o n a rel . F a c e a essa « m a r c h a m o d e r n i z a d o r a » , as a u -t o r i d a d e s e c l e s i á s -t i c a s e o m o v i m e n -t o c a -t ó l i c o c o m e ç a r a m p o r e l e v a r o t o m d o s s e u s p r o t e s t o s e a c a b a r a m , n e c e s s a r i a m e n t e , p o r a t a c a r c o n -c e r t a d a m e n t e (era a s u a a u t o - d e f e s a . . . ) , a t r a v é s da i m p r e n s a e de to-d o s os m e i o s to-d i s p o n í v e i s , a o b r a r a to-d i c a l to-dos l i v r e - p e n s a to-d o r e s . U m a o b r a r e m a t a d a pela c é l e b r e Lei da S e p a r a ç ã o d e 21 d e A b r i l d e 1911, s e m n e l a se e s g o t a r . C o m e f e i t o , e s s e p o l é m i c o d i p l o m a c o n s t i t u i u a p e n a s o p o n t o a l t o d e u m p r o g r a m a e r r a d i c a d o r da i n f l u ê n c i a d o c l e r i c a l i s m o n o t e r r i t ó r i o c o n t i n e n t a l e u l t r a m a r i n o e nas e s f e r a s p o l í t i c o

-33 S I L V A . M a n u e l Isaías A b ú n d i o da — Cartas a um Abade sobre alguns

aspectos da questão político-religiosa em Portugal. Braga, C r u z & C", 1913, p. 85-- 8 6 . S o b r e a c o n f u s ã o q u e o A u t o r f a z e n t r e C e n t r o N a c i o n a l e C e n t r o C a t ó l i c o Par85-- Par-l a m e n t a r v e j a - s e nota de L E A L , E r n e s t o C a s t r o — Quirino AvePar-lino de Jesus, art. cit., p. 362.

21 N o e x e r c í c i o d e s t a s f u n ç õ e s terá n o m e a d o p a r a o c a r g o de D i r e c t o r - G e r a l

dos C u l t o s , o e s c r i t o r a n t i - c l e r i c a l José C a l d a s , de q u e m r e c e b e u , a l i á s , a m e l h o r co-l a b o r a ç ã o e que se h a v e r i a de m a n t e r nesse p o s t o até 1916.

(17)

- i n s t i t u c i o n a l , i n s t r u c t o - e d u c a t i v a , s o c i a l e m o r a l , c o m o se i n f e r e da s e g u i n t e s i n o p s e l e g i s l a t i v a 2S: 1 9 1 0 . 1 0 . 8 D e c r e t o c o m f o r ç a d e l e i . M a n t é m e m v i g o r a s l e i s d e 3 d e S e t e m b r o d e 1 7 5 9 e d e 2 8 d e A g o s t o d e 1 7 6 7 s o b r e a e x p u l s ã o d o s J e s u í t a s , e a d e 2 8 d e M a i o d e 1 8 3 4 s o b r e a e x c l a u s t r a ç â o . A n u l a o c o n t r o v e r s o d e c r e t o d e H i n t z e R i b e i r o , d e 18 d e A b r i l d e 1 9 0 1 , q u e p e r m i t i u o r e s t a b e l e c i m e n t o d a s c o n g r e g a ç õ e s r e l i g i o s a s . 1 9 1 0 . 1 0 . 1 8 D e c r e t o c o m f o r ç a d e l e i . A b o l e , n o s a c t o s c i v i s , o j u r a m e n t o r e l i g i o s o , s u b s t i t u í d o p o r f ó r m u l a s a l t e r n a t i v a s . 1 9 1 0 . 1 0 . 2 1 P o r t a r i a . S u s p e n d e o B i s p o d e B e j a , D . S e b a s t i ã o L e i t e d e V a s c o n c e l o s , d e t o d a s a s t e m p o r a l i d a d e s a t é n o v a s o r d e n s d o E s t a d o , n u m a c l a r a s u b o r d i n a -ç ã o d a s a u t o r i d a d e s e c l e s i á s t i c a s a o p o d e r p o l í t i c o . 1 9 1 0 . 1 0 . 2 2 D e c r e t o . S u p r i m e o e n s i n o d a d o u t r i n a c r i s t ã n a s e s c o l a s p r i m á r i a s e n o r m a i s . 1 9 1 0 . 1 0 . 2 3 D e c r e t o . A b o l e , e n t r e o u t r o s , o j u r a m e n t o d a I m a c u l a d a C o n c e i ç ã o p r e s -c r i t o s p e l o s e s t a t u t o s d a U n i v e r s i d a d e d e C o i m b r a . D e c r e t o . A n u l a a s m a t r í c u l a s n o Io a n o d a F a c u l d a d e d e T e o l o g i a . 1 9 1 0 . 1 0 . 2 6 D e c r e t o . E s t a b e l e c e c o m o d i a s d e t r a b a l h o t o d o s o s d i a s s a n t i f i c a d o s , s a l v o o s d o m i n g o s . 1 9 1 0 . 1 0 . 2 7 D e c r e t o . C o n f e r e a o s g o v e r n a d o r e s c i v i s a f a c u l d a d e d e d i s s o l u ç ã o d a s m e s a s a d m i n i s t r a t i v a s d a s I r m n a d a d e s e C o n f r a r i a s , s u b s t i t u i n d o - a s p o r C o m i s s õ e s . 1 9 1 0 . 1 1 . 3 D e c r e t o c o m f o r ç a d e l e i . E s t a b e l e c e o d i v ó r c i o . 1 9 1 0 . 1 1 . 2 8 D e c r e t o . P r o i b e a s f o r ç a s d o E x é r c i t o e d a A r m a d a d e i n t e r v i r e m e m s o l e n i d a d e s d e c a r á c t e r r e l i g i o s o . 1 9 1 0 . 1 2 . 2 5 D e c r e t o s c o m f o r ç a d e l e i . S o b r e o c a s a m e n t o c i v i l . S o b r e a p r o t e c ç ã o a o s f i l h o s . 1 9 1 0 . 1 2 . 2 6 C a t á l o g o d o s J e s u i t a s P o r t u g u e s e s n o a a n n o d e 1 9 1 0 . C o n f o r m e a o o r i g i n a l l a t i n o e n c o n t r a d o n a C a s a d o N o v i c i a d o d o B a r r o . 1 9 1 0 . 1 2 . 3 1 D e c r e t o c o m f o r ç a d e l e i . R e g u l a a p o s s e p e l o E s t a d o d o s b e n s d a s e x t i n t a s c o r p o r a ç õ e s r e l i g i o s a s . 1 9 1 1 . 1 . 2 1 D e s p a c h o d o M i n i s t r o d a J u s t i ç a . E n c a r r e g a o s j u i z e s d e d i r e i t o d e d i f e r e n t e s c o m a r c a s d e p r o c e d e r e m a o a r r o l a m e n t o d o s b e n s m o b i l i á r i o s e i m o b i l i á r i o s q u e t i v e s s e m s i d o o u e s t i v e s s e m d e t i d o s o u o c u p a d o s p o r q u a i s -q u e r c o p r o r a ç õ e s o u i n s t i t u t o s r e l i g i o s o s , d e a c o r d o c o m a s d i s p o s i ç õ e s d o d e c r e t o d e 8 d e O u t u b r o d e 1 9 1 0 e e m c o n f o r m i d a d e c o m a s i n f o r m a ç õ e s s o b r e a v i d a e b e n s d o s e c r e t á r i o d a c o m i s s ã o n o m e a d a p o r p o r t a r i a d e 2 7 d e D e z e m b r o d e 1 9 1 0 , p u b l i c a d a n o D i á r i o d o G o v e r n o d o d i a 2 8 . 25 R e p r o d u z i m o s , c o m a l g u m a s a l t e r a ç õ e s f o r m a i s , o e l e n c o p u b l i c a d o p o r

M A C E D O , J o s é A d í l i o B a r b o s a — D. António Barroso, Afonso Costa e a pastoral colectiva . « L u s i t a n a S a c r a » . L i s b o a , 2* s é r i e (6) 1994, p. 3 3 2 3 3 5 ; e a i n d a O L I -V E I R A , A u g u s t o — Subsídios para o estudo das relações do Estado com as igrejas sob o regime republicano. L i s b o a . I m p r e n s a N a c i o n a l , 1914.

Referências

Documentos relacionados

2 - OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é avaliar o tratamento biológico anaeróbio de substrato sintético contendo feno!, sob condições mesofilicas, em um Reator

Considerando que, no Brasil, o teste de FC é realizado com antígenos importados c.c.pro - Alemanha e USDA - USA e que recentemente foi desenvolvido um antígeno nacional

By interpreting equations of Table 1, it is possible to see that the EM radiation process involves a periodic chain reaction where originally a time variant conduction

O desenvolvimento desta pesquisa está alicerçado ao método Dialético Crítico fundamentado no Materialismo Histórico, que segundo Triviños (1987)permite que se aproxime de

O desenvolvimento experimental consistiu na determinação dos hormônios naturais estrona (E1), 17β-estradiol (E2), estriol (E3), do hormônio sintético 17α-etinilestradiol

Assim procedemos a fim de clarear certas reflexões e buscar possíveis respostas ou, quem sabe, novas pistas que poderão configurar outros objetos de estudo, a exemplo de: *

de lôbo-guará (Chrysocyon brachyurus), a partir do cérebro e da glândula submaxilar em face das ino- culações em camundongos, cobaios e coelho e, também, pela presença

4 Este processo foi discutido de maneira mais detalhada no subtópico 4.2.2... o desvio estequiométrico de lítio provoca mudanças na intensidade, assim como, um pequeno deslocamento