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Revista da UNIARCH -
Unidade de Arqueologia do Centro de História da Universidade de Lisboa
(Instituto Nacional de Investigação Científica), vol. 1, 1983-84.
Direcção:
Victor GonçaJvesColaboradores permanentes:
Ana Margarida Arruda,J.
C.
Senna-Martínez, Pedro Barbosa, HelenaCata ri no, Ana Carvalho Dias
Orientação gráfica e capa:
Victor GonçalvesCapa: Ektachrome de V
.
G. (Vila Nova de S. Pedro, pormenor da fortificação interior)
Revisão de provas:
Ana Lúcia Esteves e Mário CardosoFotocomposto por Textype, Lisboa
Impresso por Minerva do Comércio, Lisboa, 1985
Distribuído por Imprensa Nacional, Rua Marquês Sá da Bandeira, 16 A, 1000 Lisboa
As ideias expressas pelos colaboradores de CLlO/ ARQUEOLOGIA não são necessariamente
asda
Unidade de Arqueologia.
Toda a correspondência:
Unidade de Arqueologia. Centro de História. Faculdade de Letras. 1699 Lisboa Codex - Portugal.
Aceita-se permuta/Echange accepted/On prie l'échangelTauschverkehr erwünscht
INDICE
Editorial
- Apresentação, seguida de uma Pavana por uma arqueologia (quase) defunta, com votos de pronto restabelecimento
Victor Gonçalves ... 9-15
Estudos e intervenções
- Um corte através da fortificação interior do castro calco lítico de Vila Nova de S. Pedro,
Santarém ( 1 9 5 9 ) . .
H. N. Savory ...... 19-29 - A cronologia absoluta (datações C14) de Zambujal
H. Schubart e
E.
Sangmeister ...... 31-40 - O povoado calcolítico de Leceia (Oeiras), La e 2.a Campanhas de escavação, (1982,1983)
João L. Cardoso, Joaquina Soares e Carlos Tavares da Silva ... 41-68 - Cabeço do Pé da Erra (Coruche), contribuição da campanha 1 (83) para o
conhecimen-to do seu povoamenconhecimen-to calcolítico
'Victor Gonçalves ...... ... ... 69-75 - Resumos de intervenções em Escoural (Montemor-o-Novo) e Monte da Tumba
(Torrão)
Rosa e Mário Varela Gomes, M. Farinha dos Santos, Joaquina Soares e Carlos
Tava-res da Silva ... ... ... . . . 77 -79 - Doze datas 14C para o povoamento calcolítico do cerro do Castelo de Santa Justa
(Alcoutim): comentários e contextos específicos
Victor Gonçalves ... . 81-92 - Precisiones en torno a la cronologia antigua de Papa Uvas (Aljaraque. Huelva)
J. C. Martín de la Cruz .. ... 93-1 04 - Contribuições para uma tipologia da olaria do megalitismo das Beiras: olaria da Idade
do Bronze .
J. C. Senna-Martínez .... 105-138
Em discussão
-- Povoados calcolíticos fortificados no Centro/Sul de Portugal: génese e dinâmica evo-lutiva Victor Gonçalves, João Cardoso, Rosa e Mário Varela Gomes, Ana Margarida
Arruda, Joaquina Soares, Carlos Tavares da Silva, Caetano de Mello Beirão, Rui
Parreira. . . . . . .. 141-154
Arqueologia hoje (Conversas de Arqueologia
&
Arqueólogos)
- Jean Guilaine responde a Victor Gonçalves
Medir e contar
- Contribuições arqueométricas para um modelo socio-cultural: padrões volumétricos na Idade do Bronze do centro e NW de Portugal
157-166
J. C. Senna Martínez ...... 169-188
Varia Archaeologica
- Três intervenções sobre arqueologia no Algarve
Victor Gonçalves, Ana Margarida Arruda, Helena Catarino 191-196 - Arte~acto de pedra polida de grandes dimensões provenientes de Almodêvar (Beja)
Em construção. Relatórios de actividade
-
Programa para o estudo da antropização do Baixo Tejo e afluentes
:
Projecto para o
estudo da antropização do Vale do Sorraia (ANSOR)
Victor Gonçalves, Suzanne Daveal'
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203-206
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Programa para o estudo da evolução das sociedades agro-pastoris, das origens
à
metalurgia plena, dos espaços abertos aos povoados fortificados, no Centro de
Portu-gal (ESAG).
Victor Gonçalves ..
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.... 207-211
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O monumento n.o 3 da Necrópole dos Moinhos de Vento, Arganil -
A Campanha
1(84).
J.
C.
Senna-Martínez
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213-216
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Alcáçova de Santarém. Relatório dos trabalhos arqueológicos de 1984.
Ana Margarida Arruda .
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217-223
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Anta dos Penedos de S. Miguel (Crato). Campanha 2(82).
Victor Gonçalves, Françoise Treinen-Claustre, Ana Margarida Arruda, Jean Zammit
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225-227
-
Anta dos Penedos de S. Miguel (Crato). Campanha 3(83).
Victor Gonçalves, Françoise Treinen-Claustre, Ana Margarida Arruda, Jean Zammit
229-230
-
Cerro do Castelo de Santa Justa (Alcoutim). Campanha 5(83). Objectivos, resultados,
perspectivas.
Victor Gonçalves ...
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.. 231 -236
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Cerro do Castelo de Santa Justa (Alcoutim). Campanha 6(84)
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Resumo de conclusões.
Victor Gonçalves ...
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... 237-243
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Escavações arqueológicas no Castelo de Castro Marim
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Relatório dos trabalhos de
1983.
Ana Margarida Arruda ...
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. 245-248
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Escavações arqueológicas no Castelo de Castro Marim. Relatório dos trabalhos de
1984.
Ana Margarida Arruda
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249-254
livros Novos, Novos Livros
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Para uma arqueologia total.
Luís Gonçalves, Paula Ferreirinha
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Pré-História e Decadência
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257-259
Teresa Gomes da Costa, António Baptista ....
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.. 259-262
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Pré-História Europeia, entre o ensino e o mito
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Nuno Carvalho Santos ...
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... 262-264
Notícias e Recortes
As primeiras comunidades rurais no Mediterrâneo Ocidental ...
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Comissão Directiva do Centro de História .
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Quinta do Lago, uma intervenção de emergência da UNIARCH ...
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A UNIARCH e o projecto ANSOR em Coruche ..
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Encontros UNIARCH/MAEDS ...
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Novas grutas em Torres Novas ." ... , ...
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Doutoramento em Pré-História .,., .
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Novo doutoramento em Arqueologia
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Vila Nova de S, Pedro: o recomeço
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Publicações da UNIARCH .. ,
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Governador Civil de Faro visita escavações do Cerro do Castelo de Santa Justa
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RECORTES .. " . " " , .... " " , ... ",.", ...
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Em anexo
Textos de Arqueologia em CLlO, Revista do Centro de História da Universidade de
Lisboa (1979-1982) ....
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Autores de textos em CLlO/ARQUEOLOGIA 1: observações e endereços ..
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279-283
287-288
289
eLlO/ARQUEOLOGIA, REVISTA DA UNIARCH, VOL. 1, LISBOA, 1983-1984 203
Programa para o estudo
da antropização do Baixo Tejo e afluentes:
Projecto para o estudo da antropização
do Vale do Sorraia (ANSOR)
VICTOR GONÇALVES
SUZANNE DAVEAU
o.
Objectivos do projecto ANSORo
Tejo, nas áreas amplas influenciadas pelo seu próprio curso, pelo do Sorraia na margem e$querda e Rio Maior, na direita, representou um importante pa-pei na fixação e crescimento de populações. Enquan-to o grande rio constituia simultaneamente estrada e polo de aglutinação, os afluentes rasgavam vias para o interior ou encaminhavam para ele comunidades distribuídas por diversas modalidades de organização económica e social.Na massa de informação não tratada e nas possibi-lidades de aquisição de novos dados, o faseamento do projecto privilegiou dois momentos de transição, em que disparam complexos mecanismos de passa-gem: o Mesolítico, e o subsequente processo da neo-litização, e o estabelecimento dos grupos de metalur-gistas do cobre, equacionados estes últimos em fun-ção da evolufun-ção dos construtores de megálitos.
As perspectivas de aproximação a estes fenóme-nos, bem C0l1.10 à restante diacronia, tomaram em
conta dois aspectos, o primeiro geomorfológico, impli-cando leituras rigorosas do paleo-ambiente, sendo uma equipa dirig)da por Suzanne Daveau responsável pela estratégia da pesquisa. A leitura arqueológica to-ma em conta a horizontalidade das sequências e a inexistência de estratigrafias longas. O director dos trabalhos, Victor Gonçalves, completará e procurará ordenar a informação, aferindo-a com os elementos a recolher noutro projecto do programa, dirigido por Ana Margarida Arruda na Alcáçova de Santarém, onde uma extensa ocupação continuada poderá contribuir para a solução de alguns problemas. Com o apoio do Instituto Universitário de Santarém e de outras unida-des de pesquisa, procurar-se-á progressivamente ad-quirir os componentes de uma leitura global, no caso de ela ser possível.
A colaboração do Centre d' Anthropologie des Societés Rurales (CNRS, Toulouse), completa o naipe de centros e Unidades de pesquisa envolvidos, a par com o Centro de Física Nuclear da Universidade de Lisboa (INIC).
1. Problemas arqueológicos do Vale do Sorraia e da região de Salvaterra de Magos
1 .1. Vale do Sorraia
O conjunto de solos férteis, anualmente enriqueci-dos pelo regime irregular do Sorraia e das Ribeiras
com ele directa ou indirectamente conectadas, teria fornecido campo por excelência à aceitação e desen-volvimento do processo da neolitização e à posterior fixação de comunidades de metalurgistas do cobre, elas próprias procurando solos fáceis.
Algumas questões a este propósito são pertinentes, mesmo no estado actual dos nossos conhecimentos, apesar das hipóteses de resposta encontrarem dificul-dades quase insuperáveis, tenha-se em conta a es-cassez pouco usual de bibliografia sobre a área.
(1) Últimas sociedades de recolectores: origem e desenvolvimento locais.
(2) Sítios de ocupação longa e curta durante o epi-sódio mesolítico.
(3) Organização do espaço durante o neolítico. (4) Origens, na região, das primeiras manifestações
superstruturais implicando a construção de me-gálitos.
(5) Estabelecimentos de metalurgistas do cobre. (6) Advento das comunidades da Idade do Bronze. (7) Estruturação das comunidades da Idade do
Ferro. .
Alguns pontos são comuns a estas questões, au-tênticos feixes ou núcleos de questões, muitos deles apenas compreensíveis numa óptica de leitura ampla, em que o papel polarizador do Tejo e afluentes seja entendido em função de um conjunto de tipos de po-voamento, distribuídos por patamares cronológicos e culturais, cujas correlações de passagem permane-cem por. averiguar.
No vale do Sorraia propriamente dito, a região de Coruche reveste aspectos de grande interesse: a ferti-lidade dos solos, o relevo propício, a faciferti-lidade das deslocações devem ter contribuído para uma sequên-cia cultural particularmente rica. E se os terraços do Sorraia fornecem importante documentação sobre o Paleolítico e Epipaleolítico, as formas de relevo ade-quadas à estratégia do povoamento calcolítico são abundantes.
A descoberta de um estranho sítio funerário na Quinta Grande (Vicente, Andrade e Dias, .1974), os monumentos megalíticos da região e () recentemente descoberto povoado calcolítico do Cabeço do Pé da Erra (Gonçalves, 1982 e 1984), potencializam ques-tões absolutamente em aberto na área.
O planeamento da prospecção terá, assim, de do-sear a árvore e a floresta, para usar uma expressão consagrada.
204 Mapa 1 - Localização do povoado
calco lítico do Cabeço do Pé da Erra (seg. Victor Gonçalves 1982)
Mapa 2 - Localização (no centro do circulo) do povoado calcolítico de Vila Nova de S. Pedro, num território completamente distinto do escolhido para o Cabeço do Pé da Erra.
1km
1.2. Região de Salvaterra de Magos
É evidente que, aqui, a questão dominante gira em torno da Ribeira de Muge e do Paúl de Magos, com a complexa evolução do povoamento mesolítico a eles ligado.
Conhecidos desde o século passado os concheiros da região, seria absurdo considerá-los isoladamente, sem tomar em linha de conta, interrelações e cavalga-mentos.
A primeira intervenção no terreno visa o concheiro da Cova da Onça, que, aliás, não deverá ser outra coisa senão o prolongamento do concheiro 'contíguo' do Cabeço dos Ossos, hoje quase integralmente inuti-lizado para estudo, devido à implantação de uma vi-nha, anexa a um casal agrícola.
Os clássicos problemas provocados pelo regime do Tejo, e a necessidade de os resolver conjuntural-mente, muito contribuiram para a recente destruição quase total da maior parte dos concheiros do Paúl de Magos. Mas a informação vertical amputada poderá ser recuperada ou restituída, após oportunas interven-ções nas longas sequências estratigráficas de Muge.
Decorrente das identificações de concheiros, uma questão ganha especial significado: quais as relações entre estes amontoados de restos de cozinha, estru-turas de habitação e sepulestru-turas e a progressiva aqui-sição dos principais componentes das comunidades neolíticas. Ou, por outras palavras: as manchas do neolítico antigo com cerâmica impressa estão ou não relacionadas com o evoluir dos agrupamentos mesolí-ticos?
É sabido o costume nacional de se teorizar em vaso fechado, extrapolando, por vezes, a partir de um mo-numento ou sítio para toda uma área cultural ou até mesmo transferindo as conclusões de um quadrado 4
x
4 m para uma extensa área pqvoada. Perante ta nefasta tendência, o projecto ANSOR (e, numa es-cala. mais ampla, o programa ANTEAF) constitui-se como uma alternativa séria, representando um sólido esforço para contrariar o que, há pouco tempo, foi designado pêlo 'complexo da pulga' na arqueologia portuguesa.Os concheiros do Tejo foram identificados e primei-ramente investigados no século XIX, num período áu-reo da investigação arqueológica no nosso País. Di-vulgados imediatamente, foram' os trabalhos retoma-dos em mearetoma-dos deste século, numa perspectiva em que se detecta facilmente uma enorme preocuPilção estratigráfica e tipológica, só posteriormente contra-riada por leituras de estruturas habitacionais e da sua articulação num esquema coerente. Neles reside ain-da imensa informação poteneial, a explorar a partir de novos ângulos de leitura, em que os diversos critérios sejam utilizados não de forma sequencial mas simul-tânea.
A macro-utensilagem recolhida à superfície dos concheiros de Magos levanta de novo a questão cru-cial que só um longo programa de trabalhos poderá resolver: Muge e Magos são pontos de chegada, e términus, ou representam a abertura dos grupos de recolectores semi-nómadas à sedentarização e à
agricultura? V.G.
2. Problemas geo-morfológicos do Vale do Sorraia e da região de Salvaterra de magos
Esta área apresenta, no quadro do Ribatejo, um especial interesse pela riqueza e variedade das formas quaternárias que associa
2.1. Região Coruche / Erra
À semelhança do próprio Vale do Tejo, o troço mé-dio do Sorraia, de orientação ENE-WSW, apresenta forte dissimetria. A vertente esquerda do vale é constituída por extenso complexo de terraços suave-mente embutidos no planalto de interflúvio, enquanto a vertente direita é curta, escarpada e recortada por uma densa rede de barrancos.
A..
montante de Coruche, o progressivo deslizar do rio para a direita tem provocado importante captura lateral, que desorganizou o antigo curso paralelo da Ribeira da Erra/Ribeira de Magos. O Cabeço do Pé da Erra constitui, assim, um testemunho isolado do antigo interflúvio entre as duas bacias. Uma inversão do sentido da drenagem afecta já a parte superior do vale decapitado da Ribeira de Magos.Ficou, portanto, escalonado um conjunto de formas que devem permitir a reconstituição dos episódios que
as modelaram. É altamente provável que se
encon-trem associados, nos diversos degraus, aluviões, so-los e artefactos.
Quanto
à
própria várzea do Rio Sorraia, o seu mo-delado superficial em braços anastamosados, ladea-dos de reborladea-dos aluviais, associado a um perfil longi-tudinal suavemente acentuado, faz pensar que é na região de Coruche que deve localizar-se O antigo delta, pouco a pouco transformado em cone de dejec-ção;, correspondente ao fundo da ria flandriana.Se tal hipótese se verificar, através do estudo das sondagens disponíveis, o sítio do Cabeço do Pé da Erra ficará esclarecido, pela confluêneia da Ribeira do Divor, cujas cabeceiras mordem os granitos e xistos metamórficos do soco paleozóico.
2.2. Região de Salvaterra de Magos
o
vasto complexo de terraços cascalhentos e are-nosos da margem esquerda do Tejo suporta uma delgada cobertura de areias eólicas muito bem cali-bradas modeladas em alinhamentos dunares, de di-recção sensivelmente Norte-Sul, que deixam entre si fundos planos, cujos solos escuros são cultivados e regados. No maior dos intervalos, a chamada Lagoa, encontrou-se, em profundidade, um nível concreeio-nado por eimento calcário.Por outro lado, as margens do terraço suportam, em vários lugares, restos de concheiros, ricos em ostras, mexilhões, cardidm, etc. Os concheiros ladeiam
ime-diatamente a actual planície aluvial do Tejo e afluen-tes, que se estende à muito baixa altitude de 2 m aci-ma do nível actual do aci-mar.
206
Mapa 3 - Ambiente geral do povoado calcolitico do Cabeço do Pé da Erra. A morfologia actual do terreno apresenta grandes distorções em relação ao Que teria sido na pré-história.
Um dos mais interessantes problemas geomorfoló-gicos é estabelecer a relação entre a cobertura dunar e a ocupação humana; terão vindo as dunas cobrir restos de uma ocupação anterior (como foi o caso, no litoral ocidental, de Magoito) ou será a instalação hu-mana posterior ao episódio eólico?
Referências bibliográficas:
Outro problema, de resolução mais difícil, é a deter-minação do nível das águas salgadas da ria do Tejo, quando da ocupação humana.
É muito provável que os concheiros se estendam, lateralmente, por baixo dos aluviões recentes.
S.D.
Gonçalves, Victor, 1982 - O povoado calcolítico do
Cabeço do Pé da Erra (Coruche), CLlO 4, Lisboa ..
Gonçalves, Vietor, 1983-4 - Cabeço do Pé da Erra: Contribuição da Campanha 1(83) para o conhe-cimento do seu povoamento calcolítico, CLlOI /ARQUEOLOGIA.
Vicente, Eduardo Prescott; Andrade, Gil Estevam Miguéis e Dias, Vítor Manuel Rodrigues, 1974 -Uma jazida pré-histórica no Vale do Sorraia, Ac-tas do III Congresso Nacional de Arqueologia, I vaI., Porto, pp. 91-104.