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Sintomatologia psicopatológica, suporte social, preocupações parentais e perceções das relações fraternas em pais de crianças portadoras de perturbação do espetro do autismo

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

Sintomatologia psicopatológica, suporte social, preocupações parentais e perceções das relações fraternas em pais de crianças portadoras de perturbação do espetro do autismo

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Alexandra Isabel Lobo Pereira

Orientação: Professora Doutora Otília Monteiro Fernandes e Professora Doutora Inês Relva

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

Sintomatologia psicopatológica, suporte social, preocupações parentais e perceções das relações fraternas em pais de crianças portadoras de perturbação do espetro do autismo

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Alexandra Isabel Lobo Pereira Orientação: Professora Doutora Otília Monteiro Fernandes e Professora Doutora Inês Relva

Composição do júri:

Professora Doutora Catarina Pinheiro Mota Professora Doutora Sónia Remondes-Costa Professora Doutora Otília Monteiro Fernandes

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Declaro que todo o conteúdo e/ou ideias presentes são de minha inteira responsabilidade. Este trabalho foi expressamente elaborado como dissertação original para efeito de obtenção do Grau de Mestre em Psicologia Clínica, sendo apresentado na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Departamento de Educação e Psicologia.

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Agradecimentos

Este é o terminar de um ciclo de aprendizagem, crescimento pessoal e enriquecimento profissional. Foi através deste processo que percebi que o impossível somos nós que o delimitamos. Nós somos, acima de tudo, o obstáculo a nós próprios. É preciso derrubar as sombras de insegurança e os demónios do medo para dar lugar a um Ser guerreiro. A luta constante pelo sonho, enfrentando cada obstáculo, para além de nos fazer construir uma fortaleza interior, proporciona as maiores sensações de concretização e satisfação. Este projeto é o alcance de um sonho realizado ao longo de cinco anos. Assim, não posso deixar de agradecer a todos aqueles que me permitiram e me ajudaram a ser eu própria. Que não me colocaram limites, mas escolheram dar-me a mão para, em conjunto, atingirmos um objetivo.

Agradeço, primeiramente, às minhas orientadoras, Professoras Doutoras Otília Monteiro Fernandes e Inês Relva, por me guiarem e direcionarem neste caminho. Por serem exigentes e me obrigarem a ser mais e melhor. Por toda a disponibilidade prestada, pela partilha de conhecimento, atenção dada, auxílio, rigor, competência e persistência. Por serem um exemplo profissional a seguir.

Aos meus pais por me permitirem viver este sonho. Por aceitarem a escolha e, acima de tudo, por lutarem comigo. Obrigada pelo interesse constante na área e nas minhas paixões. Obrigada por não me deixarem desistir, pelas palavras de conforto e os abraços de amparo. Mais que tudo, obrigada pelos valores essenciais que me incutiram. Vocês são o humano mais amoroso, cuidador e apoiante. São o meu modelo de vida.

A toda a minha família pelo apoio incondicional, compreensão e motivação prestada ao longo dos anos. Por estarem sempre na primeira bancada do espetáculo vital.

Ao meu namorado e amigo, sempre companheiro, Filipe. Obrigada por seres o constante abraço de segurança: proteção; refúgio. A minha fortaleza. Obrigada por me conheceres melhor que ninguém e acreditares em mim mais que eu própria. Mostras-me que o amor pode tudo…e pode!

Aos amigos, que a universidade me deu, pela constante partilha dos medos e lágrimas. Pelas persistentes recordações de que juntos conseguimos chegar onde queremos. Por nunca me abandonarem; por sempre me acompanharem. Por sentirem os meus medos e angústias: por compreenderem. Por saberem ler tudo o que sinto até quando eu própria não conseguia. Obrigada por fazerem parte de mim. Vocês são a prova que os amigos da universidade são para a vida.

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Aos meus amigos de sempre, por isso. Por serem de sempre para sempre. Por serem firmes: presentes. Por não falharem. Por serem o alívio e o resgate. Simplesmente por estarem.

À Doutora Marisa Borges por toda a ajuda. Não há agradecimento possível para a confiança e espaço para o crescimento profissional que me proporcionou. Obrigada por me fazer amar ainda mais esta profissão. Por ter-me permitido entregar de corpo e alma à prática clínica. É um exemplo profissional em quem me vou espelhar, sempre.

Agradeço, por último, à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro por me fazer sentir em casa. Ainda a todos os professores que tanto me incutiram e ensinaram.

Sinto-me inteira e plenamente feliz por ter concretizado este sonho. Inspiro e expiro a profissão que escolhi.

É uma dádiva poder acolher e ser Psicologia. Um imenso OBRIGADA a todos!

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Poema

Inspirar sonhos e expirar força de luta. Arrastar a alma pelas entranhas. Descobrir as fragilidades e transformá-las em qualidades. Caminhar para o conhecimento. Descobrir cada Ser. Perceber o mundo através dos olhos dos outros. Aceitar: ajudar. Preferir ser escuta. Entregar-se inteiramente. O percurso é transbordado por emoções. Que esmagam; que preenchem. Ficaste inteira ao construir-te aos pedaços. Frações dos outros em ti. A dor que alimenta a procura de solução. Inspirar e expirar Psicologia. Alexandra Lobo

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Resumo

Este trabalho divide-se em dois estudos científicos que passo a explicitar. A primeira investigação, que se intitula “Sintomatologia psicopatológica e suporte social em pais de crianças portadoras de perturbação do espetro do autismo”, teve como principal objetivo analisar a presença (ou não) de sintomatologia psicopatológica nos pais das crianças com perturbação do espetro do autismo, bem como estudar o grau de satisfação destes com o suporte social. Para este efeito, investigamos uma amostra de 246 pais em que pelo menos um filho é portador de perturbação do espetro do autismo (PEA). Utilizaram-se três instrumentos, nomeadamente um Questionário Sociobiográfico; o Inventário de Sintomas Psicopatológicos (B.S.I., Canavarro, 1999); e a Escala de Satisfação com o Suporte Social (Pais-Ribeiro, 2011). Os resultados indicaram que: 1) os sujeitos do sexo feminino (as mães) apresentam maior sintomatologia psicopatológica do que os sujeitos do sexo masculino (os pais); 2) os pais/mães com 3 ou mais filhos percecionam índices de maior satisfação com a família comparativamente aos pais/mães com 1 ou 2 filhos; 3) existe uma correlação negativa entre todas as dimensões do suporte social e da sintomatologia psicopatológica; 4) o sexo feminino é uma variável preditora para algumas das dimensões de sintomatologia psicopatológica. A segunda investigação, que se intitula “Preocupações parentais e perceções das relações fraternas: o papel preditor na sintomatologia psicopatológica em pais de crianças portadoras de perturbação do espetro do autismo”, teve como principal objetivo analisar a sintomatologia psicopatológica, as preocupações parentais e as suas perceções das relações entre os filhos. Para este efeito, investigamos uma amostra de 119 pais em que pelo menos um filho é portador de perturbação do espetro do autismo. Utilizaram-se quatro instrumentos: um Questionário Sociobiográfico; o Inventário de Sintomas Psicopatológicos (B.S.I.; Canavarro, 1999); a Escala de Preocupações Parentais (Algarvio, Leal, & Maroco, 2009); e o Questionário de Expectativas e de Perceções das Relações Fraternas dos Filhos (Santos, 2013). Os resultados indicaram que existem diferenças ao nível das preocupações parentais e das perceções do relacionamento fraternal entre os filhos em função da configuração familiar. Verificou-se ainda a existência de um papel preditor do sexo feminino, das preocupações parentais e das perceções das relações fraternas na sintomatologia psicopatológica.

Palavras-chave: Perturbação do espetro do autismo; suporte social; sintomatologia psicopatológica; preocupações parentais; perceções das relações fraternas.

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Abstract

This work is divided in two scientific studies that will be made explicit. The first study aimed to analyze the presence (or not) of psychopathological symptoms in parents of children with disorder of autism spectrum and to study the degree of satisfaction of those with social support. For this purpose, we investigated a sample of 246 parents at least one child is carrying the disturbance autism spectrum. For this purpose, three main instruments were used, namely a Socio-biographic Questionnaire; the Brief Symptoms Inventory (B.S.I., Canavarro, 1999); and the Escala de Satisfação com o Suporte Social (Pais-Ribeiro, 2011). The results indicate that: 1) the female subjects (mothers) have higher psychopathological symptoms than male subjects (parents); 2) parents with 3 or more children perceive greater satisfaction rates with family when compared to parents with 1 or 2 children; 3) there is a negative correlation between all dimensions of social support and psychopathological symptoms; 4) the female gender is a predictor for some off the psychopathological symptoms dimensions. The second investigation, entitled “Parental concerns and perceptions of fraternal relations: the role predictor of psychopathological symptoms in parents of children with autism spectrum disorder”, had as main objective to analyze the psychopathological symptoms, parental concerns and their perception of the relationship between the children. For this purpose, we investigated a sample of 119 parents in which at least one child is carrying the disturbance autism spectrum. In order to do so, four main instruments were used: a Socio-biographic Questionnaire; the Brief Symptoms Inventory (B.S.I.; Canavarro, 1999); the Escala de Preocupações Parentais (Algarvio, Leal, & Maroco, 2009); and the Questionário de Expectativas e de Perceções das Relações Fraternas dos Filhos (Santos, 2013). The results have indicated there are differences regarding parental concerns and perceptions of the fraternal relationship between the children according to the family’s configuration. It was also found that there is a predictor role of female gender, parental concerns and perception of fraternal relationship in psychopathological symptoms. The results were discussed in order to provide some guidelines in clinical intervention with parents of autistic children.

Keywords: Autism spectrum disorder; social support; psychopathological symptoms; parental concerns; perception of fraternal relationship.

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Índice

Introdução 1

Estudo Empírico I: Sintomatologia psicopatológica e suporte social em pais de crianças portadoras de perturbação do espetro do autismo

5 Resumo 7 Abstract 8 Introdução 9 Método 15 Procedimento 15 Participantes 16 Instrumentos 16

Estratégia de análises de dados 17

Resultados 18

Análise diferencial da sintomatologia psicopatológica em função do sexo 18 Análise diferencial do suporte social percebido em função do número de filhos 19 Associação entre as dimensões do suporte social percebido e as dimensões da

sintomatologia psicopatológica, médias e desvio padrão

20

Análises preditivas: Papel preditor do sexo e das dimensões do suporte social percebido na sintomatologia psicopatológica

21

Discussão 24

Implicações práticas, limitações e propostas para estudos futuros 27

Referências Bibliográficas 29

Estudo Empírico II: Preocupações parentais e perceções das relações fraternas: o papel preditor na sintomatologia psicopatológica em pais de crianças portadoras de perturbação do espetro do autismo

33 Resumo 35 Abstract 36 Introdução 37 Método 43 Procedimento 43 Participantes 44 Instrumentos 44

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Resultados 47

Variância das preocupações parentais e das perceções das relações fraternas em função das dimensões sociodemográficas da amostra

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Associação entre as preocupações parentais, as perceções das relações fraternas e a sintomatologia psicopatológica, médias e desvio padrão

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Análises preditivas: Papel preditor do sexo, das dimensões das preocupações parentais e das dimensões das perceções das relações fraternas na sintomatologia psicopatológica

51

Discussão 54

Implicações práticas, limitações e propostas para estudos futuros 59

Referências Bibliográficas 61

CONSIDERAÇÕES FINAIS 65

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GERAIS 69

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ÍNDICE DE FIGURAS E TABELAS ESTUDO EMPÍRICO 1

Tabela 1. Análise diferencial dos sintomas psicopatológicos em função do sexo 19 Tabela 2. Análise diferencial do suporte social percebido em função do número de

filhos

20

Tabela 3. Associação entre as dimensões do suporte social percebido e as dimensões da sintomatologia psicopatológica, médias e desvio padrão (N=246)

21

Tabela 4. Predição da sintomatologia psicopatológica em função do sexo e do suporte social percebido

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ESTUDO EMPÍRICO II

Tabela 1. Análise diferencial das preocupações parentais percebidas em função do estado civil

48

Tabela 2. Análise diferencial das perceções das relações fraternas em função do estado civil

49

Tabela 3. Correlações entre as variáveis, média e desvio-padrão (N=119) 51 Tabela 4. Predição da sintomatologia psicopatológica em função do sexo, das

preocupações parentais e das perceções das relações fraternas

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Lista de siglas e acrónimos APA - American Psychiatric Association

B.S.I. - Inventário de Sintomas Psicopatológicos CFI - Comparative Fit Index

DSM – Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders DP - Desvio Padrão

ESSS – Escala de Satisfação com o Suporte Social IC - Nível de Significância de 95%

M - Média

MANOVA - Análises de Variâncias Multivariada PEA – Perturbação do espetro do autismo

RMSEA - Root Mean Square Error of Approximation SPSS - Statistical Package for Social Sciences

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Introdução

A família aglomera elementos que criam profundas ligações emocionais, complexas e distintas ao longo do ciclo vital. Une diversas vezes variadas gerações, havendo possibilidade em abarcar sujeitos que, sem ligação biológica, são cruciais afetivamente no enredo das relações familiares. Representa, portanto, um grupo de indivíduos ligados emocionalmente, tendo uma finalidade em comum (Peixoto, 2015). Em geral, a família constitui o primeiro contexto social com relevância essencial no desenvolvimento e bem-estar tanto das crianças como nos adolescentes (Matos, 2015). É, assim, o sistema de pertença primário e no qual o sujeito deve, preferencialmente, desenvolver-se. Assume relevo o conceito de partilha de uma parte significativa da vivência pessoal, de projeto vital e história familiar (Alarcão, 2015).

A dimensão da família portuguesa no século XXI reduziu-se, sendo o número médio de indivíduos por agregado doméstico menor que três (2,6 em 2011 – Censos), enquanto em 1960 era aproximadamente de quatro (3,8 – Censos). Nos primórdios dos anos 60 do século passado, a constituição usual do agregado doméstico português era de três ou mais pessoas, hoje em dia (em 2011 – Censos), este tipo de família equivale a, apenas, 47% do total de agregados (INE, 2013).

Ainda sobre a realidade portuguesa, os agregados unipessoais, que correspondem a cerca de um quinto do total dos agregados domésticos, mais de metade caracterizam-se por sujeitos com 65 ou mais anos de idade, sendo a maioria mulheres, devido ao seu tempo médio de vida ser superior à dos homens. Estima-se que o número de pessoas com mais de 65 anos aumentará para os três milhões e que poderá representar o triplo do número dos jovens (INE, 2014).

No que consta aos casais (independentemente de serem ou não casados), estes maioritariamente só têm um filho (55% em 2011 e 44% em 1991 – Censos), e os casais com três ou mais crianças correspondem apenas a 8% (17% em 1991 – Censos).

Para além disto, os dados indicam que o número de divórcios por cada 100 casamentos é de 74, perfazendo mais do dobro do ocorrido em 2011. Assim, a tendência do divórcio possibilita o aumento progressivo dos núcleos familiares monoparentais, pais ou mães a residir só com filhos (Rosa, 2015).

Estes são alguns dos dados macrossociais sobre a família portuguesa. Olhando-a mais de perto, sabemos que o casal edifica-se e, em seguida, nasce o primeiro filho, dando surgimento à família. Assim, nascem novas relações: a relação conjugal e a relação de cada cônjuge com o filho primogénito, onde nesse sistema só existia uma relação dual. A criança

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única usufrui desse sistema familiar, sendo somente destronada aquando do nascimento de um irmão. Inaugura-se assim, com o nascimento de um irmão, a relação fraterna (Fernandes, 2015). Caso esse evento não suceda, o filho define-se como único descendente estando-lhe associado o reino sem partilha de trono ou heranças. Por outro lado, os pais dos filhos únicos contam apenas com eles na concretização de desejos e, também, no cuidado. Para os filhos únicos que “veem” acontecer o nascimento de um irmão, viverão, certamente, um momento de rivalidade, embora havendo em todas as relações fraternas o extremo do ódio e do amor (Fernandes, 2015).

É de ressalvar que nenhuma família se encontra imune a dificuldades que possam causar impacto ou prejuízos no bem-estar e necessidades dos seus constituintes, tanto intituladas de índole físico-biológica, cognitiva como socioemocional (Santos, Milheiro, Fernandes, & Saldanha, 2015). Neste sentido, se a crise é inevitável em toda e qualquer família, existem famílias em que as crises, tanto pela sua frequência, ausência de apoio dos sistemas circundantes, pela perceção das mesmas e a forma de as gerir, são vivenciadas como bloqueio ao invés de uma oportunidade de crescimento familiar e individual (Alarcão, 2015).

O surgimento, no seio familiar, de uma criança com deficiência provoca um encadeamento de estádios emocionais e atitudinais: choque, negação, depressão, adaptação e reorganização. É uma reação idêntica ao processo de luto psicológico pela perda efetiva de um ente amado. Pode, deste modo, afetar a qualidade e quantidade das relações dentro da família e simultaneamente surgir repercussões, positivas e negativas, no desenvolvimento de todos, e, particularmente, nos filhos sãos e/ou sem deficiência (Fernandes, 2005).

A expressão “espetro do autismo” foi criada por Loma Wing e Judith Gould em 1979. Numa investigação epidemiológica efetivada por estes autores, com 35.000 crianças, averiguaram que um grupo vasto de crianças tinha um certo tipo de dificuldade na interação social, ligada a comprometimento na comunicação e escasso interesse em atividades, contudo não perfaziam o diagnóstico formal para o autismo. Neste seguimento elaboraram o conceito spectrum (Wing & Gould, 1979).

Os critérios primordiais de diagnóstico do autismo estavam patentes no Diagnostic and Statistical Manual of mental Disorders (DSM-III) (American Psychiatric Association, 1980). O DSM-IV-TR (2002) intitula a perturbação do autismo como se caracterizando uma perturbação global do desenvolvimento, que constitui um défice grave e global em três áreas do desenvolvimento: interação social, comunicação e comportamento. As principais características desta perturbação consistem em estar presente um desenvolvimento acentuado anormal ou deficitário da interação e comunicação social e um repertório imensamente

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restrito quer de atividades quer de interesses. É de referir que as manifestações deste distúrbio divergem conforme o nível de desenvolvimento e a idade cronológica do indivíduo (American Psychiatric Association, 2002). Atualmente, no DSM-V (2013), os sujeitos que anteriormente tinham critérios para integrar perturbação autista, perturbação de Asperger ou perturbação global de desenvolvimento sem outra especificação, são agora diagnosticados com perturbação do espetro do autismo (American Psychiatric Association, 2013).

Aconselha-se que o diagnóstico de perturbação do espetro do autismo deva ser executado o mais rapidamente possível, contudo não se verificam facilidades na sua realização. Há vastos sinais de alerta que se devem ter em consideração: a falta de atenção partilhada é um dos sinais precoces; a escassez de desejo ou necessidade de estar próximo de alguém; isolamento; reduzido contacto ocular; não responsivo ao nome; inutilização do sorriso em resposta a uma interação; não indicar; ausência de linguagem verbal; e falta de intento comunicacional (Lima, 2012).

Quanto à evolução clínica, existe uma influência da gravidade dos problemas patentes e das comorbilidades. As crianças com défice cognitivo moderado/ grave adjacente apresentarão pior evolução, na medida em que as dificuldades cognitivas serão limitadoras de aprendizagem e do desenvolvimento de autonomia (Lima, 2012). Existem indicadores que podem ser alvos de observação para um melhor prognóstico: linguagem verbal funcional anterior aos 5 anos; competência intelectual boa (Gillberg & Steffenburg, 1987); distúrbio de autismo mais ligeiro; intervenção especificada precoce e adaptada; suporte parental e familiar; suporte do ambiente educativo (Lima, 2012).

Neste sentido, a presente investigação tem como objetivo analisar a presença (ou não) de sintomatologia psicopatológica, suporte social, preocupações parentais e as perceções das relações fraternas nos pais de crianças portadoras de perturbação do espetro do autismo, até aos 12 anos de idade. Este estudo arroga um cariz inovador, devido à escassa informação dos efeitos desta perturbação no sistema familiar da criança e quais as necessidades de auxílio.

O trabalho académico perfaz dois estudos empíricos distintos, contudo complementares. Ambas as investigações pauteiam o estudo da sintomatologia psicopatológica nos pais, embora ostentem outras variáveis e adotem objetivos díspares. Assim, o primeiro estudo, cujo título é “Sintomatologia psicopatológica e suporte social em pais de crianças portadoras de perturbação do espetro do autismo” objetiva, em geral, analisar as associações entre a sintomatologia psicopatológica e o suporte social, testando ainda o papel preditor do sexo e do suporte social na sintomatologia psicopatológica em pais de crianças portadoras de perturbação do espetro do autismo. O segundo estudo, que se

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intitula “Preocupações parentais e perceções das relações fraternas: o papel preditor na sintomatologia psicopatológica em pais de crianças portadoras de perturbação do espetro do autismo”, pretende analisar as associações entre a sintomatologia psicopatológica, as preocupações parentais e as perceções das relações fraternas, testando ainda o papel preditor do sexo, das preocupações parentais e das perceções das relações fraternas na sintomatologia psicopatológica em pais de crianças portadoras de perturbação do espetro do autismo (PEA).

Ambos os estudos apresentam dados cujas implicações práticas devem ser tidas em consideração, na medida em que fomentam diretrizes mais claras e diretas para a intervenção com pais de crianças autistas, atendendo às suas necessidades, com vista a promover melhoras não só no sistema familiar, mas também na criação de um ambiente promotor de melhoria e aprendizagem para a própria criança diagnosticada com PEA.

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Estudo Empírico I:

Sintomatologia psicopatológica e suporte social em pais de crianças portadoras de perturbação do espetro do autismo

Psychopathological symptoms and social support in parents of children with autism spectrum disorder

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Resumo

A perturbação do espetro do autismo é um problema com sérias implicações, tanto na criança como na sua família, podendo acarretar alguma sintomatologia psicopatológica nos pais, bem como afetar o suporte social destes. O presente estudo teve como principal objetivo analisar a presença (ou não) de sintomatologia psicopatológica nos pais das crianças com perturbação do espetro do autismo, bem como estudar o grau de satisfação destes com o suporte social. Para este efeito, investigamos uma amostra de 246 pais em que pelo menos um filho é portador de perturbação do espetro do autismo (PEA). Utilizaram-se três instrumentos, nomeadamente um Questionário Sociobiográfico; o Inventário de Sintomas Psicopatológicos (B.S.I., Canavarro, 1999); e a Escala de Satisfação com o Suporte Social (Pais-Ribeiro, 2011). Os resultados indicaram que: 1) os sujeitos do sexo feminino (as mães) apresentam maior sintomatologia psicopatológica do que os sujeitos do sexo masculino (os pais); 2) os pais/mães com 3 ou mais filhos percecionam índices de maior satisfação com a família comparativamente aos pais/mães com 1 ou 2 filhos; 3) existe uma correlação negativa entre todas as dimensões do suporte social e da sintomatologia psicopatológica; 4) o sexo feminino é uma variável preditora para algumas das dimensões de sintomatologia psicopatológica. Os resultados foram discutidos com o intuito de proporcionar algumas diretrizes na intervenção clínica com pais de crianças autistas.

Palavras-chave: Perturbação do espetro do autismo; suporte social; sintomatologia psicopatológica.

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Abstract

The autism spectrum disorder is a problem with serious implications, both in the children and their families, which may cause some psychopathological symptoms in parents and affect their role as social supporters. This study aimed to analyze the presence (or not) of psychopathological symptoms in parents of children with disorder of autism spectrum and to study the degree of satisfaction of those with social support. For this purpose, we investigated a sample of 246 parents at least one child is carrying the disturbance autism spectrum. For this purpose, three main instruments were used, namely a Socio-biographic Questionnaire; the Brief Symptoms Inventory (B.S.I., Canavarro, 1999); and the Escala de Satisfação com o Suporte Social (Pais-Ribeiro, 2011). The results indicate that: 1) the female subjects (mothers) have higher psychopathological symptoms than male subjects (parents); 2) parents with 3 or more children perceive greater satisfaction rates with family when compared to parents with 1 or 2 children; 3) there is a negative correlation between all dimensions of social support and psychopathological symptoms; 4) the female gender is a predictor for some off the psychopathological symptoms dimensions. The results were discussed in order to provide some guidelines in clinical intervention with parents of autistic children.

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Introdução Autismo

O autismo surge em cerca de cinco em cada dez mil bebés e é quatro vezes mais comum em rapazes do que em raparigas (Tamanaha, Persinoto, & Chiari, 2008). É uma patologia que se caracteriza por uma perturbação do neurodesenvolvimento determinado por um comprometimento acentuado em distintas áreas (Oliveira et al., 2014). Denota-se o surgimento da sintomatologia, maioritariamente, nos primeiros três anos de vida (Assumpção, Kuczynski, Gabriel, & Rocca, 1999).

Indivíduos com diagnóstico do espetro do autismo podem apresentar dificuldades na comunicação, podendo ser estas de graus variados, patenteando-se na habilidade verbal e na não-verbal, onde se perceciona inabilidade de partilhar informações com os demais. Por vezes, também pode haver imaturidade na linguagem, tendo como características o jargão, ecolalia, reversões de pronome, prosódia anormal e entonação monótona. Quanto aos sujeitos que evidenciam uma capacidade expressiva apropriada, estes podem ser inábeis aquando a iniciação ou manutenção de uma conversa coerente (Silva & Ribeiro, 2012). Concomitantemente a estas dificuldades supracitadas, por vezes os autistas para a obtenção de um objeto desejado recorrem à comunicação não-verbal, nomeadamente agarram a mãe ou punho de um adulto e conduzem-no até ao objeto em questão. É raro o processo de apontar para o objeto ou até mesmo do pedido simultâneo a um gesto simbólico ou uma mímica (Gadia, Tuchman, & Rotta, 2004).

A sintomatologia provoca prejuízos significativos tanto nas áreas sociais, como ocupacionais, bem como em outras áreas importantes para a funcionalidade do indivíduo (American Psychiatric Association, 2013). Tendo por base o Diagnostic and Statistical Manual of mental Disorders (DSM-V), os sujeitos que anteriormente tinham critérios para integrar a perturbação autista, a perturbação de Asperger ou a perturbação global de desenvolvimento sem outra especificação (American Psychiatric Association, 2002), são agora diagnosticados com perturbação do espetro do autismo (APA, 2013).

O entendermos a família como um sistema social, visiona-se uma unidade básica de construção de experiências, realizações e fracassos dos indivíduos. Na circunstância de desenvolvimento de um filho excecional, no seio familiar, encontram-se dificuldades, especificamente, o atravessar por um período de adaptação, onde se negoceiam os papéis familiares de cada elemento face à nova realidade (Sanchez & Baptista, 2009). O contexto familiar, aquando da existência da patologia do autismo, vivencia ruturas, por quebrar com as atividades sociais normativas (Silva & Ribeiro, 2012). O grupo familiar pode ficar

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comprometido, na medida em que experiencia sensações de frustração e diminuição face ao meio envolvente. Desta forma, é compreensível e provável que o autismo de um filho despolete emoções de luto pela perda da criança saudável que era esperada. O mesmo acontece com as famílias de qualquer criança com problemas. Parece que os problemas associados ao comportamento do deficiente e a condição da própria deficiência são despoletadores das tensões mais comuns em famílias com membros portadores de deficiência de desenvolvimento, uma vez que estão patentes padrões repetitivos de comportamento, nível reduzido de comunicação e necessidade de cuidados constantes (Schmidt, Dell’Aglio, & Bosa, 2007). A mãe, pelo facto de ser a figura responsável primordial, pode padecer de sobrecarga física e emocional causada pelo envolvimento com as tarefas diárias que são intrínsecas a uma criança com esta patologia. Assim, as figuras maternas, em várias investigações, têm evidenciado como características mais reconhecidas nos filhos a dificuldade em relacionarem-se com os outros, intolerância ao barulho, escassez de vínculo e dificuldades de comunicação (Silva & Ribeiro, 2012). Para colmatar estes problemas é necessário que a família se adapte às novas exigências, na medida em que a perturbação do espetro do autismo solicita atenção permanente por parte dos cuidadores (Marques, 2003; Schmidt et al., 2007), e a ausência da mesma pode provocar comprometimento do desenvolvimento adequado na criança.

A revisão bibliográfica demonstra que o número de investigações cuja população alvo é a família de crianças com perturbação de autismo não condiz com o que seria espectável, na medida em que estas pesquisas seriam de cariz relevante para o impacto da criança com autismo na dinâmica familiar (Fernandes, 2009).

Postula-se a ideia de que quando acontece uma doença ou deficiência num dos membros da família, ocorre um encadeamento de estádios emocionais e atitudinais aproximadamente constante e universal, sendo estas: choque, negação, depressão, adaptação e reorganização. Esta sequência de acomodação ao problema é semelhante ao processo de luto psicológico pela perda efetiva de um ente amado (Klüber-Ross, 1996). A presença de um elemento doente ou deficiente numa família pode afetar a qualidade e quantidade das relações dentro da mesma e concomitantemente podem suceder-se repercussões, positivas e negativas, no desenvolvimento de todos, e, especialmente, nos filhos sãos e/ou sem deficiência (Fernandes, 2005).

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Sintomatologia psicopatológica

Desde o momento do diagnóstico que os pais de crianças portadoras de uma doença/deficiência sofrem índices elevados de stresse e, assim, decorre a necessidade de reorganização dos papéis parentais, ocorrendo, deste modo, reações, sendo as mais comuns as seguintes: sentimentos de culpabilidade (principalmente sentidos pela mãe); desinvestimento (um luto antecipado); conflitos conjugais; e um dos filhos pode ser parentificado (decorrente dos conflitos do casal, em que o filho age com maior responsabilidade por forma a ocupar o lugar de um elemento parental) (Fernandes, 2005).

Para além disto, o espetro do autismo despoleta modificações significativas no seio familiar, alterando efetivamente a visão e significado dos pais perante uma infinitude de situações e perante o sentido da vida. Geralmente, os pais parecem ficar psicologicamente mais fortes, ajustando-se à mudança e permanecendo a desenvolver-se nela, apesar disso é um processo que necessita de experiência continuada e de maturidade emocional (Marques & Dixe, 2011).

Por outro lado, existem estudos transculturais que demonstram, de forma consistente, que a saúde mental das mães das crianças autistas é afetada negativamente (Zablotsky, Bradshaw, & Stuart, 2012). Investigações indicam que essas mesmas mães podem beneficiar de psicoeducação sobre a fadiga e o seu impacto tanto no bem-estar como no coping. Esta informação e apoio sobre como gerir a fadiga são cruciais nos efeitos diretos que têm nomeadamente na capacidade em lidar com elementos stressores e também o comportamento dos filhos (Giallo, Wood, Jellett, & Seymour, 2013). Outras pesquisas ressalvam o facto de que o bem-estar psicológico dos pais-homens, em comparação com o das mães de crianças autistas, é diferente, sendo que o dos pais não é significativamente afetado (Jones, Totsika, Hastings, & Petalas, 2013). Contudo, é possível constatar que estes pais estão em risco de pobre bem-estar psicológico, na medida em que apresentam significativamente mais sintomas depressivos em relação a pais de crianças com outras deficiências do desenvolvimento (Hartley, Seltzer, Head, & Abbeduto, 2012).

Desta forma percebe-se que as investigações quantitativas são importantes, sendo que evidenciam coletivamente um impacto sobre o bem-estar dos pais e o funcionamento das famílias com uma criança portadora de perturbação do espetro do autismo, todavia não proporcionam pormenores profundos sobre as experiências parentais e este facto é de extrema relevância para auxiliar uma criança (King, King, Rosenbaum, & Goffin, 1999).

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O caráter universal do espetro do autismo faz exigências constantes no bem-estar físico e psicológico dos pais, desenvolvendo desequilíbrios nos relacionamentos e, também, no funcionamento familiar (Mount & Dillon, 2014).

Para além disso, percebeu-se que famílias que vivem diariamente com esta patologia enfrentam variados desafios sociais e emocionais. Numa investigação de Iftikhar e Butt (2013), com pais de crianças autistas entre os 24 meses e os 10 anos, verificou-se que os indicadores chave para a deteção de níveis elevados de stresse, ansiedade e depressão, são a falta de instalações e a de profissionais, bem como a pressão familiar e a aceitação social. No entanto, são as mães destas crianças que, comparativamente aos pais, apresentam esta sintomatologia mais evidenciada. Este facto ocorre devido ao facto da figura materna ter uma relação diferente com a criança, na medida em que o período de gestação é durante aproximadamente nove meses e faz com que se estabeleça um vínculo especial com o filho (Iftikhar & Butt, 2013; Silva & Ribeiro, 2012).

Contrariamente ao que parece ser esperado na maioria dos estudos científicos, Marques e Dixe (2011) demonstraram que as famílias com crianças autistas participantes na sua investigação revelaram ser flexíveis e ter coesão, evidenciando equilíbrio familiar. A interação executada por estas famílias pode estar associada à compreensão de potenciais mediadores cognitivos, ou seja, a perceção dos comportamentos, funções, esperanças, expectativas e objetivos para os filhos autistas, bem como os seus relacionamentos familiares e significados atribuídos às necessidades e dificuldades experienciadas. Deste modo, parece que as famílias que têm capacidade para redefinir eventos e sabem recorrer ao apoio formal, apresentam melhores formas de lidar com acontecimentos stressantes. Assim, estes pais são potenciadores de renovação de significados o que acarreta adaptação à mudança, caracterizando-se como um processo de experiência construída e não repentina, o que possibilita conservação ao nível da saúde mental (Marques & Dixe, 2011).

Por sua vez, outros investigadores, como Tesse e Beach (1998), associam o créscimo da severidade da depressão com o prejuízo de eventos stressantes e negativos de vida nesta população alvo. Afirmam, ainda, que tende a afetar negativamente os relacionamentos tanto sociais como familiares, volvendo-se num ciclo vicioso (Tesser & Beach, 1998).

A depressão é uma perturbação do humor que se qualifica por mudanças do estado de ânimo e que conduz a prejuízos para a vida psíquica e para o funcionamento comportamental do indivíduo. É um quadro clínico que afeta de forma negativa o modo como os sujeitos se sentem, pensam e agem (APA, 2013).

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Nas famílias que têm um filho com desenvolvimento atípico, as mães podem ser bastante afetadas emocionalmente (Hastings et al., 2005), na medida em que ocorre a perda do filho imaginado. Para além disso, pode também considerar-se um processo stressante, uma vez que há uma sobrecarga adicional a todos os níveis: psicológico, social, financeiro e nos cuidados para com a criança (Favero & Santos, 2005; Fernandes, 2009). Esta sobrecarga está associada à excessividade de cuidados, tarefas específicas e exigências, fazendo com que as mães, principalmente, estejam em risco de desenvolver depressão (Hastings et al., 2005; Silva & Ribeiro, 2012; Sprovieri & Assunpção Jr, 2001). Ao analisar-se o estado emocional entre os pais e as mães de crianças com autismo, verifica-se que as mães têm maiores níveis de stresse (Favero & Santos, 2005) e depressão, devido ao facto de serem, possivelmente, as responsáveis pela maioria dos cuidados diretos da criança (Hastings et al., 2005).

Uma investigação de Robinson, Drotar e Boutry (2001) apurou que as mães tanto de crianças com atrasos no desenvolvimento como com autismo mostraram ter um maior risco para desenvolver depressão, indicando ser afetadas de uma forma mais severa por este quadro sintomatológico. Por sua vez, Olsson e Hwang (2001) equipararam mães de crianças com autismo ou deficiência mental com mães de crianças com desenvolvimento típico ou outras patologias e também se constatou que eram as mães das crianças com autismo as que manifestavam significativamente maior prevalência de depressão e ansiedade. Estes resultados podem dever-se aos problemas desenvolvimentais típicos do autismo (Olsson & Hwang, 2001). Por outro lado, este mesmo estudo demonstrou que as mães que viviam sozinhas, comparativamente com as mães que moravam com um companheiro, tinham uma maior vulnerabilidade para apresentar depressão.

Várias investigações indicam que os preditores mais fortes para a depressão e ansiedade são os níveis reduzidos de suporte social (Boyd, 2002), e que o decréscimo dos níveis de depressão está associado a intervenções que disponibilizam apoio social (Roncon, 2003; Solomon, Goodlin-Jones, & Anders, 2004).

Suporte social

O suporte social, nomeadamente o suporte familiar, pode ponderar-se como tendo uma influência “amortecedora” em vários elementos stressores da vida dos indivíduos (Baptista, 2005). Por sua vez, as relações familiares podem ajudar os sujeitos no surgimento de sentimentos de pertença e competência, causando efeito na capacidade da pessoa controlar o ambiente que o rodeia e as respostas orgânicas (imunidade) e psicológicas, isto é o

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créscimo de recursos para lidar com as crises ao longo do percurso de vida (Fuhrer & Stansfeld, 2002).

As crenças que os pais têm sobre receber um apoio social adequado, tanto para eles próprios como para os seus filhos, tende a revelar-se crucial para adaptação familiar bem-sucedida (Wolf, Noh, Fisman, & Speechley, 1989).

Alguns exemplos de suporte social são: apoio de um parceiro, família alargada e amigos; tempo disponível de lazer para integrar atividades recreativas; programas comunitários, apoio profissional e ainda serviços e programas orientados para famílias de crianças portadoras de uma deficiência. As famílias que têm este tipo de apoio desenvolvem uma adaptação saudável à criança diagnosticada com perturbação do espetro do autismo (Wolf et al., 1989).

Numa investigação de Bem-Zur, Duvdevany e Lury (2005), verificou-se que, através da análise entre as associações de resiliência e suporte social com o bem-estar psicológico, existem correlações positivas entre o suporte social, resiliência, níveis reduzidos de ansiedade e também altos níveis de saúde mental.

O apoio social ou a perceção do mesmo pode diminuir o impacto do stresse na depressão nas mães de crianças com perturbação do espetro do autismo, mostrando ainda que este suporte tem um papel fundamental no equilíbrio da saúde mental destes pais (Wolf et al., 1989).

Num estudo de Sikos e Kerns (2006), os autores verificaram que os pais de crianças com perturbação do espetro do autismo relataram significativamente menos satisfação com a ajuda recebida desde o momento do diagnóstico comparativamente a pais de crianças com síndrome de Down.

Um dos fatores que mais provoca sofrimento nas figuras parentais é a visão de incapacidade perpetuada pela sociedade e serem intitulados de “coitados”. Tais condicionantes levam ao isolamento social dos pais/família e ao adoecimento emocional, especificamente altos níveis de stresse e depressão. Desta forma percecionam o suporte social como pouco responsivo, afirmando sensações de desespero, desamparo, insegurança e medo (Silva & Ribeiro, 2012).

Os cuidados específicos e exigentes de uma criança autista, bem como a dificuldade na socialização e na linguagem tornam as figuras parentais suscetíveis de experienciar sintomatologia psicopatológica. Assim, é importante analisar a possível presença de sintomatologia psicopatológica e a existência de fatores protetores como o suporte social, por forma a ajudar as famílias a entender as suas próprias experiências emocionais e facultar

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dados que auxiliem no aumento de suporte social. A análise destas variáveis possibilita um maior autoconhecimento por parte dos pais de crianças portadoras de perturbação do espetro do autismo.

Assim, o presente estudo pretende analisar (a) a sintomatologia psicopatológica em função do sexo, (b) o suporte social percebido em função do número de filhos, (c) a associação entre o suporte social e a sintomatologia psicopatológica, e (d) o papel preditor do sexo e do suporte social percebido na sintomatologia psicopatológica.

Método Procedimentos

A recolha da amostra foi feita em várias associações de autismo e grupos de apoio a pais de crianças autistas, bem como instituições escolares e de saúde. Procedeu-se com o pedido de autorização à Comissão de Ética da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, bem como a autorização à Direção Geral de Educação. O processo iniciou-se pela análise da literatura, pesquisada na base de dados b-on, através de artigos e revistas científicas, assim como livros, com o intuito de uma melhor compreensão e análise da problemática em questão, onde foram selecionados os documentos científicos mais recentes e que recorrem, também, à utilização das variáveis presentes neste estudo.

Seguidamente procedeu-se à autorização e apresentação do consentimento informado, às associações e instituições escolares e de saúde, nomeadamente aos pais das crianças com PEA, da aplicação dos instrumentos selecionados para a investigação. Após a obtenção do consentimento, foi aberto um espaço para dúvidas e esclarecimento dos objetivos da investigação, assim como a confidencialidade de todos os dados. A fim de considerar as orientações do Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses (2011) garantiu-se, aos participantes, um consentimento informado e esclarecido, que lhes permita conscientemente deliberar e decidir, de forma voluntária e informada, relativamente à sua participação, ou não, nesta investigação.

A recolha da amostra foi efetivada por dois métodos distintos. Numa primeira instância executou-se o preenchimento de questionários de autorrelato, em formato papel, através do contacto direto ou por correio, com os participantes ou com as respetivas associações de autismo ou entidades de ensino escolar. Para além disso, recorreu-se a uma plataforma online onde estava disponível o protocolo de investigação. Este método foi concretizado com meio de uma ferramenta do programa Google Drive que possibilita um

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acesso fácil ao preenchimento do questionário. É de salientar que este programa informático ostenta como funcionalidade a criação e a publicação do protocolo, mas também preserva o armazenamento e proteção dos dados, o que consente assegurar as condições de confidencialidade, anonimato e fidelidade.

Participantes

A amostra é constituída por 246 pais (de ambos os sexos) de pelo menos um filho que esteja diagnosticado como sendo portador de perturbação do espetro do autismo, em que 216 (87.8%) são do sexo feminino e 30 (12.2%) do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 22 e os 69 anos (M = 38.16; DP = 5.771), variando, o número de filhos com perturbação do espetro do autismo, entre 1 (43.1%), 2 (45.1%) e mais do que 3 filhos (11.8%). No que respeita ao sexo dos 246 filhos autistas, 206 do sexo masculino (83.7%) e 40 do sexo feminino (16.3%), com idades compreendidas entre os 1 e os 12 anos (M = 7.13; DP = 2.818). No que refere à idade de diagnóstico dos filhos com perturbação do espetro do autismo, esta varia entre 12 e 132 meses, o que corresponde a 1 e 11 anos de idade (M = 41.26; DP = 1.859). Quanto ao estado civil, 168 (68.3%) dos pais são casados, 26 (10.6%) em união de facto, 26 (10.6%) divorciados, 23 (9.3%) solteiros e 3 (1.2%) viúvos. No que concerne ao nível de escolaridade dos pais, 9 (3.7%) têm habilitações relativas ao 1º ciclo, 10 (4.1%) ao 2º ciclo, 23 (9.3%) ao 3ºciclo, 16 (6.5%) frequentaram mas não completaram o ensino secundário, 62 (25.2%) completaram o ensino secundário, 14 (5.7%) frequentaram a universidade mas não completaram, 89 (36.2%) licenciados e 23 (9.3%) com mestrado ou doutorado. Relativamente à nacionalidade: 210 (85.4%) são portugueses e 36 (14.6%) têm outra nacionalidade.

Instrumentos

Questionário Sociobiográfico – de forma a caracterizar a amostra, onde aparecem dados como a idade; sexo; estado civil; nacionalidade; agregado familiar; número de filhos; o nível educacional; e profissão.

A Escala de Satisfação com o Suporte Social (ESSS) (Pais-Ribeiro, 2011). Esta escala tem como intuito avaliar a satisfação com o suporte social percebido em adultos. É uma escala de autopreenchimento, composta por 15 frases, num aglomerado de afirmações, que se dividem por 4 dimensões. Pretende-se que o indivíduo assinale o grau em que concorda com a afirmação (se se aplica a ele ou não), numa escala ordinal de 5 posições, oscilando entre “concordo totalmente”, “concordo na maior parte”, “não concordo nem

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discordo”, “discordo na maior parte” e “discordo totalmente”. A primeira dimensão/fator, denominada “satisfação com os amigos”, mede a satisfação com as amizades (5 itens); a segunda, “intimidade”, avalia a perceção da existência de suporte social íntimo (4 itens); a terceira, “satisfação com a família”, mede a satisfação com o suporte social familiar (3 itens); e a quarta dimensão, “atividades sociais”, avalia a satisfação com as atividades sociais que executa (3 itens). Os valores de alpha de Cronbach para a presente amostra foram: satisfação com os amigos = .82; intimidade = .67; satisfação com a família = .81; e atividades sociais = .70. As análises confirmatórias apresentam índices de ajustamento adequados para os modelos χ²(29)=40.84, Ratio=1.41, p=.07, CFI=.99, SRMR=.05, RMSEA=.04

Inventário de Sintomas Psicopatológicos (B.S.I.) (Derogatis, 1982; traduzido e adaptado para a população portuguesa por Canavarro, 1999). O BSI constitui uma versão abreviada do SCL-90 (Symptom Checklist – 90), tem como finalidade avaliar sintomas psicopatológicos através de nove dimensões de sintomatologia (somatização; obsessões-compulsões; sensibilidade interpessoal; depressão; ansiedade; hostilidade; ansiedade; ideação paranoide; e psicoticismo) e de três índices globais (Índice Geral de Sintomas – IGS; Índice de Sintomas Positivos – ISP; e Total de Sintomas Positivos – TSP). A análise das pontuações obtidas nas nove dimensões fornece informação sobre o tipo de sintomatologia que mais perturba o indivíduo, enquanto a leitura dos índices globais possibilita avaliar, de forma geral, o nível de sintomatologia psicopatológica apresentado. Este inventário de autorresposta é constituído por 53 itens, onde os indivíduos classificam o grau com que cada problema os afetou na última semana, numa escala de resposta tipo Likert que vai desde 0 (“nunca”) a 4 (“muitíssimas vezes”). Pode ser administrado a doentes do foro psiquiátrico, a indivíduos perturbados emocionalmente, a quaisquer outros doentes e a pessoas da população em geral. Nesta investigação foram utilizados 23 itens, que analisam quatro dimensões de sintomatologia: somatização (7 itens) – alpha de Cronbach de .90; sensibilidade interpessoal (4) – alpha de Cronbach de .87; depressão (6) – alpha de Cronbach de .90; e ansiedade (6) – alpha de Cronbach de .88. As análises confirmatórias apresentam índices de ajustamento adequados para os modelos χ²(21)=45.35, Ratio=2.16, p=.002, CFI=.99, SRMR=.02, RMSEA=.07

Estratégias de análise de dados

O tratamento dos resultados foi realizado com recurso ao programa estatístico SPSS – Statistical Package for Social Sciences –, na sua versão 22.0 para o sistema Windows, sendo criada, através do mesmo, a base de dados; e o programa IBS – SPSS AMOS 22.0, para a

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realização das propriedades psicométricas dos instrumentos. No início do processo, efetuou-se análiefetuou-se de todos os questionários, com o intuito de excluir os que estivesefetuou-sem incompletos ou percetivelmente preenchidos ao acaso. Posteriormente, realizou-se a limpeza da amostra, através da identificação dos missings e ouliers prejudiciais às análises da pesquisa. Assim, a determinação dos outliers efetivou-se com base na determinação de Zscores e da distância de Mahalanobis. Consequentemente, estas análises implicaram exclusão de sujeitos da amostra. Para além disso, testou-se a normalidade da amostra, tendo por base o processo de inferência estatística da distribuição normal ou de Gauss, sendo possível recorrer a testes paramétricos, devido a uma amostragem superior a 30 (Pallant, 2005). De seguida, criaram-se as dimensões que compunham cada instrumento, efetuando, depois, as análises psicométricas através do alpha de Cronbach e das análises fatoriais confirmatórias, com o intuito de assegurar que os itens dos instrumentos correspondiam às dimensões propostas pelos autores originais. No que concerne à análise dos dados, fez-se uma análise diferencial da sintomatologia psicopatológica em função do sexo, em que se utilizou o teste t para a comparação de médias em amostras independentes; análise diferencial do suporte social percebido em função do número de filhos, através das análises de variâncias multivariada (MANOVAS), com nível de significância de 5% (p≤.05) e com recurso à análise de post-hoc, utilizando o teste de Scheffé nas múltiplas comparações; associação entre as dimensões do suporte social percebido e as dimensões da sintomatologia psicopatológica, médias e desvio padrão; e análises preditivas, ao nível do papel preditor do sexo e das dimensões do suporte social percebido na sintomatologia psicopatológica, com recurso a regressões múltiplas hierárquicas, sendo que, para cada dimensão, foram introduzidos dois blocos (bloco 1: variável sexo e o bloco 2: dimensões do suporte social percebido).

Resultados

Análise diferencial da sintomatologia psicopatológica em função do sexo

Para analisar as diferenças da sintomatologia psicopatologia em função do sexo, utilizou-se um t-teste de amostras independentes. Os resultados obtidos evidenciaram a existência de diferenças significativas da sintomatologia psicopatológica, em função do sexo, em todas as dimensões, particularmente na somatização [t(55)= 3.95; p=.000], com IC 95% [.23, .70], na sensibilidade interpessoal [t(46)= 2.73; p=.009], com IC 95% [.11, .72], na depressão [t(48)= 3.48; p=.001], com IC 95% [.20, .76], e na ansiedade [t(45)= 4.00; p=.000], com IC 95% [.33, .84]. Assim, verificou-se que os sujeitos do sexo feminino

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(1.91<M<2.24; .92<DP<1.01) apresentam maior sintomatologia psicopatológica do que os sujeitos do sexo masculino (1.44<M<1.82; .55<DP<.74), tal como observado na tabela 1. Tabela 1

Análise diferencial dos sintomas psicopatológicos em função do sexo

BSI Sexo M ± DP IC 95% Direção das diferenças significativas Somatização 1 – Feminino 2 – Masculino 1.91±.92 1.44±.55 [.23, .70] 2<1 Sensibilidade interpessoal 1 – Feminino 2 – Masculino 2.23±1.01 1.82±.74 [.11, .72] 2<1 Depressão 1 – Feminino 2 – Masculino 2.24±.97 1.76±.67 [.20, .76] 2<1 Ansiedade 1 – Feminino 2 – Masculino 2.23±.92 1.67±.68 [.33, .84] 2<1

Nota: BSI= Inventário de Sintomas Psicopatológicos; M= Média; DP= Desvio Padrão; IC= nível de

significância de 95%

Análise diferencial do suporte social percebido em função do número de filhos

Com o intuito de responder aos objetivos propostos foram realizadas análises de variância multivariada (MANOVAS) entre as variáveis de suporte social percebido e as variáveis sociodemográficas da amostra. Para realizar as diferenças entre os grupos utilizou-se o teste post-hoc, utilizou-sendo para o efeito utilizado o teste de Scheffé.De acordo com a variável número de filhos foram criados três grupos (um grupo de 1 filho, outro de 2 filhos e outro de 3 ou mais filhos), os resultados apontam para a presença de diferenças estatisticamente significativas face ao suporte social percebido F(8, 480) = 3.29, p = .001, Wilks’ Lambda = .90; ƞ2 = .05. Quando os resultados para as variáveis dependentes foram considerados em separado, a única diferença estatisticamente significativa, usando o Scheffé, foi a satisfação com a família F(2, 243) = 7.64, p = .001, ƞ2 = .06. Assim, constata-se que os pais com 3 ou mais filhos percecionam índices de maior satisfação com a família (M = 4.32, SD = .18) do que os pais com 1 filho (M = 3.58, SD = .09), ou com 2 filhos (M = 3.57, SD = .09), tal como observado na tabela 2.

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Tabela 2

Análise diferencial do suporte social percebido em função do número de filhos

ESSS Número de filhos M ± DP IC 95%

Direção das diferenças significativas Satisfação com os amigos 1 – Um filho 2 – Dois filhos 3 – Três ou mais filhos 3.16±.09 3.21±.09 3.47±.17 [2.99, 3.33] [3.04, 3.37] [3.14, 3.80] n. s Intimidade 1 – Um filho 2 – Dois filhos 3 – Três ou mais filhos 3.23±.09 3.44±.09 3.28±.17 [3.05, 3.41] [3.26, 3.61] [2.93, 3.62] n. s. Satisfação com a família 1 – Um filho 2 – Dois filhos 3– Três ou mais filhos 3.58±.09 3.57±.09 4.32±.18 [3.39, 3.76] [3.38, 3.75] [3.97, 4.68] 3>1>2 Atividades sociais 1 – Um filho 2 – Dois filhos 3 – Três ou mais filhos 2.47±.09 2.46±.09 2.75±.18 [2.29, 2.65] [2.29, 2.64] [2.40, 3.09] n. s.

Nota: ESSS= Escala de Satisfação com o Suporte Social; M= Média; DP= Desvio Padrão; IC= nível de

significância de 95%

Associação entre as dimensões do suporte social percebido e as dimensões da sintomatologia psicopatológica, médias e desvio padrão

Com o objetivo de analisar as associações entre o suporte social e a sintomatologia psicopatológica, foi realizada análise correlacional entre os instrumentos utilizados. Através da observação da tabela 3 é possível verificar a existência de correlações significativas entre as variáveis em estudo.

Analisando as dimensões do suporte social e a sintomatologia psicopatológica, constatam-se associações significativas negativas de magnitude pequena a elevada entre todas as variáveis (r = -.27, p<.01 a r = -.54, p<.01). Tal como seria esperado existe uma associação negativa e significativa entre a satisfação com os amigos e as variáveis de sintomatologia psicopatológica: somatização (r = -.37, p<.01), sensibilidade interpessoal (r = -.39, p<.01), depressão (r = -.45, p<.01), e ansiedade (r = -.32, p<.01). Pode observar-se que a intimidade e as variáveis de sintomatologia psicopatológica: somatização (r = -.39, p<.01), sensibilidade interpessoal (r = -.50, p<.01), depressão (r = -.54, p<.01), e ansiedade (r = -.40, p<.01). Quanto à satisfação com a família e as variáveis de sintomatologia psicopatológica: somatização (r = -.29, p<.01), sensibilidade interpessoal (r = -.33, p<.01), depressão (r = -.38, p<.01), e ansiedade (r = -.27, p<.01). Relativamente às atividades sociais e as variáveis de sintomatologia psicopatológica: somatização (r = -.37, p<.01), sensibilidade interpessoal (r = -.42, p<.01), depressão (r = -.43, p<.01), e

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ansiedade (r = -.36, p<.01). Assim, os resultados indicam uma correlação negativa entre todas as dimensões do suporte social e da sintomatologia psicopatológica, o que significa que quanto maior o suporte social, menor será a sintomatologia psicopatológica experienciada. Tabela 3

Associação entre as dimensões do suporte social percebido e as dimensões da sintomatologia psicopatológica, médias e desvio padrão (N=246)

Variáveis 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.

8. Satisfação com o suporte

social

1. Satisfação com os amigos 1

2. Intimidade .632** 1

3. Satisfação com a família .472** .370** 1

4. Atividades sociais .507** .559** .319** 1 Sintomas psicopatológicos 5. Somatização -.369** -.387** -.294** -.365** 1 6. Sensibilidade interpessoal -.386** -.503** -.326** -.424** .652** 1 7. Depressão -.449** -.541** -.381** -.426** .724** .859** 1 8. Ansiedade -.316** -.398** -.269** -.356** .817** .789** .831** 1 M 3.22 3.33 3.66 2.50 1.85 2.18 2.18 2.16 DP .89 .94 1.00 .94 .89 .99 .95 .91

Nota: M= Média; DP= Desvio Padrão; ** p< .01 * p< .05

Análises preditivas: Papel preditor do sexo e das dimensões do suporte social percebido na sintomatologia psicopatológica

Com vista à averiguação de quais as variáveis independentes que predizem a sintomatologia psicopatológica efetuaram-se regressões múltiplas hierárquicas, sendo que, para cada dimensão, foram introduzidos dois blocos. O bloco 1 diz respeito à variável sexo (dummy, em que 0 corresponde ao sexo feminino e 1 ao sexo masculino) e o bloco 2 correspondeu às dimensões do suporte social percebido, tal como observado na tabela 4.

No que se refere à somatização, o bloco 1 teve um contributo significativo [F(1,244)=7.407; p=.007] e explica 2.9% da variância total (R²=.029), contribuindo individualmente com 2.9% da variância para o modelo (R²change=.029). O bloco 2 teve um contributo significativo [F(5,240)=13.989; p=.000] e explica 22.6% da variância total (R²=.226), contribuindo individualmente com 19.6% da variância para o modelo (R²change=.196). Deste modo, analisando individualmente o contributo de cada uma das variáveis independentes dos blocos, verifica-se que duas variáveis apresentam uma contribuição significativa (p≤.05), e predizem negativamente a somatização, sendo

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apresentadas por ordem de importância: atividades sociais .16) e sexo feminino (β=-.14), enquanto variáveis preditoras da somatização.

No que consta à sensibilidade interpessoal, o bloco 1 teve um contributo significativo [F(1,244)=4.636; p=.032] e explica 1.9% da variância total (R²=.019), contribuindo individualmente com 1.9% da variância para o modelo (R²change=.019). O bloco 2 teve um contributo significativo [F(5,240)=21.107; p=.000] e explica 30.5% da variância total (R²=.305), contribuindo individualmente com 28.7% da variância para o modelo (R²change=.287). Deste modo, analisando individualmente o contributo de cada uma das variáveis independentes dos blocos, verifica-se que três variáveis apresentam uma contribuição significativa (p≤.05), e predizem negativamente a sensibilidade interpessoal, sendo apresentadas por ordem de importância: intimidade .33), atividades sociais (β=-.18), e satisfação com a família (β=-.14), enquanto variáveis preditoras da sensibilidade interpessoal.

No que se refere à depressão, o bloco 1 teve um contributo significativo [F(1,244)=6.941; p=.009] e explica 2.8% da variância total (R²=.028), contribuindo individualmente com 2.8% da variância para o modelo (R²change=.028). O bloco 2 também teve um contributo significativo [F(5,240)=27.072; p=.000] e explica 36.1% da variância total (R²=.361), contribuindo individualmente com 33.3% da variância para o modelo (R²change=.333). Deste modo, analisando individualmente o contributo de cada uma das variáveis independentes dos blocos, verifica-se que quatro variáveis apresentam uma contribuição significativa (p≤.05), e predizem negativamente a depressão, sendo apresentadas por ordem de importância: intimidade (β=-.34), satisfação com a família (β=-.18), atividades sociais (β=-.13) e sexo feminino (β=-.11), enquanto variáveis preditoras da depressão.

No que concerne à ansiedade, o bloco 1 teve um contributo significativo [F(1,244)=10.242; p=.002] e explica 4% da variância total (R²=.040), contribuindo individualmente com 4% da variância para o modelo (R²change=.040). O bloco 2 teve um contributo significativo [F(5,240)=13.623; p=.000] e explica 22.1% da variância total (R²=.221), contribuindo individualmente com 18.1% da variância para o modelo (R²change=.181). Deste modo, analisando individualmente o contributo de cada uma das variáveis independentes dos blocos, verifica-se que três variáveis apresentam uma contribuição significativa (p≤.05), e predizem negativamente a ansiedade, sendo apresentadas por ordem de importância: intimidade (β=-.23), atividades sociais (β=-.16) e sexo feminino (β=-.16), enquanto variáveis preditoras da ansiedade.

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Tabela 4

Análises preditivas: Papel preditor do sexo e das dimensões do suporte social percebido na sintomatologia psicopatológica R²Change Β S.E. β T P Somatização Bloco 1 Sexo (dummy) .029 .029 -.366 .156 -.135 -2.343 .020 Bloco 2 Suporte social .226 .196 Satisfação com os amigos Intimidade Satisfação com a família Atividades sociais -.153 .067 -.162 -2.289 .023 Sensibilidade interpessoal Bloco 1 Sexo (dummy) .019 .019 Bloco 2 Suporte social .305 .287 Satisfação com os amigos Intimidade -.351 .079 -.331 -4.418 .000 Satisfação com a família -.137 .061 -.138 -2.236 .026 Atividades sociais -.188 .070 -.178 -2.660 .008 Depressão Bloco 1 Sexo (dummy) .028 .028 -.322 .151 -.112 -2.137 .034 Bloco 2 Suporte social .361 .333 Satisfação com os amigos Intimidade -.342 .073 -.338 -4.704 .000 Satisfação com a família -.167 .056 -.176 -2.987 .009 Atividades sociais -.128 .065 -.128 -1.990 .048 Ansiedade Bloco 1 Sexo (dummy) .040 .040 -.437 .159 -.158 -2.741 .007 Bloco 2 Suporte social .221 .181 Satisfação com os amigos Intimidade Satisfação com a -.219 .077 -.225 -2.838 .005

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