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Características socioeconômicas da divisão sexual dos afazeres domésticos no Brasil

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Academic year: 2021

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XXI Encontro Nacional de Estudos Populacionais 22 a 28 de setembro de 2018, Poços de Caldas – MG

Características socioeconômicas da divisão sexual dos afazeres domésticos no Brasil

Paula Alves de Almeida1 Kaique Falcão Pires2

Resumo

Apesar de contínuos avanços no que se refere à participação das mulheres no mercado de trabalho no Brasil, há ainda alguns pontos de desigualdades, como a diferença salarial, a menor participação das mulheres nos cargos de chefia e a segmentação de ocupações. Dentre os muitos possíveis motivos apontados para esta desigualdade no mercado de trabalho remunerado, está a pesada carga das responsabilidades familiares que recai sobre as mulheres. Um desafio a ser enfrentado pela nossa sociedade é tentar promover esforços e mudanças para que os homens sintam-se igualmente responsáveis pelos afazeres domésticos e cuidados com filhos, idosos e a família, o que acabaria por interferir positivamente na maior inserção da mulher nas atividades consideradas produtivas. A partir de dados da PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, este artigo apresenta a comparação entre o tempo dedicado por homens e mulheres jovens, entre 20 e 34 anos, à realização de tarefas domésticas, em 2015, levando-se em consideração características socioeconômicas que poderiam interferir nessa divisão, diminuindo a desigualdade, como, por exemplo, o nível de escolaridade, a condição de ocupação, a renda, viver em companhia de cônjuge ou com a mãe no domicílio. Nossos resultados apontam algumas diferenças entre as horas dedicadas aos afazeres domésticos quando comparamos mulheres de diferentes categorias segundo essas variáveis citadas, porém as diferenças entre os homens é mínima, e de toda forma, em todas as categorias, de todos os aspectos analisados, as mulheres continuam realizando mais tarefas domésticas do que os homens.

Palavras-chave: Tarefas domésticas, Desigualdade de Gênero, Características

Socioeconômicas

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Doutoranda em População, Território e Estatísticas Públicas na Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE.

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Características socioeconômicas da divisão sexual dos afazeres domésticos no Brasil

Introdução

Por muito tempo a sociologia tratou os temas trabalho e família como esferas autônomas, sendo o conceito de trabalho restrito à remuneração, quase sempre exercido por homens (SORJ, 2013). Desta forma, não é possível desassociar o trabalho não remunerado do modo como se estabelecem as relações de gênero partindo da divisão sexual do trabalho (RAMOS, 2009). Na esfera privada, o papel da mulher foi definido pela capacidade de reprodução e na execução dos afazeres domésticos em contraponto ao homem provedor, exercendo papel dominante na esfera pública (MELO; CONSIDERA; SABBATO, 2007; RAMOS, 2009).

Para Sorj (2013):

[...] a externalização do cuidado do âmbito doméstico para a esfera pública [...] decorre de um processo de profundas mudanças nas concepções e práticas sociais de gênero [...] sob a liderança do ativismo e da crítica social feminista, observa-se, principalmente nas sociedades ocidentais, um enfraquecimento da visão tradicional que confina o cuidado apenas à esfera doméstica, particularmente às mulheres. Um novo discurso emerge e situa o cuidado no campo da política, das demandas legítimas por cidadania e bem-estar social (SORJ, 2013, p. 480).

Concordando com a análise de Sorj (2013), Melo, Considera e Sabbato (2007) observam que mesmo com maior participação no mercado de trabalho e aumento da escolaridade, as mulheres ainda não conseguiram se desvencilhar de “uma face voltada para o lar e a outra para a rua, num grande esforço de sobrevivência, num tempo de ruptura de um código milenar” (MELO; CONSIDERA; SABBATO, 2007, p. 436). Ou seja, observamos décadas de transformação do papel feminino, sem uma mudança substancial do papel masculino.

Os dados sobre a divisão sexual do trabalho doméstico mostram que, no Brasil, ainda se constrói a ideia de que o trabalho doméstico é uma função essencialmente feminina (SOARES, 2008). Nota-se que o crescimento da participação feminina no mercado de trabalho não acompanhou um aumento significativo da participação dos homens no trabalho doméstico. Além disso, a condição de mãe – à medida que esta é responsável pela criação do(s) filho(s) – é

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2 uma barreira que faz com que as mulheres entrem no mercado de trabalho em desvantagem em relação aos homens – tanto relacionada a salário quanto à posição que ocupa (SOARES, 2008; SORJ, 2013).

Novamente citando Sorj (2013):

[...] a análise do trabalho remunerado das mães comparativamente ao dos pais e de outras mulheres nos conduz a concluir que as soluções privadas dos conflitos entre trabalho e família refletem e reproduzem as diferenças e desigualdades de gênero no mercado de trabalho. Soluções privadas significam que as mães não estão disponíveis para integrar o mercado de trabalho em condições melhores, que lhes garantam mais autonomia e independência (SORJ, 2013).

É importante ressaltar que mesmo as mulheres dedicando menos tempo ao mercado formal que os homens, as horas somadas de trabalho formal e domiciliar é significativamente superior à dos homens (SOARES, 2008).

As pesquisas sobre o uso do tempo vem servindo de base para estudos sobre o padrão e a qualidade de vida da população e, em especial, em estudos de gênero, pois a forma como homens e mulheres utilizam seu tempo indica desigualdades de oportunidades, de condições e papeis sociais (HANY et al., 2010). É especialmente importante considerar todas as formas de trabalho, não somente aquelas consideradas econômicas, mas o trabalho não remunerado de afazeres domésticos e o trabalho voluntário. Atividades fundamentais para o processo de reprodução social, como o cuidado de filhos e idosos, não são consideradas como econômicas, nem valorizadas, e são especialmente realizadas pelas mulheres. (SOARES; SABOIA, 2007).

Segundo ÁVILA (2010) o tempo que se deixa de fazer tarefas domésticas é um tempo “ganho”, enquanto que o tempo dedicado a tais tarefas seria um tempo “perdido”. Pois aqueles que deixam de fazer tarefas domésticas enquanto outros fazem em seu lugar ganham horas de trabalho, pois não precisam usar seu próprio tempo em tarefas fundamentais às suas necessidades. Como os homens estão mais afastados do trabalho doméstico do que as mulheres, “há uma forma desigual de usufruir do tempo social determinada pelas relações sociais de sexo/gênero” (ÁVILA, 2010, p. 69). As mulheres normalmente usam o seu tempo que sobra do trabalho remunerado para as tarefas domésticas, diferentemente dos homens que

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3 normalmente usam o seu tempo que “sobra” em outros afazeres (outro trabalho remunerado, lazer, estudos, etc.), evidenciando o uso desigual do tempo.

Segundo Soares e Saboia (2007) fatores sociais, econômicos e demográficos produzem impactos na forma como as pessoas fazem uso do seu tempo. Especialmente mulheres com baixo rendimento, na falta de suporte público, como creches ou serviços adequados para atender o público idoso, por não poderem contratar tais serviços, acabam sendo sobrecarregadas, já que tanto o cuidado com crianças quanto dos idosos tradicionalmente se definiu como uma atividade feminina.

As mulheres sobrecarregadas pelo trabalho doméstico e cuidado com pessoas deixam de distribuir seu tempo com cuidados pessoais, atenção dispensada à própria saúde, incorporação de práticas saudáveis de alimentação e de exercícios físicos, opções de lazer, estudos, informação tecnológica, cultura, turismo, etc.

Segundo Sorj (2013), Soares (2008), Melo, Considera e Sabbato (2007), no Brasil, a divisão do trabalho doméstico é tanto uma questão de gênero quanto uma questão de classe social. Em 2006, segundo dados da PNAD, ainda que o total de horas de afazeres domésticos seja muito desfavorável à mulher, essa diferença é menor nos maiores quintis de renda. Nota-se ainda que independente de ser chefe de família, ou não, as mulheres dedicam muito mais horas aos afazeres domésticos que os homens (SOARES, 2008). Esse fato também é notado por Ramos (2009) que observa que mesmo em casais em que a esposa exerce trabalho remunerado não há um aumento substancial das horas dedicas aos afazeres domésticos pelos maridos.

É possível que muitas dessas mulheres das classes sociais mais altas tenham suas horas de afazeres domésticos compensados pela atuação de uma empregada doméstica. Geralmente, a prestação desse serviço é feita por mulheres pobres e de baixa escolaridade que, mal remuneradas, permitem a ausência da mulher/mãe/esposa do lar (MELO; CONSIDERA; SABBATO, 2007).

Ramos (2009) observa que essa desigualdade de dedicação ao trabalho doméstico entre homens e mulheres não é exclusividade de países em desenvolvimento. Ao analisar três pesquisas longitudinais – German SocioEconomic Panel, British Household Panel Study e US Panel Study of Income Dynamics –, a autora mostra que nesses países “[...] os homens aumentam de forma apenas

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4 residual, ainda que contínua, o seu tempo de trabalho doméstico, em resposta ao incremento da participação feminina no mercado de trabalho” (RAMOS, 2009, p. 866). A autora ainda apresenta outras pesquisas que apontam para uma redução da desigualdade de gênero nos afazeres domésticos, não por um aumento da participação masculina, mas por uma redução da participação feminina. E defende a importância de pesquisas sobre usos do tempo voltadas para medir a assimetria de gênero no Brasil, ainda que a PNAD contribua bastante para o tema (RAMOS, 2009).

A partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD 2015, selecionamos homens e mulheres jovens, para evitar diferenças geracionais, com idades entre 20 e 34 anos, que são pessoas tanto em idade fértil quanto em idade ativa. Escolhemos verificar a diferença entre a dedicação de homens e mulheres jovens ao trabalho doméstico não remunerado, pois pessoas mais velhas têm influências culturais e tradicionais diferentes de pessoas mais jovens. Segundo Soares e Saboia (2007), tanto os homens mais velhos (acima de 60 anos) quanto as mulheres se dedicam mais aos afazeres domésticos (a partir dos 50 anos de idade), por isso, preferimos excluir os grupos mais velhos da nossa análise. Por outro lado, Aguirre et al (2005, apud SOARES; SABOIA, 2007) constatou que na faixa em torno dos 30 anos, as diferenças entre as horas dedicadas a tarefas domésticas por homens e mulheres aumentam. Essa faixa de idade é crucial na relação entre família e trabalho, especialmente para as mulheres, pois nesta idade sua participação no mercado de trabalho se intensifica, além disso, grande parte das mulheres já está casada e tem filhos pequenos, já os homens nessa mesma faixa de idade se dedicam quase que exclusivamente ao mercado de trabalho.

Analisamos as perguntas feitas às pessoas de 10 anos ou mais de idade: 1) se cuidava dos afazeres domésticos na semana de referência; 2) número de horas que dedicava normalmente por semana aos afazeres domésticos. Para analisar a influência ou não de aspectos socioeconômicos à realização dos afazeres domésticos, selecionamos também variáveis como: Mãe mora no domicílio, Vive em companhia de cônjuge ou companheiro/a, Anos de estudo, Condição de ocupação no trabalho de referência, Renda domiciliar per capita e Rendimento mensal no trabalho principal.

Sabemos que essa faixa selecionada inclui os grupos etários quinquenais de mulheres que apresentam as maiores taxas específicas de fecundidade no Brasil:

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5 primeiramente as mulheres entre 20 e 24 anos, seguidas do grupo entre 25 e 29 anos. Também sabemos que no Brasil as mulheres são as principais responsáveis pelo cuidado com os filhos, os idosos, a família e os afazeres domésticos, o que acaba por interferir na inserção da mulher no mercado de trabalho remunerado.

Nosso objetivo é verificar se esses aspectos citados têm influência na dedicação de homens e mulheres ao trabalho doméstico, e se de alguma forma contribuem para a redução da desigualdade de gênero nos afazeres domésticos.

Métodos

Para atingir o objetivo principal do artigo, utilizamos como base de dados a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – PNAD, do ano de 2015, tendo sido selecionados apenas homens e mulheres entre 20 e 34 anos – para evitar conflitos geracionais. A população da pesquisa foi de 21.779.029 de homens e 22.062.901 de mulheres. Além da idade, as variáveis V9121 – cuidava dos afazeres domésticos na semana de referência e V9921 – número de horas que dedicava normalmente por semana aos afazeres domésticos foram utilizadas como filtro para selecionar a população.

As perguntas sobre afazeres domésticos são coletadas para as pessoas de 10 anos ou mais de idade, independentemente da condição de atividade e ocupação na semana de referência. Considera-se na PNAD afazeres domésticos a realização, no domicílio de residência, de tarefas (bastando a realização de apenas uma delas) de (SOARES; SABOIA, 2007):

• Arrumar ou limpar toda ou parte da moradia;

• Cozinhar ou preparar alimentos, passar roupa, lavar roupa ou louça, utilizando, ou não, aparelhos eletrodomésticos para executar estas tarefas para si ou para outro(s) morador(es);

• Orientar ou dirigir trabalhadores domésticos na execução das tarefas domésticas;

• Cuidar de filhos ou menores moradores; ou

• Limpar o quintal ou terreno que circunda a residência.

Foram selecionadas seis variáveis para identificar possíveis influências na quantidade de horas que homens e mulheres dedicam aos afazeres domésticos, são elas: V0406 – mãe mora no domicílio; V4111 – vive em companhia de cônjuge ou

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6 companheiro/a; V4803 – anos de estudo; V4805 – condição de ocupação no trabalho de referência; V4743 – renda domiciliar per capita; e, V4718 – rendimento mensal no trabalho principal. Todas as variáveis selecionadas foram cruzadas tanto com o sexo quanto com a quantidade de horas dedicas aos afazeres domésticos.

Nota-se que a variável V4111 – vive em companhia de cônjuge ou companheiro/a apresenta como categorias de resposta: (1) Sim, (2) Não, já viveu antes e (3) Não, nunca viveu. Para o presente trabalho foram utilizadas duas categorias: (1) Sim e (2+3) Não. Para a variável V4718 – rendimento mensal no trabalho principal as categorias Até ¼ salário mínimo e Mais de ¼ até ½ salário mínimo foi consolidada na categoria Até ½ salário mínimo. Já para a variável V4718 – rendimento mensal no trabalho principal, não há disponibilidade da informação por grupos de salário mínimos, tendo sido esses valores convertidos de acordo com o salário mínimo vigente em 2015 (R$ 788,00).

Resultados

A partir de dados da PNAD 2015, verificamos que, no Brasil, 54,5% dos homens com idade entre 20 e 34 anos declararam que realizaram algum tipo de tarefa doméstica na semana de referência da pesquisa, contra 95,8% das mulheres na mesma idade. As mulheres se dedicaram em média 22,6 horas semanais aos afazeres domésticos, já os homens na mesma idade dedicaram em média 9,8 horas semanais aos afazeres domésticos.

Além da média, podemos observar na tabela 1 que a grande maioria dos homens, quase 70%, dedicava até 10 horas semanais aos afazeres domésticos, enquanto que a maioria das mulheres, quase 75%, declararam que dedicaram mais de 10 horas, 30,3% de 11 a 20, e 44,4% mais de 20 horas semanais.

Tabela 1. Porcentagem de homens e mulheres por grupos de horas dedicadas aos afazeres domésticos, Brasil, 2015.

Horas 1-10 11-20 21-30 31-40 41-60 61+ Total

homens 69,3 23,3 5,9 1,0 0,4 0,1 100,0

mulheres 25,4 30,3 23,5 11,0 7,8 2,1 100,0

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7 Resolvemos pesquisar se a mãe do/a jovem mora no mesmo domicílio para analisar se a mãe acaba assumindo a responsabilidade com os afazeres domésticos que caberiam à pessoa, e se nesse caso, ela o faria tanto para os filhos homens quanto para as filhas mulheres. Na tabela 2 apresentamos a distribuição dos jovens por grupos etários quinquenais e pela resposta à pergunta se a mãe mora no domicilio. Percebemos que mais homens de todos os grupos etários têm a mãe morando no mesmo domicílio do que as mulheres.

Tabela 2. Porcentagem de homens e mulheres por grupos etários pela pergunta se a mãe mora no domicílio, Brasil, 2015.

Mãe mora no domicílio

20-24 anos 25-29 anos 30-34 anos Total

H M H M H M H M

Sim 65,6 54,3 43,7 33,0 28,9 21,7 46,6 36,2 Não 34,4 45,7 56,3 67,0 71,1 78,3 53,4 63,8 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: IBGE – PNAD 2015.

De todas as mulheres entre 20 e 34 anos, 63,8% não tinham a mãe morando no domicílio, em comparação a 53,4% dos homens nesta faixa etária. A partir do grupo 25-29 anos, a maioria tanto dos homens quanto das mulheres não tem a mãe morando no domicílio, sendo que a proporção de mulheres é maior do que a de homens.

Na tabela 3 apresentamos a distribuição de homens e mulheres pela resposta à pergunta se a mãe mora no domicilio e se realizou tarefas domésticas na semana de referência da pesquisa. Percebemos que ter a mãe morando no domicílio não significa que as mulheres se dedicam menos aos afazeres domésticos em relação aos homens. Dentre os homens cujas mães moram no domicílio, 38,8% cuidaram de afazeres domésticos enquanto 61,2% não cuidaram. E dentre os homens cujas mães não moravam no domicílio 69,1% realizavam tarefas domésticas e 30,9% não realizavam. Ou seja, os homens cujas mães não moravam no domicílio foram os que mais declararam realizar tarefas domésticas. Já entre as mulheres, quando a mãe morava no domicílio 76,9% se dedicava ao trabalho doméstico não remunerado e

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8 23,1% não se dedicava. Já dentre aquelas cujas mães não moravam no domicílio 95,2% realizavam tarefas domésticas e apenas 4,8% não realizavam. Em todos os casos, mais mulheres declararam ter realizado afazeres domésticos.

Tabela 3. Porcentagem de homens e mulheres pelas perguntas se a mãe mora no domicílio e se realizou afazeres domésticos, Brasil, 2015.

Mãe mora no domicílio

Cuidava de afazes domésticos na semana de referência

Sim Não

Homens Mulheres Homens Mulheres

Sim 38,8 76,9 61,2 23,1

Não 69,1 95,2 30,9 4,8

Fonte: IBGE – PNAD 2015.

Na tabela 4 a seguir, apresentamos a média de horas semanais dedicadas às tarefas domésticas por sexo e pelas respostas à pergunta se a mãe mora no mesmo domicílio. Percebemos que a média de horas dedicadas pelas mulheres é cerca de o dobro das dedicadas pelos homens, tanto no caso da mãe morar, quanto no caso da mãe não morar no domicílio. No caso dos homens, a diferença entre a mãe morar ou não é de menos de 2%, porém no caso das mulheres essa diferença é de quase 10%. Ou seja, para os homens faz pouca diferença, para as mulheres o fato da mãe morar no domicílio diminui a dedicação aos afazeres domésticos, pois provavelmente o trabalho de uma mulher é substituído por outra mulher, e de toda forma, as mulheres continuam se dedicando mais às tarefas domésticas do que os homens.

Tabela 4. Média de horas dedicadas por semana aos afazeres domésticos por sexo e pela pergunta se a mãe mora no domicílio, Brasil, 2015.

Mãe mora no domicilio Homens Mulheres

Sim 8,6 16,1

Não 10,3 25,3

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9 Outro aspecto que achamos importante analisar foi se o/a jovem vive em companhia de cônjuge ou companheiro/a, pois queríamos verificar se mulheres e homens casados ou em união estável realizavam mais ou menos tarefas domésticas do que os solteiros. Na tabela 5 apresentamos a média de horas semanais dedicadas ao trabalho doméstico por sexo e pela convivência ou não com companheiro/a ou cônjuge. Percebemos que nos dois casos as mulheres realizam bem mais tarefas domésticas do que os homens, sendo que para os homens não faz muita diferença viver ou não com cônjuge ou companheiro/a, enquanto que as mulheres que vivem em companhia dedicam cerca de 10 horas a mais por semana do que as mulheres que não vivem com companheiro/a ou cônjuge.

Tabela 5. Média de horas semanais dedicadas aos afazeres domésticos por sexo e pela pergunta se vive em companhia de cônjuge ou companheiro/a, Brasil, 2015.

Vive em companhia de cônjuge ou

companheiro/a Homens Mulheres

Sim 10,1 26,6

Não 9,5 16,7

Fonte: IBGE – PNAD 2015.

Apresentamos na tabela 6 a distribuição de homens e mulheres de 20 a 34 anos por grupos de horas dedicadas ao trabalho doméstico e pela resposta à pergunta se vive em companhia de cônjuge ou companheiro/a.

Tabela 6. Porcentagem de homens e mulheres por grupos de horas semanais de afazeres domésticos e se vive ou não com cônjuge ou companheiro/a, Brasil, 2015.

Horas 1-10 11-20 21-30 31-40 41-60 61+

Vive em companhia Homens

Sim 67,7 24,5 6,2 1,1 0,4 0,1

Não 70,9 22,1 5,7 0,9 0,3 0,0

Mulheres

Sim 15,1 28,4 28,1 14,7 10,8 3,0

Não 40,6 33,0 16,6 5,6 3,5 0,7

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10 Verificamos que a maioria dos homens realiza até 10 horas semanais de tarefas domésticas, caindo de 70,9% quando não vivem em companhia para 67,7% quando vivem, ou seja, uma diferença pequena. Já a maioria das mulheres que vivem acompanhadas se concentra nos grupos que dedicam de 11 a 30 horas semanais, enquanto que as que não vivem em companhia se concentram nos grupos de 1 a 10 e de 11 a 20 horas semanais, portanto, aquelas que vivem com companheiros/as ou cônjuges se dedicam mais às tarefas domésticas.

Outro aspecto analisado foi anos de estudo para verificarmos se com o aumento do nível educacional haveria queda da desigualdade entre homens e mulheres em relação aos cuidados com afazeres domésticos. Para tanto, apresentamos na tabela 7 a média de horas semanais dedicadas às tarefas domésticas por sexo e anos de estudo. Percebemos que em todas as categorias de escolaridade, as mulheres realizam mais do que o dobro, em média, de cuidados domésticos do que os homens.

Tabela 7. Média de horas dedicadas por semana às tarefas domésticas por sexo e anos de estudo, Brasil, 2015.

Anos de estudo Homens Mulheres

Sem instrução e menos de 1 ano 10,2 26,0

1 a 3 anos 10,2 27,8

4 a 7 anos 10,0 28,0

8 a 10 anos 10,1 26,1

11 a 14 anos 9,8 21,6

15 anos ou mais 8,8 16,6

Fonte: IBGE – PNAD 2015.

Analisamos também a distribuição de homens e mulheres por grupos de horas dedicadas aos afazeres domésticos e grupos de anos de estudo, cujos resultados apresentamos no gráfico 1. Percebemos que a maioria dos homens de todos os grupos de estudo dedica até 10 horas aos afazeres domésticos, e que a queda na proporção dos que realizam mais de 10 horas não é muito grande conforme aumenta o nível de escolaridade. Já a maioria das mulheres se encontra

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11 nos grupos que realizam de 11 a 20 ou 21 ou mais horas de tarefas domésticas semanalmente. Apenas as mulheres com 15 anos de estudo ou mais se concentram no grupo que realiza menos horas de tarefas domésticas, até 10 semanais.

Gráfico 1. Porcentagem de homens e mulheres por grupos de horas semanais dedicadas aos afazeres domésticos e anos de estudo, Brasil, 2015.

Fonte: IBGE – PNAD 2015.

Calculamos também a média de horas dedicadas por semana aos afazeres domésticos da população que se encontrava ocupada e desocupada por sexo. Conforme a tabela 8 a seguir, verificamos que as mulheres dedicam em média cerca do dobro do tempo do que os homens na mesma condição de ocupação. Ou seja, estar no mercado de trabalho remunerado não diminui a carga do trabalho doméstico para as mulheres em relação aos homens.

Tabela 8. Média de horas semanais dedicadas aos afazeres domésticos por sexo e condição de ocupação, Brasil, 2015.

Condição de ocupação Homens mulheres

Ocupado 9,4 18,8

Desocupado 11,7 25,0

Fonte: IBGE – PNAD 2015.

0% 20% 40% 60% 80% 100% Menos de 1 1 a 3 4 a 7 8 a 10 12 a 14 15 ou mais Menos de 1 1 a 3 4 a 7 8 a 10 12 a 14 15 ou mais H om en s M ul he re s 1-10 11-20 21 e mais an os d e es tu do

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12 Da mesma forma, apresentamos na tabela 9 as horas trabalhadas agrupadas pela condição de ocupação e por sexo e verificamos que a maioria dos homens realiza até 10 horas semanais de tarefas domésticas, caindo de 70,9 quando ocupados para 60,4 quando desocupados, porque há um aumento nos grupos que dedicam mais horas quando desocupados. Já a maioria das mulheres dedica de 11 a 20 horas semanais tanto ocupadas quanto desocupadas, e as porcentagens de mulheres que dedicam mais de 20 horas são bem mais altas que as de homens tanto no grupo de ocupadas quanto de desocupadas.

Tabela 9. Porcentagem de homens e mulheres por grupos de horas dedicadas aos afazeres domésticos e condição de ocupação, Brasil 2015.

Horas 1-10 11-20 21-30 31-40 41-60 61+ Total Homens Ocupado 70,9 22,7 5,3 0,7 0,3 0,0 100,0 Desocupado 60,4 27,9 8,6 2,0 1,0 0,2 100,0 Mulheres Ocupada 32,2 33,8 22,1 7,0 4,1 0,8 100,0 Desocupada 18,7 30,5 25,6 12,9 9,8 2,5 100,0

Fonte: IBGE – PNAD 2015.

Na tabela 10 e no gráfico 2, apresentamos outro aspecto estudado: a renda domiciliar per capita.

Percebemos pela tabela 10 que as mulheres de todos os grupos de renda realizam em média cerca do dobro de horas de tarefas domésticas semanalmente do que os homens na mesma faixa.

A partir dos dados apresentados no gráfico 2, percebemos que a maioria dos homens de todas as faixas de renda domiciliar per capita realizaram até 10 horas de afazeres domésticos por semana. Já entre as mulheres, nas duas primeiras faixas de renda, sem rendimento e até ½ salário mínimo, a maior parte delas dedicou 21 ou mais horas por semana, e a partir de 1 salário mínimo a maioria das mulheres dedicou até 10 horas semanais aos afazeres domésticos.

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13 Tabela 10. Média de horas semanais dedicadas às tarefas domésticas por

sexo e renda domiciliar per capita, Brasil 2015.

Renda domiciliar per capita Homens Mulheres

Sem rendimento 13,6 26,0

Até ½ salário mínimo 10,4 28,1

Mais de ½ até 1 salário mínimo 10,1 23,3

Mais de 1 até 2 salários mínimos 9,6 19,2

Mais de 2 até 3 salários mínimos 9,6 17,0

Mais de 3 até 5 salários mínimos 8,6 15,7

Mais de 5 salários mínimos 7,7 12,7

Fonte: IBGE – PNAD 2015.

Gráfico 2. Porcentagem de homens e mulheres por grupos de horas semanais dedicadas aos afazeres domésticos e renda domiciliar per capita, Brasil, 2015.

Fonte: IBGE – PNAD 2015.

0% 20% 40% 60% 80% 100% Sem rendimento Até ½ SM Mais de ½ até 1 SM Mais de 1 até 2 SM Mais de 2 até 3 SM Mais de 3 até 5 SM Mais de 5 SM Sem rendimento Até ½ SM Mais de ½ até 1 SM Mais de 1 até 2 SM Mais de 2 até 3 SM Mais de 3 até 5 SM Mais de 5 SM H om en s M ul he re s 1-10 11-20 21 e mais R en di m en to e m s al ár io s m ín im os

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14 Por fim, analisamos também as horas dedicadas aos afazeres domésticos por homens e mulheres jovens levando-se em consideração o rendimento no trabalho principal. A diferença é que essa variável indica o rendimento da própria pessoa, e não o rendimento domiciliar dividido pelos moradores, como acima, por isso, resolvemos analisá-la para verificar se a influência deste fator seria diferente do anterior. Percebemos que para os homens a diferença entre as horas dedicadas aos afazeres domésticos pelos diferentes grupos de rendimento é muito baixa. Já para as mulheres, além de se dedicarem mais do que o dobro de horas em relação aos homens em vários grupos, conforme o rendimento vai aumento, as horas trabalhadas vão reduzindo significativamente.

Tabela 11. Média de horas semanais dedicadas às tarefas domésticas por sexo e rendimento no trabalho principal, Brasil 2015.

Rendimento no trabalho principal Homens Mulheres

Sem rendimento 9,2 28,6

Até ½ salário mínimo 10,5 26,1

Mais de ½ até 1 salário mínimo 9,9 19,3

Mais de 1 até 2 salários mínimos 9,5 17,7

Mais de 2 até 3 salários mínimos 9,3 15,9

Mais de 3 até 5 salários mínimos 9,0 15,1

Mais de 5 salários mínimos 8,6 13,0

Fonte: IBGE – PNAD 2015.

Da mesma forma que fizemos em outros aspectos, apresentamos no gráfico 3, a distribuição percentual do jovens de 20 a 34 anos por sexo, horas dedicadas às tarefas domésticas semanalmente e a renda no trabalho principal.

Verificamos que para os homens não existe muita diferença na distribuição pelos grupos de horas dedicadas ao trabalho doméstico em relação ao rendimento no trabalho principal, a maioria dos homens de todos os grupos se dedica até 10 horas por semana a tais tarefas. No entanto, para as mulheres percebemos claramente que o grupo que trabalha mais de 21 horas vai diminuindo e o grupo que trabalha até 10 horas vai aumentando de acordo com o aumento do rendimento.

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15 Gráfico 3. Porcentagem de homens e mulheres por grupos de horas semanais

dedicadas aos afazeres domésticos e renda no trabalho principal, Brasil, 2015.

Fonte: IBGE – PNAD 2015.

A diferença entre a distribuição de mulheres pelos grupos de horas semanais de trabalho doméstico em relação aos grupos de renda é visivelmente maior do que a dos homens, por isso, calculamos o desvio padrão que foi de 0,6 para os homens e 5,8 para as mulheres. Possivelmente as mulheres com rendas mais altas conseguem contratar algum serviço que a substitua nos afazeres domésticos. As horas dedicadas por elas ao trabalho doméstico não diminuem por que os homens passam a realizar tais tarefas, mas muito provavelmente o seu trabalho é substituído pelo trabalho de outras mulheres. Já as mulheres de rendas mais baixas precisam acumular o trabalho remunerado e as responsabilidades familiares.

Considerações

Mesmo considerando todos os aspectos analisados, verificamos que a desigualdade na divisão das tarefas domésticas entre homens e mulheres persiste. Percebemos que todas as características apresentadas têm alguma influência nas horas dedicadas de homens e mulheres aos afazeres domésticos se comparados entre os homens ou entre as mulheres. No entanto, quando comparamos homens

0% 20% 40% 60% 80% 100% Sem rendimento Até ½ SM Mais de ½ até 1 SM Mais de 1 até 2 SM Mais de 2 até 3 SM Mais de 3 até 5 SM Mais de 5 SM Sem rendimento Até ½ SM Mais de ½ até 1 SM Mais de 1 até 2 SM Mais de 2 até 3 SM Mais de 3 até 5 SM Mais de 5 SM H om en s M ul he re s 1-10 11-20 21 e mais R en di m en to e m s al ár io s m ín im os

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16 com mulheres, percebemos que elas dedicam em média cerca de o dobro de horas semanais às tarefas domésticas do que eles, seja no total de pessoas entre 20 e 34 anos, seja entre os ocupados e desocupados, seja em todos os grupos de anos de estudo ou entre todos os grupos de renda. Ou seja, nenhum dos aspectos estudados influencia a divisão dos afazeres domésticos por gênero ou reduz a desigualdade nesta área.

Quando há queda na diferença entre as horas dedicadas aos afazeres domésticos por homens e mulheres, por conta do aumento nos anos de estudo, na renda domiciliar per capita ou no rendimento no trabalho de referência, por exemplo, isso não se deve ao fato dos homens passarem a realizar mais tarefas, mas ao fato das mulheres passarem a realizar menos. Não são os homens que substituem as mulheres nas responsabilidades familiares, elas encontram outras soluções. Possivelmente com uma renda mais alta, as mulheres passam a contratar os serviços realizados por outras mulheres.

A persistência do reconhecimento das atividades domésticas e do cuidado de pessoas como atividades femininas se deve a um conjunto de valores culturais e sociais ancorados em costumes e convenções difíceis de serem transformadas, que mantém uma divisão tradicional de papeis femininos e masculinos seja no âmbito familiar ou no mercado de trabalho remunerado.

Enquanto isso, as mulheres continuam sobrecarregadas pela sua, cada vez mais expressiva, participação no mercado de trabalho remunerado, pelo trabalho doméstico, pelas responsabilidades familiares, como cuidado de pessoas idosas, enfermas e crianças, e deixam de usufruir de um tempo que lhes sobraria, não fossem tais atividades, para usar com cuidados pessoais, prática de exercícios físicos, lazer, estudos ou formação profissional, informação tecnológica, cultura, turismo, maior dedicação ao trabalho remunerado, e assim, perdem espaço nas chamadas atividades produtivas e qualidade de vida.

Referências

ÁVILA, M. B. Divisões e tensões em torno do tempo do trabalho doméstico no cotidiano. Brasil. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Revista do

Observatório Brasil da Igualdade de Gênero. Brasília: Secretaria Especial de

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17 HANY, F.; CAVALCANTI, L.; HYPOLITO, E.; PAULO, M. A pesquisa piloto de uso do tempo do IBGE 2009/2010. Brasil. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Revista do Observatório Brasil da Igualdade de Gênero. Brasília: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, 2010.

IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD 2015.

MELO, H. P.; CONSIDERA, C. M.; SABBATO, A. Os afazeres domésticos contam.

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SOARES, C.; SABOIA, A. L. Tempo, trabalho e afazeres domésticos: um estudo com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2001 e 2005. Textos para discussão, número 21. IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais. Rio de Janeiro, 2007

SORJ, B. Arenas de cuidados nas interseções entre gênero e classe social no Brasil.

Referências

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