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O Processo de Ensino-Aprendizagem na Guarda Municipal de Campinas

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Academic year: 2021

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Marilza Alves Rodriguesa*

Resumo

Este estudo teve como objetivos analisar o processo de ensino-aprendizagem praticado na Guarda Municipal de Campinas (GMC), identificando quais são as metodologias de ensino utilizadas na instituição, e ainda investigar se o conteúdo, a carga horária e o corpo docente estão de acordo com as aspirações dos capacitandos e também se estão de acordo com a necessidade imposta pela sociedade atual que cada vez mais exige agentes bem treinados e que pautem suas ações com base no respeito aos direitos humanos. Através da análise das ações formativas realizadas anteriormente na Guarda Municipal de Campinas pretende-se apresentar neste artigo propostas para o aperfeiçoamento dos cursos de formação que serão realizados no futuro e essa análise se deu através da pesquisa bibliográfica e da realização de entrevistas com profissionais que fazem parte da instituição. O estudo realizado é de natureza empírica e caracteriza-se como sendo uma pesquisa de campo aplicada com base qualitativa e tem como objetivo gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos ao aperfeiçoamento das ações formativas praticadas na GMC.

Palavras-chave: Guarda Municipal. Ensino-Aprendizagem. Formação. Abstract

This study aimed to analyze the process of teaching and learning practiced in the Municipal Guard of Campinas (GMC), identifying which are the teaching methods used at our institution and also investigate whether the content, workload and faculty are in agreement with the aspirations of being able and also agreeing with the necessity imposed by the current society that increasingly demands well-trained agents and costumer actions based on respect for human rights. Through the analysis of training activities previously performed in Campinas Municipal Guard, it is intended to present in this paper proposals for the improvement of training courses which will be conducted in the future and this analysis was done through literature review and interviews with professionals from the institution. The study is empirical in nature and is characterized as a applied research field with qualitative basis and aims to generate knowledge for practical application, aimed at improving the training actions taken accomplished in GMC.

Keywords: Municipal Guard (Municipal Police). Teaching and Learning. Training.

O Processo de Ensino-Aprendizagem na Guarda Municipal de Campinas

Teaching-Learning Process in Campinas Municipal Guard

aFaculdade Anhanguera de Campinas, SP, Brasil

*E-mail: marilzaarodrigues@hotmail.com

1 Introdução

As Guardas Municipais (GM) são instituições de segurança pública, subordinadas aos prefeitos municipais. São caracterizadas por serem civis, uniformizadas, e por portarem armamentos letais e não letais. A partir da promulgação da Constituição Federal 1988, no seu artigo 144 parágrafo 8º, os administradores municipais foram autorizados a criar as suas Guardas Municipais. Porém, alguns prefeitos corajosamente e atendendo à aspiração dos seus munícipes, antes mesmo dessa data, criaram as suas Guardas, como ocorreu em São Paulo, quando o então Prefeito, Jânio Quadros, instituiu a Guarda Civil Metropolitana (GCM), no ano de 1986, tateando sobre decretos-leis federais daquela época. Embora a CF no artigo 144 parágrafo 8º faça menção a uma lei que deveria regulamentar a atuação das GM, passaram-se mais de 20 anos e o fato é que tal lei não foi editada. Assim coube aos municípios, através das suas câmaras de vereadores e dos seus prefeitos legislarem sobre a atuação das suas forças de segurança local em complemento ao texto constitucional. No entanto é incontestável que tal lacuna legislativa tem causado

diferenças significativas em questões relacionadas à atuação, à formação e ao treinamento das GM do país.

A Guarda Municipal de Campinas foi criada por força de lei no ano de 1991, no entanto, foi efetivamente implantada em 1997, com a formatura da primeira turma, no dia 14 de julho daquele ano, com 200 integrantes. No entanto para possibilitar tal feito houve a necessidade de realizar o treinamento desses agentes preparando-os para o exercício das suas funções de policiamento. Assim instituiu-se a Academia Preparatória de Guardas Municipais de Campinas em abril de 1997 com o objetivo de ministrar cursos de formação e de reciclagem de Guardas Municipais, dentre outros. Portanto propõe-se, através dessa investigação, analisar o processo de ensino-aprendizagem das GM a partir de uma pesquisa de campo realizada na instituição Guarda Municipal de Campinas (GMC).

A GMC está inserida no contexto da segurança pública atuando diretamente na esfera municipal. Vários são os paradigmas que necessitam ser mudados no que concerne à segurança pública brasileira, em todas as esferas, no entanto este estudo se limitou a analisar a formação e capacitação

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oferecida aos integrantes da GMC. Os desafios são inúmeros uma vez que se trata de um tema que ainda não foi explorado em estudos científicos anteriores. No entanto esta pesquisa fez uma análise da metodologia utilizada atualmente visando apresentar alternativas de mudanças com a finalidade de aprimorar tal metodologia. As questões a serem respondidas eram: a metodologia de ensino utilizada e as disciplinas ministradas nos cursos de formação e capacitação na GMC atualmente são as mais adequadas? Quais mudanças podem ser implementadas com o intuito de tornar o ensino compatível com as aspirações e necessidades da sociedade moderna, principalmente no que concerne ao respeito aos direitos humanos? Por que o processo de ensino-aprendizagem ainda não é valorizado e reconhecido por parte dos integrantes da própria corporação?

Com base nos cursos de formação realizados em 2010 e 2011, fez-se uma análise da carga horária, da metodologia utilizada, do corpo docente, do material didático, da estrutura física, da logística, da equipe acadêmica (de apoio, administrativa, pedagógica, disciplinar) e das disciplinas ministradas. A partir desse estudo foi possível mensurar quais foram os avanços e os retrocessos ocorridos em uma análise comparativa com os primeiros processos formativos ocorridos desde a implantação da GMC que ocorreu no ano de 1997. As principais hipóteses que foram levantadas estavam relacionadas a um avanço qualitativo ocorrido após a implantação da Matriz Curricular Nacional para Guardas Municipais editada em 2005. E ainda pretendia-se analisar se a utilização do corpo docente composto, em sua maioria, por integrantes da própria corporação possibilitou a oferta de um ensino mais próximo da necessidade do formando, uma vez que esses profissionais já vivenciaram as situações as quais os treinandos seriam preparados para enfrentar.

Os objetivos deste estudo foram a análise do processo de ensino-aprendizagem praticado na Guarda Municipal de Campinas (GMC), identificando quais são as metodologias de ensino utilizadas na instituição, e ainda investigar se o conteúdo, a carga horária e o corpo docente estão de acordo com as aspirações dos capacitandos e também se estão de acordo com a necessidade imposta pela sociedade atual que cada vez mais exige agentes bem treinados e que pautem suas ações com base no respeito aos direitos humanos.

Sem dúvida, as instituições de segurança pública do País são carentes em estudos científicos que possam servir como ferramentas para o aprimoramento dessas instituições. Em âmbito municipal essa necessidade é ainda maior, uma vez que, não é raro observar que as Guardas Municipais são ignoradas pelos estudiosos da temática. Daí a importância deste estudo que traz ao mesmo tempo uma discussão inédita e uma análise criteriosa do processo de ensino-aprendizagem oferecido pela instituição Guarda Municipal de Campinas (GMC) com o objetivo de municiá-la (bem como a outras instituições que se interessarem pela pesquisa) com informações que podem ser úteis para o aprimoramento das suas ações formativas,

o que culminará em oferecer um serviço mais qualificado à sociedade campineira.

2 Material e Métodos

Através da análise das ações formativas realizadas anteriormente na Guarda Municipal de Campinas pretende-se aprepretende-sentar neste artigo propostas para o aperfeiçoamento dos cursos de formação que serão realizados no futuro e essa análise se deu através da pesquisa bibliográfica e da realização de entrevistas com profissionais que fazem parte da instituição, alguns deles participaram da criação de metodologias educativas direcionadas aos integrantes da GMC.

O estudo realizado foi de natureza empírica e caracterizou-se como caracterizou-sendo uma pesquisa de campo aplicada com bacaracterizou-se qualitativa e teve como objetivo gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos ao aperfeiçoamento das ações formativas praticadas na GMC.

Para desenvolver essa investigação foram coletadas informações a partir dos seguintes instrumentos:

- Análise documental da carga horária, da metodologia utilizada, do corpo docente, do material didático, da estrutura física, da logística, da equipe acadêmica (de apoio, administrativa, pedagógica, disciplinar) e das disciplinas ministradas nos cursos realizados em 2010 e 2011 visando mensurar quais foram os avanços e os retrocessos ocorridos em uma análise comparativa com os primeiros processos formativos ocorridos desde a implantação da GMC que ocorreu no ano de 1997.

- Entrevistas com dez profissionais que fazem parte da instituição, nove deles são do sexo masculino e uma do sexo feminino. Trata-se de um grupo heterogêneo e que participou de cursos de formações em diversas turmas diferentes sendo três da primeira (1997), um da segunda (1997), dois da terceira (1998), um da quinta (2000), um da oitava (2004) e dois da décima primeira turma (2011). Quanto às funções que esses profissionais exercem na instituição também são variadas sendo que três deles possuem graduação de Inspetor e um deles de Casse Distinta e exercem cargos de comando, dois são Guardas Municipais de Classe Especial e podem exercer a função de chefe de equipe, um é Guarda Municipal de Primeira Classe, um é Guarda Municipal de Segunda Classe e dois são Guardas Municipais de Terceira Classe, esses últimos exercem funções de patrulhamento em equipes variadas. As entrevistas tiveram como foco a investigação das percepções que esses profissionais têm a respeito de vários aspectos dessa formação e foram realizadas através de um questionário contendo dez questões semiestruturadas.

3 Resultados e Discussão 3.1 Revisão da literatura

3.1.1 A Guarda Municipal de Campinas e o processo de ensino-aprendizagem

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através da Lei Municipal nº 6.407 de junho de 1991, porém foi efetivamente implantada a partir da formação da sua primeira turma, com duzentos integrantes, que ocorreu no dia 14 de julho de 1997 em uma solenidade realizada na Praça Ulisses Guimarães.

De acordo com Magalhães (2000, p.117):

[...] somente, em 14 de julho de 1997, conseguimos ver, de fato, implantada, efetivamente, a Guarda Municipal de Campinas. Referida milícia cívica policial foi, racionalmente, organizada e constituída por elementos todos concursados e cuidadosamente treinados e instruídos [...].

Atualmente a instituição está prestes a completar dezessete anos de existência e o seu efetivo é de aproximadamente setecentos integrantes. A última turma a se formar foi a 11ª o que ocorreu no ano de 2011 com cinquenta e um formandos.

No decorrer de sua história, a GMC tem realizado o trabalho de policiamento ostensivo-preventivo nas ruas, praças, postos de saúde, nas escolas e também presta auxílio às demais secretarias e órgãos do município, além de cooperar com as demais instituições policiais.

Trata-se de uma corporação com enorme potencial para atuar junto à sociedade campineira, porém há que se destacar a deficiência no número do seu efetivo que é muito aquém do necessário considerando que a população do município é de mais de um milhão de habitantes.

Porém, para que fosse possível a realização desse trabalho houve a necessidade de proporcionar a capacitação dos GMs. Para tanto se criou a Academia Preparatória de Guarda Municipal de Campinas, através do Decreto nº 12.511 de 02 de abril de 1997, subordinada a Secretaria de Cooperação nos Assuntos de Segurança Pública (criada através da Lei nº 8824 de 30 de abril de 1996).

Pois como afirma Ventris (2007, p. 28), “o Guarda Municipal não é um profissional que se encontra pronto no mercado [...] deve ser selecionado mediante concurso e devidamente capacitado através de cursos de capacitação, treinamentos periódicos para aprimoramento”.

3.1.1.1 A matriz curricular nacional para guardas municipais

O governo federal através da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), a partir do ano 2000, começou a investir na formação e capacitação dos agentes de segurança pública. Para tanto lançou no ano de 2004-2005 a Matriz Curricular para Guardas Municipais com o objetivo de se tornar referência e guia para as ações formativas das Guardas Municipais de todo o país, e assim possibilitar a criação de padrões mínimos de treinamento e atuação dessas corporações.

A matriz enfatiza que as Guardas Municipais devem ter como princípio a atuação preventiva baseada em conceitos de cidadania, respeito aos direitos humanos, confiança e compromisso com a paz. Ela traz uma grade curricular em que consta uma lista de disciplinas, divididas em seis módulos, que devem fazer parte da formação das corporações de

policiamento em âmbito municipal.

Sem dúvida a matriz constituiu um marco nas ações formativas das GMs, uma vez que até aquele momento a formação e capacitação não tinham uma diretriz a seguir e, portanto, dependiam da visão dos gestores para a criação das suas grades curriculares.

No entanto, cabe ressaltar que ainda falta uma lei, em âmbito nacional, que estipule a obrigatoriedade, o tipo de curso, grade curricular e carga horária para se formar um Guarda Municipal e que defina quais são as competências das GMs (hoje o documento oficial ao qual se recorre para compreender quais são as competências e atividades desenvolvidas pelas GMs é o Código Brasileiro de Ocupações – CBO - 5172).

Como afirma Ventris, há municípios que formam seus GMs em semanas, outros ministram cursos de até três meses e outros apresentam cursos mais abrangentes, no entanto ainda é possível encontrar corporações que nunca proporcionaram nenhum tipo de treinamento aos seus agentes. (VENTRIS. 2007, p. 28).

3.1.1.2 Os curso de formação na Guarda Municipal de Campinas

Iniciou-se em abril de 1997 o curso de formação para os duzentos agentes que comporiam a primeira turma da GMC denominado “Curso de Formação Técnico Profissional para Guardas Municipais” com a seguinte grade curricular:

Quadro 1: Grade Curricular Curso de Formação Técnico Profissional para Guardas Municipais- 1997

Componentes Curriculares Horas/Aula

Preparação Policial Básica 28

Pronto Socorrismo 40

Armamento e Tiro Defensivo 12

Ética Profissional 20 Língua portuguesa 28 Atividades Policiais 16 Educação Física 12 Meio Ambiente 20 Prevenção de Incêndios 28 Organização Policial 16

Noções Gerais de Direito 32

Geografia Urbana 8

Direção Defensiva 12

Defesa Pessoal 12

Total de horas das aulas teóricas 124 Total de horas de aulas práticas 172

Total geral de horas 296

Fonte: Academia Preparatória de Guardas Municipais de Campinas.

O corpo docente foi formado por onze servidores de diversas áreas: Serviço de Atendimento Móvel de Urgência de Campinas (SAMU), Empresa Municipal de Desenvolvimento

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de Campinas (EMDEC), Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S/A (SANASA), Delegados da Polícia Civil, e outros servidores da Prefeitura Municipal de Campinas, sem ônus para o Município (MAGALHÃES. 2000).

Para efeito de comparação segue abaixo da grade curricular dos cursos de formação realizados em 2010 e 2011 ministrados às duas últimas turmas da GMC (10ª e 11ª):

Quadro 2: Grade Curricular Curso de Formação Técnico Profissional para Guardas Municipais- 2010-2011

Componentes Curriculares Horas/Aula

A GM de Campinas 8 Civismo 10 Comunicação 24 Condicionamento Físico 60 Conduta Profissional 20 Defesa Civil 12 Defesa Pessoal 36 Direitos Humanos 4

Elementos do Direito Administrativo 16

Elementos do Direito Civil 4

Elementos do Direito Constitucional 16

Elementos do Direito Penal 24

Elementos do Direito Processual Penal 8

Geografia da Cidade 16

Guardas Municipais 8

Habilitação ao Uso do Gás de Pimenta 8

Mediação de Conflitos 8

Meio Ambiente 20

Ordem Unida 30

Português Aplicado 16

Prevenção e Combate a Incêndios 12

Primeiros Socorros 16

Sistema de Justiça Criminal e Segurança

Pública 16

Técnicas Operacionais 48

Trânsito/Dir. Defensiva 12

Trânsito/Dir. Defensiva 12

Desenvolvimentos de Competências 8 Estatuto da Criança e do Adolescente 4

Introdução ao Direito 2

Prevenção ao Uso de Drogas 4

Projeto Iluminar e Violência à Mulher 8 Projetos Sociais da GM de Campinas 2

Psicologia Aplicada à GM 4

Total de horas das aulas teóricas 564 Total de horas de estágio supervisionado 48

Total 612

Fonte: Academia Preparatória de Guardas Municipais de Campinas.

O corpo docente foi formado em sua grande maioria por Guardas Municipais de Campinas, foram 15 agentes

com formação em diversas áreas, (além de outros GM que ministraram palestras). Também participaram como docentes servidores do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência de Campinas (SAMU), Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (EMDEC), Defesa Civil, Conselho Tutelar, Escola de Governo e Desenvolvimento do Servidor (EGDS), Projeto Iluminar Campinas (presta atendimento às vítimas de violência sexual), dentre outros, e assim como os demais cursos de formação anteriores a docência foi exercida sem ônus para o Município.

Os cursos de formação e capacitação na GMC evoluíram gradativamente no decorrer da sua história acompanhando as mudanças naturais ocorridas na sociedade e passou por alterações significativas a partir da divulgação da Matriz Curricular da SENASP (2004-2005).

Porém cabe ressaltar que se faz necessário refletir sobre o investimento por parte das instituições no que se refere ao corpo docente responsável por capacitar os agentes de segurança pública, pois como afirma Ventriz (2007, p.28-29):

[...] são muito difíceis aquelas que buscam profissionais qualificados e com experiência no cotidiano da administração pública e das Guardas Municipais, conhecedores da filosofia de trabalho destas instituições para que ministrem cursos para seus efetivos. A maioria busca profissionais de outras áreas (...) para ministrarem cursos ou palestras para seus efetivos, preferencialmente sem custos, sem se importar se estes profissionais conhecem a missão, filosofia de trabalho ou doutrina da instituição Guarda Municipal [...].

No entanto há que salientar que os processos formativos ocorridos na GMC atenderam as necessidades dentro das limitações impostas pelo meio em cada momento histórico em que ocorreram e não é objetivo deste estudo tecer críticas quanto ao que ocorreu no passado e sim, a partir da análise das experiências anteriores, apresentar sugestões para o aprimoramento das ações futuras.

3.2 Pesquisa de campo

A pesquisa de campo, realizada neste artigo através da observação e de entrevista, visou compreender qual a percepção dos integrantes da corporação acerca do processo de ensino-aprendizagem praticado na Guarda Municipal de Campinas considerando o perfil heterogêneo desses profissionais, ao mesmo tempo em que oportuniza a avaliação do processo pedagógico praticado na instituição e abre a oportunidade para receber sugestões para o aprimoramento desse processo.

A seguir far-se-á uma análise das respostas dos entrevistados:

A primeira pergunta refere-se à metodologia de ensino praticada nos dois últimos cursos de formação (2010 e 2011) realizados na GMC. Convidados a opinar se considera a metodologia adequada, 70% dos entrevistados consideram adequada, como pontuou um deles “acredito que esteja adequada, pois tenho visto que eles têm saído da academia mais preparados para a rua”. O restante dos entrevistados

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(30% deles) considera parcialmente adequada e a justificativa apresentada diz respeito à necessidade de aproximar à teoria à prática com mais atividades de simulações da realidade que será enfrentada pelo profissional. Como disse um dos entrevistados “entendo que deva haver mais ênfase à parte prática, ou seja mais atividades que mostrem a aplicação da parte teórica à parte prática”.

Na segunda pergunta foi solicitado que os entrevistados opinassem se as disciplinas ministradas atendem as necessidades dos formandos no sentido de prepará-los para a sua atuação futura. Cerca de 50% consideram que atendem e que é possível verificar através do “empenho, iniciativa, conhecimento nas diversas áreas de atuação entre Guardas de outras turmas formadas e as mencionadas acima”, e também porque são poucas Guardas no País que tem uma quantidade ampla de matérias que ministramos, disseram os entrevistados. A outra metade dos entrevistados (50%) disse que atendem parcialmente uma vez que segundo eles há a necessidade de acrescentar outras disciplinas tais como gramática e ortografia corporativa.

Vejo que deveríamos trazer também aos alunos matérias práticas que simulem situações reais vividas no dia-a-dia do serviço, como por exemplo, preservação do local de crime, rotinas e procedimentos em apresentação de ocorrências no DP/Fórum, etc. (ENTREVISTADO Nº 3)

A terceira pergunta diz respeito à carga horária de aproximadamente 650 horas-aula ministradas no curso e os entrevistados foram convidados a opinar se tal carga horária é suficiente para formar um Guarda Municipal para o exercício das suas funções e 60% responderam que consideram suficiente, no entanto apontam para a necessidade de tornar a formação um processo contínuo. Como disse um deles, “um tempo maior dedicado ao aprendizado nunca é perdido, mas 650 horas-aula tem atendido as necessidades, o que não pode deixar de acontecer é a continuidade do processo de formação”. Por outro lado 40%, consideram insuficiente, e a justificativa é que devido à complexidade do exercício da função de Guarda Municipal há a necessidade de ampliar a carga horária para a aquisição de novos

conhecimentos e

que pode melhorar com mais aulas de defesa pessoal

e outras disciplinas.

Sabemos que em algumas matérias ex. “Armamento, Munição e Tiro”, cabe a cada indivíduo exercitar constantemente e sempre se aperfeiçoando de acordo com a evolução, durante toda sua carreira. Porém deve ser revisto a carga horária para cada matéria, porque o exercício constante leva à perfeição, e em algumas ações não nos é permitido errar depois de formados, devemos aumentar as horas-aula. (ENTREVISTADO Nº 2)

Quando perguntado sobre o corpo docente ser composto em sua grande maioria por Guardas Municipais de Campinas 50% disseram que é algo positivo uma vez que esses profissionais além de terem o conhecimento teórico possuem o conhecimento prático da realidade que os formandos irão enfrentar, e ainda segundo eles há na corporação “profissionais extremamente capacitados e esta é uma maneira de

valorizá-los, cabendo a eles, no entanto a busca constante pelo aperfeiçoamento e a busca de pontos de vistas diferentes”.

A realidade, necessidade e vivência da Guarda só integrantes da guarda entende, devemos ter um quadro total do corpo docente de GM, informações de outras instituições será válido palestras para enriquecimento e não formação. (ENTREVISTADO Nº 2) Os outros 50% disseram que o corpo docente deve ser mesclado para que haja uma troca de conhecimento e afirmam que isso é algo positivo para a formação dos novos GM.

Devem ser mesclados, pois em outras instituições possuem agentes tanto quanto ou mais capacitados que nossos Guardas, temos um nível excelente de profissionais que ministram instruções, mas a troca de experiências enriquece as instruções. (ENTREVISTADO Nº 9)

Quando questionados se o material didático empregado no curso atende as necessidades dos formandos 70% afirmaram que sim, como disse um entrevistado “não só atende como é necessário esse material de apoio”, no entanto 30% disseram que atende parcialmente e as críticas ficam por conta da estrutura do material “pois a má qualidade no material didático dificulta um bom entendimento ex: deveriam ser todas coloridas quando possuírem figuras ou ilustrações”, afirmou um dos arguidos.

Questionados se a estrutura física da Academia Preparatória de Guardas Municipais de Campinas (salas de aula, vestiários, refeitório, e outros) atende as necessidades dos formandos, 20% acreditam que atende, enquanto 50% disseram que atende parcialmente e a falta de estande de tiro bem como espaço para a realização de atividades práticas foram apontados como uma deficiência na estrutura, como afirmou um deles, “a parte física da academia, apesar dos esforços dos guardas envolvidos, ainda é pequeno, faltam mais salas de aula para poder dividir o grupo em células menores facilitando o aprendizado”. Os outros 30% afirmaram que não atende como disse um entrevistado “as salas são muito quentes e o ar-condicionado não consegue manter a temperatura agradável. As cadeiras são desconfortáveis e o apoio de mão cai a todo o momento. Os banheiros são distantes e necessitam de reparos”. É possível visualizar melhor essas informações no gráfico abaixo: Gráfico 1: Estrutura física da Academia Preparatória de Guardas Municipais de Campinas

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Quanto à equipe de profissionais que prestam serviço à Academia (apoio, administrativa, disciplinar, pedagógica, logística) foi perguntado se tal equipe atende as necessidades dos formandos e 90% disseram que atende demonstrando que a grande maioria reconhece os esforços da equipe em prestar um trabalho de qualidade apesar de algumas limitações como afirmou um dos entrevistados “o número reduzido de pessoas e também as condições oferecida para a realização do trabalho, fazem além do que deveriam fazer”. Ao passo que 10% acreditam que não atende. De acordo com um entrevistado “é necessário composição/adequação da equipe de colaboradores”. A oitava questão foi composta por uma pergunta aberta: comparando os dois últimos cursos de formação (10ª e 11ª turmas) com os primeiros cursos realizados, em sua opinião, o que mais evoluiu e o que ainda precisa melhorar?

Todos os entrevistados concordaram que a evolução é muito significativa e que ocorreu principalmente nas matérias ministradas, na organização do curso, na capacitação dos docentes, no comprometimento e na preocupação com a formação dos futuros GM.

A preocupação com a formação deste profissional ficou muito evidente nesses cursos, bem diferente dos outros a que tive oportunidade de acompanhar, a impressão que tinha era de que tinha que colocar homens e mulheres na rua a qualquer custo, hoje não a preocupação com esses profissionais ficou bem evidente. (ENTREVISTADO Nº 5)

Dentre os itens que ainda precisam melhorar destacaram-se dar mais ênfadestacaram-se a prática e menos a teoria, valorização da profissão e melhorias na infraestrutura.

É gritante a evolução e motivação do corpo docente, devido a preocupação com o nível de informações que já são de domínio público e consequentemente dos acadêmicos interessados ao acesso à Guarda Municipal de Campinas. Quanto às melhorias, deixo por conta da infraestrutura. (ENTREVISTADO Nº 6) Perguntados sobre quais são as principais mudanças que precisam ser realizadas para tornar o curso de formação

da GMC mais compatível com os anseios da sociedade atual, 20% responderam que deve haver mais horas-aula de treinamento técnico policial (tiro, abordagem policial, defesa pessoal, armamentos menos letais, etc.), pois segundo um dos entrevistados “a teoria sem aplicação prática de nada adianta, é necessária a prática para que os profissionais possam sair melhor preparados”, enquanto outro disse que “o treinamento de choque foi insuficiente, o cronograma de treinamento físico também pode ser melhorado”, por outro lado 40% afirmaram que é necessário ministrar mais horas-aula de disciplinas que abordem temas voltados à realidade social, respeito às diversidades, respeito aos direitos humanos. De acordo com um deles “a realidade social hoje é totalmente diferente, os guardas devem estar preparados para atuar nos manifestos de maneira a preservar a ordem e garantir os direitos das pessoas envolvidas”.

O tempo dedicado ao treinamento técnico policial é muito importante, não pode deixar de ser exercido, mas as políticas moderna de policiamento seguem na direção de uma polícia mais próxima da sociedade e as Corporações que não se modernizarem ficarão ultrapassadas e sem credibilidade, sendo assim é de suma importância mais horas-aula dedicadas a abordagem de temas voltados a realidade social, respeito aos direitos humanos e outros temas neste norte. (ENTREVISTADO Nº 3)

Os outros 40% disseram que deve haver a junção dos dois itens anteriores uma vez que se complementam como disse um entrevistado “ambas alternativas contemplam esta resposta, uma vez que não estão divorciadas do objetivo, qual seja, a melhor formação do futuro agente da segurança pública”.

Acredito que uma junção das duas primeiras alternativas, sendo que ao meu ver, se fosse possível diminuir o número de alunos em determinadas aulas como por exemplo: abordagem, técnicas de tiro, matérias que são mais individualizadas, para que o profissional que está ministrando o curso pudesse fazer uma abordagem um a um com os alunos, mas sei que isso resvala no tempo, mas seria importante ao meu ver. (ENTREVISTADO Nº 5)

Gráfico 2: Principais mudanças que devem ser realizadas nos cursos de formação

Fonte: Dados da pesquisa.

E por derradeiro o entrevistado foi convidado a opinar sobre o porquê o processo de ensino-aprendizagem ainda não é valorizado por parte dos integrantes da instituição GMC e 30% afirmaram que é devido à diferença existente entre os cursos de formação ministrados para cada turma da GMC,

pois como disse um dos entrevistados “cada turma (exceto 10ª e 11ª) teve um formato de capacitação”.

A evolução na metodologia de ensino tem acompanhado os cursos de formação ministrados para cada turma da academia, para equiparar essa evolução que é natural a academia GMC coloca

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a disposição cursos de aperfeiçoamentos, vejo que uma minoria dentro da corporação se nega o direito de evoluir e expandir seus conhecimentos, com a intenção de não se sentirem inferiorizados perante a maioria colocam em descrédito o processo de ensino-aprendizagem e os GM que nele acredita. (ENTREVISTADO Nº 3)

Ao passo que 70% apresentaram outras alternativas às sugeridas pelo estudo e alguns entrevistados inclusive não acreditam que exista tal conceito na instituição, como afirmou um deles “se isso existe é por pura ignorância e falta de conhecimento”. Outro afirmou que “a parte teórica é tão importante quanto à prática e uma complementa a outra. A parte teórica traz novidades (inovações) e algumas vezes chocam com as práticas atuais. O trabalho policial tem passado por evolução constantemente”. Ao passo que outros apontaram o processo de seleção de docentes como motivador do descrédito de alguns integrantes da corporação no processo de ensino-aprendizagem:

Acredito que o modo pouco profissional que impera na guarda municipal contribua para a não valorização do processo de ensino-aprendizagem uma vez que os cursos de formação de instrutores são abertos a alguns guardas sem qualquer critério que não seja subjetivo, o famoso QI (Quem Indica). (ENTREVISTADO Nº 8) 4 Conclusão

Os resultados da pesquisa apresentada neste artigo confirmam a necessidade de ampliar o debate sobre o processo de ensino-aprendizagem desenvolvido na Guarda Municipal de Campinas.

Observa-se que alguns pontos já estão de acordo com os anseios dos profissionais, tais como a evolução pela qual o processo de formação tem passado na busca de preparar melhor o profissional da GMC, as metodologias utilizadas, os esforços da equipe que presta serviço à academia em proporcionar um curso de qualidade, o material didático utilizado.

No entanto outros pontos ainda precisam ser reavaliados, tais como as disciplinas ministradas, a carga horária do curso, o corpo docente e principalmente a estrutura da Academia Preparatória de Guardas Municipais de Campinas que foi alvo das maiores críticas apresentadas neste estudo.

Cabe avaliar o processo de recrutamento de docentes; e ainda ampliar a integração com outros órgãos; bem como buscar a inclusão de metodologias que privilegiem a prática, a simulação, a dramatização e o estudo de caso; e cabe aos integrantes da corporação pleitear junto aos administradores municipais a construção de uma academia que atenda as

necessidades relativas ao espaço e ofereça uma infraestrutura adequada.

Várias hipóteses levantadas sobre a maneira que integrantes da corporação veem o trabalho pedagógico realizado na instituição foram confirmados e ratificam o perfil heterogêneo dos Guardas Municipais de Campinas em que a visão de mundo de cada integrante traduzidas em opiniões diverge de acordo com os setores em que trabalha e a proximidade ou o distanciamento dos processos formativos praticados na GMC.

Portanto observa-se que há a necessidade de maior divulgação do trabalho realizado pela academia da GMC, bem como de proporcionar cursos de aperfeiçoamento constantes aos integrantes da corporação, não somente no momento de ingresso, mas sim tornar a formação do GM um processo contínuo, como está estabelecido no Decreto 5.123 art. 42 § 3º e esse é um desafio para todos os responsáveis pelo Comando da instituição.

No entanto é ponto pacífico entre os participantes que a oferta de um ensino de qualidade aos integrantes da corporação é essencial para o fortalecimento da corporação.

Por derradeiro há que se destacar a importância de pesquisas semelhantes a esta para que se avalie constantemente o trabalho pedagógico realizado na GMC, pois é indiscutível que o conhecimento é fundamental para o trabalho realizado pelos agentes da GMC que necessitam estar de acordo com os ordenamentos jurídicos, sobretudo no que diz respeito aos direitos humanos, e que obtenha a aprovação da sociedade, oferecendo-lhe um trabalho eficiente e eficaz.

Referências

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curricular nacional para Guardas Municipais. Brasília:

SENASP, 2013.

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Referências

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