Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC Centro Socioeconômico - CSE
Departamento de Economia e Relações Internacionais
Julio Machado Pontes
O MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO PARA OS ECONOMISTAS Florianópolis 2020
Julio Machado Pontes
O MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO PARA OS ECONOMISTAS
Trabalho Conclusão do Curso de Graduação em
Ciências Econômicas do Centro Socioeconômico da Universidade Federal de Santa Catarina como
requisito para a obtenção do Título de Bacharel em Ciências Econômicas
Orientador:
Prof. Dr. Francis Carlo Petterini Lourenço
Florianópolis 2020
Julio Machado Pontes
O MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO PARA OS ECONOMISTAS
Florianópolis, 15 de julho de 2020
O presente Trabalho de Conclusão de Curso foi avaliado e aprovado pela banca examinadora composta pelos seguintes membros:
________________________ Prof. Dr. Helberte João França Almeida Universidade Federal de Santa Catarina
________________________ Prof. Akauã Flores Arroyo Universidade Federal de Santa Catarina
Certifico que esta é a versão original e final do Trabalho de Conclusão de Curso que foi julgado adequado para obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas por mim e pelos demais membros da banca examinadora.
________________________ Prof. Dr. Francis Carlo Petterini Lourenço
Orientador
Universidade Federal de Santa Catarina
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais e demais familiares, meus amigos, orientador e demais professores da Universidade Federal de Santa Catarina.
Resumo
O presente estudo busca apresentar a profissão do economista e a sua inserção no mercado de trabalho brasileiro no período que compreende os anos entre 2006 e 2018. Para tanto, o estudo contempla a análise dos dados registrados na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). O objetivo da utilização dos dados é fornecer uma análise descritiva do mercado de trabalho brasileiro no período supracitado, com o foco na descrição da atuação e inserção dos
economistas. O estudo se debruça sobre um dos períodos de maior dinamismo do mercado de trabalho brasileiro. A partir de 2004 o mercado de trabalho, puxado pelas boas condições econômicas apresentadas pelo país, se recupera de um período de altas taxas de desemprego e passa a apresentar um comportamento virtuoso, com aumento das taxas de emprego,
formalização de trabalho e elevação dos rendimentos reais dos trabalhadores. Porém, a partir de 2015 já é possível notar a reversão desse cenário favorável no mercado de trabalho
brasileiro. Assim, os anos que encerram o período compreendido por esse estudo mostram os impactos negativos do cenário econômico mais amplo no mercado de trabalho e como esse impacto se deu também para os profissionais da área de economia.
Palavras-chave: mercado de trabalho; economista; economia brasileira; emprego e renda.
Abstract
The present study aims to present the economist's profession and his insertion in the Brazilian labor market in the period between 2006 and 2018. To this end, the study contemplates the analysis of data recorded in the Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). The purpose of using the data is to provide a descriptive analysis of the Brazilian labor market in the mentioned period, with a focus on describing the performance and insertion of economists. The study looks at one of the most dynamic periods in the Brazilian labor market. As of 2004, the labor market, pulled by the good economic conditions presented by the country, is
recovering from a period of high unemployment rates and starts to show a virtuous behavior, with an increase in employment rates, formalization of work and increase income. However, about 2015 it is already possible to notice the reversal of this favorable scenario in the Brazilian labor market. Thus, the years that end the period comprised by this study show the negative impacts of the broader economic scenario on the labor market and how this impact also affected professionals in the area of economics.
Keywords: labor market; economists ; brazilian economy; labor and income.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ………. 9
1.1 Tema e problema de pesquisa……….... 9
1.2 Objetivos ………. 10 1.2.1 Objetivo Geral ……….. 11 1.2.2 Objetivos Específicos………... 11 1.3 Justificativa……….. 11 1.4 Metodologia ……… 12 2. REFERENCIAL TEÓRICO……….. 16
2.1 O mercado de trabalho no Brasil………. 16
2.2 As matrizes do ensino e da profissão de economista no Brasil………... 25
2.3 A profissão economista………... 26
2.4 Dados sobre mercado de trabalho no Brasil……….... 28
2.5 Entrada no mercado de trabalho e resultados de longo prazo para economistas ……….... 30
3. APRESENTAÇÃO DAS ANÁLISES DOS DADOS DA RAIS ……….. 32
3.1 Os dados da RAIS de acordo com Brasil, as regiões naturais e entidades federativas…... 32
3.2 Os dados da RAIS de acordo com os setores de atividades econômicas……….... 49
3.3 Análise comparativa entre Brasil, região sul e os estados de Santa Catarina e São Paulo . 56 4. CONCLUSÃO ………. 63
REFERÊNCIAS ……….. 66
APÊNDICE……….. 69
1. INTRODUÇÃO
1.1 Tema e problema de pesquisa
A reativação do mercado de trabalho foi um dos principais determinantes da relativa melhora na condição socioeconômica da população brasileira, desde que o prolongado boom internacional de commodities passou a favorecer o desempenho econômico dos países em desenvolvimento dotados de recursos naturais (BALTAR, 2015). No Brasil, um crescimento do produto interno bruto (PIB) mais vigoroso e com inflação mais baixa, a partir de 2004, aumentou a geração de empregos assalariados, contribuiu para a formalização dos contratos de trabalho e elevou o poder de compra, diminuindo as diferenças de renda entre os trabalhadores.
A segunda década do século XXI caminha para o fim e podemos afirmar que esses 20 anos foram de intensas transformações para o mercado de trabalho brasileiro. Nesse sentido, a taxa de desemprego, amplamente discutida na mídia e na academia é certamente um dos indicadores ideais para ilustrar essas transformações do mercado de trabalho brasileiro. A taxa de desemprego foi aferida pela Pesquisa Mensal do Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PME/IBGE) até o ano de 2016, quando foi substituída pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Considerando especificamente o período entre 2006 e 2018, período considerado no presente estudo, a taxa de desemprego oscilou fortemente. Em 2006, 10,0% da população economicamente ativa (PEA) brasileira se encontrava em situação de desemprego. Em 2014, esse indicador caiu para apenas 4,8%, a menor medida anual histórica de acordo com os dados da atual metodologia iniciada em março de 2002. Mas apenas três anos depois, já em 2017, foi registrado que 12,8% da PEA no Brasil se encontrava desempregada, o maior valor encontrado durante o período do estudo.
O gráfico 1 apresenta a evolução da taxa de desemprego ano a ano no Brasil entre 2004 e 2018. É interessante notar que a taxa de desemprego caiu quase que continuamente entre 2004 e 2014. Após 2014, a taxa de desemprego sobe aceleradamente e, em apenas três anos, supera o patamar observado em 2004, o maior observado nesta série histórica apresentada. Portanto, as melhoras no mercado de trabalho entre 2004 e 2014, em termos da taxa de desemprego, foram revertidas muito rapidamente, o que indica um dinamismo muito forte do mercado de trabalho brasileiro neste início de século XXI.
Gráfico 1 – Evolução da taxa de desemprego anual no Brasil entre 2004 e 2018 (%)
Fonte: Elaboração própria com dados da PME (IBGE) até 2016 e dados da PNAD após 2016
Tendo em vista as rápidas transformações do mercado de trabalho brasileiro no período supracitado e a importância do tema para a realidade do país, o presente estudo voltará o foco para o mercado de trabalho brasileiro para os profissionais que trabalham na área de economia. Tal recorte permitirá comparar o mercado de trabalho para esses profissionais em relação à perspectiva geral do mercado de trabalho brasileiro. Com efeito, deseja-se entender como os profissionais de economia estão colocados no mercado de trabalho brasileiro entre 2006 e 2018.
Dada a ampla inserção desses profissionais em diversos setores da economia justifica-se também a observação e análise desses diversos setores, em termos de número postos de trabalho, distribuição por setor da economia, remuneração e distribuição geográfica, dentre outros fatores.
Ao fim, o que se pretende é a apresentação de um panorama da situação do mercado de trabalho brasileiro para os economistas no período entre 2006 e 2018.
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo Geral
Analisar o mercado de trabalho brasileiro para os economistas entre 2006 e 2018, apresentando uma análise descritiva a partir de dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS).
1.2.2 Objetivos Específicos
a) Apresentar dados sobre o mercado de trabalho dos economistas no Brasil entre 2006 e 2018;
b) Analisar os dados da RAIS e descrever a inserção dos economistas no mercado de trabalho do Brasil nos diversos setores da economia, em termos de nível de ocupação, remuneração e outros fatores;
c) Comparar os resultados para diferentes recortes da distribuição geográfica do Brasil;
d) Propor apontamentos para as tendências observadas durante as etapas anteriores. 1.3 Justificativa
A pesquisa tem relevância ao mostrar a realidade do mercado de trabalho brasileiro para os economistas, com dados atualizados e em um período de muitas transformações na economia brasileira.
Dada a opção de o presente estudo utilizar os dados dos empregos relativos à área de atuação dos economistas, será possível observar se o mercado de trabalho para esses profissionais se comportou de maneira semelhante ao mercado de trabalho como um todo e se há comportamentos diferentes nas regiões e nos estados brasileiros, bem como nos diversos setores de atividade econômica.
A utilização dos dados da RAIS é justificada pela confiabilidade e importância dessa fonte de dados, como será apontado mais adiante na seção de revisão bibliográfica.
1.4 Metodologia
O método científico é a ferramenta que diferencia as mais diversas formas de saber - tradicional, religioso e muitos outros – do saber científico. Lakatos e Marconi (2007) afirmam que não há ciência sem a aplicação do método científico, mas salientando que a utilização do método não é exclusivo da ciência.
O método científico, por sua vez, deriva de um tipo de pensamento específico, que se diferencia das demais formas de pensamento por ser resultado de um esforço intelectual deliberado e direcionado. A esse pensamento segue a realização de uma série de procedimentos experimentais baseados em técnicas pertinentes ao campo de estudo, com o objetivo de gerar um conhecimento objetivo sobre os fenômenos (DIETERICH, 1999).
O presente estudo, calcado no método científico, tem como objetivo descrever a situação do mercado de trabalho brasileiro para economistas. Para tanto, o estudo utiliza como recurso metodológico a análise estatística dos dados provenientes da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), disponibilizado pelo Ministério da Economia do Brasil. A RAIS, segundo o site do próprio Ministério da Economia (BRASIL, 2019) é uma das mais ricas fontes de dados sobre empregos no Brasil e tem como objetivo:
● fornecer informações relevantes para a gestão e o controle da atividade trabalhista no país;
● o provimento de dados para a elaboração de estatísticas do trabalho.
Após a coleta, seguirá a tabulação dos dados da RAIS. A tabulação levará em conta somente os dados relacionados à profissão de economista. Para realizar essa segmentação, será utilizado como referência a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). A CBO foi instituída em 2002 pela portaria ministerial nº. 397, de 9 de outubro, segundo o Ministério da Economia (BRASIL, 2002). Essa classificação tem como objetivo identificar as ocupações no mercado de trabalho brasileiro, para fins de classificação e uniformização junto aos registros administrativos, não se estendendo esses efeitos às relações de trabalho.
A CBO é uma composição de uma série de números, cada uma deles indicando um grupo de ocupações. Os economistas estão agrupados sob a CBO número 2512, que se divide ainda em outros subgrupos, identificados pelos dígitos que seguem a CBO. O quadro 1
apresenta os números de CBO que compõem o grande grupo de economistas e as respectivas ocupações.
Quadro 1 - Número de CBO e as respectivas ocupações de economistas
CBO Ocupação
2512-05 Analista de economia internacional
2512-05 Analista de estudos econômicos
2512-05 Analista de mercado de trabalho (economista) 2512-05 Analista de mercado e produtos (economista)
2512-05 Analista de mercado internacional
2512-05 Analista de mercadologia (economista)
2512-05 Analista econômico 2512-05 Árbitro econômico 2512-05 Mediador econômico 2512-05 Perito econômico 2512-05 Pesquisador econômico 2512-10 Economista agroindustrial 2512-15 Economista financeiro 2512-20 Economista industrial
2512-25 Economista do setor público
2512-30 Economista ambiental
2512-35 Economista regional e urbano
Fonte: Ministério da Economia, 2002
Para a realização da análise dos dados relativos à profissão economista, foram considerados somente os vínculos ativos no mês de dezembro no ano da declaração.
Com os dados tabulados e contendo apenas as informações relativas aos economistas com vínculos ativos, proceder-se-á a realização de uma série de análises estatísticas de cunho descritivo, ou seja, com o objetivo de resumir, sumarizar e explorar os dados.
O presente estudo descreve o mercado de trabalho brasileiro para os economistas a partir de duas métricas principais - a quantidade de profissionais e a remuneração média - em diversos recortes, sendo as principais divisões as seguintes: regiões naturais do Brasil, unidades federativas (estados e o Distrito federal) e os setores de atividade econômica, como definidas pelo IBGE.
O resultado da análise dos dados da RAIS é apresentado através de gráficos, tabelas de frequência absoluta e relativa, medidas de resumo numérico e outros instrumentos para visualização.
Dada a natureza da análise dos dados do presente estudo, pode-se considerá-lo como pertencente à categoria das pesquisas descritivas. De acordo com Lakatos e Marconi (2007), existem três tipos de pesquisas científicas com objetivos diferentes: pesquisa exploratória, descritiva e experimental. Esses três tipos de pesquisa estão explicadas no quadro 2.
Quadro 2 - Tipos de pesquisa e as suas definições
Pesquisa exploratória Pesquisa descritiva Pesquisa explicativa
Definição
Procura explorar um problema, de modo a fornecer informações para uma investigação mais precisa,
visando uma maior proximidade com o tema, que pode ser construído com base
em hipóteses ou intuições
Visa descrever o comportamento de um determinado fenômeno.
Para isso, é feita uma análise minuciosa e descritiva do objeto de estudo Esse tipo pesquisa requer a não interferência
do pesquisador
Pesquisa para conectar as ideias e fatores identificados para compreender as causas e
efeitos de determinado fenômeno. É o tipo de pesquisa com a qual os
pesquisadores tentam explicar o que está
acontecendo Objetivo Descobrir ideias e pensamentos Descrever características e funções Compreender relações de causa e efeito
Processo Não-estruturado Estruturado Estruturado
Dados Qualitativo e quantitativo Quantitativo Quantitativo Fontes
de dados
Pesquisas bibliográficas e estudos de caso (qualitativos)
e bases de dados (quantitativos)
Apesar de também investirem na coleta e no
levantamento de dados qualitativos, utiliza-se principalmente dados quantitativos Baseada em métodos experimentais Fonte: Elaboração própria a partir de Lakatos e Marconi (2007)
Considerando que esse estudo classifica-se como uma pesquisa descritiva, vale conceituar essa modalidade de pesquisa científica um pouco mais aprofundadamente. Segundo Gil (1999), as pesquisas descritivas têm como objetivo a descrição das características de determinada população ou fenômeno, o estabelecimento de relações entre variáveis observadas durante a pesquisa e a definição da natureza da população ou fenômeno descrito, sem, necessariamente, explicá-los.
Ainda segundo Gil (1999) são inúmeros os estudos que podem ser classificados sob este título e uma de suas características mais significativas aparece na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados.
2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 O mercado de trabalho no Brasil
Os anos iniciais do século XXI foram marcados por intensas transformações no mercado de trabalho brasileiro. Para entender essas transformações e analisar a dinâmica do mercado de trabalho brasileiro é fundamental considerar o contexto econômico mais amplo do país em questão. É fundamental salientar também que, por características inerentes ao mercado de trabalho, há uma defasagem temporal considerável entre os eventos no contexto econômico mais amplo e as suas consequências no mercado de trabalho. Portanto, o entendimento da situação do mercado de trabalho brasileiro no período analisado por esse estudo requer uma breve análise do contexto econômico geral, ainda que sem maiores aprofundamentos, dadas as limitações do presente estudo.
Os anos 2000, em termos do funcionamento da economia como um todo, começam seguindo a trajetória iniciada em 1998: baixo crescimento, alta inflação e mercado de trabalho desaquecido. Entre 2001 e 2003, a economia brasileira apresentou o seu melhor desempenho - em termos de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) - no ano de 2002, quando o crescimento observado do PIB foi de 2,7% em relação ao ano anterior (DIEESE, 2012). A magnitude desse crescimento pode ser considerada pouco significativa. Nesse período, a criação de empregos foi inferior às necessidades da força de trabalho brasileira. Esse cenário de baixo crescimento da produção econômica e também da criação de postos de trabalho perdurou até 2004, ano a partir do qual a expansão da economia brasileira como um todo puxou o mercado de trabalho para também apresentar resultados positivos.
De acordo com Baltar (2015), a partir de 2004 o Brasil teve um significativo crescimento do Produto Interno Bruto e índices de inflação que permaneceram em baixa até o segundo semestre daquele ano. O ano de 2004 registrou um crescimento de 5,7% do PIB em relação ao ano anterior, bem como a elevação em 4,3% do PIB per capita (DIEESE, 2012). Entre os anos de 2005 e 2008, o Brasil continuou em um ritmo de forte expansão econômica, puxado principalmente pelas exportações de commodities. O Brasil viu o seu PIB crescer 3,2%, 4,0%, 6,1% e 5,2% nos anos de 2005, 2006, 2007 e 2008, respectivamente.
De acordo com o DIEESE (2012, p.11),
é nítida, ao longo da década passada, a correlação entre crescimento do PIB e expansão dos empregos. É possível dividir a maior parte da primeira década do século XXI, do ponto de vista da relação entre crescimento e emprego, em dois momentos: o primeiro, entre 2001 e 2003, em que o aumento médio do PIB foi de 1,7%, e o crescimento total do emprego formal foi de 12,6%, o que significa uma expansão média anual de 4,2%; o segundo, entre 2004 e 2008, período em que o PIB cresceu em média 4,7%, o emprego formal aumentou 33,5%, e o crescimento médio anual do emprego formal foi de 5,9%.
O contexto econômico de crescimento acelerado do PIB entre 2004 e 2008 está, portanto, intimamente ligado à expansão do mercado de trabalho brasileiro no período. E, como veremos mais adiante, o desempenho do mercado de trabalho brasileiro não seria abalado de forma profunda imediatamente após a crise internacional de 2008.
Os ótimos desempenhos da economia e do mercado de trabalho brasileiro entre 2004 e 2008 estão ligados ao boom da demanda internacional e dos preços das commodities observado no período, segundo Baltar (2015). De forma resumida e sem entrar em detalhes e discussões de teorias econômicas, o crescimento das exportações brasileiras tornou mais sólido o balanço de pagamentos entre 2004 e 2008, sendo um importante fator para o crescimento do PIB - em uma economia que internamente tinha como objetivo a redução da inflação e o controle do crédito através da taxa básica de juros. A intensificação do crescimento do PIB observada, já a partir de 2004, e o aquecimento da atividade econômica como um todo levaram à valorização da moeda nacional em relação ao dólar e à redução da inflação, ambos fatores que estimulam o consumo e o investimento. A intensificação do consumo e dos investimentos criam, ainda que não de forma totalmente independente e autônoma, as condições favoráveis para o desenvolvimento do mercado de trabalho em muitas das suas variáveis: emprego, formalização, renda. Dessa forma é que o crescimento do PIB escorado na melhora da situação do balanço de pagamentos consegue influenciar positiva e decisivamente o mercado de trabalho.
Baltar afirma (2015, p. 20):
em síntese, o boom internacional de commodities, a política macroeconômica priorizando o controle da inflação por meio da contenção monetária e das altas taxas de juros, a liberdade de movimento de capital e a liberdade para desenvolver e operar o mercado de derivativos de câmbio marcaram tanto a retomada de crescimento da economia, em 2004-2008, quanto o mercado de trabalho que este crescimento comportou. Inicialmente, predominou a absorção externa na determinação do crescimento do PIB, e foi muito elevada a elasticidade do emprego.
A moeda nacional valorizou-se, e houve aceleração da absorção interna e desaceleração da absorção externa. O PIB intensificou seu crescimento, mas o crescimento do emprego não acompanhou o ritmo do produto, e acelerou-se o aumento do PIB por pessoa ocupada. Tudo isto com uma taxa de investimento que, embora aumentando, se manteve em um patamar relativamente baixo para as circunstâncias de um auge de atividade da economia.
Baltar (2015) atesta também que o período entre 2004 e 2008 teve como característica, em relação ao mercado de trabalho, o intenso aumento do emprego formal. Em uma definição simples, emprego formal é aquele em que o contrato de trabalho está sob o escopo da legislação trabalhista e do sistema de Previdência Social brasileiro. O emprego formal já apresentava um ritmo de crescimento acima do número total de pessoas ocupadas antes mesmo da retomada do crescimento da economia como um todo. Mas essa diferença ganhou mais vigor ainda após a retomada do crescimento a partir de 2004.
Segundo Baltar (2015), a evolução da formalização do trabalho no Brasil no período entre 2004 e 2008 deve ser entendida sob a luz do que aconteceu na economia brasileira ao longo da década de 1990, principalmente em termos de abertura comercial e financeira. Sobre o que ocorreu durante a década de 1990, o autor afirma (2015, p.24):
a maneira como o sistema empresarial adaptou-se à abertura da economia reduziu fortemente o emprego formal. Todo o acréscimo de pessoas ocupadas ocorreu em outras posições na ocupação, diferentemente do emprego celetista e estatutário – contratos segundo a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e o Estatuto do Servidor Público.
A adaptação do sistema empresarial à abertura econômica a que o autor se refere diz respeito principalmente à redução das linhas de produção das empresas, que passaram a importar partes e componentes dos seus produtos, e ao aumento da utilização de serviços terceirizados para a realização de atividades antes destinadas aos empregados da própria empresa. Essas duas adaptações tiveram como consequência a redução do número de postos de trabalho formal no país, somadas à simples eliminação de postos de trabalho no período (BALTAR, 2015). Em síntese, o autor afirma que durante a década de 1990 e como um efeito do processo de abertura comercial e financeira, o mercado de trabalho brasileiro viu crescer o número de trabalhadores sem carteira assinada e também de trabalhadores autônomos.
No entanto, a Constituição Federal de 1988 (CF/1988) criou um amplo arcabouço que visava estabelecer um sistema de proteção social aos cidadãos brasileiros. A criação e desenvolvimento desse sistema seria financiado através de contribuições que incidiriam, de
forma geral, sobre o faturamento e o lucro líquido das empresas. Segundo Carneiro (2006), de fato, após a promulgação da Constituição de 1988 o Brasil viu crescer a sua carga tributária de 25% para 35% do PIB. Essa elevação significativa da carga de impostos e contribuições sociais viabilizou a política macroeconômica adotada em 1999, que tinha como objetivo a manutenção da inflação em níveis toleráveis - com a criação do sistema de metas de inflação, existente até hoje como um pilar macroeconômico no Brasil -, preservando assim a abertura da economia e o desenvolvimento do setor financeiro ocorridos nos anos 1990 (CARNEIRO, 2006).
O contexto nesse período era, portanto, de um país que apresentava uma significativa elevação da carga tributária enquanto tinha que cumprir com as obrigações de uma enorme dívida pública, que exigia pagamento de juros e amortizações. Para cumprir com essas obrigações, era fundamental que o Brasil conseguisse obter superávits fiscais primários. Esse cenário fez mudar radicalmente a atitude do Estado brasileiro quanto à fiscalização da correta formalização das empresas e o pagamento de impostos e contribuições sociais, visto que somente o trabalho formal propicia a adequada captação de impostos.
Segundo Baltar (2015), outro fator que fez aumentar o grau de formalização do trabalho no Brasil foi o próprio crescimento da economia. O motivo para tal é que o acesso ao sistema de crédito e às compras do governo somente poderia ser obtido por empresas regularizadas em relação à legislação trabalhista, ou seja, empresas corretamente formalizadas. Além disso, como já vimos anteriormente, o crescimento econômico do país como um todo propicia o crescimento do mercado de trabalho. Em outras palavras, as empresas passam a contratar mais pessoas em regime formal de trabalho.
O cenário descrito é resumido da seguinte forma por Baltar (2015, p. 24):
Os contratos de trabalho, seguindo a CLT ou o Estatuto do Servidor Público, correspondiam a aproximadamente 55% das pessoas ocupadas no final da década de 1970, diminuindo para 53% no final da década seguinte e alcançando somente 43% no final dos anos 1990, ilustrando o impacto da estagnação da economia e os efeitos da abertura sobre o mercado de trabalho. Desde então, os contratos de trabalho corretamente formalizados vêm aumentando como proporção do número de pessoas ocupadas, alcançando 45% em 2004 e 48% em 2008. Atualmente, este número deve estar próximo de 50%, ainda bastante longe de 55%, verificado antes da crise da dívida externa.
O fim do período entre os anos 2004 e 2008 é marcado justamente pela eclosão da
crise mundial de 2008. o desempenho do mercado de trabalho brasileiro não seria abalado de forma profunda imediatamente após a crise internacional de 2008.
A crise internacional deflagrada em 2008 teve efeito negativo sobre a economia brasileira, evidentemente. Notavelmente, foi registrado, em 2009, o primeiro decréscimo do PIB brasileiro desde o ano de 1992. Como efeito da crise de 2008, o Brasil sofreu uma queda de 0,2% do PIB em 2009 com relação ao ano interior. No entanto, o mercado de trabalho não foi afetado negativamente de maneira forte o suficiente para reverter a tendência de bons resultados como os apresentados nos anos anteriores. A taxa de desemprego não cresceu, a renda seguiu em processo de recuperação e o processo de formalização do trabalho continuou em curso, com a criação de quase um milhão de postos de trabalho formais, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério da Economia do Brasil, resultado equivalente a cerca de 70% da média observada no quinquênio encerrado em 2008.
De acordo com estudos do DIEESE (2012), alguns fatores foram determinantes para o bom desempenho do mercado de trabalho brasileiro no período subsequente ao início da crise de 2008. Em primeiro lugar, políticas de estímulo ao consumo foram fundamentais. A política de reajuste do salário mínimo foi essencial ao garantir a manutenção do poder de compra da população mesmo em um cenário de crise mundial. Nesse sentido contribuíram também a expansão do programa Bolsa Família do governo federal e do acesso aos benefícios da Previdência e da Assistência Social como um todo. As isenções de impostos federais sobre produtos industrializados tiveram grande importância para estimular a demanda efetiva, mantendo-a em alta mesmo após o choque inicial provocado pela crise. As isenções federais visavam produtos como automóveis, eletrodomésticos da linha branca (geladeira, fogão, fornos micro-ondas, ar condicionados e freezers) e também da linha marrom (televisores e equipamentos de áudio e vídeo em geral), estimulando o consumo desses produtos e, consequentemente, demandando que o setor produtivo continuasse em movimento acelerado. Nesse momento também, o governo realizou esforços para elevar a oferta de empréstimos e financiamentos bancários às pessoas (para que mantivessem o nível de consumo) e às empresas (para que não desacelerassem o ritmo de produção). Dentre esses esforços, destacaram-se: liberação de depósitos compulsórios, aportes extras de recursos para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), desonerações tributárias, pacote
habitacional, aceleração de outras obras vinculadas ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e várias linhas de crédito liberadas pelos bancos oficiais.
Baltar (2015, p. 31-32) conclui sobre o período imediatamente subsequente à crise de 2008 que
a queda na atividade econômica foi relativamente pequena, e a recuperação que começou no último trimestre de 2009 foi muito rápida, tendo o PIB aumentado 7,5% em 2010. O crescimento do consumo acelerou, e houve uma expressiva retomada da exportação e principalmente do investimento. A comparação dos anos 2008 e 2010 indica que o consumo cresceu no ritmo médio anual de 5,2%, não muito menos que o verificado antes da crise mundial atingir o país. Já o investimento em 2010 recuperou a queda de 2009 e ampliou o patamar atingido em 2008, no equivalente a um aumento médio anual de 6,4%, bem menos que o verificado antes da crise mundial, mas acima do ritmo de crescimento do PIB (3,5%), indicando que a defesa da atividade econômica em 2009 foi fundamentalmente a sustentação do crescimento do consumo, mas na recuperação em 2010 voltou a aumentar a taxa de investimento.
Em resumo, temos que, no período entre 2004 e 2010 e mesmo com o choque inicial provocado pela crise de 2008, o Brasil ostentou um crescimento médio do PIB na ordem de 4,5% ao ano, com melhorias significativas em diversos aspectos do mercado de trabalho.
Ao final da primeira década do século XXI o Brasil apresentava um cenário econômico de relativa estabilidade, com o mercado de trabalho apresentando taxas cada vez menores de desemprego, crescimento do emprego formal, aumento da participação do trabalho nos setores mais estruturados da economia.
O ano de 2011 se inicia com troca na presidência, mas com a manutenção da política de aumento de juros que vinha ocorrendo desde fevereiro de 2010. Segundo Mattos (2015), o diagnóstico da nova equipe econômica era de que o controle da inflação e do balanço de pagamentos era urgente. Esse controle seria realizado através da desaceleração do ritmo de crescimento da economia. Para realizar essa desaceleração foram retirados diversos dos estímulos ao consumo que vigoravam desde o início da crise de 2008 e foram responsáveis pelo bom desempenho da economia e do mercado de trabalho naquele momento (esses estímulos foram citados anteriormente nesse estudo). As desacelerações do consumo privado, principalmente de bens duráveis, e do investimento fizeram o PIB crescer somente 2,7% em 2011.
Após o fraco crescimento do PIB em 2011, o governo adotou medidas para tentar aumentar o investimento privado já em 2012. Mas não foi isso que aconteceu, como explica Mattos (2015, p. 71-72),
dado que os efeitos das políticas restritivas e dos controles “macroprudenciais” tomados no início do mandato haviam consolidado uma forte redução da demanda agregada, levando o setor privado a “ajustar” sua capacidade produtiva à nova realidade marcada pela desaceleração do consumo e do crédito.
Além de problemas no investimento privado, o período entre 2011 e 2014 é marcado pela incapacidade do setor público em realizar investimentos. Segundo Mattos (2015), essa incapacidade foi motivada por diversos fatores, desde a inabilidade do governo federal em negociar os marcos regulatórios com o setor privado, passando por um ambiente hostil com relação à imprensa e à opinião pública e até o total descrédito dos atores dos setores produtivos da economia. O resultado desse cenário de redução da taxa global dos investimentos é a perda de fôlego da economia, com o PIB crescendo apenas 1,8%, 2,7% e incríveis (no sentido negativo, infelizmente) 0,5% em 2012, 2013 e 2014, respectivamente.
É evidente, portanto, a desaceleração econômica no período entre 2011 e 2014. O mercado de trabalho, no entanto, demonstrou vigor no período. Mattos (2015, p. 73) afirma que a razão para isso foi a implantação, ainda na vigência da presidência antecedente, de alguns mecanismos
como o aumento real do salário mínimo e a expansão do crédito, que continuaram impulsionando a massa salarial e o consumo das famílias (embora a taxas declinantes em comparação com o período 2004-2010). Ademais, o mercado de trabalho ainda aquecido propiciou condições de negociação de ganhos salariais reais, apesar das evidências de desaceleração da atividade econômica – especialmente na indústria.
Portanto, enquanto o ritmo do crescimento do PIB brasileiro desacelerava nitidamente, o mercado de trabalho ainda dava sinais de aquecimento. É bom salientar, como já feito anteriormente, que pode haver uma defasagem temporal entre o ambiente macroeconômico e os seus reflexos no mercado de trabalho do país. Os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2015) sobre o mercado de trabalho brasileiro corroboram essa tese, mostrando o desempenho positivo no período entre 2004 e 2014.
Tabela 1: Evolução da participação, do desemprego aberto, da informalidade e do rendimento médio no Brasil (2004-2014)
Fonte: IPEA, 2015, p. 318
A Tabela 1 apresenta a evolução do mercado brasileiro entre os anos de 2004 e 2014. Apesar da queda na taxa de participação da força de trabalho – razão entre a população economicamente ativa (PEA) e a população em idade ativa (PIA) -, os demais indicadores acompanhados apresentaram significativa melhora durante o período. A taxa de desemprego aberto - razão entre os empregados sem carteira assinada, os trabalhadores autônomos e os não remunerados sobre o total da população ocupada no Brasil – caiu de 11,5% em 2004 para menos da metade no período, chegando a 4,9% em 2014. A taxa de informalidade no mercado brasileiro também apresentou redução no período, saindo de 40,6% em 2004 para 30,4% em 2014. Por fim, o rendimento médio do trabalhador brasileiro aumentou aproximadamente 25% no período. Além disso, esse período também foi marcado pela ampliação da proteção social da população brasileira em geral, seja por meio de políticas públicas de transferência de renda, como o Bolsa Família, ou por meio da expansão de serviços essenciais, como oferta de moradia e programas de saúde. Em suma, o que os dados acima mostram é a evolução saudável do mercado de trabalho brasileiro no período entre 2004 e 2014, causada pelos motivos que foram apresentados anteriormente neste estudo.
No entanto, já em 2015 o Brasil passou a sofrer com problemas no mercado de trabalho. O país já apresentava um quadro econômico recessivo em 2014, principalmente após o período eleitoral, mas o mercado de trabalho, como é característico, demorou a sentir os efeitos negativos derivados desse princípio de recessão econômica. Essa piora nos indicadores
do mercado de trabalho serão sentidos também em 2016. Nesses dois anos o Brasil teve quedas importantes na produção, refletidas na redução do Produto Interno Bruto (PIB). O gráfico 2 apresenta a variação do PIB brasileiro ano a ano entre 2004 e 2018 e é possível observar a queda do produto a partir de 2014, acentuada ainda mais em 2015 e 2016.
Gráfico 2: Evolução do PIB brasileiro ano a ano, entre 2004 e 2018, em termos percentuais
Fonte: elaboração própria com dados das Contas Nacionais Trimestrais (IBGE)
O quadro recessivo que emergiu a partir do final do ano de 2014 se aprofundou em 2015 e 2016. Nesse período, é evidente a retração do sistema produtivo brasileiro, que reverberou no mercado de trabalho. Entre 2015 e 2017 será observado o aumento da taxa de desemprego em praticamente todos os setores da economia e, principalmente, a redução do emprego formal no Brasil, interrompendo uma trajetória de expansão desse tipo de emprego, como observa Mattei (2019). O gráfico 1 deixa claro a significativa expansão da taxa de desemprego a partir de 2014, ano no qual a taxa de desemprego é a menor já registrada com essa metodologia do IBGE.
Sobre a forma como os setores de atividades econômicas foram afetados, Mattei (2019, pg. 119) afirma que
as maiores quedas do nível de emprego foram registradas na indústria em geral, porém com destaque para as reduções expressivas no ramo da indústria de transformação, na construção civil, na agricultura, pecuária, pesca e aquicultura, e nos serviços domésticos. Já os demais setores praticamente mantiveram suas taxas de participação inalteradas, destacando-se apenas o setor de alojamento e alimentação que teve um crescimento ao redor de 1% em todo o período analisado.
Merece registro a grande queda percentual da participação no emprego verificada no setor industrial, que passou de 13,61%, em 2014, para 11,43%, em 2017. Em grande medida, essa retração do mercado de trabalho no setor industrial está relacionada ao processo de desindustrialização em curso no país. Diversos dados do IBGE mostram que a participação da indústria no PIB caiu para menos de 12% ao final de 2017, sendo o menor percentual de participação do setor desde a década de 1950.
Fica claro, portanto, que a crise econômica que se anunciou em 2014 afetou de forma contundente o mercado de trabalho brasileiro no período entre 2015 e 2018, destruindo empregos e levando muitas pessoas para a informalidade, revertendo conquistas importantes que foram obtidas entre 2004 e 2014.
Está apresentado, portanto, o cenário geral do contexto econômico e do mercado de trabalho brasileiro no período compreendido pelo presente estudo (2006 – 2018). A seção a seguir tratará de focar na profissão do economista e na sua inserção no mercado de trabalho brasileiro.
2.2 As matrizes do ensino e da profissão de economista no Brasil
O Decreto-Lei número 20.158 de 30 de junho de 1931 criou o curso superior de Administração e finanças, que concedia o diploma de bacharel em Ciências Econômicas.
Desde a criação desse primeiro dispositivo legal que regulamentou o ensino de ciências econômicas no Brasil, em 1931, a formação técnica dos economistas já apresentava graves falhas. Segundo Manoel Orlando Ferreira (1966), nesse primeiro momento, a formação em economia compreendia uma série de conhecimentos dispersos e heterogêneos, incapazes de desenvolver uma base técnica de conhecimento necessária para a prática da atividade profissional em economia. Esse cenário perduraria até 1945, quando uma nova lei reguladora do ensino e da profissão do economista veio à luz.
A reforma da lei que regulamentava o ensino de economia em 1945 teve como ponto principal a criação do curso de Ciências Econômicas, de um núcleo de formação técnica para o profissional em economia e a inserção da ciência econômica no sistema universitário brasileiro, equiparando-a às demais formações de nível superior. Esse foi um processo também de diferenciação da profissão do economista de outras que estavam associadas, como a do administrador, contador e do bacharel em direito.
A pressuposição da lei reguladora era a de que o economista deveria ser profundamente ligado ao conhecimento sobre o desenvolvimento econômico e também sobre
o funcionamento do setor público. Apesar dos avanços possibilitados pela reforma da lei em 1945, significativos problemas de formação de profissionais em economia ainda persistiam. Havia então um núcleo de conhecimentos essenciais, mas faltava ampliar o leque de possibilidades de análise econômica do profissional.
À esse processo segue a criação da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo em 1946 e a implementação da Faculdade Nacional de Política e Economia no mesmo ano, que se tornaria a primeira faculdade federal de economia do país, vinculada à Universidade do Brasil.
Essas são, segundo Ferreira (1966), as matrizes da formação da profissão do economista do Brasil.
2.3 A profissão economista
Essa seção destina a apresentar, de acordo com a legislação brasileira, os dispositivos que regulam a profissão do economista no país.
De acordo com o Conselho Federal de Economia (COFECON, 2018), a designação profissional do economista está disposta na Lei 1411, sancionada em 13 de agosto de 1951, e se refere ao quadro das profissões liberais, sendo privativa:
a) dos bacharéis em Ciências Econômicas, diplomados no Brasil, de conformidade com as Leis em vigor; e
b) dos que possuem cursos regulares no estrangeiro, após a devida revalidação do respectivo diploma na forma da legislação educacional.
Ainda, a profissão de economista pode ser exercida:
a) nas entidades que se ocupem das questões atinentes à economia nacional e às economias regionais, ou a quaisquer de seus setores específicos e dos meios de orientá-las ou resolvê-las através das políticas monetária, fiscal, comercial e social; e
b) nas unidades econômicas públicas, privadas ou mistas, cujas atividades não se relacionem com as questões de que trata a alínea anterior, mas envolvam matéria de economia profissional sob aspectos de organização e racionalização do trabalho.
Inserem-se entre as atividades inerentes à profissão de Economista:
a) assessoria, consultoria e pesquisa econômico-financeira; b) estudos de mercado e de viabilidade econômico-financeira;
c) análise e elaboração de cenários econômicos, planejamento estratégico nas áreas social, econômica e financeira;
d) estudo e análise de mercado financeiro e de capitais e derivativos;
e) estudo de viabilidade e de mercado relacionado à economia da tecnologia, do conhecimento e da informação, da cultura e do turismo;
f) produção e análise de informações estatísticas de natureza econômica e financeira, incluindo contas nacionais e índices de preços;
g) planejamento, formulação, implementação, acompanhamento e avaliação
econômico-financeira de política tributária e finanças públicas;
h) assessoria, consultoria, formulação, análise e implementação de política econômica, fiscal, monetária, cambial e creditícia;
i) planejamento, formulação, implementação, acompanhamento e avaliação de planos, programas, projetos de natureza econômico-financeira;
j) Avaliação patrimonial econômico-financeira de empresas e avaliação econômica de bens intangíveis;
k) perícia judicial e extrajudicial e assistência técnica em matéria de natureza econômico-financeira, incluindo cálculos de liquidação; (incluído pela Resolução nº 1.944, de 30.11.2015);
l) análise financeira de investimentos;
m) estudo e análise para elaboração de orçamentos públicos e privados e avaliação de seus resultados;
n) de mercado, de viabilidade e de impacto econômico-social relacionados ao meio ambiente, à ecologia, ao desenvolvimento sustentável e aos recursos naturais;
o) auditoria e fiscalização de natureza econômico-financeira;
p) formulação, análise e implementação de estratégias empresariais e concorrenciais; q) economia e finanças internacionais, relações econômicas internacionais, aduanas e comércio exterior;
r) certificação de renda de pessoas físicas e jurídicas e consultoria em finanças pessoais; s) regulação de serviços públicos e defesa da concorrência;
t) estudos e cálculos atuariais nos âmbitos previdenciário e de seguros;
u) consultoria econômico-financeira independente. (incluído pela Resolução nº 1.913, de 30.05.2014);
v) atuação no campo da economia solidária;
w) atuação no campo da economia da cultura e da economia criativa;
x) atuação no campo da economia criativa;
y) arbitragem e mediação.
De forma geral, economistas podem atuar nos mais diversos ramos das atividades econômicas, tais como: administração pública, administração privada, intermediação financeira, seguros e previdência privada, análise econômica, empresas na aŕea de agricultura e pecuária, indústria em geral, serviços relacionados ao comércio por atacado, intermediários e também no varejo. Os economistas são majoritariamente estatutários ou assalariados com carteira assinada
É possível observar a amplitude da atuação do economista nas esferas pública e privada do mercado de trabalho brasileiro. Essa amplitude está relacionada também à variedade de setores do sistema produtivo em que é demandado o emprego dos conhecimentos dos economistas. Essa peculiaridade da profissão será tratada mais adiante no desenvolvimento desse estudo, em que será apresentada a análise dos dados da RAIS.
2.4 Dados sobre mercado de trabalho no Brasil
O Brasil possui duas grandes instituições que provisionam dados acerca do mercado de trabalho no Brasil: o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Ministério da Economia, criado no dia 1 de janeiro de 2019 através de decreto do presidente da República Jair Bolsonaro, através da Medida Provisória 870/2019, posteriormente convertida na lei 13844/2019 (BRASIL, 2019).
O IBGE utiliza a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) - que fornece dados sobre emprego nas regiões metropolitanas do país -, o Censo Demográfico - que fornece dados gerais sobre a população e é realizado de 10 em 10 anos -, e as Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (PNAD) - que ocorrem a cada 2 anos como uma uma forma de subsidiar os Censos Demográficos.
O recém criado Ministério da Economia, que englobou prerrogativas do agora extinto Ministério do Trabalho, reúne duas importantes fontes de dados para registrar o emprego no país: o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) e a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS).
A Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), foi instituída pelo Decreto n.º 76.900, de 23 dezembro de 1975 (BRASIL, 1975). A partir de 1976, se tornou obrigatório que todos os empregadores forneçam, anualmente, uma série de dados sobre os vínculos empregatícios estabelecidos. Em termos de gestão, A RAIS foi criada com o objetivo de servir como base de cálculos das quotas do PIS e do PASEP, subsidiar o controle relativo ao FGTS e à Previdência Social, controlar a racionalização do trabalho e viabilizar o pagamento do Abono Salarial.
Em termos de dados, a RAIS contém os registros de empregos formais no Brasil. Esse universo compreende os celetistas (trabalhadores com carteira assinada e que estão de acordo com a legislação trabalhista - CLT), militares, funcionários públicos estatutários, entre outros vínculos relativos à administração pública. Os registros são realizados pelos estabelecimentos empresariais do país e divulgados com o total de vínculos ativos e inativos no último dia do ano de referência. Segundo o Ministério da Economia (BRASIL, 2019), a RAIS cobre aproximadamente 97,0% do mercado de trabalho formal brasileiro.
Devido à riqueza, à periodicidade e a clareza dos dados, a RAIS logo demonstrou um enorme potencial de exploração para todos aqueles interessados em realizar estudos e análises em relação ao mercado de trabalho brasileiro. Segundo Saboia e Tolipan (2000), os dados disponibilizados pela RAIS - que envolvem informações sobre vínculos, estabelecimentos, rotatividade e remuneração - permitem que sejam realizados diversos cortes analíticos considerando vários aspectos: região; setor econômico; tamanho do estabelecimento; ocupação; sexo; grau de instrução; dentre outros.
Os autores chamam a atenção para dois detalhes em relação aos dados da RAIS, um sobre a relação entre emprego e empregados e o outro sobre o critério que define um estabelecimento. Sobre o primeiro, a RAIS apresenta dados especificamente sobre empregos em vez de empregados. Dado que um mesmo trabalhador pode ocupar simultaneamente mais de um emprego, o número de empregos pode ser maior do que o número de pessoas empregadas de fato. Em relação à de definição de estabelecimento, a RAIS baseia-se no Cadastro Geral dos Contribuintes do Ministério da Fazenda, que utiliza um critério espacial: um endereço equivale a um estabelecimento. Os autores apontam esses detalhes para tratar de discrepâncias observadas entre os dados da RAIS e os da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar) e o do Censo Industrial do IBGE, embora observem a compatibilidade e complementaridade entre essas três bases de dados sobre o mercado de trabalho brasileiro.
A revisão da literatura apresenta 4 estudos que analisam a consistência e a confiabilidade dos dados da RAIS.
O primeiro, realizado por Saboia e Tolipan (1985), compara os dados da RAIS com os dados da PNAD e do Censo Industrial realizado pelo IBGE. Os autores concluem que a RAIS apresenta um grau de qualidade satisfatório como instrumento de análise do mercado de trabalho brasileiro no curto e no longo prazo.
Negri e outros (2001) também compararam os dados da RAIS com os dados da PNAD, mas com foco no mercado de trabalho formal. Os autores atestam a confiabilidade dos dados da RAIS, destacando a amplitude das informações, cobertura geográfica, dimensão temporal bem estabelecida. Como destaque, os autores salientam a possibilidade de utilizar os dados da RAIS para a realização de análises longitudinais.
O terceiro estudo, realizado por Paixão, Rosseto e Monçores (2012), também comparou a base de dados da RAIS com a do PNAD, mas relação ao quesito raça/cor. O
estudo identificou uma vulnerabilidade dos dados da RAIS sobre o quesito, o que poderia produzir uma informação mais tendenciosa em relação aos dados da PNAD.
Por fim, o estudo de Portela e Oliveira (2018) analisou não os dados da RAIS propriamente ditos, mas artigos que utilizaram os dados da RAIS no seu desenvolvimento. O estudo conclui que o volume de artigos produzidos com base nos dados da RAIS ainda é reduzido (cerca de 1,6%, segundo os autores) e se faz necessária a ampliação da quantidade de estudos publicados que utilizem a RAIS. Contudo, os autores ressaltam a importância e a confiabilidade dos dados da RAIS para a realização de estudos e também para a elaboração de políticas públicas para o mercado de trabalho brasileiro, propiciando o desenvolvimento socioeconômico do país.
2.5 Entrada no mercado de trabalho e resultados de longo prazo para economistas De acordo com os estudos de Paul Oyer (2006), professor e pesquisador da Universidade de Stanford na Califórnia, Estados Unidos, as condições da colocação inicial do economista no mercado de trabalho influenciam significativamente toda a carreira do profissional.
Oyer (2006) afirma que as condições de trabalho iniciais podem ser importantes no longo prazo para a carreira do economista devido ao desenvolvimento de habilidades no trabalho. Aqueles contratados sob condições mais favoráveis são incubidos desde o início com tarefas de maior valor e importância, o que para os economistas podem assumir a forma de pesquisas de alto impacto ou interações com colegas mais bem sucedidos, e assim desenvolver maior valor em capital humano, valor esse que persiste ao longo de suas carreiras. Dessa forma, o impacto de uma boa colocação no início da carreira do economista é reverberado ao longo de toda a sua vida profissional, em termos de renda, qualidade e senioridade no trabalho.
De forma paralela, o autor considera também que o mercado de trabalho inadvertidamente toma o emprego inicial como um sinal de capacidade do trabalhador e não consegue compensar os demais elementos que influenciam esse aspecto, ressaltando a sorte como o principal desses elementos.
Após a apresentação de dados relativos ao mercado de trabalho dos economistas nos Estados Unidos e a explicitação de teorias de capital humano, Oyer (2006) conclui que, pelo
menos entre os economistas, os efeitos positivos de bons empregos são persistentes na carreira dos economistas.
3. APRESENTAÇÃO DAS ANÁLISES DOS DADOS DA RAIS
3.1 Os dados da RAIS de acordo com Brasil, as regiões naturais e entidades federativas
Para iniciar a análise dos dados da RAIS em relação ao mercado de trabalho para economistas, o gráfico 3 apresenta a quantidade de economistas com vínculo ativo ano a ano entre 2006 e 2018 no Brasil.
Gráfico 3: Quantidade de economistas com vínculo ativo no Brasil, por ano entre 2006 e 2018
Fonte: elaboração do autor a partir da base de dados da RAIS (2006-2018)
Pode-se notar, em um primeiro momento, o significativo crescimento da presença de economistas no mercado de trabalho brasileiro. Se em 2006 haviam 23873 profissionais trabalhando como economistas, em 2018, último ano da série analisada, esse número já era de 41350. Esse salto representa um aumento de 73,2% de economistas no mercado de trabalho no ano de 2018 em relação a 2006. Outra observação digna de nota é a de que a presença de economistas no mercado de trabalho se eleva continuamente ano a ano entre 2006 e 2015, só conhecendo a sua primeira redução no ano de 2016, em que a variação percentual de economistas com vínculo ativo é negativa - em relação a 2015. Em 2017 e 2018 também serão observadas reduções na quantidade de economistas empregados.
O expressivo aumento da quantidade de economista no período está em consonância com a expansão observada no mercado de trabalho brasileiro como um todo. Como já
apontado anteriormente, a taxa de ocupação da população economicamente ativa brasileira também se elevou no período, enquanto a taxa de desemprego caiu continuamente até atingir o valor mínimo da série histórica em 2014. No período entre 2006 e 2014 também houve aumento significativo dos trabalhadores em regime formal, quadro no qual se encaixam os economistas.
Em seguida, é aprofundada a análise da quantidade de economistas no mercado de trabalho e como essa quantidade variou ano a ano durante o período estudado. A tabela 2 apresenta as variações percentuais do número de economistas no mercado de trabalho brasileiro em relação ao ano anterior.
Tabela 2: Quantidade de economistas com vínculo ativo no Brasil, por ano entre 2006 e 2018, e variação percentual da quantidade de economistas no ano em relação ao anterior
Ano Quantidade de economistas com vínculo ativo Variação percentual em relação ao ano anterior
2006 23873 2007 25983 8,8% 2008 27323 5,2% 2009 27996 2,5% 2010 30394 8,6% 2011 33578 10,5% 2012 36748 9,4% 2013 40951 11,4% 2014 42233 3,1% 2015 43792 3,7% 2016 42498 -3,0% 2017 41809 -1,6% 2018 41350 -1,1%
Fonte: elaboração do autor a partir da base de dados da RAIS (2006-2018)
A tabela 2 mostra que, de um ano para o outro, a variação percentual de economistas que entraram no mercado superou a taxa de 10% em dois anos - 2011 em relação a 2010 e 2013 em relação a 2012. Fica claro também que, apesar das variações negativas entre 2016 e 2018, o conjunto do período analisado foi de expansão da presença do economista no mercado de trabalho. Se considerarmos a quantidade de economistas no mercado em 2006 - valor mínimo - e em 2015 - maior valor observado na série analisada -, o crescimento foi de 83,4%.
O período de 2006 a 2018 foi, portanto, definitivamente de elevação da presença de economistas no mercado de trabalho brasileiro.
O gráfico 4 mostra a participação de cada região natural do Brasil na quantidade de economistas no mercado de trabalho.
Gráfico 4: Quantidade de economistas por região natural do Brasil, por ano entre 2006 e 2018
Fonte: elaboração do autor a partir da base de dados da RAIS (2006-2018)
O gráfico 4 explicita a grande contribuição da região sudeste no mercado de trabalho de economistas no Brasil. Além disso, pode-se observar que a tendência observada para o Brasil como um todo aparece também quando se olha para as regiões do país separadamente. A exceção é a região norte, que manteve estável a quantidade de profissionais de economia com vínculos ativos ao longo do tempo, embora com uma pequena representatividade em relação ao total - e também quando comparada às demais regiões.
O gráfico 4 deixa claro também a pequena quantidade de economistas alocados nas regiões norte e centro-oeste.
Gráfico 5: Porcentagem de economistas por região em relação ao total do país em 2006 e 2018
Fonte: elaboração do autor a partir da base de dados da RAIS (2006-2018)
O gráfico 5 mostra a participação relativa de cada região na quantidade de economistas com vínculo ativo no Brasil em 2006 e 2018. Pode-se observar que a região sudeste possuía 66,6% dos economistas empregados em 2006 e aumentou essa participação para 70,9% em 2018, em relação ao total de economistas empregados no Brasil. Além do sudeste, o sul foi a única região a aumentar a sua participação no mercado de economistas no Brasil entre 2006 e 2018, com as três demais terem reduzidas as suas participações no total de economistas com vínculo ativo no Brasil no período.
Uma primeira conclusão que se pode tirar da análise por região natural é a importância do sudeste, dado que essa região concentra em torno de 70% dos economistas com vínculo ativo no Brasil no período analisado. E, como visto anteriormente, essa importância aumentou entre 2006 e 2018, em termos de proporção de economistas empregados na região em relação ao país como um todo.
Uma outra conclusão é a de que o mercado de trabalho para os economistas está cada vez mais se concentrando no eixo sudeste-sul do país, em detrimento das demais regiões. Em 2006 sul e sudeste somavam 77,4% dos economistas empregados e, em 2018, esse percentual subiu para 83,2%.
A próxima análise visa explicitar com mais detalhes o que aconteceu em cada uma das regiões do Brasil no período.
Tabela 3: Quantidade de economistas no Brasil e por região natural em 2006 e 2018 e a variação percentual de um período para o outro, em termos percentuais
Região
natural com vínculo ativo em 2006 Número de economistas com vínculo ativo em 2018 Número de economistas Variação percentual entre 2006 e 2018
Brasil 23873 41350 73.2% Norte 1141 1508 32.2% Nordeste 2446 3121 27.6% Sudeste 15911 29309 84.2% Sul 2568 5099 98.6% Centro-oeste 1807 2313 28.0%
Fonte: elaboração do autor a partir da base de dados da RAIS (2006-2018)
A tabela 3 mostra a quantidade de economistas com vínculos ativos nos anos de 2006 e 2018 para cada uma das regiões naturais do Brasil. Em primeiro lugar, observa-se que todas as regiões apresentaram variações positivas, ou seja, o número de economistas é maior em 2018 do que em 2006 para todas as regiões. Em seguida, nota-se que foram as regiões sul e sudeste que apresentaram a maior variação percentual de economistas no período, com quantidade 98,6% e 84,2% maior de economistas, respectivamente. Essas duas regiões foram as responsáveis por elevar o valor do crescimento no país como um todo no período estudado, dado que as demais regiões tiveram variações percentuais positivas entre 27,6% e 32,2% números bem menores do que o apresentado pelo Brasil. E o Brasil, no todo, viu crescer em 73,2% a quantidade de economistas no mercado de trabalho em 2018 quando comparado a 2006.
Portanto, o mercado de trabalho para os economistas, no período analisado, esteve aquecido e viu crescer a quantidade de profissionais da área empregados.
É importante ressaltar que, embora todas as regiões tenham quantidades maiores de economistas com vínculo ativo em 2018 em relação a 2006, somente as regiões sul e sudeste ganharam fatias maiores do mercado de economistas no Brasil neste período. Essa análise foi apresentada anteriormente.
Em seguida será observada a situação do mercado de trabalho para os economistas em cada um dos 26 estados brasileiros e o Distrito Federal. Essa visão consiste em um aprofundamento dos dados trazidos pelo recorte regional, já que mesmo dentro das regiões podem haver diferenças significativas na distribuição e remuneração dos economistas.
Tabela 4: Quantidade de economistas por entidade federativa, participação relativa de cada entidade em relação ao total de economistas no Brasil e as remunerações média e mediana no
ano de 2006 Estado Quantidade de economistas com vínculo ativo Participação relativa de economistas (%) Remuneração média (em salários mínimos) Remuneração mediana (em salários mínimos) Brasil 23873 100.0% 12.4 9.4 São Paulo 10012 41.9% 12.1 9.6 Rio de Janeiro 3699 15.5% 15.7 11.4 Minas Gerais 1874 7.8% 9.8 8.0 Distrito Federal 1211 5.1% 18.9 15.9 Paraná 988 4.1% 11.9 9.2
Rio Grande do Sul 970 4.1% 10.3 7.9
Bahia 672 2.8% 10.6 9.0 Santa Catarina 610 2.6% 11.3 7.9 Pernambuco 457 1.9% 9.8 6.8 Amazonas 412 1.7% 16.4 9.9 Para 390 1.6% 9.6 8.0 Espírito Santo 326 1.4% 11.1 9.2 Ceará 309 1.3% 9.9 7.8 Goiás 303 1.3% 13.8 9.1 Paraíba 263 1.1% 5.5 3.7 Sergipe 197 0.8% 12.2 7.9 Maranhão 176 0.7% 8.2 7.1 Piaui 171 0.7% 11.5 9.7 Mato Grosso 163 0.7% 8.4 7.8
Mato Grosso do Sul 130 0.5% 11.8 8.8
Rio Grande do Norte 117 0.5% 9.8 7.7
Amapa 97 0.4% 6.9 7.3 Alagoas 84 0.4% 11.1 7.7 Tocantins 65 0.3% 7.4 6.5 Acre 61 0.3% 11.7 9.5 Rondônia 58 0.2% 8.0 7.3 Roraima 58 0.2% 7.9 7.5
Fonte: elaboração do autor a partir da base de dados da RAIS (2006-2018)