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Bullying: causas e consequências

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Academic year: 2021

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GRANDE DO SUL

DFP – DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E PSICOLOGIA

MICHELE SLONIEC BOLZAN

BULLYING: CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS

SANTA ROSA 2012

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MICHELE SLONIEC BOLZAN

BULLYING: CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS

Trabalho de conclusão de curso de Graduação em Psicologia apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Psicólogo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ.

Orientadora: Prof. Dra.Lala Catarina Lenzi Nodari.

SANTA ROSA 2012

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MICHELE SLONIEC BOLZAN

A comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o trabalho de conclusão de curso BULLYING: CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS

como requisito parcial para obtenção do título de Psicólogo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ.

Trabalho de conclusão de curso definido e aprovado em: _____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________ PROFA. DRA. LALA CATARINA LENZI NODARI

Psicóloga; Doutora,

Professora do Departamento de Humanidades e Educação

____________________________________________ PROFA. MS. SILVIA CRISTINA SEGATTI COLOMBO

Psicóloga; Mestre,

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Agradeço a Deus, meus pais Boleslau e Gerti Sloniec, que me deram a vida e sempre me mostraram a importância do estudo. A meus irmãos Luana e Michael Luan e meu amado marido Diogo Rafael Bolzan que foi a pessoa mais próxima a mim nesta caminhada, me ajudando, compartilhando minhas alegrias e sofrimentos. Agradeço a estes queridos que compartilharam meus ideais, me dando força e incentivando a prosseguir e superar as dificuldades encontradas neste percurso.

A todos os amigos e colegas que de uma forma ou de outra fizeram parte desta minha conquista, muito obrigada.

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RESUMO

Bullying é um comportamento caracterizado por atos de violência, tanto física quanto psicológica, sem motivação aparente e contra alguém em desvantagem de força. O mesmo ocasiona efeitos desastrosos para as vitimas, e também aos agressores e testemunhas. O bullying está fortemente ligado à constituição psíquica do sujeito que o pratica. De modo que é em seu processo de desenvolvimento, considerando a estrutura familiar, que o sujeito vai articular os instrumentos que utilizará para fazer suas trocas com o meio em que está inserido. Assim, é a estrutura familiar que constitui o sujeito e isso vai acontecendo cotidianamente, a cada acontecimento ou situação entre a criança e seus pais. Estes acontecimentos vão ser significados por atos que vão delinear o sujeito e, por conseguinte, seu lugar de filho, sendo que, é justamente a definição desse lugar que vai permitir a criança se tornar um sujeito. E é justamente o modo como um sujeito está constituído que vai lhe permitir ser uma vitima ou um agressor, também as maneiras de um sujeito lidar com o bullying, dependem de sua constituição. É no contexto escolar que este fenômeno se torna uma das formas mais graves de violência contra o outro. Os agressores evidenciam firmemente a intenção de agravar situações em que as vítimas estão numa posição indefesa. E é o sofrimento a consequência desse processo tanto físico quanto psicológico. Também pode haver a exclusão dos envolvidos, sob a forma de marginalização social. Desse modo, é possível compreender o bullying como: agressões verbais e físicas, assédios, ações desrespeitosas, que são realizadas de forma intencional e que precisam de programas de intervenção.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 6

1 SOBRE A CONSTITUIÇÃO PSÍQUICA... 8

1.1 DESENVOLVIMENTO E MATURAÇÃO ... 8

1.2 RECONSTITUIÇÃO DO ESPELHO ... 11

1.3 O ESTÁDIO DO ESPELHO E O ÉDIPO ... 14

1.4 SOBRE A ADOLESCÊNCIA ... 18

1.4.1 Identidade na adolescência ... 19

1.4.1 Os Grupos na Adolescência ... 21

2 BULLYNG: CAUSAS E CONSEQÜÊNCIAS ... 25

2.1 SOBRE O BULLYING ... 25

2.2 O BULLYING E SUAS CONSEQUÊNCIAS ... 29

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 33

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 37

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INTRODUÇÃO

A escolha deste tema de pesquisa se dá pelo fato de o bullying acontecer de modo desenfreado nos últimos tempos. São inúmeros os casos que podemos ter conhecimento através dos meios de comunicação de massa. Então, através desta pesquisa se busca saber o porquê do bullying acontecer, quem o pratica e porque o pratica, bem como, a reação da vítima e de quem assiste estes atos de violência.

Para falar sobre o bullying é de extrema importância falar primeiro da constituição psíquica de um sujeito. Sendo que é a partir de seu desenvolvimento que será determinado, pois é pela via da estrutura familiar que o sujeito articula os instrumentos que vai utilizar para fazer suas trocas sócio-culturais. É assim que se apresenta a estrutura familiar que constitui o sujeito, sendo que cada acontecimento entre a criança e seus pais (família, cuidadores), é significado por atos que delineiam o sujeito e consequentemente seu lugar de filho, sendo que, é justamente a definição desse lugar que vai permitir a criança de se tornar um sujeito.

A importância de se falar sobre o bullying está no fato de que vem ocorrendo intensamente. Necessário então, se faz compreender suas características e forma de funcionamento. Essa prática violenta produz efeitos físicos e psicológicos. Ocorre sem motivação aparente e contra alguém em desvantagem de força, ocasionando resultados desastrosos para as vítimas, e também aos agressores e testemunhas, além disso, tem se transformado em tema de políticas públicas em todo o mundo recentemente.

É possível classificar o bullying como agressões verbais e físicas, assédios, ações desrespeitosas, que são realizadas de forma intencional. Então, é inevitável e fundamental conhecer o perfil dos envolvidos, tanto vítimas, abusadores e testemunhas, pois o bullying é um problema mais grave do que parece ser, e

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envolve de um modo geral toda a sociedade. Tudo isso se faz levando em consideração o sofrimento, que é a consequência maior desse processo.

Esta pesquisa se baseia no fato de que atualmente existem vários tipos de bullying, sendo alguns deles, e provavelmente os mais conhecidos, o físico, o verbal, o relacional/racial, o sexual e o cyberbullying. E, levando em consideração o fato de que o bullying apresenta características padrão no perfil dos participantes, é importante conhecê-los. Em se tratando dos agressores, buscamos compreender; que pessoas são, de que famílias provem e como se estruturam e de que modo são seus relacionamentos. No que se refere às vítimas, sua capacidade de reagir, se possuem amigos, seus sentimentos, o porquê de sua passividade e de não se oporem aos atos de agressividade sofridos, porque se tornam alvos fáceis para os agressores, que os manipulam. E os espectadores, ou seja, as testemunhas, que convivem e observam essa prática violenta.

O Bullying é muito comum nas escolas. É por isso a necessidade do alerta sobre os riscos dessa prática neste ambiente.

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1 SOBRE A CONSTITUIÇÃO PSÍQUICA

Neste primeiro capitulo trataremos sobre a constituição psíquica do sujeito, este que emerge da criança como efeito de um desejo parental. Os pais desenham ou escrevem com significantes uma imagem que o pequeno ser vai assumindo pela via de um processo identificatório. Desse modo, ao crescer e se tornar um adolescente fará sua passagem do contexto familiar para o social, onde terá que se haver com a diferença entre aquilo que ele é na realidade, e aquilo que ele vê na sua relação com o outro especular1, ou seja, aquele que lhe oferece a imagem.

1.1 DESENVOLVIMENTO E MATURAÇÃO

Quando falamos em constituição psíquica, ou até mesmo em desenvolvimento, Coriat e Jerusalinski (1996) nos chamam a atenção para a necessidade de haver uma distinção entre as articulações que vão constituir o sujeito e os instrumentos que ele vai utilizar para fazer suas trocas com o meio, sendo que, as tessituras que constituem o sujeito são, especificamente, os aspectos estruturais e os aspectos instrumentais.

No que se refere aos aspectos estruturais, Coriat e Jerusalinsky, nos colocam que o aparelho biológico e, em especifico o sistema nervoso central, possibilitam a existência do próprio sujeito. Através dele é possível condicionar, limitar ou ampliar seu funcionamento, em relação aos intercâmbios com o meio. Neste sentido, os autores nos alertam que:

Sobre este alicerce, determinado pela presença de uma estrutura familiar, constitui-se o sujeito psíquico. Cada acontecimento entre a criança e seus pais é significado por atos, gestos e palavras, articulados em uma sequencia que recorta e delineia o lugar do filho. E a definição desse lugar que permite a criança ser sujeito, inscrito sobre o sistema nervoso central que o possibilita. (CORIAT e JERUSALINSKY, 1996, p. 8).

Portanto, o meio em que a criança vive, enquanto coisas e pessoas, serve para que aconteça um intercambio organizado, onde muitas trocas são possíveis. Quando o bebê deseja algo, está desejando aquilo que resulta primeiramente do

1

O estádio do espelho é um conceito elaborado por Lacan para explicar o narcisismo primário, o primeiro esboço do eu e as identificações secundárias. Sendo que este conceito será trabalhado mais adiante neste texto.

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interesse de sua mãe. Porém, é necessário ressaltar que no desenvolvimento não se trata apenas de preservar o crescimento ou sobreviver2, mas possivelmente buscar a incorporação dos novos mecanismos de intercâmbio, de modo que os momentos de cuidado não se tornem ações mecânicas e sim ocasiões de diálogo entre mãe e filho.

Parece ser necessário que o sistema nervoso, afetivo, psíquico e cognitivo funcionem de uma forma simultânea, e em articulação, para assim se imporem à estrutura. Os autores que estamos estudando, (já referidos anteriormente), nos asseveram que: em cada acontecimento, entre a criança e seus pais, está presente uma tripla exigência, capaz de preservar o equilíbrio biológico, determinar um lugar de filho, a significação dos fatos e autonomizar os sistemas de adaptação. Dito de outro modo, preservar a vida e o bem estar físico, entender e fazer-se entender e ensinar, possibilitando a aprendizagem.

No que se refere aos aspectos instrumentais, segundo os mesmos autores, podemos entender que estes são as ferramentas das quais o sujeito vai se valer para efetuar os intercâmbios com o meio. São justamente estas que vão facilitar a construção do mundo e de si mesmo e sua ausência ou déficit, não impedindo o sujeito de estruturar-se. Contudo, podem ocasionar transtornos ou atrasos, às vezes significativos, como por exemplo, na psicomotricidade, linguagem, aprendizagem, hábitos, jogos e processos práticos de sociabilização.

De acordo, ainda, com Coriat e Jerusalinsky, é difícil diferenciar os aspectos instrumentais dos estruturais logo nos primeiros meses de vida. Segundo estes autores, podemos entender que:

Nos dois ou três anos iniciais, a diferenciação no interior dos aspectos estruturais é inexistente no começo e tênue depois, e o mesmo ocorre com os aspectos instrumentais. No entanto, sempre, inclusive desde os primeiros anos, é possível distinguir o instrumental do estrutural. Trata-se do central e do periférico: é o que determina e oferece a base de um lado, e o que completa o ciclo, executando, por outro. (CORIAT e JERUSALINSKY, 1996, p. 11).

Buscando as relações entre o desenvolvimento e maturação, lemos os mesmos autores (1987), que trazem então, a conceituação de maturação. Entendemos, portanto, que os processos relativos à maturação centram-se nas

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Em certas circunstâncias; existem problemáticas familiares que devem ir sendo solucionadas conforme forem surgindo.

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questões especificamente orgânicas, ou seja, essa diz respeito ao conjunto de transformações que sofrem os organismos ou algumas de suas células até alcançar sua plenitude. O desenvolvimento vem a ser um conceito mais abrangente, já que remete às transformações globais, que conduzem a adaptações cada vez mais flexíveis. Seria, então, o desenvolvimento ao mesmo tempo orgânico e mental, que “transporta” o sujeito do nascimento à adolescência, ou até mesmo ao ponto de sua inserção na sociedade adulta.

No entanto, é de extrema importância descrever o que se entende por maturação neurológica, pois, segundo os já citados autores, em sua obra (1987), ela abrange os processos de completude das estruturas do Sistema Nervoso Central, assim como os processos neuromusculares, que incluem o crescimento e a maturação bioquímica e, por consequência, permitem o aperfeiçoamento e enriquecimento dos sistemas de interconexão, que resultam em coordenações progressivamente mais complexas e abrangentes.

Neste sentido, o processo de maturação neurológica, está fortemente ligado ao intercâmbio, ou seja, às trocas, entre o sujeito e o seu meio. Nesse processo, que se dá entre a mãe e seu bebê, o inconsciente materno determina a expressão na consciência da mãe, acerca do que o seu filho necessita. Isso se manifesta em várias ações significantes, que vão ser registradas pelo bebê inicialmente desde a peneira de seu código genético, o que marcará o caráter prazeroso ou desprazeroso de suas sensações, ocorrendo conforme a concordância da atividade materna e a necessidade da criança. Dito de outro modo, esse código irá se transcrever de forma progressiva, tanto por palavras, quanto por imagens, ou seja, a criança adentra em um mundo já existente no discurso parental. Então:

Como o espectro contrapõe-se à natureza do prisma que o produz, induzido pela luz preexistente; assim emerge o sujeito da criança: efeito de um desejo parental refletido em um sistema nervoso que o possibilita, mas que não o contém. Por isso dizemos que o desenvolvimento é um processo no qual o sujeito, que vai se constituindo, vai utilizando em cada instante o corpo que enerva, para realizar seu desejo (CORIAT e JERUSALINSKY, 1987, p. 70).

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1.2 RECONSTITUIÇÃO DO ESPELHO

Encontramos em Carmen Backes (2004) uma contribuição importante sobre a reconstituição do espelho3. A autora nos ensina que: o estádio do espelho representa aquilo de que o sujeito é frequentemente tomado, quando ele se vê, se identifica no outro, ou seja, se trata da fundação do “eu” pela imagem especular.

Nesse processo entendemos então, dois elementos, o “eu” e o “outro”, ou podemos dizer também “modelo” e “imagem”, “sujeito” e “objeto”, “original” e “cópia”. Por algumas vezes, estes elementos são tomados como um prevalecendo sobre o outro. Eles ocorrem na relação do sujeito com o outro, na experiência dos cuidados maternos com o bebê.

De outro lado, é importante ressaltar que não há como tomar um elemento sem primeiramente passar pela relação com o outro.

Segundo a autora estudada, ainda é possível compreender que a relação com o outro especular se dá de modo que a experiência frente ao espelho seja singular, porque revela uma imagem completa, frente a qual o pequeno ser imediatamente vibra entusiasmado. Ao mesmo tempo em que ele se reconhece e responde feliz, frente a esta imagem (que é ideal). O que se coloca para ele também é uma inevitável comparação com aquilo que ele é, ou seja, um ser imaturo, sem domínio de marcha, sem conseguir manter-se em pé. Ele precisa, a todo momento, da ajuda de um adulto para se deparar com a imagem completa no espelho. Desse modo, vemos que:

O que ocorre aí, então, é uma experiência inusitada, no sentido de que é agradável porque ele consegue ver sua imagem total, mas, ao mesmo tempo, desagradável porque ocorre, inevitavelmente a comparação com aquilo que ele realmente é. Configura-se, aí, um eu e um outro, mas que não podem, de forma nenhuma, dissociar-se um do outro, conforme já afirmávamos, pois aquilo que é o eu também não o é e aquilo que é o outro também não o é. (BACKES, 2004, p. 31).

O adulto desenha ou escreve com significantes, uma imagem que o pequeno ser vai assumindo, pela via da identificação. “Esse outro”4

, que se ocupa da criança

3

A teoria do Estádio do Espelho foi originalmente pensada por Jacques Lacan. Ele fala pela primeira vez da fase do espelho, em 1936, em seu artigo “A Família”, da Encyclopédie française.

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no inicio da vida, também é chamado de outro especular, ou até mesmo outro imaginário, porque fornece uma imagem para que a criança se espelhe nela.

De acordo com Carmen Backes então, a imagem especular antecipa a integridade, a totalidade, a imagem adequada em contraponto à fantasmática do corpo desintegrado, ou seja, o outro especular faz o contorno da imagem, construção esta, que vai se dar pela via discursiva, através das palavras utilizadas durante as comunicações.

De um modo geral, pode-se dizer que toda a ideia do estádio do espelho é colocar em consideração uma das funções da imagem, que é a de situar a relação do organismo com sua realidade e também, situar a relação do mundo interno com o meio que o circunda. Esta é a função preenchida pela mãe ou cuidador, fazer para o seu bebê, a ligação entre ele e o mundo em que vive.

Podemos, então, tomar o estádio do espelho como sendo a passagem do eu especular para o eu social, a passagem adolescente do familiar para o social. Ou seja, o sujeito, em sua constituição via imagem, articula, ao mesmo tempo, a referência ao outro do espelho que lhe oferece a imagem especular com a referência ao Outro5, lugar este, das identificações. Ao mesmo tempo, na adolescência, o outro familiar passa a ser interrogado em sua capacidade de fazer a mediação desta passagem, quando a criança, frente ao espelho, mesmo já cativada por sua imagem, se volta para o adulto que a acompanha, pedindo testemunho e confirmação desta imagem.

Dessa forma, segundo Backes, o sujeito ‘vai ter que se haver6 com a diferença, entre aquilo que ele é na realidade e aquilo que ele vê na sua relação com o outro especular, de modo que, na experiência dos primeiros cuidados, na relação com o outro primordial, a mãe ao tocar o corpo do bebê, o modela. Desse modo, este corpo vai se constituindo, não só como corpo, mas também como imagem, então, é justamente na relação ao outro primordial que este corpo vai sendo escrito com significantes.

É na referência ao grande Outro7, então, que se acenderá uma dialetização possível na relação sempre conflituosa, entre o eu e o outro do espelho. A criança,

5 Outro – É no ponto de articulação que está o Nome-do-pai, isto é, o significante que é, no Outro,

enquanto lugar do significante, o significante do outro, enquanto lugar da lei.

6 Ter que se haver – Significa o sujeito se deparar com aquilo que ele realmente é.

7 Outro – É no ponto de articulação que está o Nome-do-pai, isto é, o significante que é, no Outro,

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ante o espelho, apesar de ter sido já cativada por sua imagem, volta-se para o adulto que a acompanha, como se fosse um pedido de confirmação dessa imagem. Então:

O Outro responder-lhe-á, porém, apenas com os índices de um ideal de imagem. Por sua vez, a mãe primordial (aquela da imagem total), ao dar lugar à mãe do espelho, não o faz sem deixar o traço de objetos pulsionais que o pequeno infans recolhe de sua voz e de seu olhar. É com estas marcas, com o reconhecimento daí advindo que o sujeito vai contar para constituir o seu lugar no mundo. Os traços aí fixados estarão contidos no desenho das futuras identificações. Estes pontos aí recolhidos, como estrelas de uma constelação, unidos por um traço único, ajudarão a construir novas figuras, outras constelações. (BACKES, 2004, p. 34).

De acordo com a autora, a condição de sujeito depende do que se passa no Outro, que vai fornecer a base da identificação primordial da criança com a imagem especular ideal, a partir de um traço único da imagem do objeto, sendo que este não é dado como significante8, mas como signo9. Para ser da ordem do significante, seria necessário que estivesse referido a uma rede significante.

A essa característica, denominamos ‘traço unário’ que se constitui quando o objeto é perdido. O investimento a ele dirigido é substituído por uma identificação parcial que conserva um traço da pessoa-objeto. Ele é importante, pois tomar um traço do outro é necessário para a sustentação do eu. Esse coloca um registro o que esta para além da aparência visível. A diferença se dará pela seriação dos traços, que são diferentes e não ocupam o mesmo lugar. Segundo Backes (2004, p. 36): “É através do traço unário que uma identidade perde seu caráter imaginário de unidade e passa a admitir a diferença”.

Ainda de acordo com a autora, é justamente porque o traço unário permite, que se inicia a contagem, que faz suporte à identificação do sujeito. Ou seja, quando a criança começa a contar, ela não conta somente os objetos, mas a si mesma também. Sendo que vai ser somente mais tarde, que ela vai se ver como um contador, e não se incluir nesse processo. Então, identificado com o traço unário, o sujeito é igual a todos que passaram pela castração10. Porém, adquiriu também a capacidade de se distinguir dos outros, fazendo valer sua singularidade, por um traço qualquer, mas único. No entanto, esta competência de não se contar,

8 Significante – cruzamento entre palavra e linguagem. 9 Signo – representação do significante.

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Castração – Freud descreve o complexo de castração quando relata a teoria sexual infantil, que atribui a todos os seres humanos um pênis.

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produzindo uma exceção, faz com que o sujeito funde identidades grupais, a partir das quais se conta e se reconhece.

Assim sendo, o estádio do espelho, ordena-se a partir de uma experiência de identificação, quando a criança conquista a imagem de seu próprio corpo, identificação primordial da criança com a imagem que irá promover a estruturação do eu.

Essa experiência da criança na fase do espelho se organiza em torno de três tempos fundamentais, sendo que, no primeiro a criança percebe a imagem de seu corpo como a de um ser real, de quem ela procura se aproximar. No segundo momento, uma etapa decisiva no processo identificatório, sendo a criança levada a descobrir que o outro do espelho, não é um outro real, mas sim uma imagem. E o terceiro momento dialetiza as duas etapas precedentes, quando a criança adquire a convicção de que não é nada mais que sua própria imagem.

1.3 O ESTÁDIO DO ESPELHO E O ÉDIPO

O complexo de Édipo é um momento fundamental de constituição subjetiva. Teoricamente, buscamos apresentar o modo como este processo ocorre e veremos que há uma processualidade em três tempos, como também ocorre no Estádio do Espelho.

Ao relacionarmos o estádio do espelho com os três tempos do Édipo, vemos em Joël Dor (2003), que o primeiro momento do Édipo ocorre de modo que, ao sair da fase identificatória, a criança ainda está numa relação de indistinção funcional com a mãe. Busca identificar-se com o que supõe ser o objeto de desejo da mãe, ou seja, a criança se faz desejo do desejo da mãe, pela relação desta com a mãe, através dos primeiros cuidados e a satisfação de suas necessidades. Em outras palavras, pode-se dizer que a criança depara-se com a problemática fálica11 em sua relação com a mãe, ao querer ser ela mesma: o falo materno com seu desejo que permanece radicalmente assujeitado àquele da mãe.

A identificação com o objeto fálico, segundo esse autor, “que elude12 a mediação da castração, convoca-a melhor ainda no terreno de uma oscilação

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Fálica – fase da sexualidade infantil, na qual, em ambos os sexos, as pulsões se organizam ao redor do falo (símbolo do sexo masculino).

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dialética entre ser ou não ser o falo” (DOR, 2003, p. 81). De modo que essa oscilação entre ser ou não ser o falo, já vem anunciando o segundo tempo do complexo de Édipo, e então, a criança é colocada no registro da castração pela entrada da dimensão paterna.

Segundo, ainda, as palavras de Dor (2003), no segundo momento do Édipo, o pai irá intervir na relação mãe-criança-falo, sob a forma de privação, ou seja: o pai priva a mãe do objeto fálico de seu desejo, e fazendo isso, desempenha um papel importante. Essa intrusão da presença paterna é vivida pela criança sob a forma de interdição e frustração.

Neste segundo momento do Édipo é essencial falar sobre a noção da falta do objeto, que pode se manifestar sob três formas bem especificas, sendo elas: a frustração, a privação e a castração.

Na frustração, a falta é um dano imaginário, tendo como contrapartida, o objeto da frustração, como sendo real. De um modo geral, a criança vive a ausência do pênis na mãe como uma frustração. Já na privação, a falta é que é real. E no que se refere à castração, a falta que ela interpela é uma falta simbólica, na medida em que remete à interdição do incesto, sendo justamente por isso que a função paterna é operatória, determinando para a criança seu próprio acesso ao simbólico.

De acordo com Dor (2003) então, a castração é a falta simbólica de um objeto imaginário, a frustração é a falta imaginaria de um objeto real e a privação é a falta real de um objeto simbólico.

Esse processo desdobra-se de maneira que a intrusão paterna se manifesta através de uma dupla vertente, onde do ponto de vista da criança, o pai vem sob a forma de interdição e a criança é levada a questionar sua identificação fálica, e também a renunciar a ser o objeto de desejo da mãe. Do ponto de vista da mãe, o pai priva o falo que ela supostamente tem, sob a forma da criança identificada com o objeto de seu desejo. Vemos, nessa direção que:

O ponto de origem da oscilação induzida na criança nesta dialética do ser, sob a dupla relação da frustração e da privação, deve-se, fundamentalmente, ao fato do pai aparecer aqui enquanto “outro” nesta relação mãe-criança. E é como tal que ele surge na vida subjetiva da criança, logo, como um objeto fálico possível com o qual a criança pode supor rivalizar junto com a mãe. O que esta em jogo nesta rivalidade imaginaria é, na realidade, coextensivo a um deslocamento do objeto fálico, que conduz a criança a encontrar a lei do pai. (DOR, 2003, p. 85).

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De acordo com o autor, podemos pensar que a criança é confrontada com esta lei paterna, na medida em que descobre que a própria mãe depende dela, ao nível da satisfação que pode proporcionar às demandas da criança, ou seja, o endereçamento do desejo da criança interpela de maneira inevitável a lei do outro, por meio da mãe. No plano imaginário, o pai intervém como privador da mãe, e o que é endereçado ao outro como demanda, é remetido a algo superior, sendo então, substituído, porque aquilo sobre o que se interroga o “outro” (na medida em que ele o percorre em toda sua extensão), encontra no outro este “outro” do outro – a sua própria lei. E é justamente dessa forma que faz com que o que retorne a criança, a lei do pai; concebida esta pelo sujeito, (ao nível imaginário), como privando a mãe13.

Neste momento, a criança descobre a dimensão que estrutura o desejo, como o que se submete em cada um, à lei do desejo do outro. Este segundo tempo do Édipo, vetoriza para a criança a significação do desejo da mãe relacionado ao que até então, supunha ser seu objeto. “O fato de que o desejo da mãe esteja submetido à lei do desejo do outro implica que seu próprio desejo esteja na dependência de um objeto que outro (o pai) é suposto ter ou não ter”. (Dor, 2003, p. 86). Então, essa dialética do ter, ter o falo ou não, que a criança descobre como o que polariza, desde então, a problemática do desejo da mãe, vai fazer, portanto, a prevalência da dialética do ser que vai governar a vivência do seu próprio desejo.

Segundo Dor (2003), a criança só vai chegar a essa interrogação pessoal, sobre ser ou não ser o falo da mãe, na medida em que o pai que priva a faz pressentir que a mãe reconhece sua lei como o que faz mediação do desejo que ela tem de um objeto que não é mais a criança, mas que o pai é suposto ter ou não ter.

No entanto, o segundo momento do Édipo é a condição indispensável pela qual a criança deve passar para aceder à simbolização da lei, que marca o declínio do complexo de Édipo. Neste encontro com a lei do pai, a criança é confrontada com a questão da castração, que a interpela, através da dialética do ter. A mediação posta pelo pai em relação à mãe, que o reconhece como quem dita a lei, leva a criança a colocar o pai como depositário do falo.

Segundo Dor (2003), esse pai, que representa a lei, que detém o objeto de desejo da mãe, é investido pela criança de uma nova significação – é elevado pela

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Para ler as palavras originais do autor, páginas 85 e 86, no texto: O estádio do Espelho e o Édipo. Ver também. Referencias Bibliográficas, ao final deste trabalho.

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criança à dignidade de pai simbólico - A determinação da criança, no final do segundo momento do Édipo é fundamental no sentido de determinação ao objeto fálico. Abalada em sua certeza, de ser ela mesma objeto fálico desejado pela mãe, é de agora em diante forçada pela função paterna a aceitar, não somente não ser o falo, mas também a não tê-lo, bem assim como a mãe, se dando conta de que ela o deseja de lá de onde ele supostamente está e de onde então, torna-se possível tê-lo. O passo a ser dado na assunção da conquista do falo irá desdobrar-se no terceiro tempo do Édipo, que dialetizará os dois anteriores.

Seguindo com as palavras de Dor (2003), o terceiro momento do Édipo é o tempo de declínio do complexo de Édipo, onde põe marco à rivalidade fálica em torno da mãe. Nesse lugar, a criança se instalou e instalou também, imaginariamente o Pai, sendo que a partir do momento em que o ele é investido do atributo fálico, torna-se necessário que comprove isso, porque é na medida em que intervém, justamente no terceiro tempo, (como aquele que tem o falo, e não como aquele que o é) é que pode se produzir algo que reinstaura a instancia do falo, como objeto desejado pela mãe, e não mais como objeto do qual o pai pode privá-la.

O tempo essencial dessa etapa é marcado pela simbolização da lei, cujo valor é estruturante e reside na determinação do lugar exato do desejo da mãe. Desse modo, a função paterna só é representativa da lei sob esta condição. O confronto da criança com a relação fálica se modifica de maneira decisiva, no sentido de que ela deixa a problemática do ser, para aceitar negociar, por conta própria a problemática do ter; o que vai acontecer na medida em que o pai não vai mais aparecer como um falo rival da criança junto a mãe.

Quando há o falo, o pai não é mais aquele que priva a mãe do objeto de seu desejo, mas ao contrario, ele é o detentor suposto do falo e o reinstaura no único lugar em que pode ser desejado pela mãe, de modo que a criança, assim como a mãe vão se encontrar inscritas na dialética do ter, onde a mãe que não tem o falo, pode desejá-lo naquele que o detém, e a criança, que também é desprovida, poderá também cobiçá-lo lá onde ele se encontra. Desse modo:

A dialética do ter convoca, assim, inevitavelmente, o jogo das identificações. Segundo o sexo, a criança se inscrevera diferentemente na lógica identificatória mobilizada pelo jogo fálico. O menino, que renuncia a ser o falo materno, engaja-se na dialética do ter, identificando-se com o pai, que supostamente tem o falo. A menina pode igualmente subtrair-se à posição do objeto de desejo da mãe e deparar-se com a dialética do ter sob a forma do não ter. Ela encontra, assim, uma identificação possível na mãe; pois,

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como ela, “ela sabe onde esta, ela sabe onde deve ir busca-lo, do lado do pai, junto aquele que o tem”.(DOR, 2003, p. 88).

Portanto, podemos pensar de acordo com o autor, que a reposição do falo em seu devido lugar é estruturante para a criança, seja qual for seu sexo, masculino ou feminino. A partir do momento em que o pai, que supostamente tem o falo, tem preferência junto à mãe, essa atesta a passagem do registro do ser ao ter, o que parece ser a prova mais manifesta da instalação do processo da metáfora paterna e do mecanismo intrapsíquico, que lhe é correlativo – o recalque originário.

1.4 SOBRE A ADOLESCÊNCIA

Segundo a autora Carmem Backes (2004), é na adolescência que o sujeito vê suas referencias deslocarem-se da esfera privada para a ordem pública, ou seja, do familiar para o social.

Quando tomamos a adolescência como a passagem de um para outro destes polos, devemos ter também o cuidado de não torná-los como excludentes, porque o outro e o Outro são indissociáveis. A passagem adolescente é então, o momento de reapropriação egóica do corpo que passou a ser ameaçador, sendo que o corpo transborda de modo incontrolável sendo isso, o real da puberdade. A imagem egóica sofre um abalo pelas modificações corporais que a puberdade impõe; sendo necessária então, a reapropriação de um corpo que de certa forma nunca deixou de ser seu. Desse modo:

- Um real que surge como acontecimento: as modificações corporais que a puberdade implica e que são sem controle possível;

- Um imaginário sustentado por uma imagem que o outro especular inicialmente sustenta;

- A necessidade de uma ordem simbólica, da inserção numa via discursiva, de uma transmissão pela via significante – palavra, linguagem. Há um saber em questão que reconstitui o corpo e possibilita ao adolescente uma afirmação subjetiva. Estas são as mediações simbólicas necessárias que referíamos na palavra de Souza (1994). (BACKES, 2004, p. 37).

De acordo com a autora, esse processo se constitui por operações reais e imaginárias que implicam e exigem uma operação simbólica. É o momento da

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reiteração da função paterna na terceira instancia, que forma a passagem adolescente. É como se o corpo do adolescente precisasse ser novamente reescrito por significante. É o luto pelo corpo da infância e a assunção de um novo corpo adulto.

Quando falamos a respeito deste novo corpo, não se trata só do olhar do adolescente sobre ele, nem só do olhar do Outro; mas do cruzamento destes dois campos, a articulação do olhar e da voz do outro com o olhar próprio do sujeito adolescente. Backes (2004) nos diz que é justamente nesse sentido que tomamos a adolescência; não como uma fase do desenvolvimento, mas como um momento, mais lógico do que cronológico. A adolescência é também, como o estádio do espelho, uma realidade mais constituinte do que constituída.

Em relação à questão da assunção de uma nova imagem corporal, o adolescente se vê diante de certas dificuldades, na ‘necessidade’ de abandonar o corpo infantil, o corpo primeiro. Ele precisa, nesse momento, fazer a reconstrução da imagem do corpo que a puberdade modificou e do qual, trocou seu valor e estatuto.

Outra dificuldade são as mudanças de referencias, do olhar e voz maternos, que lhe davam sustentação no estádio do espelho. Agora será a voz e o olhar do semelhante e de sujeitos do outro sexo, que farão com que novas identificações se processem. Portanto, segundo Backes (2004), é a partir do estádio do espelho, que se abre um caminho de identificações. Na adolescência, a interrogação sobre o ser retorna, a identidade se perde. Ao adolescente cabe a tarefa de validar ou invalidar aquilo que o espelho ofereceu. Sendo que, se o estádio do espelho oferecia a sustentação pela voz e olhar o outro primordial e o Édipo inclui o pai enquanto terceiro, o adolescente incluirá o outro de outro sexo, que significará papel fundamental nas novas identificações.

1.4.1 Identidade na adolescência

De acordo com Rita Melissa Lepre (2003), a constituição da identidade é um fator relacionado ao desenvolvimento e depende da cultura e da sociedade onde o sujeito está inserido; pois segundo a autora, há estudos que nos mostram que a maioria das questões ligadas à adolescência tem relação direta com o funcionamento da sociedade em que esse adolescente está inserido.

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Durante a adolescência, em alguns momentos, é possível observar certas crises de identidade; de modo que os adolescentes precisam resolver essas crises para solidificarem sua identidade pessoal e social.

Um dos principais conceitos que nos surge, quando pensamos em adolescência, é o da transformação. As transformações corporais, da chamada puberdade marcadas pelo crescimento rápido, efervescências hormonais levando à explosão da sexualidade e todas as questões da ordem do corpo relacionadas. Existem também as modificações do comportamento, como aversão, isolamento, um apego exagerado ao grupo, adoção de novas formas de se vestir - falar e se relacionar - além de episódios de depressão, tristeza ou euforia, crença de que podem mudar o mundo e perda de algumas referências, como a de seu lugar no mundo.

As mudanças corporais, ao nível físico, são relativamente universais, com algumas variações. Já no nível psicológico, há uma grande diferença de características no que tange às mudanças. Acredita-se que não há nada de universal nas transformações psicológicas que variam de cultura para cultura, de grupo para grupo e de indivíduo para indivíduo. De acordo com Lepre (2003) falando da adolescência no Brasil, ela aponta que “O que há de interessante em nossa sociedade é que, com certeza, a adolescência faz nascer um novo referencial, é como um novo nascimento: só que agora é o “recém-nascido” quem deve escolher o nome!”.

A respeito da crise de identidade, somos levados a compreender que:

O período da adolescência é marcado por diversos fatores mas, sem dúvida, o mais importante é a tomada de consciência de um novo espaço no mundo, a entrada em uma nova realidade que produz confusão de conceitos e perda de certas referências. O encontro dos iguais no mundo dos diferentes é o que caracteriza a formação dos grupos de adolescentes, que se tornarão lugar de livre expressão e de reestruturação da personalidade, ainda que essa fique por algum tempo sendo coletiva. (LEPRE, 2003, s.p.).

Portanto, essa busca do “eu” nos outros, na tentativa de obter uma identidade para o seu ego é o que acontece a crise de identidade, que ocasiona aflições, agonia, passividade ou revolta, dificuldades de relacionamento inter e intrapessoal, além de conflitos de valores.

Na formação da identidade o sujeito se avalia de acordo com aquilo que percebe ser a maneira como os outros o avaliam, em comparação com eles próprios (os adolescentes) e com uma tipologia que é significativa para eles, ou seja, ele

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avalia a maneira como a sociedade o ‘enxerga’, de modo que percebe a si próprio, em comparação com os demais e com os tipos que se tornaram importantes para ele. Desse modo, segundo Lepre, a construção da identidade é pessoal e social, acontece de forma interativa, através de trocas entre o indivíduo e o meio em que está inserido. A identidade não deve ser vista como algo estático e imutável, como se fosse uma armadura para a personalidade, mas como algo em constante desenvolvimento.

Desta forma, o grande conflito a ser solucionado na adolescência é a chamada crise de identidade e essa fase só estará terminada quando a identidade tiver encontrado uma forma que determinará sua vida posterior. Vemos, nessa direção que:

É no período da adolescência que o indivíduo vai colocar em questão as construções dos períodos anteriores, próprios da infância. Assim, o jovem assediado por transformações fisiológicas próprias da puberdade precisa rever suas posições infantis frente à incerteza dos papéis adultos que se apresentam a ele. A crise de identidade é marcada, também, por uma confusão de identidade, que desencadeará um processo de identificações com pessoas, grupos e ideologias que se tornarão uma espécie de identidade provisória ou coletiva, no caso dos grupos, até que a crise em questão seja resolvida e uma identidade autônoma seja construída.(LEPRE, 2003, s.p.).

Ao viver essa crise fundamental, o adolescente será compelido a buscar identificações, encontrando outros iguais e formando seus grupos. A necessidade de dividir suas angústias e ‘padronizar’ suas atitudes e ideias. O grupo se torna um lugar privilegiado, pois nele há uma uniformidade de comportamentos, pensamentos e hábitos. Com o tempo, algumas atitudes são internalizadas, outras não, algumas são construídas e o adolescente, percebe-se portador de uma identidade que, foi social e pessoalmente construída.

1.4.1 Os Grupos na Adolescência

Encontramos a definição em Vanessa Amarilha Portão (2008), de que uma massa, ou um grupo pode se constituir, a partir de um alto grau de ética dos sujeitos que o compõem, ou ser apenas um grupo demasiadamente emocional, impulsivo ou até violento, apresentando apenas as emoções rudes e os sentimentos menos refinados. Desse modo:

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Em sua formação a individualidade do sujeito é recalcado em prol de uma psicologia de grupo. É comum observarmos um indivíduo num grupo fazendo ou aprovando coisas que teria evitado no seu cotidiano, vemos que o sujeito perde seu poder de crítica e deixa se deslizar para a mesma emoção. Através do contágio os membros do grupo realizam os mesmos movimentos, é notável a intensificação da emoção, ditos que repetem e vão dominando, impondo como significante mestre. (PORTÃO, 2008, s.p.).

No entanto, para que ocorra esse estabelecimento de massa ou grupo, é essencial que haja certo grau de continuidade na existência do grupo. Os indivíduos pertencentes a ele precisam estar em busca de um objetivo em comum, ou seja, o grupo precisa ter uma essência que justifique sua formação, tradição, costumes e hábitos, tais que; determinem a relação de seus membros uns com os outros e uma estrutura grupal definida, que especifique a função de cada membro.

De acordo com Portão (2008), a identificação, conhecida na psicanálise como a mais antiga expressão de um laço afetivo com outra pessoa, também pode ser encontrada nos membros de uma massa. A autora entende que a identificação simbólica se faz por três vias: identificação histérica, ao pai ou por um traço. Essas idéias são trabalhadas por Freud em seu texto; Psicologia de Grupo e Análise do ego14. Cada sujeito de um grupo se identifica com aquilo que lhe é semelhante, seja pelo líder ou pelo ideal, sendo assim, as identificações serão diferenciadas em cada indivíduo.

Atualmente há vários movimentos de grupos formados por adolescentes, uns duradouros, outros não. Como exemplo, podemos citar: os grupos das festinhas, as comunidades da internet, os grupo de torcidas organizadas, até mesmo os grupos que se unem com objetivos mais escusos; como gangs e outros grupos que se organizam para realizarem um assalto, agressões e praticar bullying.

A esse respeito vemos que:

Quando criança, o sujeito busca identificar-se aos pais idealizados na infância, porém na fase da adolescência ocorre a perda dos pais infantis, o adolescente passa a perceber que assim como ele, seus pais não são perfeitos como imaginava. Essa é uma fase de escolhas, marcada por conflitos, mudanças corporais, lutos infantis. Muitos grupos de adolescentes se constituem por esse ponto em comum, outros apenas por diversão, a balada , como eles costumam dizer, os amigos se encontram, se divertem, falam sobre o sucesso do momento. Enfim, inúmeros são os exemplos que podemos encontrar na atualidade. (PORTÃO, 2008, s.p.).

14

Freud nos ensina que o indivíduo nas relações com seus familiares cai sob influencia de pessoas, que são importantes para ele. E, quando se fala em psicologia social e de grupo, se indaga o influenciamento de um indivíduo por um grande número de pessoas, pessoas por quem se acha ligado por algo.

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Diante disso, podemos supor que a formação de grupo na fase da adolescência ocorre com a finalidade do sujeito em encontrar uma segunda identificação, uma identificação em que a causa, é a relação com o outro semelhante, com o outro da mesma geração.

No entanto, o tempo da adolescência tem grande importância na determinação do futuro do adolescente, porque os acontecimentos desse período da vida, sejam positivos ou negativos, refletir-se-ão na idade adulta.

Encontramos em Maria de Lurdes dos Santos Pereira (2011), referentes acerca das relações dos adolescentes com os colegas, o grupo, a família e a escola. Essas são entendidas como muito importantes para o desenvolvimento das características pessoais e sociais dos adolescentes e as quais vão ser necessárias na sua vida futura.

Segundo a autora, também é importante analisar os fatores que determinam a aceitação e a rejeição do adolescente por parte do grupo, buscando compreender até que ponto esta forma de relacionamento é importante para o crescimento individual e de que modo as características cognitivas e emocionais, influenciam as relações entre amigos, ou membros do mesmo grupo.

Diante disso, e no que concerne à problemática da aparência física e sua ‘função’ nos grupos, é possível compreender que:

A adolescência é, por excelência, um período gerador de medos e de ânsias diversas, na medida em que a aparência física assume um papel preponderante nas relações dos adolescentes. A atração física é reconhecidamente um fator de importância primordial para que um adolescente possa ser alvo de aceitação por parte do grupo, ou, na pior das hipóteses, reverter em seu desfavor e provocar a sua rejeição no seio do grupo. (PEREIRA, 2011, p. 6).

Portanto, ser aceito pelo grupo, muitas vezes, significa possuir características condizentes e análogas com os demais membros do grupo, tendo ele o objetivo que for. Assim, determinados padrões físicos e de comportamento, contribuem a seu modo para uma boa aceitação ou rejeição por parte dos elementos do grupo, pois o fato de “pertencer-se a um grupo implica a observância de certas normas ou regras, condições necessárias para a obtenção de um estatuto e sua consequente manutenção”. (PEREIRA, 2011, p. 7). Ou seja, tudo indica que tanto as características em comum, como, ideias, objetivos e a aparência física, são determinantes na formação e aceitação entre um grupo de adolescentes.

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As chamadas características em comum, como ideias, podem ser positivas, no sentido de que um grupo se forme com a finalidade de estudar ou se divertir. De outro lado, pode ser negativas, quando um grupo se forma para roubar, usar drogas, formar gangs, ou praticar o bullying; Ou seja, transformar as diferenças existentes entre as pessoas em violência. Diferenças estas, que podem ser físicas, em relação ao peso, altura, cor, e até mesmo diferenças no modo de falar, expressar ideias e também relacionadas ao fator socioeconômico. Sendo que, esses eventos podem gerar futuramente consequências drásticas, que são justamente as consequências do bullying.

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2 BULLYNG: CAUSAS E CONSEQÜÊNCIAS

Neste segundo capitulo trataremos sobre o bullying. Suas causas e consequências. O mesmo, apresenta uma complicada sintomatologia, que envolve explosões emocionais; como irritabilidade, agressividade, raiva reprimida, pensamentos suicidas. Parece que essas formas, resultam do modelo educativo predominante que foi introjetado pela criança na primeira infância, quando repetidamente exposta a estímulos agressivos e aversivos ao seu psiquismo. Este é um processo da ordem do Inconsciente que faz com que esses elementos introjetados passem a fazer parte de seu repertório comportamental, podendo vir a transformar-se posteriormente, em uma dinâmica psíquica ‘mandante’ de suas ações e reações. Dessa forma, se tornará predisposta a reproduzir a agressividade sofrida ou a reprimí-la, comprometendo, assim, seu processo de desenvolvimento social.

2.1 SOBRE O BULLYING

Bullying é um termo de origem inglesa e foi introduzido pela primeira vez por Dan Olwues, em suas investigações sobre tendências suicidas em adolescentes. De acordo com Vila e Diogo (2009), o bullying significa um ato de violência física e psicológica. Essa ação parece mais presente na adolescência, podendo ocorrer de modo direto ou indireto, nos mais variados contextos, sendo que aparece mais comumente entre jovens e no contexto escolar.

Este fenômeno consiste em condutas agressivas e persistentes que perduram por um determinado período, como semanas, meses ou anos, sendo difícil de as vitimas se defenderem. Desse modo:

Definimos Bullying como um conjunto de vários comportamentos agressivos ou de intimidação que apresentam um vasto leque de características comuns, entre as quais são identificadas por estratégias de intimidação do outro, resultando de várias praticas violentas e agressivas quer por um individuo, quer por pequenos grupos. (VILA e DIOGO, 2009, p. 2).

Assim, o bullying pode ser identificado nas ações e comportamentos dos adolescentes. Essas ações parecem possuir uma espécie de ‘capacidade’ de magoar ao outro, nesse caso: a vítima. Esse sujeito passa a ter grande sofrimento

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que pode incidir no corpo ou no psiquismo. Esse sujeito pode vir também, a buscar exclusão ou isolamento, como forma de ‘fugir’ de tal sofrimento e desse modo encontrar-se em situação de marginalização social.

De acordo com os autores, são conhecidos, cinco tipos de bullying: o físico, onde se usa a saída pela violência física; o verbal, onde a saída é a violência que vem pelas palavras proferidas, o relacional/racial, onde acontece a exclusão de grupos sociais e comportamentos racistas; o sexual, onde há a utilização de comentários sexuais e até mesmo contatos sexuais agressivos tais como: estupro e toques vulgares em partes do corpo da vítima, sendo que essas práticas são bastante utilizadas nessas circunstâncias. Referimos também, o cyberbullying, que é a difamação utilizando as novas tecnologias (internet).

Para que ocorra o bullying, é então necessário, que haja um agressor, geralmente representado por uma unidade de grupo e uma vítima. Para melhor compreendermos esse comportamento agressivo, praticamente um “fenômeno” social, que se substancia na:

(...) intencionalidade de fazer mal e a persistência de uma prática violenta a que a vitima é sujeita é o que diferencia o Bullying de outras situações ou comportamentos agressivos, sendo três os fatores que normalmente o identificam:

 O mal causado à vitima não resultou somente de uma provocação, mas sim por várias ações que tenham sido identificadas como provocações;  As intimidações e a vitimização de outros são regulares;

 Geralmente os agressores são mais fortes fisicamente e recorrem ao uso de armas brancas, ou tem um perfil violento e ameaçador. As vítimas, geralmente não estão em posição de se defenderem ou procurarem auxilio. (VILA e DIOGO, 2009, p. 3).

Os agressores, segundo as pesquisas, tem apresentado a tendência de agravar as situações, nas quais as vítimas estão indefesas. Segundo Vila e Diogo (2009, p. 3) “Este fenômeno está relacionado com as dificuldades emocionais de cada agressor. No quadro familiar do agressor há sempre uma história de violência associada, ou seja, a criança com comportamentos agressivos convive com a violência de perto.” Assim, esse quadro de violência e a sensação de poder é o que motivam o agressor, sendo que essa é uma forma de comportamento que o agressor conhece ‘intimamente’. Essa é também a mesma forma que usa cotidianamente, para resolver seus problemas de quaisquer ordens.

Conforme os mesmos autores existem, além da vítima e do agressor, ainda outro tipo de pessoa, que faz parte do cenário do bullying. Temos então, três tipos

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de pessoas abrangidas nessas situação de violência; o espectador, a vítima e o agressor.

O espectador presencia as situações de bullying e não interfere, por medo de sofrer represálias e mesmo solidário com o sofrimento da vitima, não parece ter coragem de assumir, em defesa da mesma, um comportamento também agressivo.

A vítima, por sua vez, costuma ser uma pessoa frágil, que não dispõe de habilidades físicas e emocionais para reagir. Tem sentimento de insegurança e se isola socialmente, o que a impede de procurar ajuda. Tem também dificuldades de fazer novas amizades e participar de um grupo.

O agressor é, de um modo geral, um sujeito “antipático”. Parece provir de famílias mal estruturadas, com pobre relacionamento afetivo, o que lhes permite usar de um modelo agressivo e violento para resolver seus problemas do quotidiano. Existem dois tipos de agressor: o mais impulsivo, com dificuldades de compreender as emoções dos outros, e os dissimulados, que planejam mais as situações.

Encontramos em Cleodelice Aparecida Zonato Fante (2002), em seu texto: O Fenômeno Bullying e as suas conseqüências psicológicas. Ela afirma que atualmente o bullying escolar é um dos temas que vem despertando cada vez mais o interesse de profissionais das áreas de educação e saúde e isso em todo o mundo, então, sobre o bullying a autora nos diz que:

Sem termo equivalente na língua portuguesa, define-se universalmente como “um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento”. Insultos, intimidações, apelidos cruéis e constrangedores, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos, levando-os à exclusão, além de danos físicos, psíquicos, morais e materiais, são algumas das manifestações do comportamento bullying. (FANTE, 2002, s. p.).

Segundo a mesma autora também, o bullying é um conceito bem definido e específico que se diferencia de outras formas de violência, pois exibe propriedades próprias. Um exemplo que pode ser citado em relação a isso e que pode ser também o mais grave seja pelo fato de trazer traumas ao psiquismo das vítimas e envolvidos. De modo que o bullying possui ainda o atributo de ser reconhecido em vários outros contextos, afora do escolar; como em famílias, forças armadas, locais de trabalho, asilos de idosos, prisões, até mesmo em condomínios residenciais, ou

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seja, pode ocorrer em todos os lugares onde existem relações interpessoais. Dessa forma:

Estudiosos do comportamento bullying entre escolares identificam e classificam assim os tipos de papéis sociais desempenhados pelos seus protagonistas: “vítima típica”, como aquele que serve de bode expiatório para um grupo; “vítima provocadora”, como aquele que provoca determinadas reações contra as quais não possui habilidades para lidar; “vítima agressora”, como aquele que reproduz os maus-tratos sofridos; “agressor”, aquele que vitimiza os mais fracos; “espectador”, aquele que presencia os maus-tratos, porém não o sofre diretamente e nem o pratica, mas que se expõe e reage inconscientemente a sua estimulação psicossocial. (FANTE, 2002, s.p.).

De acordo com Fante (2002), o bullying se trata de um problema mundial, que é encontrado em todas as escolas, que vem se alastrando nos últimos anos e que só recentemente vem sendo estudado no Brasil. Mundialmente, as taxas de prevalência de bullying, mostram que entre 5% a 35% dos alunos estão envolvidos no fenômeno. Sendo assim:

Segundo especialistas, as causas desse tipo de comportamento abusivo são inúmeras e variadas. Deve-se à carência afetiva, à ausência de limites e ao modo de afirmação de poder e de autoridade dos pais sobre os filhos, por meio de “práticas educativas” que incluem maus-tratos físicos e explosões emocionais violentas. Em nossos estudos constatamos que 80% daqueles classificados como “agressores”, atribuíram como causa principal do seu comportamento, a necessidade de reproduzir contra outros os maus-tratos sofridos em casa ou na escola. Em decorrência desse dado extremamente relevante, nos motivamos em pesquisas e estudos, que nos possibilitou identificar a existência de uma doença psicossocial expansiva, desencadeadora de um conjunto de sinais e sintomas, a qual denominamos SMAR - Síndrome de Maus-tratos Repetitivos. (FANTE, 2002, s.p.).

No entanto, o portador dessa síndrome, que seria o bullying, apresenta a necessidade de dominar, de estabelecer sua autoridade sobre outra pessoa, de diversas formas, como a coação, por exemplo. O agressor precisa chamar a atenção para si, bem como precisa de aceitação e pertencimento de um grupo, ele precisa de autoafirmação. E ainda, é inábil em expressar seus sentimentos íntimos e de forma alguma consegue se colocar no lugar do outro, de perceber suas aflições e dores.

Conforme nos escreve Fante (2002), esta síndrome exibe abastada sintomatologia, como, irritabilidade, agressividade, impulsividade, intransigência, tensão, explosões emocionais, raiva reprimida, depressão, stress, sintomas

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psicossomáticos, alteração do humor, pensamentos suicidas. Reforço a idéia deque esse comportamento parece ser procedente de um modelo educativo introjetado pela criança na primeira infância, a partir de sua exposição a estímulos agressivos. E que posteriormente, por consequência, se transforma em uma dinâmica psíquica que manda, impõe ordens em suas ações e reações. Assim, reproduzirá a agressividade sofrida, afetando seu processo de desenvolvimento social.

2.2 O BULLYING E SUAS CONSEQUÊNCIAS

De acordo com Vila e Diogo (2009), existem fortes suspeitas de que as crianças ou jovens que praticam o bullying, possam no futuro adotar comportamentos antissociais, psicopáticos e/ou violentos, no sentido de promoverem comportamento mau e violento, incidindo na vida em sociedade, formando grupos, cujo objetivo seriam de roubar, agredir, promover a violência e, na mais grave das hipóteses assassinatos.

Os mesmos autores apontam também as consequências para as vítimas, sendo elas:

 Percepção alterada da realidade cognitiva;  Perda da autoconfiança;

 Perda da autoestima;  Falta de concentração;

 Dificuldade de ajustamento na adolescência e vida adulta (problemas nas relações pessoais);

 Morte (suicídio). Sendo esta a conseqüência mais severa, e está associada a um vasto tipo de comportamentos e atitudes que vão se agravando e mantendo-se por toda a vida, influenciando decisões, imagens, atitudes, comportamentos que o indivíduo constrói em relação a si, aos outros, ao mundo e até a própria vida.

E as conseqüências para os agressores, podem ser:  Percepção alterada da realidade cognitiva;

 Crença na força para resolução de problemas;

 Dificuldade de respeitar ordens inerentes a sociedade;  Dificuldade de inserção social;

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 Incapacidade ou dificuldade de autocontrole e comportamentos antissociais. Através do texto de Vila e Diogo (2009), podemos entender que este fenômeno se trata de um problema mundial, podendo ocorrer em praticamente qualquer contexto no qual as pessoas interajam, tais como a escola. Há uma tendência de as escolas não admitirem a ocorrência do bullying entre seus alunos, ou desconhecem o problema ou se negam a enfrentá-lo. Esse tipo de agressão geralmente ocorre em áreas onde a presença ou supervisão de pessoas adultas é mínima ou inexistente.

Ao contrario do que se imagina o bullying nas escolas é mais comum do que os pais e professores pensam, e por isso a necessidade de alertá-los sobre os riscos dessa prática neste ambiente. Sendo assim, conseguir identificar os alunos, tanto vítimas, agressores e testemunhas é necessário, para que as escolas e famílias dos envolvidos possam elaborar estratégias e traçar ações efetivas contra o fenômeno. É, portanto, fundamental perceber que:

As graves consequências a curto, médio e a longo prazo da agressão/vitimização não deviam permitir que se continue a encarar o problema das crianças agressivas ou das vitimas como um “treino para a vida”. As crianças vitimas desta agressão, ao longo de sua vida terão dificuldade em confiar nos outros, na sua autoestima e na capacidade de se relacionarem com os outros. (VILA e DIOGO, 2009, p. 7).

No entanto, segundo os autores, a consequência mais severa do bullying é o suicídio, sendo que estas situações estão associadas a um vasto tipo de comportamentos e atitudes que vão se agravando e se mantendo por toda a vida, influenciando em decisões, atitudes e comportamentos que o sujeito constrói em relação a si, aos outros e ao mundo.

Vila e Diogo (2009), também nos chamam a atenção para a ocorrência do ciberbullying. Os autores nos alertam que na sociedade atual, o uso das novas tecnologias, quando incorretamente utilizadas, como para realizar o ciberbullying, por exemplo, podem levar a conseqüências bastante graves e muito difíceis de serem detectadas. O ciberbullying tem lugar no ciberespaço, (internet), o que torna bem mais difícil a identificação do agressor, bem como sua caracterização em termos psicológicos.

O ciberbullying ocorre através de computadores, consoles de jogos ou outros dispositivos com ligação à internet. Esses “ataques” virtuais podem ocorrer através

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de mensagens, SMS, e-mail, imagens, blogues, vídeos, entre outros. Deste modo, aquele que ataca usa de vários meios para juntar um grupo com a finalidade de ridicularizar outra pessoa. Essas ferramentas virtuais transmitem comentários pejorativos, maldosos e ofensivos. No caso dos blogues e vídeos, aquele que ataca, expõe comentários maldosos referentes à imagem da vítima, suas ideias. Enfim, faz o que pode para ridicularizar a vitima perante outras pessoas. De um modo geral, o conteúdo é caracterizado por mensagens ameaçadoras, embaraçosas, cópias de perfis em redes sociais e publicação de comentários embaraçosos. Isso nos mostra que:

Dessa forma, algumas crianças e jovens descarregam os seus ódios e frustrações em inocentes, sem perceberem os efeitos prejudiciais e negativos que tais ações podem ter noutras crianças e jovens, em que em casos limite podem conduzir ao suicídio. (VILA e DIOGO, 2009, p. 9).

Fante (2002) nos coloca como consequências para as vítimas desse fenômeno, o bullying, o desinteresse pelo ir à escola, diminuição da concentração e aprendizagem, queda do rendimento, o absentismo e evasão escolar. E no que diz respeito à saúde física e emocional, pode ocorrer baixa na resistência imunológica e na autoestima, o stress, os sintomas psicossomáticos, transtornos psicológicos, a depressão e até mesmo em casos mais graves o suicídio.

E em contraponto, para os agressores, acontece o distanciamento e a ausência de adequação aos objetivos da escola, ocorre a supervalorização da agressão como forma de obter poder, desenvolvimento de habilidades para futuras condutas criminosas, além de projetar condutas violentas para a vida adulta.

E para os espectadores, ou seja, aqueles que assistem o bullying acontecer, podem ocorrer sentimentos de insegurança, aflição, medo e estresse, o que consequentemente pode comprometer seu processo socioeducacional. Dessa forma:

Este fenômeno comportamental atinge a área mais preciosa, íntima e inviolável do ser, a sua alma. Envolve e vitimiza a criança, na tenra idade escolar, tornando-a refém de ansiedade e de emoções, que interferem negativamente nos seus processos de aprendizagem devido à excessiva mobilização de emoções de medo, de angústia e de raiva reprimida. A forte carga emocional traumática da experiência vivenciada, registrada em seus arquivos de memória, poderá aprisionar sua mente a construções inconscientes de cadeias de pensamentos desorganizados, que interferirão no desenvolvimento da sua autopercepção e auto-estima, comprometendo sua capacidade de auto-superação na vida. (FANTE, 2002, s.p.).

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Assim sendo, a depender do grau de sofrimento da vítima, ela poderá construir inconscientemente pensamentos de vingança e até mesmo de suicídio, ou mostrar comportamentos hostís e violentos, que são prejudiciais a ela mesma e ao contexto onde está inserida. Claro que isso ocorre se não houver intervenção diagnóstica, preventiva e tratamento psicológico, além de esforços interdisciplinares, combinados pela escola. Desse modo, vemos que:

Esta forma de violência é de difícil identificação por parte dos familiares e da escola, uma vez que a “vítima” teme denunciar os seus agressores, por medo de sofrer represálias e por vergonha de admitir que está apanhando ou passando por situações humilhantes na escola ou, ainda, por acreditar que não lhe darão o devido crédito. Sua denúncia ecoaria como uma confissão de fraqueza ou impotência de defesa. Os “agressores” se valem da “lei do silêncio” e do terror que impõem às suas “vítimas”, bem como do receio dos “espectadores”, que temem se transformarem na “próxima vítima”. (FANTE, 2002, s.p.).

Vila e Diogo (2009) apontam como sendo o papel dos pais, o diálogo, que é o meio mais importante para ensinar a vitima, espécies de estratégias para saber se defender de situações desse tipo. É importante que os pais estejam cientes das situações que envolvem os filhos; conversando, ensinando, dando suporte e acolhimento; uma vez que estas crianças perdem a capacidade de argumentação e autoestima, de tal forma que não conseguem se defender.

Portanto, conhecer e entender como se desenvolve o bullying, o que significa, o perfil dos envolvidos, bem como as graves consequências que o mesmo causa, é de fundamental importância para pensar em modos de intervenção, e até mesmo prevenção. E principalmente, instigar programas de intervenção e até mesmo mudanças de atitudes em famílias e escolas, pois as mesmas, segundo os autores estudados, teriam em mãos a chave-mestre para sucesso das ações de prevenção e controle deste fenômeno.

Combater o bullying não é um procedimento simples, pelas próprias características nefastas dessas formas de ataque ao outro. Possivelmente seja importante criar procedimentos preventivos e formas de reação ágeis para evitar que essa forma de violência ocorra entre estudantes. Pode ainda, ser a solução para que um acontecimento isolado não se torne uma prática recorrente entre os sujeitos.

Referências

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