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ANISTIAS NO BRASIL: MOBILIZAÇÕES, EXPERIÊNCIAS E TROCAS SIMBÓLICAS

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Academic year: 2021

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ANISTIAS NO BRASIL:

MOBILIZAÇOES,

EXPERIÊNCIAS

E moCAS

SIMBÓLICAS

(AMNESTIES IN BRAZIL:

MOBILlZATIONS

,

EXPERIENCESANO

SYMBOLlC CHANGES)

RESUMO

Tem esse estudo o objetivo de analisar o mo-vimento pela anistia e o seu desfecho na forma da Lei n" 6.638 de 28.08.1979. Mostraremos que a anistia representou a esperança de reorganização da vida nacional e,principalmente, que esse movi-mento já esteve presente em outros momentos da história do Brasil. A noção de esquecimento e fim da culpabilidade reintegra os excluídos políticos ao espaço público, repondo os seus direitos retira-dospelaforça. Resta saber: esse ato não teria sido apropriado pelos dirigentes para conterras organi-zações populares?

Palavras-chave: Anistia, mobilização, socieda-de civil

ABSTRACT

The objective of this study is to analyze the movement for amnesty which resulted in the promulgation oflaw No. 6.638 on the 281h• Of August,

1979. We will show how the amnesty represented the hope for a reorganization of the life of the nation, andespecially how this type of movement was present inother pages ofBrazil's history. We will deal with the notion offorgetting and the end to blaming, as well as the reintegration of exiled politicians to the public sphere and the used by those in power to contain popular organizations?

Keywords: Amnesty, mobilization, civil society

JOSÉGERARDO VASCONCELOS·

INTRODUÇÃO

Do ponto de vista etimológico, temos a pa-lavra amnestia - esquecimento - formada pelo prefixo indicador de negação a e amnestia, lem-brança, que estão representados no latim por amnistia. A origem política da anistia seria en-contrada com ogrande legislador Solon, no sécu-lo V antes de Cristo, consoante Barbosa (1896), citado por Martins (1978) e confirmado pelo Jor-nal da Anistia (1978).

Como muitas das instituições democráticas, a anistia nasceu naGrécia, com sua primeira aplicação conhecida naépoca de Solon (594 a.Cc). Foi adotada em Roma e, como na Grécia, aplicada a pessoas que àivergiam dos govemantes, geralmente concedida em ocasiões decelebrações dedivindades.

Há, contudo, uma discordância em relação ao fatoque originaria a anistia a partir do legislador Solon, levando alguns juristas a defenderem o nome de Trasíbulo, peloacordo depaz realizado entre espartanos eatenienses, ajustado porele.Martins (1978), nos diz o seguinte:

Duzentos anosdepois de Solon e ainda antes de Trasíbulo,a Anistia era novamente usada como meio de cura para as profundas tribulações na nação grega. Destafeitafoi Patrocleides que, diante do aniquilamento do império aieniense. em 405 a.C; restabeleceu com restrições aco-munhãodos direitos civis epolíticos afavor dos numerososcidadãos processados e condenados, tendoordenado aqueima de todos os registros. Osatenienses,gratificados,fizeram na acrópole um solene juramento de reconciliação geral (Martins,1978:17).

IProfessor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará. Editor-Chefe da Revista Educação em Debate da Faculdade de Educação daUFC. Mestre e Doutor em Sociologia.

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No rol das anistias no Brasil, a de 1945 foi uma das mais significativas. Adiferença em relação à de 1979 pode ser descrita pelo seu caráter popular. 2Conforme VASCONCELOS (1993), tivemos, noBrasil, 85 anistias, 3indultos e 8 graças.

istia", então, surge para desqualificar juri-=:c:;~tJ-eumato condenável politicamente. É a

esfe-ca ativada como locus da manifestação do l:C=::::-.e". Osgregos não poderiam conviver na esfera

-'-- .•sem amanifestação do outro. Conforme bem J:::::::.~:jopelosescritos de Arendt (1991),ao se referir - :::omoodomínio da liberdade e à família como __,,-,,-~io danecessidade.

Esse movimento político é fortemente referido ios capítulos da história brasileira. Aqui, :e:=z;dz<uemos os momentos que antecederam o mo-C-::::::!'jJ.tde 1979,o época conturbada pelo desgaste do emilitar que, por outro lado, acenava com as--- das organizações populares. Para tal, dividire-- o trabalho em dois segmentos: no primeiro, r-.~~>remos a importância das anistias na história

.-' eira e,em seguida, analisaremos o contexto das - _ ilizações em prol da anistia de 1979.

ISTIAS NO BRASIL: UMA EXPERIÊNCIA OCRÁTICA

Debate acerca da anistia no Congresso Nacio-no Parecer n" 22, de 1979, do relator deputado - ani Satyro, verifica-se, no que se refere ao

núme-~ e anistias no Brasil, um acordo com oMDB. São, ao todo, como reconhece ajustificação oposicionista, e como consta dolevantamento feito pela Biblioteca daCâmara, 93atos, entre

decretos, decretos-lei e lei propriamente dita.

No caso da história, e apropósito das mais diversas e diferentes concessões de Anistias, perpassam figuras inapagáveis de nosso pas-sado político, como Pedro 1,José Bonifácio,

Francisco da Lima e Silva, Diogo Antônio

Feijó, Araújo Lima, Bernardo Pereira de Vas

-concelos, PedroIl, Deodoro, Floriano, Pruden

-tede Moraes, Campos Soles, Rodrigues Alves, Afonso Pena, Hermes da Fonseca, Wenceslau Braz,EpitácioPessoa, Getúlio Vargas.(Satyro,in: Documento do CongressoNacional sobre a Anis-tia,1982 :359).

É certo que na história política do Brasil, den-tre tantos movimentos libertários, emancipacionistas egolpistas, a anistia se fez presente. Éneste caso que a história política brasileira pode ser resgatada pela his-tória da anistia, que nem sempre foi justa ou aplicada corretamente.

É por isso que Barbosa (1896) utilizou a expres-são Anistia Inversa. Mesmo assim, é preciso que se diga: ao se reconhecer os limites de algumas anistias, isso não invalida esse mecanismo institucional que em muitos casos acompanhou as lutas populares.

Enquanto o Congresso Nacional fala de 93 anis-tias, o Jornal da Anistia não especifica o número, mas relaciona mais de 60. Martins (1978) mostra a existência de mais de 90entre decretos e artigos rela-cionados com a anistia. Baseado nestas informações, catalogamos 98 anistias-inversas, Indultos, Graças e anistias propriamente ditas. São vários decretos, de-cretos-leis, decretos legislativos e leis e até artigos em constituições relacionados com a Anistia.

No Quadro abaixo dividimos os atos de anistia da seguinte forma: Brasil-Colônia, com 10 anistias; Reino, com 9; sendo 5 no Primeiro Reinado e 4 no Segundo; Brasil República, com 59 atos relacionados com a anistia, sendo que 25 foram aplicados na Pri-meira República e 34 na Segunda. Embora as lutas populares não tenham sido de menor intensidade no Brasil Colônia e Império, o que se constata é que a relação e o trato com os movimentos nacionais libertários foram bem mais cruéis. Um período tão longo e com tão poucas anistias. Isso reflete de algu-ma foralgu-ma o autoritarismo dePortugal. A noção de di-reitos é"gelatinosa" neste período, quase que ausente, oquecaracteriza o grande número de graças. A noção de cidadania é apagada em função de lutas nacionais. O que se buscava era consolidar modelos já consoli-dados por outros povos eamaioria das lutas políticas era ainda difusa e diluída no sentimento nativista.

Na República, mesmo que prossiga com a forte referência na cultura autoritária, o mecanismo institu-cional é mais democrático e com maior mobilidade na gestão das coisas públicas. É evidente que o laço da tradição com o patriarcado convive na República. Isso possibilita vários governos autoritários e o refor-ço das políticas tradicionais. Mesmo assim, a socie-dade consegue se mover eimpedir o total controle do público e do privado. É neste caso que as anistias apa-recem como possibilidade de pacificação e manuten-ção do social. O grande número de anistias na república mostra, por um lado, a face cruel do autoritarismo e, por outro, a resistência de um povo no sentido de tra-zer para o cenário político osseus líderes, a sua cultu-ra e os seus projetos.

(3)

ANISTIAS NO BRASIL

A Anistia fora umaconquista popular e demo-crática.Delabeneficiaram-se direta ou indire-tamente,ospresos políticos, os exilados e todos os perseguidos. Os clandestinos e foragidos podem viràluzdo dia:563presos políticos são

libertados.Entre eles,muitos na cadeia há quase 10 anos,particularmente da insurreição naci-onallibertadora de1935,comunistas, socialis-tas,antifascistas, liberais e osintegralistas de 1938.Entre osnomes mais conhecidos. Luís Carlos Prestes,Carlos Marighella,Jorge Ama-do,Aparicio Torelli, Agildo Barata. Agliberto

Vieirade Azevedo, Hercolino Cascardo, os integralistas Belmiro Valverdee Gustavo Bar-roso.Também beneficiaram-sedaAnistia ospro-fessores Hermes Lima, Leônidas Resende e Maurício deMedeiros, reintegrados em suas cátedras;JoãoMangabeira.futuro constituin-teefundador doPartidoSocialista Brasileiro. opresidente depostode30,Washington Luís;o

futurovice-presidente,João Café Filho (Martins, 1978:88- 89).

PERÍODO ANISTIA INVERSA ANISTIA INDULTOS GRAÇAS TOTAL

OUANTIANISTIA Brasil Colônia 10 10 Reino 02 07 09 Brasil Império I Reinado 01 04 05 IIReinado 01 10 11 Brasil República I República 02 21 101 01 25 II República 02 30 02 34 TOTAL 05 85 03 08 98

Fontes: Jornalda Anistia; (MARTINS, 1978). Documento doCongressoNacional Sobre Anistia Neste caso, o seu conteúdo foi muito mais radical no

combate ao autoritarismo, exigindo não só a libertação dos presos políticos, como também o fim da ditadura. O contexto era outro. O ano de 1945 marca a derrota do fascismo no mundo. A Segunda Grande Guerra do nosso século chega ao fim e, conseqüentemente, as tropas de Hitler e Mussolini são aniquiladas. ~

No Brasil, crescem as manifestações e mobili-zações em prol da anistia. Saído de amplas camadas sociais e de todas as correntes democráticas, esse movimento ganha as ruas. O caráter de massa que tivemos em 1945 difere, essencialmente, de quase todos os movimentos pela Anistia no Brasil, inclu-indo o de 1979.Com raras exceções, a anistia de 1979 não foi revestida de mobilizações de massa. Isso se deve, particularmente, ao fato de que 1979 represen-tou a Anistia, mas não o fim da ditadura.

Em 1945, o fim da Ditadura Vargas foientoado pelas aclamações populares em sintonia com as lutas internacionais contra o fascismo, que o próprio go-verno Vargas com bateu na Europa.

Era grande contradição: combater-se o Fas-cismo externamente e mantê-lo nopaís. Aos poucos, amplas forças sociais vão se unin-dopara derrubar aditadura doEstado Novo (Martins,1978:38).

A principal exigência das forças democráticas era a Anistia. E,neste caso, o Brasil convive com uma das maiores campanhas de massa de sua história.

A amplitude da Anistia de 1945 dependeu, prin-cipalmente, da mobilização criada no conjunto da so-ciedade. Ao ser criada essa grande força social, a Anistia acabou reforçando a sociedade civil e,ao mes-mo tempo, ampliando a construção da cidadania e as noções de direitos humanos. Era na realidade uma so-ciedade que se complexificava em suas lutas e saía das amarras doautoritarismo. Era uma sociedade que, 62 •EDUCAÇÃO EMDEBATE· FORTALEZA· ANO 21 • V 2 • NQ38 • p. 60-71 • J999

(4)

o

ato foi realizado às 17horas 110 ~

conferências da Escola de Saúde PiIIIb. cedido pela própria administraç,o

FIOCRUZ. Reuniu cerca de 300 pessoas. __

tre professores ealunos daENESP e!Di •• res do grupo autêntico do MDB. Oreptt.JitMlM* da associação de docentes da FlIIIIloção Oswaldo Cruz, Heraldo Marfins, abrillasok

-nidade com um discurso emque ajir",mu/wa FIOCRUZ ainda hoje sofre restrições poepane de órgãos desegurança (OGlobo, 01.08.1979).

3Professor daUniversidade Federal do Ceará,militante doPCdo B,preso eexilado noperíodo da ditadura. _- ,araconsciência política, as organizações par

-ias, os sindicatos e associações, robusteciam na ;., e o movimento democrático e a marcha da

de civil. Esse movimento percorrerá o Brasil

os 50e início dos anos 60. O Brasil mudaria de

o" somente com outro governo autoritário que

-- umavez instalaria, após ogolpe de 1964,um

ou-.•.vemo autoritário.

CONTEXTO DASMOBILIZAÇÕES EM

OL DA ANISTIA DE 1979

artins(l978) afirma que oano de 1977 cons

--se um demarcador de mudanças qualitativas na

pela anistia. Isso, na sua interpretação, deve-se

ato de que a anistia sai dos ambientes fechados

- - universidades e atinge as ruas. Com os olhos da parece correto esse entendimento. Mas, se

te-- armos no tempo epenetrarmos a década de 70, te

-remos que discordar. O que constatamos nesse estudo,

sema paixão de um ator da época, foi que a anistia da

écada de 70 não teve um caráter de mobilização

po-ular. As manifestações em prol da anistia, em sua

_ ande maioria, ocorreram em locais fechados: uni -'ersidades, principalmente, e com um número restri

-- departicipantes.

O Rio Grande doSul foi citado como oreali

za-ordo primeiro ato público pró-anistia, realizado em

b

r

i

1

de

1977,

em Porto

A

legre

,

em prote

s

t

o

contra as

.risões políticas. Verificamos que este anorealmente

. luialgumas rnanifestacões ,ma", e'l\..\.,"-e\\\ô..\\\e\\\.~\\_ m.\\ô..~'õ..~,~e\l\ \)a'r\\(:\\)a~ãC) Ilerwassas e re<::.tútas à

eras-semédia.

Para dimensionar um pouco o contexto de

medo, convém informar que no Ceará, um dos

pio-neiros na luta pela anistia, o pânico das sessões

públi-cas e reuniões coletivas era tão grande, que, com o

intuito de realizar um debate sobre repressão política, passaram um filme sobre a baixa Idade Média - sobre

a vida de Giordano Bruno. O debate não ocorreu após

ofilme, pois, segundo atores da época, os

participan-tes levantavam-se um após o outro, deixando a sala

deprojeção vazia.

Algumas manifestações ocorreram já no ano da

anistia, em 1979. Mesmo com todo o clima favorável

àanistia, as dificuldades eram visíveis. Temos como

exemplo uma manifestação programada para o Riode

Janeiro emjunho de 1979,contra ocaráter restrito do

projeto de anistia.

Mais demil pessoas participaram do ato público

em repúdio aocaráter restrito e parcial do

anis-tia dogoverno realizado ontem (27.07.79) em

frente àCâmara Municipal do Rio de Janeiro, na Cinelândia. Policiais da Secretaria de Segu

-rança impediram aentrada dos manifestantes na

Câmara enãopermitiram sequer que o ato pros-seguisse, debaixo da chuva, nas escadarias do

casa. Aordem era dispersar qualquer manifes-tação que ocorresse. Mesmo com a intervenção dosparlamentares Hélio Fernandes Filho,Clemir Ramos, Coimbra Meio eJosé Frejat, todos do

MDB, que garantiram aos policiais que não ha -veria "desordens ",a segurança continuava a

afirmar quepoderiam intervir pois estavam cum-prindo ordens (TribunadaImprensa,28.07.1979).

o

ato foi realizado depois de muito impasse. Os impedimentos sofridos para sua efetivação em

1979, no momento em que o Presidente falava em pacificação da vida nacional e enviava o projeto de anistia ao Congresso Nacional, mostram a dificulda-de ainda maior dificulda-de suposta manifestação dois anos antes. Sobre isso,Manuel Domingos) esclarece em seu depoimento:

o

queme consta é que não era exata

-menteummovimentode massas(...) achoque a

ligação do

m

ov

imento da

jJ!JiSfiô

como 1lJOYin1JJ.

to de massa noBrasil,jamais ocorreu,mas ela não deixoude ser

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\\\C:SK"q_

~&m~'so.\)\)"t\\\le \)

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\men\a ~\a anistia

tiu a rearticulaçãode umaparceladaslic'IcnIlÇII!j

de esquerda.

Tivemos, entretanto, vários atos na univcn_1'i

de. O ato pela reintegração dos cientistas da F çãoOswaldo Cruz,por exem pio,teve grande de_lIII~

(5)

Temos, também, o caso da manifestação na

UFRJ, que prestou homenagem, em junho de 1979,a

25 professores cassados pelo AI- 1 e AI- 54.

...mais de 2.000 pessoas compareceram ao ato, onde velhas enovas gerações de intelec-tuais se encontraram, reafirmando afé numa universidade democrática e critica(Folhade São Paulo,26.06.1979).

Vale ressaltar que entre os professores encon-travam-se nomes de projeção nacional e internacio-nal. Os nomes eram os seguintes: Abelardo Zaluar,

Alberto Coelho de Souza, Alvécio Moreira Gomes, Darcy Ribeiro, Demerval Trigueiro, Elisa Frota Pes-soa, Eulália Maria Lameyert Lobo, Evaristo de Mo-rais Filho, Jaime Tiommo, João Cristóvão Cardoso,

José Américo Mota Pessanha, José Leite Lopes, José de Lima Siqueira, Manoel Maurício de Albuquerque,

Maria Laura Mouzinho Leite Lopes, Maria Veda Lei -te Linhares, Mário Antônio Barata, Mariza Coutinho,

Míriam Limoeiro Cardoso, Moema Eulália de Olivei

-ra Toscano, Oswaldo Gusmão, Quinio Campofiorito e Sarah de Castro Barbosa.

A universidade, sem dúvida, foi duramente ata-cada pelo autoritarismo. Não seria novidade se, na retomada dos direitos e no fortalecimento daso cieda-de civil, esse espaço institucional assumisse a di an-teira e se apresentasse como um abrigo de várias manifestações.

No rol dos atores incluídos no bloco da resis

-tência, destaca-se a participação da Igreja Católica.

Com muitos religiosos perseguidos, a posição da Igreja acompanhava o movimento da sociedade civil e, ao mesmo tempo, oscilava internamente no conflito que se estabelecia entre conservadores e progressistas. No caso da CNBB, sua posição inicial foi de muita

caute-la.A revista Veja de O 1.03.1978, traz uma notícia

so-bre a posição da CNBB que até então não havia se posicionado como instituição.

Em Brasília, Ovice-presidente da Conferência

Nacional dosBispos doBrasil (CNBB),Dom Ivo

Lorscheiter, ditou uma declaração notavelmente

cautelosa aosrepresentantes quelhefizeram

ine-vitável pergunta sobrea anistia. Preparado para

a situação, elesacou deum papel manuscrito e

leu textualmente: "todos os brasileiros devem

fazer tudo para conseguir a pacificação e a

reconciliação nacional. Ponto. Isso certamente

envolve e exige arevisão denumerosas

penali-dades infligidas. Ponto. Isso não coincide com

odiscurso sobre aanistia, vírgula, porque tal

discurso envolve criterioso exame de quem e

por que recebeu penas. Ponto easpas.

Ouvi-ram?Fechei aspas (Veja,01.03.78,p.36). Essa declaração deDom Ivo mostra, por um lado, o receio da hierarquia da Igreja e o conseqüente envolvimento com osproblemas políticos nacionais de que se chocasse com odiscurso oficial. Por outro lado, não poderia deixar de se posicionar em relação a um ponto de tamanha relevância para a época, que signifi-cava, sobretudo, a pacificação nacional. Essa tensão evidencia-se no dia seguinte, quando o presidente da CNBB, dom Aloísio Lorscheider, anunciaria pela pri-meira vezaposição daentidade acerca da anistia.

Éarevisão de todos oscasos de condenação

depessoas, onde talvez tenha entrado mais a

emoção que aestrita aplicação da justiça. A

anistia não sedestina aos que cometeram

cri-mes comuns, pois nãopodemos perder de vista

certas dimensões da justiça. Não podemos

con-denar ninguém por teressa ou aquela posição

política. Mas, seela prejudicar o bem comum

deixa deserjusta. Emsuma,poderia haver uma

anistia para todos os atingidos por atos de

ex-ceção. Depois, ojulgamento na justiça comum

dos que cometeram crimes comuns (Veja,

01.03.78,p.36).

A posição da Igreja, aparentemente limitada, deixava espaço para interpretações diversas. Quando Dom Aloísio admite uma anistia geral, para todos os atingidos pelos atos deexceção, se posiciona ao lado do CBA e das entidades democráticas. Por outro lado, ojogo de cintura da Igreja era evidente, o que mostra -va uma hierarquia unificada noquese referia aos gran-des temas nacionais e à tentativa de não entrar em choque comosmilitares, quando admitia o julgamento dos chamados "crimes comuns".

•O AI-I, baixado a 9de abril de 1964. reintroduz noBrasil comomovimento militar pós-64, afigura dacassação. Esse referido ato,

nasce sem número, pois pretendia ser o único e,que teria duração limitada; oAI-2, baixado em 27/1 0/65. também tinha poder limitado.

Já o AI-5. que passa avigorar apartir de 13dedezembro de 1968, não tinha prazo de duração e sesobrepunha àprópria constituição em vigor: s,seu texto, como osanteriores, autoriza o presidente da República acassar osdireitos políticos dequalquer cidadão pelo prazo

e 10anos. sem que haja prévia defesa ou julgamento". (Jornal da Anistia, 1978: 22)

(6)

Todavia, a atuação da Igreja não pode serana

li-- --pelasdeclarações na imprensa. Sua participação

-'-!.J_ •..r•tomais ampla, quando nosreferimos ao coti

dia-- dia--lutasem defesa dos direitos humanos. Éno coti -ue segundo Heller (1989),ohomem se manifesta - iro. ãoera preciso que a hierarquia da Igreja em passeata endossando a bandeira da Anistia Geral eIrrestrita. Com algumas exceções, oco n-a Igreja participou de um projeto contra o

itarisrno. Em determinados setores, o combate foi -i o.Isso ocorreu no caso de Dom Paulo Evaristo -- Dom Pedro Casadáliga, Dom Estevão Cardoso Dom Alano Pena, Dom Adriano Hipólito, Dom ere outros. Segundo Auto Filhos.

AIgreja desenvolveu uma importantíssima t are-.m trabalho muito importante, muito grande em

-_- dos perseguidos políticos. E quando houve a tamilitar domovimento deguerrilha ea destrui

-e organizações políticas de esquerda e grande parte

. ssoas envolvidas nesse movimento foram pre

-- aiotrabalho da igreja foi muito forte. Se publica-e havia um cuidado dos Cardeais de não afrontar - tadura, pelo menos aqui dentro, no terreno da ativi --,. otidiana, a Igreja foi uma das maiores críticas e

- urnadas maiores adversárias da ditadura militar.

Énesse contexto que osvários atores-iam com-do um cenário político de contestação, erguendo zes, lançando manifestos, arrumando os sinais que

essem nortear asnovas disputas nointerior de uma

iedade civil cada vez mais presente e na busca de - reitos que pudessem recompor a esfera pública. No 21defevereiro de 1978, oComitê Brasileiro pela - istia -CBA foi lançado em solenidade realizada na

- de do Rio de Janeiro, presidida pelo general da _ erva,ex-rninistro do STM e punido pelo AI- 5,Pery

onstat Bevilácqua.

Esse acontecimento acelerou odebate e a rede

ze apoio afavor da anistia. Logo em seguida ao lan

-zamento do CBA, o reitor da UNICAMP, professor

Zeferino Vaz, declarou-se favorável à anistia dos cien-aposentados: oanúncio nos jornais registrando a esãode57publicitários paulistas e cariocas aoCBA; úmida, mas importante posição daIgreja, favorável _ anistia, só confirmava essa corrente produzida no

, terior da sociedade. Sem falar na OAB, ABI, IAB e

várias entidades dasociedade civil, que forarn pouco a pouco aderindo aomovimento pela anistia. Sobre isso, aABI declarava:

Écom amaior satisfação que lhe declaramos

que a ABJ, desde asua fundação, em 1908,

sempre considerou aanistia como um

remé-dioindicado para superar asmais graves

cri-sespolíticas institucionais (NETO, Prudente

deMorais,em carta ao MFPAem 1975,In:

Jor-nal da Anistia, 1978:17).

No dia 27 de junho de 1979, o presidente Figueiredo, com um pronunciamento à Nação, em solenidade marcada para as 15horas, no segundo an-dar do Palácio doPlanalto, envia ao Congresso Naci-onal oProjeto deLei n? 14de 1979 (CN). Era o projeto da anistia. O projeto causa muita polêmica, principal-mente porque excluía oschamados "terroristas?". Em-bora o MDB tenha sido convidado para a solenidade, oseu comando decide não comparecer. Motivo:

o

partido não foi ouvido nem consultado na

elaboração dotexto que nãoconhece; o MDB

defende anistia ampla, geral e irrestrita;

pe-las notícias da imprensa o governo não

con-cederá anistia ampla, geral e irrestrita (Jornal

POVO,28.06.1979).

Tamanha era aapreensão da sociedade, no sen-tido de conhecer odito projeto, que este foi roubado no dia anterior (26.06.1979) do gabinete do Ministro da Justiça. Era a imprensa competindo por informa -ção, tentando antecipar-se aos concorrentes. Ao que tudo indica, o"descuido" deveria ser atribuído ao jor-nal O Globo, que acabou publicando uma versão er -rada do projeto.

o

jornal jluminense deu como certo que os

ex-cluídospela anistia seriam apenas aqueles que

tivessem participado deações dequelroIwaIe

resultado mortes, quando oprojeto excetlll1Wl

dos beneficios daanistia os que foram

conde-nados pela prática de crimes deterrorismo.

as-!Militante trotskista no período autoritário. Ficou preso no Instituto Penal Paulo Sarasate.

Terrorismo era aprincipal acusação feita pelos militares aos militantes de esquerd~ conforme relata ·A CO ·CELOS (1995). O terrorismo éummétodo de ação. sem qualquer mediação que implica em iolência, "E uma estratégia que pode ser usada por grupos oupessoas com ideais políticos totalmente diferentes. Apesar da divergê~cia deobjetivos, observa-se uma grande se~elhança entre os

eios empregados pelos terroristas de extrema esquerda e extrema direita (...).Tem como Instrumentos a destruição, aameaça ou o

assassinato de adversários (... ).Há ainda ocasode minorias dentro depaíses onde predominam instituições democráticas que falam em

ornedademocracia masagem contra ademocracia. Sãoexemplos asBrigadas Vermelhas da Itália, oBaader-Meinhof da Alemanha, a

Action Directe da França e grupos japoneses" (ABREU, 1994: 27-28).

(7)

salto, seqüestro e atentado pessoal (Tribunada Imprensa,28.06. 1979).

Embora a tentativa de desviar o foco central do problema com o roubo do projeto, as restrições da lei da anistia continuavam a ser a principal expectativa. Sobre isso, podia-se ler na"Coluna do Castelo", no O

POVO de 28.06.79:

Ao longo da chamada guerra subversiva, os

DOI - CODJ perderam 95 homens, num

sa-crificio que impede o sistema de devolver a

liberdade a muitos dos responsáveis por

aque-las mortes. Oresultado é que ao invés dos

130 presos políticos que continuariam a

es-perar novos atos declemência ou

esquecimen-to.ficarão nessas condições mais de 200 presos

rotulados deterroristas .

Outra grande polêmica era em torno de um grupo de atores denominados "torturadores", cuja condenação era reivindicada por setores da socie-dade civil. Na realidade, isso não constava no rol de preocupação exteriorizada pelos militares. Na óptica dos dirigentes, evidentemente, não haveria nenhum motivo para a autopunição. Esse tipo de castigo só seria possível se a sociedade civil se or-ganizasse e tivesse força de mobilização suficiente para impor a condenação aos torturadores. Ora, a anistia, embora tenha modificado a proposta inici-al - de uma simples revisão dos processos - como afirmamos, não representou uma rnobilização po-pular que tivesse hegemonia para questionar o fun-damento do autoritarismo.

A anistia reforçaria as organizações políticas na esfera cotidiana e enriqueceria a formação de

iden-tidades coletivas no interior da sociedade civil. Mas,

o autoritarismo ainda estava de pé. No discurso do presidente Figueiredo, o"terrorismo" situa-se no eixo de suas preocupações e,conseqüentemente, dos ata-ques. O Presidente justificava a exclusão da seguinte maneira:

Oterrorismo não se volta contra o governo ou

o regime. Seu crime écontra a humanidade.

Por issomesmo, em todo mundo, tem-se como

indispensável leis que coíbam esses atos (O

POVo, 28.06.1979).

Apesar disso, a imagem do general Figueiredo veiculada pela imprensa era outra. Coincidência ou não, o presidente Figueiredo teve o pai anistiado em

11 de abril de 1946, pelo decreto-lei n" 7.474, de 18

de abril de 1945.A idéia repassada à opinião pública

era: a figura magnânima do estadista humano e

bon-doso, detentor do mais elevado padrão ético e o mais

aprimorado senso de justiça. O homem que desejava

pacificar a Nação em nome da "revolução".

Espero ver osanistiados reintegrados na vida

nacional. E que, isso feito, saibam, possam e

queiram participar do nosso esforço em prol dos

ideais que - sendo os da revolução de 1964

-são os de todanação (O POVO, 28.06. 1979).

Esses ideais, na visão do Presidente,

alcança-riam altos índices no que se refere às questões

econômicas; tratava-se, agora, de democratizar as

ins-tituições e a anistia era a principal medida concreta

de ampliação e socialização da política.

Nos últimos quinze anos, o governo

revolucio-nário promoveu reformas institucionais

profundas. Atingimos alto patamar de desen

-volvimento econômico. Agora, a nação na

plenitude da ordemconstitucional, toma

cons-ciência da necessidade de se aperfeiçoarem

as estruturas sociais, para torná-Ias mais

de-mocráticas (OPOVO, 28.06. 1979).

O Presidente receita o"remédio":

A anistia tem justamente esse sentimento: de

conciliação dos ideais democratizantes de

1964, que hojereencontram sua melhor e mais

grandiosa expressão (O POVO, 28.06. 1979).

Comprova-se nodiscurso do Presidente que os

ideais do golpe de 64 foram "cumpridos" no que se

refere ao desenvolvimento econômico. Mas, em

rela-ção ao projeto democratizante, que também era parte

do projeto global, conforme Silva (J 967), não foram. O que deveria ser feito era simplesmente aprofundar

esses ideais e,ao mesmo tempo, compassadamente, ir

abrindo as instituições.

O primeiro grande trunfo dessa suposta

abertu-ra eabertu-ra a imprensa, com a conseqüente manipulação

da informação. Para Heller (1982: 107),a ditadura

so-bre os carecimentos, no que se refere a informação

significa (...) que não existe nenhuma possibilidade

de informação diferente. Isso ocorria no pós-64,

fa-zendo com que o Presidente construísse as imagens

num jogo de linguagem explícito ou implícito que o

colocasse acima das instituições, como o gestor da

(8)

_ mesmo tempo, dos ideais de 1964. Era a

~::!::i:\~_"ltima de salvar os pedaços de um mov

imen-_ _-- quenão mais se sustentava.

~-- jogo de informação que envolvia o cenário

~::::!~:::Iente construído pela imprensa utilizava

ain-e urso a própria esfera íntima do

Presiden-=::!::clo lembrava da punição doseu pai.

Vi,na minhaprópria família, oamargo de

ór-fão depai vivo. Conheci asfrustrações do

sol-dado afastado dapátria e de seu serviço, por

delitopolítico (JornalO POVO, 28.06.1979).

ue passa éa mistura dopúblico edoprivado.

sidente, levado pelo sentimento de orfandade

-~_ ai foi punido e posteriormente anistiado

-_ ocar-se como o grande paique quer omelhor

cs seus filhos. Contudo, essa pacificação deve

.;;;j",_~_~- para "unir" aNação. Na mensagem aoCon

--_contudo, volta ao problema dos "terroristas".

A anistia tem osentido de reintegrar o

cida-dão na militância política e oterrorista não foi enão éum político, amenos que se

sub-vertam os conceitos em nome deumfalso

li-beralismo (DocumentodoCongressoNacional

sobreaAnistia,1982:22).

. lémdoproblema do"terrorismo", a polêmica

cda ampliada aos torturadores. Embora algumas

-" idades. como Pery Bevilácqua defendessem

__ :_~J =- ", Toca, esquerda e setores do MDB exi

-,~_; •c•ão aos torturadores. Hélio Fernandes

artigo no Jornal OEstado, em

Fortale-"Democracia à Brasileira, sóto rturado-acos". esse artigo, faz um apelo ao

-=.;:::::::=:~" .acional.

AGora sabemos onome pelo menos de 233

tor-uradores. A revista Em Tempopublicou tudo

numa reportagem realmente corajosa e

esc/arecedora, e o Congresso nãopode nemse

acovardar,nemse acumpliciar comesses

crimi-nosos.Pois é decriminosos que se trata,e

crimi-nosos da pior espécie, que matam, torturam, violentam,perseguem, protegidospelo aparelha

-mento que eles mesmos montaram usando o

di-nheiro do próprio contribuinte que estão torturandoe matando(O Estado,20.06.1979).

=:

_

-idente que o Estado militar, buscando uma

:::::::!!::=.'-;~-~"sem traumas" no projeto de distensão de

Golbery, não poderia defender a punição aos

tortura-dores. Por outro lado, apressão da sociedade civil não

era suficiente para arealização de tal propósito. O que

se tinha naquele contexto era um projeto de anistia

li-mitado, que organizações da sociedade civil e

entida-des democráticas lutavam para ampliar. As restrições

eram anunciadas nos jornais. No dia (26.06.1979), O

POVO anunciava: Anistia deixará fora cerca de 130

punidos. No mesmo dia, aFolha de São Paulo

divul-gava a homenagem aospunidos pelos atos institucionais.

No dia 27.06.1979, oPresidente manda o projeto ao

Congresso Nacional. No dia seguinte, 28.06.1979, ten

-tam um ato público noRiodeJaneiro, mas a ordem era

dispersar qualquer manifestação. Se da parte da

socie-dade civil havia uma grande tentativa de articulação, o

mesmo não acontecia em relação ao bloco do poder.

Mesmo a anistia, que excluía cerca de 200 pessoas, era

questionada pelos militares da chamada linha dura.Eles

ainda falavam do perigo comunista. A anistia seria

ino-portuna e prematura. Os rumores de endurecimento mais

uma vez pairavam sobre asociedade como se o

con-junto do social dependesse exclusivamente da vontade

política dos militares.

Nesse processo, houve mudanças profundas na

cúpula militar, fortalecendo ainda mais a chamada

linha dura nos postos essenciais de repressão e

con-trole doEstado, enquanto os chamados "liberais" eram

deslocados para órgãos burocráticos. Essas

informa-ções tentavam, contudo, isentar o presidente

Figuei-redo, que deveria continuar com a imagem do grande

pai da Nação, colocando-se acima das divergências

políticas e sempre apelando para o seu lado"humano".

Já o discurso da chamada "linha dura",

veicu-lado pela imprensa, torna abater na tecla anticomunista

para contestar a anistia e apela para o não

"arrependi-mento" dos derrotados .

o

governo deposto emmarço de 1964 Moera

nacionalista e sim comunista e queria colo

-car oBrasil sob o jugo russo (..). Eles 1IÍÍO estão dispostos a conciliação, não estão

iIrU-ressados namão estendida doPreside1lle..EMs

só querem é voltar para iniciar novamelfle a luta pelo poder. "'ão podemos confiar

e

"

,

Brizola, Julião, Prestes, Arraes. Sabe1llOS quem sào eles e o que zeram e pretende", fazer(Iribuna da Imprensa 07,1979).

Com tudo isso o que se tinha era um jogo de

forças entre conservadores e progressistas, esquerda

e militares, e a imprensa era aos poucos o palco

privi-legiado desse debate, Com todo esse pânico que

(9)

sar, asociedade civil não parava dese

orga-- - .Osespaços começavam aaparecer. a"Coluna

;: Castelo" de 12.07.1979 podia ser lido oataque do

Presidente aos grupos dedireita. Lembra Carlos

Cas-telo Branco que, até aquele momento, já era oquinto atentado conta o jornal Em Tempo. E,ao mesmo tem-po,noticiava aposição de Dom Paulo em relação aos torturadores.

o

Cardeal Arns, de São Paulo, é contrário a que se anistie os torturadores, apontados

como autores de crimes comuns. Masjá se sabe que oprojeto deLei abrejanela pela qual escaparão àpunição, na base da futura lei

daanistia, os acusados de maltratarem pre

-sos políticos erealizar prisões arbitrárias e violentas (Jornal

°

POVO, 12.07.1979).

Na semana seguinte, a Igreja volta às páginas dos jornais. Destavezcomo secretário geral daCNBB,

Dom Luciano Mendes. O queverificamos nãoera mais aposição tímida de Dom Ivo e Dom Aloísio expres-sadas em março de 1978, mas a defesa de uma anistia ampla, geral e irrestrita. Com todo o avanço, Dom Luciano defende o perdão aos torturadores.

Quem não anistia guarda rancor ecom isso impede aconciliação nacional easuperação das injustiças (..). Quem não anistia os to

r-turadores. amanhã poderá torturar, porque

deseja vingança (Tribuna da Imprensa, 19.

07.1979).

Essa verdadeira queda debraçosna imprensa con

-tinuaria até a votação da lei daanistia, em 22.08.1979, mas só seria sancionada nodia 28.08.1979, na forma da Lei n?6.638. Com essa lei,seriam beneficiados, segun-do dados do Jornal da Anistia (1978: 22), 200 presos políticos; 4.877 cassados; 128 banidos; 10.000 exilados (incluindo asfamílias);263 estudantes atingidos pelo 477 e 500.000 condenados, processados, indiciados ou

sim-plesmente presos desde 1964. POR QUE ANISTIA?

A anistia, mais do que uma simples discussão acadêmica, significava muito para muita gente. Na realidade, essa batalha que tem um desfecho legal em 1979, com a aprovação da Lei n?6683 de 28 de agos-tode 1979, inicia-se já em 1964. Éimportante ressal-tar que esse movimento de caráter democrático buscava, acima de tudo, juntar os pedaços de uma

sociedade civil esfacelada pelo autoritarismo. É certo

que, pelomenos antes doAI-5, as mobilizações contra

a ditadura foram sucessivas e tiveram como grande

marco osmovimentos de68 como a passeata dos 100

mil, por exemplo. ofinal desse mesmo ano,aleg

isla-ção autoritária se completaria com o quinto Ato

lnstitucional. Os conflitos tornam-se fragmentados e

dispersos. Temos uma pulverização da esquerda e,

grande parte, assume a tática de focos.

Osmovimentos democráticos como a anistia res-gatavam a possibilidade deretomada da sociedade

ci-vil e,ao mesmo tempo, apontava naconstrução de um

corpo políticoJundado na Lei. Épor isso que Barreira

(1992), ao discutir as novas formas de lutas urbanas

esposa a seguinte opinião:

Na realidade, os movimentos de democrati

-zação, anistia e outros, deram maior respal-do a conflitos episódicos de luta pela terra e

experiências associativas que, por um certo período, mantinham-se isoladas do conjunto

das mobilizações (Barreira,1992:30).

Mas, se a anistia teve esse caráter de

reorgani-zar,redemocratizar erespaldar uma sociedade marcada

pelo terror, isso não se deve à bandeira em si,mas a

uma conjuntura que possibilitou o recobro da consci-ência de conjunto, desencadeando, assim, ações

cole-tivas. ocaso da anistia, oque temos é um movimento

que engloba setores expressivos da sociedade civil,

tanto naoposição como no governo. A meta era "

pa-cificar" oEstado de Guerra instaurado na sociedade.

Como dizia o senador Marcos Freire, do MOB, na

justificativa do substitutivo n? 1:

Anistia, entretanto, deverá atender a lodos,

para que ninguém possa alimentar pretextos

propícios acultivar animosidade, revan chis-mos esentimentos divisionistas na luta pela

eliminação dos males sociais do país, males que exigem um ato pacífico, mas profundo,

franco esem preconceitos matreiros (Freire.10:

Documento doCongresso Nacional sobre I Anistia, 1982:55).

É evidente que este movimento que buscava a "normalidade" eque estava ficandonuma conjuntura de -terminada, só poderia existir seaspossibilidades

históri-cas o permitissem. É isso, inclusive, o que o senador

Marcos Freire percebeu eacrescentou àsua justificativa Problemas gravissimos afligem o povo brasi-leironesta hora. A inflação, o desemprego, a

(10)

crise energética, opreço dopetróleo, asdív

i-das externa e interna flutuante, as infelizes operações decréditos praticadas pelas a

dmi-nistrações de bancos oficiais, empresas

pú-blicas e outros órgãos governamentais, a

concentração de renda, o incremento da

criminalidade, as inundações e as secas, o

êxodo rural, as moléstias de carência em

ex-pansão, oaumento dos tributos para enfre

n-tar as exigências das redes deserviços públicos essenciais, as aspirações insatisfeitas, e cada vez maiores, ditas pela sociedade deconsumo, apo

-luição, tudo isso convoca as camadas mais esclarecidas do povo, por cima dedivergências

partidárias, ideológicas ereligiosas, a reconhe

-cerque está surgindo umclimaadequado a extre

-mistas dedireita ede esquerda atearem fogo à

tenraplanta dedemocracia quesebusca c

ulti-var (DocumentodoCongressoNacionalsobrea

Anistia,1982:55).

senador Marcos Freire apontou um

proble-camental nacompreensão da anistia: entendê

-época, na sua conjuntura. Até que ponto

x:;.s::rrz-;nosafirmar que foi a anistia que desencadeou

___ .ocratização? Ou, ao contrário, poderiarnes

afir-__e foi o governo Geisel, no seu projeto de

=::;:=:~-a-o,que utilizou a anistia para conter o

movi-e oposição que já assinalava com algumas

:stações isoladas e até greves?

Domingos, 49, professor da UFC, conforme

::::C>::::lento',analisa aAnistia da seguinte forma:

...setores importantes, ponderáveis, da vidana -cional, abraçaram o movimento por senti

-rem o esgotamento do modelo. Num certo momento a grande imprensa passou ater

sim-patia pelo movimento daAnistia. Setores que

inclusive tinham sido beneficiados pela dita

-dura, tinham crescido durante a ditadura,

sentiam quechegava oesgotamento natural do

modelo. um outro aspecto queconvém le

m-brar nomovimento da Anistia. Éumaspecto de certa forma omitido. Havia também, na época,

um desgaste profundo da ditadura por conta

da corrupção. Difundiam-se notícias acercados

escândalos. Osmais destacados ocorreram na

Ponte Rio-Niterói enaTransamazônica. Mas,

osjornais não deixavam de noticiar os

numerosissimos processos decorrupção

den-7-;re istarealizada em Fortaleza emI1.11.92.

troda máquina militar.Isso não deixava de

sus-citar indignação entre muita gente. Eu acredito queadisposição pela Anistia cresceu com a in-dignação pelo que sepassava.

O que tivemos-foi também um desgaste

do modelo socioeconómico instalado em 1964.

Contudo, nãopodemos tornar parciais nossas

análises, concentrando ofoco na dissolução

na-tural deum modelo. Essa dissolução deve-se,

emgrande parte, àresistência de uma sociedade

queatuou nasmais diversasfrentes de combate.

Oquetemos éum duplo aspecto, atuando num movimento dialético debaixo para cima e de

cima para baixo.Asociedade civil, mesmo

esfa-celada, atuava no sentido desuperar os limites

da distensão, que seredefinia constantemente

para nãose apartar. Coutinho (1992) nos apon

-taessemovimento.

Esse projeto deabertura pelo alto

cho-cou-se com oprocesso de abertura, sendo

freqüentemente alterado emesmo derrotado

por ele, ou seja, pela movimentação real da

sociedade civil, pela pressão que vinha de baixo para cima. Essa movimentação se

ori-entava no sentido desuperar os limites do

pro-jeto geiseliano, mas decerto se articulava com

ele - ainda que sempre contraditoriamente

-na medida em que tinha como meta ocupar e

tentar ampliar os espaços deluta e de

repre-sentação que iam sendo progressivamente

to-lerados ouconquistados. Há vários exemplos

de vitórias desse processo real de abertura.

Bastaria recordar aqui que, em vezda revisão

seletiva de processos de cassação proposta

pelo regime militar, chegou-se em 1979 a

vol-taàvida política legal de praticamente todas

as personalidades e correntes de opinião

(Coutinho1992, :51).

Vale lembrar queFigueiredo, sucessor de Geisel,

antes de tomar posse, questionava a idéia de anistia.

Numa entrevista ao JornaldoBrasil,o general

JoãoBaptista Figueiredo julgou umprejuízo para

opróprio andamento dasreformas políticas O

mo-vimento pela Anistia noslermos em que

vemsen-do colocada, ou seja, ampla, geral, irrestrita e

urgente (..) ele sedeclarou lotalmente contra a

anistia aos condenados pela LeideSegurança

aciona!. Anistia é esquecimento, enunciou

(11)

então Figueiredo a VEJA, enão épossível es-quecer oscrimes dos que assaltaram bancos,

assassinaram eseqüestraram. Oalegado

moti-vopolítico nãojustifica nada (VEJA, n"436,de

01.03.78,p.35).

o

Estado militar não tinha, pelo menos inic ial-mente, a pretensão de decretar uma anistia, muito menos com as características que a sociedade exigia. Essa idéia foi se afirmando àmedida em que a própria sociedade civil se rearticulava. E na medida do forta-lecimento da sociedade civil, maiso modelo doEstado militar ia se esgotando. Os militares tiveram, então, que alterar os mecanismos de controle. Como não poderiam atuar com omesmo nível da repressão, pas -sam a formular oProjeto de Distensão, cujo conteúdo é de um contexto de crise e de retomada.

Essa idéia tem origem já em 1964. Resta saber quem foioseu gestor. OPCdoB assume a paternida -de,já em 64, logo após o golpe. Contudo, outras f or-ças políticas da época poderiam ter assumidoessa idéia como o PCB, setores da Igreja e mesmo a esquerda do MDB. Pinheiros, dirigente do PC do B no Ceará, afirmou em entrevista que:

...onosso partido foi um dosprimeiros a lev an-tar a bandeira daAnistia, como também a ban-deira da constituinte, issojá em1964,logoapós o

regime militar Embora entenda aquilo comonão

sendo uma bandeira deação imediata,mase nten-docomo um processo jurídico e inconstitucional no país no qual isso havia sido interrompido e

vocêia ter nopaís um período longodeditadura.

Então, vocêteriaqueterminar isso comuma

anis-tia, com umanova constituição.

Outras vozes também ecoaram logoapós o golpe. Cony, em 1965,aoanalisar o golpe, aponta uma saída.

Épreciso que a palavra cresça: invada os

mu-ros e as consciências. Desde 1°de abril que o

governo tem diante de si um dilema inc on-tornável: ou processa e condena regularmente

osmilhares deacusados emtodo país; ouc

on-cede anistia. Aprimeira opção caiu por terra:

os processos, emsua maioria, não foram feitos

eospoucos que estão emcurso pejaram-se de irregularidades edeformações jurídicas e po-liciais. Resta asegunda opção: aanistia. Que

IEntrevista realizada em Fortaleza em 13.10.92.

oCongresso voteaanistia, baseado nafalta de processos regulares, nafalta de critérios e,prin

-cipalmente, nafalta deprovas (Cony,1965:22).

No próprio regime militar havia vozes a favor da anistia. Foi o caso do general PeryBeviláqua, ministro do STM e posteriormentepunidopelo AI-5 que,em 1979, lança o Comitê Brasileiro pelaAnistia,e o general Olímpio Mourão Filho,principal articulador do golpe.

Pery Beviláqua, já em 1965, defendia a idéia da anistia. Sou por uma Anistia ampla que abranja

todos os cidadãos tidos como subversivos e como tal

punidos, ou em vias de o ser, por motivos políticos

(Martins, 1978: 123); o segundo, o general Olímpio Mourão Filho, também do STM, afirmava:

...oatualgoverno nãotem condições de coerên

-cia política para darAnistia. Sendo a concessão da Anistia uma atribuição exclusiva do Poder

Legislativo (..) o novo Congresso que tomar pos

-se em1967,compete decidir sobre o assunto (...). Neste caso, a campanha política dos futuros

de-putados deverá indicar claramente quais são a

favor da Anistia. Eusou (Martins,1979:130).

Com o governo Costa eSilva, surge a promes-sa de "governar com o povo". Contudo, o que temos é,

por

um lado, as manifestações de massa, principal-mente, as da juventude em 1968. E,por outro, a res-posta autoritária com o AI-5, ailegalidade da UNE e a perseguição ao movimento estudantil. Isso não foi suficiente para silenciar ajuventude-68. Entre as rei-vindicações, além do fim daditadura, o fim das inter-venções policiais nas escolas euniversidades, estava a anistia para professores e estudantes punidos pela legislação autoritária.

Essa conjuntura, por um lado favorável à anis-tia e respaldada no movimento de massa, mas por ou-tro, apontado para o fortalecimento do autoritarismo, leva ao primeiro embate noplano institucional: o pro-jeto de autoria do deputado Paulo Macarini (MDB-SC) que concedia anistia a todos os estudantes, trabalhadores e intelectuais punidos por atos relacio-nados com manifestações políticas, a partir de 28 de março. Esse projeto encontrou largo apoio. Foi apro-vado na Comissão de Justiça por 13votos a 1.O go-verno Costa e Silva, diante do fortalecimento da proposta, resolve fechar questão contrária ao projeto.

Em 20 de agosto de 1968, avotação somou 145 votos favoráveis ao projeto contra 198arenistas contrários.

O interessante é que dos 145 favoráveis, 35 eram arenistas que votaram contra o governo.

(12)

Esse impasse no Congresso resultou em protes

-os contra a intervenção do Executivo no sentido de

ressionar os deputados. Isso traria naquele momento m grande descontentamento da sociedade civil. A

res-posta do governo foi ainda pior. Em dezem bro do me

s-mo ano, foi publicado o AI-5, que cassava, inclusive, o

autor do projeto, odeputado Paulo Macarini. Com esse

.-\to, diferente dos demais, a sociedade passa ater uma

Lei de exceção permanente que suspendia os mais el

e-mentares direitos do homem. O resultado já é conhec

i-o: oterror generalizado em meio àsociedade.

Neste caso a luta democrática teria que passar

necessariamente pela anistia, pois traria a normalidade

institucional. O problema éque a sociedade brasileira

teria que esperar pelo menos uma década pela Lei da

Anistia. O período de 1969 a 1979 foi marcado, na sua

primeira metade, pela violência concentrada no Estado

autoritário. De 1976 em diante, começa o esgotamento

omodelo socioeconômico e, em contrapartida, o cres

-imento da sociedade civil. Mas para se chegar aom

o-vimento pela anistia, asociedade teve que conviver com

aface brutal do autoritarismo.

Se o autoritarismo dilui o indivíduo,

reduzin-do-se a uma sombra, a anistia busca sua reintegração

à comunidade política, construindo garantias legais

no sentido de reintegrar o conceito de cidadão. O

autoritarismo, ao criar a categoria de inimigo objetivo (Arendt, 1989), dilui a possibilidade de reintegrar o

homem à sociedade. Sendo assim, como entender o

perigo de que falavam os militares? Será que esses

'inimigos" eram tão poderosos quanto oEstado

Mili-tar propagava. É neste caso que passaremos a cons

-truir o perfil dos atingidos pelo autoritarismo, para

então determinar o caráter da anistia.

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Referências

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