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Artigo Por uma musealização da Estação Férrea

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Por uma musealização da Estação Férrea São Francisco e das Ruínas

da Igreja Inacabada na cidade de Alagoinhas/BA

Priscila Maria de Jesus1

RESUMO: A presente pesquisa consiste na análise dos processos de preservação do patrimônio cultural por meio de Leis, Decretos e a criação de instituições a nível federal (IPHAN) e o estadual (IPAC-BA) e os processos de tombamentos de dois patrimônios edificados localizados nos bairros de Alagoinhas Velha e Centro, na cidade de Alagoinhas, no litoral norte baiano: Estação Férrea São Francisco e as Ruínas da Igreja Inacabada. Optou-se por estudar os processos de musealização, destacando-se o processo de gestão da informação documental, que estão em implantação nesses espaços, que não terminam com o tombamento, mas se consolida a partir de iniciativas de instituições civis e públicas, a exemplo dos projetos de museus vinculados aos dois patrimônios citados. A partir de um estudo que contou com a pesquisa bibliográfica e utilização de fotografias, pesquisa de campo (diário de campo, fotografias, entrevistas e questionários), buscou-se analisar um museu já implantado (Museu de Arte e Memória de Alagoinhas) e o projeto de implantação do segundo (Museu do Homem Livre). Percebeu-se que os projetos apresentam perfis diferentes, que podem ser estruturados a partir dos acervos e da missão a que se propõem.

Palavras-chave: Musealização, Memória, Patrimônio, Procedimentos, Leis

ABSTRACT: The present research is to analyze the processes of cultural heritage preservation through laws, decrees and the creation of Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) and Instituto do Patrimônio Artístico Cultural (IPAC-BA) and the process of overturning two built heritage located in Alagoinhas Velha and Centro in the city of Alagoinhas, on the north coast of Bahia: São Francisco Railway Station and the Unfinished Church Ruins. We chose to study the processes musealization, highlighting the management process of the documentary, which is being implemented in these areas, which do not end with tipping, but consolidates initiatives from public and civil institutions, such of projects linked to the two museums mentioned assets. From a study which included a literature search and use of photographs, field research (field diary, photographs, interviews and questionnaires), we sought to examine a museum already deployed (Museum of Art and Memory Alagoinhas) and design deployment of the second (Museum of Man free). It was felt that the projects have different profiles, which can be structured from the collections and the mission to which they propose. Keywords: Musealization, Memory, Heritage, Procedures, Laws

1 Graduada em Museologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Mestrado em Crítica Cultural pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Professora Assistente do Núcleo de Museologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS); E-mail: priscilamdj@gmail.com.

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1. INTRODUÇÃO

A inquietação central deste trabalho partiu da necessidade de se pensar nas etapas do processo de musealização existentes na contemporaneidade e como estes se dão quando a iniciativa parte da população civil e não por meio de um órgão regulador do patrimônio estadual ou nacional. A presente pesquisa trabalhou com dois projetos de musealização na cidade de Alagoinhas, no Litoral Norte da Bahia: O Museu de Arte e Memória de Alagoinhas (MAMA), que existe desde 2003, e o projeto de implantação do Museu do Homem Livre.

É importante ressaltar que existem vários métodos e técnicas associados a esse processo, como veremos, mas estes não são fatos dados, podendo variar de um projeto de museu para outro. Vale destacar que, na atualidade, há uma busca pela “fórmula pronta”, um método que facilite a sua realização, aqui destacaremos os principais pensadores do meio museológico e suas contribuições para a formação de uma práxis museal.

A presente pesquisa espera contribuir com os estudos existentes da Teoria Museológica, uma vez que esta não deve se dissociar das atividades práticas adotadas nos processos de musealização em curso, como na cidade de Alagoinhas, que partem de iniciativas pessoais e civis, muitas vezes sem o aporte teórico-prático de profissionais da Museologia.

O projeto tem como principal objetivo discutir os conceitos e os processos de musealização e a sua aplicação aos espaços do MAMA e do Museu do Homem Livre à luz da Crítica Cultural e da Museologia, iniciando com a análise dos processos de tombamento dos bens onde se localizam esses espaços museais: a Estação Férrea e as Ruínas da Igreja Inacabada. A pesquisa se concentra na análise de três etapas do processo de musealização: a gestão administrativa, a documentação e a comunicação, que foram descritas e analisadas historicamente e sua aplicação nos espaços estudados.

Entre os objetivos específicos destaca-se a análise das leis de salvaguarda do patrimônio Cultural Brasileiro, municipal (a cidade de Alagoinhas), estadual (Bahia) e federal (Brasil); e a compreensão da formação dos órgãos de salvaguarda internacionais, como o Ofício Internacional de museus, no ano de 1927, e a sua substituição pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM) após a segunda Guerra Mundial. Além da análise do processo de tombamento nº 002/1991/IPAC, referente à Estação Ferroviária

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São Francisco, localizada no bairro de Alagoinhas Velha, Alagoinhas; e a Lei n° 2.101/11, sobre o tombamento das Ruínas da Igreja Inacabada.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

A ampla noção de patrimônio existente na contemporaneidade, que abrange os bens de origem material e imaterial, se pautou na evolução do termo e das estratégias que visassem a sua salvaguarda. Iniciando com a noção de monumento e sua vinculação aos monumentos e prédios das antiguidades até a inclusão de seres humanos detentores de um saber ou fazer específico de seu meio, os patrimônios vivos da humanidade. É necessário ressaltar, que embora os órgãos de legitimação do patrimônio utilizem divisões como material e imaterial, um não existe sem o outro, ou seja, não há materialidade que não possua sua parcela de imaterialidade e vice-versa, cabendo ao pesquisador e profissionais da área perceber e analisar ambos.

Utilizando-se, inicialmente, de uma abordagem histórica, traça o desenvolvimento da cidade e como os bens estudados, desde a perspectiva dos memorialistas à estudos atuais da história da cidade, intercalando com o depoimento de antigos moradores da cidade. A utilização dos depoimentos orais, além de aspectos específicos do cotidiano da cidade a partir da instalação da Estação Férrea São Francisco, demonstra o quanto esses espaços são significativos. Paralelo ao recolhimento das entrevistas foi aplicado questionários para um grupo de adolescentes do Colégio Estadual São Francisco, cujo objetivo era saber o que os-(as) discentes entendem por termos como Patrimônio, Memória e Museu e se é possível associar essa terminologia aos bens que existem no seu cotidiano.

A pesquisa teve como método de abordagem o qualitativo que, “[...] consiste em descrições detalhadas de situações com o objetivo de compreender os indivíduos em seus próprios termos” (GOLDENBERG, 2007, p. 53). Essa compreensão passa pela perspectiva de indivíduos que estão em constante transformação e que estas mudanças, que ocorrem de forma cada vez mais rápida na contemporaneidade, podem refletir ou não nos processos de salvaguarda que são desenvolvidos nas cidades. Embora a pesquisa qualitativa não apresente regras ou procedimentos específicos para a sua utilização, o fato de se tentar entender os indivíduos em seus próprios espaços de significados é uma das principais características que motivaram a sua escolha. Esse estudo dos informantes em seus espaços, através da narrativa de suas memórias e sua

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participação, ou não, nos processos de salvaguarda dos patrimônios que estão inseridos em seus bairros. O que se pretendeu foi ter um panorama da participação civil nos processos de tombamentos patrimoniais. Embora o presente método apresente dificuldades na realização de pesquisas que tenham como foco as Ciências Sociais optou-se por uma utilização deste, juntamente com o método histórico para que se fosse possível atender os questionamentos que a presente pesquisa propõe. Mas é necessário ressaltar que, embora o projeto esteja vinculado à Crítica Cultural, também está apoiado nas premissas museológicas.

A utilização do método etnográfico permitiu que se entendesse a sociedade estudada a partir dela mesma, por meio da observação, descrição e análise dos materiais coletados em campo, sejam por meio de entrevistas, questionários, fotografias e a utilização de um diário de campo onde se relata as impressões obtidas em cada visita aos espaços estudados. A observação da dinâmica social e cultural dos bairros estudados permitiu compreender a importância que os dois bens estudados tem para os moradores do entorno.

A escolha do presente método possibilitou a escolha das informações que seriam utilizadas e como, além de uma maior aproximação do objeto de estudo escolhido. Dentro da pesquisa etnográfica, utilizou-se, ainda, a técnica da observação participante, onde é possível utilizar-se de mais meios para a coleta de dados, a partir da inserção do pesquisador dentro da comunidade estudada compreendendo mais sobre as pessoas e os modos de vida dos pesquisados (ANGROSINO, 2009).

A entrevista narrativa foi utilizada para “[...] reconstruir acontecimentos sociais a partir das perspectivas do informante, tão diretamente quanto possível.” (GASKELL, 2008, p. 93). Essas entrevistas narrativas foram direcionadas para que esses informantes – habitantes dos bairros pesquisados – pudessem recontar fatos e acontecimentos que foram importantes, sob a sua ótica, para a salvaguarda do seu patrimônio local. As entrevistas possibilitaram um maior conhecimento da história da cidade, por meio do relato de fatos que não constavam em livros ou publicações existentes sobre a cidade de Alagoinhas, uma vez que esses relatos apresentavam muito da história pessoal vivida por cada um dos entrevistados. Nesse método o narrador, por meio de uma narrativa pessoal, relata dados dos quais vivenciou, de forma cronológica como destaca Ferreira Netto:

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A se retomar o princípio de que a narrativa pessoal restringe-se à descrição dos eventos efetivamente vividos pelo enunciador-narrador e o princípio de que o interlocutor-ouvinte tem de acreditar nisso, à correlação perfeita entre a ordem cronológica estrita dos eventos apresentados e a seqüência sentencial tem de se acrescentar ainda o fato de que a descrição dos eventos deve se dar especialmente da maneira como foram apreendidos pelo enunciador-narrador no momento em que eles os vivenciou. (2008, p. 46-7).

Paralelo às entrevistas, foi utilizado um questionário (v. em anexo A) que foi aplicado com o público de faixa etária entre 12 e 20 anos com a intenção de saber questões referentes à: o que os-(as) discentes entendem por museu, identidade, memória e patrimônio; e se já foram a algum museu, se sim qual-(is). A partir disso, confrontar as respostas obtidas e entender como esse público vê os espaços museais.

Assim, foram contatados habitantes e usuários dos dois bairros onde se tem patrimônios legitimados pelo poder público: Centro e Alagoinhas Velha. A participação dos habitantes do entorno da ferrovia, nas reuniões da Fundação Iraci Gama (FIGAM), segundo a Professora Iraci Gama, conta em grande parte com os antigos moradores do bairro, que tem ou tiveram uma relação com a própria história da ferrovia na cidade. Filhos-(as), netos-(as) de ex-funcionários ou os próprios participam das reuniões. Percebe-se ainda uma participação de parte da população nos projetos e na tentativa de consolidar o museu existente na Estação Ferroviária. Após algumas conversas e entrevistas com os antigos moradores dos bairros de Alagoinhas Velha (onde estão localizadas as ruínas da igreja inacabada) e do Centro (onde se localiza a Estação Férrea), ficou a questão, como os jovens encaram esses processos? Como eles veem a questão da memória, do patrimônio, do museu? Para atender essas inquietações e uma vez que surgiu outra questão, como selecionar esses informantes adolescentes, optou-se pela aplicação de um questionário em uma das escolas que ficassem no entorno de um dos patrimônios de Alagoinhas.

A utilização de fotografias enquanto evidências e testemunhos históricos no processo de investigação seja por meio da utilização dos postais do Museu Tempostal, ou das fotografias tiradas in loco. O uso de imagens (gravuras, pinturas ou fotografias) como método de pesquisa não é um recurso recente, mas muitos historiadores o utilizam para o estudo de uma paisagem urbana, de interiores de residências, de usos e costumes, entre outros. Para Burke, “[...] fotografias podem ser consideradas ambas as coisas

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evidência da história e história. Elas são especialmente valiosas, por exemplo, como evidência da cultura material do passado.” (2004, p. 29).

Assim, destro da perspectiva etnográfica o registro fotográfico se constitui em um método de pesquisa, um documento de investigação por parte do pesquisador, ao lado das entrevistas. A utilização da imagem depende do seu potencial de comunicação, onde a utilização de um texto ajuda a complementar a mensagem antropológica e informacional, como salienta Godolphim:

De toda a forma, o que importa é que, seja num texto, numa exposição fotográfica ou num diaporama, as fotos deveriam auxiliar a transmissão do fluxo de pensamentos que conduz o antropólogo à compreensão e à interpretação da situação estudada. Mesmo que os leitores-fins das imagens (aqueles a quem é dirigido o texto antropológico) possam a vir a sugerir outras interpretações ao apresentado. (1995, p. 170)

A fotografia, assim, como um objeto museal, permite uma multiplicidade de interpretações, seja por parte do autor do texto que a utiliza, seja por parte de quem lê a pesquisa. Cada registro fotográfico apresenta uma carga informacional que pode ser tratada e recuperada, independente do local onde se encontre, como um museu, biblioteca, arquivo, etc. Esse tratamento da informação se insere, sobretudo, nos trabalhos realizados pelas disciplinas pertencentes às Ciências da Informação e ao seu profissional.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir das discussões teóricas feitas, fez-se uma análise do Museu de Arte e Memória de Alagoinhas (MAMA), instalado na Estação Ferroviária São Francisco, e do projeto de criação do Museu do Homem Livre, no Parque Municipal, no bairro de Alagoinhas Velha, na cidade de Alagoinhas, Bahia. É importante ressaltar que o MAMA, embora esteja nas dependências da Estação, não foi legalmente criado (decreto de criação, projeto museológico ou qualquer outro dispositivo legal que comprove a sua existência), apenas o Centro de Documentação e Memória/FIGAMi, que também está localizado no prédio da Estação, está devidamente registrado, além de ter sido inscrito no Sistema Brasileiro de Museus (SBM) do Cadastro Nacional de Museus (CNM). Visando a integração dos museus nacionais e facilitar o acesso ao público em geral das instituições museológicas existentes no Brasil, o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) disponibiliza em seu site uma área para o cadastro gratuito das instituições

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que desejem se afiliar ao projeto, atividade que existe desde 2006 e que conta hoje com mais de 3.000 (três mil) instituições.

Se o MAMA não apresenta um projeto de criação, O outro espaço museal da cidade de Alagoinhas ainda está no projeto, este se insere em um contexto de difusão cultural amplo, no qual englobará, também, o Museu do Homem Livre, no bairro de Alagoinhas Velha, compreendendo o espaço das ruínas da Igreja Inacabada e do Parque do Homem Livre. Percebe-se que o projeto tenta lançar a cidade de Alagoinhas em um contexto muito mais amplo, de diálogo com outros grupos sociais mundialmente, mas é importante salientar que aspectos muito mais práticos não foram contemplados no projeto, sobretudo quando se refere à Escola Ecológica é a adequação da flora desses países no contexto de Alagoinhas. A multiplicidade de ações e discursos que se pretende utilizar no presente espaço, sem apresentar um diálogo maior com a realidade cultural e social do seu entorno. A concepção de um museu deve que levar em conta as especificidades sociais, culturais e econômicas do seu entorno, além de ter uma proposta específica de comunicar e entreter o seu visitante.

A partir disso, os museus foram analisados em três aspectos do processo de musealização: gestão institucional, gestão da informação (documentação) e comunicação (expografia), no presente artigo, serão analisados os dois primeiros. Desvallées e Mairesse definem a gestão museal como:

[...] la acción destinada a asegurar la dirección de los asuntos administrativos del museo o como el conjunto de acciones no directamente vinculadas con sus actividades específicas (preservación, investigación y comunicación). (2010, p. 40).

Um dos principais instrumentos utilizados para a gestão dos espaços museais é o

Plano (ou planejamento) Museológico, ferramenta criada dentro da administração que

foi adaptada para ser utilizado dentro dos museus no intuito de gerenciar suas atividades administrativas, de documentação, conservação e comunicação. A Lei n.º 11.904, de 14 de janeiro de 2009, dedica a Seção III para discutir sobre os planos museológicos, que passaram a ser obrigatórios em todas as instituições com especificidades museológicas. O plano deve ser elaborado por uma equipe interdisciplinar e contar com a participação de todos-(as) os-(as) funcionários-(as) da instituição, além de especialistas e usuários do espaço interessados (a exemplo de associações de amigos do museu ou parceiros institucionais). De longa duração, o plano deve ser revisto periodicamente pela

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instituição, para que possa ser sempre atualizado e estar em consonância com as necessidades da instituição e o seu regimento interno. Essa lei prevê que todas as instituições devem se adequar às normas presentes nela, em um prazo de cinco anos a contar de sua publicação, ou seja, até janeiro de 2014 todos os museus devem ter um plano museológico definido e em ação.

Davies define o Plano como uma forma de “Estabelecer uma visão clara a respeito de para onde se dirige o museu e como chegar até lá.” (2001, p. 15). Essa definição abarca além da administração, a segurança e a as funções técnicas dentro do espaço museal, por meio do norteamento das ações desempenhadas e seu melhoramento. Essa visão da instituição deve estar clara para todos os envolvidos no processo, a equipe e os parceiros, além das ações (o que se vai fazer) e das estratégias (como se chegar lá) a curto, médio e longo prazo que serão realizadas.

O Plano ajuda a delimitar a missão da instituição, além de prever a curto e longo prazo as ações desempenhadas, sejam elas de gestão de pessoas, acervo, pesquisa, comunicação, segurança, finanças e fomento. O Planejamento ou Plano Museológico é uma ferramenta que para sua elaboração demandará muito tempo e total participação e interação com o corpo de funcionários-(as) desde o início, a delimitação da missão da instituição, a que ela se propõe, para a partir de então, iniciar os diagnósticos do museu, ou seja, como ele é visto pelos públicos externo e interno. Estes darão uma ampla visão da situação atual do museu.

O Plano pode ser dividido em 02 (duas) etapas: Definição da Instituição (o diagnóstico) e Programas. O diagnóstico pode ser desenvolvido seguindo determinadas etapas (na escrita do planejamento, algumas etapas se tornarão programas). A distribuição em programas facilita o desenvolvimento do texto escrito bem como os processos de trabalho e monitoramento por parte da equipe. Além da revisão do plano, é necessário que o museu, ao final de cada ano, reveja o seu plano e destaque o que foi cumprido e o que deixou de ser feito, nesse caso deve-se apontar os prováveis motivos que impossibilitaram sua execução para que no próximo ano não se repita o mesmo.

3.1 A gestão da informação nos espaços museais: o processo de documentação

A documentação é uma atividade tão antiga quanto os próprios museus, cujo desenvolvimento ocorreu de forma lenta. Pode-se dizer que a documentação surgiu, a

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partir do momento em que os donos de coleções precisaram catalogar seus acervos, por meio de listas, para ter um controle do que se tinha por posse. Essa listagem, na atualidade, pode-se dizer que se remete aos arrolamentos realizados na primeira etapa de processamento dos acervos, muitas vezes realizada sem um método específico e à margem entre as atividades desempenhadas no interior das atuais instituições museais. Vista como a “parente pobre” (Olcina apud Cerávolo, Tálamo, 2000, p. 241) entre as atividades do museu, passou a ser mais estudada a partir da segunda metade do século XX, com a criação do Office International des Musées (OIM) em 1927, que entre suas funções estavam a normalização da documentação nos museus através do uso de fichas, a padronização de etiquetas descritivas, catálogos iconográficos e classificação padronizada. Essa padronização tinha como base a metodologia utilizada pela então Biblioteconomia, que contribuiu de forma significativa para o seu desenvolvimento.

Em 1950 foi criado o CIDOC (Comitê Internacional de Documentação) no ICOM e em 1960 passou a tentar padronizar as ações de catalogação nos museus, internacionalmente, por meio do uso de etiquetas, fichas catalográficas, catálogos, guias, etc. De 1970 a 1980 a informatização dos acervos era vista como a solução para a documentação, através da “geração de catálogos com os mais diversos objetivos, desde a organização de dados até a recuperação de informações, melhorando, de alguma forma, o acesso às informações.” (CERÁVOLO; TÁLAMO, 2007, p. 04). Mas, à medida que o uso dos computadores se ampliou, percebeu-se que o mesmo não era capaz de organizar sozinho as informações dos bancos de dados, onde a criação de programas prevê a participação de técnicos da área para a sua sistematização.

Na atualidade o CIDOC realiza trabalho em conjunto com outro organismo de pesquisa, o Research Institute, na realização de tratados para a gestão das coleções e sua informatização, além de distribuir entre seus associados boletins periódicos e realização de conferências anuais de trabalho do Comitê, como ressalta Marín Torres:

El CIDOC trabaja hoy estrechamente con otro organismo con gran interés en el ámbito informativo de los museos, como es el Getty Information Institute (desde 1999 se llama Reseach Institute). La tendencia actual de los organismos internacionales es la obtención de normas de información museística que permitan ofrecer un modelo base para la unificación de prácticas que facilite la comunicación, el desarrollo de un corpus de conocimiento para mejorar las prácticas del personal y, por último, facilitar el intercambio de información. (MARÍN TORRES, 2002, p. 307).

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No ano de 1993 o então Getty Information Institute com a colaboração de outras instituições e profissionais do âmbito internacional, em uma reunião realizada em Paris, estabeleceu campos para a identificação de objetos culturais por meio da análise das propostas apresentadas pelos participantes. O resultado desse encontro foi publicado em 1995, a partir do consenso existente entre os itens apresentados pelas instituições. Desse encontro surgiu a lista apresentada pelo Object ID cujo objetivo principal é descrever os objetos para combater o comércio ilícito de obras de arte, antiguidades e bens culturais em geral (OBJECT, http://archives.icom.museum/object-id/index_span.html).

O museu passa a ser visto, também, como um prestador de serviços da informação, onde o tratamento documentário é o responsável pela geração dessa informação2, além da sua difusão. É importante compreender que antes de ser incorporado ao acervo do museu, o objeto possui uma historicidade que muitas vezes não é contemplada durante a realização dos procedimentos técnicos de catalogação. Por isso se torna necessário realizar um estudo das características intrínsecas (obtidas a partir da leitura do próprio objeto, como descrição, características, etc.) e extrínsecas (obtidas a partir de fontes e pesquisas realizadas sobre o objeto e a sociedade a que pertenceu) do objeto, que deve ser realizado no processo de documentação.

É preciso pensar em toda a história do objeto antes de sua entrada no museu. Compreender sua historicidade, tentando responder a perguntas como: de onde ele veio? Qual era a função dada por seu antigo proprietário/usuário? Como chegou até a instituição? Ao se falar dos procedimentos técnicos que fazem parte da documentação dos acervos de museus, não se deve compreendê-los apenas como um mecanismo de controle desse acervo, mas, também como fonte de informação que oferece suporte para pesquisa, conservação e comunicação (exposição e ação educativa). A informação que o museu preserva e após comunica para o público (visitante e/ou pesquisador), é também uma medida de segurança para o objeto em caso de furto ou roubo.

A documentação museológica apresenta uma metodologia específica, cujos procedimentos perpassam várias etapas, desde a aquisição do objeto por parte da instituição até a sua inclusão em um banco de dados. De acordo com Nascimento (2002) as formas de um objeto ingressar no museu podem ser por meio de: Aquisição

2 Para Andrés Gutiérrez Usillos (2010) a informação consiste na transmissão da mensagem por parte de um suporte (bi ou tridimensional), que tem por finalidade a construção do conhecimento por parte do usuário.

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permanente: compra e doação; Outras formas de inserção do objeto no acervo: depósito, empréstimo, permuta e legado.

O tipo de ingresso deve estar especificado na política de aquisição do museu, bem como o caráter do seu acervo se aberto (possibilita a aquisição de novos objetos no acervo) ou fechado (não permite o acréscimo de novos itens no acervo permanente do museu). O Código de Ética para Museus do ICOM, ressalta a necessidade das instituições de manterem uma política própria de aquisição dos bens ao dizer:

Em cada museu, a autoridade de tutela deve adotar e tornar público um documento relativo à política de aquisição, proteção e utilização de acervos. Esta política deve estabelecer a situação dos objetos que não serão catalogados ou expostos. (CÓDIGO, 2010, p. 14-5).

O processo de documentação de acervos deve contar com etapas específicas que levarão a instituição ao melhor conhecimento sobre seu acervo, seu estado de conservação e o que se deve comunicar.

4. CONCLUSÕES

O museu consiste em um espaço valorizado, para a afirmação de identidades e memórias de um determinado grupo social ou nação. No caso do Museu de Arte e Memória de Alagoinhas, se constitui como um lugar de salvaguarda da história da cidade de Alagoinhas e da Estação Férrea São Francisco, por meio dos objetos materializados que narram, por meio da exposição existente, as especificidades culturais, sociais e econômicas do local.

Essas propostas de museus não podem ser pensadas unicamente à luz do ICOM, devem ter uma dinâmica própria e acompanhar o ritmo da sociedade em que esteja inserido. As novas políticas para o setor museal buscam uniformizar algumas questões quanto a construção desses espaços, sobretudo no que se refere à gestão museal, por meio da implantação dos planejamentos museológicos e regimentos internos, com fins de regularização das instituições junto ao poder público.

Embora essa ação tenha como meta o fortalecimento do setor museológico é necessário ressaltar que não serão todas as instituições existentes que conseguirão se adaptar às diretrizes lançadas pela Lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009, que institui o Estatuto Brasileiro de Museus, onde estes espaços devem ter em seu corpo funcional funcionários qualificados em sua equipe, lembrando que a elaboração de planos, programas e projetos museológicos devem contar com a participação de um profissional

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museólogo devidamente registrado no Conselho de Classe. Essa medida prevê a adaptação dos espaços existentes até o ano de 2014, o que criará uma maior demanda por profissionais, bem como um melhor funcionamento das instituições.

Esses museus funcionam como uma ferramenta política para a sua sociedade com todas as tensões existentes.

Este trabalho tem por pretensão se tornar uma contribuição significativa para o setor museológico, sobretudo no que se refere à cidade de Alagoinhas, além de contribuir para se repensar as formas de musealização existentes na contemporaneidade. Não se trata de um manual que deve ser seguido ao pé da letra, uma vez que cada proposta apresenta uma especificidade social própria que deve se priorizada nos processos contemporâneos de criação de museus.

Pode-se concluir que os museus tiveram como origem, na modernidade, motivações políticas e sociais, onde o Estado desempenhou um papel de destaque, sobretudo na concentração de decisões e poder. O que se busca na atualidade é um museu que reflita e interaja com a realidade da sociedade em que esteja inserido, que atue e interaja com a comunidade, possibilitando novas formas de diálogos na contemporaneidade.

REFERÊNCIAS

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i A inscrição do Centro de Documentação e Memória/FIGAM está disponível em

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