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FUNDAMENTOS DE GEOPOLÍTICA DO PETRÓLEO

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FUNDAMENTOS DE GEOPOLÍTICA DO PETRÓLEO PARA COMPREENSÃO DO DIREITO PETROLÍFERO.

Por Olavo Bentes David

1. Introdução: O Alvorecer da Indústria

Os primeiros registros da utilização do petróleo pelo homem remontam aos egípcios, mais de cinco mil anos antes de Cristo , que o empregaram no embalsamento dos mortos e na construção das famosas pirâmides. Inúmeros apontamentos históricos indicam o encontro de betume no Oriente Médio, assomado à superfície através de falhas ou fraturas geológicas, especialmente na Mesopotâmia (atual Iraque). Três mil anos antes de Cristo, o betume era artigo de comércio na península arábica, sendo usado como argamassa de construções (é presente nas muralhas de Jericó e da Babilônia), na construção de estradas, como iluminante precário e como inflamante de temíveis artefatos bélicos. Em Baku, região do Mar Cáspio, os antigos Persas, seguidores de Zoroastro, cultuavam suas sagradas entidades nas chamas eternas do Templo do Fogo, alimentadas por emanações naturais de gás. Proclamou-se, ao longo da história, as propriedades curativas do petróleo. No século I d.C., o naturalista romano Plínio instruía sobre sua capacidade de “estancar hemorragias, curar dor de dente, aliviar a tosse, a falta de ar, a diarréia, o reumatismo e a febre” . Na América pré-colombiana o petróleo era usado como calafetante, impermeabilizante de tecidos, goma de mascar e pomada para pele. Na América do Norte, os primitivos habitantes da atual Pensilvânia haviam desenvolvido diferentes usos práticos para o petróleo. A substância lhes era tão cara que, para obtê-la em maiores quantidades, escavavam fossas rudimentares até atingirem os reservatórios pouco profundos, um feito que os propagadores da moderna indústria petrolífera repetiriam, no mesmo local, no então longínquo século XIX.

Apesar da longevidade e multiplicidade do uso do petróleo, não se pode falar de uma verdadeira indústria antes de meados do século XIX. Até então, a substância era utilizada meramente in natura sendo seu potencial energético praticamente desconhecido. Todavia, nos anos 1850, a realidade era outra. Vivia-se, em plenitude, a Revolução Industrial, alterando toda a dinâmica das relações de produção. À sociedade moderna não mais era dado condicionar suas atividades produtivas à disponibilidade de luz solar. O óleo de baleia e a fase liqüefeita do carvão mineral (“óleo de carvão”) forneciam uma iluminação cara e precária. O mundo demandava luz e na esteira desta carência floresceu a moderna indústria do petróleo.

O petróleo bruto não é um bom iluminante. De sua queima remanescem fuligem e gases tóxicos, o que torna impraticável sua utilização em ambientes fechados. Não obstante, em meados do século XIX, seu potencial para iluminação já era notório, desde que processado. Técnicas primitivas de refinação foram desenvolvidas em diversas partes do mundo. Samuel Kier, na década de 1940, processava e comercializava “óleo de pedra” na Pensilvânia. Em 1849, James Young patenteou, na Escócia, um método eficiente para destilar o “óleo de carvão”. Na mesma época, no Canadá, Abraham Gesner, médico, geólogo e cientista, conseguiu processar petróleo, extraindo-lhe fração apropriada para ser utilizada em iluminação. Anos mais tarde, em 1854, comercializou seu produto em Nova York, denominando-o “kerosene” . Na década de 1850, industrializava-se petróleo na Europa Central. Em 1854, já se

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conhecia o querosene; em 1857, funcionava uma rudimentar refinaria na Romênia e em 1859 a Galícia possuía uma florescente indústria. Em Viena eram manufaturados e comercializados lampiões próprios para a queima de querosene. A produção européia de petróleo era estimada, no final daquele ano, em trinta e seis mil barris/ano, insuficientes, no entanto, para o ávido mercado consumidor.

Por todo o mundo procurava-se petróleo em mananciais robustos o suficiente para atender à demanda. No Brasil, em outubro de 1858, através dos decretos imperiais 2266 e 2267, concedeu-se a José de Barros Pimentel e ao inglês Samuel Allport os direitos para a extração de minerais empregáveis em iluminação. “Buscava-se matéria-prima para a fabricação de material iluminante. Moura & Carneiro (1976) citam as concessões e reproduzem os decretos para explorar material betuminoso, turfa , carvão de pedra e petróleo das províncias...”.

Em 1853 o advogado George Bissel submeteu ao químico Benjamin Silliman Jr. uma amostra do “óleo de pedra” artesanalmente extraído dos confins da Pensilvânia. A análise química confirmou que a destilação daquele óleo fornecia querosene de ótima qualidade. Em 1854, Bissel, a partir do relatório de Silliman, atraiu investimentos suficientes para fundar a primeira companhia petrolífera dos Estados Unidos, a Pennsylvania Rock Oil Company of New York . Seu projeto consistia em perfurar regiões onde o petróleo exudava, de modo a atingir o manancial e bombeá-lo, à maneira como se fazia com água. Edwin Drake (um ex-ferroviário que viria a ser conhecido mundialmente pela alcunha de “coronel” Drake) foi contratado para a empreitada e, utilizando-se de equipamentos apropriados à perfuração voltada para a obtenção de sal, veio, após longa saga infrutífera, a perfurar seu primeiro poço descobridor de petróleo em 1859, na localidade de Titusville, Pensilvânia. A descoberta do “coronel” Drake é considerada o marco representativo do início da moderna indústria do petróleo.

Entretanto, o mérito da descoberta de Titusville foi de Bissel. Antevendo as excelentes possibilidade do negócio, o empreendedor organizou uma empresa que, credenciada pelo relatório de Silliman, enrijeceu-se o suficiente para suportar os altos custos iniciais da perfuração. Ademais, um ano antes, o canadense James Miller Williams havia obtido êxito em produzir petróleo em poços perfurados na região de Oil Springs, Canadá. Miller instituiu a Canadá Oil Company em 1860 e, em 1862, perfurou o primeiro poço superprodutor (2000 barris/dia) de que se tem notícia . É ele, e não Drake, o fundador da hodierna indústria petrolífera. O restante é mito: o primeiro de outros tantos veiculados ao ramo petróleo.

Robert O. Anderson, presidente da ARCO e um dos grandes magnatas do petróleo do século XX, bem observa que a “descoberta de Drake fundou uma indústria que estava, na verdade, aguardando ser fundada”. Encontrado petróleo em abundância, disponibilizava-se a matéria-prima para uma atividade econômica cujos demais elementos – mercado consumidor, tecnologia de refino, lampião adequado – já eram havidos, possibilitando ao homem saciar sua ânsia de encurtar a noite. Petróleo já era, sabidamente, um grande negócio; tanto que os refinadores de óleo iluminante acorreram imediatamente a Titusville, pagando até US$ 20,00 pelo barril do produto, preço que, descontada a inflação, supera o pico atingido mais de um século depois, após duas sucessivas crises. Sobreveio a corrida ao “ouro negro”: no ano seguinte à perfuração de Drake, setenta e cinco poços produziam petróleo e quinze refinarias o

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processavam em Titusville. Em 1861 foi efetuada a primeira exportação de petróleo norte-americano para Europa. Em 1862 produziram-se três milhões de barris de petróleo na Pensilvânia.

No preâmbulo da indústria petrolífera norte-americana destaca-se a aplicação, sem restrições, da denominada “rule of capture”, inspirada na “common law” britânica, a qual propugnava que o direito de propriedade abrangia, além da superfície do terreno, todo o seu correspondente, tanto acima, em direção ao céu, quanto abaixo, rumo ao centro da terra. É o que a doutrina do direito mineral designa sistema fundiário ou de acessão. Sua contrapartida, o sistema de concessão, variante do dominial ou regaliano e aplicada em praticamente todo o mundo com exceção de Estados Unidos e Inglaterra, sustenta que as riquezas do subsolo são propriedade do Estado, a quem é facultado permitir ao concessionário, de acordo com o interesse da coletividade, a exploração industrial destes recursos naturais. A doutrina da regra da captura privilegia o individualismo e a propriedade, caracterizando-se pela ausência de responsabilidade, limitada unicamente pelo direito do proprietário vizinho de perfurar a mesma jazida mineral, desde que esta se prolongue por sob a projeção dos limites de sua propriedade no subsolo. Aplicada sem mitigação, como o era à época, a regra enseja controvérsias intensas, especialmente quando se trata de jazidas minerais fluidas, como as são as de petróleo . A ausência de mecanismos regulatórios foi, inquestionavelmente, uma das razões pela qual o preço do barril de petróleo variou caoticamente desde os US$ 20,00 iniciais para US$ 10,00 em janeiro de 1861, chegando a US$ 0,10 no final do mesmo ano, elevando-se para US$ 4,00 em 1862 e US$ 7,25 em 1963. Oscilação análoga ocorria com os preços das propriedades, como noticia Daniel Yergin (op. cit., p. 16):

“A especulação imobiliária não tinha limites (em Pithole). Uma fazenda que poucos meses antes quase não tinha valor era vendida por dois milhões de dólares (...). Pouco meses mais tarde, a produção de petróleo esgotou-se rapidamente- quase tão rápido quanto começara (...). A cidade voltou ao silêncio e à solidão. Um lote de terra em Pithole que em 1865 fora vendido por dois milhões de dólares foi leiloado por US$ 4,37 em 1878.”

Era a indústria do caos. Fortuna e ruína caminhavam abarcadas. 2. Truste e Integração: a Standard Oil Co.

John D. Rockefeller, fundador da Standard Oil Company e principal protagonista da história do petróleo no século XIX, foi um dos pioneiros da novel indústria. Astuto negociante, estava em Titusville já em 1862 e, ao contrário da maioria dos aventureiros que buscavam o enriquecimento fácil perfurando poços, fundou uma pequena companhia, a Rockefeller, Andrews and Flager , cujo objeto era a compra de petróleo bruto, sua destilação e a comercialização do querosene derivado. Em 1870, Rockefeller, já capitalizado, inaugura a Standard Oil Company, concebendo um plano que constituiria o modelo adotado por todas as grandes corporações petrolíferas do mundo: a integração e o monopólio Seu objetivo era tornar o negócio petróleo, além de rentável, seguro. Seguindo as linhas mestras de seu plano, Rockefeller uniu-se às empresas ferroviárias, que monopolizavam o transporte de petróleo bruto e derivados e, obtendo descontos secretos e informações inescrupulosas, cujo objetivo era a virtual eliminação da concorrência, proporcionou um crescimento espantoso a sua empresa.

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No início dos anos 1870 a Standard Oil detinha menos de 3% do mercado de querosene refinado nos EUA, percentual que saltou, em 1879, para 90%. As décadas de 1880 e 1890 assistiram ao contínuo crescimento e domínio do mercado, tanto interno quanto externo, pela Standard Oil Co., que, além do refino, controlava os recém-instalados ramais dutoviários e os sistemas de coleta das regiões produtoras. Entretanto, as operações da Standard Oil ainda concentravam-se no refino, no transporte e na comercialização. Era a grande compradora de petróleo bruto dos EUA, e as constantes variações de preço eram uma ameaça a sua estabilidade. Em 1885, a Seep Agency, braço comercial da Standard, anunciou que o preço que pagaria pelo óleo bruto seria o “do mercado internacional”, cuja cotação diária seria por ela calculada e divulgada. Consolidava assim o truste da Standard Oil, exercendo o completo domínio do mercado americano e, por extensão, do mundial.

Em 1882, o cientista Thomas Alva Edison apresentou o protótipo de um artefato que abalaria profundamente o mercado do querosene no final do século XIX, confinando-o praticamente às zonas rurais. O invento de Edison, a lâmpada elétrica, oferecia uma iluminação infinitamente superior a qualquer iluminante antes utilizado. Em 1902, dezoito milhões de lâmpadas elétricas estavam em uso nos Estados Unidos. Entretanto, quase que simultaneamente ao refluxo do mercado de querosene, outro começou a florescer. Surgiam as “carruagens sem cavalos”, os automóveis, propulssionados pela explosão interna em motores à base de gasolina, até então um derivado pouco nobre do petróleo. No início do século XX, os motores à gasolina já se mostravam nitidamente superiores aos propelidos por vapor ou eletricidade e o combustível havia se tornado o derivado de petróleo mais utilizado na indústria. As indústrias petrolífera e automobilística, irmanadas pela fascinação exercida pelo automóvel nos consumidores, seguiram articuladas durante todo o século XX, movimentando uma quantidade de recursos e influindo na geopolítica mundial em escala incomparável a qualquer outro segmento industrial.

Na virada do século, a Standard Oil era a concretização do plano germinado por Rockefeller. Constituía uma empresa integrada de petróleo, participando de todas as atividades do setor: exploração, perfuração, produção, transporte, refino, distribuição e comercialização. O tamanho e a influência da Standard Oil Co. despertaram críticas em diversos segmentos sociais norte-americanos. Os trustes e monopólios, até então vistos pelos defensores do capitalismo como sua realização definitiva, passaram a representar a face pervertida do sistema. A Standard Oil, já à época uma empresa trans-nacionalizada, era o exemplo perfeito de truste. Sobre ela concentraram-se as críticas, principalmente as oriundas de Ida Tarbell, combativa jornalista da Mclure’s Magazine, um dos maiores periódicos americanos de então. Em 1911, após longo e conturbado processo judicial, a Suprema Corte de Justiça dos Estados Unidos determinou a dissolução da Standard Oil Company em trinta e três sociedades. A magnitude da companhia pode ser avaliada pela importância de algumas das empresas que sobrevieram a seu desmembramento: Exxon (Standard Oil de New Jersey), Mobil (Standard Oil de New York), Chevron (Standard Oil da Califórnia), Sohio (Standard Oil de Ohio), Amoco (Standard Oil of Indiana), Continental Oil (Conoco) e Atlantic. Três das empresas provenientes da Standard Oil (Exxon, Mobil e Chevron) vieram a compor o grupo das gigantes do petróleo da segunda metade do século XX, ao lado da britânica BP, da anglo-holandesa Royal Dutch Shell, da francesa CFP e das texanas Gulf e Texaco.

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3. As Companhias Européias

Impressionados com o sucesso do petróleo norte-americano, os irmãos Nobel, suecos de origem, investiram, em 1873, na aquisição de uma pequena refinaria em Baku , província russa situada na margem ocidental do mar Cáspio. Em meados da década seguinte, a Companhia de Produção de Petróleo Irmãos Nobel dominava o comércio do petróleo russo, interna e externamente. Em 1883 foi a vez do ramo francês dos Rothschild, tradicional e próspera família judia, entrar no negócio do petróleo russo estabelecendo, através da Companhia de Petróleo do Mar Cáspio e do Mar Negro (Bnito), uma concorrência com os Nobel jamais experimentada pela Standard Oil em terras norte-americanas. O grande problema da incipiente indústria petrolífera russa era a debilidade do mercado consumidor. A “nova luz” não fazia parte das necessidades básicas do campesinato russo e, em relação ao mercado externo, as dificuldades para transportar o petróleo de Baku, tornavam-no não competitivo com a já desenvolvida rede de comercialização da Standard Oil na Europa. A solução para o petróleo russo, apontava o mapa-mundi, era o proeminente mercado asiático. Marcus Samuel, inglês de origem judia, inaugurou a era dos grandes navios de transporte de petróleo e, após uma longa e árdua batalha política, obteve, em 1892, autorização do governo britânico para a travessia do canal de Suez pelo petroleiro Murex. Associado aos Rothschild, Samuel descortinou para a Bnito o mercado asiático. A hegemonia absoluta da Standard Oil no mundo pela primeira vez fora abalada. A companhia de Samuel (futura Shell em homenagem ao negócio do pai, modesto importador de conchas orientais) destinava-se a tornar-se a maior concorrente (e muitas vezes aliada) da Standard Oil durante o século que se avizinhava.

Em 1880, o holandês Aeilko Zijlker detectou na ilha de Sumatra, nas então Índias Orientais Holandesas, a presença de petróleo de alta qualidade, cujas amostras apresentavam o excepcional teor de 59 a 62% de querosene. Zijlker obteve a concessão do sultão de Langkat, a máxima autoridade local, e o patrocínio da Coroa Holandesa, bem como a valiosa prerrogativa de utilizar o título “Royal” em sua companhia de petróleo. Estavam fincados os alicerces da Royal Dutch. Jean Baptiste Kessler, sucessor de Zijlker, forneceu, ainda que modestamente, os primeiros latões de querosene ao mercado asiático em 1892, quase que simultaneamente à travessia do canal de Suez pelo petroleiro da Shell. Com a morte de Kessler em 1900, substitui-lhe no comando da Royal Dutch o holandês Henri Wilhem Deterding. Sua importância no ramo foi intensa, tendo permanecido à frente da Royal Dutch por mais de quarenta anos, até meados da Segunda Guerra Mundial. Foi Deterding o grande responsável pela fusão da Royal Dutch com a Shell, com patente vantagem para o ramo holandês da holding. A união foi consolidada em 1907, dela surgindo o poderoso grupo Royal Dutch Shell.

Em 1901, o comerciante inglês radicado na Austrália, William Knox D’Arcy negocia com o governo persa e obtém uma concessão correspondente a nada menos que cinco sextos do território da Pérsia , válida por sessenta anos, obrigando-se, em contrapartida, a pagar ao xá vinte mil libras em dinheiro, outras vinte mil em ações e 16% dos lucros líquidos anuais. O contrato de D’Arcy inaugurou a era das primeiras concessões, que prolongar-se-ía até após a Segunda Guerra Mundial. As concessões primitivas caracterizavam-se pelas gigantescas áreas, pela longa duração, pela ausência do direito de desistência e revisão por parte do Estado hospedeiro, pelos direitos exclusivos outorgados ao concessionário sobre o petróleo extraído na área

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concedida e pela remuneração mínima ao país produtor .

As dificuldades financeiras do empreendimento de D’Arcy o levaram a solicitar insistentemente o auxílio do governo britânico, especialmente do almirantado. O interesse inglês na área era latente, pois a Inglaterra disputava com a Rússia o domínio político da região. O petróleo na Pérsia só veio a jorrar em 1908. A descoberta reveste-se de simbolismo, pois marca a entrada em cena do Oriente Médio como grande produtor e a afirmação, ao nível mundial, de outra grande companhia de petróleo – a Anglo-Persian (posteriormente Anglo-Iranian e, finalmente, British Petroleum).

Em 1914, às vésperas da grande conflagração mundial, Winston Churchill era Secretário do Interior da Inglaterra. Desde 1911 vinha defendendo uma mudança radical na armada inglesa: a mudança dos motores movidos a carvão para motores à base de combustíveis derivados do petróleo, muito mais eficientes. Seus opositores rebatiam acenando com a vantagem estratégica do carvão, abundante na Inglaterra. Vencida a polêmica, Churchill passou a patrocinar a participação do governo inglês na Anglo-Persian, o que veio a ocorrer neste ano, com a aquisição de 51% das ações daquela empresa. A futura BP torna-se a primeira empresa de petróleo estatal, ainda que, na essência, nunca tenha abandonado sua característica originária de empresa privada.

Nos mesmos moldes que o inglês, o governo francês investiu em sua própria estatal – a CFP - Compagnie Française des Pétroles - adquirindo, em 1920, o controle acionário da Turkish Petroleum Company e, em 1928, constituindo a Irak Petroleum Company. Em 1924, o monopólio do petróleo francês foi delegado a esta empresa, com a missão de zelar pelas posições petrolíferas conquistadas mundialmente.

4. As Estatais Latino-Americanas

No início do século XX, o México já havia demonstrado ser um prolífero produtor de petróleo. Um único poço, o famoso Potrero del Llano, perfurado em 1910, produziu o fantástico volume de 110 mil barris de petróleo por dia e é, ainda hoje, considerado o mais produtivo poço de petróleo já perfurado. Em 1911, os revolucionários mexicanos, liderados por Zapata, assumem o poder. A Constituição de 1917 consagra o princípio da propriedade do subsolo. No sistema regaliano ou dominial, ao contrário do norte-americano (acessão ou fundiário) , é o Estado, e não o proprietário do solo, o senhor legítimo dos recursos naturais em sub-superfície. Tal princípio foi adotado em inúmeras constituições posteriores, incluindo a atual Carta Magna brasileira. Em 1938, Lázaro Cárdenas, então presidente mexicano, culminando um longo processo de resistência ao controle estrangeiro do país, expropria as empresas de petróleo e nacionaliza as jazidas mexicanas. Foi o ato que deu origem a Petroleos Mexicanos (PEMEX), empresa totalmente estatal, fadada a se tornar uma das grandes empresas de petróleo do mundo.

A política mexicana de petróleo findou por tornar-se um modelo para a exploração petrolífera na América Latina. Em seu rastro viriam a consolidar-se outras grandes companhias latino-americanas: a PDVSA, venezuelana, a PETROBRAS, brasileira e a YPF, argentina, todas empresas estatais, atuando ou não em regime de monopólio. Em que pesem as críticas de setores conservadores, é inegável o sucesso do modelo. As

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três primeiras postam-se, atualmente, entre as quinze maiores empresas de petróleo do mundo. A YPF, fundada em 1922 e privatizada na onda neoliberal do final da década de 1980 e início da de 1990, é uma pálida sombra da robusta empresa de outrora. A progressiva abertura do mercado argentino às transnacionais petrolíferas, iniciada no começo da década de 1960, imprimiu um cunho individualista à indústria. Os investimentos concentraram-se em produção e comercialização, restando à exploração um papel secundário. Entre 1967 e 1979, grupos privados argentinos e transnacionais foram brindados com contratos para desenvolvimento de áreas já exploradas pela YPF. Em outros casos, permitiu-se à iniciativa privada até mesmo a explotação de campos já desenvolvidos pela estatal. Como resultado, as reservas comprovadas de petróleo argentino caíram de 344 milhões de toneladas equivalentes em 1970 para 330 milhões em 1987. No mesmo período, as brasileiras triplicaram, subindo de 110 para 340 milhões .

5. Os Cartéis Mundiais: As “Sete Irmãs” e a OPEP

Em 1928, a indústria mundial do petróleo vivia uma crise de superprodução, cujas raízes ligavam-se à produção soviética após a revolução bolchevique de 1917. Praticando preços inalcançáveis pela concorrência, a União Soviética chegou a suprir em até 40% o mercado da Itália, 21% o da França e 16% o da Alemanha. Frustrada a tentativa de acordo entre a Shell e a Standard Oil of New Jersey para enfrentar a ameaça soviética, passaram as duas gigantes a digladiar, disputando o controle das fontes de produção e dos mercados mundiais. O embate era açulado pelas sucessivas baixas de preço promovidas pela Russian Oil Products . Estados Unidos, México, Venezuela e União Soviética, então os maiores produtores mundiais, inundavam de óleo o mercado, provocando uma competição descomedida entre as grandes empresas com conseqüente queda vertiginosa no preço do petróleo. Todas as “majors” haviam-se estabelecido, e era inconcebível um monopólio mundial, a exemplo do exercido pela Standard Oil no final do século XIX, pois nenhuma das empresas era rija o suficiente para submeter as demais.

Sobre este pano de fundo, reuniram-se, reservadamente, em agosto daquele ano, os presidentes e altos executivos das maiores empresas de petróleo do mundo. Estavam presentes em Achnacarry a alta administração da Standard Oil of New Jersey (atual Exxon), da Anglo-Persian (atual BP), da Gulf e da Standard Oil of Indiana (depois, Amoco). O anfitrião era o todo poderoso Henri Deterding, presidente da Royal Dutch Shell, que contava com o prestimoso apoio do governo britânico. Da reunião resultou o Acordo de Achnacarry, que, fundamentalmente, dividia o mercado consumidor mundial entre as “majors”. Cada empresa recebia uma quota em diversos mercados, de acordo com sua participação em 1928, só podendo aumentar seu volume à medida que crescesse a demanda total. O pacto é também conhecido por Acordo do “Como Está” , o que reflete a intenção dos participante – manter o mercado na forma em que se encontrava àquela data. Interessava aos grandes conglomerados petrolíferos, igualmente, assegurar que as novas e promissoras reservas petrolíferas do Oriente Médio permanecessem com as companhias que já dominavam o mercado. Ainda que não tenha atingido por completo seus objetivos, o Acordo de Achnacarry representou a base para os convênios posteriores e exerceu influência decisiva na indústria mundial do petróleo, logrando não só estabelecer um eficiente sistema de preços, como também um mecanismo de controle de produção. Foi, ainda, o fundamento do Acordo de Londres, pactuado em 1934, que é considerado o instituidor do cartel

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internacional das “Sete Irmãs”, expressão ironicamente cunhada por Enrico Matei, presidente da italiana ENI: Exxon, Mobil, Socal (atual Chevron), Texaco, Gulf, Shell e Anglo-Persian (atual BP) . Além destas, não se pode olvidar a importância da francesa CFP, por muitos considerada a “oitava irmã”, que posteriormente juntou-se à partilha definida em Achnacarry e em Londres.

O domínio do Cartel das “Sete Irmãs” prolongou-se até o início dos anos 1970. Ao longo destas décadas, seu poder econômico e supremacia técnica, impuseram sua vontade. Controlando o preço e a produção do petróleo, o Cartel, com o ostensivo apoio dos governos americano, inglês e francês, ditava os rumos da economia mundial, exercendo uma influência poderosa nos governos dos países hospedeiros, obrigados a declinar de sua soberania em favor dos interesses do capital petrolífero. O poder das “Irmãs” era ainda mais proeminente nos países árabes e na Venezuela, obrigados a produzir, a um custo mínimo, o petróleo, que seria vendido pelos preços determinados pelo Cartel, sendo a diferença apropriada pelas gigantes do petróleo. Em 1950, o Cartel (incluindo a CFP), detinha nada menos que 99,4% do petróleo produzido pelos maiores exportadores mundiais.

Até a década de 1960, as reações a tão amplo domínio foram esporádicas e isoladas. Com efeito, em 1933, o Irã cancelou unilateralmente a quimérica concessão de sessenta anos à Anglo-Persian, sendo, porém, obrigado a ratificá-la no mesmo ano. Em 1938, como já referido, o México nacionalizou as companhias estrangeiras de petróleo, criando a estatal PEMEX. Em 1943, com a promulgação da “Ley de Hidrocarburos” a Venezuela obrigou as empresas produtoras de petróleo (especialmente a Standard Oil of New Jersey – Exxon – e a Royal Dutch Shell) a reverem os contratos de concessão, restabelecendo-os no postulado do “fifty-fifty”, através do qual as diversas taxas e os “royalties” seriam redimensionados, de forma que as participações governamentais se igualassem ao lucro líquido obtido pelas empresas que operassem naquele país. A revisão venezuelana é um marco nos contratos de concessão. A partir daí, as bases negociais entre os países hospedeiros e as empresas estrangeiras de petróleo seguiriam rumos distintos dos leoninos contratos de concessão até então celebrados. Em 1950, o governo saudita faz o mesmo em relação à ARAMCO . Em 1951, a Anglo-Iranian (antiga Anglo-Persian e futura BP) é nacionalizada pelo lendário primeiro ministro Mossadegh. A reação do Cartel Internacional do Petróleo não tardou. Boicotada a comercialização do petróleo iraniano, a produção nacional despencou de 664.000 barris/dia em 1950 para 27.000 barris/dia em 1952. Com a economia em frangalhos e o desemprego franqueado, forças golpistas, com o apoio do Cartel e de seus respectivos governos, especialmente o norte-americano, depuseram o nacionalista Mossadegh, condenaram-no por crime de lesa-pátria e criaram o Consórcio Nacional Iraniano, repartindo o potencial petrolífero iraniano entre ingleses (40%), norte-americanos (40%), holandeses (14%) e franceses (6%).

Desde o final da década de 1920, a exploração petrolífera no Oriente Médio fora partilhada entre grandes “majors”. Do Acordo da Linha Vermelha, intermediado pelo armênio Calouste Gulbenkian e preâmbulo do Acordo de Achnacarry, foram signatários a Anglo-Persian (BP), a Shell, a Standard de New Jersey (Exxon) e a de Nova York (Mobil). Os dados levantados por Ilmar Penna Marinho (op. cit., p. 71-72) e abaixo transcritos, ilustram a espoliação representada pelos abusivos contratos de

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concessão na região:

“Foram precisos 28 anos de exploração e 133 poços para as companhias de petróleo localizarem, em 1964, o campo de Leduc, na província de Alberta, no Canadá, com produção de 51 milhões de barris anuais. Foram despendidos, sem êxito, US$ 40 milhões na Guatemala, no período de 1956 a 1959, e 50 milhões de libras na Nova Guiné, durante 25 anos. No Oriente Médio, as 13 primeiras jazidas descobertas na Arábia Saudita, Kuwait, Qatar e na região de Bassorah, no Iraque, entre 1936 e 1946, exigiram apenas 17 poços de exploração, somando reservas provadas da ordem de cerca de 32 bilhões de barris. E o governo desses países produtores, aprisionados nas malhas do sistema concessionário, em sua versão mais extorsiva, pouco se beneficiaram da exploração dessa fonte não-renovável de energia (...). A possibilidade de sucesso na descoberta do petróleo do período 1950-1960, era de 11% nos EUA, 30% na Líbia e 75% no Oriente Médio (Arábia Saudita). Bastava furar para achar petróleo.”

No final da década de 1950, em substituição às ações isoladas, os países produtores se aliaram, colacionando um color nacionalista à industria petrolífera mundial. Em abril de 1959, reuniram-se no Egito, então sob o governo socialista árabe de Gamal Abdel Nasser, os países produtores de petróleo do Oriente Médio. A reunião foi conturbada pela redução unilateral em US$ 0,18, por parte do Cartel das “Sete Irmãs”, no preço-referência pago aos países produtores. Juan Pablo Pérez Afonso e Abdulhah Tariki, ministros do petróleo da Venezuela e da Arábia Saudita respectivamente (o primeiro presente ao Congresso na qualidade de observador), empenharam-se em firmar um acordo de cavalheiros envolvendo os demais representantes das nações árabes produtoras através do qual recomendavam aos seus respectivos governos, entre outras posições audaciosas, que defendessem uma estrutura própria de preços e criassem companhias nacionais de petróleo. Tal acordo foi o embrião de um novo cartel, com objetivos diametralmente opostos ao do das oito gigantes. No ano seguinte, nova diminuição arbitrária dos preços pagos aos produtores (desconto de US$ 0,10 no preço-referência) levou à criação da OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo. Os cinco signatários originais do acordo de criação da Organização – Arábia Saudita, Venezuela, Kuait, Iraque e Irã (posteriormente foram admitidos, pela ordem, Qatar, Indonésia, Nigéria, Equador e Gabão) - eram responsáveis por mais de 80% das exportações mundiais de petróleo bruto. O jogo de forças na indústria modificava-se radicalmente.

Apesar do poder de fogo da Organização, suas conquistas ao longo da década de 1960 foram discretas. Se, por um lado, as grandes companhias de petróleo jamais se atreveram novamente a alterar unilateralmente a estrutura dos preços do petróleo produzido, por outro os conflitos internos e a dependência econômica e tecnológica impediam a OPEP de exercer o papel que o futuro próximo lhe reservava. Além disso, em que pese o extraordinário incremento da demanda mundial, ainda mais desconcertante era o crescimento das reservas disponíveis. Nos países da África, especialmente na Líbia e Argélia, as descobertas sucediam-se. O italiano Enrico Mattei, presidente da ENI (Ente Nazionali Idrocarburi), em combate aberto com o Cartel Internacional, inundava a Europa com o petróleo soviético. Os anos 1960 foram de petróleo farto e barato, realidade que não mais se repetiria a partir da década seguinte.

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A relação oferta/demanda foi bruscamente alterada na virada dos anos 1960 para 1970. O consumo mundial de dezenove milhões de barris/dia em 1960 elevou-se para fantásticos quarenta e quatro milhões em 1970. O mundo e, especialmente, os EUA, tornava-se cada vez mais dependente do Oriente Médio (e também da revolucionária Líbia de Kadafi). A nova década seria a linha divisória da produção norte-americana, que viu esgotada sua histórica capacidade excedente. A OPEP tornava-se dia a dia mais forte e as reivindicações dos países exportadores se avolumavam. Por fim, havia o conflito árabe-israelense e a questão palestina.

6. Anos de Choque

Em 1947, a Assembléia Geral da ONU, fortemente influenciada pelo governo norte-americano, aprovou a partilha da Palestina em dois Estados, um judeu (57% da área total, habitado por 499.000 judeus) e outro árabe (43% do total, habitado por 510.000 palestinos, muçulmanos e cristãos). À partilha seguiram-se os conflitos de 1948, a Guerra do Suez (1956), a Guerra dos Seis Dias (1967) e a Guerra do Iom Kipur (1973). Os países produtores árabes ensaiaram, em 1956 e 1967, utilizar o petróleo como estratégia de guerra, no que não obtiveram sucesso.

A Guerra do Iom Kipur teve início em outubro de 1973 quando forças egípcias e sírias atacaram territórios ocupados por Israel nos conflitos anteriores – a Península do Sinai e as Colinas de Golã. No dia 17 de outubro, retaliando a franca participação norte-americana no conflito, inicia-se o boicote do petróleo árabe. Ao contrário do ocorrido em 1956 e 1967, agora os produtores mostravam-se unidos no que dizia respeito às exportações de petróleo. Em julho daquele ano, a OAPEP – Organização Árabe dos Países Produtores de Petróleo – patrocinou um pacto entre seus membros através do qual cada país se obrigava a manipular a demanda por petróleo em prol da causa árabe.

A anunciada ajuda militar de US$ 2,2 bilhões dos Estados Unidos para Israel precipitou os acontecimentos. Em 17 de outubro, os países árabes produtores aumentaram unilateralmente o valor do barril em 70%, assumindo inteiramente a incumbência da fixação do preço, como também decidiram por um embargo na produção de 5% em relação ao nível de setembro, sucedido por cortes consecutivos de mais 5% a cada mês, enquanto Israel não se retirasse dos territórios ocupados em 1967. Além disso, condicionaram os novos suprimentos à qualificação do consumidor como inimigo, amigo ou neutro, com o propósito de dividir os países industrializados. O impacto do choque do petróleo sobre a economia ocidental foi extraordinário, principalmente no que tange aos países não desenvolvidos e importadores de petróleo, como o Brasil. O aumento de preço desequilibrou o balanço de pagamento inibindo sua capacidade de crescimento. Para atender à demanda, foram obrigados a recorrer a empréstimos externos, absorvendo o superávit da OPEP (os denominados “petrodólares”) e iniciando o processo de construção de suas monumentais dívidas externas.

Quanto às “majors”, é indiscutível que o choque de 1973 representou o assentamento de uma nova realidade, em que as “Sete Irmãs” já não mais impunham sua vontade na determinação do preço e dos volumes a serem produzidos. Entretanto, não tiveram dificuldade de transferir o aumento de preço para os consumidores, que arcaram com

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o salto de US$ 3,25 para US$ 15,70, em média, do barril. Manipulando com o sistema de isenções para os “países amigos”, as gigantes conseguiram não só evitar prejuízos, como até mesmo realizar lucros superiores aos anos pré-1973.

O embargo durou cinco meses. Em 18 de janeiro de 1974 os países-membros da OAPEP emitiram um comunicado expressando-se compensados pela conscientização da opinião pública mundial, e, especialmente, pela clara mudança de posição da Comunidade Econômica Européia em relação à causa árabe. O ano de 1973 ficaria para sempre assinalado pela instalação de uma nova ordem internacional na indústria petrolífera, da qual eram protagonistas os países consumidores e as companhias internacionais de petróleo, cabendo o papel principal aos exportadores, cartelizados em organizações como a OPEP e a OAPEP. O preço do barril, ainda que estabilizado, migrou para o patamar de US$ 11,25, intermediário entre os US$ 8,00 proposto à OPEP pela Arábia Saudita e os US$ 16,00 reivindicado pelo Irã.

Outra conseqüência advinda do realinhamento político do setor petróleo foi o crescimento das participações dos Estados produtores nas filiais das “majors” que neles operavam, e, no mesmo diapasão, o aparecimento e/ou fortalecimento de gigantescas empresas estatais dos países exportadores. A ARAMCO, representante-mor das megaestatais dos grandes exportadores de petróleo, teve 25% de seu controle acionário adquirido pelo governo saudita em 1973, sendo seu capital integralmente estatizado em 1980. Na Venezuela, a “Ley Orgánica que Reserva ao Estado la Industria y el Comercio de los Hidrocarburos”, nacionalizou, em 1975, o petróleo venezuelano. O produto imediato da nacionalização é a criação, pela mesma lei, da Petróleos de Venezuela S.A. – PDVSA. A este respeito posiciona-se Pietri (op. cit., p. 60):

“Este paso está em sintonía com los otros miembros de OPEP, los cuales, de su parte, emprenden procesos nacionalizadores que van desde la compra del 51% de los activos de las concesionarias em el país (Arabia Saudí), hasta del 100% (caso Venzuela). Adquirirán los países membros, de esta manera, la facultad, de ‘regular la produccionón’ (al menos de las suyas).”

A fase de estabilização, ainda que em altos patamares, duraria pouco. Em 1979, o fundamentalista xiita, Aiatolá Ruhollah Komeini, depõe, sob a égide de um movimento islâmico revolucionário, o xá Reza Pahlavi, responsável por um controverso movimento em direção à “ocidentalização” do Irã e alvo da fúria dos religiosos conservadores e de vasta parcela da população. Antes mesmo da queda de Pahlavi e em decorrência de sucessivos e eficientes movimentos grevistas, a indústria petrolífera iraniana teve sua produção reduzida de 6,5 milhões barris/dia para insignificantes 235 mil, insuficientes sequer para atender ao consumo interno , chegando-se ao paradoxo de navios petroleiros norte-americanos inverterem sua rota e abastecerem a tradicional refinaria de Abadã.

O impacto provocado pela crise iraniana na oferta mundial de petróleo não era, em tese, muito agudo. As exportações iranianas representavam de 4 a 5% do petróleo mundialmente consumido, fração de reposição relativamente fácil, principalmente considerando-se a possibilidade do aumento da produção do Mar do Norte, região cujo desenvolvimento exploratório foi estrategicamente antecipado após a crise de 1973.

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Entretanto, os preços subiram 150% acima do patamar dos US$ 13,00 que vinha sendo praticado em 1978. A explicação para uma variação tão abrupta, em comparação com a restrição de demanda de módicos 5%, foi a incerteza e ansiedade de um mercado ainda traumatizado pela crise de 1973. Houve uma corrida ao mercado “spot”, que acabou por incentivar a alta da OPEP, já que seu próprio petróleo era comercializado em Rotterdam pelo dobro do preço praticado por seus membros. A corrida se deu não em razão de escassez de petróleo, mas devido à ânsia dos países importadores e das companhias internacionais em repor seus estoques estratégicos ante o pânico de uma escalada incontrolável de preços.

Em novembro de 1979, estudantes extremistas xiitas invadem a embaixada americana em Teerã e passam a manter encarcerados 63 norte-americanos. Os Estados Unidos embargam as importações e congelam os bens iranianos em seu território. Em resposta, o Irã proíbe a exportação de seu petróleo para qualquer companhia norte-americana. Se o clima entre países importadores e companhias internacionais já era de pânico, agora a situação era dramática, empurrando o preço do petróleo para seu mais alto patamar histórico: US$ 45,00 a US$ 50,00, estabilizando-se, em agosto de 1980, em US$ 32,00.

Em setembro daquele fatídico 1980, o Iraque invade militarmente o Irã, aproveitando-se da profunda instabilidade política reinante no país. Entre as razões misturavam-aproveitando-se questões étnicas, religiosas, políticas e, sobretudo, econômicas. Era a ameaça do terceiro choque do petróleo. O corte inicial na produção mundial foi praticamente idêntico ao de 1979, 4 milhões de barris/dia, porém a expectativa futura era mais sinistra, já que dois dos principais produtores mundiais estavam envolvidos no conflito. Entrementes, desta feita os principais importadores assumiram uma postura distinta da de um ano antes. Apesar da intensidade da crise de 1979, os estoques estratégicos permaneciam intactos. Como visto supra, a crise foi provocada justamente pelo receio dos países importadores e das transnacionais do petróleo em diminuir seus estoques estratégicos. A solução foi lançar mão desses estoques, incrementar a produção no Mar do Norte, no México e no Alasca e contar com a providencial boa vontade da Arábia Saudita em aumentar sua produção em quase 1 milhão de barris/dia. Em janeiro de 1981 os preços acomodavam-se em torno de US$ 35,00 o barril.

A importância dos estoques estratégicos é bem dimensionada por Ilmar Penna Marinho Jr. (op. cit. p. 200):

“No passado, quando nos países produtores o petróleo ‘pertencia’ às companhias internacionais, que detinham a posse e controlavam as fontes de produção, usava-se a estocagem natural do subsolo, dispensando-se a tancagem custosa e mantendo os níveis no estrito necessário. Com o colapso do sistema concessionário, com as arbitrárias nacionalizações e suas ameaças de interrupções nos fornecimentos vitais, a estocagem assumiu uma dimensão político-econômica, buscando-se garantir um “prudente nível mínimo de estoques” muito acima do estrategicamente recomendável de 40 a 45 dias. Assim se explica o pânico ocorrido durante a crise iraniana, que provocou uma corrida por um barril extra, não para atender ao consumo ou ao parque de refino, mas para satisfazer um abuso de prudência. Com a volta do mercado comprador, inverteu-se a mão. O petróleo estocado em excesso passou a ser um instrumento de pressão apontado para o mercado e competindo com o petróleo da

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OPEP”.

Os anos que se seguiram presenciaram uma nova estruturação da indústria petrolífera mundial. O novo patamar de preço do barril era elevadíssimo, mais de 1000% acima do praticado antes do primeiro choque. Uma das conseqüências desta nova realidade foi um espetacular surto de crescimento na indústria. Antigas jazidas, antes subeconômicas, voltaram a ser explotadas; técnicas de exploração e produção antes inutilizáveis, tornaram-se viáveis, permitindo um vigoroso incremento na produção e o descobrimento de novas e prolíferas jazidas. A tecnologia para exploração-produção em águas profundas desenvolveu-se rapidamente, especialmente no Brasil e no Mar do Norte, abrindo um novo horizonte de campos gigantes.

Além do desenvolvimento da indústria, os anos do petróleo acima de trinta dólares o barril redesenharam o perfil do consumidor. A era do “homem hidrocarboneto” terminara. As políticas governamentais induzindo à parcimônia no consumo energético começavam a fazer efeito, o que, juntamente com a recessão mundial dos anos 1980 e o relativo sucesso da utilização de outras fontes de geração de energia (carvão, gás natural, energia nuclear, álcool etílico e outras combustíveis renováveis), contribuíram sobremaneira para a estabilização da curva da demanda petrolífera. O consumo de petróleo nos EUA decresceu de 18,9 para 15,2 milhões de barris/dia entre 1978 e 1983. A participação do petróleo na matriz energética dos países industrializados caiu de 53% em 1978 para 43% em 1985.

Simultaneamente, o poderio obtido pela OPEP, nas duas décadas anteriores, esvanecia-se. Os conflitos internos entre os membros e a lenta, porém firme, reversão do mercado de vendedor para comprador, bem como o fortalecimento do mercado “spot”, foram fatores que contribuíram para o enfraquecimento da entidade. Os preços do barril de petróleo decaíram rapidamente a partir de 1983, atingindo seu mais baixo patamar pós-choques no primeiro semestre de 1986: US$ 9,50. Para muitos, esta excepcional queda constituiu o terceiro choque do petróleo. A este respeito posiciona-se Daniel Yergin (op. cit, p. 788):

“Foi, com certeza, o Terceiro Choque do Petróleo, mas todas as conseqüências seguiram na direção oposta. Dessa vez, os exportadores engalfinhavam-se por mercados em vez de serem os compradores a brigar por suprimento (...). Para os consumidores, parecia que todas as preocupações dos anos 70 com relação à segurança do fornecimento havia se tornado irrelevantes na batalha pela participação nos mercados. Mas, e o que dizer do futuro? Iria o petróleo importado de baixo custo solapar a segurança energética, reconstruída de maneira tão laboriosa nos treze anos passados?”

No ano seguinte, o preço do barril subiu para US$ 15,00, graças à ação reguladora da Arábia Saudita e à colaboração de países produtores não filiados à OPEP, como o México, que concordaram em diminuir sua produção, refletindo o medo de que o maior exportador mundial viesse a repetir a estratégia da Standard Oil Co., na virada do século XIX para o XX, implantando uma indesejável guerra de preços.

À debilitação da OPEP não correspondeu o recrudescimento do Cartel das “Sete Irmãs”. Individualmente, as companhias tornaram-se ainda mais fortes e lucrativas, mas, em um mercado onde a liberdade de negociação predominava, não mais lhes

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concernia a determinação do preço e da produção. As empresas-membro do Grande Cartel passaram por profundas transformações: A Gulf foi absorvida pela Chevron em 1983; a BP, privatizada em 1987 no governo de Margareth Tacher, teve 10% de suas ações vendidas à estatal kuaitiana, a Kwait Petroleum (KPC); a Mobil foi incorporada à Exxon em1999 e a Texaco à Chevron em 2000.

7. O Final do Milênio

O preço do barril de petróleo manteve-se estável até o início dos anos 1990. Sua estipulação não mais passava pelo Cartel das “Sete Irmãs” ou pela OPEP. O mercado, especialmente o “spot” de Rotterdam, ditava o preço, e as variações eram circunstanciais, para o regozijo dos liberais que proclamavam ser o petróleo “uma mercadoria comum”. Todavia, a demanda voltara a crescer e a produção e reservas norte-americanas continuavam em declínio. A dependência do Ocidente em relação ao Oriente Médio aumentava, pois o acréscimo nas reservas mundiais invariavelmente dali procediam. Não havia previsão de grandes crises de fornecimento ou de superprodução, mas persistia alguma ansiedade, pois qualquer distúrbio no Golfo Pérsico poderia afetar a momentânea estabilidade.

Em agosto de 1990, o Iraque invade o Kuait, iniciando a Guerra do Golfo, a primeira no contexto da “nova ordem mundial”, em que a dualidade político-econômica do pós-guerra fora substituída pelo velho liberalismo individualista, mal disfarçado em uma roupagem dita “neoliberal”. O Iraque, mal recuperado da fatigante guerra de quase uma década com o Irã (em que foi apoiado ostensivamente pelas potências ocidentais, por protagonizar a resistência ao fundamentalismo xiita), era impelido por Saddam Hussein a uma nova aventura bélica, que, vitoriosa, lhe conferiria a liderança do mundo árabe e 20% das reservas mundiais de petróleo. A reação dos EUA e de seus aliados foi imediata. A derrocada do bloco socialista arrogava aos Estados Unidos a condição de potência militar hegemônica. Sem a ameaça soviética a lhe contrapor, a ofensiva foi fulminante. Dezesseis países uniram-se sob o comando norte-americano, mobilizando 600 mil soldados e gastando o estimado entre US$ 60 e US$ 90 bilhões. O importante era vencer rapidamente a guerra, mantendo o suprimento de petróleo seguro, pouco importando, para que o objetivo fosse atingido, a morte de 238 mil iraquianos, sendo 123 mil civis . As condições impostas ao Iraque para o cessar fogo foram draconianas: embargo à venda de petróleo, eliminação das armas de destruição maciça e criação de zonas de exclusão aérea ao norte e ao sul. O recado foi claro: a geopolítica do Oriente Médio é assunto crítico para a segurança dos países industrializados, especialmente os EUA. O petróleo, definitivamente, não é uma “commodity” qualquer.

8. Conclusão: O século XXI e o Futuro da Indústria

Quando, no final da década de 1850, os pioneiros da moderna indústria petrolífera depararam-se com petróleo em seus poços perfurados, sabiam tratar-se de um bom negócio, mas jamais imaginaram que sua descoberta viria a impor o rumo da geopolítica mundial a partir daquela segunda metade de século. O mundo adentra o século XXI mais dependente do que nunca do “óleo de pedra”. As reservas dos países industrializados esgotam-se velozmente. Ricardo Bueno (op. cit, p. 16) retrata a

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delicada perspectiva dos países ricos:

“As reservas conhecidas (...) estão concentradas no instável Oriente Médio. A participação da região chega a 66% do total mundial. Os países da OPEP, todos do chamado Terceiro Mundo, detêm 77% das reservas, equivalentes a 97 anos de produção. Já os países que não pertencem à OPEP contam com reservas para apenas 17 anos. As reservas dos países ricos, quando comparadas com os níveis de consumo, revelam seu grau de dependência em relação ao petróleo importado. O Japão e a Alemanha não possuem reservas para sequer ano de consumo. A França, a Itália e a Holanda, idem. E os Estados Unidos e o Reino Unido poderiam viver do seu próprio petróleo apenas por seis anos.”

A participação do petróleo importado no total consumido pelos EUA apresenta uma tendência crescente desde 1970. A relação importação/consumo, naquele ano, era de 21% subindo continuamente para 36% em 1980 e 44% em 1990. Em 1997, quantidade de petróleo bruto importado pelos EUA ultrapassou a lá produzida. Atualmente, os norte-americanos importam mais de nove milhões de barris/dia, e as curvas de consumo e importação seguem em sua trajetória crescente, enquanto as de produção e reservas decrescem ano a ano. Dados de 2000 informam que as reservas próprias de petróleo dos EUA sustentariam seu consumo por meros três anos.

A vulnerabilidade norte-americana no suprimento de petróleo é a grande ameaça ao exercício de sua hegemonia. Consumistas ao desvaneio, respondem por espantosos 30% da demanda mundial, vivendo o paradoxo de ser, simultaneamente, o maior produtor e o maior importador do produto. Dois terços do déficit de sua balança de pagamento é originário da importação de petróleo. Cientes de sua absoluta dependência, sua estratégia político-militar é manifestamente norteada a garantir o acesso ao petróleo, esteja ele no Oriente Médio, na região do Mar Cáspio ou na América Latina. James Schlesinger, ex-Secretário de Defesa dos Estados Unidos, referindo-se à segurança energética norte-americana no Congresso Mundial de Energia de 1990 afirmava que seu país reconhecia a soberania das demais nações sobre seus respectivos territórios, mas não sobre o subsolo, em cuja riqueza seria patrimônio da humanidade, em peremptório desrespeito à resolução 626/52 da ONU, que estabeleceu que “o direito dos povos de usar e explorar livremente os seus recursos eu riquezas naturais é inerente à sua soberania” . Mais explícito não poderia ser o ex-Secretário e os fatos recentes mostram claramente que os EUA não hesitam em utilizar o poderio bélico quando seu suprimento energético seja ameaçado, como o fizeram contra o Iraque (e estão na iminência de novamente o fazer) e o estão fazendo, no Afeganistão.

As províncias petrolíferas do Mar Cáspio são, afora as do Oriente Médio, potencialmente as mais prolíferas do mundo. Estima-se possuírem reservas da ordem de 200 bilhões de barris de petróleo, podendo constituir alternativa a um eventual bloqueio por parte dos países do Golfo Pérsico. A posição geográfica do Afeganistão em relação a estas reservas, aos demais países da Ásia Central e ao Oriente Médio é estrategicamente privilegiada. Apesar de despojado de petróleo, o país foi (e vem sendo) alvo de acirrada disputa entre as potências mundiais pelo seu controle, pois seu território é essencial ao escoamento do petróleo do Cáspio, através de oleodutos e gasodutos que, partindo dos produtores Cazaquistão e Turcomenistão e atravessando terras afegãs, chegaria ao porto de Karachi, no Paquistão, de onde o petróleo (e o gás

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natural) poderia ser facilmente embarcado pelo Oceano Índico, evitando as pouco seguras águas do Golfo Pérsico. Em meados dos anos 1990, iniciou-se a instalação dos dutos, mas o projeto foi suspenso em represália ao bombardeio americano de 1998, resposta aos atentados contra as embaixadas americanas do Quênia e Tanzânia. Uma opção a esta rota é o oleoduto que parte do Mar Cáspio por leste, inconveniente por cruzar grande extensão de território dos até há pouco arquiinimigos russos. A última opção é desconsiderável, pois implicaria o desembarque do petróleo do Mar Cáspio em portos da península arábica, passando por território iraniano, o que manteria o suprimento na dependência do alvitre das instáveis nações árabes.

O atentado de 11 de setembro de 2001 ao Word Trade Center forneceu aos Estados Unidos o pretexto de que necessitavam para ocupar militarmente o Afeganistão. O Taliban, um dos grupos fundamentalistas genericamente designados de “mujahidin” e Osama Bin Laden, antigo aliado e um entre os vários suspeitos de ser o mentor do sangrento episódio, tornaram-se o alvo de uma milionária ação militar norte-americana que permitiu, à custa da devastação do país, a retomada do poder pela frente oposicionista da Aliança do Norte, recentes inimigos e agora aliados. O objetivo de aniquilar Bin Laden não foi atingido, mas este pormenor, tão caro no início da ofensiva, é, agora, de somenos importância. Em 18 de julho de 2002, transcorrido pouco menos de um ano da invasão norte-americana, o novo ministro das Finanças afegãs, Ashraf Ghani, propalava à imprensa internacional o início das “ negociações sobre de que forma a obra poderá ser conduzida” como se tal já não houvesse, de há muito, sido definido . Os terroristas de plantão encontram-se, doravante, na Líbia e no Iraque (vitais à segurança energética norte-americana), enquanto o mundo assiste, impávido, os preparativos para iminente investida bélica contra estas nações.

Nos últimos cento e cinqüenta anos, a história da humanidade confundiu-se com a do petróleo. Iniciado o novo século, duas questões sobressaem: por quanto tempo continuará o petróleo a ser a matriz energética sobre a qual se funda o desenvolvimento da civilização? E quem ditará os rumos da geopolítica do petróleo nos anos vindouros, sucedendo o domínio da Standard Oil, do Cartel das Sete Irmãs e da OPEP?

A primeira questão traduz uma controvérsia histórica no seio da indústria. Há os que, atualmente liderados pelo geólogo Colin Campbell, acreditam que o pico de produção de petróleo em nível mundial seja atingido em torno de 2004. A partir daí, a exemplo do que ocorreu nos Estados Unidos desde o início do decênio de 1970, a produção declinar-se-ía, tendendo, sua curva, a uma gaussiana, o que provocaria uma drástica alteração nos preços do barril ainda nesta primeira década do século XXI, no que se constituiria um novo choque do petróleo, agora induzido não por circunstâncias políticas, mas pela escassez. Contrapõem-se às conclusões de Campbell os estudos capitaneados pelo America’s Geological Survey, que prevêem que o pico produtivo só seria alcançado a partir de 2020. Mais otimista, René Dahan, alto executivo da Exxon Mobil, conjectura que a escassez de petróleo não sobreviria antes de 2070. Nesta matéria, alinhamo-nos com os otimistas. Com efeito, as previsões quanto ao iminente esgotamento das reservas de hidrocarbonetos acompanham a indústria desde o boom de Titusville . Normalmente, tais previsões pecam por não considerarem as constantes inovações tecnológicas que, recorrentemente, revolucionam o setor.

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imaginar, há duas décadas atrás, explorar-se petróleo em áreas recobertas por lâminas d’água de 3000 m, e produzi-lo a mais de 2000 m do assoalho oceânico? Outro exemplo é o dos fatores de recuperação. Acredita-se que, no estado da arte, já seria admissível uma elevação do índice entre 15% e 25%, desde que a demanda por petróleo aumentasse ou a oferta diminuísse o suficiente para absorver o custo do incremento tecnológico.

As hipóteses advindas da segunda questão reclamam a análise de números recentes. Anualmente, desde o final dos anos 1980, as cinqüenta maiores empresas de petróleo do mundo são ranqueadas pela Petroleum Intelligence Weekly. O ranqueamento apresentado em dezembro de 2001, referente aos resultados operacionais de 2000, aponta para a divisão das maiores empresas em três grupos. O primeiro é o das “supermajors”, composto pelas tradicionais gigantes do setor, que, cartelizadas, comandaram a geopolítica do petróleo até o início da década de 1970, e por empresas resultantes das sucessivas fusões e incorporações cometidas a partir dos anos 1980. Concentram sua atividade nas operações de “downstream”, prevalecendo tanto na capacidade de refino quanto na venda de derivados: em ambos os “rankings” a Exxon, a Shell, a BP e a ELF (CFP), posicionam-se entre as seis maiores. O “ranking” do “upstream”, em compensação, denota sua delicada situação estratégica. Em produção, a Exxon Mobil é a terceira, a Shell é a sexta e a BP a sétima, enquanto em reservas, nenhuma das “supermajors” aparece entre as dez maiores. Embora despojadas do poder de outrora, continuam, enquanto grupo, ocupando os níveis mais elevados entre as maiores empresas mundiais, fazendo parte da elite do capital globalizado.

No segundo grupo, o das megaestatais, cuja maior representante, a Saudi ARAMCO, é imbatível no “ranking” há mais de uma década, ocorre o inverso. Seu domínio no “downstream” é absoluto – ocupam as dez primeiras posições em reservas e sete das dez primeiras em produção de óleo e gás, mas são vulneráveis no “upstream”. No segmento, apenas a PDVSA, a PEMEX e a Saudi ARAMCO mantêm-se próximas às “supermajors”. A riqueza em petróleo de seus países de origem, aliada ao baixo consumo advindo da parca industrialização, mantém-nos no centro da disputa pelo domínio da geopolítica do petróleo. Os cartéis que patrocinam desde 1960, conquanto não mais ditem preços e produção, continuam organizados, aguardando a próxima crise mundial que lhes revigore o poder.

O último grupo é formado por grandes companhias integradas, oriundas de países com economias emergentes e que sofreram recentemente, em maior ou menor grau, um processo parcial ou total de privatização. Têm acesso a consideráveis reservas em seus países de origem, dominam seu mercado interno e ambicionam a internacionalização. Apesar de não exibirem a mesma pujança das “supermajors” e das megaestatais, constitue o grupo mais integrado da indústria, apresentando, como regra, forte equilíbrio entre as operações de “upstream” e “downstream”.

Entre as “majors” emergentes destaca-se a Petrobras, com a peculiaridade de conservar-se sob o comando do Estado brasileiro, apesar de parte relevante de seu capital social ter sido pulverizado no mercado de ações nacional e internacional, no ano de 2000. Atualmente é a 12ª empresa de petróleo do mundo (8ª em capacidade de refino, 16ª em produção, 17ª em reservas, 9ª em lucratividade, 5ª em lucro por empregado, 12ª em receita e 15ª em ativos totais). Para além de discussões

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ideológicas, sua importância estratégica para o Brasil é singular, pois que, superando incontáveis contratempos ao longo de sua história, é garantia de soberania frente aos percalços que confrontam um mundo, mais do que nunca, sujeito à disponibilidade de petróleo.

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