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Avaliação na educação infantil : a invenção da criança escolar nos pareceres da educação infantil

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL CAMPUS ERECHIM

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

VÂNIA OLIVEIRA DAL BOSCO

AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL:

A INVENÇÃO DA CRIANÇA ESCOLAR NOS PARECERES DESCRITIVOS

Erechim 2015

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VANIA OLIVEIRA DAL BOSCO

AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL:

A INVENÇÃO DA CRIANÇA ESCOLAR NOS PARECERES DESCRITIVOS

Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado como requisito para obtenção de grau de Licenciado em Pedagogia da Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Erechim. Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Saballa de Carvalho

Erechim 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL Rodovia ERS 135, km 72, no 200

Erechim – RS Brasil CEP: 99700-970

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Dedico este trabalho à minha família, que não mediu esforços para tornar este sonho possível.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, a Deus que iluminou o meu caminho e me deu força e coragem para seguir nesta longa jornada. A todas as colegas de faculdade, com as quais pude vivenciar e que juntas construímos novos saberes.

Ao meu estimado orientador Rodrigo, pela paciência, partilha de tantos saberes e experiências que me motivaram para a busca contínua e qualificada de conhecimentos, tornando possível a conclusão deste trabalho e também pelo convívio, apoio, compreensão e amizade.

A todos os professores do curso de graduação que foram tão importantes na minha vida acadêmica, dando a base teórica para me constituir como pedagoga.

A toda minha família, em especial a minha querida irmã Kelly, sempre me apoiando na conquista dos meus sonhos, a minha mãe Helena que sempre me incentivou a estudar e ao meu pai João que mesmo não estando ao meu lado estará sempre na minha lembrança. Ao meu companheiro Juarez, que com muito carinho e apoio constante, não mediu esforços para que eu chegasse a esta etapa da minha vida e por sua capacidade de acreditar e investir em mim, trazendo-me tranquilidade na correria de cada semestre.

Ao meu grupo de trabalho: Andressa, Elisandra e Daniela que, juntas, compartilhamos de tantas tristezas e alegrias entre uma produção e outra durante esses cincos anos e que agora se tornaram minhas melhores amigas.

E por fim, a todos aqueles que, de alguma forma, estiveram e estão próximos a mim, comemorando as minhas conquistas e fazendo este dia valer a pena.

(8)

―A vida humana não é um eterno preparar-se para momentos futuros; ela antes deve ser um entremeio de possibilidades de se viver com plenitude cada instante.‖

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RESUMO

Esta pesquisa apresenta a relevância do trabalho com a Avaliação na Educação Infantil, tendo em vista a invenção da criança escolar nos pareceres descritivos. Desse modo, volta-se para a crítica e reflexão sobre o trabalho pedagógico, problematizando as narrativas que são produzidas pelos docentes em relação à criança onde se descreve a sequência de atividades que devem cumprir ao entrar na escola, transformando-a num ser escolarizado, condicionado a atender normas da instituição de ensino e sobre tal figura traça-se inúmeras apreciações que tomam forma na escrita desses pareceres. Para tanto, defini como importantes os seguintes objetivos: identificar, nos Referenciais Curriculares Nacionais de Educação Infantil e Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil, as orientações para as práticas avaliativas nas escolas; analisar como os pareceres descritivos descrevem as crianças a partir de um modelo escolar que encontra sintonia com as avaliações classificatórias realizadas no ensino fundamental e evidenciar a documentação pedagógica como uma alternativa viável de realizar uma avaliação que torne visível a aprendizagem das crianças, em contraposição a utilização exclusiva de pareceres descritivos como estratégia de avaliação das crianças. Para concluir, apresento algumas proposições como a prática de relatórios de avaliação e a produção de portfólios que já são usadas em algumas escolas brasileiras, mas com outras finalidades. Os resultados possibilitaram a percepção em relação às diferentes maneiras de avaliar a aprendizagem das crianças, trazendo exemplos de uma avaliação formativa que se desenvolve durante o processo de ensino-aprendizagem em oposição aos modelos tradicionais que classificam as crianças sobre resultados programados apenas ao final do trimestre. A documentação pedagógica foi demonstrada como uma possibilidade de avaliação e que pode ser realizada através dos portfólios, permitindo que o professor reflita sobre a adequabilidade de suas propostas e valorizando a participação da criança, além de dar visibilidade as práticas pedagógicas e as interações das crianças realizadas no contexto escolar.

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ABSTRACT

This research shows the importance of work about assessment in early childhood education, given the invention of school children in the descriptive reports. This way, turns to criticism and reflection on the pedagogical work, discussing the narratives that are produced by teachers towards children which describes the sequence of activities that must meet when enter in the school, turning it into a being educated, conditioned to meet the rules of the educational institution and on such a figure draws up numerous judgments which takes shape in the writing of descriptive reports. Therefore, set the following main objectives: identify in the National Curriculum References Childhood Education and National Curriculum Guidelines Childhood Education, conducts for the assessment practices in the schools; analyze how the descriptive reports describe children from a school model that is attuned to the qualifying assessments carried out in elementary school and demonstrate pedagogical documentation as a viable alternative to provide an assessment that makes visible children's learning, as opposed to exclusive use of descriptive reports as a strategy of children‘s assessment. Finally, I present some propositions as the practice of assessment reports and the portfolios production that are already used in some brazilian schools, but for other purposes. The results enabled the perception of different ways to assessing children's learning, bringing examples of formative assessment that develops during the teaching and learning process as opposed to traditional models that classify children about scheduled results only at the end of trimester. The pedagogical documentation has been demonstrated as an opportunity for assessment and that can be accomplished through portfolios, allowing the teacher to reflect on the adequacy of their proposals and enhancing the children‘s participation, besides giving visibility pedagogical practices and interactions of children held in the school context.

(11)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Boneca ... 12

Figura 2 - Portfólios ... 24

Figura 3 – Pele de boneca ... 39

Figura 4 - Focus group da artista Diana Ong ... 44

Figura 5 – A avaliação ... 54

Figura 6 - Documentação Pedagógica ... 80

(12)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 –Produção Científica Brasileira 2000-2012 ... 18

Tabela 2 – Relação das produções científicas com o tema Avaliação da Aprendizagem na Educação Infantil. ... 19

Tabela 3 – Relação das produções científicas com o tema Avaliação na Educação Infantil. .. 21

Tabela 4 – Relação das produções científicas com o tema Avaliação na Creche da Educação Infantil. ... 23

Tabela 5 - Livros ... 46

Tabela 6 - Pesquisas (teses e dissertações) ... 47

(13)

SUMÁRIO

1 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL : NOTAS INICIAIS ...12

2 EMBASAMENTO TEÓRICO ...17

2.1 PESQUISASSOBREAVALIAÇÃONAEDUCAÇÃOINFANTIL:MAPEAMENTODAPRODUÇÃO ...17

2.2 PERSPECTIVASLEGAISDAAVALIAÇÃONAEDUCAÇÃOINFANTIL:RCNEI E DCNEI ...28

2.3 AVALIAÇÃONAEDUCAÇÃOINFANTIL:INTERCESSORESTEÓRICOS ...33

2.4 AINVENÇÃODACRIANÇAESCOLARNOSPARECERESDESCRITIVOS ...39

3 TRILHAS METODOLÓGICAS ...46

4 HISTÓRIAS QUE OS PARECERES DESCRITIVOS NOS CONTAM ...54

4.1 ANAMNESE:CONHECENDOACRIANÇA ...56

4.2 PARECERESDESCRITIVOSON-LINE ...63

4.3 PARECERESDESCRITIVOS:ASPECTOSASEREMAVALIADOS ...66

5 PROPOSIÇÕES: PRODUZINDO PARECERES DESCRITIVOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL ....75

5.1 DOCUMENTOSDOPROCESSO:REGISTROSDOCOTIDIANOQUEPOSSIBILITARÃOA ESCRITADEPARECERESDESCRITIVOS ...76

5.2 OSPORTFÓLIOSCOMOUMMODODEAPRESENTAROSDOCUMENTOSDOPROCESSODE APRENDIZAGEMDASCRIANÇAS ...79

5.3 AESCRITADOSPARECERESDESCRITIVOS:NARRANDOATRAJETÓRIADACRIANÇANO DESENVOLVIMENTODAAPRENDIZAGEM ...82

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...90

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1 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: NOTAS INICIAIS

Estamos iniciando o terceiro semestre letivo e Marcelo continua querendo brincar o tempo todo em sala de aula, apresentando dificuldade de concentração, de reconhecimento dos números, de pintar dentro dos limites, de reconhecer e nomear as partes do corpo humano, de desenhar a figura humana, de reconhecer as letras do alfabeto e em escrever corretamente o seu próprio nome. É possível perceber a falta de concentração de Marcelo e a necessidade do mesmo ter um maior acompanhamento de sua família. (Trecho de um parecer descritivo de uma criança de 5 anos )

Figura 1 – Boneca

Fonte: Cindy Shermann1

A avaliação na Educação Infantil vem historicamente sendo encarada de modo classificatório. Todavia, a avaliação em tal etapa educacional consiste em uma importante estratégia de crítica e reflexão sobre o trabalho pedagógico.

Ao iniciar a presente pesquisa, que tem como tema o modo como os pareceres descritivos inventam uma criança escolar na Educação Infantil, considerei relevante

1

Obra - Bonecas - 1995. Cindy Shermann é norte-americana. Atua como fotógrafa e diretora de cinema, porém é mais conhecida por seus auto-retratos conceituais.

(15)

apresentar um excerto de um parecer descritivo de uma criança de cinco anos para problematizar como essas narrativas vêm sendo produzidas pelos docentes.

Através do parecer, é possível evidenciar uma criança que, aos olhos doutrinados, corresponde a uma criança indisciplinada, que não realiza as suas tarefas na escola e só quer brincar. Mas qual o problema da brincadeira? Será que essa criança não apresentaria maior concentração se o lúdico estivesse majoritariamente presente nas atividades? Marcelo parece ser um sujeito que necessita incorporar regras de convivência, saberes historicamente construídos e habilidades motoras a fim deser considerado um aluno da Educação Infantil.

Entretanto, a avaliação das crianças de zero a cinco anos de idade consiste no acompanhamento e registro das experiências, manifestações, vivências, descobertas e conquistas das crianças, com o objetivo de revelar o que são capazes e não o que lhes falta (GUIMARÃES, OLIVEIRA, 2014). A observação sensível dos acontecimentos que acompanham todo o cotidiano da criança em sua experimentação constante com o mundo é o que deve nortear as reflexões avaliativas. A avaliação deve ser um instrumento de investigação sobre a criança, sobre o grupo, sobre a prática pedagógica e sobre a instituição. Desse modo considero oportuno questionar: de que modo podemos avaliar as crianças na Educação Infantil, rompendo com os rótulos e classificações? Existem experiências avaliativas que podem servir de parâmetro para construção de uma avaliação que valorize as crianças pelo modo como elas se apresentam no mundo?

Trago essas questões para que possamos refletir sobre a criança na Educação Infantil. Através do excerto da avaliação apresentada no início do texto, podemos perceber a grande quantidade de atividades escolares que as crianças necessitam cumprir, tendo em vista serem preparadas para o Ensino Fundamental. Dessa forma, a exigência que se deposita sobre as crianças para que realizem as tarefas de acordo com o tempo determinado e os resultados esperados pela escola configura uma afronta às especificidades da infância (CARVALHO, 2005).

Assim, as crianças que transgridem os parâmetros definidos pela equipe escolar são classificadas como sendo problemáticas. O brincar que deve ser prioridade nessa etapa da educação, muitas vezes, é ofertado como recompensa por um trabalho bem feito ou por um bom comportamento, pois é considerado por muitos professores, como um momento de lazer e não de aprendizagem. Por essa razão, é possível observar as transformações que ocorrem na vida da criança ao entrar para a escola. A criança, ao ser escolarizada, obrigatoriamente passa a produzir trabalhos, a ter uma vida laborativa na qual o brincar se torna praticamente ausente.

(16)

Nesse sentido, a obra de Cindy Shermann, apresentada no inicio do texto serve como metáfora e, ao mesmo tempo, provocação para refletirmos sobre as mudanças que ocorrem na vida das crianças quando entram nas escolas de Educação Infantil. Inventa-se uma criança escolar para atender as normas da instituição e, sobre tal figura, são traçadas inúmeras apreciações que tomam forma nos pareceres descritivos. Desse modo, a maneira como os pareceres são escritos na Educação Infantil revela uma forma de classificação das crianças.

A utilização dos pareceres têm deixado muitas lacunas no processo avaliativo, pois muitas vezes as professoras seguem um modelo fornecido pela própria instituição em que atuam para escrever os mesmos. Tal modelo baseado em um "aluno ideal" serve de parâmetro para que a professora escreva sobre cada uma das crianças desconsiderando a unicidade e a potência de cada indivíduo que compõem o seu grupo de trabalho.

Nota-se, também, que esses pareceres mostram escritas vagas que não retratam as experiências das crianças com suas diferentes linguagens no contexto escolar e tampouco o trabalho pedagógico exercido pela professora, estando restritas, na maioria das vezes, na descrição de aspectos comportamentais. Como nos aponta Hoffmann (2014a, p. 99), os pareceres ―são breves e superficiais, priorizando, por vezes, aspectos atitudinais das crianças, com julgamento de valor bastante subjetivos‖, ou seja, o que o professor escreve sobre a criança é baseado, muitas vezes, na sua opinião pessoal e sobre suas atitudes comportamentais em sala de aula e não sobre suas situações de aprendizagens.

Nessa perspectiva, apresento alguns questionamentos em relação à produção e escrita de pareceres descritivos, um instrumento avaliativo tão utilizado atualmente nas escolas. Como têm sido narradas as experiências escolares dessas crianças nos pareceres? Quais propostas pedagógicas educadores revelam em sua escrita? O que buscam avaliar nas crianças? Quais identidades são produzidas nessas narrativas? O parecer descritivo ainda é um instrumento eficaz de avaliação ou tornou-se ultrapassado, uma vez que já se discute outros modelos avaliativos como a documentação pedagógica perspectiva muito mais ampla de acompanhamento do desenvolvimento das crianças na escola. Nesse sentido, os pareceres descritivos têm sido uma boa forma para evidenciar as aprendizagens das crianças?

Corroborando com os argumentos apresentados, Pinheiro (2006, p. 8) entende os ―pareceres descritivos como textos forjados para fins de avaliação, onde representações são reproduzidas discursivamente, instituindo significados de acordo com critérios de validade e legibilidade estabelecido em tempos e espaços determinados‖. Ainda segundo a autora, os ―alunos/as são subjetivados por essas narrativas e são posicionados [...] aos modos de

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comportamento escolar prescritos‖. Desse modo, é possível depreender que as narrativas dos pareceres funcionam como uma estratégia de invenção da criança escolar.

Em tal perspectiva, Carvalho (2005, p. 02) destaca que existe ―através dos pareceres, uma intencionalidade formadora da escola, uma busca pelo disciplinamento dos corpos através da normalização das condutas, contribuindo para a produção de subjetividades dóceis e maleáveis‖. Sendo assim, busca-se apresentar aos pais no final de cada trimestre através do parecer descritivo o resultado do trabalho escolar sobre essa criança, classificando-a como apta ou não apta em habilidades elencadas pela escola. Por essa razão, a partir de Parente (2014) é possível dizer que a avaliação na Educação Infantil apresenta grande semelhança com as avaliações realizadas no Ensino Fundamental que buscam através de aplicação de provas, uma classificação e um resultado final sobre a aprendizagem do aluno.

Contrariando tal perspectiva, Hoffmann (2014) destaca que a avaliação das crianças na Educação Infantil deve ser considerada como um acompanhamento do percurso escolar da criança e não um julgamento. Assim, para exercer o verdadeiro sentido de avaliar e produzir um parecer descritivo que contemple o processo de aprendizagem da criança, a professora precisa observá-la e se envolver com as suas experiências no cotidiano institucional. Nesse sentido Hoffmann (2014a, p. 86), lembra que ―a avaliação parte sempre da interpretação do que se vê. Envolve as percepções, os sentimentos, as experiências anteriores e os conhecimentos de quem avalia. Avalia-se de corpo e alma‖. Então, para que exista uma boa avaliação, é essencial que a professora tenha conhecimento teórico sobre concepções de infância, linguagens e culturas infantis, pois é a partir do seu olhar que a história dessas crianças irão se materializar.

Por essa razão, busco, através da presente pesquisa, a partir dos referenciais teóricos e da análise de um conjunto de pareceres, problematizar os modos como a avaliação na Educação Infantil produz a criança escolar. Para tanto, defino como importantes os seguintes objetivos: 1) Identificar nos Referenciais Curriculares Nacionais de Educação Infantil e Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil as orientações para as práticas avaliativas nas escolas; 2) Analisar como os pareceres descritivos descrevem as crianças a partir de um modelo escolar que encontra sintonia com as avaliações classificatórias realizadas no ensino fundamental; 3) Evidenciar a documentação pedagógica como uma alternativa viável de realizar uma avaliação que torne visível a aprendizagem das crianças, em contraposição a utilização exclusiva de pareceres descritivos como estratégia de avaliação das crianças.

(18)

Dessa forma, a partir das reflexões apresentadas, destaco que esta pesquisa será organizada em dois capítulos. No primeiro capítulo, a partir de uma revisão bibliográfica, apresento e discuto o conceito de avaliação enquanto ferramenta analítica da pesquisa. Na mesma direção, apresento as orientações legais da avaliação na Educação Infantil em nosso país, fundamentada no Referencial Curricular de Educação Infantil (RCNEI) e nas Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil (DCNEIs). Na sequência, busco elucidar a invenção da criança escolar nos pareceres descritivos. No segundo capítulo, descrevo a metodologia de pesquisa, ou seja, os caminhos percorridos para a seleção dos intercessores da pesquisa, apresento uma análise de algumas histórias que os pareceres descritivos nos contam e sugiro novas propostas para avaliar a criança na Educação Infantil.

(19)

2 EMBASAMENTO TEÓRICO

2.1 PESQUISAS SOBRE AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL:

MAPEAMENTO DA PRODUÇÃO

[...] é praticamente impossível perceber as mudanças que a pequeno, médio e longo prazo são alcançadas sem que haja uma produção de conhecimento sobre avaliação como forma de acompanhamento do desenvolvimento das crianças, uma vez que ela é uma categoria intrínseca do processo ensino-aprendizagem (GLAP, 2013, p.17).

Nas últimas décadas, o número de pesquisas relacionadas à avaliação na Educação Infantil tem aumentado significativamente, porém, seu número ainda é pequeno se comparado às pesquisas realizadas com o Ensino Fundamental. Estudos acadêmicos realizados em cursos de mestrado e doutorado apontam reflexões e análises sobre a criança, o processo de desenvolvimento de sua aprendizagem na Educação Infantil e como esta tem sido avaliada dependendo da região e do contexto em que as instituições de ensino se encontram. Por isso, é importante fazermos um levantamento de tais realidades para que se possa discutir o que se tem feito e o que se pode fazer para melhorar a avaliação na Educação Infantil.

Nessa mesma direção, o mapeamento de pesquisas realizadas nas instituições de ensino superior, nos ajuda a visualizar os debates mais relevantes em relação ao processo avaliativo da criança e evidenciar os principais pontos a serem discutidos para se evoluir nessa prática (GUIMARÃES e OLIVEIRA, 2014).

Assim, trago na epígrafe deste capítulo, no qual será exposto um mapeamento das produções acadêmicas relacionadas à avaliação na Educação Infantil, a importância dessas pesquisas no sentido de apontar os caminhos, rumos e implicações que têm sido delineados para avaliar as crianças. Além disso, as discussões dessas teorias e práticas relatadas nos diversos trabalhos podem contribuir para que o professor faça uma reflexão em busca de um melhor desempenho do seu trabalho.

Para contextualizar esse capítulo, utilizei a dissertação de mestrado de Graciele Glap (2013) que realizou um levantamento de pesquisas realizadas no Brasil, no período de 2000 à 2012 sobre avaliação.

Baseada no mapeamento de pesquisas da autora, busquei identificar os principais assuntos discutidos em relação à avaliação na Educação Infantil e como o desenvolvimento da aprendizagem das crianças são assimilados e descritos pelos professores através dos

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pareceres. Além disso, procurei investigar quais as concepções e práticas que norteiam o trabalho avaliativo desses docentes. Dessa maneira, foi possível pontuar as discussões a respeito da construção e elaboração da escrita dos pareceres descritivos como modo de avaliar e demonstrar como a criança se transforma em aluno, tornando-se um personagem manipulável para atender a um contexto histórico idealizado pela escola.

Em sua pesquisa, utilizando como palavra-chave Avaliação da Aprendizagem na Educação Infantil, Glap (2013) agrupou 18 trabalhos, divididos entre 11 artigos, 06 dissertações e apenas uma tese, trabalhos que tratam de assuntos que englobam desde legislação, tipos de avaliação e sua relação com o processo de ensino-aprendizagem até a produção da documentação pedagógica. Na categoria Avaliação na Educação Infantil, foram encontradas 16 produções acadêmicas, sendo 06 artigos e 10 dissertações que discutem processos avaliativos realizados nas escolas, metodologias, reflexões, pesquisas, entre outros temas. Por fim, sobre o item Avaliação na Creche da Educação Infantil, foram coletados um total de 7 pesquisas subdivididos em 4 artigos, 2 dissertações e 1 tese que versam sobre relatos de instrumentos avaliativos, avaliação institucional e a avaliação como modo de disciplinamento das crianças. Nota-se que, apesar do número pequeno de produções, há uma grande diversidade de temas discutidos relacionados ao processo avaliativo, como segue nas tabelas demonstrativas abaixo.

Tabela 1 – Produção Científica Brasileira 2000-2012 PRODUÇÃO

CIENTÍFICA

ARTIGOS DISSERTAÇÕES TESES

Avaliação da aprendizagem na Educação Infantil 11 06 01 Avaliação na Educação Infantil 06 10 Avaliação da Creche na Educação Infantil 04 02 01

Fonte: Dados da pesquisa2

2

Os dados de pesquisas estão disponíveis em: GLAP, Graciele. Avaliação Na/Da Educação Infantil: Estado da Arte 2000-2012. 2013. 198 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Educação, Pós-graduação, Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2013.

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Em relação às pesquisas realizadas na categoria avaliação da aprendizagem na Educação Infantil, GLAP (2013) encontrou os seguintes temas:

Tabela 2 – Relação das produções científicas com o tema Avaliação da Aprendizagem na

Educação Infantil.

NO Tipo* Ano Título Autor

1 A 2012

Avaliação na Educação Infantil Legislação e

Pesquisas.

Maévi Anabel Nono

2 A 2012 Avaliação formativa na

Educação Infantil.

Maria Solange Portela Santarém Maricélia Silva da Cruz

3 A 2012 A função do registro

avaliativo na Educação Infantil.

Dulcinéia Barbosa da Silva Greyce Kelly Ferreira da Silva

Bruna Tarcila Ferraz

4 A 2011

Qualidade na Educação Infantil: crítica aos mecanismos de avaliação do

professor.

Márcia Barcellos Ferri

5 D 2009

O acompanhamento da aprendizagem na Educação

Infantil: uma questão de avaliação?

Maria Fernanda D‘Avila Coelho

6 T 2008

A construção do portfólio de avaliação em uma escola

municipal de educação infantil de São Paulo: um

relato crítico.

Jussara Martins Silveira Ramires

7 D 2007

A avaliação na Educação Infantil e sua relação com os processos de aprendizagem.

Ellen Michelle Barbosa de Moura

8 D 2007

Avaliação em Educação Infantil: concepções de professoras sobre o papel do

portfólio.

(22)

9 D 2007

Portfólio na Educação Infantil: desvelando possibilidades para a avaliação formativa.

Cassiana Magalhães Raizer

10 D 2007 A linguagem dos relatórios:

uma proposta de avaliação para Educação Infantil.

Cristina Aparecida Colasanto

11 A 2007

Avaliação formativa e o processo de ensino/aprendizagem na

Educação Infantil.

Marlizete Cristina Bonafini Stainle Nadia Aparecida de Souza

12 A 2006 Avaliação sempre envolve

uma concepção de mundo.

Cláudia de Oliveira Fernandes

13 A 2006 Elaboração e organização de instrumentos de acompanhamento e avaliação da aprendizagem e desenvolvimento das crianças.

Adrianne Ogêda Guedes

14 A 2006 O portfólio como

instrumento de avaliação. Rosana Aragão

15 A 2006

A avaliação entre, através e além das linguagens

plásticas.

Eloíza Schumacher Corrêa

16 D 2006 Avaliação da aprendizagem:

contemplando o universo da Educação Infantil.

Marlizete Cristina Bonafini Steinle

17 A 2004

O acompanhamento das

aprendizagens e a avaliação. Maria Carmem Silveira Barbosa

18 A 2004

Avaliação como uma experiência compartilhada.

Márcia Elisa Valiati Rosana Rego Cairuga

Fonte: Dados de Pesquisa

(23)

Na categoria Avaliação na Educação Infantil, os temas pesquisados sugerem maior relação com o processo de avaliar a educação de uma maneira mais abrangente, analisando a qualidade do trabalho das instituições nessa etapa da educação básica.

Tabela 3 – Relação das produções científicas com o tema Avaliação na Educação Infantil.

NO Tipo* Ano Título Autor

1 A 2011

Processo de avaliação do trabalho na Educação Infantil: uma experiência

com o processo de construção participativa dos

indicadores de qualidade.

Aline Paes de Barros

2 D 2011

O processo de avaliação das crianças no contexto da

Educação Infantil.

Fábio Tomaz Alves

3 A 2010

Algumas reflexões avaliativas sobre Educação

Infantil.

Evellyze Martins Reinaldo Tereza Raquel Santos de Oliveira

4 D 2010 Qualidade na Educação

Infantil Pública: concepções das famílias usuárias.

Bruna Calefi Gallo

5 A 2009

Estudos de avaliação na Educação Infantil.

Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca

Débora Lúcia Lima Leite Mendes

6 D 2008

A linguagem lúdica no registro avaliativo do educador de infância.

Marceli D‘Andrea Santos

7 D 2007

Avaliação e a qualidade da Educação Infantil: uma

análise dos processos avaliativos desenvolvidos na

creche e na pré-escola.

Maria Theresa de Oliveira Corrêa

8 A 2006

Concepções e metodologias de avaliação na Educação Infantil: os percalços e os desafios da atualidade.

Silvia Adriana Rodrigues Gilza Marua Zauhy Garms

(24)

9 A 2006

Coerência entre avaliação e finalidades da educação

infantil.

Vital Didonet

10 A 2006

Um olhar sensível e reflexivo da avaliação na Educação

Infantil.

Ilda de Carvalho e Silva Rodrigo Marcelino de França

11 D 2006

A interação professor-criança na Educação Infantil: contribuições para o processo

de auto-avaliação na Formação Docente.

Saionara Costa

12 D 2005

A avaliação na educação infantil: análise da produção acadêmica brasileira presente

nas reuniões anuais da ANPEd entre 1993 e 2003.

Senhorinha de Jesus Pit Paz

13 D 2003

Avaliação na Educação Infantil: concepções e práticas dos professores dos

centros municipais de Educação Infantil de

Goiânia.

Andra Leal Ferreira de Moraes

14 D 2002 Avaliação na Educação

Infantil: considerações a partir de uma experiência.

Silvia Helena Raimundo de Carvalho.

15 D 2002

Avaliação e diálogo: percurso e prática na escola

infantil.

Andrea Morais Diniz

16 D 2000 Educação Infantil: avaliação

escolar antecipada.

Elisandra Girardelli Godoi

Fonte: Dados de Pesquisa

*Legenda: A-Artigo D-Dissertação T-Tese

A tabela que segue apresenta a relação de pesquisas sobre Avaliação na Creche da Educação Infantil. Essa etapa da educação básica ainda apresenta um número pequeno de pesquisas e também reúne temas bem diversificados.

(25)

Tabela 4 – Relação das produções científicas com o tema Avaliação na Creche da Educação

Infantil.

NO Tipo* Ano Título Autor

1 A 2012

Indicadores para a avaliação de contextos educativos em creche: articulando pesquisa

pedagógica e formação profissional.

Eloísa Acires Candal Rocha Giandréa Reuss Strenzel

2 A 2011

Análise da utilização de uma escala para avaliação da

qualidade de creches.

Juliana Bezzon da Silva Tatiana Noronha de Souza

3 A 2010

Avaliação na creche: o disciplinamento dos corpos e

a transgressão das crianças.

Elisandra Girardelli Godoi

4 D 2010

Avaliação da qualidade de creches: estudo em um município de São Paulo.

Ivoneide Gomes Figueirêdo

5 D 2009

Qualidade do atendimento de creches: análise de uma

escala de avaliação.

Scheila Machado da Silveira

6 T 2006 Avaliação na creche: O caso

dos espaços educativos não- escolares.

Elisandra Girardelli Godoi

7 A 2006

Relatório de Avaliação na Educação Infantil: um estudo

sobre a linguagem argumentativa.

Cristina Aparecida Colasanto

Fonte: Dados de Pesquisa

*Legenda: A-Artigo D-Dissertação T-Tese

Podemos observar, a partir das tabelas apresentadas, uma grande diversidade de temas relacionados à Avaliação na Educação Infantil. A avaliação formativa, o acompanhamento da aprendizagem da criança e as formas de registros são itens bem presentes na relação de pesquisas abordadas que compõem a tabela de número dois, porém, não há nenhum trabalho que especifique as narrativas dos pareceres descritivos, fator importante para uma boa apresentação das situações de aprendizagens vivenciadas pelas crianças na escola. Outro tema

(26)

bastante abordado nas pesquisas mapeadas foi a utilização do portfólio3 que se destacou como um instrumento muito utilizado nas escolas como forma de avaliar, pois permite um fichamento dos diversos trabalhos realizados pelas crianças em sala de aula, tendo assim um registro do processo de aprendizagem na escola. A partir desse registro, é possível fazer uma reflexão sobre o desenvolvimento ou não da criança em determinado contexto e redirecionar o fazer pedagógico. Porém, será que há essa reflexão por parte dos docentes? Ou apenas uma sistematização dos trabalhos realizados ao final do ano letivo?

Percebe-se que muitos professores apenas cumprem o planejamento aplicando as atividades previstas no cronograma para os seus alunos e ao final do ano letivo, separam os trabalhos por data, encadernam ou colocam em pastas e finalmente entregam para a contemplação dos pais a coleção de trabalhos realizados pelos seus filhos na escola, porém, sem reflexão ou diálogo algum sobre o processo de aquisição de aprendizagem da criança. Nessa perspectiva, Glap (2013, p. 89) nos alerta que ―as atividades que compõem esse portfólio devem significar todo o processo de desenvolvimento do aluno, não apenas simbolizar o registro de atividades para serem apreciadas pelos pais e pela escola‖, ou seja, o portfólio deve apresentar um significado. Nele, é importante poder observar e refletir sobre a evolução da criança em relação às propostas de atividades do professor e não apenas uma coletânea de trabalhos produzidos, como segue na figura demonstrativa.

Figura 2 - Portfólios

Fonte: Revista Nova Escola4

3

Portfólios são ―coleções intencionais de trabalhos e outras evidências das crianças que mostram os seus esforços, progressos e realizações e que consistem numa documentação rica das diversas experiências das crianças ao longo do tempo‖ (PARENTE, 2014, p. 295).

4

Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/creche-pre-escola/importancia-registro-refletir-pratica-palavra-especialista-educacao-infantil-758892.shtml?page=0

(27)

Seguido dos portfólios, os registros, a construção de relatórios e os pareceres aparecem como uma maneira recorrente de avaliação na Educação Infantil. Embora, em seu discurso, muitos professores relatem serem esses instrumentos uma maneira de registrar o desenvolvimento da aprendizagem das crianças, na prática, esses registros focalizam basicamente um modelo behaviorista5, ou seja, interessa-se por fatores de comportamentos que se pode observar e medir ao invés de analisar o que ocorre na mente do indivíduo durante o processo de aprendizagem (SKINNER, 1972), e esses elementos de padrão comportamental, descritos no final de cada trimestre, não contribuem em nada para a formação dos indivíduos. Segue um modelo desse tipo de parecer.

Modelo 1 – Parecer Descritivo6

Observamos no modelo de parecer apresentado, uma série de adjetivos positivos dispensados à criança, porém, a professora relata que apresenta certa resistência em se enquadrar nas regras da escola, precisando de constante intervenção. Nota-se que o foco está no comportamento e não há clareza quanto às atividades realizadas. Dessa forma, não é possível perceber qual a contribuição do professor no desenvolvimento de aprendizagem dessa criança, mas sim, na questão de disciplinar o estudante desde a pré-escola para obedecer e se enquadrar às regras impostas, o que apenas oportuniza o crescimento de sujeitos passivos e sem criticidade (GLAP, 2013).

Em relação a esse modelo de avaliação, Hoffmann (2014a, p. 98) aponta que ―ainda se percebem resistência e críticas sobre eles, principalmente dos pais, que denunciam o caráter

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O Behaviorismo é uma teoria da psicologia que estuda o comportamento humano. Na educação relaciona-se aos métodos de ensino e de controle dos fatores que influenciam os processos educacionais (SKINNER, 1972).

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subjetivo e vago dos aspectos avaliados [...] dificultando o acompanhamento consistente do desempenho dos filhos na escola‖. Há muita preocupação dos professores em apresentar uma criança perfeita aos pais, assim, no momento da entrega de pareceres, a professora tece uma lista infindável de elogios à criança e pouco se detém em explicar aos pais qual o trabalho pedagógico que está sendo feito com o seu filho, que materiais estão sendo usados nessas atividades, quais produções têm sido construída com eles, quais as limitações de cada um, no que avançaram, o que precisam melhorar e o que está sendo feito para um maior desenvolvimento da sua aprendizagem.

Dessa maneira, esses registros ainda não têm sido eficientes para demonstrar o processo de construção do conhecimento da criança na escola e nem como subsídio para orientar o professor no planejamento de suas aulas, pois só há avaliação sobre o produto final, ou seja, apenas uma constatação do que a criança aprendeu sobre a atividade proposta, sem considerações específicas sobre o seu percurso, numa concepção classificatória que muito se assemelha às notas que avaliam o desempenho dos alunos no Ensino Fundamental. No entanto, os registros podem apresentar outro viés, se o professor tem uma concepção formativa de desenvolvimento da aprendizagem, ele irá observar diariamente os avanços das crianças, registrar suas dificuldades e replanejar suas aulas para trabalhar outras habilidades ainda não desenvolvidas no sujeito.

Contrariando tal discurso, Glap (2013, p. 90) relata que as avaliações feitas na Educação Infantil são, ―em sua grande maioria baseadas em modelos tradicionais e classificatórios, pode segregar os sujeitos desde a sua primeira etapa de escolarização‖. Sendo assim, a criança, ao iniciar a sua vida escolar, é condicionada a desenvolver algumas habilidades e deve, ao final do trimestre, atingir os objetivos pré-determinados pela gestão que nem sempre corresponde ao que foi trabalhado em sala de aula. Para ter uma referência do desenvolvimento de cada criança normalmente a professora se baseia no melhor aluno da sala para emitir uma opinião sobre o nível de aprendizagem dos outros. No entanto, cada uma tem a sua história de vida, sua forma de pensar, de se exprimir, de entender, de se relacionar e isso deve ser levado em consideração. Por exemplo, um sujeito que ainda no seu meio familiar teve mais acesso aos livros, terá mais facilidade na sua alfabetização do que outro que teve o seu primeiro contato literário na escola.

Os pareceres descritivos, por vezes, são reproduzidos durante anos, analisando sempre os mesmos itens. Nesse sentido, muitas escolas ainda seguem um modelo que serve de parâmetro ao professor, orientando-o sobre os critérios a serem analisados nas crianças, sendo

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um exercício objetivo e burocrático, onde não há nenhuma reflexão a respeito das atividades desenvolvidas e de seus impactos no desenvolvimento do aluno e sim, a busca de um resultado final ao que foi proposto em sala de aula, apenas constatando o resultado que a criança conseguiu atingir sobre as atividades aplicadas e não considerando os caminhos e desafios que a mesma percorreu para alcançar o seu objetivo.

No fluxo contrário ao modelo classificatório, encontra-se a avaliação formativa7 que está sendo muito divulgada atualmente. Porém, os professores ainda encontram muitos desafios a serem superados, pois, ao contrário do modelo tradicional, este tipo de avaliação exige que o professor narre acerca de suas observações e das suas contribuições para que as crianças desenvolvam sua aprendizagem. Portanto, a avaliação formativa exige um maior empenho do professor, pois ela se constrói em uma prática diária de observações, registros, reflexões e intervenções sobre a prática pedagógica em relação ao sujeito.

No entanto, devido às muitas atividades burocráticas que o professor tem que cumprir na escola, como anotações de conteúdos que são trabalhados, freqüência de alunos, colagem de bilhetes na agenda, entre outros, nem sempre é possível que o professor acompanhe individualmente cada criança e as observações tornam-se superficiais, os registros inexistentes e as intervenções inadequadas, que sugerem às crianças atividades capazes de ocupá-las, quietas e em silêncio, por um longo período.

Nesse contexto, podemos observar novamente o caráter mais comportamental e escolarizante do que formativo na prática pedagógica da Educação Infantil, onde as crianças permanecem a maior parte do tempo dentro da sala, sentadas pintando desenhos xerocados, cobrindo pontilhados, fazendo bolinhas de papel crepom, tudo que as deixem paradas e disciplinadas numa fase em que a criança precisa brincar e expressar todas as suas linguagens. Portanto, embora pesquisadores apresentem uma preocupação em problematizar a avaliação na Educação Infantil, nota-se que as discussões relacionadas ao tema caminha a passos lentos e que ainda existem grandes desafios para serem problematizados quanto à antigas concepções dos professores que buscam homogeneizar as crianças, enquadrando-as em aptidões a serem internalizadas pelos corpos. Nesse segmento, é importante seguir na construção de novos diálogos para que a Educação Infantil tenha uma avaliação que respeite a infância e que permita a livre expressão da criança, proporcionando um avanço ao seu

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A avaliação formativa é uma proposta avaliativa que articula toda a ação educativa no processo de ensino-aprendizagem. Ela se materializa nos contextos vividos pelos professores e alunos, permitindo a reconstrução cotidiana da prática pedagógica e a regulação das aprendizagens.

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processo de aprendizagem e não se resumindo apenas a um modelo assistencialista, mas sim, que esteja vinculado ao brincar, cuidar e educar. Nesse sentido, é relevante dar continuidade a novas pesquisas que discutam o tema, bem como, voltar à atenção para os aspectos legais que direcionam o trabalho docente. Para tanto, apresento, na próxima seção, uma sistematização dos Referenciais e Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil.

2.2 PERSPECTIVAS LEGAIS DA AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: RCNEI e DCNEI

A avaliação [...] é um elemento indissociável do processo educativo que possibilita ao professor definir critérios para planejar as atividades e criar situações que gerem avanços na aprendizagem das crianças. (BRASIL, 1998, p. 59)

Na seção anterior, busquei apresentar um mapeamento de pesquisas realizadas por Glap (2013), entre os anos de 2000 à 2012 com o objetivo de fazer um levantamento do número de produções relacionadas à avaliação na Educação Infantil e os tópicos mais abordados dentro do assunto.

Observei que a produção na área apresenta temas diversificados, sendo assim, selecionei aquelas que julguei mais relevante para a minha pesquisa, as quais abordam a avaliação da aprendizagem, avaliação na Educação Infantil e a avaliação na creche. Nos três temas selecionados para a presente pesquisa, notei algumas referências aos pareceres descritivos e aos portfólios como forma de registro das aprendizagens, porém tais registros têm apresentado uma incompletude no relato do desenvolvimento da aprendizagem da criança no contexto escolar e persistem em pontuar o disciplinamento e o comportamento como caráter determinante na formação dos sujeitos. Além disso, a avaliação apresenta-se como um elemento de constatação sobre a habilidade da criança e não como um subsídio ao processo de replanejar atividades que direcionem para um pleno desenvolvimento de suas aprendizagens.

Sendo assim, a avaliação na Educação Infantil ainda precisa avançar como um processo investigativo diário de aprendizagem da criança e nessa perspectiva surge a avaliação formativa que exige um maior comprometimento do professor para observar, registrar, refletir e intervir diariamente sobre sua prática pedagógica em relação ao sujeito. Mas o que nos diz a legislação sobre a avaliação na Educação Infantil?

Neste capítulo, faço um resgate das orientações presentes nas Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil (DCNEIs) e nos Referencias Curriculares Nacionais de

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Educação Infantil (RCNEIs) para esclarecer aspectos relevantes quanto ao processo avaliativo.

As DCNEIs (2010), bem como os RCNEIs (1998), são documentos que reúnem orientações para subsidiar as propostas pedagógicas e curriculares da Educação Infantil. O primeiro documento está articulado às Diretrizes Nacionais de Educação Básica e reúne normas definidas pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, orientando políticas, propostas pedagógicas e curriculares que devem ser observadas pelas instituições de ensino. A segunda, atende às determinações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96) e tem como meta apontar ações que contribuam para a formação integral da criança.

A criança, segundo os RCNEIs (1998, p.21), é concebida como ―um sujeito social e histórico‖, e, segundo as DCNEIs (2010, p.12), como um ―sujeito de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade‖. Por isso, é importante que o ambiente educacional e as atividades propostas sejam diversificadas, permitindo as múltiplas expressões da criança e o respeito à sua singularidade e aos diferentes contextos históricos do qual cada uma faz parte.

Para alcançar tal objetivo, as DCNEIs (2010) trazem três princípios que devem ser considerados na elaboração das propostas pedagógicas: a ética, que busca respeitar a identidade do indivíduo; a política, relacionada aos direitos e à democracia e a estética, que compõe a sensibilidade e a liberdade de expressão. Da mesma maneira, as RCNEIs (1998) apontam para a importância de respeitar as diferenças das crianças, dar a elas o direito de brincar, se expressar e interagir, ajudá-las nos cuidados básicos para a sua sobrevivência, proporcionando assim, uma diversidade de experiências, articulando a educação, o cuidado e a brincadeira, essencial na infância.

Sendo assim, as propostas pedagógicas elaboradas devem permitir que a criança tenha ―acesso a processo de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens (BRASIL, 2010, p. 18)‖. A brincadeira e a interação entre as crianças são pontos considerados como fator indissociável do processo de aprendizagem, bem como a organização de materiais, o tempo e os espaços disponíveis na instituição. Nesse sentido, as RCNEIs (1998, p. 14) pontuam que ―as crianças têm direito, antes de tudo, de experiências prazerosas nas instituições‖. Porém, como as crianças terão experiências agradáveis quando o que se observa nas instituições são procedimentos e rotinas rígidas que as crianças são disciplinadas a seguirem, tendo sempre o professor como orientador da sua conduta dentro da

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escola, o que não permite que a criança construa responsabilidade sobre si, independência e autonomia.

Corroborando com tal argumento, Hoffmann (2014a, p.12) afirma que ―todas as crianças têm direito a conviver em um ambiente livre de tensões e pressões, independente de sua origem social‖. No entanto, as crianças estão sempre sendo controladas e direcionadas a procederem de acordo com as normas estabelecidas e esse processo de rotina, sequência de atividades e disciplinamento a que são submetidas diariamente se tornam visíveis quando tomam forma na escrita dos pareceres descritivos, revelando um modelo de avaliação que não condiz com os propósitos dos documentos norteadores da Educação Infantil.

Nessa perspectiva, ao buscarmos as orientações sobre a avaliação na Educação Infantil, vemos que as DCNEIs (2010, p. 29) apontam a importância de se ―criar procedimentos para o acompanhamento do trabalho pedagógico e para a avaliação do desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de seleção, promoção ou classificação‖. A partir daí, o documento mostra detalhadamente todos os procedimentos necessários para avaliar de maneira adequada, atendendo a todos os aspectos da infância.

Dessa forma, é citada a importância de observar criticamente as interações das crianças nas atividades propostas; utilizar diferentes instrumentos de registros para uma documentação minuciosa, pois os RCNEIs (1998, p. 58) afirmam que ―a observação e o registro se constituem nos principais instrumentos de que o professor dispõe para apoiar a sua prática‖ e que permite às famílias perceber o trabalho pedagógico desenvolvido na escola e o meio pelo qual a criança constrói o seu conhecimento.

Como se pode observar, a avaliação não é um simples olhar e montar um mesmo esquema de descrição para os alunos, ela envolve muito mais do que isso, é se comprometer diariamente em observar as etapas conquistadas pelas crianças, é buscar referências para articular as atividades com as fases de desenvolvimento, é fazer anotações para acompanhar as evoluções e as dificuldades e relacionar imagens como prova desse processo de aprendizagem, por isso, a avaliação exige uma grande disposição do docente em estar atento ao comportamento do aluno durante as atividades propostas.

Ainda examinando as DCNEIs (2010) que nos orientam para não selecionar, promover ou classificar as crianças, observamos que muitos pareceres descritivos reproduzem um mesmo modelo de narrativa de anos anteriores, avaliando o comportamento de diferentes crianças em relação a uma mesma atividade e são escritas de maneira superficial, que não esclarece detalhes das propostas desenvolvidas com as crianças em sala de aula, e fica pouco

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clara para os pais. Nesse contexto, o professor tem o poder do uso da palavra para descrever o processo de aprendizagem dos alunos, porém, nota-se que os relatos partem sempre de bases comportamentais e obviamente as crianças que atendem às regras são selecionadas e promovidas pelas professoras nessas narrativas como bons ou maus alunos e classificadas com um bom ou mau desempenho dentro da instituição. Sendo assim, as professoras vão construindo a identidade desses indivíduos, como podemos constatar nesse trecho de parecer que segue abaixo.

Modelo 2 – Parecer Descritivo8

Nesse trecho de parecer, podemos observar a escrita de alguns dos comportamentos da criança, narrados pela professora, como o interesse de brincar e a falta de disposição para realizar as tarefas, além de algumas constatações ao mencionar que a criança não escreve o nome, não reconhece as letras e não identifica os numerais. Seguindo na análise, a descrição das atividades que a criança desempenha na escola é escrita de maneira bem objetiva, não há detalhes de como essas atividades foram elaboradas ou realizadas e tampouco alguma reflexão relacionada às atividades pelas quais a criança ainda não alcançou a aprendizagem, ela é simplesmente classificada dessa maneira ao final do trimestre.

O modelo de parecer seguinte é semelhante ao anterior, pois descreve comportamentos e desconsidera propostas pedagógicas e reflexões a respeito da aprendizagem.

Modelo 3 – Parecer Descritivo9

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Disponível em: http://livros01.livrosgratis.com.br/cp147315.pdf

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Disponível em: http://livros01.livrosgratis.com.br/cp147315.pdf

PARECER A.PE, 2T, 2009. A aluna A vem demonstrando interesse pela Escola, gostando muito de ir para a pracinha e brincar. Não tem estado disposta a realizar as tarefas de aula. Sempre espera que os colegas façam por ela. Tem verbalizado o que quer, mas algumas palavras não são entendidas. Acompanha alguns cantos. Não escreve seu nome, nem reconhece as letras do alfabeto, assim como não identifica os numerais. Tem realizado os trabalhos de recorte, colagem, pintura, desenho, quebra-cabeças, modelagem, construção de brinquedos somente com a ajuda da professora. Caso contrário, tem esperado ou pegado outros materiais que não são da atividade.

PARECER C1, 1T, 2009. O aluno C vem se desenvolvendo de maneira satisfatória, sempre atendendo as solicitações da professora, participando de todas as atividades com entusiasmo e alegria e sendo bom amigo e colegas de todos. Está sendo estimulado a cuidar mais do seu material e a ser mais caprichoso nas atividades realizadas. Realiza sempre as tarefas de casa. Presta muita atenção às ordens dadas em sala de aula.

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Ao analisar esses dois trechos de pareceres, que estão disponíveis como modelos na internet, fica explícita a semelhança na elaboração das narrativas que partem sempre de um mesmo conceito independente do sujeito.

Sendo assim, a ação avaliativa dos professores têm deixado muitas lacunas, pois muitas coisas poderiam ser escritas sobre essas crianças desde que, anterior a esse momento, tivesse havido uma análise e reflexão mais aprofundada sobre sua interação em relação às propostas pedagógicas e sobre os materiais que foram capaz de produzir em sala de aula. Desse modo, observa-se a necessidade do professor de mudar a sua concepção sobre avaliação e atentar para as orientações das RCNEIs (1998, p.59), no qual ―[...] a avaliação é entendida, prioritariamente, como um conjunto de ações que auxiliam o professor a refletir sobre as condições de aprendizagem oferecidas e ajustar sua prática às necessidades colocadas pelas crianças‖. Portanto, é um instrumento que auxilia o processo, devendo ser seguido de registros diários, respeitando as especificidades das crianças e não apresentando um modelo que busque enquadrar a todas numa mesma sequência de atividades para alcançar objetivos iguais, desrespeitando a heterogeneidade da turma.

Nesse sentido, quanto maior e mais diverso o número de materiais produzidos pelas crianças, e de registros feitos, mais subsídios o professor terá para descrever detalhadamente o processo de desenvolvimento da aprendizagem na escrita dos pareceres descritivos.

Nessa perspectiva, Luckesi (2011a, p.149) esclarece que é preciso ―investigar para conhecer e conhecer para agir‖. Dessa maneira, para avaliar e escrever de um modo mais significativo sobre o desenvolvimento da aprendizagem da criança no contexto escolar e não sobre a sua personalidade, é preciso estar constantemente atenta às suas criações e interações, investigando e conhecendo seu modo único de realizar as atividades, motivando-a e intervindo quando necessário para que todas se sintam capazes de aprender, procedendo com anotações, arquivos de materiais e outras possibilidades de registros.

Nesse contexto, podemos conceber a avaliação como uma prática formativa que não se detém em avaliar as crianças, mas sim as situações de aprendizagens a que são submetidas, sendo, a observação, um fator determinante para a construção da ação educativa, pois, através desta, é possível visualizar as ―formas de expressão das crianças, de suas capacidades de concentração e envolvimento nas atividades, de satisfação com sua própria produção e com suas pequenas conquistas‖ (BRASIL, 1998, p.65).

Em tal perspectiva, os registros das expressões das crianças devem ser feitos todos os dias através de anotações, fotografias, gravações, entre outros recursos, de maneira que as

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informações não se percam e que o professor possa refletir e redirecionar sua prática quando necessário. Assim, poderá compor e apresentar aos pais uma documentação pedagógica que realmente demonstre o processo evolutivo da criança na escola. Portanto, é nesse tipo de avaliação que muitos teóricos têm se debruçado em evidenciar através de suas pesquisas e que eu passo a apresentar a seguir algumas concepções.

2.3 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: INTERCESSORES TEÓRICOS

A avaliação é essencial à educação. Inerente e indissociável enquanto concebida como problematização, questionamento, reflexão sobre a ação (HOFFMANN, 2014b, p. 22).

Tendo em vista as pesquisas realizadas sobre avaliação na Educação Infantil e as perspectivas legais que orientam o trabalho avaliativo do professor escritas nos Referenciais e Diretrizes Curriculares, percebe-se como o processo avaliativo ainda está distante do ideal, fazendo-se necessário modificar posturas que apresentam nos pareceres um modo classificatório, de controle e julgamento perante as crianças. Sendo assim, o objetivo dessa seção é colaborar para mudar tais concepções, buscando, através de obras de especialistas na área, tais como Guimarães e Oliveira (2014), Hoffmann (2014) e Luckesi (2011), elucidar novos estudos e reflexões sobre o tema.

Assim, na perspectiva de Hoffmann (2014a, p. 13), a avaliação envolve ―um conjunto de procedimentos didáticos que se estendem por um longo tempo [...], de caráter processual e visando, sempre, à melhoria do objeto avaliado‖. Dessa maneira, a afirmação feita pela autora vai de encontro ao que nos orienta a legislação, ou seja, não se realiza em um momento específico, mas exige um acompanhamento constante do professor no processo de ensino-aprendizagem. Além disso, é importante salientar que a avaliação é feita sobre a aprendizagem e não sobre a personalidade ou os comportamentos da criança.

Levando em conta a afirmação da autora, observa-se que avaliar não se constitui em um fator isolado, mas sim em um trabalho que envolve vários procedimentos, demanda tempo, envolve muito comprometimento e reflexão do professor e deve ser realizada sempre com o objetivo de melhorar a condição de aprendizagem do sujeito avaliado.

Nesse sentido, o desafio do professor é fazer da avaliação um instrumento de auxilio que demonstre o processo de construção do conhecimento de cada criança em meio ao espaço coletivo bem como a efetividade e aceitabilidade das intervenções pedagógicas alternativas e

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pertinentes e não apenas um relato do que os alunos já sabem e que é preciso transmitir aos pais, depreciando toda a complexidade que envolve o ato de avaliar.

Por todos esses aspectos mencionados, é importante que a avaliação possa tornar possível a compreensão das dificuldades e das resistências às aprendizagens, fazendo um diagnóstico das realidades apresentadas em sala de aula para intervir de maneira adequada, respeitando sempre o ritmo e as diferenças de cada um. Logo, podemos concordar com Luckesi (2011b, p.45) quando diz que a avaliação ―não possui uma finalidade em si; ela subsidia um curso da ação‖. Nesse caso, podemos considerar o caráter dinâmico da avaliação que exige do professor um estudo progressivo de estratégias que o ajude a facilitar a conquista da aprendizagem das crianças.

Dessa forma, a avaliação se constitui de maneira significativa no cenário escolar, tendo como foco desvelar, com competência e ética, o que deve ser corrigido ou alterado no percurso da ação, reajustando o trabalho e progredindo na busca de alternativas para solucionar tais problemas. Sendo assim, é preciso que o professor se desafie a sair da sua zona de conforto e desestabilize sua rotina, avançando no seu desenvolvimento profissional e na sua prática reflexiva.

Dado o exposto, é importante que o professor esteja sempre atualizado com leituras de livros, artigos e revistas na área de Educação Infantil, bem como, sempre procurando participar de debates, atualizando-se, pois é a partir do conhecimento profundo das teorias do desenvolvimento da aprendizagem que irá orientar e fundamentar melhor a sua prática, avaliando de acordo com o estágio de formação da criança de maneira a impulsionar a sua evolução, sem agredir a sua auto-estima, visando descrever e enfatizar o que ela é capaz de aprender e não o que lhe falta.

Mediante essa concepção, Hoffmann (2014c, p. 245) argumenta que ―a finalidade primeira do processo avaliativo é justamente conhecer cada uma das crianças com as quais se atua para promover-lhes experiências educativas desafiadoras‖. Isso exige do professor uma disposição permanente de se questionar, buscar e refletir sobre propostas e práticas diversificadas de ensino que respeite a individualidade dos sujeitos.

Então, primeiramente, o trabalho docente consiste em fazer uma análise das competências de cada criança, em um processo de interação, observando os trajetos percorridos por cada uma na construção da sua aprendizagem, antes de qualquer intervenção e articulação da ação educativa.

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Em virtude do que foi mencionado, torna-se oportuno que o professor esteja centrado nas ações das crianças, concebendo-as como protagonista do seu desenvolvimento. Desse modo, a partir de Guimarães e Oliveira (2014, p. 96), podemos concordar que ―a avaliação na educação infantil, remete a estudos que enfatizam as crianças como sujeitos, o trabalho pedagógico e o efeito que gera sobre as crianças‖. Trata-se de um conjunto que deve estar em harmonia para a produção de uma grande obra que nesse contexto, refere-se a produzir uma avaliação que esteja solidamente fundamentada nas teorias de desenvolvimento da aprendizagem e que demonstre o trabalho pedagógico do professor nesse trajeto de aquisição do conhecimento pela criança, tendo por fim a apreciação de suas conquistas.

Porém, atualmente, observa-se que as avaliações ainda se restringem muito a fatores comportamentais e não acontecem de maneira processual, mas em um tempo programado e exigido pelas escolas, sendo vista por muitos professores como uma obrigação e reduzindo-a, segundo Hoffmann (2014b, p. 39), ―a uma prática de registros finais acerca do desempenho do aluno desvinculada do cotidiano da sala de aula‖. Nesse sentido, ao avaliar a criança, os professores já não se recordam mais da interação desta no desenvolvimento de alguma atividade, pois não têm posse de nenhum registro do dia e descrevem suas produções baseados em modelos uniformes que não valorizam as diferenças de cada uma em relação às situações de aprendizagens e que são retratadas de forma vaga e sem sentido. Portanto, como avaliar algo que nunca se viu ou acompanhou?

Dessa forma, a escrita de pareceres se torna uma atividade desafiadora e penosa para o professor que não acompanhou o seu aluno de maneira assídua com diferentes registros durantes as atividades em sala de aula, tendo que relembrar esses momentos quando se encontram na frente do computador e com prazo de entrega para a coordenação.

Sendo assim, no momento da escrita de pareceres, os professores descrevem uma sequência de atividades realizadas pela criança na escola, porém de modo muito superficial, onde não recordam mais os detalhes desse processo e, consequentemente dificulta a identificação do trabalho realizado nessas narrativas que se resumem em demonstrar que os conteúdos previstos foram trabalhados e que, portanto, os objetivos foram alcançados, como exemplificado abaixo:

A G está de parabéns pelo excelente desempenho que apresentou durante este ano em todas as áreas do conhecimento. A G vem crescendo dia a dia em relação a sua autoconfiança. É muito bom falar e ver a satisfação com que a G realiza seus trabalhos em sala. Além de ser observadora, gosta de contar histórias. Um encanto! Reproduz com clareza fatos e

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acontecimentos vivenciados por ela. Reconhece seu nome e sabe escrever sem o auxílio do crachá. Conhece números e conta até 5. Tem uma coordenação motora fina boa para a sua idade. Tem noções das formas geométricas trabalhadas. Domina conceitos básicos como: grande, pequeno, baixo, alto, grosso, fino, em cima, em baixo, etc. Tem noção da importância de alguns animais e plantas para o ser humano. Reconhece a importância de algumas profissões, meios de transportes e meio de comunicações. Gosta muito de brincar e quando solicitada e incentivada ajuda na organização do ambiente escolar. Ela é um amor! Ela está de parabéns.

Modelo 4 – Parecer Descritivo10

Conforme o modelo de parecer apresentado, podemos observar uma grande lista de adjetivos dispensados à criança e uma descrição sequencial de que conseguiu atingir as expectativas do planejamento de ensino, porém não há nenhuma consideração ou relato contínuo sobre suas evoluções nas situações de aprendizagens propostas no cotidiano escolar.

Sendo assim, a avaliação é feita de maneira fragmentada, onde não há reflexão sobre o processo de aprendizagem, e sim uma constatação sobre o resultado que se espera, eliminando reflexões sobre os erros e limitando intervenções que possam ser necessárias. Com isso, através do parecer analisado, não é possível visualizar o discurso de Hoffmann (2014b, p. 24) afirmando que ―a avaliação é a reflexão transformada em ação‖, pois ao produzir a sua escrita, o professor não demonstra qual foi o procedimento adotado para que o aprendiz conseguisse realizar as atividades propostas, tampouco há menção sobre as suas peculiaridades na construção do seu conhecimento demonstrando eventuais obstáculos que foram superados por ela durante a sua trajetória de aprendizagem e nem relação teórica sobre a etapa de desenvolvimento em que a criança se encontra articulando-as com as práticas trabalhadas em sala de aula.

Em síntese, as avaliações feitas a partir de modelos de pareceres descritivos seguem reproduzindo-se de maneira homogeneizada, focadas em relatos comportamentais, descrevendo as crianças sobre os mesmos aspectos pedagógicos, instituindo saberes que todas devem dominar ao frequentar a escola para corresponder às expectativas dos pais e sociedade em geral, que vêem na escola um lugar transmissor de valores morais.

Para romper com esse pensamento antagônico, é importante que o professor aprenda ―conceitos teóricos sobre avaliação [...], aprender a praticar a avaliação, traduzindo-a em atos do cotidiano‖ (LUCKESI, 2011b, p. 30), numa perspectiva formativa que esteja

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