VAMOS AO MERCADO?
PERCEPÇÃO DA CIDADE E O
MERCADO POPULAR DA VILA
RUBIM EM VITÓRIA, ES
Samira de Souza Sanches
Eliana Mara Pellerano Kuster
Caderno de possibilidades pedagógicas para
professores do ensino básico
VAMOS AO MERCADO?
PERCEPÇÃO DA CIDADE E O MERCADO POPULAR DA
VILA RUBIM EM VITÓRIA, ES
Caderno de possibilidades pedagógicas para
professores do ensino básico
Samira de Souza Sanches Eliana Mara Pellerano Kuster
1ª edição Vitória
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) (Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo)
S211v Sanches, Samira de Souza.
Vamos ao mercado? [recurso eletrônico] : percepção da cidade e o mercado popular da Vila Rubim em Vitória, ES : caderno de
possibilidades pedagógicas para professores do ensino básico / Samira de Souza Sanches, Eliana Mara Pellerano Kuster. – 1. ed. - Vitória : Instituto Federal do Espírito Santo, 2020.
49 p. : il. ; 30 cm.
ISBN: 978-65-86361-56-8 (E-book)
1. Educação -- Filosofia. 2. Mercados -- Vitória (ES) -- Estudos de casos. 3. Cidades e vilas -- Vitória (ES). 4. Percepção (Filosofia). 5. Professores -- Formação 6. Humanidades. I. Kuster, Eliana Mara Pellerano. II. Instituto Federal do Espírito Santo. III. Título.
CDD 21 – 370.1
JADIR JOSÉ PELA Reitor
ANDRÉ ROMERO DA SILVA
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação RENATO TANNURE ROTTA DE ALMEIDA
Pró-Reitor de Extensão
ADRIANA PIONTTKOVSKY BARCELLOS Pró-Reitora de Ensino
LEZI JOSÉ FERREIRA
Pró-Reitor de Administração e Orçamento
INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
HUDSON LUIZ COGO Diretor Geral
MÁRCIO ALMEIDA CÓ Diretor de Ensino
CHRISTIAN MARIANI LUCAS DOS SANTOS Diretor de Extensão
ROSENI DA COSTA SILVA PRATTI Diretora de Administração
EDITORA DO IFES
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Programa de Mestrado Profissional em Ensino de Humanidades (PPGEH) / IFES
Av. Vitória, 1729 – Jucutuquara Vitória - ES CEP 29040-780
CAPA E DIAGRAMAÇÃO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE HUMANIDADES (PPGEH)
Samira de Souza Sanches IMAGEM DA CAPA
PRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO
Fotografia de Alexandre Ramos Ricardo
*clique no local indicado pela mãozinha para abrir o link
Samira Sanches é licenciada em Geografia pela Universidade Federal do Espírito
Santo (UFES) e atua como professora efetiva da rede estadual de ensino do Espírito Santo (SEDU-ES) desde 2010. Já atuou na assessoria técnica da Secretaria Municipal de Desenvolvimento da Cidade de Vitória (SEDEC-PMV) e como educadora ambiental no Centro de Educação Ambiental do Parque da Fonte Grande (GEA-SEMMAM-PMV). Atualmente compõe o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação na Cidade e Humanidades (GEPECH) do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Humanidades (PPGEH) como pesquisadora da linha de pesquisa de formação de professores.
Eliana Kuster é professora titular do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Espírito Santo (IFES), atuando no Mestrado em Ensino de Humanidades, e professora convidada da École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), Paris (2012). Tem por principal tema de pesquisa a relação entre a cidade, entendida como o local do desenvolvimento das relações sociais, e o cinema. Atua na liderança do Grupo de Pesquisa "Paisagens Híbridas", vinculado à Escola de Belas Artes da UFRJ, coordenando a linha de pesquisa "Dinâmicas Urbanas: a arte da representação e interpretação das metrópoles".
S O B R E A S A U T O R A S
conheça o GEPECH!
CALVINO, Italo. As cidades invisíveis. Companhia das
Letras, 1990. [Le cittá invisibili, 1972].
"De uma cidade, não aproveitamos as
suas sete ou setenta e sete maravilhas,
mas a resposta que dá às nossas
perguntas.”
Sobre o caderno de possibilidades pedagógicas...9
O ensino sobre a cidade e suas potencialidades...12
Percepção da cidade...15
O Mercado Popular da Vila Rubim...20
As histórias da Vila Rubim...21
Vila Rubim nos dias de hoje: entre contradições e resistências...28
Topofilia, o afeto pelo lugar...31
Vozes que resistem...32
Direito à cidade...36
E o futuro, como será?...37
Propostas de atividades...38
Atividade 1 - Viagem Formativa...39
Atividade 2 - Música e cidade...42
Atividade 3 - Jornal Mural... 45
Conclusões...46
Referências...47
Contatos...49
CAMINHOS DA VILA
Olá, professor (a)!
Este caderno de possibilidades pedagógicas é um material educativo produzido no
Programa de Pós Graduação em Ensino de Humanidades (PPGEH) do Instituto Federal
do Espírito Santo (IFES) e foi construído coletivamente entre professores de diversas
áreas do conhecimento no curso "Educação na cidade: percepção, contradições e
sensibilidade na cidade de Vitória" com o objetivo de subsidiar discussões, adaptações
e possíveis abordagens sobre o estudo da cidade na sala de aula.
Nossa proposta é utilizar a percepção da cidade como mediadora no processo de
ensino aprendizagem e desenvolver as potencialidades pedagógicas do espaço urbano
e do entorno da escola para além dos roteiros turísticos e monumentos tradicionais.
SOBRE O CADERNO DE
POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS
O local que escolhemos para desenvolver a proposta pedagógica é o Mercado Popular
da Vila Rubim em Vitória-ES, um lugar de grande importância histórica e cultural para a
cidade de Vitória. Sua existência se mistura à formação da identidade do povo
capixaba, seus hábitos culturais, culinária, religiosidade e formas de resistência.
Essa proposta pode ser adaptada para outros espaços da cidade, como o entorno da
própria escola. Acreditamos que todos os espaços da cidade têm potencial educativo e
esperamos que esse caderno seja uma experiência prazerosa de exercer um olhar
sensível, curioso e crítico sobre a cidade. No último capítulo apresentamos algumas
propostas que você pode trabalhar em sala de aula, mas como o próprio nome já diz,
são muitas as possibilidades de atividades pedagógicas que podem ser desenvolvidas
a partir deste conteúdo.
Venha com a gente nessa viagem formativa!
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“Todo espaço da cidade é potencialmente educativo. O que torna espaços
efetivamente educativos, como bairros, ruas, casas, prédios, mercados, praças,
árvores, praias, recantos, bares, igrejas, campos de futebol etc., é o olhar que se
tem sobre eles. Quem se interessa pela educação tem um olhar pedagógico diante
das coisas, assim como um filósofo que se espanta diante das coisas, ou um artista
que capta a totalidade do real, enxergando aquilo que está além das aparências.
Assim, aquele que tem um olhar pedagógico percebe logo o potencial educador de
um espaço ou de uma situação.”
Na cidade moderna que tem como marco histórico o processo de industrialização do séc XIX, surge uma nova realidade social que definimos como sociedade urbana. Em torno dela, a lógica na produção do espaço passa a se desenvolver de forma diferente da que existia anteriormente no campo. As cidades passam a ser centro de vida social e política onde se acumulam não apenas as riquezas como também os conhecimentos, as técnicas e as obras.
A cidade e o urbano aparecem, de modo geral, vinculados a duas perspectivas: uma relacionada a aspectos mais quantitativos e materiais, quase sempre apontando o fenômeno urbano a partir dos números (concentração populacional, movimentos migratórios, atividades econômicas) e outra mais dedicada aos processos constitutivos do fenômeno.
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O ENSINO SOBRE A CIDADE
E suas potencialidades
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Essa segunda perspectiva está relacionada aos estudos das relações sociais que constituem o fenômeno urbano e produzem a cidade a partir das relações sociais de produção, em grande parte vinculada às contribuições teóricas de Henri Lefebvre e Milton Santos. Essa perspectiva, por desnaturalizar o processo de urbanização, possibilita a compreensão das consequências sociais de um modo de produção que promove e aprofunda a desigualdade socioespacial.
É nessa abordagem que se encontra o potencial emancipador deste conteúdo curricular relevante para a atividade de ensino nas diversas áreas de atuação. A escola é um correspondente direto das contradições, limitações e também potencialidades do espaço urbano, pois se apresenta rica em potencial dialógico e diversidade, sobretudo pelo público que a frequenta. Um exemplo são as experiências de protagonismo cultural desenvolvido pelos jovens na cidade, como as batalhas de rap, em resistência e à revelia do processo excludente e invisibilizante que vivenciam. Por isso, se torna importante que o professor seja capaz de desenvolver práticas e reflexões pedagógicas acerca da questão urbana na sala de aula.
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A cidade é também e sobretudo uma obra, e a análise das relações entre o homem e as obras pelas quais
realiza sua natureza através do trabalho, revela que essas obras tendem a lhe escapar, implicando assim num
empobrecimento da realização do humano (LEFEBVRE, 2008, p.12). Em suma, surge uma cidade moldada e
idealizada de acordo com os interesses econômicos que passa então a excluir e segregar grupos, classes e o
próprio indivíduo. Desse processo resultam o uso maciço dos automóveis, o isolamento travestido de proteção do condomínios fechados, a ampliação das periferias e a dissolução da convivência em vizinhança e dos encontros.
Segundo Lefebvre "A vida urbana pressupõe encontros, confrontos das diferenças, conhecimentos e
reconhecimentos recíprocos (inclusive no confronto ideológico e político) dos modos de viver, dos “padrões” que coexistem na Cidade" (LEFEBVRE, 2009; p.22). O que fazer para retomar essa dimensão humana da vida
urbana em meio à normalização das desigualdades? A tarefa de “navegar” criticamente no espaço urbano exige um trabalho conjunto e curioso de investigação e desvelamento de respostas. É necessário ao (a) professor (a) mediador, um olhar apurado sobre as respostas que podem surgir no percurso e sobretudo como formular as perguntas à cidade. É diante dessa demanda que a percepção da cidade surge como instrumento de ensino.
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Em muitos momentos no processo pedagógico, é possível detectar que o olhar do jovem sobre a cidade é fortemente influenciado pelo sensacionalismo dos programas de televisão “fiscalizadores da cidade” e por uma visão superficial e distante acerca da realidade na qual estão inseridos. Mas pouco se articula em torno das demandas cotidianas da vida desses jovens, dos seus desejos e sobretudo das suas potencialidades como sujeitos.
É papel do professor desenvolver em seus alunos um olhar crítico acerca das
cidades construídas através do interesse privado e não vivenciadas pela população. A desigualdade no acesso aos serviços públicos e a diversos espaços
na cidade impede o indivíduo de se enxergar como “alguém” em uma cidade que nega sua identidade coletiva como cidadão e a expressão da sua singularidade como indivíduo.
PERCEPÇÃO DA CIDADE
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O conceito de Percepção, de acordo com o geógrafo Yi Fu
Tuan (1980, p.4), compreende tanto a resposta dos
sentidos aos estímulos externos, como a atividade
proposital, um entender-se para o mundo, na qual certos
fenômenos são claramente registrados, enquanto outros
retrocedem para a sombra ou são bloqueados.
Ela seria condicionada pela visão de mundo, que é a
experiência conceitualizada e parcialmente pessoal, em
grande parte social.
Percepção
Olhares sobre o mundo
Um exemplo muito presente na paisagem das cidades são os “pixos” que se manifestam nos muros e
fachadas de prédios em todo o planeta. Se partirmos do senso comum construído pela classe dominante e
propagandeado no imaginário popular, pixo é um ato de vandalismo e desrespeito ao direito da propriedade privada e os patrimônios da cidade. Porém se investigarmos o fenômeno e a sua relação com o processo de urbanização, encontraremos o pixo enquanto afirmação de existência de milhares de jovens invisibilizados que gritam sua presença em códigos diversos nos muros das cidades capitalistas. No artigo intitulado "Pixo Arte. A escrita da presença”, Leandro Serpa (2019) destaca:
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Mais ainda, o Pixo é uma marca nas páginas da cidade. É a 'letra’ da contestação, do combate à alienação. Ao assumir-se legitimamente entre faróis e cartazes da cidade o Pixo impõe sua presença contestadora e ao mesmo tempo questiona os códigos da civilização, que dividem, segregam, excluem e marginalizam parte da sociedade em detrimento de parcela menor da mesma. Pixo é Arte, pela recriação de códigos e elaboração que parte da escrita rúnica, mas também por ser uma ação politizada que confronta e mostra a contradições da cidade. (SERPA, 2019).
Dialogar na escola a partir dessa perspectiva que investiga as relações contraditórias que produzem o espaço é um exercício de enorme potencial dialógico na medida em que contribui para uma leitura de mundo
colaborativa e coletiva, desenvolvendo em nossos estudantes a capacidade de perceber a cidade a partir do seu
próprio olhar e refletir as relações existentes no espaço onde circulam e vivem.
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Muro da edificação onde há a Igreja do Carmo e a EMEF São Vicente de Paulo, Centro de Vitória.Fonte: Arquivo pessoal de Raquel Passos, 15 jun. 2019.
"A cidade repete seus ciclos, ano após ano.
Como reconhecê-los? Como explicá-los? Essa é a tarefa
que temos pela frente.
Desvendar a cidade com múltiplos olhares: o olhar
afetuoso e o olhar
indiferente; o olhar do presente e o olhar do passado; o
olhar do professor e o
olhar do aprendiz."
Desvendar a cidade
Eliana Kuster (2003)
O mercado popular da Vila Rubim
O mercado popular da Vila Rubim é um espaço com signicativo potencial educativo para a cidade de Vitória, ES. Sua rica tradição histórica, diversidade e importância na cultura local convivem diariamente com a marginalização, desvalorização e especulação imobiliária crescentes. Essa realidade imprime na paisagem suas contradições e riquezas, tornando este espaço de interesse especial para essa proposta de ensino a partir da percepção da cidade. Para além dos monumentos
históricos e museus da cidade, o que a Vila Rubim nos diz sobre Vitória?
Sua existência se mistura à formação da identidade do povo capixaba, seus hábitos
culturais, culinária, religiosidade e formas de resistência. Ao mesmo tempo, a
especulação imobiliária e os interesses político-empresariais em torno da expansão dos limites da cidade produzem um cenário contraditório, em que a marginalização e violência convivem com a efervescência cultural ancestral de uma cidade. Para analisar este espaço precisamos compreender melhor os processos que o produziram e modificaram através da história.
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As histórias da Vila Rubim
Até o final do século XIX o principal
mercado da cidade de Vitória estava
localizado na Avenida Capixaba, atual
Avenida Jerônimo Monteiro no centro da
capital. O mercado foi demolido por não
atender a demanda da cidade no início do
século XX e em 1926 no mesmo lugar foi
edificado um novo imóvel: o Mercado da
capixaba.
21
Avenida Capixaba, atual Jerônimo Monteiro, na altura da FAFI, onde se vê o antigo prédio da Mesbla. Fonte: acervo digital Instituto Jones Santos Neves
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O bairro da Vila Rubim surgiu no início do século XX
devido à posição geográfica vista como passagem
entre o continente e a Ilha, bem como a porta de
acesso ao centro de Vitória.
Na época o bairro era conhecido como Cidade de
Palha pois no local predominavam a pobreza e os
casebres que abrigavam famílias de migrantes do
interior do Espírito Santo e de outros estados.
Havia um ponto de desembarque de mercadorias que
chegavam à baía de Vitória provenientes do interior do
estado e eram comercializadas por pequenos
mercadores.
As histórias da Vila Rubim
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Avenida Duarte Lemos, em 1929. À esquerda, fachada do
Mercado da Vila Rubim, já demolido. Recebeu o nome de Vila Rubim em homenagem ao coronel português Francisco
Alberto Rubim que foi governador da capitania do Espírito
Santo entre 1812 a 1819.
Em 1927, foi inaugurada a ponte Florentino Avidos, atual Ponte Seca. O Mercado da Vila Rubim surgiu na década de 40, nessa época as mercadorias eram vendidas ao ar livre e o mercado era conhecido como Coreia. Fo nt e: T A T A G IB A , 1 92 9 Fo nt e: T A T A G IB A , 1 92 9
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A Vila era vista como o lugar mais animado de Vitória, não apenas pelo comércio varejista, mas também pela cultura. Lá existiam muitos clubes, bailes e outros eventos
Lá estava a sede do Clube de Regatas Álvares Cabral que, além do remo, tinha quadras de esportes extensas a reunir a sociedade capixaba que se concentrava em finais de semana, fazendo da Vila Rubim um espaço cultural. Um exemplo é o Estrela Futebol Clube. Ele mantinha a Azul e Branco Escola de Samba Império da Vila (hoje Novo Império).
A instalação dos galpões ocorreu durante a administração Setembrino Pelissari e no início da década de 70 foram realizados aterros na região da Vila Rubim que resultaram com o fim do cais, porém propiciou a valorização imobiliária da região.
Vista parcial da Vila Rubim. Em destaque ponto de
ônibus. Fonte: Jales Júnior, s.d.
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A partir de 1980, com o processo de expansão da malha urbana e crescente descentralização habitacional de
Vitória, a cidade é ocupada para além do Centro e seu entorno, gerando outras áreas comerciais e diversificando a oferta de produtos.
Embora a Vila Rubim tenha características próprias, tradição e importância na história local, ela passa a sofrer
uma perda no seu lugar de circulação prioritária de pessoas pela cidade, além de redução da sua representatividade comercial. O poder público também concentrava seu investimento na expansão de outras
áreas da cidade e em dado momento o Mercado começou a receber “significados negativos, relacionados ao tempo, como antigo, obsoleto, decadente e abandonado” (Matos, 2011.p.74).
Foi nesse contexto de um espaço visto como tradicional mas ao mesmo tempo marginalizado socialmente e degradado pelo tempo, que a Vila Rubim protagonizou uma das maiores tragédias da história da cidade. Na
manhã de 1º de julho de 1994 o mercado sofreu um incêndio que durou 3h30min, considerado o maior da história do Espírito Santo.
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"Vinte toneladas de fogos de artifício e barris de pólvora que estavam estocados em três andares da Casa Sempre Rica explodiram, às 11h45m de ontem, provocando um incêndio que durou 3h30m e destruiu 110 boxes do mercado da Vila Rubim, 30 lojas e sete veículos estacionados no local ou que passavam na avenida Duarte Lemos. Dezenas de pessoas sofreram queimaduras e outros ferimentos..." (A Gazeta, 02/07/1994).
Imagem de Iemanjá que sobreviveu ao incêndio e ainda hoje se encontra exposta
em loja de artigos religiosos.
Fo to : G ild o L oy ola Fo to : G ild o L oy ola
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Seu funcionamento foi extremamente prejudicado durante alguns anos, obrigando muitos comerciantes a ocuparem as calçadas do local com barracas para continuarem a vender seus produtos. O Mercado ficou em
estado de total abandono por quase seis anos, dando lugar a mazelas sociais, como a violência, e recebendo uma significação social negativa. (SILVA, 2004).
Com o incidente e posterior abandono, o Mercado da Vila Rubim foi então municipalizado, após reivindicação da Prefeitura de Vitória, que promoveu um processo de reestruturação do Mercado, visando sua organização e manutenção da tradicionalidade. Em 2002 sua nova estrutura foi entregue aos antigos comerciantes. Foram construídos quatro novos galpões para abrigar 52 lojas, em uma área de 3.400m².
O comércio tradicional buscou então se adaptar, recebendo inclusive novas funções. Por ser local de representatividade histórica para a cidade, passa a receber atribuição turística e cultural significando uma atração para aqueles que querem conhecer parte da história da cidade.
Peixaria da Vila Rubim, 2019. Foto: Samira Sanches
VILA RUBIM NOS DIAS
DE HOJE - ENTRE
CONTRADIÇÕES E
RESISTÊNCIAS
28
Embora o Centro Histórico tenha vivido nos últimos anos um processo de retomada e ocupação cultural dos espaços públicos, é perceptível que a região da Vila Rubim não recebe o mesmo tratamento. Em meio a projetos populares e movimento de comerciantes exigindo melhorias do poder público, o espaço convive com o aumento dos problemas de circulação da cidade, segregação socioespacial e violência urbana.
Vila Rubim nos dias de hoje - entre contradições e resistências
, Criminalidade 34.6% Infraestrutura 26.9% Trânsito 23.1% Cultura 15.4%
Para discutir um dos aspectos que produzem o imaginário coletivo acerca dessa região da cidade atualmente, analisou-se a representação midiática dos principais jornais digitais do estado. Foram analisadas 26 reportagens digitais no site G1, entre 2014 e 2019. A partir dessa seleção, as reportagens foram divididas tematicamente no gráfico abaixo.
Analisar a realidade em movimento é um desafio, sobretudo em sala de aula. Uma ferramenta que pode potencializar a percepção do espaço urbano em dado momento da história são as reportagens jornalísticas.
A imprensa é uma instituição social que a partir do discurso jornalístico sob a forma de narrativa dos fatos, incorpora um papel de representação coletiva de uma sociedade.
Entretanto, essa representação coletiva na sua origem pode apresentar
contradições e interesses diversos de quem percebe no controle da narrativa
dos fatos, a possibilidade de exercício de poder sobre uma sociedade.
Por isso, é sempre necessário analisar criticamente o conteúdo do discurso
jornalístico, assim como suas escolhas temáticas ao retratar a realidade.
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Vila Rubim nos dias de hoje - entre contradições e resistências
Analisando as reportagens, é possível detectar que a imagem produzida e valorizada pela mídia acerca do mercado popular da Vila Rubim e do seu entorno reproduzem um imaginário que tem relação com o poder midiático de sedimentar como realidade, na memória coletiva, a imagem da Vila Rubim como espaço ligado à violência urbana, ao
caos no trânsito e aos problemas não solucionados de infraestrutura urbana.
As manchetes negativas sobre a região ganham mais destaque no noticiário à medida que são divulgadas iniciativas
urbanísticas governamentais para “revitalizar” o mercado. Como devolver a vida a um espaço que já a possui? Não queremos aqui questionar a veracidade das notícias retratadas pela imprensa, mas os interesses em torno desse retrato da Vila Rubim que oculta fatos positivos ou os reduz ao mínimo possível, enquanto destaca outros que contribuem para formar uma visão negativa sobre este espaço. Ao conjugar a indiferença histórica estatal em relação às demandas comunitárias no bairro com as novas iniciativas de urbanismo governamental é de se perguntar a quem serve a narrativa midiática sensacionalista que acompanha esse processo.
Entretanto, é possível enxergar, em algumas das reportagens, vozes de resistência a essa representação, que possuem outro imaginário sobre o mercado. Lideranças comunitárias, comerciantes, ativistas culturais expressam, em diversos momentos, sentimentos de pertencimento e identidade coletiva com aquele espaço. Se a Vila Rubim é um lugar de
Segundo Yi Fu Tuan (2012, p.19), topofilia é o laço
afetivo que nos envolve com o ambiente, o elo entre
a pessoa e o lugar ou ambiente físico.
Este sentimento tem relação com o pertencimento de
uma pessoa ou povo por um espaço que tenha
relação com a sua história e identidade individual e
coletiva.
Topofilia
Amor pelo espaço
Vozes que resistem
Um exemplo é a comerciante Gilda Gomes que passou por dois incêndios no mercado.
Na segunda vez, em 2010, o fogo por pouco não queimou todas as mercadorias da sua
loja. "Eu tenho é que agradecer a Deus pela minha vida. Da outra vez nós perdemos
tudo, foi pior. Então, esta vez vou começar tudo de novo, em nome de Jesus".
O diretor da Associação de Comerciantes da Vila Rubim, Renato Freixo é outra voz
importante que apareceu em várias das reportagens analisadas. Sua atuação é
marcada pela cobrança de melhorias na estrutura e segurança da região. “Nós pedimos
a restauração da ponte seca, precisamos de ponto de chegada de ônibus de turismo,
para que a Vila Rubim receba as pessoas, como uma referência turística."
Reportagem:
http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2014/07/apos-20-anos-de-incendio-lojistas-pedem-melhorias-na-vila-rubim-es.html.
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Também é possível encontrar vozes ligadas à cultura e ao ativismo na cidade. Na reportagem que noticia a inauguração dos murais do Coletivo Cidade Quintal Na Vila Rubim, a designer Juliana Lisboa, uma das fundadoras do grupo, explica a escolha do local para a intervenção artística:
"Nós procurávamos algum espaço que tivesse o potencial
para trabalhar a questão da identidade. Logo, chegamos na
ideia da Vila Rubim, pois tem espaços onde caberia uma intervenção-mural e pela questão histórica e cultural. Segundo ela, o conteúdo dos murais “aborda a importância
histórica, a relação com a água, a festividade, a religiosidade e a diversidade de produtos.”
Reportagem:
http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2014/07/apos-20-anos-de-incendio-lojistas-pedem-melhorias-na-vila-rubim-es.html.
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Por fim, encontramos ainda vozes que celebram a Vila em toda sua história e riqueza cultural, como a escola de samba Unidos
da Piedade que em 2016 cantou a Vila Rubim com o enredo “Vamos ao Mercado?”. O título e a letra do samba da Piedade
-que utilizamos para uma atividade -que vamos propor ao fim desse material - nos inspiraram na elaboração deste caderno
pedagógico. O samba narra momentos da história do mercado,
sua originalidade e diversidade de produtos.
A escola ainda reflete sobre o futuro do Mercado em meio às mudanças nas formas de comércio advindas dos avanços da tecnologia, mas afirmando sua confiança na originalidade da
essência da Vila.
Reportagem:
http://g1.globo.com/espirito-santo/carnaval/2016/noticia/2016/01/piedade-canta-passado-presente-e-futuro-da-vila-rubim.html
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Carro-alegórico da Piedade, 2016. Foto: Mariana Carvalho
Essas vozes que parecem desconectadas em meio a narrativas sobre diversos temas são exemplos de relação topofílica com o espaço que se apresentam como vozes de resistência à lógica mercadológica na produção do espaço da cidade, particularmente na região da Vila Rubim.
Essa memória coletiva e topofílica de quem desenvolve uma relação de pertencimento com o espaço não é desprovida de criticidade, já que em muitos momentos as comunidades populares se revoltam com as condições de vida e com a lógica hegemônica na produção do espaço. Essa querência humana quando coletiva pode se transformar em luta social e, assim, transformar a realidade comunitária, com princípios de integração e na perspectiva da luta pelo reconhecimento.
Nesse horizonte, as lutas sociais podem propiciar elaborações de novos sentidos desses grupos, coletivos, classes, numa possível nova leitura da realidade que possibilite rupturas. Assim, a ação política é um caminho emancipatório. Porém, essa ação infere um caráter coletivo. É uma condição para o reconhecimento do discurso e da ação a presença de outros, inseridos na pluralidade das relações humanas.
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É nesse estado de coisas, contra a apropriação e o domínio
econômico sobre a vida urbana, que Lefebvre (2009)
reivindica o Direito à Cidade enquanto prática social e
teoria de retomada do urbano:
"direito ao trabalho, à instrução, à educação, à saúde, à
habitação, aos lazeres. (...) Direito à vida urbana, à
centralidade renovada, aos locais de encontros e de trocas,
aos ritmos de vida e empregos do tempo que permitem o
uso pleno e inteiro desses momentos e locais" (LEFEBVRE,
2009. p.139)
Direito à cidade
A retomada do urbano
A retomada da escala humana como referência exige uma redução da distância entre a cidade que herdamos e a que desejamos, trazendo para o centro a percepção coletiva e afetiva, a topofilia do espaço. Dessa forma, se torna possível uma leitura de mundo humanizada, colaborativa e coletiva, à partir das diferentes visões de mundo que existem dentro da comunidade escolar.
Nesse sentido, o nosso papel como professores é criar condições para que
essa leitura seja possível, compreendendo que a ação pedagógica é
também uma ação política, na medida em que transforma a consciência dos nossos alunos e aponta caminhos para sua emancipação.
E o futuro, como será?
Entre a cidade que herdamos e a cidade que desejamos
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O QUE FAZER A PARTIR DE TODA
ESSA DISCUSSÃO?
Nas próximas páginas vamos sugerir algumas
atividades e planos de aula para desenvolvimento
do tema em sala de aula e em possíveis roteiros
formativos.
São muitas as possibilidades pedagógicas,
portanto
nossas
sugestões
podem
ser
modificadas e adaptadas de acordo com a sua
realidade e seu plano de aula. Esperamos que
nossas ideias ofereçam subsídio para sua
criatividade!
Propostas
de
ROTEIRO DE VIAGEM
FORMATIVA
Proposta de atividade 1
A viagem formativa é uma experiência única de caminhar pela cidade com nossos alunos e explorar espaços que muitas vezes passam desapercebidos pela correria do dia-a-dia. Esse roteiro que vamos propor tem como objetivo refletir sobre aspectos diferentes do Centro Histórico de Vitória exercitando a percepção crítica deste espaço que expressa hoje marcas dos diferentes tempos e formas que produziram o espaço ao longo da história. Em alguns momentos, nosso olhar será familiar, em outros, o distanciamento do olhar estrangeiro será necessário para refletir sobre os processos que estão por trás da aparência que contemplamos.
Nossa sugestão de roteiro foi dividida em dois trechos: Cidade Alta e "Cidade Baixa”. Salientamos que outros trajetos
podem ser construídos coletivamente com nossos alunos, inclusive em outros espaços da cidade. Durante o percurso
o professor deve fazer provocações para potencializar esse olhar, chamando atenção para os contrastes entre o antigo e o novo nos prédios do nosso entorno, as pichações e grafites que se manifestam no seu questionamento e efemeridade e as mudanças de funcionalidade nas construções do bairro.
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Viagem
formativa
Para os momentos de visita aos espaços da cidade, utilizamos o conceito de Viagens
Formativas:
"Quando afirmamos que as visitas mediadas se situam em um contexto maior de uma “viagem
formativa”, não indicamos apenas que
fomentaremos um caminhar na cidade, um passeio intencionalmente organizado em alguns lugares citadinos. A viagem possui uma nuance metafórica de evocar a saída do familiar, da vida citadina e ordinária, para visitar o extraordinário (CÔCO; LEITE; DELLA FONTE, 2019, p. 72-73)
Curso de formação continuada de professores, 2019. Fotos: coletivo de formação
July 1: Start Journey
July 3: Harnes Canyon
Ponto A: Praça Irmã Josefa Hosana – em frente à Igreja do Carmo Ponto B: Convento São Francisco Ponto C: Viaduto Caramuru Ponto D: Vista da Igreja São Gonçalo e descida pela Escadaria
Carlos Messina
Trecho 1 - Cidade Alta
Trecho 2 - Moscoso e Vila Rubim
Ponto A: Ocupação Edifício Santa Cecília Ponto B: Hospital Santa Casa
da Misericórdia Ponto C: Mercado Municipal da Vila Rubim
Nos estudos que antecedem esta visita, separe a turma em 7 grupos, representando cada um dos pontos de parada. No dia da visita, cada grupo apresentará a história daquele ponto e o resto da turma fará registros fotográficos e anotações para formar um relatório sobre a visita.
Perguntas para reflexão: quais são as marcas deixadas na paisagem
pelo tempo? O que te chamou atenção nesse ponto? O que é uma ocupação urbana? Você visitaria esses espaços da cidade com a sua família?
ATIVIDADE MUSICAL
Proposta de atividade 2
Segundo a professora, musicista e pesquisadora Raquel Passos, a música está em múltiplos lugares da vida humana:
"Nas escutas pessoais, dentro do automóvel, no trânsito de tantas manhãs e finais de tarde, na sintonia da rádio preferida, nas propagandas comerciais, nos jornais na hora do almoço, nos arquivos de mídia dos celulares, caixinhas de som das rádios comunitárias, nos bares, nos postes, nas manifestações de rua, na reivindicação por dias melhores. A música nasce da cidade e, com uma linguagem própria, reproduz e recria essa cidade, a ela pode se destinar." (PASSOS, 2020. p.)
A música na atividade educativa contribui para construir a percepção da cidade na medida em que nos aproxima das vozes de artistas e
compositores, que a partir do seu trabalho, são
capazes de transformar lugares em canções.
Por isso, propomos nessa atividade uma análise coletiva do samba-enredo "Vamos ao
mercado?", apresentado no carnaval do Vitória
em 2016 pela escola de samba Unidos da Piedade.
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Proposta de atividade 2 Fo to : S am ira S an ch es"Vamos ao Mercado?" - Unidos da Piedade 2016
Autores: Souza, Marquinho Gente Bamba, Lourival das Neves, Gibson Muniz, Costa Pereira, Sérgio Índio e Lucianinho.
Com muita emoção e felicidade!
Vou descer a ladeira com a Piedade Vamos ao Mercado? Num sonho real Vai tremer geral
Carnaval
A bela época parece não ter fim Passa o bonde da saudade
Com as histórias da Vila Rubim Se a memória não me falha
Foi “Coreia”, foi de palha O mar te abraçou
Um recanto de encantos
De Vitória é um caso de amor
Malandragem, boemia, damas da noite, poesia Mercador a navegar, no balanço do mar
Trazia a mercadoria
Tem tempero nesse samba
A “Mais Querida” te convida pra provar Piedade bota a banca e anuncia
Temos muita alegria e sabor nesse cantar Um mundo fascinante, singular
Aqui tem coisas de Deus duvidar Do artesanato ao pescado
Um pouco de tudo e misturado
No vai e vem da freguesia, a comunidade embarcou Num “Ritmo Forte” a bateria, fez a festa, incendiou Mas entre o fogo Iemanjá emocionou
Paga um, leva dois quem vai levar? O futuro a Deus pertence, como será? Comprar, vender pela rede virtual
Mas a sua essência será sempre original
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Atividade musical: Vamos ao mercado?
Após ouvir o samba-enredo da Piedade sobre a Vila Rubim,
responda:
1. Quais são os momentos históricos mais importantes da Vila Rubim
descritos na letra da música?
2. Por que podemos afirmar que o mercado da Vila Rubim faz parte da
formação cultural do povo capixaba?
3. "Comprar, vender pela rede virtual. Mas a sua essência será sempre
original". Interprete o significado do último verso do samba.
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Como discutimos anteriormente, a percepção da cidade precisa ser refletida e considerar os fatores sociais que influenciam o olhar sobre o espaço, como as representações sociais midiáticas. Daí a necessidade de trabalhar de forma crítica com noticiários e coberturas midiáticas em sala de aula, oferecendo elementos de análise e problematização dos fatos representados.
Agora vamos incentivar que nossos alunos reflitam que, além de ler e perceber o espaço da cidade, eles também são capazes de pronunciar sua própria realidade. O objetivo dessa atividade é confeccionar um jornal-mural com nossos alunos e alunas retratando o bairro onde a escola está localizada.
Confecção do jornal-mural: elaborar cartazes com
materiais disponíveis, fotos e desenhos produzidos em um mural da escola.
Essa atividade será composta por três movimentos
CONFECCIONANDO UM JORNAL-MURAL
Proposta de atividade 3
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Proposta de atividade 3
Pesquisa sobre a história do bairro: internet, arquivo
público, biblioteca estadual. Como surgiu? Onde está localizado? Quem foram os primeiros moradores?
Entrevistas com moradores e comerciantes:
problemas do bairro, atrativos culturais, novidades sobre o bairro. Registro de fotos e desenhos para as entrevistas.
Conclusões
P R O N U N C I A N D O A R E A L I D A D E
Em A importância do ato de ler, Paulo Freire diz que “o ato de ler implica
sempre percepção crítica, interpretação e "re-escrita” do lido” (1989, p.14). Se
a leitura do mundo conhecido antecede à leitura da palavra, essa leitura pode ser compreendida a partir da percepção do espaço em sua complexidade quando aluno e professor partilham significados acerca do mundo que os cerca. Dessa troca, pode nascer uma pronúncia crítica e transformadora da realidade.
Esperamos que esse material tenha contribuído para demonstrar a importância do diálogo entre o urbano e o pedagógico, utilizando a percepção como instrumento de ensino e valorização dos espaços populares da cidade. Como expusemos no início do material, não existe receita pronta para uma boa
atividade de ensino.
Por isso, esperamos que esse caderno sirva como base para outros materiais, planos de aula, viagens formativas e propostas pedagógicas que também enxerguem na percepção da cidade um potencial emancipatório em direção à conquista do direito à cidade. Obrigada pela companhia!
Professores do curso de formação "Educação na cidade", 2019. Foto: coletivo de formação
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REFERÊNCIAS
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