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DIÁLOGOS SOBRE PAULO FREIRE ENTRE PROFISSIONAIS EDUCAÇÃO: INTERLOCUÇÕES NECESSÁRAS HUMANIZADORA

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Academic year: 2021

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DIÁLOGOS SOBRE PAULO FREIRE ENTRE PROFISSIONAIS DA SAÚDE E DA EDUCAÇÃO: INTERLOCUÇÕES NECESSÁRAS PARA UMA FORMAÇÃO

HUMANIZADORA

Educação Lucimara Cristina de PAULA1 Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Jéssica Cristiane MARTINS2; Alana Flávia Baniski CARON3; Janaína Silveira RIBEIRO4. Resumo

Atendendo ao interesse de profissionais da Saúde de Ponta Grossa, que em 2017 participaram do curso de extensão “Paulo Freire: fundamentos de uma práxis educativa transformadora na formação de educadores(as)”, em 2018 foram desenvolvidas oficinas sobre a produção freiriana com diversos profissionais no Núcleo de Educação Permanente – NEP, vinculado à Fundação Municipal da Saúde. Essa proposta, que faz parte do Projeto de Extensão “Leitura de mundo e leitura da palavra: caminhos freirianos para trabalhos educativos emancipadores”, teve o objetivo de realizar estudos e diálogos sobre as obras de Paulo Freire, compreendendo os princípios que fundamentam seu pensamento sobre educação e engajar-se na construção de práticas educativas que estejam coerentes com os princípios freirianos. A metodologia das oficinas incluiu o diálogo sobre as obras freirianas, a discussão sobre o conteúdo de imagens e vídeos produzidos a respeito de Paulo Freire e a sistematização das contribuições das oficinas à formação pessoal e profissional dos participantes. A escrita de narrativas sobre situações vividas no cotidiano de trabalho, para discussão a respeito dos diferentes contextos da Saúde, e a escrita de cartas ao autor estudado, expressando os conhecimentos construídos na interlocução entre o campo da Saúde e a pedagogia progressista freiriana, constituíram propostas de avaliação. Como contribuições para uma formação humana e profissional críticas, as cartas apontaram que a produção freiriana possibilitou: reconhecer a atualidade do pensamento de Paulo Freire para a análise do contexto histórico atual; observar a necessária coerência entre o que fazemos e dizemos; educar-se para a humildade nas relações com as pessoas, aprendendo com elas; indignar-se diante da banalização da violência e do preconceito, buscando a transformação das relações e dos contextos; posicionar-se como sujeito histórico capaz de criar e recriar o mundo; resistir ao medo não permitindo que ele paralise, lutando por formas justas e democráticas de viver.

Palavras-chave: formação profissional; pedagogia progressista freiriana; saúde e educação.

1Lucimara Cristina de Paula, Profa. Adjunta do Departamento de Pedagogia, Curso de Pedagogia; professora do Programa de Pós-Graduação em Educação – UEPG.

2Jéssica Cristiane Martins, pedagoga da Fundação Municipal de Saúde, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – UEPG.

3Alana Flávia Baniski Caron, professora da Educação Básica, curso de Pedagogia, bolsista PIBIC (2017) e PIBIS (2018) - UEPG.

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Introdução

Nos últimos anos, compondo um contexto político de forte conservadorismo no Brasil e em outros países, presenciamos grupos de extrema direita reivindicarem a revogação da Lei no. 12.162, de 13 de abril de 2012, que instituiu como “Patrono da Educação Brasileira” o pensador Paulo Reglus Neves Freire, reconhecido internacionalmente por sua teoria progressista e crítica de educação, adotada em pesquisas realizadas em diferentes áreas do conhecimento. Por outro lado, recentemente, temos acompanhado, por meio de notícias divulgadas nas redes sociais, a intenção do governo federal de “expurgar” Paulo Freire das escolas brasileiras, acusando-o, injustamente, dos problemas que envolvem o ensino e de “doutrinação ideológica”, realizada por professores que, muitas vezes, nem sequer conhecem a produção desse educador e a importância de seu legado para os diferentes campos do conhecimento.

Movidas pela necessidade de problematizar esse contexto social e político, desmitificando inverdades e compartilhando conhecimentos em profundidade sobre a produção de Paulo Freire, com diferentes profissionais e estudantes, que fazem parte da comunidade universitária e que pertencem à comunidade externa, as integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação em Ambientes Escolares e Não Escolares – GEPEDUC, iniciaram um curso de extensão em 2017, intitulado “Paulo Freire: fundamentos de uma práxis educativa transformadora na formação de educadores(as)”. Esse curso, aberto a professores da educação básica, professores e estudantes de cursos de graduação, educadores sociais e estudantes de pós-graduação, recebeu também as inscrições de três profissionais da área da Saúde, curiosas por conhecer o trabalho e o conhecimento produzido por Paulo Freire.

A participação dessas três profissionais no curso motivou o interesse de outros profissionais, vinculados à Fundação Municipal da Saúde a se engajarem em estudos sobre o legado freiriano, conhecendo melhor suas contribuições para a melhoria de sua atuação nos serviços da Saúde. Por isso, atendendo a uma nova demanda desses profissionais, foram programadas oficinas de estudos e diálogos específicas a esse público, realizadas no Núcleo de Educação Permanente – NEP, em 2018. Essas oficinas, e um novo curso de extensão para profissionais da educação, foram vinculados ao Projeto de Extensão “Leitura de mundo e leitura da palavra: caminhos freirianos para trabalhos educativos emancipadores” (2018-2010).

Para essas oficinas, que ocorriam quinzenalmente, no período da tarde, tivemos 20 pessoas inscritas como cursistas e uma equipe responsável pela organização formada por

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duas estudantes de Pedagogia, sendo duas bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC (uma delas tornou-se, posteriormente, bolsista PIBIS – Programa Institucional de Apoio à Inclusão Social), duas professoras do Departamento de Pedagogia, que coordenavam o curso e uma profissional da Saúde, que faz parte do GEPEDUC e atualmente realiza o Mestrado em Ciências da Saúde na UEPG.

A partir dessa parceria entre o GEPEDUC e o NEP, iniciada em 2018, os trabalhos educativos, estudos e pesquisas, realizados sob uma perspectiva progressista e dialógica, vem se ampliando e anunciaram a necessidade de outra proposta: a Formação Pedagógica de Tutores e Preceptores do SUS, iniciada em maio de 2019. As ações educativas realizadas por meio de cursos de extensão e das oficinas têm colaborado para a formação científica e pedagógica de seus integrantes, na medida em que atuam como educadores-educandos e educadores-educandos-educadores (FREIRE, 2014), dialógicos e democráticos, dispostos a buscar transformações em seu trabalho e para seus contextos.

Metodologia

Os encontros das oficinas ocorriam em uma sala do Núcleo de Educação Permanente, a cada quinze dias, das 14h às 17 horas. Ao todo, foram realizados 12 encontros durante o ano de 2018, totalizando 36 horas de estudos presenciais coletivos e 24 horas destinadas aos estudos individuais, preparatórios para os encontros.

Participaram das oficinas 20 profissionais da Saúde entre enfermeiros, fisioterapeutas, farmacêuticos, sanitaristas, assistentes sociais, veterinários, agentes de combate a endemias e técnicos administrativos. A metodologia empregada durante as oficinas envolviam:

a) leitura orientada sobre as obras indicadas;

b) diálogos sobre os destaques elencados em cada obra, a partir dos princípios que fundamentam o conceito de aprendizagem dialógica (BRAGA, GABASSA e MELLO, 2010);

c) discussão sobre o conteúdo de imagens e vídeos produzidos a respeito de Paulo Freire e/ou articulados com sua produção intelectual;

d) sistematização das contribuições dos cursos à formação pessoal e profissional dos participantes;

e) avaliação compartilhada das atividades com os participantes, dialogando sobre suas contribuições e limitações.

As obras priorizadas para leitura foram: Pedagogia da esperança (2003), A importância do ato de ler (2011) e Que fazer (2007). Essas obras foram escolhidas por

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trazerem discussões sobre todas as experiências que orientaram a práxis de Paulo Freire no contexto da educação popular, que o autor construiu com diferentes grupos de pessoas (trabalhadores, estudantes, líderes revolucionários, imigrantes, etc) ao redor do mundo.

Desenvolvimento e processos avaliativos

A avaliação do desempenho dos participantes ocorreu por meio de diversas formas coletivas e/ou individuais de registro e apresentação das aprendizagens: escrita de sínteses, construção de narrativas de situações relacionadas ao cotidiano para problematização, participação nos diálogos, escrita de cartas para sistematização das contribuições da produção freiriana para a formação pessoal e profissional.

Durante os encontros, diversos temas relacionados ao contexto social, político, econômico e cultural do país eram discutidos à luz das concepções das obras lidas e das entrevistas e documentários exibidos em vídeos com Paulo Freire e sobre sua trajetória. No processo de discussão das obras, os participantes descobriam em Freire um pensador atemporal e universal, um clássico, com ideias que ainda nos ajudam a compreender os novos tempos, carregados, ainda, de velhos temas históricos.

Textos complementares eram indicados para leitura e ampliação de conhecimentos sobre as construções teóricas do autor, atendendo aos interesses, curiosidades e questionamentos dos participantes, colaborando para o desvelamento do processo de desenvolvimento do pensamento freiriano em suas diferentes fases. Durante os diálogos sobre os destaques feitos a respeito de trechos das obras, cada participante revelava as relações que estabelecia entre as construções teóricas de Freire e os elementos do cotidiano profissional, do trabalho específico que realizavam, das relações que vivenciavam, dos problemas enfrentados no ambiente de trabalho.

Esses diálogos eram orientados pelos princípios do conceito da aprendizagem dialógica (AUBERT et al, 2016), elaborado por pesquisadores do CREA – Community of Researchers on Excellence for All, da Universidade de Barcelona, e formulado com base na teoria da ação comunicativa de Habermas e na teoria da ação dialógica de Freire. A dialogicidade em Freire (2004) também é orientada por princípios: o amor, a fé nas pessoas, a confiança, a solidariedade, a esperança, a humildade. Portanto, durante o compartilhamento de conhecimentos nos diálogos, seguindo regras para inscrição de falas e para a escuta atenta e respeitosa ao outro, cada pessoa refletia sobre as contribuições dos colegas e organizava suas considerações para expressá-las ao grupo.

Durante os diálogos, duas pessoas eram encarregadas de organizar as falas realizando as inscrições – os moderadores, enquanto outra pessoa ficava responsável por

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realizar a síntese dos temas que foram objeto dos diálogos. No final de cada encontro, a síntese era lida e confirmada ou corrigida pelo grupo, que verificava equívocos em relação aos temas abordados. Muitas evidencias sobre as aprendizagens realizadas pelos participantes foram registradas nessas sínteses. Entretanto, enfatizaremos, nesse texto, apenas os dados colhidos por meio das cartas, considerando o grande volume de informações levantadas durante os estudos e atividades.

As cartas constituíram uma proposta de escrita em que cada participante escreveria a Paulo Freire contando o que aprendeu com suas produções e quais contribuições ofereceram para a revisão de suas visões de mundo e do trabalho no campo da Saúde. O conteúdo das cartas foi analisado a partir de procedimentos das pesquisas documental e bibliográfica (GIL, 2002; LIMA e MIOTO, 2007; SALVADOR, 1986). Considerando que não é possível transcrever trechos das cartas e suas análises, devido à extensão delimitada para esse trabalho, indicamos as aprendizagens que mais se destacaram no encontro com a produção de Paulo Freire:

 a atualidade do pensamento de Paulo Freire para a análise do contexto histórico atual;

 a necessidade do exercício da coerência entre o que fazemos e dizemos;

 o processo de educar-se para a humildade nas relações com as pessoas, aprendendo com elas como fazer melhor o que já fazemos;

 a importância da indignação diante da banalização da violência e do preconceito, buscando a transformação das relações e dos contextos, ao nos assumirmos como seres históricos, culturais e fazedores de mundo;

 a prática de resistir ao medo, não permitindo que ele nos paralise, lutando por formas justas e democráticas de viver;

 a necessidade da luta contra posicionamentos arrogantes e cerceadores da liberdade e da democracia, do respeito ao outro;

 a reflexão sobre a importância da amorosidade nas relações com adultos e crianças;  a importância de lançar um olhar sensível à dor do outro, buscando distanciar-se

epistemologicamente da situação relatada sobre a dor para enxerga-lá em outras dimensões do humano.

Na interação com pessoas que viviam experiências e contextos tão diferentes que os seus, os estudantes envolvidos no desenvolvimento das oficinas redescobriam significações sobre o ato de educar e educar-se numa perspectiva freiriana, pois a

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interlocução com o diferente é muito mais rica e potencializadora de transformações em nossas formas de pensar, agir e estar no mundo, com o mundo e com os outros.

Considerações Finais

O objetivo de dialogar sobre a obra de Paulo Freire teve como êxito não somente elucidações e discussões sobre o campo teórico, mas também a reflexão sobre a prática, ou seja, se tratando de profissionais da área da Saúde, as discussões auxiliaram no desenvolvimento de uma prática profissional humanizada, amorosa, comprometida e, como indicaram as cartas, preocupada com o outro, com sua dor e com a necessidade de exercitar a esperança, de ir à luta pra se fazer melhor o que já se faz, por meio da ação-reflexão-transformação. A experiência demonstrou uma atividade de comunicação interdisciplinar entre Educação e Saúde resultando em ganhos acadêmicos e profissionais para ambas as áreas, contribuindo com a formação individual, profissional e social dos sujeitos participantes e reafirmando a importância de Freire no campo da educação, saúde e demais áreas do conhecimento.

Referências

AUBERT, Adriana; FLECHA, Ainhoa; GARCÍA, Carme; FLECHA, Ramón;

RACIONERO, Sandra. Aprendizagem dialógica na sociedade da informação. São Carlos:EDUFSCar, 2016.

BRAGA, Fabiana Marini; GABASSA, Vanessa; MELLO, Roseli Rodrigues de.

Aprendizagem dialógica: ações e reflexões de uma prática educativa de êxito para

todos(as). São Carlos: EdUFSCar, 2010.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 2011.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.

FREIRE, Paulo; NOGUEIRA, Adriano. Que fazer. Teoria e prática em educação popular. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

FREIRE, Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002. LIMA, Telma Cristiane Sasso de. & MIOTO, Regina Célia Tamaso. Procedimentos

Metodológicos na construção do conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica.

Revista Katál. Florianópolis, v.10, 2007.

SALVADOR, Angelo Domingos. Métodos e técnicas de pesquisa bibliográfica. Porto Alegre: Sulina, 1986.

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