• Nenhum resultado encontrado

CULTIVO DE PEIXES NA TERRA INDÍGENA RIO DAS COBRAS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "CULTIVO DE PEIXES NA TERRA INDÍGENA RIO DAS COBRAS"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

CULTIVO DE PEIXES NA TERRA INDÍGENA RIO DAS COBRAS

Tecnologia e Produção Coordenador da atividade: Betina MUELBERT1 Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)

Autores: Vera Maria ROSSIGNOL2, Ana Cláudia Miranda ROSA3, Paulo Bezzera BARROS4, Geovani Souza DIAS5, Maude Regina de BORBA6

Resumo

A realização do presente projeto, em continuidade a ações realizadas pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), junto a Terra Indígena Rio das Cobras busca introduzir a piscicultura como atividade produtiva. Além do manejo de seis açudes implantados em sistema de policultivo em três comunidades, são realizados cursos de formação com a temática da produção sustentável de peixes para estudantes de ensino médio. Busca-se promover o cultivo de peixes como ferramenta para a segurança alimentar e nutricional desta comunidade. O projeto tem proporcionada uma troca de saberes tradicionais e técnicos, entre os membros da Terra Indígena Rio das Cobras e da comunidade acadêmica e contribuído para a formação acadêmica dos estudantes do curso de Engenharia de Aquicultura da UFFS.

Palavra-chave: piscicultura; policultivo; capacitação.

Introdução

Os povos originários do Brasil somam 305 grupos étnicos e uma população em torno de 896.000 indígenas sendo que no Paraná são 25.000 pessoas vivendo em 32 Terras Indígenas (IBGE, 2012). Destas, a Terra Indígena (TI) Rio das Cobras tem sido um local de atividades de extensão da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), campus Laranjeiras da Sul desde 2010. Em 2014, projetos com a temática da piscicultura tiveram início como consequência da demanda apresentada pela comunidade. O peixe é um dos 1 Betina Muelbert, servidora docente curso de Engenharia de Aquicultura e Mestrado em

Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável.

2 Vera Maria Rossignol, aluna, curso de Mestrado em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável.

3 Ana Cláudia Miranda da Rosa, aluna, curso de Engenharia de Aquicultura. 4 Paulo Bezerra Barros, aluno, curso de Engenharia de Aquicultura.

5 Geovani Souza Dias, aluno, curso de Engenharia de Aquicultura.

6 Maude Regina de Borba, servidora docente, curso de Engenharia de Aquicultura e Mestrado em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável

(2)

produtos alimentares essenciais para os indígenas que tradicionalmente sobreviviam da pesca, da caça e da coleta de alimentos. No entanto, as capturas de peixes nos rios diminuíram devido, entre outros fatores, à poluição da água.

A população da reserva do Rio das Cobras é de aproximadamente três mil pessoas que vivem em oito comunidades Kaingang e duas Guarani Mbya, com sete escolas e em torno de 1.500 estudantes (Cornélio, 2017). Assim como outras reservas, a terra é de uso coletivo e propriedade do estado. A população enfrenta dificuldades para atender às necessidades básicas sendo a produção de alimentos escassa. A renda dos moradores vem do artesanato, serviços de produção agrícola e assistência governamental. Mineiro (2017) estudou a alimentação escolar na TI Rio das Cobras e verificou que é servido um peixe importado, comprado congelado pelo governo. Esta autora também demonstrou que os hábitos alimentares têm foram alterados ao longo dos anos e os alimentos processados comprados nos mercados tornaram-se comuns na vida diária.

Desse modo, a produção de peixes em açudes (piscicultura) pode ser uma opção para suprir a demanda de pescado da comunidade. Esta atividade tem sido apontada como eficaz no combate a fome e na geração de alimentos de qualidade (Kubitza e Ono, 2010). O objetivo deste projeto é introduzir a criação de peixes como um elemento que contribua na segurança alimentar, aumentando o consumo e possibilitando que jovens dessas comunidades aprendam e compartilhem práticas de manejo. Também, busca-se fortalecer tanto o dialogo intercultural entre universidade e comunidade indígena, como a formação acadêmica dos estudantes envolvidos. O projeto é desenvolvido com apoio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica para o Ensino Médio do CNPq (PIBIC-EM/ CNPq); Bolsa de Inclusão Social - Extensão Universitária (PIBIS- Fundação Araucária) e do Núcleo de estudos em aquicultura com enfoque agroecológico – AquaNEA/Projeto Implantação do Centro Vocacional Tecnológico em Agroecologia e produção Orgânica na Região da Cantuquiriguaçu, PR- Chamada MCTI/MAPA/SEAD/MEC/CNPq - Nº 21/2016

Metodologia

O projeto é uma continuidade do Programa de Extensão “Aquicultura nas Terras Indígenas da Cantuquiriguaçu: valorização e diálogos interculturais” PROEXT MEC (2015-2016) e vem sendo desenvolvido na Terra indígena Rio das Cobras, município de Nova Laranjeiras, PR (25°18'S e 52°36 'W) desde 2017. A composição da equipe envolve professores, técnicos e acadêmicos do curso de Engenharia de Aquicultura e do Mestrado em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável bem como alunos e professores de

(3)

ensino médio do Colégio Estadual Indígena Rio das Cobras, membros da Associação Comunitária Indígena Rio das Cobras e da Fundação Nacional do Índio. As atividades são divididas em duas frentes: cultivo de peixes em açudes e cursos de capacitação e são desenvolvidas em um diálogo contínuo com a comunidade por meio de reuniões regulares no campus da universidade ou na Terra Indígena, para definição de metas, troca de ideias e planejamento das ações.

Foi implantado um sistema de policultivo com peixes em seis viveiros escavados em três comunidades: Trevo, Sede e Encruzilhada (Tabela 1). O policultivo é composto de diferentes espécies e hábitos alimentares: onívoros, herbívoros e filtradores., entre eles jundiá (Rhamdia quelen), curimba (Prochilodus lineatus), pacu (Piaractus mesopotamicus), piapara (Leporinus elongatus), carpa comum (Cyprinus carpio), carpa capim (Ctenopharingodon idella), carpa cabeça grande (Hypophthalmichtys nobilis) e tilápia nilótica (Oreochromis niloticus) (Figura 1A). Este sistema beneficia as espécies sinergicamente e melhora a ciclagem de nutrientes no ambiente bem como ocorre interações permitindo uma maior utilização de alimentos naturais disponíveis ambiente de cultivo.

Tabela 1- Característica do policultivo de peixes realizados nos viveiros nas comunidades Trevo, Sede e Encruzilhada da Terra Indígena Rio das Cobras, Nova Laranjeiras, PR.

Comunidade Área do viveiro (m2) Espécies

Trevo 3000 Jundiá, carpa capim, piapara e pacu

Sede

2000 – Produção em sistema orgânico

Jundiá, carpa capim, carpa comum, tilápia e curimbatá

4200 Jundiá, carpa capim, carpa comum, cabeça grande, piapara e pacu

2200 Jundiá, carpa capim, carpa comum, cabeça grande, piapara e pacu

Encruzilhada

1500 Jundiá, curimbatá, lambari, carpa comum, carpa capim, carpa cabeça grande

2000 Jundiá, carpa capim, carpa comum, cabeça grande, pacu, curimba e tilápia

Paralelamente as atividades de manejo dos viveiros, são realizados cursos de capacitação em piscicultura com alunos do ensino médio do Colégio Estadual Rural Rio das Cobras (Figura 1B). Os cursos estão estruturados em módulos teórico-práticos sobre

(4)

temas básicos de piscicultura como espécies adequadas ao cultivo, anatomia e fisiologia de peixes, qualidade de água, nutrição e piscicultura agroecológica.

Desenvolvimento e processos avaliativos

Em relação ao manejo dos viveiros, a densidade de estocagem média é de 1 peixe.m-² com uma produção esperada em torno de 0,3 kgm-², caracterizando um sistema semi-intensivo. A estocagem se dá em sistema contínuo, realizada anualmente, sem despesca final com esvaziamento dos açudes a cada dois anos. Em cinco açudes os peixes são alimentados suplementarmente com ração comercial, fornecidas pelos dois estudantes bolsistas do ensino médio, seis vezes por semana. Eles também analisam semanalmente os parâmetros de qualidade da água dos viveiros: temperatura, amônia, pH, dureza e transparência. A área total dos viveiros é de 1,5 ha de lâmina de água.

Em um dos viveiros da comunidade Sede foi implantando um sistema de produção de peixes orgânico. Para tanto a regulamentação brasileira da aquicultura orgânica IN 28/2011 (BRASIL, 2011) estabelece o uso de policultivo de espécies e que os organismos aquáticos devem receber alimentação orgânica proveniente da própria unidade de produção ou de outra em sistema de produção orgânico. Neste açude os peixes não são alimentados com ração. São realizadas fertilizações periódicas com adubo orgânico para incrementar itens alimentares produzidos naturalmente no ambiente aquático.

O diálogo da equipe com as lideranças locais ocorre em todos os momentos, desde a definição de estratégias alimentares dos açudes e até como efetivar a distribuição dos peixes, com o objetivo de fomentar o consumo na comunidade. Assim, a pesca é liberada esporadicamente durante o ano e uma vez ao ano é realizado torneio de pesca para integração com a comunidade e estimular o consumo de peixe.

A preparação dos cursos ministrados é de responsabilidade dos estudantes de Engenharia de Aquicultura, supervisionados por alunos do Mestrado em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável e docentes. Os conteúdos são apresentados de forma simples e de fácil compreensão. As aulas são quinzenais com carga horária de 2h e envolvem em torno de 30 indígenas, totalizando 20h por semestre.

(5)

Figura 01 – Espécies de peixes do sistema de policultivo implantado na TI Rio das Cobras (A) e curso de formação em piscicultura para alunos de ensino médio (B).

A

B

A participação dos estudantes bolsistas e voluntários nas etapas do sistema de cultivo (preparação dos açudes, estocagem das formas jovens, arraçoamento, análise de água), na preparação dos cursos e reuniões são elementos importantes na formação acadêmica. Também regularmente são promovidas palestras com especialistas sobre temáticas relacionadas ao projeto, entre elas: “Legislação e a questão indígena”; “Noções de Cultura, identidade e diferença” e “Perspectivas de Ensino, Pesquisa e Extensão em Agroecologia no Brasil”.

Algumas dificuldades ocorrem no decorrer da execução projeto. Houve alteração no cronograma com a prorrogação da estocagem das formas jovens de peixes em função de adequação dos açudes resultando em atraso no início do período de cultivo. A logística de transporte da equipe para a Terra Indígena, que dista 30 km do campus, em alguns momentos foi prejudicada devido à indisponibilidade de veículo ou questões climáticas como fortes chuvas. Também, não está sendo possível mobilizar o número de indígenas previstos para as capacitações nos diversos módulos do curso. A sensibilização para participação é de responsabilidade dos estudantes bolsistas e dos professores coorientadores e infelizmente o número de participantes tem sido menor do que o esperado.

Considerações Finais

O projeto tem permitido troca de saberes tradicionais e técnicos, entre os membros da Terra Indígena Rio das Cobras e da comunidade acadêmica. Durante os anos do projeto são enfrentadas algumas limitações de comunicação, logística e recursos. Porém, o trabalho tem repercutido um maior envolvimento da comunidade indígena no cultivo de

(6)

peixes, de modo a contribuir para uma alimentação, bem como, apresentar estratégias futuramente, como alternativa de renda.

Diante do exposto, espera-se a continuidade de ações de extensão com a expansão no número de açudes e cursos de formação para outras comunidades buscando a autonomia na produção de peixes nesta Terra Indígena.

Referências

BRASIL, INSTRUÇÃO NORMATIVA INTERMINISTERIAL nº 28 de 08 de junho

de 2011. Estabelece Normas Técnicas para os Sistemas Orgânicos de Produção

Aquícola.

Diário Oficial da União, Brasília, 09 de junho de 2011, n 110, Seção 1, p. 4. 2011

CORNÉLIO, I. Resíduos sólidos domésticos na Terra Indígena Rio das Cobras. Dissertação de Mestrado (Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável). Universidade Federal da Fronteira Sul, Laranjeiras do Sul, 2017. Disponível em: https://rd.uffs.edu.br/handle/prefix/1978. Acesso em: 30 abr 2019.

IBGE. Características Gerais dos Indígenas. Resultados do Universo. Censo

Demográfico 2010. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2012. KUBITZA, F.; ONO, F. Piscicultura familiar como ferramenta para o

desenvolvimento e segurança alimentar no meio rural. Panorama da Aquicultura, Rio

de Janeiro, v. 20, n. 117, p. 14-23, jan/fev., 2010.

MINEIRO, S. K. O papel do ambiente escolar na cultura alimentar Kaingang: o caso

da terra indígena Rio das Cobras - PR. Dissertação de Mestrado (Agroecologia

e Desenvolvimento Rural Sustentável). Universidade Federal da Fronteira Sul, Laranjeiras do Sul, 2017. Disponível em: https://rd.uffs.edu.br:8443/handle/prefix/1657. Acesso em: 30 abr 2019.

Referências

Documentos relacionados

Este dado diz respeito ao número total de contentores do sistema de resíduos urbanos indiferenciados, não sendo considerados os contentores de recolha

De forma a sustentar esta ideia, recorro a Costa et.al (1996, p.9) quando afirmam que “A aprendizagem da profissão docente não principia com a frequência de um

I: hum hum.. 125 M: A forma como intarigir com eles… Saber estar com eles, e essa foi uma das maiores lições. Sabermos nós, saber lidar com eles. Ah, conhece-los mais. No âmbito

Assim, este trabalho apresenta uma abordagem que tem como objetivo principal: (i) analisar a cobertura de código levando em consideração os fluxos de chamadas existentes no sistema

riáveis visuais para construção da legenda e sua aplicação no mapa devem ressaltar as relações de diversidade visual existentes entre os dados, isto é, devem-se exaltar

a) AHP Priority Calculator: disponível de forma gratuita na web no endereço https://bpmsg.com/ahp/ahp-calc.php. Será utilizado para os cálculos do método AHP

Objetivo: Garantir estimativas mais realistas e precisas para o projeto, ao considerar nesta estimativa o esforço necessário (em horas ou percentual do projeto) para

Os Centros de Partos Normais foram pensados e criados com o objetivo de fornecer uma assistência humanizada e de qualidade às mulheres, garantindo sua participação ativa