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Agroecologia e educação: ações pedagógicas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST

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Academic year: 2021

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AGROECOLOGIA E EDUCAÇÃO: AÇÕES PEDAGÓGICAS DO

MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA – MST

Florianópolis – SC

(2)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOSSISTEMAS

AGROECOLOGIA E EDUCAÇÃO: AÇÕES PEDAGÓGICAS DO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA – MST

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Agroecossistemas, Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Santa Catarina.

Orientador: Prof. Dr. Clarilton Edzard Davoine Cardoso Ribas

Médico Veterinário DARIO FERNANDO MILANEZ DE MELLO

FLORIANÓPOLIS Novembro/2006

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FICHA CATALOGRÁFICA

Mello, Dario Fernando Milanez de

Agroecologia e educação: ações pedagógicas do movimento dos trabalhadores rurais sem terra – MST / Dario Fernando Milanez de Mello – Florianópolis, 2006.

116 f. : il., grafs., tabs.

Orientador: Clarilton Edzard Davoine Cardoso Ribas

Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas) – Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Agrárias.

Bibliografia: f.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOSSISTEMAS

AGROECOLOGIA E EDUCAÇÃO: AÇÕES PEDAGÓGICAS DO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA – MST

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. José Carlos Fiad Padilha - UFSC Profa. Dra. Célia Regina Vendramini – UFSC

Presidente Membro

Prof. Dr. Luiz Carlos Pinheiro Machado - UFSC Prof. MSc. Mário Luiz Vincenzi - UFSC

Membro Membro

Aprovada em: 30/11/2006.

Prof. Dr. Clarilton Edzard Davoine Cardoso Ribas Prof. Dr. Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho Orientador Coordenador do PGA

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AGRADECIMENTOS

À companheira amada Val, fonte de inspiração. Compreensiva e carinhosa. À minha família, especialmente meus pais, Lia e Chico sempre me incentivando a estudar. Minhas irmãs Lela e Gabi, carinhosas, que amo a minha maneira. As amigas Berna e Luiza pela prazerosa companhia.

À Ribas, orientador dedicado, paciente e compreensivo com minhas limitações.

À UFSC, ao coordenador do curso Prof. Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho, aos professores e professoras do programa. Especialmente, ao Prof. Luiz Carlos Pinheiro Machado, que esbanjando vitalidade, inspira a juventude a lutar por um Brasil melhor.

À Janete, exemplo de dedicação do servidor público brasileiro.

Aos colegas do mestrado, especialmente a colega e amiga Lu, pela companhia e atenção nos momentos de estudo e trabalho.

As companheiras e companheiros do MST, que com esforço e espírito de sacrifício, se empenham na construção de um projeto popular para o Brasil. Especialmente aqueles militantes que contribuem nos centros de formação e escolas de acampamentos e assentamentos, que encaram o trabalho com seriedade e firmeza apesar de todas as dificuldades. Fontes de inspiração e coragem.

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Os Homens da terra

Senhores Barões da terra Preparai vossa mortalha Porque desfrutais da terra E a terra é de quem trabalha Bem como os frutos que encerra Senhores Barões da terra

Preparai vossa mortalha. Chegado é o tempo de guerra Não há santo que vos valha: Não a espada contra a foice Não o fogo contra a pedra Não o fuzil contra a enxada: - União contra granada! - Reforma contra metralha! Senhores donos da Terra Juntais vossa rica tralha Vosso cristal, vossa prata Luzindo em vossa toalha. Juntais vossos ricos trapos Senhores Donos de terra Que os nossos pobres farrapos Nossa juta e nossa palha Vêm vindo pelo caminho Para manchar vosso linho Com o barro da nossa guerra: E a nossa guerra não falha! Nossa guerra forja e funde O operário e o camponês; Foi ele quem fez o forno Onde assa o pão que comeis Com seu martelo e seu torno Sua lima e sua torquês, Foi ele quem fez o forno Onde assa o pão que comeis. Nosso pão de cada dia

Feito em vossa padaria Com o trigo que não colheis; Nosso pão que forja e funde O camponês e o operário No forno onde coze o trigo Para o pão que nos vendeis Nas vendas do latifúndio Senhor latifundiário! Senhor Grileiro de terra É chegada a vossa vez A voz que ouvis e que berra

É o brado do camponês Clamando do seu calvário Contra a vossa mesquinhez. O café vos deu o ouro

Com que encheis vosso tesouro A cana vos deu a prata

Que reluz em vosso armário O cacau vos deu o cobre Que atirais no chão do pobre O algodão vos deu o chumbo Com que matais o operário: É chegada a vossa vez Senhor latifundiário!

Em toda parte, nos campos Junta-se a nossa outra voz Escutai, Senhor dos campos Nós já não somos mais sós. Queremos bonança e paz Para cuidar da lavoura Ceifar o capim que dá Colher o milho que doura, Queremos que a terra possa Ser tão nossa quanto vossa Porque a terra não tem dono Senhores Donos da Terra. Queremos plantar no outono Para ter na primavera

Amor em vez de abandono Fartura em vez de miséria. Queremos paz, não a guerra Senhores Donos de Terra ... Mas se ouvidos não prestais Às grandes vozes gerais Que ecoam de serra em serra Então vos daremos guerra Não há santo que vos valha: Não a foice contra a espada Não o fogo contra a pedra Não o fuzil contra a enxada: - Granada contra granada! - Metralha contra metralha! E a nossa guerra é sagrada A nossa guerra não falha!

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ... IV EPÍGRAFE ... V SUMÁRIO... VI LISTA DE TABELAS ... VIII LISTA DE GRÁFICOS... IX RESUMO... X ABSTRACT ... XI 1. INTRODUÇÃO ... 12 2. OBJETIVOS ... 18 2.1.Objetivo geral... 18 2.2.Objetivos específicos ... 18 3. REFERENCIAL TEÓRICO... 19

3.1.A crise socioeconômica estrutural e a impossibilidade dos aglomerados urbanos em assimilar contingentes oriundos do campo ... 19

3.2.O estado de emergência ambiental do planeta ... 24

3.2.1. O envenenamento planetário ... 27

3.3.A crise energética ... 31

3.4.A necessidade de mudança nos métodos de produção ... 37

3.5.Agroecologia ... 38

3.6. Educação ... 43

(8)

4. METODOLOGIA ... 51

4.1.Coleta de dados... 53

4.2.Amostra selecionada ... 54

4.3.Tabulação dos dados... 54

5. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO... 56

5.1.Movimento social camponês... 56

5.2.A concepção de educação no MST ... 65

5.2.1. Princípios filosóficos e princípios pedagógicos da educação no MST ... 66

5.2.2. Pedagogia do MST ... 68

5.3.Agroecologia e o MST ... 70

5.3.1. O MST e a construção de sua concepção de Agroecologia ... 75

5.3.2. Os cursos de formação ... 77

5.3.3. Educação formal em ciências agrárias ... 77

5.3.4. A base curricular dos cursos orientados por uma perspectiva agroecológica ... 79

5.4.Análise e interpretação dos dados coletados ... 81

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 98

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 101

ANEXO 1... 108

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Evolução do volume financeiro movimentado no mercado de agrotóxicos no Brasil, por produtos comerciais (em mil dólares). ...30

Tabela 2. Produção mundial de energia por fonte primária (1970-2004). ....35 Tabela 3. Relação de cursos, turmas e localização nas unidades da federação dos cursos promovidos pela Frente de Formação Técnico-Formal do SPCMA. ...79

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1. População, produção de energia e consumo de energia dos EUA em relação ao mundo...36 Gráfico 2. Produção e consumo de energia por região. ...37 Gráfico 3. Tenho algum conhecimento sobre a revolução verde. ...82 Gráfico 4. A revolução verde aumentará a produção de alimentos e possivelmente resolverá o problema da fome no mundo. ...83

Gráfico 5. Somente é possível aumentar a produção e produtividade utilizando-se o s critérios da revolução verde...84

Gráfico 6. Deve-se utilizar defensivos e adubos químicos na agricultura. ...85 Gráfico 7. É necessário o uso de produtos químico-industriais na agricultura moderna. ...86

Gráfico 8. A revolução verde trouxe mais benefícios do que prejuízos a sociedade e ao ambiente. ...87

Gráfico 9. Conheço o fenômeno chamado “descongelamento das calotas polares”. ...88

Gráfico 10. Conheço o fenômeno chamado “efeito estufa”. ...89 Gráfico 11. Conheço o fenômeno chamado “aquecimento global”. ...90 Gráfico 12. Os três fenômenos anteriores não representam maiores riscos para o planeta. ...91

Gráfico 13. Os três fenômenos anteriores, mais o envenenamento dos rios, a erosão e o empobrecimento do solo não possuem relação com a revolução verde. . ...92

Gráfico 14. O grande objetivo da revolução verde foi enriquecer um grupo de empresas que produzem e comercializam os insumos agrícolas. ...93 Gráfico 15. Conheço a diferença entre aumento da produção e aumento da produtividade. ...94 Gráfico 16. É possível aumento da produção e da produtividade sem a utilização dos insumos químicos da Revolução Verde...95

Gráfico 17. É possível um certo aumento da produção e da produtividade com a utilização dos insumos da própria natureza, mas jamais nos níveis de produção e produtividade que se poderia obter utilizando-se dos produtos químicos da revolução verde. ...96

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RESUMO

O trabalho se propõe a examinar o conteúdo das concepções e práticas de ensino vinculadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, bem como seu efeito na formação de jovens agricultores que freqüentam um curso de ensino médio conduzido pelo MST, comparativamente ao ensino oferecido por uma Escola Técnica Federal, ambos no estado do Rio Grande do Sul. Foram realizadas entrevistas para avaliar, em que grau, os dois grupos conhecem e estão comprometidos com os conceitos e práticas orientadas pela agroecologia, bem como se o ensino ao qual esses educandos são submetidos pode transformar sua visão de mundo, em direção a práticas produtivas não agressivas ao ambiente e à sociedade. Conclui-se que a ação pedagógica levada pelo MST é bastante diferenciada do ensino convencional; a sua práxis tende a dotar os estudantes de uma visão bem mais crítica quanto aos processos produtivos orientados pela Revolução Verde, bem como os induz a assumir uma postura igualmente crítica e transformadora da realidade.

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ABSTRACT

This work aimed at examining the concepts and teaching practices associated with Brazil’s Landless Workers Movement - MST, as well as its effects on the

formation of the young farmers that attend the regular high school managed by

MST, in contrast with a course offered by a Federal Technical High School, also in Rio Grande do Sul State. Interviews were carried out with each group to compare their knowledge of and commitment with the concepts and practices of agroecology, and whether the kind of teaching to which each group of students is submitted can to transform their world vision towards production practices that don’t affect the environment and society. It was possible to conclude that the pedagogic approach adopted by MST differs substantially from the conventional practices; it’s conception provides the students with more critical views of the production processes oriented by the Green Revolution, stimulating them to adopt a posture critical and reality transforming.

(13)

1. INTRODUÇÃO

A presente fase da história da humanidade é marcada por um conjunto de impasses. Estes impasses revelam, sobretudo, a incapacidade demonstrada pelos seres humanos em transformar o desenvolvimento científico e tecnológico, atingido em proporções inauditas, em bem-estar e qualidade de vida para um número maior de pessoas. Precisamente, esta é a grande contradição da agenda da humanidade: de um lado a ciência e a técnica com um desenvolvimento explosivo, exponencial, especialmente no após Segunda Guerra Mundial, de outro, a agudização da fome, endêmica em continentes inteiros, a opressão, as guerras.

Parece haver um certo consenso no fato de que a solução dos problemas que assolam a humanidade, do ponto de vista das suas necessidades materiais de reprodução social, estão tecnicamente resolvidos. O homem venceu um desafio fundamental: logrou desenvolver a ciência e a técnica a ponto de resolver, potencialmente, seus problemas materiais. Entretanto, este desenvolvimento vem acompanhado do paradoxo que contrariamente ao desenvolvimento da ciência ter se traduzido em melhores condições de vida para humanidade, observa-se o oposto daquilo que deveria ser uma marcha razoável ou compatível com este desenvolvimento. Tem-se a impressão de haver um elo perverso entre estas duas questões: parece que quanto mais ciência e técnica se desenvolvem, mais os humanos se distanciam da solução de seus mais agudos problemas.

(14)

Entre as manifestações mais evidentes deste paradoxo, três feixes de fenômenos se destacam como centrais para a introdução ao debate que este trabalho pretende fazer:

• a questão da matriz energética;

• a questão da crise ambiental que assola o planeta; e,

• a questão dos métodos de produção, tomados como fundamentos de relações sociais mais amplas.

É razoável afirmar que estas três questões encontram-se relacionadas intimamente e, ainda, são determinadas por uma questão ainda mais ampla que é a organização das relações políticas entre os homens, notadamente no esquema que rege a produção e a distribuição da riqueza.

A matriz energética produtiva, que põe em movimento a economia e o modo de vida contemporâneos, está assentada, numa grande medida, no uso dos combustíveis fósseis, desde o século XVIII. Inicialmente o carvão possuía um papel de destaque, mais tarde superado pelo petróleo, ainda a fonte mais importante, em que pese uma infinidade de alternativas energéticas em uso ou desenvolvimento. A corrida por estas novas possibilidades energéticas encontra-se no centro das preocupações humanas no atual estágio econômico. Contudo, aparentemente as alternativas até então encontradas, não tem demonstrado capacidade de substituir, com o mesmo grau de eficiência o óleo fóssil, notadamente tendo-se em mente o padrão de produção e consumo vigentes.

O constante crescimento da demanda energética vem sendo promovido pelo crescimento da economia mundial, que, por conseguinte, tem elevado às taxas de

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exploração dos recursos naturais até muito próximo do limite que a natureza é capaz de produzir.

Agregue-se, a este fato, os efeitos ambientais promovidos pela queima intensiva de petróleo, entre os quais o aquecimento global em função das altas taxas da emissão de gases poluentes parece ser a manifestação mais alarmante. Nos últimos anos, vários desastres ambientais vêm ocorrendo e especialistas, frequentemente os têm vinculado a conseqüências da degradação ambiental.

Brown (2003) assinala que na década de 1970 as preocupações ambientais centravam-se na diminuição das florestas, no desaparecimento das espécies, na erosão dos solos e na expansão dos desertos. Presentemente estes desafios são em maior número e mais intensos, uma vez que incluem a destruição da camada de ozônio, o aumento de dióxido de carbono na atmosfera, elevação da temperatura, desaparecimento de rios, diminuição de lençóis freáticos, derretimento de geleiras e morte de recifes de coral, entre outros efeitos cuja superação desafia as capacidades de recomposição da natureza. Em outras palavras, lidamos com uma crise planetária assentada na relação natureza e sociedade.

As duas questões precedentes –energética e ambiental, a serem desenvolvidas adiante - articulam-se no âmbito da terceira, que respeita aos métodos de produção e de consumo, como matrizes de relações sociais mais amplas, ou seja, como um sistema produtor de mercadorias que fundamenta o funcionamento de toda uma idade histórica.

A reprodução desta forma de organização da sociedade enfrenta, ela também, graves impasses a partir da década de 70, com a erosão do modelo que se convencionou chamar de estado de bem estar social. A crise vivida pela formação

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social capitalista neste início de milênio, cujas origens datam de cerca de 30 anos antes, combina um conjunto de fatores (preço do petróleo, intensas movimentações operárias dos anos setenta/oitenta exigindo mudanças no padrão de acumulação, somadas a uma aguda crise de fiscalidade, entre outros) determinaram o virtual esgotamento no então conhecido “welfare-state”. Sobrevém-se a esta crise uma retomada do ideário econômico neoclássico no que se convencionou chamar de neoliberalismo.

Borón (2001) sugere o advento desta mudança de rumos como sendo uma “reestruturação regressiva em escala planetária”, dotada das dimensões sumarizadas abaixo:

• uma avassaladora tendência de mercantilização de direitos e prerrogativas dos de baixo, conquistadas ao longo de muitas décadas, não sem muita luta política. Daqui para a frente estes direitos não só são negados como são convertidos em mercadorias disponíveis no mercado;

• a sobreposição do mercado sobre o estado, qualificando este de ineficiente, perdulário, corrupto, ao mesmo tempo em que aquele é apresentado como o alocador de recursos mais eficaz e racional que a sociedade foi capaz de construir em todos os tempos;

• a construção de um senso comum neoliberal, segundo o qual não há alternativas à este modo de organizar a economia e a sociedade (consenso construído a partir do célebre vaticínio da Sra. Tatcher, quando afiançava, ainda em 1981, “there is no alternative”).

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Evidentemente que bilhões de dólares são gastos na mídia para operar uma longa lavagem cerebral, cujo objetivo é fazer, na mentalidade da média das pessoas, a construção ideológica necessária à implementação destas políticas. Segundo o mesmo autor, isto caracteriza a vitória no plano da política e da ideologia do “consenso neoliberal”;

Estas três grandes questões se articulam reciprocamente em uma atividade humana central: a produção de alimentos e, mais especificamente, a agricultura na qual se localiza uma parcela significativa de responsabilidade perante estas questões. Esta responsabilidade, está intimamente ligada, a pelo menos duas questões. A primeira, a questão agrária e, a segunda, o modelo produtivo hegemônico estabelecido, baseado na agricultura convencional (a revolução verde), intensiva na utilização de máquinas e de insumos de síntese química. Não há como desconsiderar o fato de que as possíveis respostas aos impasses promovidos por esta modalidade de produção implicam ações no campo da ciência e da tecnologia, mas, em igual importância, no campo da educação para a necessária revolução produtiva que necessita a agricultura humana.

O objetivo deste trabalho é estudar esta questão, especialmente, como, de que forma, com quais limites e se as ações educacionais no âmbito do campo podem contribuir para superar a hegemonia do atual modelo produtivo.

Para isto, pretende-se privilegiar, como foco desta dissertação, os processos de educação em curso no âmbito dos movimentos sociais populares do campo, com o objetivo de examinar o seguinte problema de pesquisa:

“Como e em que medida as ações educacionais, no campo da educação formal na modalidade de ensino profissionalizante contribuem na formação de

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sujeitos capazes de promover a mudança dos métodos de articular trabalho e natureza e, por conseqüência, as relações complexas existentes entre produção, ambiente e sociedade”

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2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo geral

Iniciar um processo para verificar se e em que medida as ações pedagógicas de âmbito formal, na modalidade de educação de jovens e adultos, ensino médio profissionalizante, especificamente as orientadas pedagogicamente pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, pela sua concepção de agroecologia, tem condições de proporcionar transformações na realidade produtiva dos assentamentos de reforma agrárias ligados a este movimento social.

2.2. Objetivos específicos

- Levantar e analisar as ações pedagógicas desenvolvidas pelo MST; - Verificar as potencialidades e limites destas ações pedagógicas;

- Mensurar o potencial de abrangência destas ações frente a determinação de massificação da proposta agroecológica do MST;

- Verificar em que medida estas ações concorrem as transformações nas práticas produtivas e na concepção de mundo dos educandos;

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3. REFERENCIAL TEÓRICO

Nas notas teóricas que se seguem, a noção central é a de não haver dissociação entre as questões da matriz energética, ambiental e da organização das relações políticas entre os homens e ainda, que estas se encontram intimamente associadas, mutuamente dependentes. Serão tratadas separadamente, unicamente por uma opção metodológica.

3.1. A crise socioeconômica estrutural e a impossibilidade

dos aglomerados urbanos em assimilar contingentes

oriundos do campo

O período contemporâneo, vive uma agonia socioeconômica mundial, imposta pelas relações sociais determinadas pelo sistema econômico, dividindo o mundo entre “privilegiados” e “desprivilegiados”. Rousseau (1996) no século XVII, já havia denunciado que: “as leis são sempre úteis para aqueles que possuem algo e prejudiciais para aqueles que nada tem”.

Parece haver um consenso entre os estudiosos de que há em alguns setores da vida humana associada, alguns avanços especificamente no que se refere ao acesso a água tratada, moradia, alfabetização entre outros. No entanto, é preciso assinalar que se trata de indicadores pontuais a cerca do desenvolvimento humano.

Desta forma, entende-se que se deva analisar o comportamento destes indicadores de desenvolvimento humano, determinando em que medida eles

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concorrem para anulação das desigualdades sociais, como por exemplo, acesso à renda, ao consumo e aos confortos da vida moderna. Mesmo tratando-se de indicadores estritamente economicistas, na atual ordem, são os principais instrumentos para medir a qualidade das relações entre as pessoas.

Vejamos o que diz a Organização das Nações Unidas (ONU) em seus recentes relatórios sobre o desenvolvimento humano:

A desigualdade mundial é muito elevada. Em 1993, os 10% mais pobres da população mundial tinham apenas 1,6% do rendimento dos 10% mais ricos. O 1% mais rico da população mundial recebeu tanto rendimento como os 57% mais pobres. Os 10% mais ricos da população dos Estados Unidos (cerca de 25 milhões de pessoas) tinham um rendimento conjunto maior do que o rendimento dos 43% mais pobres da população mundial (cerca de 2 bilhões de pessoas). Cerca de 25% da população mundial recebia 75% do rendimento mundial. (PNUD1, 2001)

No mesmo relatório, encontra-se que com a medida da taxa de câmbio, o rácio do rendimento entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres cresceu de 34 para 1, em 1970, para 70 para 1, em 1997.

Seguindo o conteúdo dos relatórios da ONU,

Os 5% das pessoas mais ricas do mundo tem rendimentos 114 vezes superiores aos dos 5% mais pobres. Quanto a privação de rendimento 1,2 bilhões de pessoas vivem com menos de 1 dólar por dia ou 2,8 bilhões de pessoas ainda vivem com menos de 2 dólares por dia. (o que representa quase a metade da população mundial). (PNUD, 2002)

Estes números parecem ser suficientes para indicar, em grande medida, uma involução em escala planetária da justiça entre os homens. No entanto, a

1

(22)

Organização das Nações Unidas costuma fazer acompanhar de seus relatórios, um conceito de liberdade cultural. A liberdade seria dada pela capacidade que as pessoas teriam de viver e ser o que escolhessem (PNUD, 2004).

Consideramos de escassa sustentação esta afirmação da ONU, na medida em que parece razoável concluir que a grande maioria das pessoas não tem condições sociais ou econômicas de estabelecer escolha quaisquer. Já que, liberdade, tem que ser necessariamente associada à possibilidade real e concreta de exercê-la. Ou seja, diante de duas alternativas, a liberdade é dada pela medida em que se pode fazer a opção por uma e torná-la concreta. Portanto esta expressão da ONU, sugere mais uma manifestação de desejo do que realidade concretamente identificável entre os homens.

Aqui, é necessário recorrer novamente ao PNUD (2003), onde aponta que uma estimativa fiável diz que 70% das pessoas mais pobres do mundo vivem em áreas rurais e dependem da agricultura.

Assim, se a própria ONU considera, que 70% das pessoas mais pobres do mundo vivem em áreas rurais e dependem da agricultura, parece evidente a necessidade de se criar políticas públicas e, de ampliar as já existentes, voltadas para melhoria das condições de vida e de trabalho destas populações, já que as políticas presentemente em curso têm dado demonstrações suficientes de sua incapacidade para resolver estes problemas.

A transferência de populações rurais para os centros urbanos, é uma tendência imanente da idade moderna, da era burguesa. Todos os indicadores históricos, sem nenhuma exceção apontam isso. Pode-se recorrer a dados desde o século XVII que estes demonstram esta tendência. Isto por necessidade da

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construção de uma nova forma de organizar a sociedade, a sociedade capitalista industrial ocidental.

Este processo, aparentemente inexorável de transferência de populações camponesas para as cidades, precisa voltar para o centro do debate. O modo contemporâneo de produção de mercadorias, não mais precisa destes contingentes. A ciência e a técnica, no seu estágio atual de desenvolvimento, determinaram a possibilidade real de aumento da produção, aumento da riqueza, com decréscimo no número de trabalhadores, no processo histórico de substituição de trabalho vivo por trabalho morto.

O grande desafio colocado no início do milênio é, não só estancar este processo histórico, que parece ser irresistível, como fazer um profundo debate sobre sua reversão. Isto é seguramente um dos problemas mais sensíveis da agenda política da humanidade nos tempos atuais.

Os bolsões urbanos, têm recebido centenas de milhares de pessoas oriundas do campo por diversos motivos. O “fenômeno da favelização” mundial é uma realidade presente em quase todos os países. No mundo, são mais de um bilhão de pessoas que sobrevivem em favelas sem as mínimas condições humanas de vida e dignidade. Somente no Brasil, são mais de 53 milhões de favelados, o que representa mais de um quarto da população brasileira (IBGE, 2005).

O conhecido Consenso de Washington, documento produzido pelos representantes dos países do capitalismo central, balizou a doutrina do neoliberalismo que viria a orientar as reformas sociais nos anos de 1990. É neste cenário que emerge a noção de globalização carregada, ideologicamente, por um sentido positivo. Ao contrário da perspectiva internacionalista do ideário socialista,

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de uma igualdade substantiva perante o acesso aos bens econômicos, culturais e simbólicos, a noção de globalização traz uma inversão daquilo que sustentou o chamado “estado de bem estar social”, reconduzindo a agenda da economia e da política às teses mais caras ao liberalismo econômico.

Mészáros (2002), define esta realidade como o “fim da capacidade civilizatória do capital”, para designar que agora, para manter as taxas históricas de exploração, o capital tem que destruir um a um, os direitos conquistados no contexto das políticas do “welfare state”.

A história já demonstrou que os problemas que assolam a humanidade não podem, tampouco serão resolvidos pelo simples desenvolvimento do capital ou mesmo da tecnologia. Há muito a humanidade produz mais do que necessita e, mesmo assim, a fome continua assombrando considerável parcela da humanidade. A FAO, organismo das nações unidas para alimentação e agricultura, indica em seus levantamentos que se o progresso global continuar com sua velocidade atual, levarão mais 130 anos para acabar com a fome. Entretanto, a própria FAO (2004), em seu relatório anual sobre a insegurança alimentar mundial, aponta que 852 milhões de pessoas sofrem de fome crônica no mundo, isto representa quase um sexto da população mundial.

Os dados de produção, somente de cereais, apontam a soma de 346 kg por habitante por ano. São mais de 180 kg por habitante e por ano de trigo e arroz (FAO, 2004a), o que sem sombra de dúvidas apresenta inclusive excedentes para população humana.

Solis e Ribeiro (2003, p. 134), afirmam o seguinte: “quem tem menos, morre mais!”, sinalizando que as pessoas de menor renda sofrem mais as mazelas da

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saúde. Esses autores dizem ainda: “a população não vivia o suficiente para morrer de velhice” e apontam o binômio trabalho-moradia como a principal causa mortis.

3.2. O estado de emergência ambiental do planeta

A origem da atual crise ecológica remonta ao modo de desenvolvimento industrial conduzido, sem outro critério de julgamento, a não ser o da rentabilidade e reprodução do capital investido. A “legitimidade” é assegurada pela ideologia segundo a qual o crescimento da produção e do consumo seriam sinônimo da melhoria do bem-estar e qualidade de vida que todos os habitantes do planeta gozarão em maior ou menor prazo.

O secretário geral da ONU, Kofi Annan (2001), considera que a biodiversidade, juntamente com a água, a energia, a saúde e a agricultura, são as cinco áreas prioritárias. Atente-se a um trecho da mensagem expressa , por ocasião do dia internacional da diversidade biológica:

"A biodiversidade é um dos tesouros mais preciosos da humanidade. Cabe a cada geração a pesada responsabilidade de salvaguardar as espécies e ecossistemas do mundo - de tratá-los e usá-los da uma maneira sustentável e de guardá-los para as gerações futuras. Contudo, os cientistas confirmaram um declínio generalizado do estado deste legado da natureza. As necessidades crescentes de recursos, exacerbadas por uma multiplicidade de fatores políticos e econômicos que nos incentivam a explorar sistemas com vista a obter benefícios a curto prazo, estão a prejudicar o mundo a longo prazo, podendo vir a ter efeitos devastadores no desenvolvimento humano. [...]"

Nota-se a preocupação expressada na mensagem, e que se faz presente em outros documentos da ONU, acerca da diversidade biológica e das conseqüências deletérias que esta vem sofrendo. Contudo, limita-se a criticar o uso exacerbado dos

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recursos naturais, sem abordar as causas deste uso exacerbado, atribuindo-lhes, simplesmente a “necessidades”.

As diferentes abordagens acerca da emergência ambiental que vive o planeta, apontam para a necessidade de mudança dos métodos de produção2. Como tentativa de resposta a este quadro surgem movimentos preservacionistas, entidades de proteção da natureza e, mesmo, disciplinas acadêmicas concebidas para encontrar respostas a estes desafios como é o caso da economia ambiental e economia ecológica. Entretanto, tanto uma como a outra, apresentam uma abordagem inconsistente e insuficiente das causas. Ambas, em seus respectivos discursos, deixam a entender que desconsideram a mediação dada pelas relações sociais à relação entre homem e natureza. E, limitam-se a proposições técnicas para superação dos problemas ambientais (FOLADORI, 2001, 2005; CHESNAIS e SERFATI, 2003).

A economia ambiental, se limita a propor a privatização das externalidades3. Enquanto a economia ecológica acredita, especialmente, que a economia adotando as leis da termodinâmica, estaria por resolver seus problemas ambientais. Ambas, se esquecem das relações implicadas e de que o mercado, no modo de produção capitalista, é pautado pela necessidade de reprodução do capital a termos crescentes (SOUZA-LIMA, 2004).

2

Entende-se por método de produção o conjunto de técnicas e das relações existentes em um sistema produtivo qualquer. Neste caso, enfatiza-se, especialmente os sistemas agrários e aqueles envolvidos diretamente com as questões ambientais. Esta categoria é melhor discutida no item 3.4 do presente trabalho.

3

Externalidade é uma categoria da economia, trata-se de uma situação em que uma ação individual de um agente econômico afeta diretamente outros agentes, trazendo para eles consequências benéficas ou maléficas em relação à sua condição anterior.

(27)

A abordagem sistêmica, por sua vez, tampouco se mostra capaz de apontar as causas dos problemas ambientais, limitando-se a admitir uma causa global:

“Considerando o impacto das tecnologias atuais, sua característica global aponta para a necessidade de um controle global. Há que se transcender a esfera dos estados-nações, configurando-se um grêmio de indivíduos comprometidos com a manutenção do sistema global e com a satisfação das necessidades humanas genuínas”(KRÜGER, 2001).

O que o autor estabelece, parece não encontrar sustentação nos fatos. Como exemplo, poderia se mencionar o fato de que os Estados Unidos da América, o país mais poluente do planeta, nega-se a assinar o protocolo de Kioto, com a clara intenção de não estabelecer nenhum tipo de constrangimento a forma de desenvolvimento econômico que adotou e as conseqüências nefastas ambientais que o acompanha.

Entendemos como pouco provável que Estados que se preocupam mais com seu “desenvolvimento” do que com as questões ambientais seriam capazes de sancionar a existência de uma espécie de consórcio mundial orientado à preservação do planeta.

A questão ambiental somente terá solução, se forem alteradas as leis que regem os princípios das relações sociais. Para isto, é necessária uma mudança de profundidade, onde o que passe a regular as relações sociais, não seja mais a “mão invisível” e sim, relações que superem as injustiças sociais e superem a irracionalidade destrutiva da sociedade contemporânea.

A atual discussão ambiental, ao não levar em conta a própria base do sistema hegemônico, o mercado, e, mais ainda, ao acreditar que a sustentabilidade pode e será obtida no interior dos mecanismos de mercado, implicitamente acredita

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no milagre desta redutibilidade, no poder sobrenatural da “mão invisível” (STAHEL, 1994).

Assim, julga-se razoável a afirmação de vários autores, segundo as quais, as questões ambientais dificilmente teriam uma resolução efetiva e definitiva, sem que fosse acompanhada de alterações importantes nas formas de organização da produção e das relações entre os seres humanos. Isto, somente poderia ocorrer, acompanhado de uma mudança nos fundamentos da organização da sociedade ocidental. É preciso questionarmos, muito embora estejamos numa fase da história de endeusamento do assim entendido “Deus” mercado. É imperativo a constatação de que não há soluções duradouras para os problemas ambientais da humanidade, enquanto todo um modo de produção for orientado segundo os pressupostos que orientam a produção imanentemente destrutiva do capitalismo contemporâneo.

A incorporação definitiva das questões ambientais à análise econômica e à economia política, tem sua origem em meados do século XVIII (MARX, 1986). Recentemente, na década de 70 do século passado, é que ocorre a retomada do debate destas questões e quando foram publicadas várias obras como Limites do crescimento, do Clube de Roma, em 1972, realizada a Conferência de Estocolmo, sobre Human Environment, também em 1972 e, entre outras publicações e acontecimentos de importância, a publicação de Georgescu-Roegen - The entropy law and the economic process -, em 1971, e de Ignacy Sachs - Environment and stylesof development - , em 1976 (MOREIRA, 2002).

3.2.1. O envenenamento planetário

Consideramos ocioso discorrer neste momento do trabalho sobre o conjunto nefasto de conseqüências que a chamada Revolução Verde promoveu sobre as

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práticas agrícolas desde o seu aparecimento. Seu grande objetivo sempre foi o de concentrar riqueza e poder em um reduzido número de mega corporações transnacionais, o que se consolida cada vez mais, com as pesquisas científicas orientadas à produção de transgênicos. A introdução de elementos geneticamente modificados, conhecidos como vegetais transgênicos, foi acompanhada de uma intensa manobra ideológica que veiculava a noção de que tal tecnologia caminharia ao uso decrescente de agrotóxicos e outros insumos de síntese química. O que se constatou é que a prática demonstrada por estatísticas disponíveis, indica o caminho rigorosamente contrário ao que foi veiculado com a introdução dos transgênicos. Nos últimos anos, o mercado de agrotóxicos não só não diminui, como aumentou sensivelmente. Para corroborar esta noção, basta verificar os dados a seguir:

No mundo inteiro, são em número de 20 as grandes indústrias que dominam o mercado de agrotóxicos. Estas movimentaram um volume médio de vendas na ordem dos 20,226 bilhões de dólares americanos, com um volume de 2,5 milhões de toneladas de agrotóxicos. No caso brasileiro, são apenas dez grandes indústrias que dominam o mercado dos agrotóxicos. Estas, movimentaram em vendas no ano de 2004, 4,5 bilhões de dólares e um volume de 250 mil toneladas. Isto representa que o Brasil, sozinho, consome mais de 20% do total comercializado em dinheiro e 10% do volume de agrotóxicos produzidos no mundo inteiro. São 440 ingredientes ativos em 1097 produtos comerciais. Destes, 45% são herbicidas, 27% são inseticidas e 28% são fungicidas. Cabe salientar, que o Brasil ocupa lugar de destaque no ranking de consumidores de agrotóxicos, ficando com a quarta posição (ANVISA, 2006).

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Segundo o Sindag4 (2005), entre os cultivos vegetais que mais consomem agrotóxicos, está a cultura da soja. Sozinha, a soja chega a consumir a cifra de 50% do valor total comercializado de agrotóxicos. A soja é seguida de longe pela cultura do algodão (10%), milho (7%) e a cana-de-açucar (7%).

Na tabela 1, apresenta-se a evolução do volume financeiro movimentado no mercado de agrotóxicos no Brasil, especificado por produtos comerciais entre os anos de 2000 e 2004. Nota-se o significativo incremento do consumo em 179,8%.

Cabe lembrar, que este período é marcado pelo incremento do uso de vegetais transgênicos na produção, sobretudo, na cultura da soja, que é a responsável, como foi visto anteriormente, pelo consumo de 50% do volume comercializado de agrotóxicos.

Julgamos importante ser destacado, que não apenas os herbicidas cresceram suas vendas, como aliás, estes cresceram abaixo da média do total de agrotóxicos. Portanto, demonstramos, que efetivamente, não só não se reduziu o consumo de agrotóxicos, como este tem aumentado.

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Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Agrícola. Este sindicato tem sido utilizado como fonte de dados sobre o consumo de agrotóxicos, pelo menos, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

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Tabela 1. Evolução do volume financeiro movimentado no mercado de agrotóxicos no Brasil, por produtos comerciais (em mil dólares).

Produto 2000 2004 Diferença (%) Herbicidas 1300,5 1830,7 +140,8 Inseticidas 690,0 1066,6 +154,6 Fungicidas 380,4 1388,2 +364,9 Acaricidas 65,6 78,0 +118,9 Outros 63,5 131,5 +207,1 Total 2500 4495 +179,8

Fontes: ANVISA, 2006; SINDAG, 2005. Adaptação e cálculos do autor.

Marx havia explicado: “o homem vive da natureza, isto é, a natureza é o seu corpo, e ele precisa manter com ela um diálogo continuado para não morrer. Dizer que a vida física e mental do homem está vinculada à natureza significa simplesmente que a natureza está vinculada a si mesma, pois o homem é parte da natureza.”

Embora Marx e Engels sejam frequentemente acusados de fazer apologia à agricultura de grande escala (MARTINEZ-ALIER, 1997; LIPIETZ, 2003), é exatamente o contrário que consta em suas elaborações e idéias (MARX, 1979; MARX e ENGELS, 2002; ENGELS, 1977 e 1985; BURKETT, 1999; FOLADORI, 2002; FOSTER, 2005). O que por vezes pode confundir alguns autores e, isto sim, é verdade, tanto Marx como Engels, acreditavam que a agricultura pudesse ser feita, de forma a potencializar a força de trabalho humana através da associação de produtores. Vejamos como escreveu Marx,

Com a preponderância incessantemente crescente da população urbana, acumulada em grandes centros pela produção capitalista, esta por uma parte acumula a força motriz histórica da sociedade, e por outra perturba o metabolismo

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entre o homem e a terra, isto é, o retorno ao solo daqueles elementos constitutivos do mesmo que tem sido consumidos pelo homem na forma de alimentos e vestimenta, retorno que é condição natural eterna da fertilidade permanente do solo. (MARX, 1979. p. 611)

Logo segue,

E todo progresso da agricultura capitalista não só é, um progresso na arte de roubar o trabalhador, como também na arte de roubar o solo. [...] A produção capitalista, por conseguinte, não desenvolve a técnica e a combinação do processo social de produção se não solapando, ao mesmo tempo, os dois mananciais de toda riqueza: a terra e o trabalhador. (MARX, 1979. p. 612-613)

Tanto é verdade que ambos, Marx e Engels, foram contrários a agricultura de grande escala que propõem a ruptura do antagonismo entre a cidade e o campo, com o objetivo de restabelecer o equilíbrio no metabolismo social5 destruído com o crescimento das cidades e a conseqüente concentração dos nutrientes e resíduos gerados pela agricultura nos aglomerados populacionais gerando poluição nestes locais e exaustão do solo no campo.

3.3. A crise energética

Os combustíveis de origem fóssil, ou seja, o carvão mineral, o petróleo, a areia de alcatrão e o gás natural, encontram-se em estado de esgotamento.

O carvão, cujo uso havia sido reduzido significativamente, cedendo espaço ao petróleo e ao gás natural, principalmente em função dos custos de extração, volta ao

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Conceito desenvolvido por Marx com objetivo de explicar a relação entre sociedade e natureza. Para Marx a natureza é a extensão do corpo humano, pois o homem vive e depende da natureza. Para aprofundar o entendimento desta categoria veja Marx (1979).

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cenário energético mesmo com a pressão dos organismos e entidades ambientais. Especialmente, a partir da alta dos preços do petróleo em função da instabilidade política, ou melhor, das guerras no oriente médio desencadeadas pela luta pelo controle político das reservas de petróleo.

Reservas de petróleo de baixa qualidade, anteriormente desprezadas, agora passam a ser exploradas e sua importância passa a ter destaque. Poços antes considerados de extração inviável economicamente, agora são ativados. O problema é agravado com a constatação, pela maior parte dos especialistas, de que restam poucas reservas de petróleo a serem descobertas. O preço do petróleo, que desde a década de 70, após os conflitos no oriente médio e a criação da OPEP6 havia se estabilizado na casa dos 30 dólares norte-americanos. Nos últimos dois anos passou a subir vertiginosamente, dobrando seu valor histórico e atingindo a casa dos 80 dólares7.

A própria areia de alcatrão, de refino com alto custo, especialmente do ponto de vista ambiental, pois necessita muita água em seu processamento e os resíduos do processo não possuem função tampouco destino adequado, está sendo explorada em larga escala, principalmente no Canadá (RIFKIN, 2003).

O gás natural, poucas décadas atrás, possuía preços irrisórios onde os usuários se quer o contabilizavam em seus custos, vem aumentando seu preço e os países possuidores de reservas passam a ter maior importância no cenário

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Organização dos Países Produtores de Petróleo, tradução da sigla “Organization of the Petrolium Exporting Countries, OPEC.

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No momento em que este trabalho esta sendo escrito, há uma intensa atividade bélica, beligerante, envolvendo o Iraque e uma profunda inquietação política que elevou o preço do barril de petróleo nestes dias, chegando a beirar os 80 dólares norte-americanos.

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energético. A disputa pelo controle das regiões onde se encontram as maiores reservas nunca foi tão acirrada.

Hubert, importante estudioso das reservas de petróleo, foi quem estabeleceu primeiramente e com mais exatidão estimativas do tamanho das reservas de petróleo existentes em exploração ou não e uma aproximação do que havia ainda por se descobrir. Seus números são discutidos, entretanto são os mais aceitos. A partir destas estimativas, desenvolveu um complicado sistema matemático a fim de estabelecer a curva de produção do petróleo apontando a ascensão, o pico de produção e a decadência da produção de petróleo. Esta curva ficou conhecida como o “sino de Hubert”.

O cenário atual demonstra que se esta atingindo, ou se esta muito próximo de atingir, o pico da curva do sino de Hubert, o que aconteceria, ao contrário das previsões mais otimistas, entre 15-30 anos.

A corrida para se encontrar uma nova matriz energética, capaz de responder as necessidades mundiais, nunca esteve tão acelerada. Por enquanto, todas tentativas tem se mostrado ineficientes ou incapazes do ponto de vista econômico e da escala necessária. Está transparecendo que a base da matriz energética futura, não será estreita. A humanidade terá que utilizar todas as alternativas possíveis e, mesmo assim, o risco de esgotamento energético é eminente, pois o crescimento da demanda energética, já alcançou a capacidade de aumentar a produção de energia e o está superando.

Não mais é possível, numa perspectiva de médio prazo, continuar fazendo agricultura baseada na matriz energética do petróleo. O balanço energético cada vez está mais próximo da negatividade. Veja-se o que aponta Lutzenberger:

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“Mas a agricultura, se a olharmos de uma perspectiva holística, ecológica, é um esquema para colher energia solar via fotossíntese. Enquanto todas as formas de agricultura tradicional têm um balanço de energia positivo, a agricultura moderna perverte até mesmo este aspecto fundamental. Em sua maior parte, tem balanço de energia negativo. Quase todas as suas operações, supostamente de alta produtividade, requerem mais energia fóssil nos insumos do que está contido em seu produto. Para usar uma metáfora adequada, isto tem se tornado um poço de petróleo no qual o motor que aciona a bomba consome mais combustível do que ela pode extrair. Este tipo de operação só pode sobreviver com subsídios. [...] Tudo isto nada tem a ver com aumento de produtividade, é a culminação do gradativo processo de desapropriação dos agricultores, para transformar os sobreviventes em meros apêndices da indústria. Isto agravará a marginalização, a desestruturação social, a devastação ambiental, aumentando a perda da biodiversidade em nossos cultivos e aguçando o problema da fome. (Lutzenberger, 2001p.62 e seguintes)

Nas três últimas décadas, a produção mundial de energia, passou de 215,39 quatrilhões de BTU8 para 443,09 quatrilhões de BTU. Somente a extração de petróleo passou de 97,09 para 154,79 quatrilhões de BTU. Entretanto sua representação no total de energia produzida, por fonte primária, caiu em 10,14% conforme demonstra a tabela 2.

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Tabela 2. Produção mundial de energia por fonte primária (1970-2004). Valor absoluto em quatrilhão de BTU Valor relativo (em %) Fonte primária 1970 2004 1970 2004 Variação Carvão 62,96 113,3 29,23 25,57 -3,66 Gás natural 37,09 102,19 17,22 23,06 5,84 Gás natural líquido 3,61 11,48 1,68 2,59 0,91 Petróleo 97,09 154,79 45,08 34,93 -10,14

Energia elétrica nuclear 0,9 27,47 0,42 6,20 5,78

Energia hidrelétrica 12,15 27,53 5,64 6,21 0,57

Geotérmica e outras 1,59 6,33 0,74 1,43 0,69

Total 215,39 443,09 100 210,4 -

Fonte: Energy Information Administration, 2006. p.299. Adaptado pelo autor.

Embora os Estados Unidos da América (EUA), representem 4,6% da população mundial, são responsáveis pela produção de 15,9% da energia mundial e, pelo consumo de 22,5%. Comparado com sua proporção populacional em relação ao mundo, os EUA, produzem 3,45 vezes mais energia que a média mundial e consomem energia quase cinco vezes mais que o restante da população mundial, consumindo quase uma vez e meia a energia que produz, como mostra o gráfico 1.

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Gráfico 1. População, produção de energia e consumo de energia dos EUA em relação ao mundo. 4,6 15,9 22,5 0 5 10 15 20 25

População Produção de energia Consumo de energia

P

e

rcen

tu

al

Fonte: Energy Information Administration, 2006.

As desigualdades na produção e sobretudo no consumo de energia no mundo, são ainda mais evidenciadas comparando-se a produção e o consumo por regiões no mundo. Nas Américas, produz-se 125 e consome-se 143 quatrilhões de BTU de energia. Na Europa, produz-se 51 e consome-se 86 quatrilhões de BTU de energia. Ao passo que na África, produz-se 32 e consome-se 14 quatrilhões de BTU de energia. A relação entre consumo e produção é de 1,14 nas Américas, 1,69 na Europa e de apenas 0,44 na África como aponta o gráfico 2.

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Gráfico 2. Produção e consumo de energia por região. 125 51 57 62 32 105 143 86 45 21 14 138 0 20 40 60 80 100 120 140 160

América Europa Eurasia Oriente

Médio África Ásia e Oceania em q u at ri lh õ es d e B T U Produção Consumo

Fonte: Energy Information Administration, 2006.

3.4. A necessidade de mudança nos métodos de produção

Primeiramente, julgamos necessária realizar aqui a distinção entre as categorias “modo de produção” e, a aqui proposta “método de produção”. Por este último entende-se a necessidade de mudança dos métodos de produção, fundamentado nos itens anteriores deste trabalho, que apontam uma crise geral socioeconômica e ecológica. Entretanto, alterações nos métodos de produção, não necessariamente alteram o “modo de produção”, categoria proposta por Marx e entendida por Chesnais e Serfati (2003) como “modo de dominação social” que, para mudar, requer a transformação das relações sociais fundamentais, ou seja, a mudança da ordem social vigente.

Portanto, quando se afirma a necessidade de mudança nos métodos de produção, associa-se esta mudança ao estabelecimento de relações equilibradas

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ambiental e socialmente. Para isso, tais mudanças, devem superar os limites e contradições do método de produção hegemônico, que esta fundado na espoliação dos recursos naturais, na dependência, ou melhor, na submissão da ciência e da tecnologia às empresas transnacionais produtoras de insumos, numa matriz energética esgotada e na coisificação da relação homem-natureza.

Marx e Engels, inspirados até certo ponto pelas sugestões anteriores de Fourier e Owen, propunham a dispersão da população, superando o antagonismo entre cidade e campo que eles viam como constitutivo da ordem burguesa e responsável pela degradação ambiental. A perspectiva ecológica madura de Marx pode ser verificada na sua teoria da interação metabólica da natureza com a sociedade. Esta teoria, resulta não apenas de sua concepção materialista da história, mas também, da concepção materialista da natureza.

3.5. Agroecologia

A expressão agroecologia é aparentemente utilizada pela primeira vez na década dos anos de 1930, para dar significado à aproximação entre ecologia e agricultura. Até então, o campo de conhecimento científico disciplinar ecológico tratava do estudo de sistemas naturais, ao mesmo tempo em que a ciência agronômica voltava-se para a introdução de métodos de investigação científica em torno da agricultura. De acordo com estudos sobre o tema, somente nos anos 50, com o amadurecimento do conceito de ecossistema, foi criada uma estrutura básica geral para o exame da agricultura alicerçada em uma perspectiva ecológica (GLIESSMAN, 2000).

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Tem sido sugerido que o surgimento da agroecologia se deu ao final dos anos setenta como resposta a manifestações da crise ecológica no campo. Entretanto, considera-se que este período é marcado pelo redescobrimento da agroecologia ou como a formulação acadêmica de muitos conhecimentos acumulados pelas culturas camponesas, de transmissão e conservação oral, sobre as interações que se produziam na pratica agrícola (SEVILLA-GUZMAN e GONZALES DE MOLINA, 1992; ALTIERI, 1998, 2003; GLIESSMAN, 2000; CAPORAL e COSTABEBER, 2002; IAMAMOTO, 2005).

Ressurge nos anos setenta para analisar fenômenos como a relação entre plantas adventícias e pragas com as plantas cultivadas e, pouco a pouco, vem se ampliando para passar a uma concepção de atividade agrária mais envolvida com o meio ambiente, mais equilibrada socialmente, e mais preocupada com a sustentabilidade a longo prazo.

Neste trabalho, conceituamos a agroecologia como um enfoque integral dos processos agrários. Alicerçada sobre quatro pilares - agronômico ou técnico, econômico, político e social - vem para confrontar a lógica hegemônica da agricultura convencional. Aponta caminhos nos quais as relações entre homens e a natureza são pautadas pelo respeito à condição humana, ao meio ambiente e à necessidade da preservação dos recursos naturais às futuras gerações (SEVILLA-GÙZMAN e GONZÁLES DE MOLINA, 1993; FOLADORI e TOMMASINO, 2000).

Constitui mais um enfoque que afeta e agrupa vários campos do conhecimento do que uma disciplina específica. Reflexões teóricas e avanços científicos a partir de diferentes disciplinas tem contribuído a dar conformação ao atual corpo teórico e metodológico da agroecologia.

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No Brasil o movimento contestatório à agricultura convencional começa a tomar vulto nos anos de 1970, sob a liderança da FAEAB9 e com participação da FEAB10. Conhecido como Agricultura Alternativa, foi protagonizado por uma vanguarda de agricultores ecologistas, impulsionados por setores do movimento estudantil das ciências agrárias especialmente. Contando com a participação de renomados engenheiros agrônomos e ambientalistas como Luiz Carlos Pinheiro Machado, Sebastião Pinheiro, José Lutzenberger, entre outros, já apontava a necessidade de mudança nos métodos produtivos.

Almeida (2003) em um ensaio sobre agroecologia, ao discutir “sobre a capacidade de generalização da proposta agroecológica”, estabelece como condição indispensável à consolidação de um movimento social agroecológico e eliminação de cinco elementos que considera, de forma geral e sintética, os gargalos para o avanço da proposta agroecológica, sendo eles:

“(a) as resistências apresentadas devido ao caráter ideológico da intervenção técnica e social mais geral;

(b) a falta de entrosamento (diálogo e intercâmbio) entre agentes sociais (individuais e coletivos) que atuam na mesma área, que trabalham com os mesmos ‘objetos’ e muitas vezes enfrentam os mesmos problemas;

(c) o ainda pequeno e insuficiente acompanhamento de campo e sistematização das experiências agroecológicas, malgrado esforços recentes nesse sentido;

(d) os “gargalos” tecnológicos, ou seja, limites ou problemas ainda não bem solucionados na prática agroecológica de campo; e

(e) a baixa capacitação profissional para enfrentamento da complexidade dos sistemas produtivos e da agroecologia.”(ALMEIDA, 2003 p.506-507)

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Sigla para Federação das Associações de Engenheiros Agrônomos do Brasil.

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Concordamos parcialmente com o autor. No que se refere ao “caráter ideológico” da intervenção técnica e social, item a, contrariamente ao pensamento do autor, que o considera como um “gargalo” para o avanço da proposta agroecológica, entendemos que este caráter ideológico é um dos sustentáculos da proposta agroecológica e considera-se que é responsável por manter a proposta agroecológica vinculada a princípios e valores éticos bem delimitados.

Há confluência de entendimento em todos os demais itens, que na avaliação deste trabalho, o autor aborda com precisão. Entretanto, o mesmo autor, deixa de abordar itens aqui considerados importantes como por exemplo, o caráter e o papel das relações existentes na sociedade influenciadas pelo modo de produção hegemônico em vigência.

Tamanha é a responsabilidade embutida na agroecologia que ela está sendo desafiada a enfrentar, o que Oliveira (2005) propõe: a ciência enquanto força produtiva e, ao mesmo tempo, mercadoria, utiliza dois exemplos de tentativas de negação da ciência enquanto mercadoria, o software livre e a própria agroecologia, onde diz:

“Pode-se mencionar o caso bem conhecido do software livre, e o da agroecologia, como alternativa à biotecnologia e o agronegócio. O conceito de mercadoria está no centro da análise marxiana do capitalismo, e o socialismo, no nível mais abstrato, define-se pela negação da mercadoria”.

Qual o papel que a prática pedagógica, orientada para a Agroecologia, tem na construção desta nova racionalidade? É uma das questões a que se quer investigar, nas ações pedagógicas do MST. Como também, que papel se atribui a estas práticas pedagógicas na mudança dos métodos de produção e, por conseqüência, no modelo produtivo.

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Portanto, consideramos que a prática da Agroecologia, guarda em si o potencial de contribuir para uma mudança nos rumos da produção agrícola. Ao que induziu o debate anteriormente feito, parece possuir um relevante potencial no que diz respeito à mudança de atitude política das pessoas que a praticam frente ao meio ambiente e a sociedade como um todo. Entretanto, há que se reconhecer que a Agroecologia em si, ou seja, isoladamente vista como uma tecnologia derivada de uma ciência, não possui capacidade alguma de promover qualquer transformação social.

A agroecologia está mesclada de conhecimentos diversos, com sua essência no conhecimento camponês. A contribuição da ciência para o desenvolvimento da agroecologia, não deve nem pode ser desconsiderado. Entretanto, é importante a delimitação do papel da ciência perante agroecologia. Muito mais do que desenvolvê-la, a ciência tem contribuído na explicação de fenômenos e na afirmação de práticas. Pode-se dizer que o relacionamento da “ciência” e da agroecologia não tem sido fácil. O caráter positivista, reducionista e excludente do conhecimento cientifico hegemônico acaba por marginalizar qualquer forma de conhecimento que o contradiga ou lhe coloque em xeque.

Ainda que diversos autores discutam a agroecologia, buscando um enfoque mais abrangente, ampliando o número de relações estudas e consideradas, os aspectos sociais não haviam sido contemplados até meados dos anos oitenta.

Paralelamente, os movimentos ambientalistas influíram na agroecologia acrescentando uma perspectiva crítica a racionalidade técnico-científica e mais concretamente à agronomia convencional. O desenvolvimento do pensamento ecologista e a nova ética ambiental que surgiu no seu seio, proporcionaram os

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fundamentos éticos e filosóficos da agroecologia, que surgiu a partir de um principio com uma vocação transformadora muito evidente, como uma ferramenta para analisar e organizar um futuro agrícola sustentável.

A ausência do Estado no debate e a total falta de políticas públicas até pouco tempo, corroborou a manutenção de alguns dos limites enfrentados pela agroecologia, como a falta de profissionais qualificados para atuarem no seu desenvolvimento, dificuldades de acesso ao crédito e a falta de pesquisa (ASSIS, 2006).

3.6. Educação

Neste trabalho, pretendemos discutir educação a partir de uma perspectiva de transformação da realidade. Portanto, prosseguimos, primeiramente, discutindo e conceituando uma categoria que é considerada fundamental para compreensão do que se propõe adiante, a própria educação.

Consideramos que num Estado como o Brasil, a décima primeira economia mundial, inaceitável que o analfabetismo no ano de 2004 tenha apontado a marca de 11,4% da população com 15 anos de idade ou mais. Isso, demonstra a fragilidade histórica do sistema educacional e a falta de prioridade por parte das administrações, nesta área fundamental ao desenvolvimento humano.

Ao se comparar o analfabetismo entre os meios urbano e rural, vê-se que a situação no meio rural é muito mais complicada. A taxa de analfabetismo no meio rural é de 25,8% contra 8,7% no meio urbano. Ao comparar-se a taxa de analfabetismo entre as regiões, a discrepância é maior ainda. Na região nordeste chega a 37,7% enquanto na região sul é de 10,4%. Ao se falar em analfabetismo

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funcional, a taxa é assustadora, 24,4%. No Brasil, entre os meios urbano e rural, a diferença é ainda maior, 20,1% e 47,5% respectivamente. Quanto à taxa de freqüência líquida a estabelecimento de ensino da população residente de 7 a 17 anos, no ensino de nível médio, apenas 44,4% freqüentam a escola. A diferença entre rural e urbano segue brutal, 49,4% contra 22,0% respectivamente (IBGE, 2005).

Paralelamente às ações promovidas pelo Estado, os movimentos sociais populares se organizam e começam a criar alternativas de trabalho, de educação escolar e de novas relações fundadas nos valores do humanismo e do socialismo. Essas iniciativas se materializaram tanto em movimentos reivindicatórios como o movimento pela Educação do Campo, que reivindica e propõe políticas públicas (ARROYO, 1999; VIA CAMPESINA, 2006), como por ações promovidas pelos vários movimentos sociais populares.

Nesse movimento, em que a classe trabalhadora cria novas formas de produzir, de conviver e de se educar, gesta-se também novos conceitos, nos quais o conteúdo, marcado pelas práticas de cooperação e de solidariedade, projeta a emancipação social em sentido mais amplo do que o proposto pelos princípios abstratos de liberdade e de igualdade, ampliando-se, assim, o horizonte da educação para além da cidadania burguesa (RIBEIRO, 2002; 2002a; ARROYO, 2000; FREITAS, 2002; MÉSZÁROS, 2005).

3.6.1. Concepções educacionais

Lombardi (2005), contrário ao entendimento da educação como uma dimensão estanque e separada da vida social, aponta o século XIX como o

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momento em que surgem concepções pedagógicas contrárias no seio da luta de classes: a da burguesia e a do proletariado.

Ao longo da história foram se desenvolvendo diferentes concepções educacionais. O debate esteve na maioria das vezes relacionado à escola. Não se pretende aqui fazer um estudo aprofundado acerca da história das idéias pedagógicas. Entretanto, julga-se importante destacar quatro concepções educacionais que no entendimento deste trabalho, entre outras concepções, influenciaram a construção da concepção educacional dos Movimentos Sociais do Campo (MSC). São elas: escola tradicional, escola nova, escola única do trabalho e escola unitária (SOARES, 2000).

Escola tradicional

A escola tradicional, fundada por volta do século XVI e desenvolvida pelos jesuítas, dominou o sistema educacional ocidental até fins do século XIX. Centrada na formação humanista e voltada ao preparo das classes dirigentes, não cumpria o papel de preparar o indivíduo para a vida, ou seja, para o mundo do trabalho.

Contestada tanto por liberais como por socialistas, acaba sendo refutada completamente na formulação de novas concepções educacionais. É “banida” nestas novas concepções e seus princípios e, especialmente seu acúmulo, são abandonados e desconsiderados (SOARES, 2000).

Escola nova

O movimento escolanovista, fundado na preocupação de adequar os métodos escolares aos novos tempos, tempos da sociedade moderna industrial, insere o princípio da “atividade” em seu método pedagógico.

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Escola Nova é um dos nomes dados a um movimento que pretendia renovar os métodos de ensino que foi especialmente forte na Europa, na América e no Brasil, na primeira metade do século XX . "Escola Ativa" ou "Escola Progressiva" são outros termos que descrevem esse movimento. Apesar de muito criticado, e apresentar lacunas não esclarecidas, apresentou e propôs interessantes modificações no sistema educacional.

Inspirados no filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e nos pedagogos Heinrich Pestalozzi (1746-1827) e Freidrich Fröebel (1782-1852), John Dewey (1859-1952) nos Estados Unidos e Edouard Claparède (1873-1940) e Adolphe Ferrière (1879-1960), entre muitos outros, foram expoentes no desenvolvimento desta concepção educacional.

Para Dewey, as escolas deviam deixar de ser meros locais de transmissão de conhecimentos e tornar-se pequenas comunidades. O suíço Claparède, defendia a idéia de que a escola deveria se adaptar a cada criança, contrariamente a noção de que as crianças devem se encaixar todas no mesmo molde. Ferrière e outros pedagogos, como Decroly (1871-1932), insistiam que o interesse e as atividades dos alunos exerciam um grande papel na construção de uma “escola ativa”. No trabalho de Ferrière como pedagogo, por exemplo, os passeios e o trabalho em equipe eram especialmente valorizados (GADOTTI, 2002).

A Escola Nova recebeu muitas críticas. Foi acusada, principalmente, de não exigir nada, de abrir mão dos conteúdos tradicionais e de acreditar ingenuamente na espontaneidade dos alunos.

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Escola única do trabalho

Considerada a escola socialista a “escola única do trabalho” é desenvolvida, partindo da concepção de Marx (1974) de “escola politécnica”, por pedagogos e teóricos russos, como Krupskaia, Pistrak, Makarenko e outros.

Seus pressupostos partem do princípio fundamental que liga o ser humano à vida: o trabalho. Assim, desenvolve-se toda uma concepção filosófica que não dissocia ensino e trabalho, ligando-os às noções de história e sociedade. Pistrak (2004) via no trabalho e em sua organização, o elemento pedagógico central ao desenvolvimento completo do ser humano.

Para Makarenko (sem data), a disciplina abstrata se dá quando se instrui de maneira cega, arbitrária, é uma disciplina de submissão. A disciplina consciente é como um objetivo, uma meta a se alcançar, esta é a que se deve buscar, entendida como o resultado do trabalho educativo. Para ele, a disciplina consciente é quase um sinônimo de organização, já que para ele é a organização da coletividade educativa, seu regime, que gera como resultado a disciplina.

Escola unitária

No pensamento marxiano, a educação integral ou politécnica é desenvolvida por Gramsci até a construção da concepção da “escola unitária”, resultante da união da instrução e produção, trabalho intelectual e trabalho manual, pensamento e ação, teoria e prática, filosofia e política. Propõe o fim do dualismo entre estas e outras questões e pressupõe, a superação da dicotomia clássica entre ensino acadêmico e o ensino técnico-profissional, propondo a união do ensino e da produção.

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Considera-se que a concepção da escola unitária, está à frente das demais concepções educacionais pois refuta o sectarismo e a intolerância característica presente nas demais concepções educacionais e busca em cada uma delas seus elementos progressistas. Como já foi demonstrado, supera a interpretação dualista, como em mais um exemplo, o dualismo entre coletividade e individualidade expresso nas concepções educacionais anteriores. Gramsci, não teve dúvida em buscar na escola nova, tipicamente burguesa, seu conceito de atividade distorcido e negador do trabalho, para reconstruir a unidade entre teoria e prática, associando o exercício intelectual (teoria) ao trabalho na sua mais ampla concepção (prática).

Retoma a necessidade da formação geral presente na “escola tradicional”, o que considera “indispensável para formação do novo homem”. É no humanismo, refutado pela escola nova e indispensável ao entendimento e conhecimento do movimento histórico das civilizações e, portanto, da sociedade contemporânea, que Gramsci se apóia para realizar a associação da formação geral (humanista) com a formação técnica (trabalho).

A “escola unitária”, se insere na perspectiva de uma escola para todos, sob a hegemonia do projeto cultural socialista (SOARES, 1992; 2000; NOSELLA, 1992), como articuladora do fazer e do pensar.

Educação profissional e o conceito de escola unitária em Gramsci

Atualmente, no campo da educação formal no Brasil, é trabalhada a categoria “educação profissional”. Especialmente no nível médio e pós-médio nos cursos de formação técnica, seja ela a técnicas industriais, comerciais, agrárias ou outra qualquer (RAMOS, 2005).

Referências

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