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Associação Juinense de Educação Superior do Vale do Juruena Faculdade de Ciências Contábeis e Administração do Vale do Juruena

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Academic year: 2021

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Associação Juinense de Educação Superior do Vale do Juruena

Faculdade de Ciências Contábeis e Administração do Vale do Juruena

Curso: Especialização em Psicopedagogia

Módulo: Noções Fundamentais de Direito e Cidadania Professor: Luís Fernando Moraes de Mello

1. Cidadania

Em sentido estrito, o cidadão é o titular de direitos políticos, podendo votar e ser votado. Esta compreensão de cidadão indica que é cidadão aquele que participa da vida da pólis (da cidade). O exercício dos direitos políticos é a condição para que o cidadão tenha voz. Ao ter voz, o cidadão passa a pertencer à comunidade. Este sentimento de pertença à comunidade é o vínculo que une todos os cidadãos em torno do mesmo objetivo, que aqui poderíamos indicar como o bem comum1.

Portanto, podemos dizer que o pressuposto da cidadania é a formação do vínculo de todos a uma comunidade. A comunidade é o ancoradouro de todos. O sentimento de pertença se dá na comunidade, onde todos se relacionam com todos, mantendo uma identidade nas finalidades da comunidade que serão propostas para a ação de cada cidadão.

A universalização do conceito de cidadão é moderna. Ocorre apenas com as revoluções burguesas dos séculos XVII e XVIII, quando as noções de liberdade e de homem foram universalizadas. No período pré-moderno, no qual podemos inserir toda a Antiguidade e a Idade Média, a noção de cidadão não alcançava todo ser humano.

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João XXIII diz que “o bem comum consiste no conjunto de todas as condições de vida social que favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana e sua sociedade” (Encíclica Pacem in Terris).

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Em Roma, o cidadão era apenas aquele que possuía um laço sanguíneo com a patrística, os pais fundadores de Roma e os seus descendentes. Apenas seria respeitado pelos romanos e protegido pelo jus

civilis aquele que possuísse o laço sanguíneo com os ancestrais romanos. Este

romano seria protegido por um direito diferente daquele que protegia o estrangeiro, aquele que não possuía vínculo sanguíneo com os paters. Portanto, o conceito de cidadão romano excluía aquele que não pertencesse à comunidade fundada pelo laço de sangue.

O estrangeiro era considerado como tal simplesmente por não possuir o laço sanguíneo com os ancestrais romanos. Esta exclusão ocorria de forma tão profunda que o direito que regia as relações entre estrangeiros sob o domínio romano ou de estrangeiros com os romanos era diferente do direito que regia as relações entre romanos. Para o estrangeiro era aplicado o ius

gentium (direito das gentes) e para o romano o ius civilis (direito do cidadão).

A própria expressão “gentes” revela uma impessoalidade do romano com o estrangeiro. Em alemão “das man” pode ser traduzida como “gente”. A impessoalidade com que a “gente” é tratada não possibilita a construção da identidade com quem ele se relaciona. O estrangeiro não é acolhido na comunidade como alguém com quem se constrói esta identidade. O estrangeiro não participa da comunidade.

Diversamente, o cidadão da modernidade não é pensado a partir do seu laço sanguíneo com os membros da comunidade. Isto por que entre os empreendimentos da modernidade estava a ruptura com a tradição e a universalização do homem.

De alguma forma, os laços de sangue conservam uma tradição. Assim, por exemplo, o poder dos reis se legitima em uma tradição que conserva a soberania dentro de uma determinada família. A necessidade moderna (e iluminista) de romper com a tradição era justificada pela imperatividade de construção de um poder racional, que não possuísse a soberania assentada na pessoa do rei, mas no povo. Para o povo ser considerado soberano era necessário que a tradição que legitimava o poder do rei e os privilégios da nobreza fosse destruída. Era necessária a ruptura com a

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tradição e toda forma de autoridade que obscurecesse o exercício do poder pelo povo.

Esta ruptura ocorre como um movimento de emancipação do povo oprimido pela tradição nobiliárquica. Mas não é só isto. A ruptura tornou necessária a construção da ideia de que todo homem nasce livre e igual. Portanto, se todos os homens nascem iguais, não há porque se conferir privilégios em virtude do nascimento para alguns e não se oferecer os mesmos privilégios para outros. Todos devem estar submetidos à lei, sem a concessão de privilégios.

A igualdade de nascimento e a liberdade como direito oponível ao Estado são marcas de um pensamento que começa a delinear o cidadão como um sujeito de direitos, cuja subjetividade está construída a partir de direitos que lhe são inatos e inalienáveis. Estes direitos que formam a subjetividade deste cidadão são a vida, a liberdade, a propriedade, a igualdade, a segurança. A partir do exercício destes direitos, o cidadão passa a cultivar o sentimento de pertença à comunidade. Este sentimento de pertença indica uma liberdade que o cidadão constrói na relação com os demais cidadãos. Portanto, esta liberdade não pode estar identificada com uma independência radical de um indivíduo com relação ao outro. Esta ideia de independência foi construída por John Locke, em sua obra “Ensaio sobre o Entendimento Humano”, de 1690. A independência faz com que o único motivo de movimentação do indivíduo seja a intranquilidade suscitada pelos desejos. Esta independência fulmina a ideia de que o indivíduo está ligado a outros indivíduos por laços éticos e por objetivos comuns, que podem ser traduzidos como um sentimento de dever de cada um com a preservação da comunidade.

Aqui podemos perceber dois conceitos distintos que são produtos de duas concepções de homem: a sociedade, que tem em sua base indivíduos desligados de qualquer vínculo, e a comunidade, na qual os indivíduos são cidadãos por terem suas ações orientadas por objetivos que são comuns a todos.

Na sociedade, os indivíduos apenas se preocupam com a satisfação dos seus desejos, independentemente de como o outro possa estar. Na

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comunidade, o cidadão possui liberdade, mas esta é exercida tendo em vista o bem de toda coletividade.

A marca de uma sociedade formada por indivíduos orientados por seus desejos é o hedonismo, ou seja, a sociedade é marcada pela satisfação dos prazeres individuais. A satisfação do prazer se torna o sentido para a felicidade.

2. O Direito e o Estado

O Direito e o Estado nascem na modernidade ao mesmo tempo. O Direito é a forma racional de estruturar o Estado e de garantir aos cidadãos proteção contra possíveis arbitrariedades. Da mesma forma, o Estado, baseado na supremacia da lei, é a forma racional de organizar o poder.

A movimentação política no interior da modernidade ocorre a partir das revoluções burguesas, que podemos citar como exemplo a Revolução Americana e a Revolução Francesa. Estas revoluções tiveram como principal mote a afirmação da liberdade diante de um regime opressor. A liberdade aqui aparece como uma liberdade de domínio, liberdade de senhorio. Esta liberdade é invocada quando o homem percebe que possui autonomia (autos + nomos), tendo direito a fazer escolhas.

Dessa forma, não há porque o homem estar submetido a qualquer poder de forma injustificada. Para o homem se submeter ao poder do Estado deve haver um motivo racional. Sem este motivo, este poder que submete o homem pode ser despótico, opressor.

Por isso, a modernidade fez com que surgisse a necessidade de se construir uma justificativa para o Estado. O exercício da liberdade é um direito natural que só poderá ser limitado mediante justificativas que venham da razão. A limitação da liberdade pela autoridade do rei ou pela autoridade da Igreja é fruto de uma tradição que, sob a ótica da modernidade, pode não ser suficientemente racional.

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A justificativa racional para o Estado que encontrou maior respaldo na modernidade está baseada na ideia de contrato. Vários autores elaboraram a ideia de contrato social como forma de justificar o poder do Estado. Entre estes autores estão Locke, Hobbes e Rousseau.

Cada um destes autores idealizou um estado de natureza, onde a liberdade era exercida sem limites. Rousseau, por exemplo, imaginou um estado de natureza onde todos eram bons. Para Rousseau, no estado de natureza, o homem é um bom selvagem. Não há violência entre os homens. Neste caso, no estado de natureza não há a necessidade de direito. Mas então quando o Direito surge para Rousseau? Quando o homem passa a acumular propriedade. Quando um homem passa a possuir o necessário para a sobrevivência de no mínimo dois homens começa a surgir a necessidade de um direito que proteja esta propriedade. É aí que o homem sai do estado de natureza, deixando de ter uma liberdade natural, para passar a exercer uma liberdade civil, onde o limite é o direito.

Já Hobbes, ao pensar o estado de natureza, não vislumbra o bom selvagem, como Rousseau. Para Hobbes, o homem, no estado de natureza, procura destruir o outro homem. Há uma insegurança muito grande e um medo de perder a própria vida. Hobbes diz que, em estado de natureza, o homem é lobo do homem. Portanto, o que justificaria o Estado seria a promoção da segurança. Vivendo a liberdade natural, o homem corre o risco de morrer a qualquer tempo. Por este motivo, o homem cede parte de sua liberdade natural para o Estado. Em contrapartida, o Estado protege a liberdade civil do indivíduo, resguardando a vida, a propriedade e a segurança.

Portanto, podemos ver que o ponto em comum entre as teorias que justificam racionalmente o Estado colocam como objetivo do estado a promoção da liberdade do indivíduo. O Estado não possui existência em si. O objetivo do Estado justificado racionalmente não poderá ser a própria existência do Estado. O Estado surge para proteger o indivíduo.

Esta construção da modernidade constituiu as bases do Estado que conhecemos hoje. Assim, por exemplo, nossa Constituição elencou entre os

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fundamentos do Estado, em seu artigo 1º, a cidadania e a dignidade da pessoa humana.

Dessa forma, o que fundamenta a existência do Estado não é o interesse do próprio Estado ou interesses de um grupo de privilegiado. O Estado está fundamentado por valores, como a cidadania, que, como vimos, pode ser considerada em seu sentido estrito como o exercício de direitos políticos. Mas será que hoje basta possuir o direito de votar e ser votado para considerarmos alguém cidadão? A cidadania, como um dos fundamentos do Estado, torna-se um conceito que exige radicalização. O cidadão não possui apenas um sentido técnico-jurídico. O seu sentido alcance um papel muito mais ativo na vida pública. O esforço para a promoção da cidadania vai muito além de darmos o direito ao voto para alguém. A cidadania também passa pelo controle político dos atos do poder público, pelo acesso à educação, pela alimentação, pela habitação adequada, pela promoção universal da saúde.

Outro fundamento para o Estado é a dignidade da pessoa humana. Fundamentar o Estado na dignidade da pessoa humana significa dizer que jamais alguém poderá ser considerado apenas como meio para se alcançar fins pessoais. O animal pode ser considerado um meio para o trabalho, mas o homem jamais poderá ser considerado como simples meio para a produção. Mas o que distingue fundamentalmente o homem do animal? O animal tem um preço, o homem tem um valor. O valor do homem é a sua dignidade. Portanto, considerar o homem digno significa dizer que o homem é um fim em si mesmo. Tudo o que fazemos é para a realização do homem como fim em si mesmo. Sendo fim em si mesmo, ele não pode ser considerado apenas como meio.

A dignidade não permite que um indivíduo manipule outro para seu proveito próprio. Da mesma forma, a dignidade humana passa a ser a justificativa para a existência do Estado. No momento que a dignidade humana é violada, é posta em questão a continuidade do Estado.

Referências

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