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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

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Registro: 2011.0000209818 ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº 0121071-86.2011.8.26.0000, da Comarca de Monte Mor, em que é agravante EDMILSON DE OLIVEIRA PEREIRA sendo agravado MAGAL INDUSTRIA E COMERCIO LTDA.

ACORDAM, em 2ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento parcial ao recurso, nos termos que constarão do acórdão. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOSÉ JOAQUIM DOS SANTOS (Presidente), LUÍS FRANCISCO AGUILAR CORTEZ E ALVARO PASSOS.

São Paulo, 27 de setembro de 2011. José Joaquim dos Santos PRESIDENTE E RELATOR

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Voto nº 6783

Agravo de Instrumento nº 0121071-86.2011.8.26.0000 Agravante: EDMILSON DE OLIVEIRA PEREIRA

Agravada: MAGAL INDUSTRIA E COMÉRCIO LTDA. (não citada) Vara de Origem: 1ª Vara Cível da Comarca de Monte Mor

Juiz: Dr. Fernando César do Nascimento

AGRAVO DE INSTRUMENTO.

Assistência judiciária. Concessão que não depende de estado de miserabilidade, bastando simples declaração firmada pelo interessado. Presunção de veracidade da necessidade que prevalece até prova em contrário. Decisão reformada.

Ação de Usucapião. Documentos indispensáveis à propositura da ação.

Planta do imóvel. Dispensabilidade. Autor que não tem condições de arcar com os custos para elaboração da planta. Garantia de acesso ao judiciário. Possibilidade de elaboração da planta do imóvel por perito no curso da instrução. Exigência afastada.

Certidões dos Registros Imobiliários e do Cartório Distribuidor Cível que são abrangidas pela gratuidade concedida. Juízo que pode requisitar. Exigência afastada.

Comprovantes do pagamento de impostos e taxas do imóvel. Descabimento. Documentos que não são exigidos pela legislação vigente para processamento da demanda e tampouco são indispensáveis ao julgamento do mérito. Exigência afastada.

Qualificação dos confrontantes do imóvel usucapiendo. Individualização das partes (autor e réu) exigida pelo art. 282, inc. II, c.c. o art. 942, ambos do Código de Processo Civil. Exigência mantida, devendo a relação ser exibida após a remessa das certidões atualizadas ao juízo.

Decisão parcialmente reformada. Recurso provido em parte.

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Trata-se de recurso de agravo de instrumento tirado contra r. decisão que, nos autos de ação de usucapião, indeferiu os benefícios da assistência judiciária gratuita pleiteada pelo autor, bem assim determinou ao autor que promovesse a apresentação de documentos como a qualificação completa dos confrontantes, planta e memorial descritivo do imóvel usucapiendo, certidão atualizada do cartório imobiliário, entre outros.

Por primeiro, alega que a r. decisão agravada deve ser reformada, posto que não possui condições de arcar com os custos do processo sem prejuízo de sua mantença. Diz que, embora tenha bens, seu rendimento líquido está na ordem de apenas R$ 1.800,00 mensais.

No que tange ao atendimento à cota do Ministério Público, aduz:

a) estar o imóvel devidamente identificado, descrito na petição inicial, tendo sido juntado certidão de matrícula atualizada. As informações acerca da qualificação dos confrontantes dependem exclusivamente do oficial de registro de imóveis. Quer sejam os Cartórios de Registro de Imóveis de Capivari e Monte Mor oficiados para que disponibilizem a qualificação de todos os confrontantes;

b) não ter condições para juntar a planta atualizada do imóvel em questão, sendo necessário o deferimento da realização de perícia judicial por parte do Juízo a fim de suprir tal ausência;

c) ter sido juntada a certidão atualizada do imóvel, não podendo subsistir a exigência do órgão ministerial;

d) não serem as certidões de todas as circunscrições imobiliárias documentos indispensáveis para a propositura da ação de usucapião;

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impostos, taxas e outros documentos indispensáveis à propositura da ação, mas, sim, documentos necessários à análise de mérito.

Concedido efeito suspensivo ao recurso (fls. 76), veio parecer da d. Procuradoria de Justiça opinando pelo improvimento do agravo às fls. 82/86.

É o relatório.

1 - Preliminarmente, cumpre esclarecer que desnecessária a intimação da agravada para resposta, esta porque a relação processual ainda não foi instaurada.

Nesse sentido é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça: “I. A intimação do agravado para apresentar

resposta ao agravo de instrumento (art. 522, CPC) é obrigatória, nos termos do artigo 527, III, CPC. No entanto, tratando-se de decisão liminar, oriunda de processo em que ainda não foi concretizada a relação processual, em atenção ao princípio da celebridade e à regra da efetividade, já decidiu a Turma que o agravo pode ser julgado independentemente da intimação da parte agravada, que ainda não foi citada e não tem advogado constituído nos autos...” (Resp. nº

175.368-RS, Relator Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, j.18/6/2002).

2 - Quanto ao indeferimento da justiça gratuita, verifica-se que o inconformismo do agravante procede, preservada, embora, a convicção do MM. Juiz da causa, mormente, diante os crescentes abusos do pedido de gratuidade.

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suficiente a declaração firmada pelo interessado (artigo 4º, da Lei 1060/50), assegurando-se, assim, o seu acesso à Justiça.

Ao contrário do que afirmado pelo i. magistrado, referido dispositivo legal foi, sim, recepcionado pelo artigo 5º, LXXIV, da Constituição Federal1. Como se vê, evidente é o equívoco de tal premissa:

o texto constitucional não regula assistência judiciária gratuita, mas sim

assistência jurídica integral, conceito muito mais amplo que abarca não

só a ação judicial em si, mas também a consultoria e atividade jurídica extrajudicial em geral.

In casu”, não havendo indícios de riqueza nos autos capazes de modificar tal situação, a declaração de fls. 29 é o que basta para a concessão do benefício, podendo ser posteriormente revogado, se comprovada situação econômica diferente, mesmo porque, incumbe à parte adversa a prova em sentido contrário. Por ora, os fatos de o apelante ter alguns bens em seu nome e ter como “total de rendimentos tributáveis” cerca de R$ 21.500,00 por ano, por si só, não demonstram que ele possui condições de arcar com as custas do processo, sem prejuízo de seu sustento e de sua família.

Não custa acrescentar, ainda, pronunciamento desta E. Corte de Justiça, em que Relator o eminente Desembargador

JOSÉ ROBERTO BEDRAN, no mesmo sentido:

“Para a obtenção da assistência judiciária

nela contemplada “basta a declaração feita pelo próprio interessado, de que a sua situação econômica não permite vir a juízo sem prejuízo da sua manutenção ou de sua família. Essa norma infraconstitucional põe-se, ademais, dentro do espírito da Constituição, que deseja que

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seja facilitado o acesso de todos à Justiça (CF, art. 5º, XXXV)” (RTJ 163/416; RREE nºs 205.746 e 206.958-RS, 1ª Turma, Rel. Min. MOREIRA ALVES). O ter, a autora, comparecido com advogado constituído não elidiria a presunção de necessidade decorrente da mera afirmação nesse sentido feita, até porque corresponderia à expressa indicação dos próprios interessados, assim também admitida na lei (art. 5º, § 4º). Não se deve olvidar que, se vier a ser apurado o contrário e elidida a presunção existente, o beneficiário do favor incorrerá na grave pena de pagar o décuplo das custas judiciais incidentes (art. 4º, § 1º).”(Agravo de Instrumento nº 378.389-4/1).

3 Relativamente aos documentos exigidos pelo i. magistrado de primeiro grau em atendimento à cota ministerial, tem-se que a r. decisão agravada comporta parcial reforma.

3.1 A “planta atualizada do imóvel

usucapiendo, assinada por profissional habilitado, contendo localização exata, confrontações (tomando por base os imóveis, com indicação das matrículas / transcrições), medidas perimentrais, área e benfeitorias existentes no imóvel”, exigida pelo item II da cota da d. representante do

Ministério Público, é, diante da hipossuficiência financeira do autor, de todo dispensável com vistas a viabilizar o processamento da presente demanda.

Não se nega que o artigo 942, do Código de Processo Civil exige a juntada da planta do imóvel para a propositura da demanda em que se pleiteia o reconhecimento da usucapião. Ocorre que, como cediço, tal exigência, há muito tempo, já foi flexibilizada pela doutrina quando presentes elementos suficientes à localização e individualização do imóvel usucapiendo.

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No caso dos autos, em que o autor litiga sob o manto da assistência judiciária, com maior razão é de ser dispensada a apresentação de tão dispendioso documento. Ora, exigir do beneficiário da justiça gratuita a apresentação de planta atualizada, “assinada por

profissional habilitado”, na inicial de usucapião equivale a vedar-lhe o

acesso à Justiça, sendo óbvio que ele não terá condições de arcar com os custos deste trabalho.

Assim, com a devida vênia do convencimento esposado pelo i. magistrado a quo, mais razoável que se admita a inicial da presente ação sem a planta do imóvel usucapiendo, determinando-se, oportunamente, que ela seja confeccionada por meio de perícia, observando-se a benesse da gratuidade concedida.

3.2 - No que tange aos itens III, IV, V da cota ministerial (certidões atualizadas expedidas pelas circunscrições imobiliárias a que pertence o imóvel e as que anteriormente pertenceu e certidão atualizada do Cartório Distribuidor Cível), a mesma sorte assiste ao agravante.

Ora, sendo o autor beneficiário da assistência judiciária gratuita, a requisição de tais certidões junto às Circunscrições Imobiliárias e ao Distribuidor deve ser do juízo, cabendo ao agravante o dever de diligenciar.

Aliás, nos termos do disposto na lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, artigo 12, § 2º, in verbis: “O autor terá os benefícios

da justiça e da assistência judiciária gratuita, inclusive perante o cartório de registro de imóveis”.

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Nesse sentido, também: “Se o autor, beneficiário

de justiça gratuita, não tem condições financeiras para obter certidão do Registro de Imóveis, cabe ao juiz requisitá-la” (JTJ 159/181).

Ademais, se o benefício da gratuidade alcança a serventia extrajudicial, com maior razão os serviços judiciais, como se colhe da ementa da E. Sexta Câmara de Direito Privado deste Tribunal, a seguir transcrita:

“JUSTIÇA GRATUITA. DEMANDA DE

USUCAPIÃO ESPECIAL. DETERMINAÇÃO

PARA APRESENTAÇÃO DA MATRÍCULA, DE CERTIDÃO NEGATIVA DE PROPRIEDADE E

VINTENÁRIA DO DISTRIBUIDOR CÍVEL.

INADMISSIBILIDADE. DOCUMENTOS QUE

PODEM SER REQUISITADOS DIRETAMENTE

PELO JUÍZO. COMPREENSÃO DAS

PROVIDÊNCIAS NO BENEFÍCIO DA

GRATUIDADE ÍNSITO À DEMANDA.

INTELIGÊNCIA DO ART. 12, § 2º, DA LEI Nº. 10.257/01. MANUTENÇÃO, CONTUDO, DA OBRIGAÇÃO DA AUTORA DE INDICAÇÃO DOS CONFRONTANTES E DOS DADOS DOS TITULARES DO BEM APÓS A VINDA DAS

CERTIDÕES. AGRAVO PARCIALMENTE

PROVIDO.” (A.I. nº 990.10.001558-3 Relator

Des. VITO GUGLIELMI j. 11/02/2010).

3.3 Com relação aos comprovantes de impostos, taxas e “outros documentos indicativos do 'animus domini'” (item

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VI do Parecer Ministerial), tampouco merece subsistir a exigência feita pelo d. Juízo a quo.

De fato, não sendo tais documentos exigidos por qualquer dispositivo legal para viabilizar o processamento da ação de usucapião e não sendo tampouco indispensáveis ao julgamento do mérito da demanda, carece a decisão agravada de reparo.

Nesse sentido,

"PROCESSO - Usucapião - Indeferimento de substituição no pólo ativo da demanda - lnocorrência de transmissão da propriedade - Celebração de "compromisso de cessão de direitos possessórios de venda e compra e outros pactos" - Desnecessidade de prévia

regularização do domínio sobre o bem e de comprovação de recolhimento de tributos -

Recurso provido. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA - Desnecessidade de apresentação de cópia da declaração de rendimentos dos requerentes e do contrato celebrado com seu advogado - Beneficio que deve ser concedido por determinação legal, por se tratar de hipótese de usucapião especial urbana - Inteligência do art. 12, §2°, do Estatuto da Cidade - Recurso provido" (TJSP, Agravo de Instrumento n°.

9052451-05.2007.8.26.0000, Rel. Luiz Antônio de Godoy, 1ª Câmara de Direito Privado, j . 29/01/2008).

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3.4 Por fim, apenas no que tange à qualificação completa dos confrontantes do imóvel usucapiendo, a r. decisão merece subsistir.

Ora sendo a individualização das partes (autor e réu) requisito indispensável da petição inicial, nos termos do artigo 282, II c.c. artigo 942, ambos do CPC, certo que não há como se afastar tal exigência, devendo a apresentação da relação dos confrontantes, na medida em que dependente do exame das certidões de matrícula acima referidas, ser realizada após a remessa dos documentos ao juízo.

4 - Do exposto, dá-se parcial provimento ao recurso para conceder ao agravante as benesses da justiça gratuita, bem assim, para afastar a exigência de apresentação da planta atualizada do imóvel, das certidões atualizadas expedidas pelas circunscrições imobiliárias a que pertence o imóvel e as que anteriormente pertenceu, da certidão atualizada do Cartório Distribuidor Cível, e dos comprovantes de impostos, taxas e “outros documentos indicativos do 'animus domini'”.

JOSÉ JOAQUIM DOS SANTOS RELATOR

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