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A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos como Monumento do Povo Negro na cidade de São Paulo

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Academic year: 2021

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Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo ISBN 978-65-86753-13-4

EIXO TEMÁTICO:

( ) Ambiente construído e sustentabilidade

( ) Cidade e saúde: desafio da pandemia de covid-19 ( ) Cidades inteligentes e sustentáveis

( ) Engenharia de tráfego, acessibilidade e mobilidade urbana ( ) Meio ambiente e saneamento

(X ) Memória, patrimônio e paisagem

( ) Projetos, intervenções e requalificações na cidade contemporânea

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos como Monumento

do Povo Negro na cidade de São Paulo

The Church of Our Lady of The Rosary of Black Men as Black People’s Monument in São

Paulo

La Iglesia de Nuestra Señora del Rosario de los Hombres Negros como Monumento del

Pueblo Negro en la ciudad de São Paulo

Fabrício Forganes Santos

Mestrando FAAC/UNESP, Brasil. fabricio.forganes@unesp.br

Prof. Dr. Nilson Ghirardello

Professor Doutor, FAAC/UNESP, Brasil. nilson.ghirardello@unesp.br

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RESUMO

Desde o início das discussões sobre o patrimônio brasileiro, os bens elencados sempre estiveram à mercê dos desejos de uma elite branca, que pautava suas escolhas a partir de seus gostos e de seus costumes, a fim de manter no espaço urbano apenas os monumentos que pudessem representar a hegemonia de seu grupo, ou perpetuar a história de seus heróis. Neste contexto, os conceitos aplicados ao patrimônio seriam utilizados para fundamentar a opção pela preservação de um bem em detrimento a outro, sendo os monumentos ignorados, geralmente, os simbólicos para aqueles grupos sociais cujas histórias deveriam ser apagadas, como os povos negros ou indígenas. Utilizando como cenário a cidade de São Paulo no século XX, e como objeto de estudo a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, edificada em 1908 no Largo do Paissandu, cercania do núcleo histórico da cidade de São Paulo, este trabalho objetiva provocar reflexões acerca da constituição do patrimônio nacional, estabelecendo uma análise crítica sobre o modo como a sociedade brasileira se relaciona com os monumentos destinados à memória do povo preto. Como resultados, espera-se comprovar que, ainda no século XXI, a legislação patrimonial no Brasil é utilizada para priorizar os interesses de uma classe dominante, restando aos grupos marginalizados a organização de outras estratégias para a preservação de seus monumentos e de sua história urbana nas cidades brasileiras.

PALAVRAS-CHAVE: Patrimônio Negro. Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. São Paulo

ABSTRACT

Since the debates about Brazilian heritage started, the properties selected as such have always been at the mercy of a white elite, which guided their choices based on their tastes and habits, in order to keep in the urban space specifically monuments that could represent the hegemony of that group and perpetuate the history of their white heroes. In this context, the concepts applied to what is known as heritage would be used to justify a choice for preserving an asset at the expense of another, being the ones ignored, generally, important to those social groups whose histories were chosen to be erased, such as black or indigenous peoples. Considering the city of São Paulo in the twentieth century as a background, and the Church of Our Lady of The Rosary of Black Men, built in 1908 in Largo do Paissandu, around the historic center of the city of São Paulo, this study aims to provoke reflections on the constitution of Brazilian national heritage, establishing a critical analysis of the way in which Brazilian society relates to black people’s memory monuments. As a result, it is expected to prove that, even in the 21st century, patrimonial legislation in Brazil is used to prioritize the interests of a ruling class, forcing marginalized groups to come up with different strategies in order to preserve their monuments and their urban history in Brazilian cities.

KEYWORDS: Black Heritage. The Church of Our Lady of The Rosary of Black Men. São Paulo. RESUMEN

Desde el inicio de las discusiones sobre patrimonio brasileño, las propiedades catalogadas siempre han estado a merced de los deseos de una élite blanca, que orientó sus elecciones en función de sus gustos y costumbres, con el fin de mantener en el espacio urbano sólo los monumentos que pudieran representar la hegemonía de su grupo o perpetuar la memoria de sus héroes. En este contexto, los conceptos aplicados al patrimonio se utilizarían para justificar la opción por la preservación de un bien en detrimento de otro, siendo los monumentos ignorados, en general, los simbólicos para aquellos grupos sociales cuyas historias deben borrarse, como los negros o los pueblos indígenas. Tomando como escenario la ciudad de São Paulo en el siglo XX, y la Iglesia de Nuestra Señora del Rosario de los Hombrens Negros, construida en 1908 en el Largo de Paissandú, cerca del centro histórico de la ciudad de São Paulo, este estudio tiene como objetivo provocar reflexiones sobre la constitución del patrimonio nacional, estableciendo un análisis crítico de la forma en que la sociedad brasileña se relaciona con los monumentos destinados a la memoria de los negros. Como resultado, se espera probar que, incluso en el siglo XXI, la legislación patrimonial en Brasil se utiliza para priorizar los intereses de una clase dominante, obligando a los grupos marginados a organizar otras estrategias para la preservación de sus monumentos y de su historia urbana en ciudades brasileñas.

PALABRAS CLAVE: Patrimonio Negro. Iglesia de Nuestra Señora del Rosario de los Hombres Negros. São Paulo.

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Para se compreenderem as relações estabelecidas entre a comunidade negra e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, construída em 1908 no Largo do Paissandu, faz-se necessária uma investigação acerca dos vínculos criados através dos séculos, retornando ao contexto do século XVIII, no antigo lugar onde a primeira Irmandade Negra de toda Província de São Paulo construiu sua igreja. O templo primitivo da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos foi erguido por volta de 1728, a partir da intercessão do ermitão Domingos de Mello Tavares em favor de um pequeno grupo de negros, composto por escravizados, que se organizavam naquele lugar para exercer suas práticas católicas desde 1711 (ARROYO, 1954, p. 201). Sobre o lugar de implantação e a arquitetura da primeira edificação, o pesquisador Raul Joviano do Amaral (1953) concluiu que seria:

um tabuleiro natural antecipando-se à íngreme descida que mais tarde chamariam de Acú [...]. Nesse tabuleiro, cabeça de morro, pleno campo eivado de barbas de bode, os “malungos”1 erigiram uma rústica e paupérrima capelinha em terras devolutas. (AMARAL, p. 32)

A citação de Amaral sugere que a localização desta primeira igreja se deu em lugar desvalorizado, e que a edificação teria sido erguida com as dificuldades inerentes ao padrão de vida dos negros escravizados. Contudo, a despeito das condicionantes dos setecentos, a construção simples se transformaria em um templo imponente no século XIX, em torno do qual a circulação constante de africanos e crioulos – moradores das casas contíguas à igreja, ou trabalhadores de diversas atividades realizadas às portas do Rosário, como a venda de doces e frutas (RIBEIRO, 2016, p. 115) –, instauraria um importante território negro na cidade de São Paulo.

O templo católico dos Homens Pretos, no decorrer do século XIX, se consagrou como marco principal da presença urbana dos negros paulistanos, reconstruindo laços identitários da diáspora e despertando a vocação daquele enclave no estabelecimento de redes de solidariedade e apoio às necessidades dos malungos. A vocação do Largo do Rosário em congregar a população preta, corroborou para a inserção de novos devotos na Irmandade Negra ali fundada, favorecendo, consequentemente, o aumento das contribuições financeiras e a aquisição de muitas propriedades, localizadas na Rua XV de Novembro – antiga Rua do Rosário – e nas vias adjacentes (QUINTÃO, 2002, p. 63). Por intermédio deste espólio, os negros paulistanos, principalmente os poucos escravizados que eram irmãos do Rosário no século XIX, alcançaram poder e destaque em meio ao cenário escravista de São Paulo.

O fluxo constante de pessoas, parte delas composta de negros libertos, com o passar dos anos, qualificou o Largo do Rosário como um cobiçado lugar comercial, despertando o olhar especulativo para este valioso enclave, que passaria a ser frequentado, a partir da década de 1860, também pela elite paulistana (BARBUY, 2006, p. 39). Animados com o comércio de luxo que se firmava na Rua XV de Novembro e nas cercanias da Igreja dos Homens Pretos, e desejosos, então, de uma paisagem semelhante à das cidades europeias, a classe dominante recorreria a instrumentos legislativos para promover o “branqueamento” daquele núcleo urbano, afastando o território negro ali constituído para as bordas da cidade.

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A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (Figura 1), inaugurada no Largo do Paissandu em 1908, foi a contrapartida de um longo processo iniciado nos anos pós-abolição, que objetivou a expulsão da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos do terreno que ocupava desde o século XVIII, devido à valorização que aquele primeiro lugar, do triângulo histórico de São Paulo, alcançou nas últimas décadas do século XIX (RIBEIRO, 2016, p.115). A ação urbana atendeu, especificamente, aos interesses da elite paulistana pós-abolicionista, que, objetivando cercear o direito dos povos pretos à cidade, estabeleceu acordos com os poderes legislativos e eclesiásticos para tomar parte do espólio dos pretos do Rosário, oferecendo-os à municipalidade para a promoção de reformas urbanas.

Publicada pela Câmara de São Paulo em 24 de dezembro de 1903, a Lei n° 698 ratificou a força da elite branca paulistana sobre a população preta, determinando a destruição da primeira Igreja dos Homens Pretos de São Paulo e a expropriação das casas de posse da Irmandade Negra. O acordo estabelecido delegava à municipalidade o financiamento e a construção da nova igreja, cujo projeto, em arquitetura eclética, atendia aos desejos do clero paulistano em plena romanização. Como os pretos, católicos ou não, haviam constituído relações sociais no entorno do templo católico, a desapropriação transferiu também o território negro para o lugar da igreja eclética, deslocando o enclave negro do Largo do Rosário para o Largo do Paissandu.

Figura 1- Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos no Largo do Paissandu. 1935. Autor: Aristodemo Becherini.

FONTE: Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo

2. METODOLOGIA E OBJETIVOS DESTE TRABALHO

O presente trabalho objetiva provocar reflexões acerca da escolha dos bens patrimoniais brasileiros, utilizando como objeto de estudo a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Paulo (1908), analisada a partir das obras de Adolf Riegl (1903), Ulpiano de Menezes (1992) e Françoise Choay (2001). Aplicando como metodologia o confronto de fontes primárias – que revelam as tentativas de expropriação do patrimônio constituído pela

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Irmandade Negra – com obras clássicas que versam sobre o monumento e o patrimônio, pretende-se apresentar a maneira como a elite branca se apropriou da disciplina do urbanismo para oprimir ainda mais os povos historicamente já oprimidos, segregando o direito, garantido pela legislação do século XX, de preservação, no plano urbano, da história dos diferentes povos que formaram a identidade nacional. Ao provocar um questionamento acerca do tratamento destinado ao templo católico dos Homens Pretos de São Paulo, busca-se comprovar que os instrumentos legais criados no século XX para a proteção do patrimônio brasileiro, nem sempre foram utilizados para preservar a memória de todos os grupos sociais.

3. O LARGO DO PAISSANDU E A IGREJA DOS HOMENS PRETOS

No início do século XX, o caráter periférico e desprestigiado do Largo do Paissandu concorria com as particularidades do Largo do Rosário à época de implantação da primeira igreja dos pretos. O Paissandu era uma região em que “poucos acreditavam no desenvolvimento [...], zona

não muito saneada, frequentada por gente de reputação duvidosa” (AMARAL apud RIBEIRO,

2016, p. 120), local apropriado, segundo as convicções dos vereadores de São Paulo, para a implantação da nova Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.

A análise urbanística de ambos os lugares, onde foram implantadas as Igrejas do Rosário dos Pretos, encontra paralelo com as características dos espaços reservados aos grupos marginalizados, como mouros e judeus, na toponímia das cidades medievais portuguesas, o que sugere a adoção do modelo do colonizador no desenho urbano das vilas colonizadas. Ao discorrer sobre o desenvolvimento das cidades medievais, o historiador Leonardo Benévolo (2019) citaria que o grupo formado pelos que estavam à margem da organização feudal seriam acondicionados em assentamentos às portas da cidade murada, nos subúrbios, haja vista os burgos não estavam dispostos a acolhê-los (BENÉVOLO, p. 298); outrossim, caso a cidade expandisse, este grupo não seria inserido no burgo, mas transferido para os novos subúrbios. Por ser contemporâneo à formação das cidades portuguesas, há hipóteses de que este modelo urbano pode ter sido utilizado na fundação das cidades do Brasil, cabendo aos territórios negros as vicissitudes aplicadas aos espaços ocupados por outros grupos marginalizados.

Parte deste pensamento, do lugar dos negros ser na periferia, estaria intrínseco nas palavras que o Dr. Correa Dias proferiu na 48ª Sessão Ordinária, realizada na Câmara Municipal de São Paulo em 19 de dezembro de 1903, quando foi promulgada a lei n° 698. Não obstante o lugar desprestigiado destinado às práticas católicas dos negros na cidade de São Paulo, o urbanismo poderia ser utilizado também para controlar as formas como os pretos se relacionavam com a cidade. Ao entender a importância do templo católico na formação de um novo território negro paulistano, o vereador, utilizando como exemplo a destruição de outras igrejas, revelaria que “intransigências”, como a concentração de negros, poderiam ser resolvidas mediante novas destruições:

“Dirão que a egreja dali não sahirá mais... ora, ninguem pensava que a egreja do Collegio sahisse do logar em que estava: alguem pensava que o templo que antigamente existiu no largo do Ouvidor fosse dali

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FONTE: MAIA, 1945, fig. 69 FONTE: Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo

Figura 2 – Projeto de Remodelação do Largo do Paissandu, com implantação do monumento a Duque de Caxias. Autor: Francisco Prestes Maia

Figura 3 – Monumento a Duque de Caxias. C. 1940. Autor: Victor Brecheret

retirado? Os templos e os prédios são transitórios, enquanto houver mundo há de haver município. ”2

O teor do discurso do vereador refletiria o pensamento da elite paulistana nas primeiras décadas do século XX. Não obstante o cerceamento urbanístico, a Irmandade do Rosário dos Homens Pretos ainda sofreria com as imposições da Igreja paulistana na forma de utilizar a nova igreja, estando proibidas as celebrações realizadas com a ritualística inculturada – prática comum no antigo templo – , em cumprimento às diretrizes do Concílio Vaticano I (SOUZA, 2004, p. 391). Apesar disso, a predisposição política das Irmandades Negras encontrou lugar no templo de arquitetura eclética, acolhendo movimentos como a “Associação dos Homens Unidos”, que passou a se reunir na igreja do Paissandu a partir de 1917 (RIBEIRO, 2016, p.121).

Mesmo utilizando o novo templo de acordo com os padrões estabelecidos pelo clero paulistano, a Igreja do Rosário dos Pretos teria sua integridade física ameaçada outra vez, devido à valorização do lugar onde estava implantada, desta feita pela expansão do centro de São Paulo. Com o objetivo de melhorar o sistema viário daquela região, a Câmara Municipal de São Paulo, no início dos anos de 1940, novamente teve como alvo a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, elaborando um projeto, sob a orientação do prefeito Francisco Prestes Mais (Figuras 2), que visava à redução do Largo do Paissandu e à substituição do templo católico pela estátua do Duque de Caxias (Figura 3), obra do artista italiano Victor Brecheret (MAIA, 1945, p. 69). As negociações dariam à Irmandade Negra um outro terreno em um novo bairro periférico, chamado Barra Funda, porém, em decorrência de inúmeros protestos, o projeto foi abortado e então a igreja dos pretos pôde ser preservada no Largo do Paissandu (RIBEIRO, 2016, p. 120).

Enfraquecida pelas adversidades de caráter religioso e urbano, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos sofreria com a redução de adeptos a partir da década de 1940. No ano de

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1953, com o intuito de despertar a atenção da comunidade negra para o Largo do Paissandu, o prefeito Jânio Quadros promoveu um concurso para criação da estátua da Mãe Preta, sendo vencedor o artista Júlio Guerra. Contudo, a instalação da escultura não refletiu diretamente no ingresso de novos adeptos. Como herdeiros desta história de resistência urbana, coube àqueles poucos irmãos, a preservação do legado dos malungos do Rosário, perpetuando a memória de seus ancestrais, e elaborando novas estratégias para garantir a posse e assegurar a integridade de seu patrimônio imobiliário nas demais décadas do século XX.

4. RESULTADOS

Os primeiros trinta anos do século XX desenharam o cenário que envolveu os primeiros debates sobre o patrimônio no Brasil. Apoiada no sentimento nacionalista3, que permeou a sociedade brasileira desde meados do século XIX, a elite republicana renunciava a seu passado colonial a fim de construir uma nova história, narrada pelos seus heróis. Neste contexto, a destruição dos edifícios coloniais foi algo fundamental, uma campanha defendida pelas Câmaras Municipais – que disputavam o pioneirismo de suas cidades, adotando modelos europeus atualizados – e pela Igreja Católica do Brasil – que alicerçada nas diretrizes do Concílio Vaticano I (1869-1870) implementava a romanização nos seus templos, dissolvendo as irmandades leigas. No caso da cidade de São Paulo, o quadro da Primeira República inspiraria os projetos inaugurados nas duas primeiras décadas do século XX: construções religiosas inspiradas em modelos historicistas como a Igreja de Santa Cecília (1901), a Basílica de Nossa Senhora da Conceição e Santa Efigênia (1910), a Catedral da Sé (iniciada em 1913), além da igreja dedicada à Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos – objeto de estudo deste trabalho – ; construções laicas como o prédio da Estação da Luz (1901) e o Teatro Municipal (1911); e intervenções urbanas como o alargamento e renovação da Rua Libero Badaró (1911), propostas que objetivavam atender aos novos hábitos da sociedade paulistana, buscando uma paisagem renovada inspirada nas grandes cidades da Europa.

Entretanto, este anseio por uma cidade produzida a partir de novas estéticas e narrativas fez com que a sociedade destruísse parte de sua arquitetura histórica. Tal constatação pode ter motivado a criação do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN, a partir do

3 O nacionalismo foi uma corrente ideológica que valorizava as características de uma nação. No Brasil, o sentimento nacionalista pode ser identificado desde a proclamação da Independência. Contudo, foi na inauguração da República que a busca por uma identidade nacional impulsionou o campo das artes, promovendo as escolas estéticas que poderiam valorizar signos brasileiros. Na literatura, o movimento começou com o fim da monarquia, a partir dos trabalhos de Gonçalves Dias (1823-1864) e de José de Alencar (1829-1877). Na pintura, alguns artistas como Almeida Junior (1850-1899) e Pedro Alexandrino (1856-1942), se dedicaram a uma arte decorativa impregnada por um conteúdo nacional, utilizando no vocabulário plástico elementos da flora, da fauna e, posteriormente, da tradição marajoara. Na música, Antônio Carlos Gomes (1836-1896) compôs óperas com temas nacionais, embora a estética ainda fosse europeia. A mesma tendência pode ser identificada na arquitetura, em que modelos europeus recuperados se mesclaram a detalhes decorativos da flora ou da fauna brasileira, como os projetos que Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851-1928) executou para obras da cidade de São Paulo. No urbanismo, o fim do padroado resultou em intervenções urbanas inspiradas no plano de Georges-Eugène Haussmann (c.1857), contudo, as novas nomenclaturas para ruas e largos se utilizaram de nomes de personalidades regionais.

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Decreto-lei nº 25, publicado em 1937 pelo então ministro Gustavo Capanema, com o intuito de viabilizar ações de proteção ao patrimônio histórico e artístico nacional, instituindo o tombamento como principal instrumento (CHUVA, 2012, p. 91). A criação do SPHAN, de certa maneira, foi possível graças à amizade entre Rodrigo Melo Franco de Andrade e o ministro, ambos mineiros, cuja juventude em Belo Horizonte permitiu estabelecer laços de amizade com intelectuais escritores e políticos, como Afonso Arinos e Carlos Drummond de Andrade, este último um dos nomes mais expressivos do modernismo. De acordo com a pesquisa de Márcia Chuva (2012), o envolvimento com o modernismo pode ter influenciado as diretrizes de preservação arquitetônica e urbana dos primeiros anos do SPHAN:

O pensamento que se organizou dentro do SPHAN pode ser perfeitamente associado ao segundo tempo modernista, como tratou Eduardo Jardim de Moraes. Para ele, os modernistas começaram a se preocupar, a partir de 1924, com a inserção do Brasil na ordem moderna e civilizada mundial a partir da mediação do nacional. Ou seja, sem abrir mão do universalismo, que marcou a origem do movimento, passaram a buscar os meios de pertencimento à ordem mundial não rompendo com o passado, mas, justamente, buscando nele as suas singularidades como nação. [...] O modernismo brasileiro passa a se interessar pelos problemas que dizem respeito a sua identidade e a determinação da identidade nacional. (CHUVA, 2012, p. 92)

A busca pela preservação da arquitetura com traços identitários brasileiros objetivava, sobretudo, a reprodução de soluções construtivas genuínas naqueles novos projetos modernistas, concebendo, dessa maneira, um suposto partido arquitetônico nacional. Em se tratando de um país erguido a partir dos braços dos escravizados, supunham os intelectuais que os povos negros e indígenas, indiretamente, sempre estariam contemplados. Optaram, neste primeiro momento, dentre as inúmeras edificações existentes, por aquelas que apresentavam em seus projetos a excelência na reprodução de padrões estéticos da arquitetura produzida na Europa, como edificações barrocas excepcionais – onde atuaram os artistas negros Aleijadinho e Mestre Valentim – e aquelas erguidas por indígenas escravizados nos primeiros anos da colonização do país, como as casas bandeiristas paulistas.

O procedimento de escolha dos técnicos do SPHAN ignorou, contudo, os edifícios de arquitetura trivial, como a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Paulo de 1908. No caso do prédio estudado neste trabalho, a atribuição pautada em valores artísticos, e não históricos, ignorou que este seria um dos primeiros exemplares de arquitetura religiosa eclética produzida na cidade de São Paulo, desconsiderando também a relação simbólica com a população preta, para a qual a igreja teria sido erguida. Desta feita, a grande maioria das igrejas de Irmandades Negras não estaria relacionada na lista dos bens tombados, assim como as outras edificações construídas para uso dos povos marginalizados.

Diferente do que acontecia com os edifícios tombados, a preservação dos templos dedicados às práticas do Catolicismo Negro não estariam à mercê das teorias de Ruskin e Violet Le Duc, até porque, nos anos que se seguiram ao tombamento dos primeiros edifícios, os técnicos de patrimônio não detinham seus olhares aos bens identitários da população preta. Contudo, não obstante o desinteresse dos técnicos para com a Igreja de Nossa Senhora do Rosário de São Paulo, a comunidade negra paulistana estabeleceria novos laços afetivos para com este edifício,

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dando continuidade à rede de sociabilidade inaugurada no primeiro templo – localizado no antigo Largo do Rosário – , e atribuindo à nova edificação um caráter singular. O apreço a esta nova igreja se daria não somente pelos novos usos, mas, precisamente, pelo modo de atuação sobre a memória coletiva, construída a partir da relevância histórica desta Irmandade Negra para as gerações mais recentes. Recorrendo a Françoise Choay (2001), no que tange à denominação que os pretos paulistanos podem ter aferido ao seu templo católico, o verbete “monumento” é o que mais se aproxima:

O sentido original do termo é do latim monumentum, que por sua vez deriva de monere “advertir”, “lembrar”, aquilo que traz à lembrança alguma coisa. A natureza afetiva do seu propósito é essencial: não se trata de apresentar, de dar uma informação neutra, mas de tocar, pela emoção, uma memória viva. Nesse sentido primeiro, chamar-se-á monumento tudo o que for edificado por uma comunidade de indivíduos para rememorar ou fazer outras gerações de pessoas rememorarem acontecimentos, sacrifícios, ritos ou crenças. (CHOAY, 2001, p. 17-18)

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos não teria sido construída no Largo do Paissandu para ser, efetivamente, um monumento, marco da presença negra no urbanismo republicano paulistano, mas uma edificação que deveria abrigar a devoção católica praticada por um grupo de negros desde o século XVIII, renovada segundo as diretrizes da Igreja Católica do início do século XX. Contudo, a maneira com que a edificação fez vibrar o passado, como se fosse presente, contribuiu para a preservação da identidade étnica da comunidade religiosa ali instalada (CHOAY, 2001, p. 19) – e, quiçá, de toda a população negra paulistana – , a partir da atuação do templo na memória coletiva dos pretos da Primeira República, carentes do lugar original onde as relações sociais eram vivenciadas. Esta memória coletiva, enraizada no passado, mas reconstruída no presente, segundo Ulpiano de Menezes, é parte de:

um sistema de lembranças cujo suporte são grupos sociais espacial e temporalmente situados. Melhor que grupos, é preferível falar de redes de interrelações estruturadas, imbricadas em circuitos de comunicação. Essa memória assegura a coesão e a solidariedade do grupo e ganha relevância nos momentos de crise e pressão. Não é espontânea: para manter-se viva precisa permanentemente ser reavivada. (MENEZES, 2001, p. 15)

Embora atuando na memória coletiva dos negros paulistanos, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos do Largo do Paissandu não foi reconhecida como um bem patrimonial de São Paulo no século XX, por ser um edifício simbólico para a história de um grupo que esteve à margem da sociedade brasileira, não identificados como partícipes da memória nacional. Esta memória nacional, segundo Ulpiano (MENEZES, 1992, p. 15), não se referia à somatória das memórias coletivas, mas, por ser de ordem ideológica, estaria simbolicamente conformada segundo os interesses do Estado e das classes dominantes. De acordo com o mesmo autor, como reflexo da intervenção das elites na ordem social, a sociedade brasileira, até meados da década de 1980, utilizaria o recurso do esquecimento seletivo no capítulo destinado à história “dos excluídos, dos escravos, mulheres, crianças, operários, minorias raciais e sociais,

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loucos, e oprimidos de todo o tipo” (MENEZES, 1992, p.18). Sendo o objeto desta investigação

uma igreja de pretos, certamente a aferição de valores seria diferente entre as classes sociais, o que corroborou para um prédio abandonado em um ambiente constantemente renovado. Estabelecendo uma análise teórica acerca da preservação da Igreja dos Homens Pretos de São Paulo no decorrer do século XX, os valores que os grupos sociais antagônicos atribuíram à edificação podem ser identificados a partir da obra de Adolf Riegl (1903). Dos valores difundidos por Riegl, o de “Antiguidade” estaria mais próximo aos interesses da elite paulistana, que optou pela não intervenção, controlando a morte prematura do templo – destruição total – apenas em respeito à sacralidade do edifício. Em contrapartida, para a comunidade negra, os esforços na preservação do templo se equipararam ao valor de “Rememoração Intencional”, já que os cuidados tinham como objetivo evitar a degradação do prédio, evidenciando o seu papel de monumento. Diferente do que aconteceu até os oitocentos, quando a população negra vivia no entorno da igreja, a manutenção da igreja ao longo do século XX teria sido uma tarefa árdua, nem sempre efetuada com esmero, parte pelo enfraquecimento da Irmandade Negra decorrente das pressões religiosas, e parte pela gentrificação acometida ao Paissandu, que impediu a moradia dos pretos nos arredores.

Em contrapartida ao estado de abandono da Igreja dos Homens Pretos, o Largo do Paissandu seria constantemente atualizado ao longo do século XX, recebendo ícones arquitetônicos como o Hotel Victoria (1921), o Centro Comercial Grandes Galerias (1963) e o Edifício Wilton Paes (1968) do arquiteto modernista Roger Zmekhol, tornando o templo católico cada vez mais destoante naquele enclave paulistano. Ainda sobre o entorno da igreja, das atualizações no panorama do Paissandu, apenas a estátua da Mãe Preta (1953) teria sua relação com a comunidade negra, não pelo viés católico, mas a partir da atribuição de outras tradições afro-brasileiras, como os umbandistas e candomblecistas (Figura 4), que passaram a utilizar esta estátua para homenagens em datas alusivas aos povos negros.

Figura 4 – Ato ecumênico realizado no Largo do Paissandu. À esquerda, um homem coloca flores na estátua da Mãe

Preta. À direita, em amarelo, a fachada da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. 2018

FONTE: foto do autor

A Constituição Federal de 1988 seria um marco na preservação dos edifícios simbólicos para povos marginalizados, como indígenas ou negros. O processo de discussão, que durou cerca de dois anos desde a instalação da Assembleia Nacional Constituinte, atendeu várias das reivindicações de diversos movimentos sociais – incluindo do Movimento Negro –, abrindo

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possibilidades para uma legislação ordinária mais favorável aos direitos dos povos pretos. Dentre os inúmeros tópicos do documento, o artigo 216 do Capítulo III seria fundamental para a inclusão dos territórios negros nos processos de tombamento, promovendo a preservação de ambiências a partir da designação do “patrimônio cultural”, e estendendo a proteção aos bens significativos para os povos negros ao reconhecer a importância dos quilombos no contexto histórico brasileiro, conforme o parágrafo 5°:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. [...]

§ 1º O poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.

§ 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos.

O Estado Brasileiro, até 1988, negou à população preta a valorização de sua contribuição relevante na formação da identidade nacional, o reconhecimento de seu legado material e a proteção de seus monumentos. A Constituição Federal foi a iniciativa que assegurou o respeito à produção artística e arquitetônica realizada pelos negros, contudo dois atos anteriores a 1988 revelam que os bens patrimoniais simbólicos para os povos pretos já despertavam a atenção dos intelectuais desde 1982: a abertura do processo de tombamento da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França4, e o pedido de tombamento do primeiro terreiro de candomblé5, o Ilê Axé Iyá Nassô Oká, conhecido como terreiro da Casa Branca (SOUZA, 2018, p. 5). Ainda que demonstrassem o interesse de alguns intelectuais ou membros de conselhos de preservação em reconhecer a importância do legado negro no ambiente das cidades brasileiras, estes exemplos eram insuficientes para abarcar a complexidade dos territórios negros presentes em todo o país6.

4 Construída nos oitocentos por uma Irmandade Negra organizada na Freguesia de Nossa Senhora da Penha, zona leste de São Paulo, a inscrição do templo na lista dos bens patrimoniais paulistas - Processo n° 20776/79, Resolução de Tombamento 23 de 4 de maio de 1982 - teria sido iniciativa do arq. Carlos Lemos, parecerista do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo – CONDEPHAAT. Em 1991, a mesma igreja seria protegida também na esfera municipal, pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo – CONPRESP, a partir da Resolução de Tombamento 05/91.

5 IPHAN – Processo número 1.067-T-82, Inscrição número 93, Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, fls. 43, e Inscrição número 504, Livro Histórico, fls. 92. Data: 14. VIII. 1986

6 A relação de bens tombados relacionados à presença da comunidade negra seguiria em movimento ascendente a partir da década de 1980, incluindo lugares naturais na lista do patrimônio cultural brasileiro - como o lugar do Quilombo dos Palmares na Serra da Barriga- AL (1986) e do Terreiro Zogbodo Male Bogun Seja ou Roça do Ventura – BA (2015) – e manifestações culturais, como festas e danças com forte influência afro, no rol do patrimônio imaterial nacional – exemplo da Capoeira (2008) e da Festa da Boa Morte – BA (2010).

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A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos do Largo do Paissandu somente em 1992 foi identificada como relevante no núcleo histórico paulistano pelo órgão de preservação da cidade de São Paulo, o CONPRESP7, não tanto pela história ou memória tecida a partir do templo religioso, mas como parte da paisagem cultural do Vale do Anhangabaú. O instrumento de tombamento aplicado à Igreja dos Homens Pretos de São Paulo, embora protegesse a edificação em sua presença física, não foi capaz de modificar as relações estabelecidas ao longo do tempo, tampouco alterar as relações estabelecidas entre alguns grupos e o largo, ou a quantidade de negros inseridos na irmandade católica, que seguiu reduzida. Em parte, a atualização de estratégias urbanas colonialistas – que permanentemente forçaram a concentração da população negra nas regiões mais periféricas da cidade – e o acento mais comercial para o entorno do Largo do Paissandu, contribuíram para o esvaziamento dessa região e para o abandono do prédio, dando à praça, em uma análise superficial a partir do urbanismo ambiental hermenêutico8, características “topofóbicas”. O tombamento também não foi capaz de possibilitar a imediata intervenção arquitetônica que o edifício necessita, contudo trouxe “luz” ao templo religioso, despertando o interesse de estudiosos para a realização de trabalhos científicos tendo como tema o Catolicismo Negro em São Paulo. Somadas as forças com os malungos, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos segue com sua missão de resistir no plano urbano paulistano ainda no século XXI, com quase nenhum apoio dos órgãos de proteção patrimonial, mas, ainda assim, acolhendo os defensores do patrimônio afro-brasileiro, dando cobertura às tradições religiosas inculturadas e assegurando as discussões acerca do lugar da memória negra na cidade de São Paulo.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Retirados do seu lugar original, no Largo do Rosário, os irmãos do Rosário dos Pretos de São Paulo estariam à mercê dos interesses políticos da elite branca, tendo constantemente cerceados os direitos de circulação na cidade, como resposta à conquista por emancipação. Ainda que a resistência e a adaptabilidade tenham sido as marcas dos malungos paulistanos, não seriam suficientes para garantir a fixação no Largo do Paissandu, consequência dos reflexos da economia local e dos interesses de um pequeno grupo de São Paulo, que influenciava as decisões no plano urbano como forma demonstrativa de poder. Somado às adversidades urbanas, o decorrer do século XX reservaria pressões também de caráter eclesiástico, provocando o esvaziamento da Irmandade dos Homens Pretos e o abandono da Igreja naquele segundo enclave urbano.

7 CONPRESP – Número de Processo: 16-042.110-91*60. Resolução de Tombamento: 37/92 8 O Urbanismo Ambiental Hermenêutico (UAH), proposto por Marcelo Zárate, tem como objetivo propor um modelo de visão ou cidade análoga, que orienta ações projetuais de maneira interdisciplinar, a fim de revelar o código genético do lugar. A metodologia tenta mostrar também os traços únicos de cada espaço urbano, favorecendo a compreensão das características próprias do lugar e das atividades sociais distintas realizadas, aspectos que devem ser estudados separadamente (ZARATE, 2015 apud ANTUNES, 2019, p.870). O estudo baseia-se na leitura dos diferentes cronotopos do lugar, tentando correlacionar os diversos agentes e usos aferidos ao espaço, e as consequências ocasionadas pela ação de ambos, estabelecendo, deste modo, uma metodologia para a intervenção no local.

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A Constituição Federal de 1988 colocaria em pauta os desejos de uma sociedade mais plural, estendendo a proteção ao patrimônio de todos os grupos, como parte dos intuitos na construção de um legado nacional maior, onde todos os partícipes da identidade brasileira estivessem contemplados. Contudo, ainda assim, as noções aplicadas ao “patrimônio” nem sempre encontrariam ecos em todos os bens significativos para a população negra, caso da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Paulo, principalmente porque o “projeto de embranquecimento” do início do século XX ainda repercute na sociedade brasileira contemporânea, acometendo, principalmente, os Monumentos Negros. Aos defensores do patrimônio nacional, cabe, no século XXI, a aplicação de conceitos e teorias na perspectiva dos grupos minorizados, a fim de que a sociedade civil cumpra o que fora estabelecido na Constituição Federal, colaborando com os pretos na salvaguarda de seus bens materiais e imateriais, e implementando medidas urbanas que confrontem as pressões capitalistas objetivando, sobretudo, uma cidade mais inclusiva.

Figura 5 - Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e estátua da Mãe Preta, Monumento Negro paulistano no Largo do Paissandu. Autor: Rubens Cavallari. 2019

FONTE: Acervo Digital Jornal Agora São Paulo, acessado em 23 de setembro de 2020.

AGRADECIMENTO

Os autores deste trabalho agradecem à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pela bolsa de estudos recebida, bolsa esta que permitiu o desenvolvimento desta investigação. Igualmente ainda agradecem a gentileza dos responsáveis pelo Arquivo Histórico Municipal de São Paulo, Arquivo Metropolitano de São Paulo, Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, Centro de Memória da Câmara Municipal de São Paulo de São Paulo e Museu da Cidade de São Paulo pela permissão de acesso para pesquisa a importantes documentos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Fontes primárias:

Arquivo Histórico Municipal de São Paulo Volume 1988. Lei n° 698.

Centro de Memória da Câmara Municipal de São Paulo

Sessão Ordinária realizada em 25-09-1879. Anais da Câmara Municipal de São Paulo 3ª Sessão Ordinária realizada em 13-01-1887. Anais da Câmara Municipal de São Paulo

48ª Sessão Ordinária realizada em 19-12-1903. P. 438. Anais da Câmara Municipal de São Paulo.

194ª Sessão Ordinária realizada em 31-08-1953, publicada em D.O. em 02-09-1953. P. 448. Anais da Câmara Municipal de São Paulo

Resoluções de Tombamento:

CONDEPHAAT - Número do Processo: 20776/79. Resolução de Tombamento: 23 de 4/5/82 CONPRESP - Número de Processo: 16-042.110-91-60. Resolução de Tombamento: 37/92 CONPRESP - Resolução de Tombamento: 05/91.

IPHAN – Processo número 1.067-T-82, Inscrição número 93, Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, fls. 43, e Inscrição número 504, Livro Histórico, fls. 92. Data: 14. VIII. 1986

Fontes secundárias:

AMARAL, Raul Joviano do. Os pretos do Rosário. São Paulo: Alaume, 1953

ANTUNES, Beatriz Leite. O Urbanismo Ambiental Hermenêutico como ferramenta de caracterização cronotópica: A reconstituição da fazenda Serra Negra em Botucatu. / Beatriz Leite Antunes, Rosio Fernández Baca Salcedo. Anais do III Simpósio Brasileiro de Gestão Urbana. Bauru: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, p. 867-881, 2019.

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