0466296-14.2012.8.19.0001
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DÉCIMA TERCEIRA CÂMARA CÍVEL
0466296-14.2012.8.19.0001Apelante: ELISABETE AMORIM BARBOSA
Apelada : COMPANHIA ESTADUAL DE ÁGUAS E ESGOTOS CEDAE Relatora: Desembargadora SIRLEY ABREU BIONDI
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA CUMULADA COM REPETIÇÃO DE INDÉBITO CUMULADA COM INDENIZATÓRIA. COBRANÇA DE TARIFA A TÍTULO DE SERVIÇO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO QUANDO O LAUDO PERICIAL INFORMA QUE O ESGOTO EFLUENTE DO IMÓVEL DA AUTORA É COLETADO E TRANSPORTADO PELA REDE DA RÉ E O DESÁGUE É REALIZADO SEM TRATAMENTO, PORTANTO, EM DESACORDO COM REGULAMENTAÇÃO AMBIENTAL‖. INEXISTÊNCIA DE INFORMAÇÃO ADEQUADA SOBRE O PREÇO COBRADO A TÍTULO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. IMPOSSIBILIDADE DE SE PRESTIGIAR AGENTE POLUIDOR. PROVIMENTO AO RECURSO. VOTO VENCIDO.
I - ―(...). O esgoto efluente é coletado na fossa séptica localizada junto a frente da casa da autora e transportado para a GAP (galeria de águas pluviais) e através desta é transportado até o desague sem tratamento no canal da Estrada do Encanamento, a cerca de 100 metros de distância‖, segundo laudo pericial; II – Portanto, não há tratamento de esgoto e não se pode prestigiar agente poluidor;
III – De qualquer forma, a cobrança de um serviço parcialmente realizado exige, inclusive pelos princípios éticos, informação adequada sobre as razões que levaram a concessionária à fixação do preço cobrado. Do contrário, prestigiaríamos o enriquecimento sem causa;
IV – Os milhões gastos para despoluição da Baía de Guanabara entremostram-se inúteis diante do comportamento de uma concessionária cujo sócio majoritário é o próprio Estado;
V – Provimento ao recurso com remessa de peças ao Ministério Público a fim de se apurar a existência de crime ambiental;
VI – VOTO VENCIDO.
V O T O V E N C I D O
Reiterando meu incomensurável apreço e inexcedível admiração à veneranda maioria, entendo que a sentença merece ser modificada.
ADEMIR PAULO PIMENTEL:000011686
Assinado em 14/01/2014 20:24:350466296-14.2012.8.19.0001
―(...).
3.3.
Dados cadastrais do imóvel
Conforme relatório solicitado e entregue pelo técnico da ré na vistoria. - Data da ligação: 31/3/1979
- Tipo de instalação: residencial
- Hidrômetro: Y08C175286, instalado em 29/9/2009 - Número de economias: 01
3.4. A
rede de esgotamento sanitário
Ilustrada na planta do Anexo I, fornecida pelo técnico da ré na vistoria desta perícia.
Sistema unitário de coleta de esgoto. O esgoto efluente é coletado na fossa séptica localizada junto a frente da casa da autora e transportado para a GAP (galeria de águas pluviais) e através desta é transportado até o desague sem tratamento no canal da Estrada do Encanamento, a cerca de 100 metros de distância.
Foto 4 — Rede de águas pluviais na frente da casa da autora e sentido do transporte dos efluentes. Setas vermelhas indicam o trajeto para o canal da Rua do Encanamento. Seta verde indica visita da GAP junto á casa da autora (foto 1).
A existência de apenas fossa séptica no imóvel da autora está de acordo com exigência da Fundação Rio Águas para imóvel residencial.
4. Análise da documentação juntada pela ré Referente à responsabilidade do município do Rio de Janeiro pelo serviço de esgotamento na região do imóvel da autora.
1) Termo de Reconhecimento Recíproco de Direitos e Obrigações entre o Estado, CEDAE e o Município do Rio de Janeiro, em 28/1/2007, fls. 177 a 201 Destaques para a perícia no caso em questão:
Define a responsabilidade da Prefeitura do Município do Rio de Janeiro pelos serviços de coleta, transporte e tratamento adequado de esgoto na Área de Planejamento 5 (AP5)
- Cláusula segunda, parágrafo primeiro (f1. 178).
Define no parágrafo segundo os bairros que abrangem a AP5, todos na zona oeste da cidade. O anexo I, f1. 183-188 apresenta a relação de bairros e suas delimitações. A delimitação do bairro do endereço da autora consta das fls. 185/186, incluído na área da AP5.
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2) Contrato de concessão 001/2012 em 24/1/2012 entre o Município do Rio de Janeiro e a Empresa Foz Águas do Brasil, fls.205-220.
Destaques para a perícia no caso em questão:
Conforme a Cláusula 6, item 6.1, f1.206, o objeto da concessão é a prestação de serviços de esgotamento sanitário na AP-5,
Portanto:
— 28/1/2007: responsabilidade pelos serviços de coleta, transporte e tratamento adequado do esgoto na AP5 passou para a Prefeitura do Município do Rio de Janeiro.
— 24/1/2012: município celebrou contrato concedendo o serviço para a empresa Foz Águas do Brasil na AP5.
5. Quesitação
5.1. Quesitos da autora 01.95)
1) Queira o Sr. Perito informar se existe tubulação coletora que parte do imóvel da rua Jamacaru, s/n Quadra 142 Lote 07, Cosmos, Campo Grande, Rio de Janeiro — RJ. CEP: 23066-310 e se a mesma é ligada a rede de tratamento da empresa RÉ.
Resposta: O endereço da autora é Rua Ajapi e não o indicado na formulação do quesito.
Para o endereço da autora a resposta é negativa. Detalhado no item 3.4. O efluente do imóvel da autora é coletado e transportado através da rede de águas pluviais para desagua sem tratamento no canal próximo, na Rua do Encanamento.
2) Queira o Sr. Perito informar se há tratamento dos dejetos coletados da instalação de rede coletora de esgoto da unidade supramencionada.
Resposta: Negativo. Conforme resposta ao quesito anterior.
3) Queira o Sr. Perito informar a forma de tratamento dos dejetos e se o mesmo se encontra dentro dos padrões ambientais e em conformidade com a legislação em vigor
Resposta: Não há tratamento após a coleta dos dejetos na unidade da autora. Detalhado no item 3.4.
4) Queira o Sr. Perito informar se entre o trajeto da casa da autora até a rede coletora, existem vazamentos que comprometam o serviço.
Resposta: Nenhuma anormalidade observada na vistoria.
5) Queira o Sr. Perito informar se o consumo de água/esgoto está condizente com a unidade habitacional objeto deste estudo.
Resposta: Sim. Conforme fls. 163-165, histórico de consumo de água entre 10/2000 e 03/2013, o consumo foi sempre faturado pelo mínimo.
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Conclusão
Baseada na resposta aos pontos controvertidos fixados pelo juízo à fl. 138: a) a existência de rede de captação de dejetas de esgoto que atenda a residência da autora mantida e conservada pela empresa ré.
F- : Sim. Conforme item 3.4, o esgoto é coletado na fossa séptica localizada junto à frente da casa da autora e ligado à GAP (galeria de águas pluviais), através da qual é transportado até o desague sem tratamento no canal da Estrada do Encanamento, a cerca de 100 metros de distância.
b) a existência de serviço de captação, transporte e tratamento de tais dejetas e, em caso negativo, qual o destino que lhes é dado, esclarecendo a perícia se da forma como é feito atende às leis e regulamentos ambientais.
(...)‖.
Portanto, examinando o laudo pericial – fl. 272 - doc. 00372, se conclui que a Apelada se apropria de rede que não construiu. Portanto, a Apelante paga pela rede através dos tributos que foram suportados pela consumidora.
Por outro lado, prestigiar a cobrança estaríamos, data maxima venia, prestigiando um agente poluidor – “(...). O esgoto efluente é coletado na fossa séptica
localizada junto a frente da casa da autora e transportado para a GAP (galeria de águas pluviais) e através desta é transportado até o desague sem tratamento no canal da Estrada do Encanamento, a cerca de 100 metros de distância”.
Repisa-se:
―F- : Conforme resposta ao item anterior, o esgoto efluente do imóvel da autora é coletado e transportado pela rede da ré e o deságue é realizado sem tratamento, portanto, em desacordo com regulamentação ambiental‖ – fl. 275.
Ainda que fosse possível a cobrança por etapa, de onde a CEDAE extraiu o valor cobrado? O consumidor tem direito à informação adequada à luz do Código de Defesa e Proteção do Consumidor.
Esse valor arbitrariamente cobrado possibilita o enriquecimento sem causa que, tanto o Direito quanto a Moral, veementemente repelem.
Voto no sentido de se acolher o apelo na íntegra – fl. 06, à exceção dos juros que se contarão da citação:
―(...).
Seja declarada a cobrança indevida da taxa de esgoto, e o RÉU condenado a restituir os valores pagos indevidamente pela AUTORA, em dobro, conforme o
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artigo 42, P. Único do CPDC, ou seja, R$ 2.944,44 (Dois mil, novecentos e quarenta e quatro reais e quarenta e quatro centavos), até novembro de 2012, somados a esses os que vierem a ser pagos durante o curso da ação;
6- (...). 7- (...);
8- A correção monetária seja consoante verbete 43 da Súmula do S.T.J. (Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo);
9- (...)‖.
Custas e honorários, estes no percentual de 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação, remetendo-se cópia da sentença, deste voto e do laudo pericial ao Ministério Público ante a possibilidade de ocorrência de crime ambiental.
Eis as razões de meu voto, VENCIDO. Rio, 16 de outubro de 2013.
ADEMIR PAULO PIMENTEL
DesembargadorRevisor VENCIDO