POLÍTICA CARCERÁRIA E
SISTEMA PENITENCIÁRIO
Prisão: sua concepção, estrutura
e problemas intrínsecos
• A passagem à um modelo punitivo pautado no encarceramento
• Abordagem humanitária do exercício do jus puniendi
• Efetivação do domínio público sobre as instituições judiciárias
• Direito Penal guiado pelos interesses da classe dominante
• Critérios de seleção que determinam quem será encarcerado são essencialmente discriminatórios.
• Cárcere como aparato de segregação e extermínio (América Latina); • Cárcere como mecanismo de contenção dos segmentos indesejados.
A banalização do encarceramento
• Inflação contínua das taxas de aprisionamento ao redor do mundo em decorrência das teses punitivista alavancadas, em grande parte, pelos EUA, após a ascensão do sistema neoliberal.
• Rápida deterioração da já precária estrutura carcerária em razão do inchaço desestruturado e mal planejado.
Ano População carcerária Taxa de presos por 100 mil habitantes 1980 503.586 220 2015 2.217.000 698 Ano População carcerária Taxa de presos por 100 mil habitantes 1995 173.104 107 2015 607.731 301 EUA Brasil
Encarceramento em massa Inadequação da estrutura existente Agravamento das condições carcerárias Aumento da violência intramuros Perda do controle do Estado Aumento da violência extramuros
Descrédito com relação à estrutura
2.217.000 1.657.812 649.500 607.731 411992 159241 120905 64288 42829 14298 0 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000 2.500.000
Número total de Presos
EUA (1) China (2) Rússia (3) Brasil (4) Índia (5) África do Sul (11) Colômbia (13) Argentina (25) Chile (44) Portugal (78)
Panorama atual do Sistema Carcerário no
Brasil e no Mundo
• O número total aproximado de presos no mundo, de acordo com as estimativas do ICPR de 2013, era de 11 milhões de pessoas.
• Praticamente 50% das pessoas presas no mundo estão nos 5 primeiros países, sendo 40% deste percentual nos EUA.
Fonte: DEPEN (Departamento Penitenciario Nacional) e ICPR (Institute for Criminal Police Research)
698 119 450 301 33 292 244 154 240 138 0 100 200 300 400 500 600 700 800
Número de presos por 100 mil habitantes
EUA (2) China (126) Rússia (11) Brasil (33) Índia (213) África do Sul (35) Colômbia (49) Argentina (96) Chile (50) Portugal (113)
• A média global, em 2013, era de 155 presos por 100 mil habitantes.
• Na América do sul a média, em 2013, era de 202 presos por 100 mil habitantes
Fonte: DEPEN (Departamento Penitenciario Nacional) e ICPR (Institute for Criminal Police
Panorama atual do Sistema Carcerário no
Brasil e no Mundo
90,70% 93,70% 91,90% 93,60% 95,60% 97,50% 93,00% 95,60% 92,60% 94,10% 9,30% 6,30% 8,10% 6,40% 4,40% 2,50% 7,00% 4,40% 7,40% 5,90% E U A ( 1 8 ) C H I N A ( 5 3 ) R Ú S S I A ( 2 6 ) B R A S I L ( 5 1 ) Í N D I A ( 1 1 0 ) Á F R I C A D O S U L ( 1 7 7 ) C O L Ô M B I A ( 4 5 ) A R G E N T I N A ( 1 1 0 ) C H I L E ( 3 5 ) P O R T U G A L ( 6 3 ) DISTRIBUIÇÃO DE PRESOS POR SEXO
Homens Mulheres
• A média majoritária mundial (aproximadamente 80% dos países) de mulheres encarceradas situa-se entre 2% e 9%. No continente americano a média é de 4,9%.
• Contudo, nos últimos 15 anos o número de mulheres encarceradas cresceu 50% enquanto o de homens cresceu apenas 20%
Fonte: DEPEN (Departamento Penitenciario Nacional) e ICPR (Institute for Criminal Police Research)
Panorama atual do Sistema Carcerário no
Brasil e no Mundo
79,60% 0 81,70% 61,70% 32,40% 73,10% 62,20% 50,40% 71,50% 84,10% 20,40% 0 18,30% 38,30% 67,60% 26,90% 37,80% 49,60% 28,50% 15,90% E U A ( 1 3 9 ) C H I N A R Ú S S I A ( 1 4 9 ) B R A S I L ( 7 7 ) Í N D I A ( 1 6 ) Á F R I C A D O S U L ( 1 0 5 ) C O L Ô M B I A ( 7 8 ) A R G E N T I N A ( 5 0 ) C H I L E ( 1 0 3 ) P O R T U G A L ( 1 6 1 ) PRISÕES DEFINITIVAS X PRISÕES PROVISÓRIAS
Condenados em definitivo Aguardando julgamento
Fonte: DEPEN (Departamento Penitenciario Nacional) e ICPR (Institute for Criminal Police
Panorama atual do Sistema Carcerário no
Brasil e no Mundo
102,70% 94,20% 153,90% 118,40% 132,70% 154,90% 99,50% 110,90% 112,30% 0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00% 120,00% 140,00% 160,00%
Porcentagem de ocupação das vagas disponíveis no Sistema Carcerário
EUA (109) China Rússia (134) Brasil (45) Índia (82) África do Sul (65) Colômbia (44) Argentina (117) Chile (96) Portugal (93)
Fonte: DEPEN (Departamento Penitenciario Nacional) e ICPR (Institute for Criminal Police Research)
Panorama atual do Sistema Carcerário no
Brasil e no Mundo
Panorama detalhado
do Sistema Carcerário
Brasileiro
• Caso São Paulo fosse um país, sua população carcerária lhe garantiria o 9° lugar na escala das nações com maior número de reclusos, atrás apenas dos EUA, China, Rússia, Índia, Brasil
(nesta conta com 388.678
presos), Tailândia, México e Iran. • Se comparado a países com a
mesma população (p.e.
Argentina e África do Sul), São Paulo seria o “país” com maior número de presos.
Análise acerca do número total de reclusos por estado
Fonte: DEPEN (Departamento Penitenciario Nacional) e ICPR (Institute for Criminal Police
• Fazendo-se a mesma comparação utilizada no slide anterior, o Mato Grosso do Sul seria o “país” com o 5° maior número de presos por 100 mil habitantes.
• São Paulo, por sua vez, seria o 7°, seguido de imediato pelo Distrito Federal.
• Ou seja, em comparativo com os países apontados no 4 slide, os três estados acima ficariam atrás apenas dos EUA.
Panorama detalhado
do Sistema Carcerário
Brasileiro
Análise acerca da taxa de presos por 100 mil habitantes por estado
Fonte: DEPEN (Departamento Penitenciario Nacional) e ICPR (Institute for Criminal Police Research)
• O índice de 265% de ocupação de Pernambuco seria suficiente para lhe garantir o 9° lugar na lista de países com maior defasagem de vagas no sistema prisional.
• Os estados de Alagoas, Amazonas, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal, por sua vez, ficariam acima da 20ª colocação. • São Paulo além de figurar na 9ª colocação
em número de reclusos, ficaria em 35° lugar, na escala de déficit de vagas do sistema prisional, acima do Brasil.
Panorama detalhado
do Sistema Carcerário
Brasileiro
Análise acerca do percentual de
ocupação das vagas prisionais
disponíveis em cada estado
Fonte: DEPEN (Departamento Penitenciario Nacional) e ICPR (Institute for Criminal Police
• Sergipe, com seus 73% de reclusos aguardando julgamento,
apareceria em 9° lugar na
listagem de países com maior número de prisões cautelares. • Os outros três estados em
situação mais grave (Maranhão, Bahia e Piauí), por sua vez, estariam acima do 22° lugar.
Panorama detalhado
do Sistema Carcerário
Brasileiro
Análise acerca do percentual de
reclusos aguardando julgamento por estado
Fonte: DEPEN (Departamento Penitenciario Nacional) e ICPR (Institute for Criminal Police Research)
Panorama detalhado do Sistema Carcerário Brasileiro
115656 - 31% 164823 - 44% 66596 - 18% 6952 - 2% 2666 - 0% 346 - 0% 18023 - 5%Número total de Vagas por tipo de regime ou natureza da prisão
Sem condenação Regime fechado Regime semiaberto Regime aberto Medida de Internação RDD Outros 250213 - 41% 250094 - 41% 89639 - 15% 15036 - 3% 2497 - 0% 360 - 0%
Número total de reclusos por tipo de regime ou natureza da prisão
Sem condenação Regime fechado Regime semiaberto Regime aberto Medida de Segurança -internação Medida de Segurança -tratamento ambulatorial
Fonte: DEPEN (Departamento Penitenciario Nacional)
Panorama detalhado do Sistema Carcerário Brasileiro
Fonte: DEPEN (Departamento Penitenciario Nacional)
A miséria do Sistema Carcerário Brasileiro
Recurso Extraordinário n° 580252
• Responsabilidade Civil do Estado por danos morais decorrentes da superlotação carcerária e, consequentemente, não atendimento das condições mínimas de cumprimento de pena nos estabelecimentos prisionais
• Ministro Luís Roberto Barroso - existência de danos morais por violação à dignidade da pessoa humana é inequívoca. Reparação do dano por meio de remição de dias de pena cumpridos em condições degradantes.
ADPF n° 347
• Reconhecimento da violação de direitos fundamentais da população carcerária e adoção de diversas
providências no tratamento da questão prisional do país
• Ministro Marco Aurélio (Relator) - No sistema prisional brasileiro ocorre violação generalizada de
direitos fundamentais dos presos no tocante à dignidade:
“O quadro é geral, devendo ser reconhecida a inequívoca falência do sistema”.
“A situação é, em síntese, assustadora: dentro dos presídios, violações sistemáticas de direitos humanos; fora deles, aumento da criminalidade e da insegurança social”
• Por maioria, os ministros deram parcial provimento a medida cautelar e determinaram:
• aos juízes e tribunais – que, observados os artigos 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e 7.5
da Convenção Interamericana de Direitos Humanos, realizem, em até noventa dias, audiências de custódia, viabilizando o comparecimento do preso perante a autoridade judiciária no prazo máximo de 24 horas, contados do momento da prisão;
• aos juízes – que estabeleçam, quando possível, penas alternativas à prisão, ante a circunstância de a reclusão ser sistematicamente cumprida em condições muito mais severas do que as admitidas pelo arcabouço normativo;
• à União – que libere o saldo acumulado do Fundo Penitenciário Nacional para utilização com a finalidade para a qual foi criado, abstendo-se de realizar novos contingenciamentos.
• Em acréscimo, os ministros, por maioria de votos, acolheram proposta do ministro Luís Roberto Barroso para determinar à União e ao Estado de SP que forneçam informações sobre a situação do sistema prisional.
Recurso Extraordinário n° 592581
• Discussão acerca da competência do Poder Judiciário para determinar à Administração Pública que realize obras ou reformas emergenciais em presídios para garantir os direitos fundamentais dos presos
• Ministro Ricardo Lewandowski (Relator) - o Poder Judiciário não pode se omitir quando os órgãos competentes comprometem a eficácia dos direitos fundamentais individuais e coletivos. “É chegada a hora de o Judiciário fazer jus às elevadas competências que lhe foram outorgadas pela Constituição Federal, assumindo o status de Poder do Estado, principalmente quando os demais Poderes estão absolutamente omissos na questão dos presídios”
• Ausência de afronta ao princípio da separação de poderes em razão do princípio da inafastabilidade da jurisdição (artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal), que diz que a lei não subtrairá à apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão ou ameaça de lesão a direito.
Reflexos do descaso
• Sistema penitenciário marcado por
complexas
e
profundas
mazelas,
traduzidas em constantes violações dos
direitos humanos – adoção do lema
“direitos humanos para
humanos
direitos”
• Proliferação de presídios que mais se
assemelham à depósitos de corpos,
voltados à segregação e extermínio de
seus habitantes.
• Renúncia do Estado para com seus
deveres, em parte fundado no raciocínio
excludente da classe dominante e, por
outro lado, em razão do alto custo
implicado na manutenção correta do
sistema.
• Surgimento e ascensão das facções
criminosas.
“Pois bem, que tipo de caos seria o cárcere? Da inorganização ou da
desorganização? Nenhum deles. O cárcere não é caos algum. Não é da
inorganização, porque ele não ‘nasceu’ do acaso, foi sendo pensado e criado em suas diferentes modalidades, sempre teve um sentido e sua sobrevivências já é secular. Também não é da desorganização, porque não se tem conhecimento de que tenha passado por alguma crise que o tenha feito perder seu sentido (ainda que pérfido), sua organização (ainda que totalitária e desumana), sua disciplina (ainda que opressora) ou mesmo sua aparente ‘indisciplina’ (ainda que incrível e sádica). A indisciplina do cárcere, com suas ‘mortes anunciadas’ (na feliz expressão
de Zaffaroni), é sadicamente pragmática.
Tudo o que acontece na história fatídica do cárcere, todos os alegados problemas não são expressão de caos algum, mas expressão do próprio cárcere, daquilo que ele é e pretende ser. As tais omissões dos poderes públicos não são omissões por esquecimento, ou devidas a uma lógica de priorização de verbas, mas são omissões
pragmáticas. Ou melhor, não são omissões, são formas de ação, de gestão que se reproduzem unicamente por um motivo: por se tratar de cárcere e para reafirmar o
seu sentido.”
(Augusto Alvino de Sá, O caos penitenciário... seria mesmo um caos?)
Política Carcerária
Fabio Konder Comparato: “Política pública se traduz em um programa de ação composto
por normas e atos unificados pela sua finalidade.”
A crise da política de encarceramento
em massa nos EUA
• EUA – crise 2008. Direito Penal mínimo decorrente do dinheiro real mínimo.
Ano População Prisional Total População Prisional / 100 mil habitantes 2000 1.937.482 683 2002 2.033.022 703 2004 2.135.335 725 2006 2.258.792 752 2008 2.307.504 755 2010 2.270.142 731 2013 2.217.000 698
• Políticas adotadas: facilidades fiscais, fechamento de prisões, controle
comunitário, programas não institucionais. Fonte: DEPEN (Departamento Penitenciario Nacional) e ICPR (Institute for Criminal Police
A crise da política de encarceramento
em massa
• Estado do Kentucky (2011) – revisou sentenças por crimes não violentos, estabelecendo distinção mais precisa entre crimes graves e crimes leves.
• Alabama, Califórnia e Washington – aumentaram pena pecuniária de crimes patrimoniais.
• Mississipi – diminuiu de 85% para 25% os casos em que penas privativas de liberdade devem ser aplicadas.
• Programas não institucionais – ex: serviço comunitário. • Diminuição do encarceramento, não do controle penal.
O Brasil e a Política Carcerária
• Ausência de política carcerária nacional. Leis e medidas pontuais oscilam entre populismo e idealismo punitivo.
• Relatório Ilanud: política criminal brasileira: uma série de medidas orientadas por concepções teóricas contraditórias, adotadas sem um planejamento efetivo e com monitoramento – quando existente – descontínuo.
Não é possível identificar uma finalidade comum que lhes oriente e confira unidade. Ano População Prisional Total População Prisional / 100 mil habitantes 2000 232.755 133 2002 239.345 133 2004 336.358 182 2006 401.236 212 2008 451.429 234 2010 496.251 253 2014 607.731 301
Fonte: DEPEN (Departamento Penitenciario Nacional) e ICPR (Institute for Criminal Police
O Brasil e a Política Carcerária
Fonte: DEPEN (Departamento Penitenciario Nacional)