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LETRAMENTO CRÍTICO E LITERATURAS DE LÍNGUA INGLESA NO ENSINO DE PESSOAS COM SURDEZ

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Academic year: 2021

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LETRAMENTO CRÍTICO E LITERATURAS DE LÍNGUA INGLESA NO ENSINO DE PESSOAS COM SURDEZ

Brigite Teichrieb de Castro (PIBIC/CNPq-FA UEM), Vera Helena Gomes Wielewicki (Orientadora), e-mail: avgomes@onda.com.br

Universidade Estadual de Maringá/Departamento de Letras/Maringá, PR. Palavras-chave: educação inclusiva, recepção do texto literário, texto multimodal.

Resumo:

Esta pesquisa de iniciação científica está inserida no Grupo de Pesquisa Produção, Circulação e Recepção de Textos Literários e alocada na linha de pesquisa Literatura e a Formação do Leitor, da área de concentração Estudos Literários, do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Estadual de Maringá – Paraná. Seu objetivo foi investigar possibilidades de ensino de literatura de língua inglesa para surdos diante de uma perspectiva da educação inclusiva e de teorias de letramento crítico. Para tanto, fez-se uma pesquisa bibliográfica e em meio digital e eletrônico para levantar materiais de literaturas de/em língua inglesa. Ao final deste levantamento, chegou-se a cinco materiais, dos quais um foi analisado tendo como respaldo teórico autores como Kress (2007), Stumpf (2002, 2004), Skliar (2005), entre outros. Os resultados ampliam nossa reflexão a respeito da prática educativa aplicada no ensino da literatura de língua inglesa para alunos surdos e avaliam as características e benefícios decorrentes do uso de um texto multimodal.

Introdução

A grande diversidade cultural da atual sociedade globalizada, as políticas públicas de inclusão e as novas tecnologias têm gerado novas demandas e consequências para a educação. É notório que, de forma crescente, livros têm sido substituídos pela tela e a escrita tem perdido espaço para a imagem nas páginas da internet e até mesmo em livros e revistas que se assemelham, cada vez mais, às páginas da grande rede. Isto traz vantagens e ganhos a culturas que, diferentemente da nossa, lêem textos da direita para a esquerda, ao invés da esquerda para a direita, ou mesmo em colunas, ao invés de linhas, ou de forma circular e não linear, uma vez que estas modalidades apresentam características que facilitam a transformação de conhecimentos em saber por este público alvo.

É interessante notar, neste sentido, que para dar uma resposta correta às pluralidades não se pode mais pensar em uma escrita exclusivamente baseada no sistema alfabético e estreitamente associada ao som. Há que se considerar outros sistemas de escritas que registrem línguas visuais-espaciais, como é o caso da língua dos surdos, as quais são regidas

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por lógicas totalmente diferentes das lógicas dos sistemas de escrita alfabéticos (KRESS, 2007).

À luz das considerações apresentadas e cientes das políticas de educação inclusiva do Ministério da Educação que pressupõem que a educação especial não mais ocorra de forma separada do ensino regular, interessa-nos saber quais modos de ler e que tipos de texto estão sendo usados num contexto heterogêneo, constando de alunos surdos e ouvintes, e como proporcionar ao aluno surdo uma leitura além da decodificação.

Além disso, o trabalho justifica-se no contexto de uma universidade pública por incrementar a formação do professor no curso de licenciatura em Letras em face da educação inclusiva, por estar inserido no Grupo de Pesquisa Produção, Circulação e Recepção de Textos Literários, certificado pelo CNPq, e por fazer parte da linha de pesquisa Literatura e a Formação do Leitor, da área de concentração Estudos Literários, do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Estadual de Maringá, concretizando a articulação ensino e pesquisa desejável em instituições de ensino superior.

Assim, realizou-se uma pesquisa bibliográfica e em meio digital e eletrônico sobre possibilidades de ensino de literatura de língua inglesa para surdos diante de uma perspectiva da educação inclusiva e de teorias de letramento crítico.

Materiais e métodos

A fim de responder aos desafios da atualidade e às indagações listadas na introdução, realizou-se uma pesquisa de Iniciação Científica no período entre 1º. de agosto de 2009 à 31 de julho de 2010. A proposta era a de levantar materiais de literaturas de língua inglesa para surdos por meios bibliográficos, digitais e eletrônicos e analisar a aplicabilidade destes materiais na educação para surdos em face de propostas de letramento crítico e sob a perspectiva de uma educação inclusiva. Primeiramente, examinou-se bibliografia sobre fundamentos de letramento crítico e sobre educação especial, mais especificamente a educação de surdos, bem como de métodos de ensino para surdos e de ensino de literatura em língua inglesa. A seguir, fez-se uma pesquisa pela internet e em livrarias, editoras e outros órgãos especializados, como a Deaf Library, a Editora Arara Azul, a FENEIS – Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos, o INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos, a página do MEC e a Gallaudet University para levantar materiais de literaturas de/em língua inglesa. Posteriormente, foram enviados e-mails para professores e coordenadores de cursos de educação especial e de grupos de estudos surdos de universidades brasileiras para uma sondagem sobre possíveis materiais adotados e de conhecimento destes profissionais. Ao final deste levantamento, chegou-se a cinco materiais, dos quais um foi analisado tomando como base a teoria examinada.

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Entre os materiais levantados, selecionou-se o conto de fadas Goldilocks & The Three Bears para ser analisado quanto a sua eficiência e eficácia no ensino de literatura de língua inglesa para surdos em um contexto heterogêneo, constando de alunos surdos e ouvintes.

Goldilocks & The Three Bears é um livro escrito em inglês e na ASL – American Sign Language utilizando-se do Sign Writing, que é um sistema de escrita gestual ou de sinais com o qual se pode registrar qualquer língua de sinais do mundo sem passar pela tradução da língua falada. A SignWriting expressa os movimentos da forma das mãos, o movimento e os pontos de articulação. A autora do livro é Darline Clark Gunsauls. Ela é graduada pela Gallaudet University e diretora da DAC - Deaf Action Committee For SignWriting.

Segundo Stumpf (2004, p. 158), a aprendizagem do SignWriting pelos estudantes surdos permite uma mudança radical de atitude frente à escrita e ocorre de forma bastante rápida.

Stumpf (2002, p. 62) descreve a importância da escrita de sinais para o surdo, explicando que a criança ouvinte sabe o que as palavras significam e as reconhece, pois ouve a fala da família. A criança surda, ao contrário, aprende a ler, porém, como nunca antes ouviu a palavra associada à ação ou a um objeto, não entende o significado desta escrita que reproduz os sons que não consegue ouvir.

Referindo-se ao programa SignWriter, com o qual os surdos podem interagir como os ouvintes interagem com o Microsoft Word, Stumpf diz que os surdos agora têm autonomia na tomada de decisões, uma vez que não dependem mais da aprovação dos ouvintes para saber o significado das palavras (STUMPF, 2002, p.69).

Skliar (2005, p. 27) também ressalta a importância de se assegurar o uso de uma língua visual-espacial para os surdos. Ele afirma que a surdez é uma experiência visual e, portanto, todos os mecanismos de processamento da informação e as formas de ver o mundo também são visuais.

Com relação a isto, Kress (2007) sugere que lógicas distintas regem a escrita baseada num sistema alfabético e a imagem. A escrita baseada na lógica da fala e do som é regida pela lógica do tempo e da sequência de seus elementos no tempo. A imagem é regida pela lógica do espaço e por uma lógica simultânea de seus elementos visuais em contextos espacialmente organizados.

O leitor encontra-se em posições diferentes ao ler um texto escrito e uma imagem ou escrita de uma língua visual-espacial. A escrita fala sobre o mundo dos eventos em sequência e a imagem mostra o mundo das relações entre objetos. Isto é comprovado no SignWriting, por intermédio do qual o sinal é escrito apontando-se a forma das mãos, o movimento ou não das mãos e o ponto de articulação com relação ao corpo do usuário da língua de sinais ou no espaço. Além disso, o significado da imagem é mais fechado e preciso, enquanto que a possibilidade de atribuição de significado a uma palavra é maior, por ela dar margem a isto.

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Sob esta perspectiva, ao trazer um texto multimodal como Goldilocks & The Three Little Bears para uma sala de aula constante de alunos surdos e ouvintes, o que parece ser apenas um texto na versão em língua inglesa e na versão em língua americana de sinais escrita, exige, no entanto, estratégias de leitura diferentes. As conseqüências para o uso da imaginação também são diferentes. As palavras escritas exigem e permitem um uso da imaginação que a imagem não permite. Por outro lado, a imagem permite estabelecer relações entre os elementos e traçar caminhos de leitura que na escrita são fixas.

A partir destas considerações, conclui-se que o modo escolhido, escrito ou imagético, ao endereçar as necessidades de um grupo heterogêneo de alunos é relevante tanto em seu aspecto funcional, como curricular e pedagógico por causa da mudança de lógica que rege cada modo.

Ramos (2004) defende que o surdo só será pleno quando puder circular livremente e sozinho por todas as instâncias sociais, inclusive a tradição literária. A pergunta que nos resta é se queremos aprender com e sobre outras culturas em nossa sociedade e se nós queremos nos beneficiar com as experiências e modos de ver o mundo destas culturas ou se nós desejamos negligenciar este conhecimento.

Agradecimentos

Agradeço a minha orientadora por oportunizar uma pesquisa inovadora em sua área de atuação. Também agradeço à Universidade Estadual de Maringá e à Fundação Araucária por promover e incentivar a pesquisa.

Referências

GUNSAULS, D.C. Goldilocks & The Three Little Bears. 5. ed. La Jolla: The SignWriting Press, 2009.

KRESS, G. Literacy in the New Media Age. Londres e Nova York: Routledge, 2007.

STUMPF, M.R. Sistema signwriting: por uma escrita funcional para o surdo. In: THOMA, A.S.; LOPES, M.C. (Org.). A invenção da surdez: cultura, alteridade, identidades e diferença no campo da educação. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004.

STUMPF, M.R. Transcrições de língua de sinais brasileira em signwriting. In: TESKE, O. et al (Org.). Letramento e minorias. Porto Alegre: Mediação, 2002.

SKLIAR, C. Os estudos surdos em educação: problematizando a normalidade. 3. ed. In: SKLIAR C. (Org.). A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 2005.

RAMOS, C.R. Tradução cultural: uma proposta de trabalho para surdos e ouvintes. In: INES (Org.). Seminário Educação de Surdos: Múltiplas Faces do Cotidiano Escolar. Rio de Janeiro: INES, 22 a 24 de setembro de 2004.

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