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Atuação Extrajudicial do Ministério Público na Defesa do Meio Ambiente

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Academic year: 2020

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Iêda Gonçalves de Aguiar Lara

ATUAÇÃO EXTRAJUDICIAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Resumo: quando a Constituição Federal destinou um capítulo

próprio ao meio ambiente, o Capítulo VI, Título VIII, relativo à or-dem social, ele deu um grande impulso ao papel do Ministério Público, em virtude da ampliação das hipóteses de cabimento da Ação Civil Pública. Já a Lei de Ação Civil Pública confere ao Ministério Público a possibilidade de, além de ajuizar a Ação Civil Pública, instaurar o inquérito civil em defesa do meio ambiente, e o Código do Consu-midor autoriza a instituição a celebrar compromissos de ajustamento de conduta. Analisar-se-á a atuação extrajudicial do Ministério Pú-blico em cada um de seus aspectos.

Palavras-chave: meio-ambiente, Ministério Público,

instru-mentos de atuação, atuação extrajudicial

Artigos

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE

Ministério Público detém papel primordial na tutela ambiental, ta-refa decorrente da própria natureza e status do bem jurídico protegido,

O

definido, no Art. 225 da Constituição Federal, como bem de uso comum do povo. Portanto, a tutela do meio ambiente se situa acima de considera-ções de índole individual, como as de respeito ao direito de propriedade ou as da iniciativa privada.

Para tão importante função, o Parquet poderá se valer de diversos instrumentos de ação, entre os quais, na esfera extrajudicial, podemos des-tacar o inquérito civil e o compromisso de ajustamento de conduta. Na esfera judicial, por sua vez, dispõe o Ministério Público da legitimidade para a propositura da ação civil pública ou das ações penais ambientais.

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O Ministério Público praticamente detém o monopólio da ação ci-vil pública no Brasil. Segundo levantamento estatístico feito pela Confede-ração Nacional do Ministério Público (Conamp), em 1992, 97,6% dessas demandas em matéria de meio ambiente tinham o Parquet como titular.

Desde que o Ministério Público foi autorizado a instaurar inquéritos civis e a celebrar compromissos de ajustamento, é nítida a preferência de seus membros pela solução extrajudicial dos conflitos. Várias são as razões para essa opção, entre as quais podemos indicar a morosidade no julgamento das demandas, o que confere ao compromisso de ajustamento expressiva vanta-gem, pelo seu caráter de título executivo extrajudicial, conferindo-lhe maior celeridade e eficácia, de maneira a evitar o agravamento da lesão pelo decurso do tempo, já que o trâmite da ação civil pública, pela própria complexidade que lhe é inerente, já importa, muitas vezes, em sério prejuízo ambiental.

Neste artigo, procura-se analisar a atuação do Ministério Público na defesa extrajudicial do meio ambiente, selecionando-se alguns aspectos dos meios colocados à sua disposição para atingir o seu mister. Antes de adentrar na análise de tais instrumentos, procuro identificar os interesses tutelados pelo Parquet, dando uma visão do surgimento dos interesses transindividuais. A MULTIPLICAÇÃO DOS DIREITOS

Transformações da Sociedade e do Estado

Na Idade Contemporânea, após os períodos da Pré-História, Anti-güidade, Idade Média e Absolutismo, em que o Estado ou não existia ou era uma instituição enfraquecida ou sem responsabilidade, o Estado atinge um maior grau de evolução com o Estado social e democrático de direito, imediatamente após o Estado-polícia.

Campilongo (apud LENZA, 2005) caracteriza o Estado de direito em liberal, social e pós-social, uma caracterização didática da qual nos valeremos. Assim, o Estado liberal, nascido absolutista, via o poder público como inimigo da liberdade individual, e qualquer restrição ao individual em fa-vor do público era tida como ilegítima. Quando se diz que o Estado liberal era passivo não se quer dizer que era ele destituído de qualquer papel, po-rém que sua intervenção nas relações se dava de forma mínima, já que a jurisdição era responsabilidade sua, na eliminação dos conflitos.

Logo após, surge o Estado social, no bojo da revolução industrial, com a evidenciação do grupo e de seus conseqüentes conflitos sociais. O Estado, então, torna-se garantidor da harmonia social e de alguns direitos

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mutila-dos pela ganância do capitalismo, conquista mutila-dos novos atores sociais daque-le momento, o grupo.

E, finalmente, temos o Estado pós-social, no qual os novos atores sociais são os denominados ‘novos movimentos sociais’. Na sociedade in-dustrialmente desenvolvida, despontam os conflitos de massa, em razão mesmo das violações de massa.

É a transformação da sociedade, ao lado – e propulsora – da trans-formação do Estado, que leva à modificação da prestação jurisdicional em virtude do surgimento de novos conflitos e interesses.

O que se vê, então, é uma multiplicação dos direitos (BOBBIO apud LENZA, 2005) em razão do aumento na quantidade de bens sujeitos à tutela, da extensão da titularidade de alguns direitos e do papel ocupado pelo homem na sociedade. E, assim, à evolução dos direitos corresponde a evolução no reconhecimento desses direitos, com a criação ou aprimoramento dos ins-trumentos de proteção e defesa.

O Direito Analisado em Gerações

É de Bobbio (apud LENZA, 2005b) a classificação de direitos em quatro gerações, a qual caracterizamos:

• Direitos humanos de primeira geração: são os que dizem respeito às liberdades públicas e aos direitos políticos, ou seja, direitos civis e políticos, traduzindo o valor ‘liberdade’ (sobretudo nos séculos XVII, XVII e XIX). Documentos: Magna Carta, do rei João ‘sem terra’, Paz de Westfália, Bill of Rights, Declaração Americana e Declaração Francesa.

• Direitos humanos de segunda geração: privilegiam os direitos sociais, culturais e econômicos, correspondentes ao valor ‘igualdade’. O momento histórico que impulsiona estes direitos é o da Revolução Industrial, pelas péssimas condições de trabalho que fazem eclodir os movimentos e as reivindicações trabalhistas. Documentos representativos: Paz de Weimar e Tratado de Versailles.

• Direitos humanos de terceira geração: são os que dizem respeito aos interesses da coletividade, correspondentes ao valor ‘fraternidade’ ou solidariedade, como o preservacionismo ambiental, a proteção dos consumidores. São os novos direitos, os transindividuais ou metaindividuais.

• Direitos humanos de quarta geração: segundo Bobbio (apud LENZA, 2005b), são aqueles ligados à problemática da manipulação genética do ser humano. Bonavides diz ser aqueles ligados ao direito à democracia, à informação e ao pluralismo.

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Claro deve ficar que a sucessão dos direitos humanos em gerações não substitui a geração anterior, pois todas sobrevivem, com a nova se interagindo; cada geração surge para descrever circunstâncias especiais em determinados momentos históricos.

Os Interesses Transindividuais ou Metaindividuais. Os Interesses Difusos. Os interesses transindividuais categorizam-se em direitos difu-sos, coletivos e individuais homogêneos. O que caracteriza cada um desses interesses é, segundo os doutrinadores, ou seu titular, ou a divisi-bilidade de seu objeto, ou sua indisponidivisi-bilidade, ou o vínculo que une os sujeitos.

Os interesses difusos caracterizam-se, sobretudo, por sua indispo-nibilidade; seu titular é indeterminado, seu objeto, indivisível, e os sujeitos ligam-se por vínculos meramente fáticos, não existe uma relação jurídica a uni-los (LENZA, 2005). “Como individualizar as pessoas lesadas com o derramamento de grandes quantidades de petróleo na Baía da Guanabara, ou com a devastação da floresta Amazônica?”, exemplifica Mazzilli (2001, p. 45) os interesses difusos.

O Código de Defesa do Consumidor (CDC), em seu Art. 81, reco-nhece os interesses transindividuais. Vejamos:

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titu-lar grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendi-dos os decorrentes de origem comum.

Com relação ao meio ambiente, nosso objeto de estudo, ele é um interesse que se encaixa na distinção feita por Mancuso (apud LENZA, 2005a, p. 73) dos interesses difusos:

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[...] eles se agregam ‘ocasionalmente’, em virtude de certas contin-gências, como o fato de habitarem certa região, de consumirem certo produto, de viverem numa certa comunidade, por comungarem pretensões semelhantes, por serem afetados pelo mesmo evento ori-ginário de obra humana ou da natureza etc.

TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS:

FUNÇÃO INSTITUCIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Ao Ministério Público foi destinada, pela Constituição Federal de 1988, “[...] a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos inte-resses sociais e individuais indisponíveis” (BRASIL, 1988).

Ainda reconhece expressamente, a Constituição da República Fede-rativa do Brasil, a existência dos interesses difusos em seu Art. 129, III, a seguir transcrito:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: [...]

III – Promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros inte-resses difusos e coletivos (BRASIL, 1988).

Dessa forma, ela não apenas reconhece os interesses difusos como destina ao Ministério Público a sua proteção, conferindo-lhe os meios para essa atribuição, quais sejam o inquérito civil e a ação civil pública. Também, no Art. 5º, LXXIII, a Constituição Federal conferiu ao cidadão legitimida-de para propor ação popular para anular ato lesivo ao patrimônio público, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.

ATUAÇÃO EXTRAJUDICIAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE

A ação civil pública foi criada pela lei n. 7.347/1985 – a denominada Lei da Ação Civil Pública (LACP) – como instrumento de tutela civil dos interesses difusos e coletivos, entre os quais se insere o meio ambiente, considerado bem de uso comum do povo pela Constituição Federal de 1988, mas também criou o inquérito civil, hoje consagrado na Constituição Fe-deral.

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O CDC incluiu na LACP, no Art. 5º, o § 6º, em que autoriza os órgãos legitimados nesta lei a tomarem compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais.

Também poderá o membro do Ministério Público receber peças como as aludidas no Art. 6º da LACP e ter dúvidas sobre se se trata de caso de instauração de inquérito civil ou não, caso, então, em que poderá autuá-las como ‘Peças de Informação’.

E ainda a Lei Orgânica do Ministério Público no Parágrafo Único, Inc. IV, e caput, prevê que cabe ao Ministério Público promover recomen-dações dirigidas aos órgãos da administração pública estadual ou munici-pal, direta ou indireta, aos concessionários e permissionários de serviço público estadual e municipal e às entidades que exerçam outra função delega-da do Estado ou do Município, ou executem serviço de relevância pública. De forma que a defesa extrajudicial do meio ambiente pode ser feita, pelo Ministério Público, nos casos em que envolvam ameaça ao meio am-biente, em instrumentos de natureza investigatória e preparatória tais como o inquérito civil, o procedimento administrativo preliminar, o compromis-so de ajustamento de conduta, as peças de informação e as recomendações. São instrumentos de que poderá se valer o promotor de justiça para, de forma mais célere, conseguir ou a reparação do dano ou os meios de prova para instaurar a ação civil pública, evitando-se uma lide temerária e/ou que se alongue por prazo demasiado, e sobre os quais discorremos a seguir. O Inquérito Civil

O inquérito civil foi criado pela lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985, a LACP, tendo sido consagrado na Constituição Federal no Art. 129, III. Embora o Ministério Público, antes de 1985, já contasse com o poder, conferido por sua Lei Orgânica, de promover investigações, por meio de diligências, requisições e notificações, é o inquérito civil o sistema de inves-tigação mais disciplinado e metódico do Ministério Público e sujeito a um sistema de controle tanto da própria instituição como da sociedade.

Instrumento de atuação destinado apenas ao Ministério Público, trata-se de um procedimento administrativo com o fim de trata-servir de coleta de elementos de convicção que possibilitem ao promotor de justiça identificar se a hipótese é de propositura ou não da ação civil pública, e, ainda, se presta para colher elementos que permitam a tomada de compromisso de ajusta-mento de conduta, a realização de audiências públicas e de emissão de re-comendação pelo Ministério Público.

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Fases do inquérito civil

Não é objeto do nosso estudo esmiuçar o inquérito civil, detalhando suas fases, no entanto, é importante fazer-se a distinção do procedimento em três fases, ou seja, a fase da instauração, a fase de instrução e a fase de conclusão. O inquérito será instaurado pelo membro do Ministério Público de ofício, atendendo a requerimento, petição ou representação de interessado, ou cumprindo requisição de órgão da administração superior do Ministé-rio Público.

A instauração de ofício ocorrerá caso tome o promotor de justiça conhecimento, por meio de leitura de peças ou informações de outros au-tos, de ofícios ou documentos que lhe cheguem às mãos, ou pelos meios gerais de comunicação, como na leitura de jornais, de fato que, em tese, possa ensejar a propositura de uma ação civil pública.

A LACP diz em seu Art. 6º que qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a iniciativa do Ministério Público fornecendo-lhe informação sobre fatos que constituam objeto de ação civil. Apresentando, assim, qualquer do povo denúncia de lesão ou ameaça de lesão ao meio ambiente1, que

a Constituição Federal trata como direito de petição, o membro do Ministério Público deverá instaurar o procedimento investigatório adequado.

A instauração por meio de requisição de órgão da administração supe-rior do Ministério Público ocorrerá sempre que aja por delegação. O ato de requisição não é mero requerimento, é ordem, que obriga ao cumprimento. Em todos esses casos, o membro do Ministério Público estará ilumi-nado pelo princípio da obrigatoriedade, ou seja, tem ele o dever de agir.

Mazzilli (2000, p. 70) pondera que,

[...] ao deparar-se com peças de informação em matéria civil, o mem-bro do Ministério Público tem três possibilidades: a) se essas peças já são suficientes ‘para identificar que não houve lesão nem há risco de lesão a um dos interesses cuja tutela lhe seja cometida’, preponde-rá de pronto pelo imediato arquivamento dessas peças, sem necessi-dade de instaurar inquérito civil, b) se essas peças de informação já lhe trazem todos os elementos necessários ‘para identificar que hou-ve uma lesão ou há risco de lesão em matéria em que se justifique sua iniciativa’, deve propor de plano a ação civil pública correspondente, dispensando a instauração de inquérito civil porque desnecessário; c) se, entretanto, à vista do exame de tais peças de informação o Ministério Público não se encontra em condições de tomar uma ou

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outra das soluções acima, e entende ser preciso investigar previamente os fatos para melhor decidir-se por um ou outro caminho, então instaurará o inquérito civil (grifos do autor).

Não encontrando o mínimo de provas ou elementos que indiquem a autoria do dano ou o mínimo de prova para propor a ação judicial, pode o presidente do inquérito promover o seu arquivamento. Mas ainda que haja dúvidas quanto a isto, “deve promover a ação judicial, protegendo interesses que não lhe pertencem e dos quais não tem poder de disponibi-lidade” (MACHADO, 2005, p. 361).

Ante o princípio da obrigatoriedade, deverá o promotor de justiça, em caso de indeferimento de requerimento de abertura do inquérito civil, de arquivamento de peças de informação, ou, mais, em caso de arquiva-mento do inquérito civil, motivar sua decisão e submetê-la a revisão do Conselho Superior do Ministério Público.

Também em decorrência do princípio da publicidade dos atos, exige-se publicidade total do que foi apurado no inquérito, da instauração da ação civil pública bem como da decisão de homologação do arquivamento do inquérito. Arquivado o inquérito civil, qualquer co-legitimado pode propor a ação civil pública não proposta pelo promotor de justiça, já que a titularidade para esta não é exclusiva do Ministério Público.

Particularidades do inquérito civil

O inquérito civil, como todo ato da administração, está sujeito ao princípio da publicidade, ou seja, em regra, os atos a ele atinentes são públi-cos. Casos há em que é necessário impor sigilo às investigações, como naque-les em que a publicidade poderá ocasionar prejuízo à apuração dos fatos, ou que existem nele dados ou informações sigilosas, ou de sua publicidade puder resultar escândalo ou grave perturbação da ordem.

O exame dos autos por advogados só será permitido quando se tratar de autos não sigilosos. O inquérito civil é um procedimento de investigação preliminar, portanto, tem ele natureza inquisitória, ou seja, inexiste o contra-ditório. Porém, casos há em que, segundo Mazzilli (2000, p. 244),

O Ministério Público não está bem instruído se é ou não caso de propor a ação civil pública, se houve ou não o dano, se a fundamen-tação do autor do requerimento de instauração do inquérito civil procede ou não. Nesses casos, como em outros, ouvir o requerido e

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facultar-lhe a produção de provas pode ser extremamente conveni-ente ou às vezes até mesmo necessário.

Por fim, a instauração do inquérito obsta a decadência do direito, que só atinge seu final com a publicação da decisão do Conselho Supe-rior que homologa o arquivamento, e, em razão de ser uma investigação pública e oficial, o que nele se apurar tem validade e eficácia em juízo. Procedimento Administrativo Preliminar ou Preparatório

Recebendo, o promotor de justiça, requerimento, representação ou delação informal sobre lesão ou ameaça de lesão ao meio ambiente, e estan-do ele com fundada dúvida sobre a presença da justa causa para a instaura-ção do inquérito civil, ele poderá, antes, tomar alguma providência imediata. Esta medida deve ser utilizada quando se tratar de diligências prelimina-res imediatas e necessárias, dando tempo ao promotor de justiça de se decidir sobre a instauração ou não do inquérito civil, pois a instauração do inquérito pressupõe o seu exercício responsável, estando ele sujeito a trancamento por mandado de segurança. No caso, porém, de ser necessária qualquer investiga-ção mais demorada, o meio adequado a fazê-la é o inquérito civil.

Porém, estando diante de um procedimento preliminar, a decisão de seu arquivamento deve ensejar também a revisão do Conselho Superior. Peças de Informação

“Peças de informação são os elementos de convicção em que se possa basear o membro do Ministério Público para propor eventual ação civil públi-ca”, aproveitando-nos da conceituação de Mazzilli (2000, p. 169). Assim, são as peças de informação quaisquer dados ou informações que cheguem às mãos do promotor de justiça e lhe sirvam para formar sua convicção sobre o cabi-mento ou não de sua iniciativa, seja para instaurar o inquérito ou a ação civil. Recomendações

Instituídas pela Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, as recomendações são requisições dirigidas a órgãos da administração pública estadual ou municipal, direta ou indireta, aos concessionários e permissionários de serviço público estadual e municipal e às entidades que exerçam outra função delegada do Estado ou do Município ou executem

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serviço de relevância pública, nos casos em que verifica irregularidade ou ilegalidade praticadas por alguns desses órgãos.

“As recomendações não têm a mesma natureza das decisões judiciais, mas colocam o recomendado, isto é, o órgão ou entidade que as recebe, em posição de inegável ciência da ilegalidade de seu procedimento” (MACHADO, 2005, p. 361). Recebida a recomendação, e permanecendo a atividade lesiva, caracteriza-se o dolo, o que pode refletir no campo do direito penal ambiental. As recomendações surgem normalmente ao fim dos inquéritos civis ou, ainda, de audiências públicas, quando o promotor de justiça entender que, naquele caso, a expedição de recomendações que visem à correção das irregularidades sejam suficientes.

Entendendo o membro do Ministério Público que atingiu o escopo do inquérito civil com a expedição de recomendações, deverá promover o seu arquivamento na forma legal.

O Compromisso de Ajustamento de Conduta

O CDC incluiu no Art. 5º da Lei da Ação Civil Pública o parágrafo 6º, possibilitando a transação dos interesses difusos mediante compromis-so de ajustamento de conduta.

Assim, pode ser que, estando em curso eventual inquérito civil, o cau-sador da lesão proponha-se a reparar o dano ou a evitar que este ocorra ou persista. Então, a transação extrajudicial poderá ser feita entre o causador e o Ministério Público, como um dos legitimados por aquele diploma legal.

É verdade que, estando o Ministério Público em defesa de interesses difusos, não age em busca de direito próprio, e, dessa maneira, não tem disponibilidade do conteúdo material da lide, e, ainda, que a transação envolve disposição do direito material em controvérsia. Mas, a rigor, o le-gislador utilizou o termo “compromisso de ajustamento de sua conduta” ligando-o a “às exigências legais”, primeiramente no Estatuto da Criança e do Adolescente e, seguindo, o CDC, naquele artigo que alterou a LACP. De forma que o compromisso de ajustamento não tem a natureza contratual, típica do direito privado. Nele, o Ministério Público não poderá transigir sobre as obrigações reclamadas, total ou parcialmente, deverá restringir-se às condições de cumprimento das obrigações, como modo, tempo e lugar. O compromisso de ajustamento de conduta referendado pelo Mi-nistério Público tem, pois, qualidade de título executivo extrajudicial.

Sendo realizado no curso de um inquérito civil, tendo ele solucionado todos os pontos objetivados no inquérito, o membro do Ministério Público

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promoverá o arquivamento do inquérito, encerrando suas investigações. Pode ocorrer, porém, casos de compromisso parcial, que resolvam apenas em parte os problemas investigados, então, o promotor de justiça não dispensará o prosseguimento de diligências para uma solução definitiva.

Realizado o ajustamento de conduta e homologado o arquivamento do inquérito civil, o membro do Ministério Público notificará o responsá-vel para o início do cumprimento das obrigações, ficando, então, incumbi-do de fiscalizar o efetivo cumprimento incumbi-do acordaincumbi-do.

Mesmo havendo compromisso de ajustamento tomado pelo Ministério Público, os co-legitimados à ação coletiva poderá desconsiderá-lo e propor a ação, ou o contrário. Caso seja o compromisso descumprido, também poderá o Ministério Público propor a ação civil pública. Ou mesmo alterando-se as condições de fato em que se baseou o compromisso, nada impede que o Minis-tério Público discuta a questão em juízo. Nesse caso, deverá demonstrar os fundamentos pelos quais pretenda seguir além do avençado. Enfim,

[...] o compromisso de ajustamento de conduta é o instrumento disponibilizado pela Lei de Ação Civil Pública para o Ministério Público, nele se materializando a solução da questão ambiental. Entretanto, implica tal instrumento na imperiosidade da composi-ção do dano ambiental em sua totalidade, uma vez que tem por objeto direitos indisponíveis [...] (FERNANDES, 2006).

CONCLUSÃO

A defesa extrajudicial do meio ambiente pode ser concretizada pelo Mnistério Público com a utilização de instrumentos de natureza investigatória e preparatória, como o inquérito civil, o procedimento ad-ministrativo preliminar, o compromisso de ajustamento de conduta, as peças de informações e as recomendações.

O inquérito civil ainda não está sendo usado na plenitude a que se destina, por ser um instrumento relativamente novo, ou, por vezes, é utili-zado de forma até excessiva. O inquérito civil deverá ser instaurado e pre-sidido com elevado senso de responsabilidade, evitando que se torne meio procrastinatório, como no caso em que o promotor de justiça já detém todos os elementos de fato que lhe permitam o ajuizamento da ação civil.

O compromisso de ajustamento de conduta é o instrumento por exce-lência do membro do Ministério Público para a solução extrajudicial dos con-flitos ambientais, já que, com ele, consegue-se a solução da questão ambiental.

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Notas

1 O inquérito civil será instaurado pelo Ministério Público em face de lesão ou ameaça de lesão a

quais-quer interesses na área civil que ensejem a propositura da ação civil pública a seu cargo, ou seja, a interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos em que haja conveniência social em sua atuação, que tenham expressão para a coletividade. Porém, em nosso caso, trataremos apenas da lesão ou ameaça de lesão ao meio ambiente.

Referências

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SIRVINKAS, L. P. Manual de direito ambiental. São Paulo: Saraiva, 2005.

Abstract: when the Constitution itself a chapter devoted to the environment,

Chapter VI, Title VIII, on the social order, he gave a great impetus to the role of the prosecutor, because the expansion of chances to place the Public Civil Action. Already the Law of Public Civil Action gives prosecutors the option, in addition to judging the Public Civil Action, to the civil investigation in defense of the environment, and the Consumer Code authorizes the institution to enter into commitments for adjustment of conduct. It will examine the performance out of prosecutors in each of its aspects.

Keywords: environment, prosecutors, instruments of action, court action Artigo apresentado na I Mostra de Trabalhos Científicos da Pós-Graduação lato sensu da Universidade Católica.

Especialista em Direito Ambiental pela Universidade Católica de Goiás (UCG). Bacharel em Direito pela UCG. Secretária assistente no Ministério Público do estado de Goiás, lotada na Corregedoria-Geral. E-mail: ieda_aguiar@yahoo.com.br

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